Introdução
A Educação Ambiental em escolas e comunidades é trabalhada de forma superficial, principalmente, quando se trata do descarte de resíduos sólidos, a maioria é carente de estratégias e programas educacionais para fornecer base necessária para poder evitar os graves problemas que cercam o meio ambiente (MACHADO et al., 2013).
Como presente na Lei 9.975 de 27 abril de 1999, a Educação Ambiental é definida como:
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem, como valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).
Não se pode entender que a Educação Ambiental resume-se somente às questões ambientais/meio ambiente, e, sim, que a educação e a problemática ambiental são, antes de tudo, questões políticas que envolvem atores e interesses diversos e concepções de mundos diferentes que podem assumir direções mais conservadoras ou emancipatórias (EFFTING, 2007).
Ao tratar a Educação Ambiental como educação política, estamos levando em conta a análise de relações políticas, sociais, econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e as relações entre as pessoas, com o foco na superação de mecanismos de controle e permitindo a participação democrática de todos (CARVALHO, 2012).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a temática meio ambiente deve estar inserida como tema transversal na educação básica, uma vez que pode contribuir para formação de cidadãos conscientes. Decidir e atuar na realidade socioambiental são de suma importância ao processo de ensino aprendizagem de alunos da educação básica. Para isso, é preciso de estratégias e ações voltadas para diminuição das intervenções antrópicas no meio ambiente, degradação ambiental, agravos à saúde humana e a avaliação do desenvolvimento sustentável como alternativa do modelo atual (BRASIL, 1999).
Trabalhar temas de Educação Ambiental torna-se um verdadeiro desafio para professores, uma vez que o seu desenvolvimento em escolas é feito de forma tímida, voltado apenas para questões simples de preservar e conservar o meio ambiente, ligadas exclusivamente aos efeitos e causas dos fenômenos naturais. Logo, a Educação Ambiental sugere que o professor trabalhe com os temas vinculados ao meio ambiente de maneira interdisciplinar, em parceira com educadores de todas as áreas do currículo (SANTOS et al., 2017; CARVALHO; MELO, 2018).
Soares, Salgueiro e Gazineu (2007, p. 5) consideram que a “Educação Ambiental constitui um processo informativo e formativo dos indivíduos, desenvolvendo habilidades e modificando atitudes em relação ao meio, tornando a comunidade educativa consciente de sua realidade local num contexto global”. Ainda para estes autores, o lixo produzido pela população está diretamente relacionado com a preservação do meio ambiente.
Nesse âmbito, o aumento na produção e os impactos causados através de resíduos sólidos na saúde da população são questões que causam bastante repercussão. A problemática do resíduo sólido (lixo) tem se tornado um tema cada vez mais relevante. Há décadas a destinação incorreta dos resíduos sólidos tem trazido problemas ao meio ambiente, notadamente os resíduos tóxicos. Nestes, estão inclusas as pilhas e baterias de aparência inofensivas, porém, em sua composição apresentam metais altamente contaminantes, os quais podem causar sérios problemas a vida de seres vivos por serem bioacumulativos e ficarem retidos no meio ambiente por um longo período (PENNA; SANTOS; GOIS, 2014; ABRELPE, 2015; MAIELLO; BRITO; VALLE, 2018).
Amaral e Silva (2017) mencionam, em seu trabalho, que o problema relacionado ao descarte de pilhas e baterias utilizadas no processo de geração de energia para o funcionamento de equipamentos existe desde o final da década de 1970, quando as pessoas já traziam consigo o hábito de jogar esses objetos no próprio lixo doméstico.
A inquietação com a gestão desses resíduos tornou-se altamente preocupante, pois muitas dessas pilhas e baterias são produzidas com metais altamente perigosos, tais como: chumbo, mercúrio, cádmio, zinco, lítio, cobre e manganês. Para o mercúrio, chumbo e cádmio é preciso uma especial atenção por apresentar maior risco à saúde humana, podendo contaminar também lençóis freáticos, solo e colocar em risco o meio ambiente (BRUM; SILVEIRA, 2011; PROVAZI; ESPINOSA; TENÓRIO, 2012; SANTOS; GALLARDO; GRAUDENZ, 2016).
Embora a Resolução 257/1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) proíba formas inadequadas de descarte de pilhas e baterias, uma grande parte da população continua descartando estes resíduos no próprio lixo comum de suas casas, tendo como destinação final por exemplo, lixões a céu aberto, queima e aterros sanitários não licenciados. Isto, como já comentado, pode comprometer a integridade dos lençóis freáticos, contaminando o solo e as populações de seres vivos que entrarem em contato com estas águas (CONAMA, 1999).
O fato é que os usuários não estão acostumados em fazer a logística reversa proposta pelo CONAMA para uma destinação ambientalmente adequada depois do uso, ou seja, fazer a gestão pós-consumo ao próprio fabricante do produto ou levar a pontos de coletas autorizados.
De acordo com o artigo 3º da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305/2010, a Logística Reversa é definida como:
Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. (BRASIL, 2010).
Diante da problemática do alto consumo de eletroeletrônicos, o setor empresaria têm sido bastante falho em relação ao retorno desse tipo de resíduo ao meio ambiente. Nessa ótica, quando o assunto é voltado especificamente para as pilhas e baterias, a logística reversa é justamente uma estratégia que cumpre com o papel de operacionalizar o retorno desses resíduos de pós-venda e pós-consumo ao ambiente de negócios e produtivo, considerando que somente dispor esses resíduos em aterros sanitários controlados ou lixões não é o bastante no atual contexto empresarial e ambiental, pois, mesmo assegurando o retorno ou o descarte final de maneira correta, ainda assim estes resíduos impactam o meio ambiente (GUARNIERI, 2011).
Dessa maneira, é preciso que a sociedade seja sensibilizada e que haja mais conscientização para que as ações antrópicas que vêm impactando negativamente o planeta sejam reduzidas para não colocar em risco as gerações futuras. Nessa ótica, a Educação Ambiental tem um papel muito importante para minimizar alguns problemas ambientais do planeta, porém, ela por si só não é o bastante. No entanto, pode influir decisivamente para formação cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, começando dentro das instituições de ensino e perpassando para espaços não formais, pois, se os problemas ambientais foram criados por homens e mulheres, é justo que deles tenham que vir às soluções (REIGOTA, 2009).
Tolares (2013) destaca, que sob o ponto de vista do docente, há uma necessidade de um maior investimento nas práticas pedagógicas da Educação Ambiental. De acordo com o pesquisador, trata-se de uma ação bastante complexa, que exige a criação de novas estratégias didáticas, fundamentadas nos modelos pedagógicos existentes.
Ao trabalhar nas escolas a logística reversa de forma conscientizadora e como alternativa de promoção das políticas de gestão de resíduos sólidos (pilhas e baterias), espera-se que seja possível chegar aos demais espaços e membros das comunidades para, então, conscientizar o máximo de pessoas possíveis. Nesse sentido, o presente estudo objetivou implantar a logística reversa de pilhas e baterias em uma escola pública de Pernambuco.
Metodologia
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido na Escola de Referência em Ensino Médio Frei Epifânio (EREM - Frei Epifânio), da rede Estadual de Pernambuco, inserida no município de São Joaquim do Monte (Figura 1), localizado a uma latitude 08°25'57" sul e longitude 35°48'16" oeste, extensão territorial de 232,070 km² e densidade populacional de 21.356 habitantes, com sua inserção na mesorregião do agreste pernambucano (IBGE, 2019). A instituição apresenta uma gestão democrática e participativa entre professores, alunos, equipe administrativa e comunidade escolar, sendo considerados sujeitos ativos no processo de gestão; com a oferta ensino médio regular, semi-integral e Educação de Jovens e Adultos (EJA) médio; e um quadro de professores, efetivos e contratados com formação em normal médio antigo magistério, graduados, especialistas e mestrandos, dos quais a maioria lecionam disciplinas nas suas áreas de formação.
Natureza da pesquisa
Tratou-se de uma pesquisa descritiva a partir de um estudo de caso. Para Gil (2012, p. 28), “as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.
Foi aplicado um questionário adaptado de Carvalho et al. (2016), direcionado a alunos do ensino médio do 1º ao 3º ano das séries regulares, EJA 1º ao 3º módulo e professores da Escola de Referência em Ensino Médio Frei Epifânio. O questionário aplicado teve o intuito de obter informações sobre o conhecimento e a percepção dos entrevistados quanto à logística reversa de pilhas e baterias e aos danos que seus componentes podem causar ao meio ambiente e seres humanos, além do perfil socioeconômico dos entrevistados. Fundamentada em Minayo (2012, p. 64), “a entrevista tem por objetivo construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo”. A aplicação de questionários “garante uma maior liberdade das respostas em razão do anonimato, evitando vieses potenciais do entrevistador” (BONI; QUARESMA, 2005, p. 74).
Com a obtenção dos dados na coleta, os resultados foram compilados e analisados com base em um enfoque quali-quantitativo, no programa Microsoft Excel® (2016), e os dados foram apresentados em uma tabela para caracterização amostral, utilizando a frequência relativa (FR).
Para sensibilizar os alunos da escola foi realizado um projeto ação, voltado para construção de coletores de pilhas e baterias com materiais recicláveis, com a utilização de galões de água de 20 litros que estavam sem ser utilizados na própria escola. A intenção do projeto é recolher resíduos dentro do ambiente escolar e enviar para uma empresa que recicle ou faça a destinação de forma correta.
Questões éticas
Durante o desenvolvimento da pesquisa várias questões éticas foram levadas em consideração: i. a aplicação do questionário foi feita mediante o consentimento ou assentimento do aluno, ou responsável quando de menor, e com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); ii. toda e qualquer informação divulgada do questionário será feita de forma anônima; iii. os participantes das entrevistas responderam de forma voluntária; iv. todos os dados foram apresentados de maneira coletiva; v. houve proteção do banco de dados pelos pesquisadores; e vi. os questionários utilizados ficaram sob a responsabilidade dos pesquisadores por um período não superior a três anos, após esse período serão destruídos.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE) - HUOC/PROCAPE: Parecer nº 2.635.197 (CAAE/ Plataforma Brasil nº 84005718.9.0000.5192).
Resultados e discussão
As entrevistas foram realizadas entre maio e junho de 2018, alcançando 95 participantes, sendo 85 alunos e 10 professores. Os alunos que participaram da pesquisa eram alunos do ensino médio das modalidades regular e EJA, sendo 40% dos entrevistados do sexo masculino e 60% do sexo feminino. Os resultados dos questionários aplicados aos alunos e professores estão descritos na (Tabela 1).
Item | Questão/Questionamento | Atitude de resposta (%) | |||||
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ATITUDE DE RESPOSTA | 1 | 2 | 3 | 4 | |||
Q1 | Você sabe o que são resíduos sólidos? | Sim | Não | Ouviu Falar | - | ||
Alunos | 45% | 35% | 20% | - | |||
Professores | 90% | - | 10% | - | |||
Q2 | Com que frequência você descarta pilhas e baterias | Sempre | Raro | Semanal | Não usa | ||
Alunos | 10% | 66% | 7% | 17% | |||
Professores | 20% | 80%- | - | - | |||
Q3 | Qual local você descarta suas pilhas e baterias usadas? | Lixo Comum | Coletor Exclusivo | Reciclagem | Casa | ||
Alunos | 92% | 2% | 1% | 5% | |||
Professores | 50% | 10% | 10% | 3% | |||
Q4 | Você sabia que pilhas e baterias apresentam compostos prejudiciais ao meio ambiente? | Sim | Não | - | - | ||
Alunos | 77% | 23% | - | - | |||
Professores | 100% | - | - | - | |||
Q5 | Quem você acha que deve fazer a destinação final das pilhas e baterias usadas? | Escolas | Prefeituras | Fabricantes | População | ||
Alunos | 1% | 24% | 50% | 25% | |||
Professores | - | 20% | 70% | 10% | |||
Q6 | Você sabia que pilhas e baterias devem ser descartadas em locais adequados? | Sim | Não | - | - | ||
Alunos | 83% | 17% | - | - | |||
Professores | 100% | - | - | - | |||
Q7 | Você sabe o que é logística reversa de pilhas e baterias? | Sim | Não | Já ouviu falar | - | ||
Alunos | 1% | 75% | 25% | - | |||
Professores | 30% | 60% | 10% | - | |||
Q8 | Você conhece aqui na cidade algum ponto de coleta de pilhas e baterias? | Sim | Não | - | - | ||
Alunos | - | 100% | - | - | |||
Professores | - | 100% | - | - | |||
Q9 | Você sabia que pilhas e baterias podem ser reutilizadas/recicladas? | Sim | Não | Já ouviu falar | - | ||
Alunos | 51% | 21% | 28% | - | |||
Professores | 70% | 20% | 10% | - |
Como forma de sensibilizar os alunos a respeito da importância de descartar de maneira adequada as pilhas e baterias foi realizada a confecção de coletores com materiais recicláveis. Para este tipo de projeto foram utilizados galões de água de 20 litros que estavam sem ser utilizados na própria escola. Ao todo, foram feitos cinco coletores, que, depois de terem passado por um processo artesanal, tornaram-se objetos de descarte. O projeto consistiu em pintar os galões com tintas adequadas para plástico e fazer uma arte para tornar o material mais chamativo e dinâmico. Após o término, o material ficou disposto no pátio da escola pronto para receber dos alunos e da própria comunidade esses tipos de resíduos.
Os materiais recolhidos estão sendo enviados para a cidade de Limoeiro, na Mata Norte, do estado de Pernambuco, onde existe uma empresa que faz o processo de reciclagem de maneira ambientalmente adequada. São ações de logística reversa como essa que muitas escolas deveriam fazer, pois podem contribuir não apenas para um meio mais equilibrado, mas também para o desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental e escolas mais sustentáveis.
A Educação Ambiental na escola é considerada e reconhecida como o local mais apropriado para sensibilizar e conscientizar um ilimitado número de indivíduos sobre sua cidadania, o que a torna indispensável para a formação completa de indivíduos conscientes (SOARES; SALGUEIRO; GAZINEU, 2007).
A partir dos dados obtidos na entrevista com os alunos e professores, foi possível realizar uma discussão e comparar com os dados de alguns autores que também desenvolveram projetos e outras ações de Educação Ambiental em escolas.
Ao serem questionados “você sabe o que são resíduos sólidos?”, 45% dos alunos responderam que sim, 35% não sabiam e 20% já tinham ouvido falar. O percentual obtido para o mesmo questionamento quanto aos professores foi de 90% para sim e 10% para não. O fato de 55% dos alunos entrevistados, não tenham conhecimento ou já tenham ouvido falar o que é resíduo sólido, é preocupante. Resultados semelhantes tiveram Carvalho et al. (2016) ao estudarem Educação Ambiental e resíduos eletrônicos, em três escolas públicas, na cidade de Soure-PA, em que um dos resultados preocupantes da pesquisa foi o fato de que um considerável número de alunos apresentou pouco conhecimento sobre o tema em questão. Os autores entenderam que esse resultado repercute na realidade encontrada naquela cidade. De certa forma, em relação à atual pesquisa, acrescentaríamos que reflete principalmente na realidade da própria escola. A EREM - Frei Epifânio não tem tido a preocupação de aferir os conhecimentos dos alunos em relação a temas de Educação Ambiental, especificamente sobre resíduos sólidos. Isto corrobora com Machado et al. (2013) acerca de que as escolas vêm trabalhando de forma superficial sobre resíduos sólidos e o descarte adequado e, por consequência, deixa de proporcionar aos alunos a base necessária para poder evitar os graves problemas que cercam o meio ambiente.
Em relação ao local de descarte das pilhas e baterias usadas, 92% dos alunos descartam pilhas e baterias usadas junto com o lixo comum e apenas 1% dos entrevistados enviam para locais de reciclagem que recebe esse tipo de resíduo sólido, mas não informaram qual o local. Este resultado contrasta com outro questionamento em que todos, 100% dos entrevistados, afirmaram desconhecer qualquer local de ponto de coleta de pilhas e baterias no município de São Joaquim do Monte/PE. Carvalho et al. (2016) encontraram resultados semelhantes ao trabalharem com três escolas públicas, pois 87%, na escola A, e 76%, na escola B, dos alunos entrevistados, disseram que descartam as pilhas e baterias no lixo comum de suas residências, e 53%, na escola C, descartam na rua. Eles também constataram que, semelhante ao presente estudo, o município de Soure/PA não dispõe de pontos de coleta para pilhas e baterias.
Amaral e Silva (2017) esclarecem que, devido à inexistência de estrutura para a coleta de lixo eletrônicos, tais como pilhas e baterias, o destino destes resíduos coletados é um grande problema para as cidades brasileiras. Acrescentam, ainda, que são necessárias campanhas de elucidação geral a respeito destes resíduos, o que é enfatizado por Reidler e Günther (2002), ao mencionarem que as pilhas e baterias são jogadas em lixo comum (doméstico) por falta de conhecimento dos riscos tóxicos ou por falta de uma alternativa. Esses pesquisadores alertam ao fato de que os materiais tóxicos (metais pesados) contidos nas pilhas e baterias são bioacumulados no organismo humano.
Valer ressaltar que as pilhas e as baterias são compostas por metais pesados como mercúrio, chumbo, cobre, níquel, zinco, cádmio e lítio, metais perigosos para saúde humana e o meio ambiente (PENNA; SANTOS; GOIS, 2014).
Neste estudo, constatamos que 77% dos alunos entrevistados que responderam sim ao questionamento nº 4 têm o conhecimento prévio da presença de substâncias tóxicas nas pilhas e baterias e 23% dos alunos afirmaram desconhecer a toxicidade destes materiais. Em referência aos professores, todos os entrevistados afirmaram saber dos malefícios desse material quando descartados de maneira inadequada. Resultado similar foi obtido no estudo de Amaral e Silva (2017). Ao debater, em sala de aula, com alunos do 6º ao 9º do ensino fundamental de escola pública, os autores constataram que a maioria apresentava conhecimento prévio sobre a presença de componentes tóxicos nos resíduos sólidos. Porém, os alunos, embora conhecendo os danos provocados pelo descarte não adequado, em sua maioria, informaram que não pararam de fazer o descarte de maneira inadequada, em lixo doméstico ou no meio ambiente, uma vez que, onde moram, não há coleta seletiva de lixo.
Em relação ao questionamento nº 5 sobre a responsabilidade pelo recolhimento (logística) e destino final dos resíduos como as pilhas e baterias, 50% dos alunos entrevistados afirmam que a responsabilidade é dos fabricantes, 25% acreditam que é da população, 24% que é da prefeitura municipal, e 1% que deve ser das instituições de ensino. Já para os professores, 70% respondeu que a responsabilidade é dos fabricantes, 20% responsabilizaram as prefeituras, e 10% deles incluem a população.
Ao admitirem que a coleta e destinação final destes resíduos não é uma tarefa simples, Bernadini, Paul e Dumke (2012) esclarecem, inclusive, que o Brasil aprovou em 2010, a PNRS, Lei 12.305, a qual estabelece a responsabilidade compartilhada entre o poder público, empresa e consumidores e que conforme a Resolução do CONAMA, as pilhas e baterias devem ser devolvidas aos locais de venda ou aos representantes da indústria.
Apesar dos entrevistados apresentarem conhecimento sobre este tipo de resíduo sólido, quando questionados sobre o significado de logística reversa, grande parte dos alunos, 74%, não sabiam o que significava, e apenas 1% sabia do que se tratava. A maioria dos professores (60%) também não sabia e somente 10% destes sabiam o que é logística reversa.
A logística reversa, de acordo com Penna, Santos e Gois (2014), é a permuta de materiais e de resíduos, tendo como principal meta o recolhimento e a recolocação deles nas vias de distribuição, o que levará a ganhos econômicos e menos agressões ambientais dentre outros. Tem como alvo a disposição, a redução e o armazenamento de substâncias tóxicas ou não. Isto é, é uma etapa que está embasada em aproveitar todos os recursos já utilizados para fazer um reaproveitamento ou destino adequado. Para Ricardo, Morais e Zanella (2016), a logística reversa compreende em agregar valores a algo sem utilidade e lançá-lo, novamente, ao ciclo produtivo.
Conforme Penna, Santos e Gois (2014), os processos de reciclagem de pilha são de alta tecnologia. Logo, é custosa, porque envolve tratamentos especializados para recuperação específica de cada metal que a integra. Eles citam por exemplo que o valor dos materiais que compõem as pilhas de lítio para fazer a sua recuperação é injustificável. Explicam, ainda, que a reciclagem das pilhas envolve as seguintes fazes: coleta das pilhas, triagem, tratamento físico e tratamento metalúrgico.
Almeida (2018) afirma que a PNRS oportuniza diretrizes fundamentais para obtenção de uma gestão íntegra de resíduos sólidos, tendo em vista que se refere à reciclagem como forma de inclusão social, a logística reversa como modo para recuperar os produtos após o consumo e a coleta seletiva como opção para diminuir a quantidade de resíduos destinado de maneira não correta.
Neste contexto, 51% dos alunos entrevistados disseram que sabiam que as pilhas e baterias podem ser recicladas ou reutilizadas e apenas 21% respondeu que não sabiam. Quando questionados aos professores, 21% não sabiam dessa possibilidade. Por estes resultados ficou perceptível que a temática logística reversa de pilhas e baterias, pelo menos na escola em estudo, ainda não foi alvo de ações relacionadas à Educação Ambiental. Da mesma forma, pode-se inferir que muito há de ser feito para despertar na comunidade, docentes e discentes, que a Educação Ambiental não se resume em ensino, campanhas e práticas sobre coleta de lixo comum, coleta seletiva, compostagem, produção de hortas sustentáveis e reciclagem de garrafas PETs, que vai muito além de tudo isso.
Considerações finais
Ao sensibilizar a comunidade escolar em relação aos problemas ambientais usando a logística reversa de pilhas e baterias como tema, com ações de Educação Ambiental na escola, mais incisivas e de forma mais diversificada, para uma conscientização de todos os envolvidos quanto aos problemas ambientais. Isso possibilitou outros olhares para a importância da reciclagem e do descarte consciente em ambientes apropriados e seguros, ao agregar o conhecimento e refletir em novas possibilidades para o ambiente educacional.
Portanto, foi possível identificar a importância da Educação Ambiental e integrar as práticas sustentáveis da reutilização de materiais reciclados no ambiente escolar, ao minimizar os problemas de cunho ambiental e integrar atividades de forma interdisciplinar para a formação de sujeitos críticos e comprometidos com o meio ambiente. Além disso, trabalhar a logística reversa em sala de aula foi de extrema relevância para que estas ações perpassem para outros ambientes além da escola, ou seja, dentro da própria comunidade.
A logística reversa, como ferramenta de estratégia educacional, deve ser explorada e empregada pelas organizações educacionais, nas quais poderá auxiliar não apenas na conservação ambiental, mas também na construção de cidadãos críticos que farão diferença em uma sociedade que continua explorando de forma desenfreada os recursos naturais existente no planeta.