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Cadernos de História da Educação

versão On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.14 no.1 Uberlândia jan./abr 2015  Epub 20-Mar-2024

https://doi.org/10.14393/che-v14n1-2015-12 

Artigos

PRÁTICAS ESCOLANOVISTAS NO ENSINO PRIMÁRIO: UMA ANÁLISE A PARTIR DE IMAGENS FOTOGRÁFICAS DO GRUPO ESCOLAR LAURO MÜLLER (1946-1947)

New school in Primary Education: an analysis of photographic images of School Group Lauro Müller (1946 - 1947)

Fernanda Ramos Oliveira Prates1 

Mestranda em Educação na Universidade do Estado de Santa Catarina. Professora do Instituto Federal de Santa Catarina.

fernanda.prates@univali.br

Gladys Mary Ghizoni Teive2 

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora Associada do Departamento de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina.

gladysteive@gmail.com

1Professora do Instituto Federal de Santa Catarina. Brasil

2Professora Associada do Departamento de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina. Brasil


Resumo

Neste artigo analisamos a prática de cinco Associações Auxiliares no Grupo Escolar Lauro Müller, de Florianópolis, capital de Santa Catarina, no período de 1946 e 1947. Dirigidas por alunos, estas Associações Auxiliares objetivavam contribuir para transformar a escola em uma “sociedade embrionária”. Para compreender como o “Lauro Müller” operacionalizou este e outros objetivos de base escolanovista, foram analisadas uma série de nove imagens fotográficas em interconexão com documentos oficiais e relatórios enviados pela direção deste grupo escolar ao Departamento de Educação. Tais análises nos possibilitaram constatar bricolagens de práticas inovadoras e tradicionais, levando-nos a concluir que é no espaço de encontro entre tradição e inovação que as imagens fotográficas nos oferecem um maior leque de possibilidades na área da história da educação, especificamente, no campo da cultura escolar.

Palavras-chave: Associações Auxiliares; Escola Nova; Imagens Fotográficas; Intertextualidade

Abstract

In this article we analyze the practice of five Auxiliary Associations in the Elementary School Lauro Müller, in Florianópolis, capital of Santa Catarina, in 1946 and 1947. Led by students, these Auxiliary Associations aimed to help transform the school into an “embryonic society”. To understand how the “Lauro Müller” operated this and other New School based objectives were analyzed from the perspective of intertextuality, a series of nine images interconnect with official documents and reports submitted by the direction of this school group to the Department of Education. Such analysis allowed us to observe a blend of innovative and traditional practices, leading us to conclude that it is in the intersection between tradition and innovation that the images offer us a wider range of possibilities in the history of education, specifically in the field of school culture.

Keywords: Auxiliary Associations; New School; Photographic Images; Intertextuality

Transformar a escola em laboratório para a vida era uma das principais diretrizes da Escola Nova. Preconizava-se que a chave para o desenvolvimento intelectual e o progresso social estavam no lema: a escola centrada na criança e a escola centrada na comunidade, o qual exigia dos mestres uma maior compreensão da interdependência entre indivíduo e grupos (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 26). John Dewey, um de seus principais expoentes, defendia que a escola deveria ser convertida num genuíno centro de vida comunitária ativa. Em suas obras “A escola e a sociedade (1900) e “A criança e o currículo (1902), ele propõe que a escola deve se converter uma comunidade em miniatura, numa sociedade embrionária, devendo seu currículo associar-se à vida, de modo a possibilitar que a criança aprenda através da experiência direta, mais próxima do real, e não simplesmente noções abstratas e idealizações de uma vida futura. Coerente com este entendimento defendia-se que o conhecimento escolar precisava ter caráter social (DEWEY, 2002, p.35). No âmbito brasileiro, os chamados pioneiros da Escola Nova também defendiam a ideia de que as escolas modernas não poderiam ter apenas como finalidade o desenvolvimento individual do aluno, “sob moldes abstratos, mas hão de ser concebidas para que atendam as mais complexas funções da vida social” (LOURENÇO FILHO, 1978, p.247), colocando os conhecimentos a serviço da coletividade.

Dar nova forma a escola, transformando-a numa instituição social, significava organizar os saberes e as práticas escolares de modo que permitissem ao aluno compreender o funcionamento da sociedade, trazendo para a cultura da escola aspectos do cotidiano e projetando “a obra educativa além dos muros escolares” (MANIFESTO, 2006, p. 201). O trabalho isolado de cada aluno, tal como acontecia na “velha pedagogia”, deveria ser substituído, por situações de atividade conjunta de grupos, comissões, equipes e pelotões. Estas situações foram materializadas nas instituições complementares, mais comumente conhecidas como Associações Auxiliares da Escola, as quais, segundo o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (2006, p.201), deveriam “ser incorporadas em todos os sistemas de organização escolar para corrigirem essa insuficiência social, cada vez maior, das instituições educacionais”.

Normatizações sobre as Associações Auxiliares da Escola em Santa Catarina

Em Santa Catarina, as Associações Auxiliares da Escola começaram a ser organizadas muito timidamente a partir do final dos anos 1930. As primeiras instruções oficiais acerca de sua organização e funcionamento foram publicadas em 1942, através da Circular n.94, seguida das Circulares nº 32 e nº 76, ambas de 1943, e dos Decretos nº 3.025/44 e 3.030/44, que padronizaram os relatórios anuais sobre as Associações Auxiliares que os diretores de grupos escolares e dos estabelecimentos de ensino privado deveriam encaminhar ao Departamento de Educação. Na Circular n.94/1942, enviada aos inspetores escolares, auxiliares de inspeção, diretores de grupos escolares e professores de escolas isoladas, constam orientações acerca do preenchimento de um questionário sobre o funcionamento das Associações Auxiliares da Escola, o qual foi utilizado até a década de 1950. Nela, chamou-nos a atenção a advertência de que “a escola que não possui, pelo menos, uma associação, não deu ainda sinal de que está em caminho de sua evolução e não despertou para essa vibração que todos precisamos experimentar” (SANTA CATARINA, 1942, p.1). Segundo Fairclough (2001, p.156-7),3 as frases negativas são frequentemente usadas com finalidades polêmicas. Nesse caso, ela pressupõe a proposição, em algum outro texto, de que os grupos escolares e as escolas isoladas catarinenses não estavam organizando associações auxiliares, ou se estavam, estas não funcionavam adequadamente. Talvez, por conta deste pressuposto, o citado documento exagere na sua ênfase sobre a obrigatoriedade de registrar as atividades das associações por meio de livros e atas, “para que não haja, no futuro, alegação de sua não existência” (SANTA CATARINA, 1942, p.1).

Passado um ano, a Circular nº 76/1943, promoveu duras críticas ao funcionamento das Associações Auxiliares da Escola, sobretudo, no que se referia à centralidade da criança na sua gestão, denunciando que estas vinham, na sua maior parte:

1) sendo dirigidas e executadas, em tudo e por tudo, pelo professor; 2) que a colaboração dos alunos tem sido nula; 3) que o professor executa todo o serviço, aparecendo somente o aluno, “in nomine”; 4) que há jornal escolar feito exclusivamente pelo professor (redação, etc., e até a feitura (escrever do jornal); 5) que os recortes para os alunos são feitos pelo professor; 6) que o colar os recortes nos álbuns também é feito pelo professor, e assim por diante. Tudo é feito pelo professor e o aluno assina como se fosse seu trabalho [...] (SANTA CATARINA, 1943b, p.1).

E, pressupondo que em algum outro texto, não especificado, os professores tenham feito queixas e ou reclamações acerca da sobrecarga de trabalho e ou cansaço por conta do trabalho com as Associações Auxiliares, o produtor do texto da circular é mais uma vez taxativo:

Desejamos o trabalho da criança: com os seus mal traçados primeiros passos (maus recortes, álbum, às vezes, lambuzado de goma, artigos e notícias feitos com a graça de quem está engatinhando, etc.), e, através deles, no tempo e no espaço, poderemos ver sua evolução. Não pode haver professor sacrificado em virtude das associações auxiliares da escola. O professor é orientador, supervisionador, e a criança é a executora (SANTA CATARINA, 1943b, p.1).

Diante de prováveis descaminhos e ou desentendimentos, o Departamento de Educação publicou em 28 de abril de 1944 o Decreto n. 2.991, que aprovou as instruções para as Associações Auxiliares da Escola nos estabelecimentos de ensino estaduais, municipais e particulares. Na Circular nº 42/1944, que o apresentou às escolas, o tom é mais ameno em comparação com o das duas circulares anteriores:

O nosso mais acendrado empenho é no sentido de que se procure penetrar o espírito dessa organização, sondando o seu valor como meio disciplinar e como evolução da escola de ontem, quando os princípios sociais não mereciam os cuidados tão necessários à preparação do homem de amanhã. Por intermédio das associações bem orientadas, colocaremos a Escola nos moldes compatíveis à evolução, que a vida experimenta, visto ser a fonte preparadora das gerações em caminho de um plano melhor, condizente com a nossa civilização. (SANTA CATARINA, 1944a, p. 1).

Todavia, no último parágrafo, sutilmente, reaparece a preocupação do Departamento de Educação com o bom andamento das Associações, como pode ser constatado na oração: “Desejamos, ainda, que o vosso trabalho, guiado pelas diretrizes traçadas, encontre, no vosso bom senso, possibilidade de evolução, pois em circunstâncias especiais, será bem possível deparardes algum entrave que porá em jogo a vossa capacidade de ação, a vossa força de vontade, a vossa inteligência” (SANTA CATARINA, 1944a, p.1). Esta é seguida de uma última oração em negrito, desta vez, peremptória: “Não aconselhamos a existência de qualquer associação, senão bem cuidada, embora modesta”. Aqui novamente o uso do não/senão, na perspectiva da Análise Crítica do Discurso (ACD), indica que na avaliação do Departamento havia, sim, associações auxiliares mal organizadas e mal cuidadas nas escolas primárias catarinenses.

Esse decreto foi ratificado quase que integralmente pelo Decreto nº 3.735, de 17 de dezembro de 1946, que aprovou o “Regulamento para os estabelecimentos de ensino primário no Estado de Santa Catarina”, um dos desdobramentos da Lei Orgânica do Ensino Primário, implantada pelo Decreto Estadual n. 298, de 13 de novembro de 19464. Esta Lei, conhecida como “Reforma Elpídio Barbosa” - em homenagem ao então diretor do Departamento de Educação - referendou as normas da Lei Orgânica Federal do Ensino Primário, reestruturando o ensino primário catarinense nos moldes da Escola Nova. Para colocá-la em prática, menos de um mês após a sua promulgação, foi elaborado pelo Departamento de Educação, além do citado Regulamento, o “Programa para os Estabelecimentos de Ensino Primário” - Decreto nº 3.732, de 12 de dezembro de 1946, e o Regulamento para o Serviço de Inspeção Escolar” - Decreto nº 3.733, de 12 de dezembro de 1946.

De acordo com o novo Regulamento, eram as seguintes as associações auxiliares que deveriam ser implantadas nos grupos escolares e escolas isoladas catarinenses: Liga Pró-Língua Nacional; Biblioteca; Jornal Escolar; Clube Agrícola; Círculo de Pais e Professores; Museus Escolares; Centros de Interesse; Liga da Bondade; Clube de Leitura e Pelotão de Saúde. Cada uma delas deveria possuir uma diretoria, composta unicamente por alunos. A intenção era que estes presenciassem uma “vida social em miniatura”, com um mínimo de ajuda dos adultos. Seu objetivo era o de “oferecer aos alunos oportunidade de exercitar atitudes de sociabilidade, responsabilidade e cooperação”, além de “obter a colaboração do meio social e exercer influências favoráveis sobre o mesmo” (SANTA CATARINA, 1946b, p.2).

Analisando a referida legislação, salta aos olhos o cuidado do legislador em explicitar detalhadamente a atuação de cada uma das associações, utilizando exemplos de fichas de sócios, modelos de formulários, dísticos e flâmulas, orientações para escolha de seus dirigentes, o que denota a intenção de que estas instituições fossem postas em funcionamento com maior eficiência. O controle do seu funcionamento é perceptível nas orientações sobre como deveriam ser elaborados os relatórios de direção. Os diretores dos grupos escolares tinham a obrigação de anualmente apresentar ao Departamento de Educação um relatório das atividades desenvolvidas ao longo do ano, o qual seguia um modelo predeterminado. Não há neste modelo indicações no sentido de que deveriam ser anexadas imagens fotográficas aos relatórios: no entanto, algumas escolas, sobretudo os grupos escolares localizados nas maiores cidades do Estado, como o “Lauro Müller, lançaram mão desse recurso.

Neste artigo analisaremos nove imagens fotográficas anexadas aos relatórios enviados pelo Grupo Escolar Lauro Müller ao Departamento de Educação, as quais serão aqui analisadas em interconexão com os textos das circulares enviadas às escolas, nos anos de 1942, 1943 e 1944, dos decretos, regulamento, questionário e, também, dos textos dos relatórios enviados pela direção deste grupo escolar ao Departamento de Educação. Antes, porém, apresentaremos um breve estado da questão sobre o uso das fontes iconográficas na historiografia educativa

O uso das imagens fotográficas como fonte para a história da educação

A partir do final dos anos 1990, intensificou-se entre os historiadores da educação a discussão acerca das possibilidades do visual como fonte e recurso metodológico na historiografia educativa. Instigados pela paradigmática obra de Peter Burke, “Visto e não visto. El uso de la imagen como documento histórico” (2001), multiplicaram-se as discussões acerca da importância das fontes iconográficas como instrumento de pesquisa, com o objetivo de obter informações significativas sobre a cultura escolar, especialmente as práticas cotidianas da escola. Ao lado de outras fontes consideradas até então não convencionais, tais como jornais, diários, planos de aula, plantas arquitetônicas, etc., os recursos imagéticos assumem papel importante nos novos e diferentes âmbitos que estão sendo pesquisados pela História da Educação. Segundo Burke (2004, p.11), “não teria sido possível desenvolver pesquisa nesses campos relativamente novos se eles tivessem se limitado às fontes tradicionais, tais como, documentos oficiais produzidos pelas administrações e preservados em seus arquivos”.

Entretanto, há cuidados que os pesquisadores devem ter ao utilizá-las como objeto de análise. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que as fotografias são instrumentos de representação. No caso das fotografias escolares, como bem assinalou Rosa Fátima de Souza, elas expressam “uma maneira de ser e comportar na escola -, representações de uma cultura institucional veiculadora de conhecimentos, valores, normas e símbolos considerados legítimos. Elas representam singularidades e identidades compartilhadas (SOUZA, 2001, p. 81). É justamente por conta desse seu caráter de representação e, portanto, “de intenção de verdade” que a fotografia torna-se uma “parceira do pesquisador pelos indícios que possa apontar”. Sem a sua “intervenção, particular e subjetiva”, ficaria limitada “ao simples registro documental ou como mera ilustração de um discurso predeterminado sobre a cultura escolar, construído em sua totalidade a partir das fontes escritas e em que a fotografia só vem a reforçar e ou visualizar os argumentos extraídos dos textos” (POZO ANDRES e RABAZAS, 2012, p.404).

Em linguagem “barthesiana”, a fotografia, concebida apenas como registro documental, teria o enfoque apenas de studium, ou seja, de um olhar assumidamente superficial. Já a fotografia observada sob o viés da subjetividade, chamada por Barthes de punctum, leva em consideração os detalhes que mais despertaram o observador. O punctum não está em evidência imediata; ele é descoberto pelo pesquisador (BARTHES, 1984). Cabe a ele descobrir este punctum, destacando o que está além das fotografias. A partir do confronto de suas fontes, vivências e experiências, o pesquisador vai preenchendo as lacunas históricas tal qual uma “câmara clara”. É imprescindível, ainda, que a fotografia seja entendida como uma forma a mais na interpretação do passado. Ela, tal como advertiu Kossoy (1998, p.114), “apenas traz informações visuais de um fragmento do real, selecionado e organizado estética e ideologicamente”. A fotografia ou um conjunto de fotografias apenas congela, nos limites do plano da imagem, fragmentos desconectados de um instante da vida das pessoas, coisas, natureza, paisagens urbana e rural. Cabe ao intérprete compreender a imagem fotográfica enquanto informação descontínua da vida passada, na qual se pretende mergulhar.

No que se refere à interpretação das imagens fotográficas, são muito interessantes os conceitos de visualização e visibilidade, ambos ligados à cultura visual. O primeiro, de acordo com as pesquisadoras espanholas Maria Del Mar del Pozo Andrés e Teresa Rabazas (2012, p.406), significa tornar visível ou representar através de imagens aquilo que não pode ser visto a uma simples vista. Este objetivo, segundo as pesquisadoras, parece ser o almejado pela grande maioria dos trabalhos históricos que incluem imagens fotográficas como ilustrações de um determinado discurso sobre a cultura escolar, construído a partir de fontes escritas, nos quais a fotografia tem a função precípua de visualizar ou reforçar as mensagens veiculadas no texto. O segundo conceito, transferido do campo da sociologia e dos mass media, significa

la capacidad de mostrar lo que estaba oculto, es decir aquellas costumbres, comportamientos, saberes y prácticas dominantes que tradicionalmente han permanecido en la intimidad del aula, en la esfera privada de la clase, que han constituido tramas culturales consistentes y persistentes a lo largo del tiempo y que no se han divulgado por otros medios escritos porque formaban parte de una tradición compartida por el colectivo docente y no aprendida en los manuales de Pedagogía o en las Escuelas de Magisterio (POZO ANDRÉS e RABAZAS, 2012, p.406-10).

Outros modelos procedentes do campo da semiologia utilizam, ainda segundo Pozo Andrés e Rabazas (2012), conceitos muito semelhantes ao sistema proposto por Panofsky para a interpretação de uma obra de arte, que parte da descrição da imagem e do contexto sócio-histórico em que foi produzida, até o descobrimento de seu significado simbólico (pré- iconográfico, iconográfico e iconológico). Regra geral, há unanimidade entre os estudiosos das imagens fotográficas no sentido de que não se pode compreendê-las sem um profundo conhecimento da cultura que as produz, o que exige do pesquisador uma análise paralela de texto e imagens, ao que se convencionou chamar de intertextualidade, a qual está relacionada à “diversidad de formas através de las cuales puede articularse un discurso y cómo su significado depende, no solo de um texto o imagen específicos, sino de su interconexión com otras imágenes o textos” (POZO ANDRÉS; RABAZAS, 2012, p.408).

As Associações Auxiliares no Grupo Escolar Lauro Müller a partir de imagens

O Grupo Escolar Lauro Müller foi o segundo implantado no estado de Santa Catarina (1912) e o primeiro da capital. Fez parte dos primeiros sete grupos criados em Santa Catarina pela Reforma Orestes Guimarães (1911-1935) e durante meio século foi considerado uma escola-modelo para as normalistas da Escola Normal Catarinense e para os professores dos grupos escolares, escolas reunidas e escolas isoladas do interior do estado. O nome de seu patrono também lhe dava distinção pelo fato de que Lauro Müller foi o primeiro governador de Santa Catarina e o político catarinense com maior prestígio, em nível federal, durante a Primeira República (TEIVE e DALLABRIDA, 2011, p.39). Sua construção e organização no ano de 1912 custaram aos cofres públicos o dobro dos demais grupos escolares, pela quantidade de materiais didáticos adquiridos em São Paulo e no Rio de Janeiro: mobiliário vindo dos EUA, museu escolar, laboratório de física e química, e toda a sorte de materiais didáticos que a pedagogia moderna exigia.

Localizado no coração da cidade de Florianópolis, próximo à catedral, ao palácio do governo e às sedes dos poderes executivo estadual e municipal, era o cartão de visitas do governador, prova cabal da modernidade pedagógica do Estado. Não sem razão, por ocasião da implantação da Lei Orgânica do Ensino Primário, em 1946, foi a escola que, seguindo as prescrições do Regulamento para os estabelecimentos de ensino primário, mais rapidamente reorganizou as suas Associações Auxiliares, as quais, segundo a avaliação do inspetor Adriano Mosimann, encontravam-se “em pleno funcionamento” (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.12).

Com efeito, das dez associações previstas no “Regulamento para os estabelecimentos de ensino primário”, oito foram implantadas no Lauro Müller5, e destas, cinco tiveram fotografias de suas atividades anexadas aos relatórios analisados, talvez por serem todas dirigidas por alunos (com orientação de uma professora, tal como exigia o regulamento)6: Liga Pró-Língua Nacional (2 fotografias), Pelotão de Saúde (3 fotografias)7, Jornal Escolar (2 fotografias)8, O Clube de Leitura (2 fotografias) e a Liga da Bondade (2 fotografias). De modo a efetuar a sua análise, dividimos as fotografias em dois blocos: o primeiro é composto de quatro fotografias realizadas no interior da escola, representando as ações da Liga da Bondade (1946), Clube de Leitura (1946) e Pelotão de Saúde (1946 e 1947). Do segundo, fazem parte cinco fotografias feitas na área externa do grupo escolar, representando o Clube de Leitura (1947), a Liga da Bondade (1947), o Jornal Escolar (1946) e a Liga Pró-Língua Nacional (1946 e 1947). Inicialmente procederemos à categorização das fotografias a partir de quatro enfoques, tradicionalmente aplicados pelos historiadores: quando? (contexto cronológico), onde? (contexto espacial), por quem? (autoria real ou suposta em termos de pública/privada) e por que se produziu a imagem? (utilização original que se pensava dar à foto) (POZO ANDRÈS, 2006, p.293). Depois dessa primeira etapa, faremos a análise do discurso, na perspectiva da intertextualidade.

Imagens fotográficas realizadas no interior do grupo escolar

Não há, em nenhuma das quatro fotografias deste bloco, dados sobre o/a fotógrafo/a. Talvez tenham sido feitas pela diretora ou pelas professoras, com o objetivo de incluí-las no relatório enviado ao Departamento de Educação, ou também podem ter sido realizadas por um fotógrafo profissional especialmente contratado para tal. Note-se que nesse período, em Santa Catarina, a câmera fotográfica só era utilizada em ocasiões especiais e não para captar as atividades cotidianas, tal como acontece nos dias atuais.

As fotografias escolhidas pela direção para representar as ações da Liga da Bondade e do Clube de Leitura, no ano de 1946 são em tudo muito similares, como se pode depreender nas fotografias das figuras 1 e 2.

Figura 1 Liga da Bondade (1946) 

Figura 2 Clube de Leitura “Cruz e Sousa” (1946) 

Ambas têm como cenário uma sala de aula e como foco central o quadro-negro lateral, recurso geralmente utilizado para a divisão da classe em diferentes níveis (fracos, médios, fortes), em cima do qual há três fotografias: no centro, a de Tiradentes - alçado pelos republicanos à herói nacional -, do presidente da República (lado esquerdo) e a do lado direito deduzimos ser do governador do Estado. No quadro-negro estão escritas pequenas frases. No caso da Liga da Bondade, lê-se apenas: “Grupo Escolar Lauro Müller - Liga da Bondade” e no do Clube de Leitura: “O livro é o nosso melhor amigo”, a qual resume em poucas palavras a concepção desta associação, que objetivava “desenvolver o gosto pela boa leitura e ao mesmo tempo oferecer às crianças uma poderosa fonte para a sua cultura e desenvolvimento social” (SANTA CATARINA, 1944b, p.27). Não fossem estas duas frases e a legenda que a diretora (ou quem organizou o relatório) escreveu embaixo de cada uma das fotografias, não as classificaríamos como representações de ações da Liga da Bondade e ou do Clube de Leitura. De modo que podemos afirmar que, nesse caso, o significado de ambas as imagens fotográficas dependeu principalmente da interconexão das imagens com os textos, batizada pelo fotógrafo alemão Michael Nerlich como “iconotexto”, o qual significa que na relação entre texto e imagem se estabelece um diálogo e se cria uma história ainda não contada (POZO ANDRÉS, 2006, p. 305).

Num primeiro momento fomos levadas a concluir que as crianças que estão de pé encostadas no quadro-negro eram os membros da diretoria das associações, a qual, de acordo com o decreto, deveria ter um presidente, secretários, suplentes, monitores e ou auxiliares. Contudo, ao relacionarmos as imagens com os dados registrados no questionário anexado ao relatório de 1946, constatamos que o Clube de Leitura, por exemplo, possuía seis membros, entre diretor e suplentes, sendo três meninos e três meninas, e na fotografia há oito meninas de pé, sendo que destas, quatro parecem estar lendo/declamando, e as outras quatro apenas observando e ou esperando a sua vez para ler/declamar. Por conta desse indício, deduzimos que a fotografia pode estar representando a prática da chamada “Hora da boa leitura”, ou hora da declamação ou da anedota, dos discursos, que também segundo o Decreto n. 2.991/44, o Clube de Leitura deveria organizar mensalmente. Estes momentos objetivavam “desenvolver as tendências dos leitores de acordo com suas inclinações, como sejam, a poesia, narrações, contos, biografias, anedotas, charadas, diálogos, dramatização, relatórios, discursos, formando um conjunto apresentável a qualquer instante” (SANTA CATARINA, 1944b, p.29). Deveriam versar de preferência sobre “a vida dos grandes homens, tanto na ciência como na leitura e arte, estimulando o hábito da leitura, o qual era visto como “um recreio para o espírito: aperfeiçoa os conhecimentos, amplia a imaginação e coloca o indivíduo na vereda de suas inclinações muitas emergidas em um simples capítulo” (SANTA CATARINA, 1944b, p.27). Tais atividades deveriam ser planejadas em conexão com a Biblioteca, outra associação auxiliar da escola, considerada “a parte material do Clube de Leitura” (SANTA CATARINA, 1944b, p.27).

Tido como a “parte moral “da Biblioteca, aos membros do Clube de Leitura caberia selecionar, com o auxílio da professora responsável, leituras, poesias, biografias, dramatizações, etc., “cheias de exemplos que nos servem de guia”, as quais “bem conduzidas só pode dar como resultado a melhor estabilidade do homem na vida” (SANTA CATARINA, 1944b, p.29). Em face da íntima relação entre o Clube de Leitura e a Biblioteca, ambas as associações deveriam ter o mesmo patrono que, no caso do Grupo Escolar Lauro Müller era “Luiz Delfino”, uma homenagem ao eminente médico, poeta e senador por Santa Catarina no início do regime republicano. Juntas, estas duas associações deveriam promover campanhas para adquirir livros, como a “Campanha Pró- Biblioteca”, realizada em 1947, que obteve 51 livros em doação e verba para a compra de 50 livros (GRUPO ESCOLAR, 1947, p.37).

No que se refere aos três alunos que aparecem de pé junto ao quadro-negro na fotografia que representa a Liga da Bondade - dois meninos pequenos e uma menina mais crescida - não podemos conjecturar se eram os membros da diretoria, a qual deveria ser composta pelo presidente, secretário e monitores, haja vista que o relatório analisado não especifica o número de membros que compunham a sua diretoria e nem os seus nomes, como aconteceu no caso do Clube de Leitura. Eram, com certeza, sócios da Liga, posto que, segundo o questionário já citado, todos os alunos da escola estavam engajados nesta Associação. E quanto às classes? Em ambas as fotografias foram contempladas apenas duas fileiras de alunos, sendo que os retratados na imagem que representa o Clube de Leitura estão atentos à leitura dos colegas, e os da Liga da Bondade, olham para o fotógrafo. Nos dois casos, os alunos amontoam-se nas carteiras, que apesar de serem individuais, têm cadeiras móveis, o que possibilitou juntar duas ou três crianças em uma só carteira. Talvez este tenha sido um recurso do/a fotógrafo/a para abarcar um maior número de alunos, apesar de só aparecerem duas filas de carteiras. As salas de aula retratadas nas duas fotografias são idênticas, talvez seja a mesma, mas os alunos não são os mesmos e a ausência da papeleta no canto direito do quadro-negro, no primeiro caso, demonstra que as fotos não foram realizadas no mesmo dia.

A ausência da professora, em ambas as fotografias, parece indicar que, ao contrário das veementes críticas do Departamento de Educação, consubstanciadas nas circulares enviadas às escolas, no “Lauro Müller”, as crianças ocupavam um lugar privilegiado nas Associações Auxiliares, cabendo às professoras a tarefa de orientá-las e cooperar com as suas atividades, quando solicitadas. Sua ausência, portanto, nos pareceu coreografada, de modo a comprovar aos técnicos que as professoras daquele grupo escolar haviam compreendido os postulados da Escola Nova no que se referia ao papel central da criança no processo de ensino-aprendizagem, a necessidade de sua liberdade e autonomia.

A figura de número 3, também de 1946, representa o Pelotão de Saúde. Como as anteriores, foi coreografada em uma sala de aula e focaliza apenas os membros do Pelotão de Saúde, devidamente paramentados com indumentária branca, a qual não era exigida pelo Regulamento, que previa apenas o toucado e a flâmula, ambos brancos, com o dístico: Saúde, Força e Alegria, que deveria ser escrito com letras vermelhas (SANTA CATARINA, 1944b, p.32).

Figura 3 Pelotão de Saúde “Osvaldo Cruz” (1946) 

O traje completo, parece ser uma criação do Grupo Escolar Lauro Müller, com o intuito de dar mais elegância e garbo ao Pelotão do Lauro Müller. Uma das crianças ao centro tem algo nas mãos. A cena não parece configurar um momento de reunião informal do grupo, pois só estão quatro (dois meninos e duas meninas) dos doze monitores informados no Questionário enviado ao Departamento de Educação em 1946. Talvez tenha sido uma sessão especial desta Liga, haja vista a indumentária caprichada, contudo, a classe de alunos não é flagrada pela câmera do fotógrafo, como nas outras duas fotografias analisadas.

Os quatro membros do Pelotão de Saúde estão posicionados atrás de uma mesa, que parece ser a da mestra, sobretudo por conta do vaso de flores, considerado por João dos Santos Areão, técnico do Departamento de Educação que a partir de 1947 ocuparia a função de inspetor das Associações Escolares do Estado de Santa Catarina - como um dos símbolos da “escola nova”, da “escola viva”, “risonha e franca”, como podemos observar no excerto de um de seus relatórios de inspeção:

Todas as escolas apresentam aspecto bem diferente do de até agora: vasos, ou melhor, latinhas e caixinhas (com funções de vasos) contendo variadas folhagens, flores e até lindíssimos espécimens parasitas, cujos cuidados estão a cargo dos próprios alunos; quadros com recortes de revistas e jornais, para o estudo da aritmética, história, etc., dão às salas de aula um ambiente inteiramente novo para as crianças e impressionam agradavelmente até visitantes que, logo de entrada se convencerão de que a ‘escola vive’ (MARASSI, Apud TEIVE, 2014, p.145). [grifos nossos]

Novamente nesta imagem, o quadro-negro é o objeto central no cenário e sob ele está um quadro de fotografias, embaixo do qual está centralizado um crucifixo - objeto que havia sido banido das escolas públicas catarinenses a partir da Reforma Orestes Guimarães (1911) - ladeado por duas bandeirolas, sendo a da esquerda, a do Brasil. No centro do quadro-negro foi afixada uma imagem, não decifrada, e no canto esquerdo há uma foto em tamanho grande do Presidente da República, Getúlio Vargas. Aqui, novamente, a mestra não intervém na mise en sciène da ação da Associação Escolar, sendo o grupo de alunos novamente colocado no foco da atenção, agindo “autonomamente”, tal como ditava a Escola Nova. Em 1947, novamente a sala de aula foi escolhida como cenário para a imagem que deveria retratar as atividades do Pelotão de Saúde do “Lauro Müller”, conforme a figura 4 abaixo:

Figura 4 Pelotão de Saúde “Osvaldo Cruz” (1947) 

O quadro-negro é novamente o destaque, mas desta vez trata-se do quadro central, à frente da classe - recurso-chave para a prática do método simultâneo - onde foi registrada uma mensagem acerca de uma campanha que a Liga deveria estar promovendo, a qual poderia estar relacionada a uma das três funções desta Associação: zelar pela limpeza do prédio; cuidar da higiene dos alunos; prestar socorros de emergência (SANTA CATARINA, 1944b, p.32). Há também uma figura colocada ao pé do quadro, e sob uma mesa há um cartaz, ambos indecifráveis. Com exceção do menino que lê algo e está de uniforme, os demais estão vestidos de branco, o que sinaliza que eram da diretoria da Associação. Ao contrário da fotografia anterior, nesta o fotográfo focalizou as carteiras, que estão vazias. A mestra, está ausente, reforçando mais uma vez modelo de escola que se considerava correto.

Estas quatro imagens fotográficas permitem visualizar em primeiro lugar a cultura material do Grupo Escolar Lauro Müller, composta por objetos que portam significados, os quais é preciso desvendar pelas pistas que nos oferecem. É emblemático o fato de o quadro-negro figurar em todas as imagens fotográficas deste grupo. Trata-se, sem dúvida, de um objeto dotado de um poder simbólico especial - espaço central da prática do ensino simultâneo e das lições de coisas, ícones da chamada Pedagogia Moderna. A ausência da professora ao seu lado, posição arquetípica, parece querer indicar que, consoante aos postulados da Escola Nova, no Grupo Escolar Lauro Müller, o centro do processo de ensino-aprendizagem era o aluno e que as “instituições não foram feitas para os professores e sim para a criança, preparando-a, ‘para a vida e pela vida’ (SANTA CATARINA, 1945, s/p.). Esta era, sem dúvida, uma das principais dificuldades das escolas catarinenses, como pudemos constatar nos textos das circulares enviadas às escolas. A ideia de que a criança deveria ser o centro, ao invés do professor, como até então havia acontecido, parece ter desestabilizado a cultura das escolas, marcada pela presença do “professor - sol comeniano”. Sua retirada do cenário das fotografias era certamente uma estratégia para confirmar que no Lauro Müller, a criança era o sol, sob o qual girava todo o processo educacional. O discurso fotográfico, portanto, objetivava orroborar o texto escrito nos relatórios, pontilhado de afirmações do tipo “todas as professoras emprestam a sua colaboração às associações auxiliares da escola, cooperando com seus alunos, sempre que os dirigentes solicitam-lhes cooperação (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.21) ou todas as professoras encarregadas de orientar alguma instituição, desempenharam bem o seu trabalho (GRUPO ESCOLAR, 1947, p.23). [grifos nossos]

Por outro lado, a presença das carteiras escolares, em três das quatro fotografias, denota permanências da velha escola, uma vez que nos dois relatórios enviados ao Departamento é informado que este, bem como todo o mobiliário do Lauro Müller eram os mesmos adquiridos em 1912, ano da inauguração do estabelecimento. No relatório de 1946 consta que “o mobiliário escolar, que conta com mais de 33 anos de uso, tem sido bem conservado. Todas as crianças usam, sobre a carteira, uma folha de papel, à guisa de toalhinha, para que não tenham ensejo de danificar as carteiras (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.5) e no de 1947 é registrado que “o mobiliário escolar tem sido muito zelado. Está, por isso, em bom estado de conservação. As crianças continuam a usar sobre as carteiras uma folha de papel mais grosso, que passou a constituir parte integrante do material escolar (GRUPO ESCOLAR, 1947, p.4-5). Adquiridas em Boston, nos EUA, as carteiras compradas pelo governo do Estado para o Lauro Müller eram as do Systema Chandlers, na época consideradas as mais higiênicas e modernas, uma vez que possibilitavam a adaptação da mesa e da cadeira às medidas dos alunos. Através de um grosso pé em tubo de ferro, a cadeira podia subir ou descer, bem como a mesa, segundo o mesmo sistema. Essas carteiras possuíam mesa e cadeira separadas, de madeira e ferro, com tinteiro, prateleira, mesa fixa ao chão e banco móvel (ALCANTARA, 2014, p. 294). Passados mais de trinta anos, não era certamente o mobiliário mais adequado para uma proposta de base escolanovista, onde mais do que ouvir e ou olhar o que o mestre dizia e ou mostrava, as crianças deveriam trabalhar, construir, criar e investigar ativamente, o que exigia a arrumação da classe de um modo menos fixo, mais espontâneo.

A presença dos/as alunos/as agrupados, do quadro-negro, das carteiras e a ausência da professora nas fotografias desse bloco, dizem muito sobre a imagem idealizada que a diretora e as professoras do Grupo Escolar Lauro Müller tinham e queriam transmitir aos seus superiores acerca de como deveria ser a prática das Associações Auxiliares da Escola. Isso não significa, em hipótese alguma, que ações tal como as representadas nestas imagens não tenham acontecido realmente. O que nos parece relevante, não obstante, é o fato de terem sido estas cenas as consideradas mais significativas para comunicar o modelo de prática tido como o mais correto no que se refere as Associações Auxiliares.

Imagens fotográficas realizadas na parte externa do grupo escolar

A exemplo das fotografias anteriormente analisadas, nas imagens deste segundo bloco não há dados sobre o/a fotógrafo/a. Se as fotografias internas, do bloco anterior, tinham a sala de aula como cenário privilegiado, o quadro-negro, as carteiras e a mesa da professora foram os recursos materiais mais utilizados; nas fotografias externas escolhidas para retratar as ações do Clube de Leitura, Liga da Bondade, Jornal Escolar e Liga Pró-Língua Nacional, o objeto mais repetido é, sem dúvida, a meia mobília destinada aos visitantes, a qual juntamente com o “bureau”, um armário e uma estante compunham o gabinete do diretor (TEIVE, 2014, p.213). Este mobiliário, composto de uma pequena mesa redonda e quatro cadeiras, aparece na fotografia da Liga da Bondade, do Clube de Leitura e da Liga Pró-Língua Nacional no relatório de 1947 (figuras de número 5, 6 e 7), estando, desse modo, fora do contexto em que deveria ser utilizado: a sala de recepção de visitantes, pais, autoridades, etc. Sob a mesa, nas três imagens, foi colocado um vasinho de flores, cuja presença, como no primeiro bloco de fotografias, mais do que um mero complemento estético, parece ter o objetivo de comunicar ao Departamento de Educação que o “Lauro Müller” era uma “escola viva”.

Figura 5 Clube de Leitura “Cruz e Sousa” (1947) 

Figura 6 Liga da Bondade (1947) 

Figura 7 Liga Pró-Língua Nacional 

Na figura 5 os membros do Clube de Leitura estão sentados nas cadeiras e um deles, de pé, entrega algo para uma aluna, que presumimos seja um prêmio, uma vez que no relatório de 1947 consta que esta e outras associações da escola promoveram concursos e instituíram prêmios aos vencedores. Na figura 6, todos estão de pé e uma aluna - que segundo a legenda é membro da Liga da Bondade - agacha-se para colocar um calçado no pé de uma criança, que não está uniformizada, levando-nos a deduzir que não se trata de uma aluna da escola. Imaginamos que aos diretores e professores dos grupos escolares fosse difícil representar em imagens fotográficas as ações da Liga da Bondade, tal como é afirmado no Decreto n. 2.991/1944, que aprovou as instruções para as Associações Auxiliares da Escola (SANTA CATARINA, 1944b, p. 24):

Dentre as associações postas em prática pelos nossos educandários, a fim de mais amplamente difundir os ditames da escola nova, é, sem dúvida, a Liga da Bondade a que maior dificuldade apresenta devido ao seu fundo puramente psicológico...... Pelo nome vê-se que a função da Liga é transcendental, pois a bondade não passa de um sentimento que os sentidos não podem perscrutar, senão pela convivência, pela muita compreensão, pelos atos, enfim, que dimanam do ser em observação.

A Liga da Bondade teria como objetivos principais o de oferecer aos alunos oportunidades “para acordar do seu íntimo, qualidades que despertadas dariam ensanchas para um encaminhamento diferente ao tomado na vida; de “movimentar as propriedades que o coração encerra para fazermos pulsar em uníssono com aqueles que o educam e fazem dele toda a sua alegria, confiança e fé” (SANTA CATARINA, 1944b, p.25) e, ainda, de “levantar o moral dos nossos alunos, baseados no princípio de que se os caracteres se não se plasmam, modificam-se com a prática dos bons hábitos, transformando, gradativamente, os pequenos costumes em virtudes permanentes” (SANTA CATARINA, 1944b, p.25). Para alcançar estes propósitos os seus membros deveriam ser muito bem escolhidos, só devendo ser aceitos “aqueles considerados completamente bons, isto é, os que podem servir de modelo aos demais” (SANTA CATARINA, 1944b, p.25). Para esta avaliação não deveria ser considerada apenas a sua vida escolar, mas a sua vida externa, isto é, “bons na rua, em casa, para os companheiros, enfim, crianças integralmente boas” (SANTA CATARINA, 1944b, p.25). No ato da posse, cada novo sócio deveria ler o seguinte compromisso: “Assumo o compromisso de me tornar ainda melhor aluno, melhor filho e melhor amigo dos meus colegas; a respeitar os mais velhos, a zelar pelos bens públicos e a proteger os animais. Se eu falhar nesses propósitos, aceito a punição que me for aplicada” (SANTA CATARINA, 1944b, p.27).

Na última figura em que aparece a meia mobília (nº 8), um grupo de sete alunas que, segundo a legenda incluída no relatório de 1946, eram da Liga Pró-Língua Nacional, estão ordenadamente colocadas em volta da mesa, com faixas de seda no peito, e uma delas empunha uma bandeira. Quase podemos ouvi-las entoando a frase-símbolo da Liga: “Tudo pela grandeza do Brasil”, a qual deveria ser dita pelos seus membros no final das sessões e de toda correspondência (SANTA CATARINA, 1944b, p.4). Considerada uma instituição “essencialmente nacionalizadora”, esta Associação deveria contribuir para a consecução da principal missão da escola: “formar brasileiros de corpo e alma” (SANTA CATARINA, 1944b, p.2). Por conta de sua importância, dela só deveriam participar apenas os alunos das classes mais avançadas, para um processo interativo com os menores. Nas figuras 8 e 9, o cenário é o pátio, o interno, no caso da Liga Pró-Língua Nacional, local mais escolhido em todas as fotografias externas, e o pátio externo, no caso da fotografia do Jornal Escolar.

Figura 8 Liga Pró-Língua Nacional (1947) 

Figura 9 Jornal Escolar (1946) 

A primeira, anexada ao relatório de 1946, traz os membros da diretoria da Liga Pró-Língua Nacional “Afonso Arinos” formados, tendo o seu presidente como guia empunhando a flâmula-símbolo da Associação, a qual deveria ter 0,60 de comprimento por 0,30 de largura em campo amarelo e o mapa do Brasil em cor verde e faces duplas (SANTA CATARINA, 1944b, p.3). Observa-se nesta imagem outra inovação do Grupo Escolar Lauro Müller em relação ao que era prescrito no regulamento: o presidente e seus auxiliares vestem uma camiseta com o mapa do Brasil no centro, a qual, a exemplo da vestimenta branca do Pelotão de Saúde, pode significar uma forma de distinguir-se dos demais grupos escolares, sobretudo nos desfiles públicos. O regulamento previa que nas festas e comemorações escolares esta Liga, como também a do Pelotão de Saúde, deveriam formar separadamente, distinguindo-se, desse modo, dos demais alunos da escola. Constatamos, que tanto em 1946 quanto em 1947 a Liga Pró-Língua Nacional esteve à testa da maioria das festas, campanhas e concursos realizados no “Lauro Müller”, seguindo à risca as orientações no sentido de que “ na cooperação das datas festivas, a Liga terá sempre oportunidade de contribuir com o programa organizado, com poesias patrióticas, com saudação à Bandeira, com leitura de páginas cívicas, com pequenos discursos, com biografias de vultos proeminentes” (SANTA CATARINA, 1944b, p.3). Além das festividades de cunho cívico-patriótico (descobrimento, independência, proclamação da República) e a do encerramento do ano letivo, a Liga Pró-Língua Nacional participou ativamente da organização das festas em comemoração ao aniversário do grupo escolar, a do “Álbuns em desfile”9, do aniversário da Rádio Brasil10 e, ainda, as festas organizadas no encerramento dos concursos e campanhas promovidos, como por exemplo a da “Campanha Pró-Monumento Olavo Bilac”, em 1946, que teve a encenação de uma peça apresentada no Teatro Álvaro de Carvalho, e a Campanha “Pró- Biblioteca”, organizada em 1947, que mereceu quatro fotografias no relatório enviado ao Departamento de Educação do mesmo ano (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.34; 1947, p.40). Além disso, particippou da organização da chamada “Hora da Arte”, na qual deveriam ser destacados os “feitos dos grandes vultos nacionais”.

A profusão de festas realizadas no Grupo Escolar Lauro Müller era avaliada pela sua diretora, professora Maria da Glória Mattos, como um avanço proporcionado pelo Programa de 1946. Na sua opinião, o novo programa “ fala ao professor”. “Tem valor pela sua clareza e simplicidade, pela harmonia do seu conjunto, perfeitamente adaptável á escola que educa moral e socialmente. Ele prevê esta modalidade de ensino: educar socialmente, proporcionando à criança uma existência alegre e feliz, no seio da escola”. E continuava: “ As crianças gostam das campanhas educativas, das competições, das festas, dos jogos, dos concursos. Esta é a verdadeira escola”, arrematava, comparando o novo programa com o velho, avaliado como muito extenso e por isso não permitindo “a suspensão de aulas”, “tendo todos que olhar somente para ele. Encarado pelo professor “com desânimo” e o diretor “tendo de abster-se de tudo quanto venha alegrar o ambiente, no seu conjunto, para não perderem aulas” (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.8).

Em sintonia com esta avaliação, são frequentes nos relatórios afirmações do tipo “são verdadeiramente bem acatadas pelas crianças nossas festividades escolares, que se tornam mais atraentes ainda quando uma Instituição resolve criar [a qual supomos ser a Liga Pró- Língua], uma taxa para as entradas (0,20 ou 0,50). Então atraídos pelo entusiasmo infantil dos filhos, comparecem os pais e outras pessoas da família” (GRUPO ESCOLAR, 1947, p. 32 ), ou “A RADIO BRASIL, emissora interna, é a alma das festas,”comemorações e campanhas educativas”(GRUPO ESCOLAR, 1947, p. 32 ), ou ainda, “as festas escolares exercem poderosa influência social nas crianças” (GRUPO ESCOLAR, 1947, p. 32). Tendo em vista toda esta relevância, a diretora afirmou, no relatório de 1946, que estava sendo providenciado para o ano seguinte “um palco desmontável e coberto, no pátio interno, para representações teatrais” (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.6), o que todavia, não foi observado nas fotografias dos festejos do ano de 1947, as quais revelam que as festas continuaram sendo realizadas no pátio interno do grupo, como no ano anterior.

Quanto à fotografia escolhida para retratar a Associação Jornal Escolar intitulada “A criança brasileira”, no relatório de 1946 (Figura 7), chamou-nos a atenção, em primeiro lugar, o fato de ter sido escolhido apenas um aluno para representá-la, haja vista que, nas demais, as crianças estão sempre em grupo, como que para representar o caráter social das Associações. Em segundo lugar, o fato de o aluno escolhido estar descalço. Entendendo que todo e qualquer elemento e ou pessoa que aparece nas imagens fotográficas foi cuidadosamente coreografado para conseguir o efeito desejado e, que nas demais fotografias anexadas aos relatórios analisados, os alunos estão sempre muito bem apresentados, nos perguntamos: quê efeito a direção e as professoras do Grupo Escolar Lauro Müller desejavam produzir nos técnicos do Departamento de Educação ao escolher a imagem do aluno descalço para retratar esta associação, que tinha como um de seus objetivos “levar notícias a todos os lares” e a outras escolas do estado e fora dele, até do exterior11? (GRUPO ESCOLAR, 1946, p.21).

Certamente não era incomum, nesse período, a presença nesta e nas demais escolas primárias catarinenses, de alunos sem calçados, haja vista que o regulamento de 1946, tal como o de 1914 (Reforma Orestes Guimarães), facultava aos alunos frequentar as aulas descalços. O que nos parece incomum é a escolha justamente de um aluno descalço para representar uma Associação Auxiliar de uma escola tida como modelo para as demais. Mais estranheza ainda nos causou o fato de que em sala de aula, na disciplina de “Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para a saúde e ao trabalho”, introduzida nos quatro anos do currículo dos grupos escolares pelo Programa de 1946, as professoras deveriam ministrar conteúdos relacionados à higiene e à saúde, dentre os quais se destaca os males do pé descalço (SANTA CATARINA, 1946a, p.24). Ademais, também na pauta do Pelotão de Saúde, esta questão ganhava destaque, como pode ser constatado no excerto abaixo:

Os dois grandes flagelos do nosso sertão são: o amarelão e o impaludismo. Contra esses males, muito se tem trabalhado, entretanto o seu combate não tem merecido, na escola, a campanha que se faz mister. A força de repetição, de correção dos maus hábitos, contribuiria para amainar, pelo menos, o surto de expansão que ameaça os lugares menos precavidos de ensinamentos higiênicos. Nada supera a escola para levar adiante uma campanha nesse sentido. Daí a necessidade da campanha ao pé descalço O Pelotão de Saúde é, por assim dizer, a aguarda avançada de um trabalho de grandes consequências, uma vez desenvolvido como deve ser (SANTA CATARINA, 1944b, p. 30).

Talvez por essa razão, no ano seguinte, 1947, a Liga da Bondade tenha promovido uma campanha para angariar fundos para comprar calçados, como sugere a fotografia escolhida para compor o relatório do mesmo ano (Figura 6). A exemplo do primeiro bloco, neste também é flagrante a ausência da professora, o que entendemos, como já dito, como um signo das mudanças efetuadas em relação à escola dita tradicional, na qual a mestra ocupava um lugar privilegiado.

Considerações finais

A análise das imagens fotográficas anexadas aos relatórios enviados pelo Grupo Escolar Lauro Müller ao Departamento de Educação, nos anos de 1946 e 1947, nos possibilitou concluir que o seu intuito era o de comprovar a prática das inovações consubstanciadas em circulares, programas, regulamentos, etc., no que se refere às associações auxiliares. Em cada uma delas encontramos signos que, sob a ótica do/a fotógrafo/a, deveriam ser indicativos de que o “Lauro Müller” dava sinais de estar “no caminho de sua evolução” e havia despertado “para essa vibração que todos precisamos experimentar”, advertência feita pela Circular nº 42 (SANTA CATARINA, 1942, p.1) com o intuito de estimular as escolas catarinenses a organizar as Associações Auxiliares de modo a sintonizarem-se com a Escola Nova, recentemente oficializada no Estado. E foi justamente através desta simbologia que pudemos constatar que, na maioria das imagens, os objetos, mobiliários e ou a coreografia dos alunos escolhidos para retratar as práticas escolanovistas das Associações Auxiliares, apontavam para permanências da antiga escola, as quais a Escola Nova desejava ver extintas, como por exemplo, a centralidade do quadro-negro e das carteiras fixas ao chão, verificadas nas imagens do primeiro bloco. Outras vezes, os traços das mudanças pedagógicas saltaram aos nossos olhos, como por exemplo, a ausência das professoras na mise en scène da ação escolar, e, outras vezes, os signos da mudança foram muito sutis, só podendo ser percebidos através do que à primeira vista poderia ser considerado uma insignificância, como um vasinho de flores. Essas sutilezas só puderam ser percebidas mediante a contextualização das imagens fotográficas e seu entrecruzamento com outras fontes, num excitante exercício de intertextualidade. Concordamos com Pozo Andres e Rabazas (2012) de que é na trajetória de continuidades e rupturas que o estudo das imagens fotográficas adquire seu significado mais profundo. Através delas, muitas vezes mais do que nos textos, pode-se constatar as mesclas e ou bricolagens de práticas tradicionais e inovadoras realizadas pela escola. Concluímos, pois, que é no espaço de encontro entre tradição e inovação que as imagens fotográficas nos oferecem um maior leque de possibilidades na história da educação, especialmente no campo da cultura escolar.

Referências

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3Norman Fairclough propõe uma análise tridimensional do discurso: o discurso como texto, o discurso como prática discursiva e o discurso como prática política. O “discurso como texto” refere-se à produção ou interpretação textual. Questões sobre forma e significado do texto são tomadas na análise, considerando aspectos de vocabulário (palavras individuais), gramática (combinação de palavras em frases), coesão (ligação entre frases) e estrutura textual (organização geral do texto). O “discurso como prática discursiva”, envolve processos de produção, distribuição e consumo textual, partindo-se da premissa de que o consumo de textos se dá diferentemente em contextos sociais diversos. Embora dependa também dos aspectos formais do texto, esta análise diz respeito à força dos enunciados ou tipos de falas (pelo ato de promessas, pedidos ou ameaças, etc.), a coerência e as intertextualidades, estabelecida esta última, pela relação dialógica dos textos a partir de sua historicidade. O “discurso como prática política” é entendido como prática social, analisado em relação à ideologia e ao poder como forma de hegemonia (FAIRCLOUGH, 2001, p.36).

4Como os relatórios analisados neste artigo são referentes aos anos de 1946 e 1947, optamos por trabalhar com o Decreto n.2.991, de 28 de abril de 1944, haja vista que o Decreto n. 3.735 só foi publicado em 17 de dezembro de 1946.

5As duas associações que não foram criadas no Grupo Escolar Lauro Müller foram as do Clube Agrícola e a do Centro de Interesse, por razões não especificadas nos relatórios analisados.

6As demais: Círculo de Pais e Mestres e Biblioteca Escolar, eram dirigidas pela diretora, professores e pais.

7Optamos por analisar apenas duas delas neste artigo.

8Optamos por analisar apenas uma delas neste artigo.

9Dentre as competências da Liga Pró Língua Nacional preconizadas no Regulamento para os estabelecimentos de ensino primário no estado de Santa Catarina figura a organização de álbuns de coisas nacionais. Estes deveriam ser confeccionados pelas classes do 4º ano dos grupos escolares e do 1º, 2º e 3º anos do Curso Complementar, reunindo recortes trazidos pelos alunos em cadernos especiais com o título respectivo, como por exemplo: “Vultos Nacionais”; “Os grandes soldados do Brasil”, “Vistas brasileiras”, etc. (SANTA CATARINA, 1944b, p.4).

10De acordo com o Relatório de 1946, para a instalação da estação de rádio, chamada de Rádio Brasil, foram adquiridos pela escola, através de campanhas organizadas pela Liga Pró-Língua Nacional: um toca-discos, um amplificador, um estabilizador, dois alto-falantes, um móvel, prateleiras e uma coleção de 50 discos (GRUPO ESCOLAR, 1946, p. 36-7).

11De acordo com o relatório de 1946 “O Jornal A Criança Brasileira figurará num certame educativo, a realizar- se neste mês de dezembro, no Uruguai” (GRUPO ESCOLAR, 1947, p..22) e o de 1947: “O Jornal A Criança Brasileira tem sido remetido periodicamente ao Uruguai, de onde recebemos jornais de várias escolas, permitindo-nos, assim, um interessante intercambio cultural. (GRUPO ESCOLAR, 1947, p..23).

Recebido: 01 de Junho de 2014; Aceito: 01 de Setembro de 2014

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