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Ensino em Re-Vista

versão On-line ISSN 1983-1730

Ensino em Re-Vista vol.29  Uberlândia  2022  Epub 08-Jun-2023

https://doi.org/10.14393/er-v29a2022-47 

DOSSIÊ 3 - A ESCOLA NOS DIAS ATUAIS: E AGORA?

Entrevista - Mário Sérgio Cortella. A escola nos dias atuais

Osmar Hélio Alves Araújo1 
http://orcid.org/0000-0003-3396-8205

Emerson Augusto de Medeiros2 
http://orcid.org/0000-0003-3988-3915

1Doutor em Educação. Universidade Federal da Paraíba. Mamanguape, Paraíba, Brasil. E-mail: osmarhelio@hotmail.com.

2Doutor em Educação. Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. E-mail: emerson.medeiros@ufersa.edu.br.


Considerando este momento em que se vive ainda a Pandemia da Covid-19, no qual os profissionais de educação têm enfrentado desafios e buscado alternativas para reinventar suas práticas, redescobrir suas habilidades e adaptar o currículo, a proposta desta entrevista foi dialogar com o prof. Mário Sérgio Cortella sobre a escola nos dias atuais. Nosso breve diálogo voltou-se para a necessidade de se (re)pensar o presente, (re)definir novos rumos, ou (re)descobrir outros jeitos de (re)construir a escola hoje, como um dos grandes desafios que vêm sendo enfrentado pelos profissionais de educação, pais e sociedade em geral. Assim, a Escola nos dias atuais e refletir sobre o presente e (re) descobrir - quem sabe - outros jeitos de contribuir a educação é o objetivo do nosso diálogo.

Breve currículo do professor Mário Sérgio Cortella:

Possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira (1975), Mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989) sob a orientação do Prof. Dr. Moacir Gadotti e Doutorado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997) sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Freire. Professor-titular do Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação (Currículo) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na qual atuou por 35 anos (de 1977 até 2012), sendo que em 30 deles também no Departamento de Teologia e Ciências da Religão. Foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991/1992) e Membro-conselheiro do Conselho Técnico Científico Educação Básica da CAPES/MEC (2008/2010); tem experiência na área de Educação, com ênfase em Currículos Específicos para Níveis e Tipos de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação libertadora, ética, multiculturalidade, antropologia filosófica, epistemologia e currículo. É autor, entre outros livros, de A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos (Cortez); Nos Labirintos da Moral, com Yves de La Taille (Papirus); Não Espere Pelo Epitáfio: Provocações Filosóficas (Vozes); Não Nascemos Prontos! (Vozes); Sobre a Esperança: Diálogo, com Frei Betto (Papirus), O que é a Pergunta?, com Silmara Casadei (Cortez), Liderança em Foco, com Eugênio Mussak (Papirus), Filosofia e Ensino Médio: certos porquês, alguns senões, uma proposta (Vozes), Política para não ser idiota, com Renato Janine Ribeiro (Papirus), Vida e Carreira: um equilíbrio possível, com Pedro Mandelli (Papirus), Educação e Esperança: sete reflexões breves para recusar o biocídio (PoliSaber), Vivemos Mais! Vivemos Bem?, com Terezinha Azerêdo Rios (Papirus), Não Se Desespere!: Provocações Filosóficas (Vozes), Pensar Bem Nos Faz Bem!/Filosofia, Religião, Ciência, Educação (Vozes), Pensar Bem Nos Faz Bem!/Familia, Carreira, Convivência, Ética (Vozes), Pensar Bem Nos Faz Bem!/Fé, Sabedoria, Conhecimento, Formação (Vozes); Ética e Vergonha na Cara!, com Clóvis de Barros Filho (Papirus), Qual é a tua Obra? Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética (Vozes); Educação, Escola e Docência: novos tempos, novas atitudes (Cortez); Pensatas Pedagógicas: Nós e a Escola, agonias e alegrias (Vozes), Pensar Bem Nos Faz Bem!/Vivência Familiar, Profissional, Intelectual, Moral (Vozes, A Era da Curadoria : o que importa é saber o que importa!, com Gilberto Dimenstein (Papirus), Educação, Convivência e Ética: audácia e esperança! (Cortez), Felicidade foi-se embora?, com Frei Betto e Leonardo Boff (Vozes); Por que fazemos o que fazemos? Aflições Vitais sobre Trabalho, Carreira e Realização (Planeta); Verdades e Mentiras: Ética e Democracia no Brasil, com Gilberto Dimenstein, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé (Papirus); Viver em Paz para Morrer em Paz (Planeta); Basta de Cidadania Obscena!, com Marcelo Tas (Papirus); Família: urgências e turbulências (Cortez), Vamos Pensar um pouco?, com Maurício de Sousa (Cortez/MS Editora); A Sorte Segue A Coragem! (Planeta); Vamos Pensar Mais Um Pouco?, com Maurício de Sousa (Cortez/MS Editora); Gerações em Ebulição: o Passado do Futuro e o Futuro do Passado, com Pedro Bial (Papirus); O Melhor do Cortella: Trilhas do Pensar (Planeta); Nem Anjos, nem Demônios: a humana escolha entre Virtudes e Vícios, com Monja Coen (Papirus); O Melhor do Cortella: Trilhas do Fazer (Planeta); Felicidade: modos de usar, com Leandro Karnal e Luís Felipe Pondé (Planeta), Ainda Dá!: a força da persistência, com Paulo Jebaili (Planeta), Viver, a que se destina?, com Leandro Karnal (Papirus), Filosofia: e nós com isso? (Vozes); A Diversidade: aprendendo a ser humano (Littera); Vamos Pensar Também Sobre Valores?, com Maurício de Sousa (Cortez/MS Editora); Sabedorias Para Partilhar! (Vozes) e Quem Sabe Faz A Hora! (Planeta)

01 - Professor, consideramos que a pandemia impôs uma série de mudanças na vida em sociedade. Junto com o medo do vírus (ainda pouco conhecido), com o afastamento social e o isolamento, veio também uma onda de descobertas. A própria ideia de reinventar as relações sociais com o intuito de garantir o convívio social foi, também, exercitada no contexto escolar. A partir dessa proposta de reinvenção do cotidiano, seria possível afirmar que há um novo normal suscitado também nas escolas?

Mário Sérgio Cortella: A noção de normal, isto é, de contextos e condutas que oferecem uma rotina habitual e usual, é flexível no tempo histórico e no cotidiano imediato; vivemos “novos” normais de forma episódica e persistente. A novidade neste instante é a substituição muito acelerada das nossas rotinas, o que transpareceu como ruptura e, portanto, como um salto e um sobressalto que resultaram em desorientação e procura de retomar as trilhas imediatamente anteriores. Nas escolas isso não é diferente, mas produz efeitos mais agudos, dado que o território escolar é sustentado em “andaimes de rotinas”, quase uma liturgia reiterativa que alcança o patamar de “normalidades” que nos conduzem a frequentemente nos perguntarmos uns aos outros na convivência escolar “Tudo em ordem?”. Como a ordem foi alterada, apressada e subitamente, o normal que chegou não foi ainda bem escorado.

2 - Sabemos que o uso de tecnologias demanda que os estudantes fiquem por um tempo prolongado na frente de “telas”. Sabe-se que, em excesso, essa exposição pode gerar prejuízos no desenvolvimento dos estudantes. Como pensar numa reorganização curricular diante dessas necessidades?

Mário Sérgio Cortella: Um dos conceitos-chave em Ciência é parcimônia, isto é, o uso equilibrado, prudente e austero de qualquer prática, de forma a não alterar os caminhos e meios para o resultado correto e eficiente; ora, qualquer uso obsessivo ou qualquer uso rarefeito de aparatos tecnológicos implica em quebra da parcimônia e desvio da rota exitosa. Portanto, a reorganização curricular que incorpora as novas demandas e plataformas tem de verificar sua conformidade com a prudência para poder ser encarnada.

3 - No Brasil, percebemos que, com o advento da pandemia, os ideais neoliberais estão cada vez mais presentes com voracidade no contexto educacional. Poderíamos dizer que esse movimento poderá impulsionar uma espécie de privatização da educação em todos os níveis?

Mário Sérgio Cortella: A privatização do Público, ou seja, a apropriação particular do patrimônio coletivo, não se restringe a eventuais mudanças do regime proprietário e gestionário; em muitos tempos (e agora não é exceção) as elites econômicas e políticas fruem privadamente do Público, sem que haja alteração da Administração e Gestão de instituições e serviços, nos quais se insere a Educação, seja servindo-se nela, seja servindo-se dela.

4 - Ainda sobre o contexto da pandemia da Covid-19, é possível mensurar os efeitos que a pandemia do Corona vírus trouxe para o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes da Educação Básica? Quais as principais fragilidades desse período? Que ações podem ser realizadas para minimizar os impactos desse processo?

Mário Sérgio Cortella: Os descompassos de ação e resolutividade nos diversos níveis de escolarização e nas diversas classes sociais trouxe consequências danosas que não são assemelhadas nem na extensão e nem na duração; a Educação Básica brasileira, especialmente aquela da escola pública (largamente predominante) sofre abalos funestos mas, o pior, revigora abalos sistêmicos. Assim, o necessário distanciamento e suspensão da presencialidade da atividade escolar não foi acompanhado de medidas e meios complementares que suprissem ou resguardassem as lacunas, trazendo daí uma avaria que só poderá ser minimizada com política pública que comporte processos paralelos, presenciais e remotos, de restauração e melhoria qualitativa do que, ao se perder, foi relegado ao fosso das negligências.

5 - É possível pensar numa escola diferente no período pós-pandemia? A partir de quais aspectos?

Mário Sérgio Cortella: Uma escola que não seja relevante no tempo presente, uma escola que persista no anacronismo, que não consiga ir além do óbvio pretérito, marcada pela nostalgia de “o mundo não é mais o mesmo” (como mera constatação em vez de ponto de partida para a reinvenção), descumpre seu dever social. A edificação de uma escolarização pertinente e valiosa tem de repensar suas trilhas didáticas, seus campos de interdisciplinaridade e planejamento, suas exigências dos aportes tecnológicos e sua efetivação do acesso e da permanência.

Recebido: 01 de Agosto de 2021; Aceito: 01 de Fevereiro de 2022

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