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Eccos Revista Científica

versão impressa ISSN 1517-1949versão On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.63 São Paulo out./dez 2022  Epub 12-Fev-2024

https://doi.org/10.5585/eccos.n63.22780 

Artigos

EFEITOS DE SENTIDO DE SILÊNCIOS CONSTITUTIVOS DO RACISMO: O CASO DOS 80 TIROS

MEANING EFFECTS OF SILENCES THAT CONSTITUTE RACISM: THE 80 SHOTS CASE

EFECTOS DEL SIGNIFICADO DE LOS SILENCIOS CONSTITUTIVOS DEL RACISMO: EL CASO DE LOS 80 DISPAROS

Fatima Aparecida de Souza, Doutorado1 
http://orcid.org/0000-0003-0129-4613

1Doutorado, Universidade Federal da Bahia - UFBA. Salvador, BAHIA - Brasil.


Resumo

Este texto propõe-se a discutir os efeitos de sentido do silêncio constitutivo do racismo em títulos de notícias de jornais e de revistas. Essa discussão atravessa as palavras e, para além de seus aspectos físicos, considera o silêncio em seu processo de significação, tendo como base a história e a ideologia. Ao adentrar as aulas de Língua Portuguesa, essa proposta tende a redirecionar situações de ensino, muitas vezes, centradas em abordagens descritivistas, mecanicistas e normativistas, sustentadas em uma visão da língua que se restringe ao sistema linguístico, para movimentar sentidos e desestabilizá-los. Considerando esse processo, o texto objetiva: (a) apresentar resultados de uma análise que investiga os efeitos de sentido dos silêncios constitutivos do racismo a partir de títulos de notícias que, no dia 8 de abril de 2019, informaram o assassinato de Evaldo Rosa, um músico negro, em Guadalupe, no Rio de Janeiro; (b) propor uma abordagem de ensino de Língua Portuguesa como prática social e antirracista. Para subsidiar teórica e metodologicamente a análise, o estudo se ancora nas investigações sobre as formas do silêncio, no âmbito da Análise de Discurso (ORLANDI, 2011), e nas discussões sobre racismo estrutural (ALMEIDA, 2019), dentro de uma perspectiva decolonial.

Palavras-chave ensino de língua portuguesa; formas do silêncio; racismo.

Abstract

This paper aims to discuss the effects of meaning of racism's constitutive silence in newspaper and magazine headlines. This discussion crosses words and, beyond its physical aspects, considers silence in its process of signification, based on history and ideology. When entering Portuguese Language classes, this proposal tends to redirect teaching situations, often centered on descriptive, mechanistic and normative approaches, sustained by a view of language that is restricted to the linguistic system, in order to move senses and destabilize them. Considering this process, the text aims: (a) to present results of an analysis that investigates the effects of meaning of silences constitutive of racism from news headlines that, on April 8, 2019, reported the murder of Evaldo Rosa, a black musician, in Guadalupe, in Rio de Janeiro; (b) to propose an approach to teaching Portuguese Language as a social and antiracist practice. To theoretically and methodologically support the analysis, the study is anchored in investigations on the forms of silence, within the scope of Discourse Analysis (ORLANDI, 2011), and in discussions on structural racism (ALMEIDA, 2019), within a decolonial perspective.

Keywords teaching portuguese language; forms of silence; racism.

Resumen

Este artículo pretende debatir los efectos del significado del silencio constitutivo del racismo en los titulos de periódicos y revistas. Esta discusión atraviesa las palabras y, más allá de sus aspectos físicos, considera el silencio en su proceso de significación, con base en la historia y la ideología. Al entrar en las clases de lengua portuguesa, esta propuesta tiende a reorientar las situaciones de enseñanza, a menudo centradas en enfoques descriptivos, mecanicistas y normativos, sustentados en una visión del lenguaje restringida al sistema lingüístico, para mover los sentidos y desestabilizarlos. Considerando este proceso, el texto tiene como objetivo: (a) presentar los resultados de un análisis que investiga los efectos de significado de los silencios constitutivos del racismo a partir de los titulos de las noticias que, en 8 de abril de 2019, informaron el asesinato de Evaldo Rosa, un músico negro, en Guadalupe, ciudad de Río de Janeiro; (b) proponer un enfoque para la enseñanza de la Lengua Portuguesa como una práctica social y antirracista. Para sustentar teórica y metodológicamente el análisis, el estudio se ancla en investigaciones sobre las formas del silencio, en el ámbito del Análisis del Discurso (ORLANDI, 2011), y en discusiones sobre el racismo estructural (ALMEIDA, 2019), dentro de una perspectiva decolonial.

Palabras clave: enseñanza de la lengua portuguesa; formas de silencio; racismo.

De inacabamento

Não quero trabalhar para preencher guias do lattes,

Tampouco desejo viver para monetizar seguidores no Instagram.

Para movimentar o fio dos tweets, eu não espero sobreviver,

Mas me disponibilizo a me aquietar para ouvir os silêncios.

Neles, procuro as chaves para abrir as portas

de meu inacabamento.

Isso traduz quem sou.

(Do meu baú)

Considerações iniciais

Este artigo é fruto de experiências acadêmicas no campo de estágio supervisionado, o que nos permite a (re)aproximação com o ensino de Língua Portuguesa (LP) na educação básica. Essa trajetória nos possibilita examinar o confronto entre diferentes perspectivas teóricas que se manifestam no ensino de LP e atravessam, entre tantas questões, as metodologias de ensino, a seleção de textos, as práticas avaliativas e as relações docente-discentes.

No campo do estágio supervisionado, essas perspectivas são, inúmeras vezes, reveladoras de situações de ensino centradas em abordagens descritivistas, mecanicistas e normativistas, sustentadas em uma visão da língua que se restringe ao sistema linguístico, a qual acaba, muitas vezes, excluindo a historicidade e a ideologia que ancoram as condições de produção dos textos. Nessas situações, boa parte das atividades propostas a estudantes da educação básica envolve seleção aleatória de palavras e/ou criação de frases para inumeráveis análises morfológicas e sintáticas ou mesmo para estafantes exercícios de concordância e de regência. Essas atividades tendem a ignorar a produção de efeitos de sentido do texto e, consequentemente, a exterioridade de suas condições de produção. Essas, aqui, entendidas como sendo de natureza sócio-histórica, uma vez que o sujeito é social, “afetado pelo inconsciente e identificado com uma ideologia” (INDURSKY, 2017, p. 77).

Com essas observações, não pretendemos desvalorizar o árduo trabalho realizado, cotidianamente, por docentes de escolas da educação básica, mas entendemos que o esvaziamento de aspectos referentes ao contexto sócio-histórico e ideológico em que os textos são produzidos - e, aqui, incluímos questões de raça-gênero-classe - é parte de um projeto político mobilizado por aqueles que desejam manter o status quo para a sustentação dos meios de produção capitalista, herança de um sistema euro-colonialista e cis-heteropatriarcal. Consideramos que, na educação básica, é possível produzir condições para tensionar uma educação para além do capital (MÈSZÁROS, 2005), assumindo, também, a luta antissexista e antirracista.

Não decretamos o otimismo ingênuo e redentorista que preconiza a escola como espaço para salvar a humanidade. Também, não assumimos um pessimismo fatalista que desconsidera a complexidade e as contradições que ocorrem entre os muros da escola. A escola é lugar de disputa, de embate ideológico, sobretudo nestes tempos, nos quais o mundo se vê envolto por mais uma crise do capitalismo, a qual tem, consequentemente, aumentado desigualdades sociais e acentuado problemas sanitários e ambientais, agigantando, assim, manifestações de ódio (misóginas, machistas/sexistas, LGBTQIA+fóbicas, racistas, xenófobas). Todas essas temáticas são emergenciais no âmbito do ensino de LP, enquanto prática social e política, e envolvem, acima de tudo, questões ideológicas que se ancoram no modo como a sociedade de classes (re)produz suas condições materiais de existir.

Ponderando essas questões, este escrito se filia a uma perspectiva teórica que considera as palavras e os silêncios que as circundam ou que as penetram como objetos carregados de sentidos, como matérias significantes produzidas no curso da ideologia e da história. Para Eni Orlandi (2011, p. 11), “há um modo de estar em silêncio que corresponde a um modo de estar no sentido e, de certa maneira, as próprias palavras transpiram silêncio”.

Considerando que há sentidos ideológicos e históricos que fazem morada no silêncio das palavras, indagamos: Que efeitos de sentido são produzidos por silêncios constitutivos do racismo em títulos de notícias de jornais e de revistas? Para responder a essa questão, analisamos títulos que, no dia 8 de abril de 2019, noticiaram o fuzilamento de Evaldo Rosa, músico negro, e o consequente assassinato de Luciano Macedo, um catador, também, negro. A análise proposta aqui é refratada no e refratora do lugar em que nos posicionamos para enxergar o mundo e, certamente, de onde seguimos atravessados por discursos outros que se entrecruzam nas formações discursivas pelas quais somos interpelados na condição de sujeitos. Essa perspectiva é reveladora do imbricamento de marcadores de raça, gênero e classe, que atravessam a existência humana.

Desse lugar, entendemos que as aulas de LP, em escolas públicas brasileiras, podem ser um lócus privilegiado para mobilizar sentidos a partir do silêncio de um sistema que se fortalece ancorado na exploração de pessoas, ao longo de processos históricos de mais de 500 anos de colonização de povos originários e de cerca de 350 anos de sequestro e escravização de populações negras. Este silêncio não é diretamente observável; ele é disperso e se esconde em um poder-dizer que é atestado pelo discurso (ORLANDI, 2011). Compreender os efeitos de sentido desse silêncio, que oculta a história, a cultura e os valores dessas populações, e analisar o modo como esse silêncio contribui para que a sociedade relegue os corpos negros à marginalização e à opressão em todas as suas dimensões são, também, tarefas das aulas de LP.

Considerando a emergência dessas questões, delimitamos os objetivos deste texto, que são: (a) investigar efeitos de sentido do silêncio constitutivo do racismo a partir de títulos de jornais e de revistas que noticiaram o assassinato de Evaldo Rosa, o músico negro; (b) analisar, ancorada na materialidade linguística (em estruturas sintáticas e itens lexicais), a constituição de silêncios que caracterizam racismo; (c) propor uma abordagem de ensino de LP como prática social, antirracista, anticapitalista e antissexista; (d) contribuir para o processo de ensino e aprendizagem de LP na perspectiva da Análise de Discurso. Para fundamentar a análise, apoiamo-nos nos referenciais teóricos sobre as formas do silêncio, de Eni Orlandi (2011), e no debate sobre racismo estrutural, de Sílvio de Almeida (2018).

As formas do silêncio: silêncio fundador e políticas de silenciamentos

Na tradição das ciências da linguagem, segundo Eni Orlandi (2011), o silêncio é visto como a falta de palavras, sendo, portanto, o lugar onde há o nada, em que o espaço está vazio. Essas mesmas ciências, por vezes, consideram o silêncio como o “resto”, onde moram o implícito, a elipse, a retórica, entre outros. Entretanto, o silêncio é que dá as condições para a produção de significados, pois ele é fundante e dotado de historicidade, sendo os sujeitos, posicionados em diferentes formações discursivas, aqueles que vão se mobilizar para percorrer suas significações por meio da linguagem.

A linguagem reduz a significância do silêncio, estabiliza os sentidos e os sujeitos. Mas, os ditos da linguagem estão atravessados por um silêncio que possibilita o movimento dos sentidos, que, consequentemente, revela a incompletude do sujeito. Eni Orlandi (2011), ao abordar a constituição do efeito da unidade textual e da unidade dos sentidos, apresenta o domínio da incompletude do sujeito e afirma que “o texto não se esgota em um espaço fechado, o sujeito e o sentido também são caracterizados pela sua incompletude” (ORLANDI, 2011, p. 76).

Nessa incompletude, também influenciada por uma das metáforas apresentadas pela autora, entendemos o silêncio como o mar que, em sua profundidade e imensidão, mantém o real dos sentidos. Mergulhar nesse mar é investir em “um” sentido: é reconhecer que tanto sujeito quanto sentido são incompletos.

Falar em ‘efeito de sentidos’ é, pois, aceitar que se está sempre em jogo, na relação das diferentes formações discursivas, na relação entre diferentes sentidos. Daí a presença do equívoco, do sem-sentido, do sentido ‘outro’ e, consequentemente, do investimento em ‘um sentido’. Aí se situa o trabalho do silêncio (ORLANDI, 2011, p. 22).

Silêncio é possibilidade de construção de sentido pelo sujeito, ou seja, é matéria plausível de significância com base nas múltiplas relações estabelecidas com outros discursos. Nesse processo de produção de sentidos que envolve silêncio, sujeito, discursos, significância, a autora estabelece categorias para os estudos do silêncio, sendo elas: silêncio fundador e silenciamentos ou políticas de silenciamentos. A primeira, silêncio fundador, atua na relação entre língua e ideologia; é “aquele que existe nas palavras, que significa o não-dito e que dá espaço de recuo significante, produzindo as condições para significar”. A segunda se refere às políticas de silenciamentos que se definem “pelo fato de que ao dizer algo apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada” (ORLANDI, 2011, p. 73) e se subdivide em silêncio constitutivo e silêncio local. O silêncio constitutivo “nos indica que para dizer é preciso não-dizer (uma palavra apaga necessariamente as ‘outras’ palavras)” (ORLANDI, 2011, p. 24); já o silêncio local diz respeito à censura e delimita aquilo que é proibido (e permitido) dizer a partir de determinada conjuntura.

A autora nos chama a atenção para o fato de que “estar no sentido com as palavras e estar no sentido em silêncio são duas formas diferentes de significar” (ORLANDI, 2019, p. 24), são modos distintos de estar no mundo, de estar com as pessoas, de estar com as coisas. Esses modos possibilitam múltiplos sentidos, pois estar no mundo e estar com as pessoas presume historicidade, multiplicidade, complexidade, heterogeneidade e abre caminhos para o discurso.

O silêncio é disperso e fugaz. Nele, não existem marcas formais, o que existem são vestígios, pistas, impressões. Por isso, é necessário um grande esforço para compreendê-lo em seus modos de significância. Como o silêncio não é possível de ser observável diretamente, é necessário situá-lo historicamente, politicamente e socialmente, observando os processos responsáveis pela construção de seus efeitos de sentido.

A linguagem, por sua vez, é ruído, “é conjunção significante” e produzida pelas pessoas para “domesticar a significação” (ORLANDI, 2011, p. 32). A linguagem transforma o silêncio, que é matéria significante, contínua e absoluta, em significados apreensíveis, por meio de unidades discretas e formais. Mas, esse processo não é neutro, direto e homogêneo. Ele é situado, contextualizado, dito de um lugar, por alguém historicamente posicionado, politicamente inserido e ideológica e socialmente localizado.

Para analisar o silêncio, a autora propõe um deslocamento “do domínio dos produtos para o dos processos de produção de sentido”. Sugere modos de aproximação do silêncio, tendo em vista o que ela caracteriza como método histórico (discursivo), apelando para a “interdiscursividade, trabalhando com os entremeios, os reflexos indiretos, os efeitos” (ORLANDI, 2011, p. 54).

Para esse deslocamento, na tentativa de compreender efeitos de sentido do racismo em títulos de jornais e revistas que noticiaram o fuzilamento do músico negro Evaldo Rosa, apresentamos a análise a seguir.

Silêncio constitutivo: efeitos de sentido do racismo em títulos de jornais e revistas

Entendemos que a análise, aqui, proposta pode, de alguma maneira, contribuir para impulsionar docentes de Língua Portuguesa ao desenvolvimento de propostas baseadas na perspectiva da análise de discurso, com base em uma abordagem antirracista. Com relação à análise de discurso, baseamo-nos nas investigações sobre as formas do silêncio, da autora Eni Orlandi; no que diz respeito à abordagem antirracista, apoiamo-nos em estudos sobre o racismo estrutural, de Silvio Almeida.

Na esteira dessas teorias e considerando a tarefa de (re)construir sentidos, buscamos pistas e imprecisões deixadas na linguagem, para tentar compreender como o silêncio existente nela produz significância. A partir da noção de silêncio, especificamente do silêncio constitutivo, procuramos compreender os efeitos de sentido do racismo em títulos de jornais e de revistas que noticiaram o fuzilamento do músico negro Evaldo Rosa. Para iniciar, apresentamos alguns dados que justificam esse processo.

Os primeiros dados são resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD - (2019), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): dos 209,2 milhões de habitantes no Brasil, 56,20% (soma de negros e pardos, segundo o IBGE) foi o percentual de pessoas que se autodeclararam negras. A mesma pesquisa aponta que a diferença salarial entre brancos e negros era de 45%, o que reacende a discussão sobre os processos históricos de exclusão e de racismo estrutural.

Os próximos dados foram retirados do Atlas da Violência (2019), que evidencia que, no ano de 2017, houve 65.602 homicídios no Brasil. Desses, 75,5% eram pessoas negras. A taxa de mortalidade entre elas foi de 43,1 a cada 100.000 habitantes. Entre pessoas não negras (brancas, amarelas e indígenas), essa taxa foi de 16,0 a cada 100.000 habitantes. Ainda segundo o documento, esse foi o maior índice histórico de letalidade violenta, o que escancara a profunda desigualdade racial no país.

Outros dados são parte de um estudo realizado pela Rede de Observatórios da Segurança Pública (2020), em cinco estados, que evidenciou que a população negra é a mais atingida pelos armamentos da polícia brasileira. Por que a violência contra pessoas negras é tratada, predominantemente, com normalidade?

Na esteira desses acontecimentos, no dia 7 de abril de 2019, em Guadalupe, no Rio de Janeiro, diferentemente do samba “Agoniza mas não morre”, de Nelson Sargento, mais dois homens negros agonizam e morrem. O primeiro foi o músico negro Evaldo Rosa, homem de 51 anos, que dirigia seu carro para participar de um chá de bebê, acompanhado de filha, esposa, sogro e uma amiga. O segundo, o catador, também negro, Luciano Macedo, que passava no local e, ao tentar prestar socorro, também, foi fuzilado, morrendo no hospital. Sobre Evaldo, na mesma hora, fica lá mais um corpo preto estendido no chão, brutalmente alvejado pelo Exército Brasileiro.

No dia seguinte, vários jornais e revistas, ao anunciarem o acontecimento, silenciam o racismo, a violência do Estado e a nefasta ação policial. Esse modo de colocar em silêncio caracteriza o silêncio constitutivo, ou seja, “para dizer é preciso não dizer” (ORLANDI, 2011, p. 24). E, ao dizer, que sentidos são afastados? Que literalidade é criada para dar ao discurso um efeito de unidade? Que recortes são realizados?

Jornais e revistas não são veículos neutros. Estes produzem seus textos com base em formações discursivas que representam determinados interesses ideológicos. Enfatizamos que formações discursivas se situam numa formação ideológica dada, ou seja, naquilo que, “a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito. Portanto, as palavras, proposições, expressões recebem seu sentido da formação discursiva na qual são produzidas” (ORLANDI, 2017, p. 20).

No processo de produção dos enunciados que, aqui, são analisados, os veículos adotam uma dada estrutura sintática e fazem determinados empregos lexicais. Nesse processo, dizem “X” para deixar de dizer “Y”, omitindo, na maioria das vezes, questões referentes à raça, ao gênero e à classe. Eis o que compreendemos como efeitos de sentido de silêncio constitutivo. Como selecionamos esses enunciados?

A escolha dos títulos para a análise se deu por meio de busca, na internet, de veículos que informaram, no dia 8 de abril de 2019, o acontecimento. Inicialmente, levantamos dezessete títulos de jornais e de revistas pertencentes a diversos veículos de comunicação. Entretanto, considerando as regularidades discursivas e suas semelhanças sintáticas e semânticas, recortamos seis títulos, sendo quatro de veículos com grande circulação (1º Grupo), posicionados em formações discursivas de perspectiva liberal, e dois títulos de veículos com menor circulação, posicionados em formações discursivas de perspectiva da classe trabalhadora (2º Grupo). Os quatro primeiros são parte de veículos pertencentes a conglomerados empresariais privados que atendem aos ditames do sistema capitalista e os dois últimos compõem coletivos de jornalismo independente que assumem os interesses da classe trabalhadora.

Para a análise dos enunciados, discretizamos os títulos escolhidos, fragmentando-os em unidades menores, de modo a compreender efeitos de sentido do racismo e para entender as formas como o silêncio que constitui os enunciados possibilita múltiplas significações, produzidas a partir da estruturação sintática dos enunciados e do emprego de determinados itens lexicais. Essas estratégias silenciam a violência do acontecimento e apagam marcadores de raça e de classe social.

Quadro 1 Títulos de jornais e de revistas: o caso dos 80 tiros 

1º Grupo 1 Exército dispara 80 tiros em carro de família no Rio e mata músico Folha de S.Paulo, 8 de abril de 2019
2 Militares disparam 80 tiros em carro com família e matam motorista Veja, 8 de abril de 2019
3 Exército atira mais de 80 vezes em carro de família e mata uma pessoa IG Último Segundo, 8 de abril de 2019
4 Militares do Exército dão 80 tiros e matam músico na Zona Norte O Globo, 8 de abril de 2019
2º Grupo 5 Soldados do Exército disparam 80 tiros contra carro com família e assassinam músico negro Causa Operária, 8 de abril de 2019
6 Exército fuzila carro de família e assassina músico em Guadalupe, zona norte do Rio MIDIA1508

Fonte: Quadro elaborado pela autora.

Com relação à estruturação sintática dos enunciados, os termos Exército (em 1, 3 e 6) militares (2) militares do Exército (em 4), soldados do Exército (em 5) compõem, segundo a gramática tradicional, o sujeito na voz ativa e, nesses casos, configuram-se como agentes responsáveis pelos mais de 80 disparos/tiros. Esses disparos/tiros são direcionados ao carro, o alvo dos militares do Exército, segundo os veículos. A partir dessa ação, é estabelecida, em todos os enunciados, a consequência do acontecimento - a morte de Evaldo -, introduzida pela conjunção e, como um conectivo que estabelece a permanência de um sentido desejado: os “disparos” foram direcionados ao carro. Mas, diferentemente dos veículos do 1º Grupo, os enunciados pertencentes ao 2º Grupo assinalam a atrocidade do ato, ao denunciar que Evaldo foi assassinado. Essas construções, também, são indicativas do que pode e do que não pode ser dito a partir de determinada conjuntura. Ao dizer X, silenciamos Y. Eis a constituição do silêncio, essa matéria significante cujos efeitos de sentido podem ser, histórica e ideologicamente, movimentados, tendo em vista diferentes formações discursivas.

Nos enunciados do 1º Grupo, institui-se um silêncio político por meio do qual a responsabilidade pela morte de Evaldo Rosa e de Luciano Macedo é apagada. Um efeito de sentido possível é que os militares do Exército não tiveram a intenção de matar o músico, mas desejavam parar o carro. Entretanto, segundo a notícia Laudo aponta mais de 200 tiros em ação militar que matou músico e catador, veiculada pelo UOL Notícias (2019), foram efetuados mais de 200 tiros de fuzil em direção ao carro. As cinco primeiras notícias deflacionam esse quantitativo, reduzindo-o a 80 tiros, o que não deixa de ser um ato brutal contra Evaldo Rosa, um homem negro.

Nos enunciados 2, 4 e 5, a ação do sujeito gramatical é direcionada ao âmbito individual, marcada, respectivamente, pelos itens Militares, Militares do Exército e Soldados do Exército, amenizando a responsabilidade do Exército enquanto instituição. Nos enunciados 1, 3 e 6, a ação do sujeito gramatical é direcionada ao âmbito institucional, revelada no emprego do item Exército, instituição do Estado, responsável não apenas por este, mas por milhares de crimes contra a população negra (crianças, jovens e adultos). Em 1 e 2, o ato brutal contra Evaldo é silenciado e se traduz em uma consequência. Em 6, o emprego do verbo fuzilar, referindo-se ao Exército, não constitui um silêncio. Pelo contrário, revela, por meio do dito, a barbárie praticada contra mais um corpo negro. Diferentemente do 1º Grupo, os enunciados do 2º Grupo empregam, também, o verbo assassinar, evidenciando o extermínio de Evaldo Rosa e de Luciano Macedo.

Silvio Almeida (2019), na obra Racismo Estrutural, afirma que práticas racistas são viabilizadas na organização econômica, política e jurídica da sociedade. Assim sendo, o racismo está na estrutura da sociedade, reproduzindo-se em dimensões individuais e institucionais, como resultado de uma regra e não de uma exceção (ALMEIDA, 2019).

Jornais e revistas são instituições que (re)produzem os interesses de um dado projeto político e econômico. No Brasil, muitas dessas instituições são empresas que tendem a veicular os interesses hegemônicos de grandes conglomerados que ditam as regras da política, da economia e do direito. O Estado brasileiro, com suas leis, é o grande representante da manutenção e ampliação desses interesses. Se o Estado, que é racista, consolida-se a partir dos interesses do capital, as instituições que partilham de seu projeto são, consequentemente, racistas, pois o racismo se engendra nas estruturas econômicas, políticas e jurídicas da sociedade (ALMEIDA, 2019).

Outro efeito de sentido decorrente do silêncio constitutivo do racismo pode ser analisado a partir de outros itens lexicais. Retomamos o emprego dos verbos disparar e atirar (dar tiros), que parecem não refletir a brutal violência do Estado policial, pois os tiros/disparos, segundo esses veículos, são feitos contra o carro. Além disso, os veículos de 1 a 4 utilizam o verbo matar, que não expressa a execução praticada pelo Exército, mas mobiliza efeitos de sentido que permitem suavizar a ação.

Esses usos produzem uma espécie de eufemismo indicador de um silêncio que apaga o ato de extermínio praticado pelo Estado, representado por homens do Exército, contra dois homens negros: Evaldo Rosa e Luciano Macedo.

Ao dizer que Exército dispara ou que Exército atira em carro de família, não se diz que Exército fuzila mais um homem negro, mas um corpo entre tantos outros massacrados pelas políticas de um Estado racista que elege quem pode viver e quem deve morrer. Esse apagamento é um silêncio político, um silêncio que recorta o dizer e o não-dizer e “trabalha, assim, os limites das formações discursivas, determinando, consequentemente, os limites do dizer” (ORLANDI, 2011, p. 74).

Mais um efeito de sentido do silêncio constitutivo do racismo pode ser observado no emprego de itens lexicais que referenciam Evaldo Rosa. Nos enunciados 1, 4 e 6, há o emprego da palavra músico para referenciá-lo, mas há um silêncio acerca da identificação de sua raça e, também, da identidade, revelada em seu nome, Evaldo Rosa. O mesmo acontece em 2, com a presença do termo motorista; em 3, com o uso do termo pessoa. Apenas no enunciado 5 há o emprego do item lexical negro, realçando a raça, mas omitindo a identidade. Pessoas negras são, historicamente, vítimas das políticas de silenciamento, são invisibilizadas, e seguem sendo desvalorizadas, inferiorizadas e reduzidas (quando muito) à força de trabalho que sustenta o capital.

Esse processo de invisibilização é histórico e provocou (e ainda provoca) morte e destruição por parte do chamado processo civilizatório, sob o argumento de levar seus benefícios de igualdade, liberdade, Estado de Direito e mercado ao chamado mundo primitivo. Essa classificação de seres humanos como seres primitivos serviu como “uma das tecnologias do colonialismo europeu para a destruição de povos das Américas, da África, da Ásia e da Oceania” (ALMEIDA, 2018, p. 23).

Silvio Almeida (2019) apresenta registros históricos de autores europeus que, em seus escritos, assinalam a inferioridade de povos indígenas e de povos africanos. Menciona o escritor holandês Cornelius de Pauw (século XVIII), que, entre outras coisas, caracteriza os indígenas americanos como degenerados, irracionais e seres que não possuem história. O autor, também, menciona o filósofo alemão George Wilhelm Friedrich Hegel (século XVIII), que qualifica os africanos como bestiais, supersticiosos e, também, seres sem história. Essas são práticas supremacistas que, ancoradas em uma visão de mundo colonialista, incitaram ainda mais o processo de desumanização e de genocídio de populações negras e indígenas. Essas ações, no decorrer da história e com o desenvolvimento do capitalismo, atribuem privilégios a uma minoria da população, que, tendencialmente, não se vê racializada.

Esse processo de racismo se perpetua e se engendra em diferentes instituições, mesmo naquelas que se inserem em formações discursivas da chamada esquerda política. Muitas dessas instituições, ao defenderem apenas os interesses de classe, ocultam questões de raça e de gênero e desconsideram a exploração histórica de pessoas negras. Diante desse apagamento, entendemos que os estudos das políticas de silêncio e de silenciamento em processos históricos e ideológicos racistas podem contribuir para revelar o que foi apagado nos currículos escolares.

As investigações de Silvio Almeida (2019) sublinham que houve um avanço nos estudos sobre as relações raciais, visto que, para alguns desses estudos, o racismo deixa de ser considerado como posição individual e passa a ser compreendido a partir da dinâmica das instituições, que estabelecem normas, padrões e técnicas que conferem, historicamente, privilégios e desvantagens com base na raça.

O acontecimento, aqui, analisado, a nosso ver, pode ser considerado como mais uma expressão do racismo estrutural que é parte da política de morte imposta pelo Estado. Dito de outra forma, caracteriza a necropolítica instituída por uma classe que se instalou no poder e se utiliza de seus dispositivos para decidir quem deve ficar vivo e quem deve morrer. Essas decisões caracterizam uma guerra imposta pelo Estado assassino, que animaliza a vivência de povos originários, da população negra e da população LGBTQIA+, tornando-os inimigos e os destituindo de humanidade (MBEMBE, 2018).

Considerações finais

No dia 8 de abril de 2019, jornais e revistas noticiaram a morte de Evaldo Rosa, músico negro, em Guadalupe, no Rio de Janeiro. Nos títulos de algumas notícias, lia-se o anúncio de que pessoas do Exército dispararam mais de 80 tiros contra o carro em que estava Evaldo, um músico negro, e sua família. Nos silêncios que constituem as notícias, sentidos são apagados, denotando, assim, histórica e ideologicamente, um outro modo de estar no sentido. No caso dos títulos investigados, o silêncio se constitui da tendência ao apagamento da violência, do extermínio e, consequentemente, do racismo. Esse outro modo pode ser observado a partir da forma como os títulos são elaborados e, consequentemente, como suas construções sintáticas e seus itens lexicais são empregados.

Para essa observação, é preciso investigar algumas pistas deixadas no silêncio das palavras presentes nos títulos, a partir da historicidade dos acontecimentos. Sem desconsiderar nossa incompletude, na condição de analista, e nosso olhar enviesado por nossas formações discursivas, entendemos que esses silêncios se constituem em efeitos de sentido que se traduzem na desresponsabilização do Exército Brasileiro por seu ato brutal; no apagamento da quantidade de tiros contra Evaldo (mais de 200); no eufemismo evidenciado pelo emprego lexical que tenta amenizar a atrocidade; na invisibilização de marcadores de raça e de classe nas referências a Evaldo.

Para analisar os efeitos de sentido do silêncio constitutivo do racismo, não tentamos traduzir os silêncios, mas compreender os processos de significação postos em jogo. O silêncio é a matéria sobre a qual nos debruçamos. É, no dizer de Eni Orlandi (2017), a matéria significante que é transformada em significados apreensíveis por meio da linguagem. Assim sendo, a significação está sempre em movimento. Se o sujeito analista é errante, os sentidos também os são.

A análise de discurso considera que o sentido é sempre produzido a partir de uma dada posição do sujeito que se encontra situado em um determinado lugar. Se a escola é um espaço de contradições, as aulas de Língua Portuguesa podem ser um lócus privilegiado para propostas de atividades, ancoradas na Análise de Discurso, que levem em conta as condições de produção dos textos e permitam abordar relações entre raça, gênero e classe. Essa abordagem não se reduz ao descritivismo e ao normativismo linguístico, mas traz para o centro das aulas de LP a exterioridade da língua, tendo como ponto de partida a ideologia e a historicidade.

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Recebido: 23 de Agosto de 2022; Aceito: 20 de Dezembro de 2022

Editor Chefe: Prof. Dr. José Eustáquio Romão

Editor Científico: Profa. Dra. Adriana Aparecida de Lima Terçariol

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