1 POR ONDE COMEÇAR? UM POUCO DA HISTÓRIA DE NOSSOS ENCONTROS COM OS CASOS
O início sempre é uma tarefa difícil. A inspiração não vem, as palavras indecisas titubeiam e ficamos à deriva. Mesmo assim, no meio de tantas dúvidas, decidimos iniciar falando do que se propõe esse artigo e em seguida sobre nós e as redes de afeto que nos unem aos casos de ensino.
Este texto apresenta um estudo a partir da leitura do caso de ensino Vamos Quintanear?, um encontro de crianças com a obra de Mário Quintana. Neste caso de ensino compartilhamos uma experiência com a literatura, como instrumento de reflexão para os professores, sejam eles estudantes em formação, professores iniciantes e/ou experientes.
Além disso, o artigo apresenta um panorama do desenvolvimento das pesquisas sobre casos de ensino e métodos de casos no Brasil e também explora seus aspectos teóricos e práticos.
Sobre nós e o início de tudo, podemos dizer que os primeiros contatos com os casos de ensino se deram em 2016 com duas das autoras, Ádria e Isa, ao realizarem o primeiro curso de casos de ensino, do Programa Casos de Ensino e Aprendizagem da Docência, oferecido pelo Portal dos Professores da UFSCar e coordenado pela profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami.
Desse primeiro contato, suscitaram muitos outros encontros e diálogos. Simone, a outra autora, era professora e orientadora de ambas na pós-graduação do programa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e indicou o curso, e também se apaixonara pelos casos de ensino, a partir da afetação presente das experiências vividas por Ádria e Isa.
Ádria é professora dos anos iniciais e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (UNIT). Os casos de ensino do curso da UFSCar reverberaram de tal forma, que decidiu compreender melhor esse campo de estudo, utilizando-os em sua pesquisa de mestrado iniciada em 2007 (RODRIGUES, 2009), cuja investigação se deu com adolescentes que viviam na época o insucesso na leitura e na escrita, sob a orientação da profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha. Eles construíram narrativas consideradas casos de ensino, as quais são utilizadas como instrumento reflexivo pela professora da sala de aula.
Isa é professora da Universidade Federal de Jataí (UFJ) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma universidade. Viveu junto com Ádria a experiência com casos de ensino na UFSCar. A ressonância do curso Casos de Ensino foi tão intensa a ponto de mudar o tema da sua dissertação (SCARLATI DOMINGUES, 2008), no segundo ano do mestrado, com o incentivo de sua orientadora, profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha. Uma loucura para muitos, mas uma loucura que afeta e inspira os caminhos da pesquisadora a ponto de buscar no doutorado, em 2009, com a profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami, um olhar mais aprofundado para os casos de ensino (DOMINGUES, 2013).
Simone é professora da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma. Foi contagiada por suas orientandas Ádria e Isa e, sempre aberta a novas experiências de pesquisa, apropriou-se teoricamente dos casos de ensino, utilizando-os na disciplina Seminário de Pesquisa I do PPGE/UFMT em 2007 (ROCHA, 2012). Uma experiência inovadora naquele espaçotempo de docência.
Embora por caminhos diferentes, as três pesquisadoras construíram relações de afeto com os casos de ensino, que possibilitaram diversas parcerias em produções sobre o tema.
2 O QUE SURGE DESSES ENCONTROS: UM CASO?
Nossa história foi sendo construída muito antes dos casos e se intensifica a partir deles. Desse encontro muitas possiblidades se materializaram em produções acadêmicas nacionais e internacionais. Nessa teia de relações, as autoras produziram sobre casos de ensino e processos formativos em ambientes virtuais de aprendizagem; casos de ensino que viajam por terras estrangeiras e dialogam com uma pesquisadora portuguesa; casos de ensino que dialogam com professoras alfabetizadoras; casos que são narrados por adolescentes e utilizados em processos formativos com professores; casos de ensino refletidos e construídos em diferentes programas de formação: Pibid e Parfor; casos de ensino que apresentam diálogos entre crianças e obras literárias; e casos de ensino que dialogam com a inclusão. Algumas dessas produções encontram-se apresentadas no quadro a seguir.
Título | Autores(as) | Ano | Veiculação |
---|---|---|---|
Casos de ensino como processo reflexivo na aprendizagem profissional da docência: o que dizem os professores alfabetizadores | DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; ROCHA, Simone Albuquerque. | 2010 | Formação de Professores: licenciaturas em discussão [Livro - EDUFMT] |
Os casos de ensino na formação-investigação de professores dos anos iniciais | DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; SARMENTO, Maria Teresa Jacinto; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. | 2012 | Perspectivas sociológicas e educacionais em estudos da criança: as marcas das dialogicidades luso-brasileiras [Ebook - UM/Portugal] |
Casos de ensino como possibilidade de reflexão sobre a docência na pós-graduação | ROCHA, Simone Albuquerque da. | 2012 | Ensino em Revista [Periódico - EDUFU] |
A formação-intervenção a distância com casos de ensino | DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. | 2013 | Políticas públicas, Tecnologias e Docência: Educação a Distância e a Formação do Professor [Ebook - EDUFMT] |
O desenvolvimento profissional de professores e o uso de casos de ensino | DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati. | 2014 | Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação [Periódico - UNESP] |
Casos de ensino na formação de professores: quando a narrativa de uma adolescente provoca a reflexão/formação | RODRIGUES, Ádria Maria Ribeiro; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; ROCHA, Simone Albuquerque da; DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati. | 2017 | Revista de Educação Pública [Periódico - EDUFMT] |
Casos de ensino e formação de professores: práticas, vivências e experiências em discussão | DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; RODRIGUES, Ádria Maria Ribeiro; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; ROCHA, Simone Albuquerque. | 2019 | Formação docente: debates contemporâneos [Livro - CRV] |
Casos de ensino como estratégia investigativa-formativa no estágio do Parfor | ROCHA, Simone Albuquerque; DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; SANTOS, Ivanete Rodrigues dos. | 2020 | Cadernos de Pesquisa [Periódico - Fundação Carlos Chagas] |
Formação continuada de professores para educação inclusiva: uma experiência com casos de ensino | DUEK, V. P.; DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos | 2020 | Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação [Periódico - UNESP] |
Between the Mirror and the Oil Lamp: Promptings from a Teaching Case in Graduation Courses | ROCHA, Simone Albuquerque; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati; RODRIGUES, Adria Maria Ribeiro. | 2021 | Global Journal Of Human-Social Science [Periódico - Estados Unidos] |
Fonte: organizado pelas autoras a partir do Currículo Lattes e da Plataforma Capes (periódicos).
A construção de casos de ensino pelas autoras não se esgota no anunciado acima. Novamente são provocadas a um novo encontro, que se dá a partir da experiência literária vivenciada por uma das pesquisadoras.
3 QUE CASO VAMOS APRESENTAR? O ENCONTRO DAS CRIANÇAS COM A POÉTICA DE MÁRIO QUINTANA
A seguir apresentamos o caso de ensino desenvolvido pela profa. Ádria Maria Ribeiro Rodrigues, em 2006.
Vamos Quintanear?
Essa é uma narrativa de afetos. Mesmo que tentasse, jamais conseguiria apagar da memória a experiência marcada pela delicadeza que vivi ao lado das meninas e dos meninos do 2º ano em uma escola em que trabalhei, em Rondonópolis, Mato Grosso.
A poesia de Mário Quintana me afeta e me encanta, a brincadeira moleca com as palavras, a ironia fina, a transgressão poética, a observação atenta do cotidiano e a ternura de seus versos reverberam em mim. O poeta nos faz ver as pequenezas do cotidiano como se as víssemos pela primeira vez, como se olhássemos com o olhar infantil, com o olhar iniciante, e por isso, de espanto.
Nunca esqueci a ocasião em que foi indicado pela terceira vez para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e, embora amado pelos leitores e respeitado pelos intelectuais e escritores da época, como Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Carlos Drummond, jamais conseguiu vestir o fardão da academia. Após esse episódio, compôs o famoso Poeminho do Contra:
Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho! (QUINTANA, 2005, p. 257).
Sua altivez frente à situação me comove e a forma que encontro para homenagear o escritor é apresentá-lo todos os anos aos meus alunos, e assim promover o encontro das crianças com sua poética.
Acredito ser indispensável a presença da leitura literária na escola desde muito cedo, pois a literatura é arte e, portanto, seu caráter estético ajuda o homem na sua experiencia humana com as palavras, possibilitando-lhe dar um novo sentido ao mundo. Nessa perspectiva, importante se faz a qualidade das obras a serem lidas em sala, pois a escola deve ser, efetivamente, o lugar da sofisticação do indivíduo. AntônioCandido (2004), em sua obra O direito à literatura: Vários escritos, afirma que a literatura, ao dar forma aos sentimentos e à nossa visão do mundo, reorganiza-nos, liberta-nos do caos e, dessa forma, humaniza-nos. Para ele, negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade.
A literatura lida com os sentimentos e organiza o caos presente em nós, mexendo com nossas dores, sonhos e afetos. ParaCandido (2004), a literatura, como a arte da palavra, consegue nos tirar da mesmice do cotidiano, possibilitando momentos de descoberta de lugares, cores e tempos. É a literatura que nos leva a viver em diferentes mundos, situações inusitadas, sem, sequer, sairmos do lugar.
Com essa certeza, levei para a sala vários livros de poemas do autor. Li alguns em voz alta, distribui-os para que as crianças pudessem ler e sonhar à vontade. Contei algumas passagens da vida do poeta, as crianças ficaram fascinadas, e propus uma pesquisa sobre sua vida. Elas concordaram e assim fomos construindo uma antologia poética, a partir da escolha dos poemas de Mário Quintana feita pelas crianças. Em seguida, fizeram belíssimas ilustrações, usando as margens das folhas, onde escreveram o poema escolhido, como o próprio poeta sugeriu certa vez:
Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-las de desenhos - gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes - que passarão a fazer parte dos poemas. (QUINTANA, 2005, p. 166).
Eu percebia que os poemas ressoavam nas crianças à medida que liam e faziam os desenhos suscitados pela leitura. Uma das crianças escolheu o Poeminho do Contra; então, expliquei a circunstância em que ele havia sido criado. Aritana perguntou: Por que ele disse eu passarinho? No mesmo instante João falou: - É porque ele fica “avoando” nos livros de poemas que ele escreveu. A partir da reflexão feita por João, expliquei que os poetas ficam vivos nos poemas que criam, eles se eternizam através de sua obra.
Todos os dias eles traziam pesquisas feitas na internet, em jornais, revistas e até um CD, em que Quintana declamava muitos de seus poemas. Quando ouvimos sua voz ficamos fascinados e decidimos fazer um sarau poético em homenagem ao Poeta Passarinho. Combinamos que cada um escolheria o poema que quisesse para declamar no sarau. Uma das crianças chamou a atenção para o Poema das Circunstâncias, especialmente para os versos abaixo:
Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O Arranha-Céu comeu!
Defronte
À janela aonde trabalho
Há uma grande árvore...
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore... Enquanto há verde... Ah!
Todos os meus olhares são de adeus
Como o último olhar de um condenado! (QUINTANA, 1988, p. 92).
Como estávamos estudando a importância da preservação do meio ambiente, acredito que o poema os sensibilizou. Estávamos pesquisando as plantas e eu havia explicado para as crianças que, na época da primavera, com o aumento da temperatura, a raiz extrai do solo água e sais minerais e podemos muitas vezes ouvir o barulhinho da seiva correndo dentro da árvore.
No dia seguinte, levei para a sala um estetoscópio, emprestado pelo pai da Renata, e fomos tentar ouvir o barulhinho da seiva. Foi muito divertido, conseguimos escutar, alguns demoravam mais, outros logo conseguiam. Isabela falou: - Parece som de água. Álvaro disse: A árvore é como uma pessoa que tem vida: nasce, cresce... Daniel disse em seguida: Dá fruto igual à pessoa que tem filhos. Então perguntei: - Se fôssemos comparar a árvore com o corpo humano a que parte poderíamos relacionar o caule? Responderam com segurança que o caule representava o corpo; os galhos, os braços; a raiz, a boca e os pés; as folhas, o nariz. Então perguntei: - E a seiva? Pensaram, até que alguns disseram: parece o sangue que corre nas nossas veias! Ficamos todos felizes com as analogias que íamos construindo, num clima de alegria e curiosidade.
Pedro falou: - Nós estamos parecendo o médico “escutando” o coração de uma pessoa, só que estamos escutando o coração da árvore. Ele conseguiu construir uma linda metáfora. Carolina deu a ideia de lermos o poema de Quintana e assim o fizemos. Após a leitura, demos um abraço na árvore. Foi um momento de poesia e de doçura... A delicadeza daquele gesto, os sorrisos das crianças cheios de liberdade, seus olhinhos vivos de curiosidade e encantamento diante do novo, e o barulho de suas vozes ressoam em mim, ainda hoje. Penso então, na potência transformadora e libertária que a literatura representa e no quanto os poemas de Mário Quintana provocaram as crianças a buscarem um novo modo de compreender, de estar e de se relacionar com a natureza.
Fomos, dia a dia, construindo a antologia e, quando terminamos, montamos toda ela num painel na parede da sala e cada criança declamou o poema escolhido. Gostamos tanto desse trabalho que acatamos a sugestão de Matheus de apresentar o sarau no final do ano na Noite de Autógrafos, ocasião em que iriam autografar o livro (coletânea de textos construídos durante o ano).
Foi uma noite muito bonita, as crianças declamaram poemas, apresentaram teatro e música. Quintana estava presente ali, amado, cantado pelas crianças e aplaudido por todos, que tiveram o privilégio de ouvi-lo por meio das vozes das crianças. Quintana diz que os poemas são pássaros que chegam e pousam no livro que lemos e quando fechamos o livro, eles já alçaram vôo e então percebemos que o seu alimento está em nós.
Com certeza a sua poesia será alimento para os meninos e meninas daquela sala que lindamente quintanearam... Tenho certeza que ele gostou de nossa homenagem, porque foi potencializada por afetos e ternuras. Foi verdadeira, intensa, apaixonada, alegre, simples e viva como Quintana, nosso eterno Poeta Passarinho...
4 AGORA É SUA VEZ: VAMOS CONVERSAR SOBRE A NARRATIVA LIDA?
Por que a narrativa Vamos Quintanear? é um caso de ensino? Como o caso de ensino Vamos Quintanear? foi construído? Como utilizar o caso de ensino Vamos Quintanear? em processos formativos de aprendizagem e desenvolvimentos profissional docente?
Vamos Quintanear? pode ser considerado um caso de ensino pois possui uma narrativa com personagens reais, as crianças e a professora, interagindo num tempo e lugar específico; a sala de aula, no ano de 2006. A narrativa também apresenta enredo, com início, meio e fim e ainda um clímax. O caso começa quando a professora leva para as crianças livros de literatura e tem seu desenvolvimento com as perguntas levantadas por elas a partir das ressonâncias provocadas pelas leituras do poeta Mário Quintana realizadas na sala. A narrativa prossegue com a problematização feita por elas sobre questões relacionadas ao meio ambiente, conteúdo que estava sendo abordado naquele momento e tem o clímax no momento em que a turma, afetada pela poética de Quintana, vai juntamente com a professora “escutar” o coração da árvore e criam lindas metáforas num momento de extremo encantamento.
A narrativa Vamos Quintanear? também apresenta desfecho quando as crianças declamam os poemas de Quintana na noite do Sarau Poético.
Além disso, Vamos Quintanear? pode servir não como um modelo para outros professores, mas, ao contrário, pode contribuir para a reflexão do ensino da leitura literária nos anos iniciais do ensino fundamental.
A seguir apresentaremos algumas questões provocadoras para a discussão sobre o caso de ensino Vamos Quintanear?:
como se pode avaliar a prática da profa. Ádria?
que outras possibilidades de trabalhar a poética de Mário Quintana com crianças podem ser sugeridas?
no caso Vamos Quintanear?, as crianças dialogaram com o meio ambiente. Que outras áreas dos conhecimentos poderiam dialogar com a obra de Quintana?
que teoria subsidia a prática da profa. Ádria no caso lido?
5 O QUE SÃO CASOS DE ENSINO E MÉTODOS DE CASOS? PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Depois de conhecer um pouco das autoras desse artigo, destacar algumas produções das mesmas sobre e com casos de ensino e apresentar Vamos Quintanear?, a narrativa mediadora dessa nossa conversa, precisamos entender um pouco sobre o que são casos de ensino.
Os estudos sobre/com casos de ensino que conhecemos no Brasil foram inicialmente desenvolvidos por um grupo de professores da UFSCar, coordenados pela profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami, em 1993, quando teve seus primeiros contatos com essa teoria, por ocasião do pós-doutorado nos Estados Unidos.
Na busca por ampliar a compreensão sobre os casos de ensino, Domingues (2013) registrou que as pesquisas americanas sobre/com casos de ensino na formação de professores não são novas, tendo em vista que começaram na década de 1980 e se expandiram na década de 1990. Destacam-se as contribuições de J. Shulman, L. Shulmam, Kagan, Merserth, dentre outros, e os espaços de pesquisa e formação, como a American Association For Higher Education (AAHE), fundada pela Carnegie Foundation, e West Regional Laboratory.
Analisando a propagação do uso de casos de ensino, Stensmo (1995) traz que, em 1986, o educador americano L. Shulman defendeu o uso de estudos aprofundados de casos por formadores de professores em seu artigo "Those who understand: Knowledge growth and teaching" e diante da necessidade de documentar de forma mais abrangente os casos J. Shulman publicou, em 1992, uma antologia: “Case Methods in Teacher Education” e, em 1994, uma série de seis volumes com uma variedade de casos, intitulada “Case Methods in Teacher Education” editada por Rita Silverman, William, Welty e Lyon Sally (1994). (DOMINGUES, 2013, p. 60-61).
Em seus estudos, Domingues (2013) destaca também um artigo da pesquisadora americana Katherine Merseth, publicado em 1996, nos Estados Unidos, que contribui para compreender um pouco dessas raízes históricas. Em 2018, Merseth organizou e publicou no Brasil um livro com casos de ensino sobre a realidade educacional brasileira.
No Quadro 2 apresentaremos marcos importantes sobre/com casos de ensino no Brasil.
Casos de ensino e métodos de casos | |
1993 | Primeiros estudos da profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami sobre/com casos de ensino nos Estados Unidos, na ocasião do pós-doutorado na Santa Clara University, Califórnia, Estados Unidos (financiado pela FAPESP). |
1997-2020 | Projetos de pesquisas e extensão desenvolvidos na UFSCar sobre/com casos de ensino, com a coordenação/participação da profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami: 1997 - 1999: Aprendendo a pensar como professor: método de casos e profissional - Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami (CNPq); 2003 - 2004: Casos de ensino e professoras iniciantes da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental - Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami e profa. Dra. Maevi Anabel Nono (CNPq); 2005 - 2007: Processos de aprendizagem da docência das series iniciais do Ensino fundamental e casos de Ensino - Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami. Integrantes: Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali, Maévi Anabel Nono, Regina Maria Simões Puccinelli Tancredi, Fabíola Maria Mônaco, Eliza Cristina Montalvão, Marcia Mello, Renata Portela Rinaldi e Cristiana Camargo (CNPq); 2007 - 2010: Casos de ensino e aprendizagem da docência: promovendo e investigando processos de aprendizagem e desenvolvimento profissional de professores dos anos iniciais do ensino fundamental - Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami. Integrantes: Fabíola Maria Mônaco, Eliza Cristina Montalvão, Marcia Mello, Sílvia Gaia, Cristiana Camargo e Solange Ximenez (CNPq); 2010 - 2014: Aprendizagem e de desenvolvimento profissional da docência nos anos iniciais do ensino fundamental: casos de ensino, método de casos e socialização entre pares - Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami (CNPq); 2011: Casos de ensino e teorização das práticas, professores alfabetizadores - Coordenação: profa. Dra. Isa Mara Colombo Scarlati Domingues, profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami e profa. Dra. Silvia Maria Perez (CNPq); 2019 - 2023: Casos de Ensino e aprendizagem da docência: promovendo e investigando processos de aprendizagem e desenvolvimento profissional de professores e formadores de professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Coordenação: profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami. Integrantes: Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali, Maria de Fátima Ramos Andrade e João Clemente de Souza Neto (CNPq). |
2000-2004 | Primeiros artigos sobre/com casos de ensino publicados com a participação da profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami: [Capítulo em livro] 2000 - MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Casos de Ensino e Aprendizagem Profissional da Docência. In: ABRAMOWISZ, A.; MELLO, R (Orgs.). Educação: pesquisa e prática. Campinas: Papirus, 2000. p. 139-161. [Periódico Internacional] 2003 - MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Learning from cases and bridging some 'theory-practice' gaps. Eric Clearin ghouse on Teaching and Teacher Education, Washington, D.C.: USA, v. 2. 2004, n. ED477809, p. 1-21, 2003. [Periódico Nacional] 2004 - NONO, Maevi Anabel; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Possibilidades formativas e investigativas de casos de ensino. Olhar de Professor (UEPG), Ponta Grossa - Paraná, v. 7, n.1, p. 115-132, 2004. |
2001-2020 | Primeiras dissertações e teses sobre processos formativos sobre/com casos de ensino desenvolvidos no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar, com a orientação da profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami: - Aprendendo a ensinar: futuras professoras das séries iniciais do ensino fundamental e casos de ensino (NONO, 2001) [dissertação]. - Casos de ensino e professoras iniciantes (NONO, 2005) [tese]. - Desenvolvimento profissional de professoras alfabetizadoras em ambiente virtual de aprendizagem: contribuições de casos de ensino (DOMINGUES, 2013) [tese]. |
Fonte: organizado pelas autoras a partir de dados pesquisados entre novembro/2020 a janeiro/2021 no Portal dos Professores da UFSCar e no Currículo Lattes da Profa. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami.
Para começarmos a definir teoricamente casos de ensino, selecionamos e apresentamos, a seguir, a produção de duas autoras de referência nesses estudos, sendo uma nacional e outra internacional.
Mizukami (2000, p. 153) afirma que um caso de ensino
É considerado instância da prática e não um modelo a ser imitado; exemplifica não só como a aula foi conduzida, mas também qual era a problemática do desempenho. Possibilita reinterpretação e múltiplas representações. É instrumento pedagógico que pode ser usado para ajudar os professores na prática de processos de análise, resolução de problemas e tomadas de decisões, entre outros processos profissionais básicos. Os casos sobre o ensino são importantes para o desenvolvimento de estruturas de conhecimento que capacitem os professores a reconhecer eventos novos, a compreendê-los e a delinear formas sensíveis e educativas de ação.
E, nas palavras de Judith Shulmam (1992, p. 21, tradução nossa):
Diria que um caso possui uma narrativa, uma história, um conjunto de eventos que ocorrem num tempo e num local específicos. Provavelmente inclui protagonistas humanos, embora nem sempre seja necessário que isso ocorra. [...] Acrescentaria o fato de que, em geral, essas narrativas de ensino possuem características compartilhadas. Narrativas possuem um enredo - começo, meio e fim. Também incluem uma tensão dramática que deve ser aliviada de alguma forma. Narrativas são particulares e específicas. Não trazem afirmações que possam ser generalizadas. São, quase que literalmente, locais - quer dizer, localizadas ou situadas. Narrativas revelam o trabalho de mãos, revelam pensamentos, motivos, concepções, necessidades, preconcepções, frustrações, ciúmes, falhas. Representações e intenções humanas são centrais nessas narrativas. Refletem os contextos social e cultural em que os eventos ocorrem. Casos, portanto, possuem ao menos duas características que os tornam importantes na aprendizagem: seu status de narrativa e sua contextualização no tempo e no espaço.
Considerando as características explicitadas anteriormente, os casos podem ser apresentados e utilizados de diferentes formas a partir da própria narrativa dos casos, dos objetivos formativos, dos participantes, do tempoespaço, dentre outras características.
Inspiradas pela produção de Domingues (2013), apresentamos uma compilação de informações mediadas por algumas questões que permitem pensar conceitualmente e metodologicamente sobre o tema.
Casos de ensino:
- São narrativas? São narrativas que possuem um enredo; expõem um único ou vários episódios escolares reais ou fictícios; oferecem um conjunto de informações, mas não conclusões (única solução ou resposta correta); retratam situação de conflito ou que gere diferentes respostas; combinam alguns elementos (análise, julgamento/avaliação, problematização, planejamento, decisão, etc.); podem apresentar diferentes linguagens (diálogos, imagens, trechos da produção do aluno, vídeos etc.);
- Articulam teoria e prática? Os casos de ensino permitem o estabelecimento de relação entre as práticas cotidianas e as teorias pedagógicas, ou seja, permitem que seus leitores pensem sobre as situações da prática, mesmo distanciados delas, e sobre suas teorias pessoais sobre ensino-aprendizagem e sua relação com as questões teóricas;
- Quem são os participantes? Estudantes em processos de formação ou em exercício (professores iniciantes e/ou professores experientes) e são utilizados no desenvolvimento profissional docente. Envolvem diferentes formas de agrupamento dos participantes (individuais coletivas ou ainda a combinação de ambas);
- Retratam quais espaçostempos? Podem contemplar diferentes contextos/espaços do processo educacional: gestão, comunidade, aluno, professor, sala de aula, currículo, ensino, aprendizagem, áreas específicas do conhecimento (ciências, matemática, história etc.), temáticas (educação inclusiva, áreas específicas do conhecimento, educação indígena etc.) entre outros e podem abordar diferentes tempos e fases do processo de aprendizagem da docência (da educação infantil ao ensino superior);
- E o que são métodos de caso? O caso de ensino é a narrativa em si e os métodos de casos são possibilidades formativas em que se faz uso de casos de ensino. Trabalhar com métodos de casos de caso pressupõe planejamento, tempo e mediação. Pressupõe basicamente dois momentos: (1) a leitura e discussão do caso de ensino (a partir da narrativa em si e das questões indagadoras), e (2) a construção dos casos de ensino. Todos os momentos podem envolver processos individuais e/ou coletivos numa perspectiva de redes colaborativas de formação docente. É importante ressaltar que esses momentos podem se dar tanto em ambientes presenciais, quanto em virtuais ou híbridos.
- O que são questões provocadoras? São questões que possibilitam a reflexão teórica e prática em torno da temática abordada no caso de ensino; ajudam a direcionar as discussões e explorar dilemas da prática pedagógica e do processo de ensino e aprendizagem; incitam a revisão de conceitos, teorias e métodos e instigam a pensar outras formas de ação. A título de exemplo, vejam as questões que foram apresentadas anteriormente sobre o caso de ensino Vamos Quintanear?.
- Como mediar a leitura de um caso de ensino? A mediação da leitura é considerada o primeiro momento do trabalho e do contato com a narrativa e é seguida pela discussão dos casos. Essa ocasião requer a reflexão sobre as orientações expostas anteriormente, que se relacionam diretamente com os objetivos do contexto formativo (tema, abordagem teórica, quantidade de participantes, tempo disponível). Na perspectiva do trabalho com narrativas, seja de forma remota e/ou presencial, necessário se faz momentos de leitura individual e coletiva, assim como discussões a partir de questões provocadoras. Assim, esse processo formativo exige tempo para a construção de aprendizagens. Os momentos de encontros são potentes à medida que os professores conseguem pensar, a partir da narrativa do caso de ensino, outras possibilidades de fazeres pedagógicos e refletir sobre as teorias que sustentam as práticas pedagógicas.
- Como mediar a construção um caso de ensino? Como já descrito anteriormente, o trabalho com casos de ensino e método de casos pressupõe basicamente dois momentos. Apresentamos, neste texto, algumas possibilidades para potencializar a escrita de um caso de ensino. O processo de escrita acontece depois de um processo estendido e potente de leitura e discussão de um ou mais casos de ensino. Isso permite que seus leitores, agora escritores, possam visualizar diferentes possibilidades de escrita: identificação do caso (qual é o caso?) e das pessoas envolvidas no caso, planejamento e desenvolvimento da sequência de detalhes (o dilema, problema ou conflito gerador, um ou mais elementos que sustentam o dilema/problema ou conflito), culminância/clímax ou indicativo de complicação do conflito e desfecho, se houver. Na nossa prática, sugerimos que, antes da escrita, o caso de ensino possa ser pensado a partir de alguns tópicos, dialogados com o mediador do grupo formativo: identificação do caso (qual é o caso?) e das pessoas envolvidas no caso, planejamento e desenvolvimento da sequência de detalhes (o dilema problema ou conflito gerador, um ou mais elementos que sustentam o dilema/problema ou conflito), culminância/clímax (se houver) ou indicativo de complicação do conflito e desfecho, se houver.4
Além do conjunto de informações descritas, pode-se dizer que, entre as muitas possibilidades, os casos de ensino se destacam tanto como uma ferramenta de formação docente quanto de investigação de seus processos formativos.
6 CASOS DE ENSINO, BASE DE CONHECIMENTO PARA O ENSINO E PROCESSO DE RACIOCÍNIO PEDAGÓGICO: QUAL A RELAÇÃO?
Para começarmos a finalizar esse diálogo, buscaremos relacionar os casos de ensino e os dois modelos explicativos de Shulman (1986, 1987) concernentes à forma como os professores aprendem a ser professor e a se desenvolver profissionalmente: (1) a base de conhecimento para o ensino e (2) o processo de raciocínio pedagógico.
A base de conhecimento para o ensino se materializa no repertório de conhecimentos que o professor deve possuir para atuar profissionalmente. Esses diferentes conhecimentos podem ser agrupados em: conhecimento de conteúdo específico (conhecimentos básicos de uma área), conhecimento pedagógico geral (conhecimento sobre o processo de ensinar e aprender) e conhecimento pedagógico do conteúdo (intersecção entre o conhecimento específico e pedagógico).
O processo de raciocínio pedagógico é o processo por meio do qual o professor constrói esses conhecimentos do ensino. É composto por seis subprocessos: compreensão, representação, instrução, avaliação, reflexão e nova compreensão. Esses subprocessos, quando vividos pelos professores numa perspectiva espiralada, impulsionam o desenvolvimento profissional da docência, contrapondo-se a um processo linear de aprendizagem, que exclui a possibilidade de uma nova compreensão, ou seja, de uma compreensão mais aprofundada das experiências vividas no início do processo de raciocínio pedagógico.
Na relação entre esses dois modelos explicativos de Shulman (1986, 1987), os casos de ensino e os métodos de casos adquirem importância na medida que se apresentam como um potencial para a aprendizagem e o desenvolvimento profissional da docência. Nessa perspectiva, privilegia-se o conhecimento pedagógico do conteúdo, que agrega os conhecimentos específicos e pedagógicos, sendo o único conhecimento do ensino construído por cada um dos professores ao longo de sua trajetória profissional, ao transformar os conhecimentos que possuem dos conteúdos em formas de práticas capazes de levar os alunos à aprendizagem.
Os casos de ensino contribuem com a formação de futuros professores (acadêmicos de cursos de licenciatura) e professores já em exercício à medida que potencializam a construção do conhecimento pedagógico do conteúdo.
A base de conhecimento para o ensino e o processo de raciocínio pedagógico dos professores de Shulman (1986, 1987), por meio de casos de ensino, a exemplo do Vamos Quintanear?, apresentam-se como dois modelos de grande importância para os processos formativos de professores. Mizukami (2000) afirma que os casos de ensino constituem importantes ferramentas formativas e investigativas
[...] ao possibilitar não apenas apreender as teorias pessoais dos professores, o processo de construção de conhecimentos profissionais, o desenvolvimento do raciocínio pedagógico, como também compreender o pensamento do professor - e de ensino - ao possibilitar o desenvolvimento profissional, a construção da base de conhecimento sobre o ensino, o desenvolvimento do raciocínio pedagógico e a construção do conhecimento pedagógico de conteúdo, que constituiria a especificidade da aprendizagem profissional. (MIZUKAMI, 2000, p. 156).
7 COMO TERMINAR UM DIÁLOGO QUE NÃO SE FINDA?
O término de um texto, assim como o início, não é tarefa fácil. Nesse momento, as palavras transbordam, o desejo de dizê-las é intenso. No entanto, todas elas não cabem nesse diálogo sem fim. Por isso, decidimos falar aqui sobre a potência dos casos de ensino na formação docente a partir da experiência amorosa das narradoras-autoras com o tema e de como se envolvem com os casos em relações de pertencimento. Não é difícil sentir-se contagiado(a) pelos casos de ensino, assim como se interessar pelo seu uso em diferentes áreas, como a educação.
Os casos de ensino possibilitam alavancar processos reflexivos necessários à formação de professores, a partir do uso de narrativas sobre práticas diferenciadas, como a que foi apresentada neste artigo, atravessada pela literatura. Assim, eles orientam e instruem docentes sobre como se organizarem para a escrita, indicando pressupostos para sua construção, bem como sua exploração como uma prática de formação-investigação. Sobre o potencial dos casos de ensino na formação de professores, Judith Shulman (2002, p. 17, tradução nossa) afirma:
Eu não tenho nem uma ilusão ou uma esperança de que a escrita baseada em caso de ensino poderia servir como um veículo suficiente para a formação de professores. Mas depois de mais de 15 anos de trabalho com esses casos escritos por professores e da pesquisa que estudo o seu impacto, estou convencida de que eles podem desempenhar um papel central em qualquer projeto sério de instrução para formação de professores.
Podemos afirmar que o uso de casos de ensino no Brasil, em diferentes possibilidades e com finalidades diversas, apresenta-se em fase ainda inicial. Há que se explorar essa ferramenta como potencializadora de reflexões em processos formativos. Concordando com Shulman, ressaltamos a importância da maior socialização do uso dos casos de ensino na formação de profissionais da educação, como possibilidade de reflexão sobre práticas em que eles próprios possam se ver nelas incluídos e, por assim ser, acreditarem na ressignificação, como um olhar no próprio espelho.
O caso de ensino Vamos Quintanear? apresenta uma perspectiva de mediação de leitura permeada pela construção de sentidos e, portanto, sensível e libertadora e ainda promove a construção de uma rede de afetos entre as crianças e os livros.
O trabalho formativo com esse caso, além de proporcionar a leitura de uma experiência poética com crianças, pretende possibilitar um olhar mais debruçado sobre a educação literária na escola, à medida em que provoca os professores a refletirem sobre a narrativa lida, estabelecendo links com suas próprias práticas num movimento de ressignificação e transformação do trabalho docente. O caso de ensino Vamos Quintanear? é um convite a uma docência atravessada pelo afeto, pela delicadeza, pela poesia, e pelo voo.