INTRODUÇÃO
Portugal é um dos Países da União Europeia com maior parcela de costa marítima, com 1 230 Km de extensão na área continental e 3 000 Km se se incluir as Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, estando a maioria da população e das atividades económicas centrada no território litoral (CAMELO, 2013). Nesse sentido, importa perceber como os Municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) utilizam este valioso recurso em termos desportivos, de que modo beneficiam das suas excelentes condições geográficas em termos de prática de desportos náuticos.
Com a realização deste estudo averiguou-se a existência ou não de Políticas Municipais de Promoção de Desportos Náuticos; Que medidas e Ações são idealizadas e concretizadas a este nível e Que resultados são gerados pelas mesmas. Procurou-se identificar as responsabilidades legais e opções estratégicas definidas a este nível pelos Municípios, analisaram-se os espaços existentes para a prática destes desportos e as medidas e ações realizadas para o fomento da sua prática, tendo-se finalizado o artigo com as conclusões obtidas e possíveis áreas de extensão futura do mesmo.
Para a obtenção destes dados foram cruzados dados facultados publicamente pelos Municípios com informações recolhidas presencialmente em entrevistas realizadas com Responsáveis Municipais pela área do desporto.
Exploração Desportiva dos Oceanos e Mares
O mar desempenhou sempre um papel importante na história de Portugal, bastando pensar-se nos Descobrimentos para perceber o seu impacto. Atualmente o mar português gera 11% do PIB, 12% do emprego e 90% das receitas de turismo (CUNHA, 2012). No entanto, existe a possibilidade de se incrementar a sua exploração, de forma sustentada e protetora, de modo a que este se torne num dos principais fatores de desenvolvimento económico do País. Esta é também a opinião do Governo Português, estando esta plasmada em diversos documentos oficiais (GOMES, 2014):
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Estratégia Nacional Para o Mar: é referido que Portugal se tem mobilizado para o Oceano, criando condições para o seu aproveitamento como vetor estratégico de desenvolvimento
A náutica de recreio é vista como tendo um enorme potencial de crescimento, sendo vital para o seu desenvolvimento a criação de infraestruturas de apoio
A internacionalização de atividades desportivas, como o surf, a canoagem e a vela, auxiliará no reforço desta identidade, particularmente junto dos jovens
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Plano Estratégico Nacional de Turismo: são sugeridas as seguintes ações:
Consolidação e desenvolvimento de produtos turísticos estratégicos
Desenvolvimento de desportos como o surf e o kitesurf
Aposta no Turismo Náutico, nomeadamente no segmento desportivo
Dinamização de um calendário nacional de eventos culturais e desportivos
Interligação de ofertas turísticas, de animação cultural e desportiva e eventos
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Hypercluster da Economia do Mar: destacado o segmento Turismo & Lazer, que inclui náutica de recreio e desportos náuticos, como uma área que tem obtido um elevado crescimento que se manterá nos próximos anos
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Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo: sugerem-se as seguintes medidas com vista à exploração económica do mar:
Criação de infraestruturas e pontos de apoio aos desportos náuticos
Aumento dos apoios financeiros e logísticos
Aumento da oferta desportiva e da qualificação dos recursos humanos
Valorização da prática de desportos náuticos como um produto turístico
Valorização de uma nova cultura ambiental associada ao desporto náutico
Programa Operacional Temático Valorização do Território e Quadro de Referência Estratégico Nacional: sugerido o fomento e apoio à organização de eventos desportivos náuticos e a construção de Centros de Alto Rendimento para o Surf
O trabalho efetuado nesta área tem surtido efeito, sendo o mais visível a criação de Centros de Alto Rendimento para o Surf e o apoio à Organização de Eventos Desportivos Náuticos de dimensão mundial (CAMELO, 2013).
Também a exploração das praias poderá ser incrementada, utilizando como exemplo o modelo aplicado no Reino Unido (Brighton) ou em França (Saint Tropez), onde ir à praia e realizar atividades desportivas é analisado como uma atividade económica, dado que as pessoas despendem o seu dinheiro no mar e em terra, gerando uma economia ligada a estas atividades de desporto, lazer e turismo (GOMES, 2014). No entanto, a implementação de desportos náuticos terá de ser realizada respeitando os ecossistemas existentes, de modo a preservar e proteger os espaços naturais e o mar. Os estudos efetuados nesta área permitiram a obtenção das seguintes conclusões (GOMES, 2014):
Os meios de transporte utilizados não devem danificar o ambiente ou exceder a sua capacidade (DAVENPORT, DAVENPORT, 2006)
Estas práticas alteram e influenciam a gestão da costa e do mar, originando a criação de acessos e infraestruturas (RATCLIFFE, 1992)
A organização das atividades exige uma preocupação com a preservação da natureza, pois a destruição do ambiente natural implicará a destruição da atividade
Portugal tem assumido um forte investimento no turismo, aproveitando as suas excecionais caraterísticas geográficas e climatéricas. No universo de atividades associadas ao turismo encontra-se o turismo desportivo de litoral, onde o turista pode desempenhar um papel passivo (assistência a eventos) ou ativo (praticante desportivo).
Um dos pontos fortes de Portugal em termos turísticos são as suas praias, que reúnem um conjunto de atributos de excelência, como a qualidade da água ou as estruturas de apoio. No entanto, não são utilizados critérios desportivos na sua avaliação. A referênciação de locais e práticas desportivas que se podem realizar em cada praia garantiria uma melhor informação aos utilizadores e auxiliaria na gestão da praia. Esta ideia potenciaria a transmissão da informação e poderia garantir a conquista de outros públicos, tornando-se numa vantagem competitiva entre produtos similares, em termos nacionais e internacionais (GOMES, 2014).
Também ao nível da regulamentação é possível realizar uma gestão que facilite a sua exploração desportiva. A zona costeira é um local de interface entre os espaços e as pessoas que os utilizam, exigindo-se que esse espaço seja planeado, ordenado, gerido e fiscalizado. A sua gestão poderá ser efetuada de dois modos (GOMES, 2014):
Espaço regulado pelas autoridades locais, existindo uma autonomia local em termos de planeamento e proteção da zona costeira (Reino Unido ou Austrália)
Espaço regulado por uma lei geral, produzida de modo a regular todo o território (Espanha ou Portugal)
No território Português esta área é regulada sobretudo por dois diplomas: Lei da Água (Lei nº 58/2005, alterada pelo Decreto-Lei nº130/2012) e Lei da Titularidade dos Recursos Hídricos (Lei nº 54/2005 de 15 de novembro), que define as competências e responsabilidades no âmbito da titularidade e gestão do domínio público hídrico. A costa portuguesa encontra-se dividida em regiões hídricas que são áreas de terra e mar compostas por bacias hidrográficas contíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras associadas. No espaço público compreendido pela zona costeira encontramos diversas entidades responsáveis pela sua gestão, nomeadamente (GOMES, 2014):
Estado: responsável pelas águas costeiras
Administração da Região Hídrica: responsável pelas praias existentes na área geográfica, pela fiscalização e licenciamento das atividades e dos apoios de praia
Autoridade Marítima Nacional: encarregue da proteção civil no mar e na faixa litoral
Municípios: responsáveis pela manutenção e limpeza das praias
Concessionários: incumbidos da contratação dos nadadores salvadores e do material de informação, vigilância, socorro e salvamento
O elevado número de entidades que assume a responsabilidade pela gestão do espaço e das atividades é um fator que dificulta a sua gestão, tendo este aspeto sido apontado como uma ameaça ao desenvolvimento do setor dos desportos náuticos.
A integração de práticas desportivas em espaços de zona costeira ampliará o valor das ofertas facultadas, associando ao produto sol e mar uma atividade de lazer, formação ou competição, de acordo com os interesses do público. Só com uma gestão integrada será possível criar e providenciar um programa que agregue as diversas áreas e públicos existentes, contribuindo para a satisfação dos clientes e para o desenvolvimento económico e social das regiões.
No que se refere à oferta de Infraestruturas de Apoio, a distribuição geográfica de Postos de Amarração ao longo do Pais é assimétrica (FREITAS, 2010), verificando-se uma predominância do Algarve (36% do total nacional) e do Centro (28%) em relação ao resto do Pais. A área de Lisboa dispõe de 2041 postos de amarração, estando 1118 situados no Porto de Lisboa (Alcântara, Belém, Bom Sucesso e Santo Amaro), 273 em Oeiras e 650 em Cascais. Existem algumas infraestruturas de apoio à atividade na região, sendo estas em número reduzido e estando divididas uniformemente pela região, havendo uma predominância na zona Norte do estuário do Tejo (FREITAS, 2010).
A AML integra a zona Centro e é um dos locais nacionais com maior propensão para a exploração do mar, devido à sua ampla frente ribeirinha e às várias praias onde se pratica desportos náuticos. É um local identificado pelos especialistas como um dos melhores a nível mundial para a prática de regatas (CAMELO, 2013). No entanto, apesar de apresentar excelentes condições geográficas, as ações idealizadas nesta área têm-se deparado com problemas de concretização, relacionados com a inviabilidade técnica e financeira, a falta de recursos ou a deficiente articulação entre entidades com competências na matéria (SOUSA; FERNANDES; CARPINTEIRO, 2009).
Segundo alguns autores (SOUSA; FERNANDES; CARPINTEIRO, 2009; CAMELO, 2013), é necessário um trabalho de apetrechamento de bases de apoio que permita aliar às excelentes condições geográficas uma estrutura de suporte das atividades e um programa turístico e desportivo que enriqueça a oferta facultada e se equipare às ofertas existentes em outros Países, permitindo a esta região competir e afirmar-se como destino de excelência. As áreas nomeadas como sendo necessário desenvolver e melhorar são as seguintes (CAMELO, 2013):
Marinas e Postos de Amarração: comparando Portugal e Espanha conclui-se que Portugal tem três vezes menos costa (2830 vs. 7780) mas tem apenas um décimo do total de marinas (30 vs. 320) e de postos de amarração (12000 vs. 107000)
Empresas: ampliar a oferta complementar, de modo a elevar a atratividade turística
Aumento da qualidade do serviço, diversificação dos produtos comercializados e angariação de clientes nos mercados externos: metas que serão atingidas com o aumento do número de empresas e da oferta complementar.
MATERIAL E MÉTODOS
A AML engloba dezoito municípios pertencentes às sub-regiões da Grande Lisboa e da Península de Setúbal, tendo este estudo incidido na análise de uma amostra equivalente a um terço dos municípios da área: Almada; Cascais; Lisboa; Seixal; Setúbal e Vila Franca de Xira.
A escolha destes Municípios deveu-se sobretudo aos seguintes aspetos:
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Localização geográfica:
Polos turísticos, muito desenvolvidos em termos sócioeconómicos, e com boa dinâmica ao nível das atividades náuticas: Lisboa e Cascais
Municípios com requalificação da frente ribeirinha: Seixal
Municípios com boa oferta desportiva ao nível aquático e aproveitamento da sua costa litoral: Almada e Setúbal
Municípios candidatos a Cidade Europeia do Desporto: Almada e Cascais
Município que irá organizar a Capital Europeia do Desporto 2021: Lisboa
Recorreu-se a uma abordagem qualitativa e interpretativa, tendo a recolha de dados para caraterização dos Municípios sido efetuada entre 2016 e 2018 através de dois métodos:
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ANÁLISE DOCUMENTAL:
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REALIZAÇÃO DE ENTREVISTA:
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Entrevista presencial e individual aos Responsáveis Municipais do Desporto indicados por cada Município:
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Produção de um guião para o efeito:
Guião avaliado pelo orientador desta investigação, tendo sido validado pelo referido especialista após algumas alterações estruturais;
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Guião assente em cinco dimensões que permitem uma avaliação da importância da área do desporto no Município em termos estratégicos, financeiros, organizativos e políticos:
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A metodologia aplicada teve como referência dois estudos neste âmbito realizados na Área Metropolitana do Porto (JANUÁRIO, 2010) e na Península de Setúbal (CUSTÓDIO, 2011) e uma investigação sobre desenvolvimento local e regional em Portugal (TEIXEIRA, 2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estrutura Orgânica Municipal do Desporto
De acordo com os Regulamentos Municipais dos Municípios analisados, as principais responsabilidades da unidade orgânica municipal responsável pela gestão do Desporto em termos de desportos náuticos que são transversais a todos são as seguintes:
Desenvolver oferta desportiva diversificada, fomentando a formação, o lazer, a promoção da saúde e da atividade física
Promover a construção e qualificação de equipamentos desportivos municipais
Gerir as instalações desportivas municipais
Realizar eventos desportivos que promovam o desenvolvimento desportivo local
Coordenar a execução de eventos desportivos em que o Município participa ou apoia
Em termos individuais destaca-se a responsabilidade atribuída ao Município de Lisboa de fomentar a realização de programas e eventos de desportos náuticos no Rio Tejo.
Todas estas informações foram validadas nas entrevistas realizadas, tendo os Entrevistados reconhecido as responsabilidades inerentes à sua unidade orgânica municipal e garantido o seu cumprimento por parte da mesma.
Opções Político-estratégicas ao Nível do Desporto
Através dos documentos estratégicos facultados publicamente pelos Municípios (Cartas Municipais de Desporto e Candidaturas a Capital e Cidade Europeia do Desporto) foi possível identificar algumas “ideias chave” das políticas pelas quais estes se regem em termos de Desportos Náuticos e a importância política que atribuem a esta área:
Almada: na Candidatura a Cidade Europeia do Desporto é referido como um dos principais objetivos desenvolver o turismo desportivo, garantindo condições para a prática de desportos de natureza e ar livre e acolhendo eventos-âncora que tenham o desporto como elemento central, com destaque para os desportos de onda
Cascais: na Carta Desportiva é salientada a Organização de Eventos Desportivos para pessoas com deficiência e a participação em eventos projetados por outras entidades, destacando-se para este estudo os eventos que incluam modalidades náuticas
Lisboa: destaca-se na Candidatura a Capital Europeia do Desporto o objetivo de Democratizar e Dinamizar o Acesso a Desportos Náuticos no Rio Tejo e a aposta no Acolhimento das Maiores Competições Náuticas do Mundo, das quais são destacadas a Volvo Ocean Race e as Tall Ships Races
Com base nas entrevistas efetuadas confirmou-se o objetivo global de desenvolver uma política de Desporto para Todos, que permita a prática de atividade física e desportiva a todos os segmentos da população e que inclua todos os tipos de prática. Foram igualmente identificadas as metas de incrementar a Atratividade Nacional e Internacional do Município e potenciar o seu Desenvolvimento Territorial. A aposta nos desportos náuticos surge como uma medida que, potenciando as excelentes condições naturais da região, poderá funcionar como catalisador positivo que permitirá a diferenciação da região e a sua alavancagem.
Todos os Municípios possuem uma área geográfica com excelentes condições para a prática de desportos náuticos, seja ela constituída por costa marítima (Almada, Cascais e Setúbal) ou frente ribeirinha (Lisboa, Seixal, Setúbal e Vila Franca de Xira). Nestes Municípios existem treze Espaços Naturais e trinta e seis Praias onde é possível a prática destes desportos:
ALMADA: Nove Praias com Dezoito Espaços para a Prática de Surf
CASCAIS: Dezoito Praias
LISBOA: Frente Ribeirinha
SEIXAL: Quatro Espaços integrados na Baía do Seixal; 1 Praia
SETÚBAL: Rio Sado; Oito Praias
VILA FRANCA DE XIRA: Dois Planos de Água no Rio Tejo; Vala da Lezíria
Encontra-se ainda prevista a construção de dois Centros Náuticos Desportivos, um em Lisboa e um em Setúbal, que irão beneficiar os desportos náuticos criando infraestruturas de apoio e condições para a prática de diversas modalidades.
No que diz respeito à Área Útil Desportiva Por Habitante, é necessário que neste indicador sejam incluídos os espaços desportivos naturais ou ao ar livre onde é possível praticar atividade física e desportiva (que integram os espaços onde se praticam desportos náuticos), principalmente na sociedade atual, onde a população apresenta uma tendência para praticar desporto nesses locais.
Todos os Entrevistados assumiram a existência de uma Política Municipal de fomento dos Desportos Náuticos que tem como objetivos a Criação de Condições para o Aumento da Oferta Desportiva na área, a Captação de Eventos Desportivos que permitam a promoção das modalidades e o Incremento do Número de Praticantes. As principais medidas implementadas são as seguintes:
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Criação e Requalificação de Infraestruturas
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Oferta de prática desportiva através do Desporto Escolar
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Formação de Treinadores
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Disponibilização Direta de Oferta Desportiva ou apoio de iniciativas nesta área
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Captação, apoio e Organização de Eventos desportivos que incluam desporto náutico
Do universo de modalidades praticadas destacam-se a Canoagem, o Surf e a Vela. O Município de Cascais destaca ainda a importância que os desportos náuticos têm na sua imagem, devido aos diversos Atletas Olímpicos nacionais que saíram dos seus mares.
Todos os Entrevistados reconheceram que os seus Municípios utilizam a organização de eventos desportivos como forma de alavancar o desenvolvimento desportivo local, fomentando a prática desportiva e a imagem do Município, de modo a atrair mais pessoas ao Município.
Em termos de desportos de ondas e náuticos salientam-se duas opções estratégicas:
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Organização de Eventos de Âmbito Nacional, mais direcionados para o desenvolvimento desportivo local:
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Organização de Eventos de Âmbito Internacional, mais vocacionados para o incremento da imagem e o fomento da economia local:
Caparica Primavera Surf Fest (Almada): evento regular (anual) de Âmbito Internacional e Dimensão Mundial, reúne música e desporto, integrando modalidades como o Surf, Bodyboard, SUP, Windsurf, Kitesurf e Bodysurf
America’s Cup World Series Cascais 2011 (Cascais): evento náutico não regular de Âmbito Internacional e Dimensão Mundial que foi acompanhado por mais de 120 milhões de espectadores
Circuito Mundial de Surf (desde 2009): evento regular (anual) de Âmbito Internacional e Dimensão Mundial, em 2016 trouxe a Portugal 100 mil visitantes e gerou lucros estimados em 10,5 milhões de euros (RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL, 2017)
Volvo Ocean Race (Lisboa): evento regular (anual) de Âmbito Internacional e Dimensão Mundial que em 2012 gerou 200 mil visitantes e um impacto económico avaliado entre 29 e 34 milhões de euros
Também ao nível do Apoio ao Movimento Associativo se observam medidas de promoção de desportos náuticos, ao nível do Fomento de Programas Desportivos, da Formação de Agentes Desportivos e da Organização de Eventos. Na Formação de Agentes Desportivos destaca-se a aposta em Ações de Formação para Treinadores e na Organização de Eventos, medidas que permitirão a melhoria da oferta desportiva facultada.
Em termos individuais destacam-se Seixal e Vila Franca de Xira que, com base nas suas Cartas Desportivas, concedem apoio para o desenvolvimento dos seguintes desportos náuticos: canoagem, kayak pólo, remo e vela (Seixal) e kayak pólo, vela e windsurf (Vila Franca de Xira).
A aposta numa Candidatura a Capital ou Cidade Europeia do Desporto (e a sua organização) poderá funcionar como um impulsionador da prática desportiva, podendo os desportos náuticos beneficiar de um aumento do número de eventos desportivos organizados e, consequentemente, de um acréscimo do número de praticantes e da oferta desportiva. A organização da Capital Europeia do Desporto 2021 em Lisboa poderá ser um forte impulsionador para a prática destes desportos.
Oferta Desportiva
A análise foi efetuada seguindo os critérios utilizados pelos Municípios na divulgação da informação, distribuíndo as atividades pelas tipologias de Atividades Aquáticas, que integra as atividades náuticas, e de Desportos Para Pessoas Com Deficiência, que engloba atividades criadas especialmente para este público-alvo (surf adaptado, vela adaptada).
Almada | Cascais | Lisboa | Seixal | Setúbal | Vila Franca de Xira | Totais | |
Aquáticas | 2 | 2 | 3 | 4 | 4 | 5 | 20 |
Desportos para Pessoas Com Deficiência | 1 | 2 | 1 | 0 | 0 | 2 | 6 |
Totais | 3 | 4 | 4 | 4 | 4 | 7 | 26 |
Fonte: Cartas Municipais de Desporto e Candidatura a Cidade e Capital Europeia de desporto
Em termos de Modalidades Aquáticas, todos os Municípios disponibilizam a prática de Canoagem e Vela, três facultam Kayak Polo (Seixal, Setúbal e Vila Franca de Xira) e três propiciam a prática de Remo (Lisboa, Seixal e Setúbal).
Quanto ao desporto para Pessoas Com Deficiência, estes disponibilizam Vela (Cascais) e Surf (Almada e Cascais). Lisboa e Vila Franca de Xira não especificam que atividades são facultadas, sendo referida apenas a prática de Desporto Adaptado e Atividade Física Adaptada.
Estes seis Municípios desenvolvem setenta e sete Programas Municipais de Desporto, destacando-se ao nível dos Desportos Náuticos os seguintes:
Almada: Programa Almada Mexe Comigo: iniciativa gratuita, para toda a população, permite a prática de diversas modalidades, das quais se destacam o Kitesurf, o Surf e Windsurf. Em 2015 contou com 170 atividades nas quais participaram 3 432 pessoas
Cascais: Programa Vela Sem Limites: programa que permite a prática de Vela à População Com Deficiência
Lisboa: Programa Clubes de Mar: iniciativa gratuita, visa promover a prática de desportos náuticos no Rio Tejo. Integra aulas de Vela para os alunos do 2º ciclo e aulas de Remo para os alunos do 3º ciclo das escolas públicas de Lisboa. No ano letivo 2015/2016 participaram na ação 387 alunos de 14 escolas, e em 2016/2017 a participação foi superior a 1 000 alunos
Seixal: Programa Desenvolvimento de Modalidades Desportivas: visa fomentar o desenvolvimento específico da modalidade, melhorando o processo organizativo e rentabilizando recursos. Associado a vários desportos, sendo a canoagem um deles
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Setúbal:
Programa Jogos do Sado: evento com atividades desportivas (inclui desportos náuticos) para toda a população. Tem uma média anual de 3 800 participantes
Programa Centro Náutico Municipal: disponibilização de atividades de iniciação e passeios de canoagem para maiores de 10 anos que saibam nadar. Tem um custo de 3€ e é utilizado por Escolas e Associações de Jovens
Vila Franca de Xira: Apoio à Organização de Eventos Desportivos que incluem atividades destinadas à População Com Deficiência
No que respeita ao número de praticantes, apenas três Municípios (Lisboa, Seixal e Vila Franca de Xira) apresentaram dados concretos:
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Atividades Náuticas: 1 341 praticantes, 71% dos quais Federados
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Desporto para Pessoas Com Deficiência: 137 praticantes, todos Não Federados
Os Entrevistados reconheceram a existência da Oferta Desportiva Municipal descrita e referiram que a mesma se baseia numa Política de Sustentabilidade e Gratuidade, com o objetivo de incrementar a prática desportiva e o número de praticantes.
Sinergias Intermunicipais
Os Responsáveis Municipais reconheceram a existência de algumas sinergias intermunicipais ao nível do desporto entre os Municípios avaliados, tendo sido referidas a este nível as Regatas Intermunicipais. Todos os Entrevistados consideraram como positiva uma ação futura a este nível, acreditando que este tipo de projetos trarão benefícios a diversos níveis (organizativo, operacional, desportivo, entre outros) para todos os envolvidos. A área das Atividades Náuticas foi a principal área sugerida para a realização de futuras colaborações intermunicipais ao nível do desporto, tendo sido referida por cinco dos Entrevistados (83%). A realização de eventos desportivos que incluam modalidades praticadas em rio ou mar foi a opção mais citada.
CONCLUSÕES
Apurou-se que todos os Municípios analisados têm uma Política Municipal destinada ao Fomento da Prática de Desportos Náuticos que integra as seguintes medidas:
Criação de Infraestruturas (Almada e Setúbal)
Oferta de Prática Desportiva através do Desporto Escolar (Cascais e Setúbal)
Formação de Treinadores (Almada)
Disponibilização Direta de Oferta Desportiva (Todos os Municípios)
Organização de Eventos (Almada, Cascais, Lisboa e Vila Franca de Xira)
Estas medidas visam o incremento da oferta, a captação de eventos desportivos e o aumento do número de praticantes, sendo as modalidades mais fomentadas a canoagem, o surf e a vela.
Em três Municípios existe uma aposta clara no desporto náutico, assente numa política de:
Fomento dos Desportos Náuticos e Criação de Infraestruturas de Apoio a estes Desportos (Almada e Setúbal)
Oferta de Prática de diversas Modalidades, em especial na aprendizagem, formação desportiva e organização e apoio à captação de grandes eventos desportivos (Lisboa)
Ao nível dos resultados gerados por estas políticas e ações, os dados mais visíveis dizem respeito aos Eventos Desportivos organizados e ao Número de Praticantes de atividades náuticas.
No que diz respeito à Organização Grandes Eventos Desportivos destacam-se Lisboa e Cascais, pela capacidade organizativa demonstrada, pela existência de uma forte economia local e grande capacidade hoteleira (Cascais e Lisboa), pelo reconhecimento como destino de excelência para treino e prática desportiva (Cascais) ou pela segurança da Cidade e o turismo em alta (Lisboa).
No que se refere ao número de praticantes, apenas três Municípios facultaram essa informação. Existe ainda alguma resistência à divulgação dos resultados obtidos com as políticas públicas implementadas, o que impossibilitou uma análise deste dado e a extração de conclusões.
O incremento dos Desportos Náuticos na região poderá ser obtido ao nível da AML, através de uma ação conjunta dos concelhos do Estuário do Tejo no desenvolvimento de infraestruturas de apoio a atividades náuticas, a partir do Programa Estratégico do Porto de Lisboa, que integre infraestruturas mais exigentes em termos técnicos e financeiros (marinas), rampas e equipamentos de acesso à água (SOUSA; FERNANDES; CARPINTEIRO, 2009; CAMELO, 2013).
Apenas com um trabalho integrado, realizado por Entidades de Poder Público Local (Municípios, AML, Porto de Lisboa), de Poder Público Central (Turismo de Portugal), Associações (Clubes Náuticos) e Entidades Privadas (Empresas do Setor) será viável efetuar um plano de desenvolvimento de desportos náuticos que permita a exploração eficiente deste recurso com um enorme potencial de crescimento.
O Desenvolvimento Estrutural (recuperação das estruturas existentes e criação de novas infraestruturas), efetuado com respeito pelas caraterísticas das frentes ribeirinhas, pelas condições de navegabilidade e pelo património ambiental, e o Desenvolvimento Desportivo (promoção da prática desportiva, desenvolvimento de ofertas turísticas integradas e organização de eventos) serão fatores cruciais para o desenvolvimento deste projeto, que poderá tornar esta região num dos principais centros mundiais do desporto náutico. A evolução deste segmento permitirá uma expansão de toda a economia local, potenciada no crescimento paralelo de mercados como a restauração, hotelaria ou fabrico e transação de equipamento náutico.
Em termos de investigação futura seria pertinente efetuar um estudo deste tipo de âmbito nacional, integrando todos os Municípios da zona costeira e comparando as diferentes opções estratégicas implementadas. Seria ainda relevante analisar os desportos náuticos e aquáticos nesta região. Perceber que infraestruturas existem, que desportos são praticados, a sua dimensão e os resultados desportivos obtidos.