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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.24 no.73 Rio de Janeiro abr./jun 2023  Epub 24-Ago-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2023.74066 

A contemporaneidade da produção de conhecimento em educação especial e inclusiva no Brasil

DAS IDENTIDADES ÀS EXPERIÊNCIAS: travessias no território surdo

FROM IDENTITIES TO EXPERIENCES: crossings in the deaf territory

DE LAS IDENTIDADES A LAS EXPERIENCIAS: travesías en el territorio sordo

Paula Xavier Scremin1 
http://orcid.org/0000-0001-6555-7326; lattes: 4959699677073469

Marcia Lise Lunardi-Lazzarin2 
http://orcid.org/0000-0003-4831-129X; lattes: 1361785565182358

1Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) E-mail: paulaxaveirs@hotmail.com

2Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) E-mail: lunazza@gmail.com


Resumo

Neste artigo, problematizam-se narrativas sobre identidades Codas, como são denominados os filhos ouvintes de pais surdos, com suas marcas e impressões dos modos de vida surdo e ouvinte. Busca-se desconstruir a ideia de uma identidade Coda essencializada, marcada por modos de vida da cultura surda e reduzida a um modelo padrão, para pensarmos em uma matriz de experiência Coda (modos de vida-identidade-subjetividade). Os caminhos metodológicos perpassam cinco produções sobre a temática Coda, em que são identificadas algumas recorrências de marcas culturais surdas e ouvintes, envolvidas na malha discursiva sobre surdez. Entende-se que as recorrências ordenam e conduzem processos de constituição do Coda e que olhar para esta constituição pela matriz de experiência amplia as possibilidades de o Coda ser o sujeito da experiência. Assim, a discussão sobre identidade passa a ser entendida pelo viés de identificação cultural dos Codas como grupo, situando-se sua constituição subjetiva na experiência única e singular de sua história de vida.

Palavras-chave: Coda; experiência; filhos ouvintes; identidade

Abstract

Codas, as hearing children of deaf parents are called, carry marks and impressions of both deaf and hearing ways of life. This article, which problematizes narratives about Coda identities, aims to deconstruct the idea of an essentialized Coda identity, marked by ways of life of the deaf culture and reduced to a standard model, in order to think of a matrix of Coda experience (ways of life-identity-subjectivity). The methodological paths run through five productions on the Coda theme, in which some recurrences of deaf and hearing cultural marks involved in the meshof discourses about deafness have been identified. It is understood that the recurrences order and lead Coda constitution processes and that looking at this constitution through the matrix of experience expands the possibilities of Coda being the subject of the experience. Thus, the discussion about identity can be understood from the perspective of cultural identification of Codas as a group, by situating their subjective constitution in the unique and singular experience of their life history.

Keywords: Coda; experience; hearing children; identity

Resumen

En este artículo se problematizan las narrativas sobre las identidades Codas, como son llamados los hijos oyentes de padres sordos, con sus marcas e impresiones de modos de vida sordo y oyente. Se busca deconstruir la idea de una identidad Coda en esencia, marcada por formas de vida de la cultura sorda y reducida a un modelo estándar, para pensar en una matriz de experiencia Coda (formas de vida-identidad-subjetividad). Los caminos metodológicos recorren cinco producciones sobre la temática Coda, en las que se identifican algunas recurrencias de marcas culturales sordas y oyentes, envueltas en el tejido discursivo sobre la sordera. Se entiende que las recurrencias ordenan y conducen los procesos de constitución de Coda y que mirar esta constitución a través de la matriz de la experiencia amplía las posibilidades de que Coda sea el sujeto de la experiencia. De este modo, la discusión sobre la identidad pasa a entenderse a través del sesgo de identificación cultural de los Codas como grupo, situando su constitución subjetiva en la experiencia única y singular de su historia de vida.

Palabras clave Coda; experiencia; hijos oyentes; identidad

APRESENTAÇÃO

Nascer ouvinte, mas filho de pais surdos, é a realidade de uma parcela da população que se denomina Coda. Coda é a abreviação de children of deaf adults, que denomina os filhos ouvintes de pais ou mães surdos, ou ambos. São pessoas que misturam a cultura e a identidade herdada de seus pais com a constituída pelo mundo ouvinte, ou seja, identificam-se com a experiência visual, com a língua de sinais e com a cultura surda e simultaneamente compartilham sua experiência com o mundo ouvinte. Os Codas fazem parte de uma comunidade muito restrita e pouco reconhecida na sociedade majoritariamente ouvinte; são sujeitos bilíngues-biculturais. Escrevo1 como integrante dessa comunidade e, com outros Codas, divido a experiência única de ser ouvinte no convívio direto com a língua e cultura surdas junto a meus pais.

Os Codas são bilíngues porque compartilham vivências na língua de sinais e na língua oral e biculturais por se constituírem nas duas culturas, surda e ouvinte. Os surdos constituem-se de muitas marcas próprias da sua cultura, e uma delas é o sentimento de comunidade. É concedida aos Codas, talvez, a maior contribuição herdada para entendermos o sentido da identidade surda, fortalecida em um coletivo que se une pela mesma característica, a comunicação na língua visuoespacial. A sigla Coda adquiriu significado para mim no ano de 2016, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), quando fui pela primeira vez ao encontro proporcionado pela organização Coda Brasil2. A organização foi inspirada na CODA International 3, fundada em 1983 pela Coda americana Milie Brother. Sem fins lucrativos e destinada a adultos, filhos ouvintes de pais surdos, a organização tem como visão conectar Codas ao redor do mundo, e sua missão é celebrar a herança única e as identidades multiculturais de adultos ouvintes com pais surdos, por meio de encontros para enriquecer a experiência dos Codas.

Esses encontros são muito significativos para os participantes. São carregados de emoções, sentimentos, reencontros, com histórias de vida muito semelhantes. Descobrimos que a experiência Coda é surpreendentemente semelhante em todo o mundo4. A sensação e as trocas com o grupo lembraram-me dos encontros de meus pais com pares surdos. Hoje, entendo-as como uma das características da comunidade surda que nos foram repassadas: o senso de coletividade.

O fato de estarmos entre pares coloca-nos em uma relação de intimidade muito próxima, percebida nos surdos em relação aos outros surdos. Perlin (1998, p. 14) afirmou que:

A partir de novas experiências compartilhadas dentro da comunidade surda, os surdos começam a narrar-se diferentemente. Ficam atentos para outras possibilidades e começam, através de outras interpelações, a ser representados por outros discursos que veem os surdos como capazes e como sujeitos culturais. As múltiplas identidades, que surgem com os diferentes discursos presentes no grupo, começam a ser questionadas e rearticuladas neste ambiente. A diversidade de posições e de representações permite o estabelecer transitório de novas identidades surdas, fundamentadas nas diferenças.

Os encontros para Codas, assim como a associação5 para os surdos, é um espaço de diferentes representações, onde emergem novos significados acerca do mundo surdo, em uma mistura de informações e comportamentos. Os encontros têm a função social de unir pessoas que compartilham o orgulho da experiência surda, o orgulho Coda.

Neste artigo, além de apresentar um pouco de minha experiência como pesquisadora, ocupo-me em problematizar narrativas sobre identidades Codas, que carregam marcas, impressões dos modos de vida surda, o que pode reduzir a identidade a um modelo padrão e essencializado. Proponho desconstruir a ideia de uma identidade Coda e olhar para uma matriz de experiência (modos de vida - identidades-subjetividade) a partir do que dá sentido às recorrências discursivas e aos atravessamentos experienciados nos modos de vida narrados, produzindo-se, nesse contexto, algo que se convencionou chamar de identidade Coda.

Para esta escrita, faço um levantamento de teses e dissertações de pesquisadores que olham para a temática da identidade Coda. A partir da problematização sobre o sujeito das pesquisas elencadas – profissionais ou estudantes Codas –, procuro recorrências que possam marcar um modo de ser e estar no mundo e que se aproximem das marcas surdas. Busco entender a constituição da identidade Coda no contexto de uma produção discursiva, naquilo que se convencionou chamar de identidade Coda, mediante marcas surdas. Assim, passo a entender que as recorrências podem dar pistas de uma matriz de experiência que ordena e conduz outros modos de ser do sujeito constituído historicamente. Compreendo esse movimento de estudo sobre o sujeito com base em Michel Foucault, em aula de 5 de janeiro de 1983, considerando o que ele chamou de focos ou matriz de experiência. O autor questionou os modos pelos quais determinada sociedade se constitui em uma experiência na qual os indivíduos passam a reconhecer-se como sujeitos (FOUCAULT, 2014).

TRAVESSIAS E CAMINHOS PERCORRIDOS

O primeiro passo na construção dos caminhos metodológicos consistiu na busca de trabalhos que abordassem a temática da educação de surdos associada ao termo Coda no banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dessa busca, filtrada pela palavra Coda no título e nas palavras-chave, acrescentadas às palavras identidade e experiência, no total, foram encontrados 1.477 resultados. Em sites aleatórios dos repositórios das universidades de origem das pesquisas sinalizadas na primeira busca, obtiveram-se apenas 46 com a palavra Coda no título, sendo que somente cinco usavam o termo com significado pertinente à pesquisa. Além disso, em dois desses cinco trabalhos, a palavra Coda aparecia dentro dos textos, encaixando-se na temática de forma transversal. Depois, o critério escolhido foi a leitura pela referência bibliográfica, havendo cinco publicações cujo referencial teórico se aproximava da perspectiva dos Estudos Surdos.

Por meio da leitura das produções que abordam a temática, a fim de fazer o exercício de pensar sobre os movimentos de produção de uma matriz de experiência Coda, elejo, para este texto, três recorrências discursivas que se desprendem de uma malha produzida sobre os Codas, encontradas nas cinco produções acadêmicas6. A primeira recorrência é sobre relações familiares biculturais e a comunidade surda; a segunda recorrência é sobre Coda Tradutor Intérprete de Língua de Sinais (TILS); e a terceira refere-se ao desenvolvimento linguístico do Coda nas relações familiares.

As pesquisas selecionadas mostraram recorrências de narrativas, que chamei de marcas, as quais supõem modos essencializados de ser Coda, a partir de concepções sobre a temática que escapam ao campo das singularidades. Nesse sentido, com o intuito de deslocar a narrativa da essencialização para a experiência, recorro a noção do conceito cunhado por Larrosa (2002, p. 21), que afirmou: “[...] a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”.

A primeira produção que aponto é a dissertação intitulada Intérpretes Codas: construções de identidade7. O autor buscou compreender como se estabelece o perfil profissional dos Codas como TILS, pressupondo que as motivações culturais desses sujeitos reverberam nesse perfil.

A segunda dissertação tem o título Codas tradutores e intérpretes de língua de sinais brasileira: percurso do profissionalismo8, ocupando-se de pensar sobre os caminhos que levam os Codas a atuarem como intérpretes.

O terceiro trabalho é Narrativas de filhos ouvintes de pais surdos – Codas, sobre o crescer bilíngue9, que traz narrativas das histórias de vida de Codas que se reconhecem como sujeitos bilíngues e biculturais. O autor analisou as marcas que revelam a constituição da identidade/subjetividade no desenvolvimento linguístico, familiar, educacional e social.

O quarto trabalho, Um Coda na educação infantil: processos de construção identitária10, trata sobre os processos que envolvem a constituição identitária de uma criança Coda, nas zonas fronteiriças surda e ouvinte, ainda na educação infantil.

Por fim, a última produção, Experiências vividas por filhas ouvintes e pais surdos: uma família, duas línguas11, versa sobre a experiência vivida por uma família com Codas, constituída por pais surdos e duas filhas ouvintes. O olhar do autor é para os processos de interação no cotidiano, a constituição linguística e a diversidade cultural.

As produções abordam diferentes perspectivas e apresentam recorrências sobre Coda e a comunidade, a língua de sinais e a atuação de TILS, dando pistas de que um modo de vida Coda passa por essas marcas.

Com a intenção de ampliar a discussão da identidade para a experiência vivida e sentida pelos sujeitos Codas, que não passa, necessariamente, pelos modos recorrentes de ser e estar no mundo como um único modelo Coda, fiz escolhas de algumas marcas que considero essencializadas, entendidas pela forma como fui atravessada e constituída em relação à surdez de meus pais. Não pretendo, com minha narrativa, marcar acontecimentos para resgatar o histórico de minha vida pessoal na comunidade surda, nem mostrar uma possível evolução de minha construção pessoal. O propósito é buscar narrativas, produções, memórias, que imprimiram marcas em minha constituição como professora e me conduziram a um caminho mais amplo como pesquisadora.

MARCADOR CODA: RELAÇÕES FAMILIARES BILÍNGUES E A COMUNIDADE SURDA

A palavra Coda é relativamente nova nos vocabulários das comunidades surda e ouvinte. Porém, o significado já existia antes do seu batismo em sinais12. Para as pessoas que não conhecem, a sigla é curiosa e, para nós, Codas, é carregada de sentimentos e marcações simbólicas que nos aproximam muito da cultura surda, pela convivência com nossos pais, e da cultura ouvinte, por sermos ouvintes.

Na constituição do Coda, estão impressas as características da cultura surda e as normas culturais passadas de pais para filhos, assim como ocorre nas comunidades ouvintes, que transmitem características culturais e familiares de um modo de vida por gerações. Para os surdos, a linguagem visual é uma das características da sua cultura. A visualidade está muito presente nas histórias narradas por fotografias, nas adaptações arquitetônicas das residências, no uso de campainhas luminosas, nos bilhetes para facilitar a comunicação, no balanço do corpo como forma de expressão. Os Codas apropriam-se desses costumes visuais e gestuais da cultura surda. Segundo Quadros (2017), pais surdos que usam a língua de sinais para comunicar-se usam a mesma língua com seus filhos, constituindo-a como língua nativa e principal meio de trocas com eles. A experiência de seus filhos biculturais – abrangendo as culturas ouvinte e surda – amplia-se para outros núcleos de familiares, de amigos e da comunidade surda. A oportunidade de conviver (muito ou pouco) com a comunidade surda valida que o Coda assuma responsabilidades com a comunidade e amigos surdos de seus pais, embora a participação na associação ou em qualquer outro grupo social seja muito pessoal.

Os filhos ouvintes são unidos por sentimentos semelhantes, que lhes dão sentido de pertencimento e fortalecem a identidade enquanto grupo. Crescer em um ambiente que não ouve a língua oficial do seu país, comunicar-se por uma língua visuoespacial em família e assumir a língua oral em espaços sociais é pertencer a um grupo minoritário e majoritário simultaneamente, é compartilhar olhares estigmatizados, é responsabilizar-se. Essas são vivências que nos unem, mesmo com as singularidades de cada família, como mostra a pesquisa de Sander (2020).

A presença do Coda nas associações de surdos é uma marca recorrente nos trabalhos e narrativas aqui analisados, imprimindo modos de ser Coda. As pesquisas reunidas para este artigo discutem a construção de identidades dos indivíduos ouvintes no convívio familiar com pais surdos, a partir de reflexões sobre socialização e surdez em diversos contextos. As relações surdo-surdo refletem os costumes, as tradições e as lutas surdas, que, aos poucos, vão marcando o Coda desde a mais tenra idade e constituindo o sentido de participação e ativismo nas lutas de seus pais.

Então, posso inferir que há, nesses estudos, a emergência de um discurso pautado na representação de uma identidade surda constituída no jogo da polarização – surdo x não surdo –, a qual acaba por essencializar e engessar o sujeito Coda nessa pauta identitária. Nesse sentido, ao problematizar as marcas dessa relação (surdos e Codas), consigo perceber deslocamentos que colocam o sujeito Coda no interstício cultural (BHABHA, 2019). Para Bhabha (2019, p. 20), “[...] é na emergência dos interstícios – a sobreposição e o deslocamento de domínios da diferença – que as experiências intersubjetivas e coletivas de nação [nationess], o interesse comunitário ou o valor cultural são negociados”.

É no momento entre o deslocamento que se produz o novo (nas significações do Coda) e que escapa a tensão de dizer que o Coda é emergente apenas dos meios de convivência surdo-surdo. Na relação entre Coda e surdo, também há o movimento do surdo em constituir-se na relação com o ouvinte, pois ser Coda não é ser surdo, é estar entre os surdos. Assim, vale pensar no jogo das relações e produções de identidade pela experiência, considerando-se que nem todos os Codas vivem a mesma experiência.

O foco na experiência está justamente nas diferenças e nas características partilhadas que acontecem fora do eu, sendo algo da ordem do inusitado, do acontecimento e do novo. O conceito de experiência pensado por Larrosa (2014) – sobre o que se passa em si, atravessa e produz algo –supõe que a experiência parte da exterioridade, sendo o sujeito o lugar da experiência.

Larrosa (2014, p. 6) assinalou que “[...] a experiência supõe, como já afirmei, um acontecimento exterior a mim. Mas, o lugar da experiência sou eu. É em mim onde se dá a experiência, onde a experiência tem lugar”. Nesse sentido, pode-se dizer que há uma singularidade na produção de identidade Coda, tendo em vista os deslocamentos entre os mundos surdo e ouvinte, que constituem representações por meio de palavras, ideias, sentimentos e relações em que a experiência acontece, subjetivando sua vida, o que reforça um lugar singular e único: o princípio da subjetividade (LARROSA, 2014).

As identidades são construídas a partir das relações sociais emergentes de grupos e/ou sujeitos sociais. Relações complexas qualificam os sujeitos de uma cultura e jogam com significados em um campo de sistemas simbólicos, assim estruturando representações.

Nos trabalhos elencados, certos elementos mostraram-se muito presentes na constituição de uma suposta identidade Coda, como a marca da fluência e a participação na comunidade surda, que podem representar um lugar desconfortável para quem não é fluente na língua de sinais. Para Hall (2000, p. 14), “[...] a identidade é, na verdade, relacional, e a diferença é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras identidades”. Esta é uma das armadilhas dos jogos das identidades. Tudo depende do contexto em que as identidades ganham significado em relação a si e ao outro, como um jogo político de representações sociais; o sujeito, em seu próprio comportamento, encontra-se relativizado diante dos grupos ou pessoas com quem toma contato, nem sempre com relações positivas.

MARCADOR CODA: TRADUTOR – INTÉRPRETE

Em diversas situações da vida cotidiana, o filho ouvinte de pais surdos é a voz e os ouvidos dos seus pais e faz o papel de intérprete. É intérprete do noticiário, da novela, do médico, nos mais diversos momentos – é a ponte entre os mundos. O sentido da ponte contribui para a sociedade generalizar a ideia de que todo filho ouvinte de surdo é intérprete profissional, gerando um conflito identitário para o Coda, que não é tradutor e intérprete de língua de sinais. Interpretar informalmente para a família, em situações pessoais, é muito diferente da interpretação profissional, já que o intérprete, como profissional, deve passar por qualificação, cursos e treinos e ter domínio de ambas as línguas.

É impossível afirmar que todos os Codas tenham as habilidades e o conhecimento técnico para serem intérpretes de profissão, o que não os desqualifica nas relações cotidianas e familiares com a língua de sinais. Os TILS, no contexto brasileiro, são profissionais garantidos pela Lei n. 12.319, de 1º de setembro de 2010, que regulamenta o exercício da profissão. A formação deve ser realizada por meio de cursos de educação profissional reconhecidos pelo sistema credenciado, cursos de extensão universitária e cursos de formação continuada, promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Expresso em outros termos, não há como ser TILS sem titulação, estudo, treino e contato com a comunidade surda13.

Por outro lado, ser Coda garante-nos parte das habilidades de um intérprete, como talvez a intimidade em ambas as línguas e o pertencimento à comunidade surda. O intérprete não tem a fluência a partir do convívio genuíno com a primeira língua, mas garante a técnica, a metodologia para a tradução e comunicação com participação na comunidade surda. Apenas a técnica de tradução ou a intimidade com a comunidade surda, isoladamente, não tornaria a tradução efetiva ou confiável.

A marca Coda de domínio e fluência na interpretação está presente na pesquisa de mestrado de Silva (2016), intitulada Codas tradutores e intérpretes de língua de sinais brasileira: percurso para o profissionalismo, em que o autor buscou refletir sobre a constituição do Coda TILS. Esse sujeito, por opção, torna-se um profissional que olha para a formação com a devida importância ética, profissional e técnica. Dessa maneira, o Coda, além de ser bilíngue e crescer em meio a duas culturas e duas línguas, escolhe uma profissão que o mantém envolvido nesses dois mundos. Conforme Silva (2016, p. 37):

A nosso ver, a necessidade de discutirmos a respeito dos Codas surgiu em função do número de Codas que atuam na área da tradução e interpretação do par linguístico Libras - Língua Portuguesa. As questões que fomentam o estudo convergem para a relação construída entre o Coda e seus pais e entre o Coda e a comunidade surda.

A vivência de ser intérprete dos próprios pais não ajudaria, por exemplo, em alguma situação externa, como um evento ou ocasião formal. Mesmo constituído em um ambiente de tradução e interpretação constantes ao longo dos anos de convivência com as duas línguas, sem uma formação adequada de técnicas e teorias, o Coda não pode ser considerado como TILS. A comunicação caseira com pais surdos é constituída por gestos, sinais, Libras, expressões faciais, olhares, o que é adquirido genuinamente na presencialidade do corpo, por meio do olhar, dos grunhidos e do cheiro surdo. Ela acontece, não é ensinada e, por esse motivo, é singular.

Também Souza (2014), em sua dissertação na área de Estudos da Tradução, procurou compreender como se constitui o perfil profissional do Coda enquanto TILs, tendo como mote a sua história de vida e motivações culturais como filho ouvinte de surdos na comunidade surda, no esporte e na experiência visual, para pensar a constituição da identidade profissional Coda. A pesquisa também contemplou narrativas de profissionais TILS Codas, com outros atravessamentos, indicando marcas culturais originadas de experiências familiares na tradução. Na pesquisa, apareceu o “[...] traduzir para amigos surdos de seus pais em diferentes situações” (STONE, 2012, p. 987 apud SOUZA, 2015, p. 110). O perfil do profissional intérprete Coda é descrito por Souza (2015, p. 27):

[...] filho de surdos pode crescer vivenciando a princípio os artefatos culturais como: experiência visual, linguística, familiar, literatura surda, vida social e esportiva, artes visuais, políticas e materiais. Porém o Coda vivencia todos estes processos com audição, o que pode trazer outras questões a respeito de identidade.

As recorrências discursivas produzidas pelo senso comum sobre ser Coda e intérprete reverberam em narrativas que circulam na malha discursiva, como a de que todo filho ouvinte de pais surdos que sabe a língua de sinais é intérprete. Nas cinco publicações elencadas sobre a temática neste artigo, reforça-se que, para ser intérprete, o Coda necessita de profissionalização e conta com a experiência vivida para traduzir e interpretar os dois mundos (visual e auditivo). Ao olhar a produção de subjetivação de sujeitos Codas pelo viés da experiência, os atravessamentos são singulares em relação à língua e nunca são os mesmos que direcionam os Codas para o caminho da interpretação como profissão.

MARCADOR CODA: A LÍNGUA DE SINAIS E O ORGULHO CODA

O contexto em que as crianças filhas ouvintes de pais surdos adquirem a língua de sinais é na família, na comunidade surda, na relação com outros surdos, em diversas situações e com diferentes sentimentos. Para a maioria dos Codas, trata-se de um lugar de afeto (QUADROS, 2017). A língua oral envolve o convívio também com os familiares ouvintes e é adquirida na escola, com colegas, vizinhos, enfim, na sociedade em geral. No caso, as línguas acabam naturalmente sobrepondo-se, uma ou outra, conforme o maior ou menor tempo de uso pelo indivíduo.

A relação estabelecida com a língua é de cada pessoa. Algumas crianças, envolvidas em uma relação muito intensa com a segunda língua, por influência do meio oral em que vivem, perdem a fluência da sinalização ao longo da vida, o que não quer dizer que elas rejeitem ou não entendam a língua de sinais, nem que não sejam bilíngues. Elas são afetadas por outras relações e significações dadas à forma de comunicar-se. Já outras misturam as línguas, sobrepondo-as: ora lhes faltam palavras, ora lhes faltam sinais. Há, ainda, Codas fluentes na língua de sinais, mas com muita dificuldade de identificação com a primeira língua, sem se sentirem confiantes para sinalizar publicamente nem assumir Libras como primeira língua (QUADROS, 2017).

Destaco a recorrência de problematizações sobre como se desenvolvem os Codas quanto à sua aquisição linguística. Histórias de vida surdas são formas que os Codas encontram para autonarrar-se, fundamentando o orgulho Coda. Parte da pesquisa de Sander (2020), Narrativas de filhos ouvintes de pais surdos – Codas: sobre o crescer bilíngue, refere-se ao que circula socialmente em bibliografias sobre Codas, ou de autores Codas, que relatam suas percepções da surdez como diferença cultural e a aquisição da língua de sinais. Ademais, são trazidas narrativas de pais surdos nas relações familiares, no que interpelam esses pais na constituição linguística de seus filhos.

Nos discursos sobre incapacidade daqueles que são considerados não normais, pais surdos narram como o discurso da anormalidade gerou efeitos na vida das pessoas surdas, ao ponto de muitos terem sido impedidos de ter ou de criar seus próprios filhos, refletindo a falta de credibilidade direcionada aos pais surdos. Ainda na pesquisa, mostra-se o olhar dos pais frente ao receio de como seria a vida da criança sem a participação da família ouvinte.

São muito comuns as narrativas sobre as influências que a falta de audição de pais surdos acarreta para a criação de filhos ouvintes. Elas refletem entre os Codas, principalmente aqueles que foram criados por avós, tios e demais familiares dos surdos, a ideia de que assim, supostamente, foram dadas as condições para o desenvolvimento linguístico da criança. É reforçada, nos trabalhos, a presença do sentimento de medo por parte da família ouvinte de que algo ruim possa acontecer com a criança, pela incapacidade de seus pais de cuidá-la, justificada com a falta da audição. Percebe-se, desse modo, disputa constante entre as línguas, especialmente nas relações sociais em famílias que não entendem a surdez pelo viés cultural. A visibilidade linguística como marca Coda, aprimorada na comunicação com os pais pela sinalização, mediação e fluência, causa estranhamentos na maioria da comunidade ouvinte. Esse mesmo olhar para o surdo, que atravessa o Coda, sendo sujeito de acontecimentos, resulta em experiências positivas ou negativas, nunca neutras. Como indicou Larrosa (2017, p. 26):

Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a oposição, (nossa maneira de opormos), nem a imposição (nossa maneira de impormos), nem a proposição (nossa maneira de propormos), mas a exposição, nossa maneira ex pormos, com tudo o que isto tem de vulnerabilidade e risco. Por isso é incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada ameaça, a quem nada ocorre.

Nos momentos de partilhas nos encontros Codas, o tempo é destinado a conversar, dando espaço para a experiência acontecer. A conversa nos expõe e possibilita formular novas questões sobre o já sabido e sobre as ressonâncias em nós. Por ser uma conversa sem tema específico e entre pares que compartilham vivências, entregamos o momento ao imprevisto, misturamos línguas e nos fortalecemos na diferença cultural de nossos pais e no nosso orgulho Coda.

MARCAS SURDAS, MARCAS SEMELHANTES: PRODUÇÃO DE IDENTIDADES E EXPERIÊNCIAS CODAS - NOTAS PARA FINALIZAR

Retomo a citação da apresentação do texto: Descobrimos que a experiência Coda é surpreendentemente semelhante em todo o mundo. Esta passagem está no site de apresentação da organização Coda International. A partir dessa afirmativa, passo a olhar para essas marcas semelhantes no conjunto das produções escolhidas para o artigo. Entendo que essas marcas são produtoras de modos de ser Coda e se constituem nos elos identitários da cultura surda, que herdamos dos nossos pais. Com esse entendimento de marcas surdas, aproximo-me da discussão de Lopes e Veiga-Neto (2006) sobre os marcadores culturais surdos. Os autores usam esta expressão para referenciar elementos que unem e fortalecem os surdos como um grupo social com características próprias.

Vale pensarmos sobre outros modos de ser e estar no mundo, como, por exemplo, pela marca linguística dos Codas que assumem a sua bimodalidade linguística, em situações em que por vezes a língua materna (de sinais) se sobressai diante da língua de escolha (oral). Isso significa dar oportunidades para pensar em modos de vida que fogem aos padrões impostos, em maior parte, pela sociedade padrão (surdo sinaliza, e ouvinte oraliza), como, por exemplo, no caso da norma auditiva, quando circula a ideia de que o surdo tem que utilizar a língua majoritária de seu país e oralizá-la, ou no caso da norma surda, quando pensam que o surdo somente deve sinalizar, pois sabe a língua de sinais.

Essas representações que envolvem o mundo das pessoas surdas e Codas pautam-se, na maioria das vezes, em jogos de oposição, em que as identidades se essencializam a partir de poderosas relações, em que um sabe mais, e o outro sabe menos a língua. Podemos pensar na relação entre Coda e seus pais, em que a tensão está em não endossar as hierarquias do mundo, quando nas produções é recorrente o senso de responsabilidade dos filhos por seus pais.

As marcas que trouxe para pensar a suposta matriz de experiência Coda ampliam as possibilidades de uma identidade para a experiência. Cabe entender a identidade como reducionismo essencializado do comum (coletivo) e a experiência como algo do novo, do inesperado e singular.

Nas relações de família, há inúmeras representações e configurações que organizam os sistemas familiares. Antes de ser filho ouvinte de pais surdos e de ter a língua fluente, a comunicação e a língua sinalizada já existiam. Posso inferir daí que as recorrências discursivas trazidas no contexto deste estudo tratam de modos de constituir-se sujeitos Codas, os quais estão enredados em uma trama discursiva de relações familiares, culturais, linguísticas e identitárias. Assim posto, a depender dos jogos das relações, elas vão assumindo determinados lugares e representações, tanto da ordem de uma identidade Coda quanto de uma experiência Coda.

Nesse contexto, a discussão de bell hooks (2013) no livro Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade, contribui para movimentar a ideia de uma experiência Coda, que se desloca do entendimento de identidade Coda. A autora, ao tratar do feminismo, aponta os usos da experiência como recorrências que sugerem um essencialismo; nesse sentido, aproximo-me para pensar as questões que envolvem a produção identitária do sujeito Coda.

No livro, a autora aborda sua experiência docente, mencionando sua descoberta da expressão autoridade da experiência (hooks, 2013), que lhe permitiu narrar as experiências das mulheres negras. Ela afirmou que a realidade dessas mulheres estava sendo excluída e que não havia corpo teórico que ela pudesse invocar para comprovar sua alegação. “Naquela época, ninguém queria ouvir falar em desconstrução da mulher como categoria de análise. A insistência no valor da minha experiência foi crucial para que eu ganhasse ouvintes” (hooks, 2013, p. 122). A autora ajuda-me a entender por que foram encontrados poucos títulos para pensar sobre a existência ou desconstrução de uma identidade Coda. Será que usar a identidade Coda com base no essencialismo recorrente justifica a necessidade que os grupos têm de serem validados como grupos culturais? Afirmo e reafirmo meu papel na sociedade (como me afirmo e reafirmo na comunidade surda e ouvinte), para ser ouvida com representatividade no coletivo e, ao mesmo tempo, entendida em minha experiência. Como a autora assinalou:

Hoje me sinto perturbada pelo termo autoridade da experiência e tenho aguda consciência de como ele é usado para silenciar e excluir. Mas quero dispor de uma expressão que afirme o caráter especial daqueles modos de conhecer radicados na experiência. Sei que a experiência pode ser um meio de conhecimento e pode informar o modo como sabemos o que sabemos. Embora me oponha a qualquer prática essencialista que construa a identidade de maneira monolítica exclusiva, não quero renunciar ao poder da experiência como ponto de vista a partir do qual pode-se fazer uma análise ou formular uma teoria. Eu me perturbo, por exemplo, quando todos os cursos sobre história ou literaturas negras em algumas faculdades e universidades são dados unicamente por professores brancos; me perturbo não porque penso que eles não conseguem conhecer essas realidades, mas sim porque as conhecem de modo diferente. […] Esse ponto de vista privilegiado não pode ser adquirido por meio de livros, tampouco pela observação distanciada e pelo estudo de uma determinada realidade. Para mim esse ponto de vista privilegiado não nasce da autoridade da experiência, mas sim da paixão da experiência, da paixão da lembrança (hooks, 2013, p. 122-123).

O artigo ocupou-se de problematizar recorrências discursivas acerca da temática de Codas em dissertações e teses. Nas análises, atentei para os modos de constituição das identidades Codas a partir de marcas semelhantes, a fim de compreendê-las como uma matriz de experiência Coda, para, assim, problematizar a ideia de uma identidade pautada no essencialismo cultural e linguístico.

As marcas culturais surdas são tema de interesse de pesquisadores dos campos dos Estudos Culturais e dos Estudos Surdos, que abordam modos de vida, produção de subjetividades, identidades, culturas, experiências. Neles me apoiei para entender se há como pensar em uma possível identidade Coda, marcada por caraterísticas comuns de grupo fortalecido como um coletivo. Entendi que as marcas culturais surdas também são marcas de vida surda que produzem os modos de vida Coda, o que, no jogo das identidades, sugere a normalização de características. É justificável entender o essencialismo como algo negativo, haja vista o engessamento da identidade, que encaminha o sujeito à busca por uma normatividade surda, por vezes vinculada apenas à língua de sinais e a participação na comunidade surda.

A primeira marca Coda elencada, no âmbito das relações bilíngues com a família e a comunidade surda, evidenciou o quanto são importantes para o Coda a validação de seu pertencimento a essa comunidade e, a partir de seu envolvimento com surdos, a construção da identidade Coda. A marca Coda como tradutor e intérprete mostrou o encaminhamento para a profissionalização do filho ouvinte de pais surdos. Ser Coda permite-lhe algumas vivências que talvez os estudos da tradução não contemplem, como a experiência. Por meio dos significados dados às suas experiências culturais e linguísticas, o Coda pode, então, ser conduzido a outros caminhos, como o da profissionalização. Por sua vez, a marca Coda Libras e o orgulho Coda carregam um tom ativista e reforçam a presença da língua como um marcador identitário, o que faz pensar sobre os perigos de firmar uma identidade Coda apenas na fluência da língua.

No entanto, reforçar a ideia de um essencialismo identitário torna-se uma maneira de conceituar e de manter forte uma marca, um modo de relacionar-se, mas também de dizer, ao mesmo tempo, que há outras formas de existência que fogem ao ser ouvinte e ao ser surdo. Eu não sou surda, mas constituo-me com surdos, carrego suas marcas, entendo seu modo visual de comunicação, comunico-me por sinais, convivo com surdos, conheço os dilemas, entendo piadas... Porém, sou ouvinte, e nem tudo do mundo surdo me atravessa.

Ao encerrar este artigo, a discussão que fica para dar continuidade ao pensamento sobre a matriz de experiência Coda gira em torno das autonarrativas sem escorregar no problema da essencialização, sem preceder as experiências, dando espaço para a constituição do sujeito por meio de práticas emergentes daquilo que é dito sobre ele e seus pais. As experiências Codas autorizam-nos a uma competência especial quanto ao direito de falar de língua, de comunidade surda e de tradução e interpretação de língua de sinais, fundamentados na “[...] autoridade de experiência” (hooks, 2013, p. 122-123). Mesmo tendo um tom autoritário, essencialista ou excludente, entender e narrar uma história de vida entre surdos e ouvintes possibilita tornar visível a singularidade de cada Coda, pois é por esse ponto privilegiado (do lugar da experiência) que passam também a paixão da experiência, a lembrança que ressignifica os sentidos da convivência entre os dois mundos.

1Escrevo em primeira pessoa como sujeito Coda e no plural ao marcar como referência o pensamento coletivo entre os Codas.

2Trata-se de um evento que acontece anualmente desde o ano de 2010. A organização tem como objetivo reunir o maior número de filhos ouvintes de pais surdos e propiciar encontros para compartilhar a experiência surda e celebrar o orgulho Coda: orgulho da língua e cultura surda. Disponível em https://www-coda-internationalorg.translate.goog/. Acesso em 8 nov. 2020.

3Utiliza-se a expressão CODA em caixa alta em referência à organização Children of Deaf Adults Inc e Coda para referir-se ao sujeito.

4Disponível em https://www-coda-international.org. Acesso em 9 jan. 2023.

5Associação de surdos: é um espaço institucionalizado de reunir sujeitos surdos que compartilham os mesmos interesses, costumes, história e tradições em comum. A Associação de Surdos representa importante espaço de articulação da comunidade surda (https://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras).

6Dissertações (2014, 2016 e 2020) e teses (2020).

7Dissertação de José Carlos Ferreira Souza, 2014, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Área dos Estudos da Tradução.

8Dissertação de Maitê Maus da Silva, 2016, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Área dos Estudos da Tradução.

9Tese de Ricardo Sander, 2020, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências, campus de Marília (UNIESP). Área da Educação.

10Dissertação de Cintia Tavares Ferreira, 2020, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Área da Educação.

11Tese de Pedro Luiz dos Santos Filho, 2020, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Área da Educação.

12Batismo: sinal dado a um significado.

13Conquista política da comunidade surda para habilitar e formar profissionais na língua.

REFERÊNCIAS

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Recebido: Março de 2023; Aceito: Abril de 2023

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