Sob o patrocínio da CAPES, PROPP da Universidade Federal de Uberlândia-MG/ UFU, FAPEMIG, FAPESP e Fundação Fausto Castilho, esforços conjuntos da UFU, da Academia Polonesa de Ciências, da Universidade do Salento e da Universidade de Nápoles possibilitaram a realização, no final de 2017, da I Bienal Internacional de Filosofiad de Uberlândia. Além da XX Semana de Filosofia da UFU, organizada em torno do tema A propósito da humanidade, cinco eventos compuseram a nossa primeira Bienal: o III Congresso Internacional “Vico” - A língua de/em Vico; o III Colóquio Nacional “Kant” - As faculdades do ânimo: intuição e objetividade; o I Simpósio Internacional “Aristóteles” - Lógica e epistemologia; a I Jornada Nacional sobre escritores da Roma Antiga - Sêneca e, por fim, o III Seminário Internacional “Descartes” - A ideia de homem em Descartes. Por tal envergadura, esta Bienal reuniu muitos pesquisadores brasileiros e estrangeiros dos mais diversos campos da Filosofia e das Humanidades. O material que ora publicamos consiste em boa parte em textos das conferências do Seminário “Descartes”, posteriormente aperfeiçoados e desenvolvidos tanto em virtude dos debates iniciados na própria Bienal, quanto da interlocução e colaboração intelectual fomentadas a partir dela.
O dossiê se abre com o artigo Descartes e a ideia de homem. Imperfeição e perfeição do homem, em que Pierre Guenancia mostra a dificuldade de pensar a ideia de homem em Descartes e como ela se articula com as temáticas da perfeição, da razão, da dúvida, do livre-arbítrio e da generosidade. Em seguida, Siegrid Agostini, em Claude Clerselier, leitor de Descartes, procura rediscutir o papel de Claude Clerselier - editor d’O homem, d’O mundo e da correspondência de Descartes no século XVII - na interpretação do pensamento cartesiano, levantando a hipótese de que seria um leitor crítico, recusando, assim, a opinião comum que o toma como um discípulo complacente. A argumentação se apoia, sobretudo, no Prefácio escrito por Clerselier para a edição do Tratado do homem de Descartes.
Em Friedrich Nietzsche e a crítica da subjetividade cartesiana, Alfredo Gatto elege como fio condutor a leitura crítica que Nietzsche faz da subjetividade cartesiana, procurando, desse modo, reconsiderar os termos do suposto racionalismo de Descartes e do sentido filosófico da fundamentação operada pelo cogito. Trata-se menos de fazer justiça ao que Descartes propriamente pensou do que de explicitar a questão que promoveu o profundo debate entre os pensadores em tela através dos séculos. Já em A admiração como princípio fenomenológico da subjetividade, Wojciech Starzynski procura fazer uma leitura de Descartes a partir da tradição fenomenológica francesa, sobretudo a partir de Paul Ricoeur. Munido desse instrumental de análise, Starzynski pôde, nesse estudo, revisitar o tradicional debate da História da Filosofia sobre a paixão filosófica fundamental, a saber: a admiração. Na perspectiva cartesiana, é ela que detém a chave da vida passional e da própria subjetividade humana.
No artigo A questão sobre o homem e a Segunda Meditação, Igor Agostini examina, por sua vez, o tratamento que Descartes dá à noção pré-filosófica de homem na Segunda Meditação, mostrando como ele seria um caso paradigmático do procedimento para encontrar a distinção de uma noção. Enfim, em Considerações sobre a impossibilidade de definir o homem a partir de Descartes, Alexandre Guimarães Tadeu de Soares procura expor os termos do estudo da ideia de homem realizado por Descartes, bem como da correlacionada rejeição do seu conceito tradicional.
Organizador do Dossiê