Introdução
A formação continuada é uma das dimensões do Desenvolvimento Profissional Docente - DPD, que deve preparar o/a professor/a para atuar em cenários de incertezas e mudanças. Contudo, estar imerso numa formação não é o suficiente para superar as fragilidades oriundas do contexto social, político, educacional, cultural que os/as docentes estão inseridos/as, ou seja, precisamos avaliar alguns aspectos para além da formação. Aqui em especial, analisaremos, à luz das concepções freirianas, as implicações do contexto de pandemia para um grupo de pós-graduandos/as em Especialização em Educação Infantil, de uma universidade pública do sul da Bahia.
Desde meados de março de 2020, com a pandemia da COVID - 19, as aulas presenciais foram suspensas e substituídas pelo Ensino Remoto Emergencial - ERE, de modo que, as atividades passaram a ser mediadas pelas tecnologias digitais e suas diferentes interfaces. Essa nova realidade trouxe alguns desafios para discentes e docentes que tiveram que se reinventar para dar continuidade ao trabalho docente e aos estudos, assim manter em vigor as medidas de segurança de distanciamento social instituídas pela Organização mundial de saúde.
Diante deste cenário, as tecnologias se tornaram fortes aliadas para amenizar os problemas sociais e educacionais, ocasionados pela situação emergencial. Foram os recursos tecnológicos que possibilitaram o desenvolvimento das aulas não presenciais e contribuíram para o processo de formação continuada de professores/as. Posto isto, nos debruçamos nas leituras freirianas para discutir os caminhos dessa formação, e suas contribuições para o pensar e fazer político na atuação profissional em cenário adverso. Dentre as obras destacamos: Medo e ousadia: o cotidiano do professor; Pedagogia do Oprimido; Por uma pedagogia da Pergunta; Pedagogia da Autonomia; Educação e Mudança; Educação como prática de liberdade, Educação e Política, entre outras.
Estas leituras se constituíram como um fio condutor para analisar as implicações do contexto de pandemia para formação continuada de professores/as da Educação Infantil, matriculados/as na pós-graduação latu sensu em Educação Infantil, no período de 2020 e 2021, de uma universidade pública estadual baiana. Para alcançar este objetivo adotamos uma pesquisa com abordagem qualitativa; visto que, permite o/a pesquisador/a um movimento que valoriza a subjetividade dos sujeitos envolvidos, de maneira construtiva e processual (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Essa abordagem possibilitou conhecer o contexto social em que os/as pesquisados/as estão inseridos/as, identificar os dilemas e perspectivas no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação -TICs, durante a formação continuada em contexto pandêmico.
Esta investigação implicou na realização de um questionário virtual, disponibilizado na plataforma Google Forms, contendo 17 perguntas; sendo 05 fechadas e 12 abertas. Nessa direção, questionamos aos/as pesquisados/as: Como foi se ver na formação continuada em Educação Infantil neste contexto de pandemia? Quais maiores desafios dessa formação e quais maiores aprendizagens? Houve algum investimento em pacotes de internet e ou em aparelhos tecnológicos para melhorar o acesso as aulas remotas? Quais foram as dificuldades no uso dos equipamentos tecnológicos (ferramentas, plataformas, aplicativos etc)? Como foi a interação nas aulas com os/as colegas e professores/as? Quais aquisições foram realizadas para a formação profissional? Quais implicações dessa pandemia para formação do professor/a de Educação Infantil? Como você avalia a formação que foi ofertada na Especialização em Educação Infantil?
O primeiro contato com os/as pós-graduandos/as foi por meio de e-mail e/ou mensagem de texto no aplicativo do WhatsApp, o objetivo foi apresentar a proposta da pesquisa e convidá-los/as para participação. A turma da Especialização em Educação Infantil tem um total de 33 alunos/as, destes/as 26 responderam o questionário, sendo 25 mulheres e 1 homem. Os/as pós-graduandos/as têm idade entre 24 a 53 anos, 21 são docentes da Educação Básica; dentre os quais, 14 lecionam na Educação Infantil. Nossos/as colaboradores/as têm entre 2 a 23 anos na carreira docente. Nesta investigação, usamos a letra “P” associada a um número para identificar os/as participantes da pesquisa, assim prezar pelo anonimato de nossos/as colaboradores/as. Destarte, os dados dos questionários foram apresentados e discutidos nas páginas subsequentes.
Esperamos com este estudo contribuir na reflexão sobre formação continuada dos/as professores/as de Educação Infantil, assim possibilitar aos profissionais formadores/as uma reflexão teórica/prática, social, política, cultural, emocional; bem como, anunciar as contribuições freirianas frente a complexidade deste cenário pandêmico que tem gerado fragilidades, tensões, incertezas e exigido mudanças sociais e educacionais.
Desafios e perspectivas no processo de formação continuada à luz das concepções freirianas: entre ação e reflexão
No Brasil, a formação docente foi afetada com a pandemia da COVID- 19, de maneira que os/as professores/as formadores/as foram convocados a reinventar a prática pedagógica utilizando das tecnologias para planejar as aulas síncronas e assíncronas. Entretanto, os mais variados desafios foram se descortinando, como por exemplo, a percepção que o pacote de internet que antes supria as necessidades, passa a ser insuficiente; os aparelhos tecnológicos incidem a não comportar a quantidade de aplicativos, ferramentas, plataformas etc; além de gastos com a aquisição e manutenção dos aparelhos tecnológicos (CRUZ; COELHO; FERREIRA, 2021). Outro aspecto importante a destacar é que, o ambiente doméstico foi invadido pela profissão e estudo acadêmico, o que gerou a intensificação da jornada de trabalho, tudo isso se desdobra na precarização da profissão docente.
A esse respeito, os dados desse artigo revelam que dos/as 26 pós-graduandos/as pesquisados/as, 21 realizaram algum tipo de investimento em pacotes de internet ou aparelho tecnológico, tais como: aumento da velocidade da internet, aquisição de smartphones, notebooks, carregador de celular; além de, mesa, cadeira, consertos de aparelhos eletrônicos inativos. É importante destacar que o maior investimento ocorreu no aumento de gastos com internet, energia, aparelhos tecnológicos e sua manutenção, oriundos do ensino remoto, já que, são elementos necessários para que o processo aconteça.
Indubitavelmente, essa situação demanda dos/as governantes ações imediatas e atualizadas, o que exige empreender esforços sistemáticos para ofertar as melhores condições de formação continuada docente. Não dá para pensar uma formação continuada docente desassociada das mudanças do mundo, posto que, esta formação tende a despertar a conscientização e o compromisso do profissional com a sociedade (FREIRE, 2018).
Sob esta perspectiva, Cruz, Coelho e Ferreira (2021, p 1004) apontam que, “Os/as docentes necessitam ser contemplados por políticas públicas educacionais de formação que dialoguem com o contexto contemporâneo”. Com base nessa compreensão, defendemos que as políticas públicas educacionais de formação de professores/as no Brasil, precisam ser prioritárias; pois, um país que investe em educação tem maior probabilidade de ascensão social.
No que concerne o uso das tecnologias, 17 participantes relataram dificuldades; dentre as quais, relataram os desafios para compreender a funcionalidade dos aplicativos, das plataformas e ferramentas digitais. Citaram: “projetar telas, vídeos, músicas e outros” (P8); “Apresentar slides no Google meet” (P10); “Ter que dividir o uso do computador com outras pessoas que também precisavam utilizar nesse novo contexto” (P11). Agregado a isto, soma-se às condições infraestruturais dos lares da família brasileira, pois os pais/mães/filho(as) e demais familiares dos/as pós-graduandos/as, tiveram que adotar o home office. Isto se reverte em necessidades/demandas de acesso à rede e equipamentos.
Como nos asseveram Ferraz, Ferreira e Ferraz (2021, p. 5) “Este ensino, mesmo em situações como esta (de crise pandêmica), pode se materializar, mas com limitações”. Essas limitações podem ser superadas a medida que não se pautam a formação em ineditismo e decisões isoladas, ou seja, há que ser planejada e executada pela coletividade, a partir de um trabalho colaborativo, emancipatório e humano.
Os/as colaboradores/as desta pesquisa foram convidados/as a falar como foi se ver na formação continuada em Educação Infantil, neste contexto de pandemia. O quadro abaixo demostra os mais variados desafios, mas também, apresentam algumas perspectivas apontadas pelos/as pós-graduandos/as.
P1 | Foi muito desafiador |
P2 | Péssimo, eu nunca tinha estudado na modalidade de ensino remoto |
P3 | Um novo contexto, uma experiência nova |
P4 | Desafiador, porém gratificante. |
P5 | Foi extremamente desafiador. Uma vez que não estávamos preparados para vivermos tão isolados e tendo que assistir aulas na modalidade remota. |
P6 | Foi um desafio devido ao caos que estamos vivendo. Mas foi gratificante. |
P7 | Foi bem complicado. Ter disposição e tempo para atividades remotas foi o que considerei mais difícil. |
P8 | Sentimento de impotência a todo instante e necessidade de ficar triste por não atingir as crianças com necessidades especializadas. |
P9 | Apesar da especialização ser um sonho, foi muito difícil. |
P10 | Para mim foi tranquilo. Apesar de todo contexto de incertezas, mortes e muita pressão cotidiana. Sou de outra cidade e teria que viajar todas as vezes que tinha aula, ficar em casa nesse período, podendo estudar e está com a família, foi uma boa opção. |
P11 | Difícil |
P12 | Me esforçando ao máximo pra conseguir chegar ao final |
P13 | Alguns momentos foram difíceis, mas foram superadas todas as dificuldades e os medos ao longo do processo. |
P14 | Muito difícil |
P15 | Bastante desafiador, visto todas as coisas que aconteceram e vêm acontecendo, notícias, tragédias e dificuldades com questões de tecnologia, recursos, questões psicológicas, sociais. Dificuldades de se manter, já que não conseguia conciliar pra conseguir emprego. |
P16 | Nessa pandemia tenho sentindo muito cansaço, estresse com essa rotina de estudos. Sinto saudades das aulas presenciais, mas procuro realizar as atividades da melhor forma possível. |
P17 | Momento desafiador, que nos impulsionou a mudar bruscamente. Foi e está sendo difícil ainda mas vencemos uma batalha a cada dia. |
P18 | Diante de um enorme desafio |
P19 | O ensino remoto foi desafiador e um pouco desgastante |
P20 | Insegura, mas com muita vontade de aprender e fazer da melhor maneira possível para que o aluno se desenvolva. |
P21 | Foi um grande desafio: cheio de superações. |
P22 | Desafiador. Percebi que é importante cuidar da nossa saúde mental, que a interação do presencial faz muita diferença nas relações e trocas. |
P23 | Possibilitou ver outras possibilidades de formação, sobretudo de forma online. Tive acesso a situações que jamais imaginei. Participei de formação de outro estado e até mesmo de outros países, sem falar nas diversas ferramentas que aprendi a usar. |
P24 | Muito exaustivo |
P25 | Um desafio a ser cumprido, perdida, com medo, mas confiante. |
P26 | Foi diferente e desafiador |
Fonte: Dados do questionário de pesquisa (2021)
Os dados mostram que os/as pós-graduandos/as vêm enfrentando sérios problemas na formação nesta modalidade não-presencial, o que provocou um desgaste no campo psicológico e financeiro. Alguns se sentiram péssimos/as, inseguros/as, impotentes, exaustos, desafiados/as a conciliar estudo e trabalho. Contudo, alguns também apontaram aspectos positivos, como o desafio de buscar o novo, a oportunidade de realizar uma formação em casa e perto da família, economia no deslocamento para a universidade, entre outros.
Os dados nos revelam que estas novas exigências para realizar uma formação continuada remota se misturaram aos trabalhos domésticos, profissionais e atividades estudantis, o que resultou na necessidade de buscar novos saberes para conhecer plataformas digitais e aparelhos tecnológicos. Muitos buscaram a participação em cursos e eventos sobre o tema. Tudo isso, nos faz pensar sobre as contradições que surgem neste contexto pandêmico: ao mesmo tempo que tudo isso é necessário para atender as demandas atuais de uma formação remota, também ampliam-se tarefas e atividades, colaborando para um esgotamento físico e emocional. Nóvoa (2020, p. 9) nos provoca:
O que devemos pensar, num horizonte de futuro? Compreender que, depois da crise, os espaços-tempos escolares devem ser reorganizados, construindo novos ambientes colectivos de aprendizagem (novos ambientes educativos), que sejam também capazes de valorizar a capilaridade, isto é, a existência de possibilidades educativas em muitos outros espaços de cultura, de conhecimento e de criação (NÓVOA, 2020, p.9).
Em linhas gerais, este contexto inédito que atravessamos na sociedade, requer de todos/as uma ação conjunta, particularmente dos/as professores/as e do poder público. Será necessária uma práxis (re)existente numa perspectiva dialógica, para potencializar a participação de estudantes em formação. Freire (2005, p. 77) nos apresenta a essencialidade desse espaço dialógico.
As sociedades a que se nega o diálogo-comunicação - e, em seu lugar, se lhes oferecem "comunicados" resultantes de compulsão ou "doação", se fazem preponderantemente "mudas". O mutismo não é propriamente inexistência de resposta. É a resposta a que falta teor marcadamente crítico.
Romper com o silenciamento das práticas formativas supõe a abertura para um planejamento dialógico. Assim sendo, na formação continuada, reforçamos a necessidade da abertura para o diálogo, favorecendo uma formação profissional, que contemple as necessidades do contexto de incertezas e imprevisibilidades do cenário educacional atual e o porvir. Contudo, é essencial que faça investimentos direcionados às várias dimensões da formação1, tanto no campo profissional como pessoal.
Percebemos que esta realidade ocasionada pela pandemia, implicou na formação de um novo perfil profissional docente, o que exigiu do/a professor/a formador/a os seguintes questionamentos: Como os/as professores/as em formação aprendem remotamente e quais são as suas reais necessidades de aprendizagens? Para o momento atual, investimos na defesa de uma formação continuada que contribua para romper com a homogeneização da formação e atender as peculiaridades de cada docente, considerando sua saúde mental e física, bem como suas condições de enfrentamento da pandemia, haja vista que, cada professor/a vive a formação continuada de maneira individual, ainda que esta ocorra no coletivo.
Corroborando com essa reflexão, Freire e Shor (2008), defenderam a valorização da formação docente. Segundo os autores, é na formação que se vivencia as experiências para construção de conhecimentos e saberes necessários na atuação profissional. O/a professor/a em formação aprende a docência a partir dos seus itinerários de vida, destarte, Imbérnon (2011) aposta numa proposta de formação docente que favoreça a autonomia, que possibilite o/a professor/a a resolver situações problemáticas oriundas da atualidade e, assim, propiciar vivências reais do cotidiano escolar.
Desse ponto de vista, o arcabouço das obras de Paulo Freire traz subsídios para pensarmos a peculiaridade de cada docente em formação, visto que, o referido autor em seus variados livros perspectivam o homem/mulher como ser inacabado, inconcluso e finito, dotado de curiosidade e de um ímpeto ontológico criador, que pode contribuir na construção dos saberes, do conhecimento, da autonomia, de uma práxis autêntica e de uma política tão necessária a atuação profissional docente em um mundo em mudança (FREIRE, 2002; 2007, 2018; 2020).
Freire (2007) aponta que a formação permanente precisa ser contextualizada para dar conta das demandas profissionais e, mais, para contribuir na constituição de um profissional que tenha comprometimento com as transformações sociais emancipatórias. O autor sugere:
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu “distanciamento” epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise, deve dela “aproximá-lo” ao máximo. Quanto melhor faça esta operação tanto mais inteligência ganha da prática em análise e maior comunicabilidade exerce em torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. Por outro lado, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica (FREIRE, 2007, p. 39).
A formação permanente é vista pelo autor como um lugar que deve preparar o/a professor/a para o enfrentamento dos dilemas de sua profissão, espaço de pensar criticamente a prática, de sanar os obstáculos epistemológicos, de estimular a curiosidade, a criatividade, a vontade de ser mais; isto é, mais humano, mais estudado, mais humilde para romper com a consciência ingênua e construir uma consciência crítica do mundo.
O mundo é permeado por vicissitudes e, certamente, viver a situação pandêmica da Covid-19 é desafiador. Os/as participantes da pesquisa apontaram os maiores desafios enfrentados neste contexto:
P1 | Nesse contexto da Pandemia o desafio foi a adequação a nova modalidade de ensino. |
P2 | Adaptação do espaço, uso das tecnologias. |
P3 | Conciliar o dia a dia com o ensino remoto, ou seja, família, trabalho, casa e tudo isso junto ao contexto pandêmico da atualidade, muito complexo. |
P4 | Conciliar o estudo/aprendizagem no curso com as demandas de preocupação com a saúde de todos. |
P5 | Foi enfrentar o isolamento. Ter que produzir trabalhos com o psicológico muito afetado. E, por vezes, vivenciar os problemas da internet. |
P6 | Com a chegada da pandemia, o grande desafio foi lidar com o turbilhão de sentimentos com tantas coisas acontecendo. Tirando a pandemia, foi enfrentar a realidade da Educação Infantil no contexto da educação. |
P7 | O maior desafio foi a Especialização ter se tornado remota por conta da pandemia. Claro que isso foi necessário, porém retomar o mesmo ritmo de estudos foi bem difícil. |
P8 | A necessidade de organizar trabalho e rotina de estudos... e a pressão da universidade que não é tão flexível com a burocracia, trata muitas vezes como educação da "época medieval" |
P9 | O enfrentamento da ansiedade e do auto controle. |
P10 | Estudar sozinha, sem contato físico com os colegas e professores. Organizar o tempo e se desdobrar entre casa, trabalho, filho, esposo, comidas, igreja. Foi bem turbulento. |
P11 | Internet, filhos, desemprego, ansiedade. |
P12 | Insônia, falta de ânimo. |
P13 | Algumas vezes lidar com o desconhecido, isso é um grande desafio. |
P14 | Ter que cumprir com as obrigações de estudos passando por situações difíceis como medo da doença, medo de morrer, de perder pessoas queridas e de perder o emprego. |
P15 | Recursos tecnológicos, questões psicológicas, sociais, falta de emprego, incertezas do amanhã, falta de ânimo. |
P16 | No momento, a quantidade de atividades. |
P17 | Lidar com o novo mesmo tendo dificuldades com as tecnologias dentre tantos outros desafios desta forma de ensino a distância. |
P18 | Conciliar o estudo com a rotina de trabalho. |
P19 | A disponibilidade de conexão, assim como muito tempo em frente a tela. |
P20 | Tempo, problemas pessoais que acabaram interferindo. |
P21 | Ter, neste último semestre pandêmico, aulas todas as sextas-feiras e com duas disciplinas simultâneas. |
P22 | Dar conta das demandas em um cenário de incertezas. Conseguir organizar a rotina da casa com os estudos. Dar conta de todas as demandas escolares. |
P23 | Disponibilidade de tempo e acesso à internet. |
P24 | O maior desafio foi conciliar os estudos com todos os revés da pandemia. |
P25 | Um desafio a ser cumprido, perdida, com medo, mas confiante. |
P26 | Domínio dos aparelhos tecnológicos, a distância com todos os contatos. |
Fonte: Dados do questionário de pesquisa (2021)
Ademais, os/as participantes desta pesquisa foram desafiados/as a experienciar um contexto de pandemia inédito, assim, tiveram que lidar com o medo, a insegurança, a incerteza, a ansiedade, a insônia, o desemprego, a doença, a morte, o isolamento social; em outras palavras, tiveram o psicológico afetado; aliado a isso, tiveram também que lidar com os aspectos burocráticos da universidade, conciliar estudo/família/trabalho, adaptar às novas tecnologias e ao ensino remoto, gerenciar a instabilidade da internet, entre outros mais.
É no meio de toda esta complexidade que os/as professores/as formadores/as têm fomentado a formação continuada de professores/as, de modo que esta representa, no atual contexto educacional, expressiva preocupação no meio acadêmico, dados os possíveis impactos oriundos da pandemia para formação de professores/as brasileiros/as.
Na realização de uma pesquisa com professores/as do Ensino Superior; Cruz, Coelho e Ferreira constataram que:
A pandemia se mostra tão nociva a profissão quanto capitalismo, o neoconservadorismo e o desgoverno. Os dados revelam que o ensino remoto exige dos professores a reinvenção dos modos de ensinar, mesmo com pouco tempo e recursos, e sem formação (continuada ou não) para tal. São limitações que restringem olhares, espaços, interações e a socialização.
Indiscutivelmente, o atual cenário de pandemia exige um/a profissional docente que assuma uma postura de luta política para romper com a precarização do seu trabalho, pois a situação de emergência sanitária reverbera um cenário de intensa jornada de trabalho docente, bem como, a escassez de recursos tecnológicos, insuficiência ou ineficiência do sistema de saúde, o que reflete, negativamente na atuação profissional e nos estudos. Cabe assinalar, neste caso, que o atual contexto requer ações inéditas para subverter o descaso que estão imersos os/as docentes e os/as discentes brasileiros/as.
Diante das falas dos participantes da pesquisa, é evidente que a formação do/a professor/a, seja inicial ou continuada, não deve se descuidar da formação ontológica do ser, de colaborar para inserir o/a docente no seu contexto histórico, assim provocar a libertação pelo processo de conscientização, como disse Freire (2018, p. 83):
Quanto mais for levado a refletir sobre sua situacionalidade, sobre seu enraizamento espaçotemporal, mais “emergirá” dela conscientemente “carregado” de compromisso com sua realidade, da qual, porque é sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais.
O/a professor/a, no seu processo de formação necessita ter a oportunidade de enxergar a realidade, poder analisá-la como ela é, para de posse disso, sair da consciência ingênua e construir uma consciência crítica, esse processo tende a contribuir para sua atuação profissional, pois para intervir numa dada realidade é preciso conhecê-la. Porém, para que isto ocorra, faz-se necessário uma formação pautada no diálogo, na escuta, na criticidade, na amorosidade, na esperança, na confiança, na autonomia, no currículo contextualizado, enfim, na relação afetiva entre todos envolvidos no processo da formação.
Formação continuada de professores/as da educação infantil para o cenário de mudanças e incertezas sociais e educacionais
Formar um/a professor/a para atuar em cenário de mudanças e incertezas implica nas universidades reconfigurarem os currículos dos cursos de graduação e pós-graduação, trazendo a profissão para dentro da formação (NÓVOA, 2017), ou seja, reorganizar o lugar da formação docente a partir dos aspectos sociais, políticos, culturais, econômicos, entre outros.
No Brasil, com a chegada da pandemia no início do ano de 2020, esses aspectos foram alterados, ao passo que, o lugar de aprender e ensinar a profissão docente, ganham novos contornos e espaços, saem da sala de aula para a tela do computador/smartphone, tablet etc; contudo, é necessário garantir o diálogo, a escuta, a investigação, a problematização, a análise crítica da realidade, etc.
Para Freire (2001, p. 36), “as doutrinas neoliberais procuram limitar a educação à prática tecnológica. Atualmente, não se entende mais educação como formação, mas apenas treinamento”. Esse aspecto enfatizado pelo referido autor, nos provocar uma reflexão - ter cuidado para não excluir os/as alunos/as do processo da aprendizagem e/ou ofertar uma educação bancária (do silêncio para a subserviência). Isso tudo, exige dos/as profissionais da educação uma reflexão crítica sobre a prática.
A pandemia é uma ruptura com a rotina que já fazia parte do cotidiano das pessoas, este contexto inédito se configuram como uma espécie de exílio. Freire e Faudez (1998, p.10) afirmam que, “ninguém se exila por opção”. Além disso, os referidos autores refletem que:
É um equívoco pensar que o exílio é pura negatividade. Ele pode constituir-se também num ensaio de profunda riqueza, de profunda criatividade, se, na briga pela sobrevivência, o exilado consegue um mínimo de condições materiais, aí, a questão que se coloca é a de saber se somos capazes de apreender os fatos em que nos envolvemos no exílio, ou não, para então aprender deles (FREIRE, FAUDEZ, 1998, p.8).
Neste contexto de distanciamento social ocasionado pela pandemia, ficamos exilados, longe dos abraços, das visitas, dos festejos, das comemorações, isto é, perdemos a liberdade de promover encontros coletivos. Tivemos que esperançar, como diz Freire (2003), esperar na ação. Essa nova realidade exigiu apreender e aprender as positividades do contexto atual, avaliar as possibilidades de atuação política para subverter a precariedade da formação docente. Nesse ínterim, alguns/as pesquisados/as revelaram o rompimento com os aspectos negativos da pandemia e apresentam as aprendizagens provocadas por ela:
P1 | Consegui aprimorar meus conhecimentos. |
P2 | Que embora estejamos longe, é possível estarmos perto. |
P3 | Que existem novas formas de ensino e que mesmo diante das dificuldades é possível |
P4 | Continuar acreditando que a Educação Infantil é um importante "lugar" de valorização do brincar e do aprender, embora os espaços/territórios de Educação Infantil tenham sido extremamente impactados pela pandemia do novo coronavírus. |
P5 | A superação. Nós professores conseguimos com todos os esforços, alcançar a atenção das famílias e das crianças. Algo que para mim parecia impossível. Pois, se sabe que a criança aprende de forma livre e precisa estar em ambientes que lhe proporcionem exploração e experimentação. Foi maravilhoso ver como aprendem mesmo sentados em frente às telas. |
P6 | Que a luta por dias melhores na Educação é diária. É preciso se posicionar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos, tirar do papel e trazer para o dia a dia. |
P7 | As aprendizagens foram muitas. Não serei mais a mesma pessoa e muito menos a mesma professora. Me tornei melhor para os meus alunos e isso me deixa muito feliz. |
P8 | Refletir com a turma de colegas experientes... diversos depoimentos intrigantes e reverberantes. |
P9 | Sobre as crianças bebês, o respeito à infância e toda a sua identidade sócio cultural. |
P10 | Superação, força, determinação, prioridades, disciplinas. |
P11 | Importância da educação infantil. |
P12 | Superação. |
P13 | Foram tantas, mas diria que foram as novas práticas e as novas aprendizagens. |
P14 | Que podemos tudo colocando Deus em primeiro lugar, tendo fé, amor, determinação e sempre disposto a contribuir com o próximo, pois nessa vida um dia estamos ajudando e no outro podemos está precisando de ajuda. |
P15 | Aprendizagem de que todas as coisas são possíveis quando queremos, um sentimento de ter dado certo, que com todo cenário caótico conseguimos vencer. E a certeza de que irei ser um profissional melhor, com mais conhecimentos, com vontade de transformar, auxiliar quem não tem condições de ter os mesmos conhecimentos que tivemos. |
P16 | A importância da educação infantil; as legislações que regem a educação infantil; o meu papel como docente. Essa especialização transformou o meu olhar a respeito da educação. |
P17 | Uma das maiores aprendizagens foi que devemos nos empenhar e lutar em busca de nossos ideais e nos moldar a cada dia, pois a vida exige que façamos o melhor sempre. |
P18 | Autoconhecimento - empatia. |
P19 | O maior entendimento foi a importância das relações humanas. |
P20 | Paciência, coletividade, recursos tecnológicos. |
P21 | Para não desistir da sua formação continuada é preciso ter muito foco e persistência no seu objetivo. |
P22 | Que é importante cuidarmos do nosso psicológico. Que é importante a gente ter tempo pra nós. Não se deixar desanimar pelos desafios. Que conseguimos superar as barreiras tecnológicas. |
P23 | Aprender novas possibilidades de formação. |
P24 | Priorizar a infância. Entender que existem várias infâncias Compreender que é dever de toda sociedade civil garantir os direitos das crianças Não esquecer nunca que o brincar é aprendizado. |
P25 | Todas as disciplinas conseguiram transmitir um aprendizado que irei guardar por toda a minha vida. |
P26 | Sobre resiliência. |
Fonte: Dados do questionário de pesquisa (2021)
As respostas acima mostram que, mesmo em situação emergencial, houve reflexão, ação e, consequentemente, aprendizado. Os/as pesquisados/as redescobriram novos caminhos para estudar e aprender, o que gerou aprimoramento dos conhecimentos e dos saberes oriundos da experiência. As aprendizagens reforçaram a fé, o amor, a resiliência, a paciência, o trabalho coletivo, a superação de desafios, a busca pelo autoconhecimento e melhoria enquanto ser humano.
Freire (2018), no seu livro Educação e mudança, apresenta a capacidade que o ser humano possui para acompanhar uma sociedade em mudança e aprender com ela. Com medo, mas também com ousadia, os/as pós-graduandos/as atravessaram o difícil caminho de participar de uma formação em um contexto totalmente adverso e tirar as possíveis aprendizagens.
As aprendizagens acima elencadas, revelam o arcabouço de conhecimento sobre a infância, tão necessários a qualquer pessoa que se dispõe a cursar uma especialização em Educação Infantil, seja presencial ou não. Muito provavelmente, estes/as docentes conseguirão ofertar uma educação mais humanista em suas práticas profissionais, já que se permitiram passar pela experiência, o que tende a promover o processo de conscientização.
O caminho que Freire (2002) encontra para quebrar uma educação antidialógica, autoritária, bancária, pessimista é o da conscientização crítica, é essa consciência que observamos nas falas do quadro acima. A educação para liberdade e para responsabilidade política e social, requer um/a profissional docente engajado na busca pelo conhecimento de si e dos outros, de um conhecimento pedagógico para dar conta de sua atividade profissional.
Os/as pós-graduandos/as fazem um balanço da especialização e apresentam a avaliação dessa formação em contexto remoto:
P1 | Excelente. Os professores todos são muito competentes, comprometidos e organizados. |
P2 | Entendo que o curso foi adaptado dentro das possibilidades possíveis, mas o fato das aulas serem semanalmente trouxe alguns transtornos, tivemos que conversar no trabalho e muitas vezes os nossos empregadores não foram compreensivos. Contudo, entendo que as disciplinas foram cumpridas para que não ficássemos em prejuízo. Foi um resultado bom diante das nossas possibilidades. |
P3 | Excelente. Acresceu muito na minha formação acadêmica |
P4 | Coerente para o momento delicado, sensível e humano. E competente também! |
P5 | Me trouxe reflexões profundas. Um curso de excelente nível, com professores altamente capacitados e sensíveis. Muito necessário a minha formação. |
P6 | A formação é de grande contribuição para nossas práticas nas escolas. O que falta é tempo para a troca de grandes experiências e vivências. Agradeço a oportunidade. |
P7 | Foi muito boa. É um curso bem amplo, ótimos professores, bem organizado. Atende as expectativas dos profissionais que querem conhecer mais sobre essa etapa da educação. |
P8 | Grade de professores precisam ser avaliados... muitos baseados na mesma correntes de pensamento ou corrente ideológica. Vivemos em um mundo plural e heterogêneo e devemos pensar em uma formação que nos provoque e nos questione sobre as singularidades. Boa parte das análises são fundamentadas em mesmo raciocínio e mundo utópico. Estou cansado de ouvir as mesmas coisas da graduação de pedagogia... parece que estou sendo adestrado para ser soldado de um mundo falso e doutrinário. |
P9 | Muito boa. É impossível sair com o mesmo olhar. |
P10 | Muito boa. |
P11 | Excelente |
P12 | Apesar das limitações, percebi um profissionalismo e um esforço por parte de toda equipe e foram esses esforços que não deixaram eu desistir. Parabéns a todos e obrigada. |
P13 | Foi excelente. |
P14 | Excelente. Todos os professores foram maravilhosos com muito amor e atenção com os alunos. |
P15 | Muito boa, contribuiu de forma significativa para minha formação pessoal e profissional. Professores humanos, solícitos, dispostos a fazer o melhor mesmo distante. |
P16 | Menos que isso não é possível. Professores maravilhosos, sabemos que é um período complicado, mas todos fizeram o melhor. |
P17 | De ótima qualidade com boas abordagens embora tenha sido de forma remota contribuiu muito para nossa formação. |
P18 | Ótimo! |
P19 | A formação foi de grande relevância para o processo formal do professor, possibilitando uma maior interação com a organização didático pedagógica. |
P20 | Foi muito boa. Professores nos ajudaram bastante na medida do possível. |
P21 | Neste último trimestre, foi boa. Poderia ter sido melhor se não houvessem duas disciplinas simultâneas e todas as sextas-feiras. |
P22 | Foi boa, acredito que por conta do tempo perdemos alguma interações e contribuição das atividades presenciais. |
P23 | Muito positiva pelo fato de poder usufruir de tudo que foi proporcionado. |
P24 | Avalio como muito boa. Mesmo com as aulas remotas as disciplinas não deixaram que abordar tudo que estava no programa da disciplina |
P25 | Maravilhosa, excelente! |
P26 | Dentro do contexto satisfatório. |
Fonte: Dados do questionário de pesquisa (2021)
Embora as aulas e as orientações dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Educação Infantil tenham ocorrido online e/ ou virtual, sem a tradição da modalidade presencial, os dados demonstram que, 25 dos 26 pesquisados/as, avaliam o curso ofertado como positivo. Essas respostas sugerem que a formação vai além dos muros de uma universidade, ou seja, depende do contexto, mas também, depende de um trabalho coletivo entre professores/as formadores/as e discentes em formação continuada.
Uma formação continuada docente deve ser baseada no diálogo, no respeito mútuo e na escuta sensível. É no processo da interação com o outro que vamos nos constituindo como ser humano. É na interação entre docentes e discentes que se constitui a identidade profissional. Dos/as 26 colaboradores/as, 25 apontaram que a participação nas aulas foi excelente, o que contribuiu para conhecer a realidade experienciada pelos colegas e fazer o acolhimento. Temos alguns relatos da interação nas aulas: “Com muitas trocas de experiências e aprendizagens” (P11). “Foi bem divertido. A turma e os professores deixaram os momentos bem descontraídos” (P13). “Acesso e trocas de materiais também foi um ponto positivo” (P14). “A interação foi muito boa, mesmo estando distantes, os professores trabalharam da melhor maneira pra ser menos cansativo, mais participativo. Porém, por questões de recursos nem sempre conseguia interagir nas aulas” (P19).
Após análise do Quadro 4, acreditamos que os/as pós-graduandos/as conseguiram superar a situação limite imposta pela pandemia ao cursar uma especialização não presencial. Para Paulo Freire (2003; 2019), uma situação limite se configura como uma espécie de obstáculo/barreira que interpõe a vida e nos desafia na busca pela superação, contudo, para isto, observamos que exigiu dos/as pesquisados/as uma esperança em movimento, em ação concreta. Em suma, na situação limite as pessoas “se sentem mobilizadas a agir e a descobrirem o inédito-viável” (FREIRE, 2003, p. 206). O contexto de pandemia, provocou a elaboração do “inédito viável” e favoreceu a educação, de modo que, docentes e discentes se reinventaram com novas possibilidades de ensino/aprendizagem, para além da sala de aula.
Contributos do pensamento freirianas para formação continuada de professores/as
O debate sobre os contributos freirianos são vastos, seu pensamento ganhou espaço em diversas teses, dissertações, artigos, livros, palestras, lives etc.; de maneira que, seu pensamento continua vivo nos mais diversos estudos, seja no campo da alfabetização de adultos, dos movimentos sociais, da extensão agrícola, da educação popular, da formação de professores, do ensino de ciências, das pedagogias alternativas, e mesmo, da política educacional e da teologia da libertação , entre outras mais (GERBASI, 2013). Os pressupostos de Paulo Freire, sem dúvidas, contribuem significativamente no fortalecimento dos aspectos críticos e humanistas da educação, ao passo que, despertam e propõem reflexões sobre a educação em seus múltiplos aspectos.
Após um século, a práxis educativa de Paulo Freire continua, portanto, nos inspirando na repolitização do nosso olhar para realidade da educação brasileira, isso ficou evidente nas respostas dos/as pesquisados/as; 24 dos/as participantes acreditam que as concepções freirianas podem contribuir para a formação continuada dos/as professores/as de Educação Infantil e para a reinvenção de um novo cenário educacional brasileiro. Dentre estes, 14 (quatorze) relataram as suas impressões. No quadro abaixo, elencamos alguns pontos: a) Práxis docente; b) Educação; c) Formação docente
Práxis docente | |
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P4 | Leitura, reflexão, diálogo, debate e conscientização |
P5 | Um pensamento mais tolerante e reflexivo dentro de nossas práticas pedagógicas |
P7 | Entender a realidade do seu /sua aluno/a e dessa forma desenvolver o seu trabalho pedagógico, principalmente nestes anos de pandemia em que foi "demaquilada" as demandas sociais do nosso país. |
P18 | O diálogo e ação pedagógica crítica e libertadora |
P20 | O olhar sensível cada vez voltado para o aluno, trabalhar com aluno a partir de sua realidade |
P23 | Dialogicidade, reflexão crítica sobre a prática e inserção de fatores sociais à prática educativa. |
Educação | |
P9 | A compreensão de que Educação é vida, vivência do dia a dia e não apenas uma preparação para a vida. |
P12 | Aprendemos muito com nossas crianças, com suas vivências. Sala de aula é uma troca de aprendizagem. |
P13 | Olhar para os alunos e acreditar que eles podem construir o conhecimento juntamente com o professor. |
P16 | Educação para vida, para a consciência. Onde o aluno precisa ler o mundo para que o transforme. |
Formação docente | |
P1 | Paulo Freire defende a autonomia dos sujeitos e isso é necessário para uma boa formação. |
P10 | A concepção de sujeitos, seu processo de desenvolvimento, seus estágios. São concepções e aprendizagens que ajudam o educador a compreender melhor o processo de desenvolvimento dos sujeitos, mas não devem ser a única forma ou meio, devemos sempre estudar e buscar outras teorias e novas concepções de criança e infâncias para nos auxiliar no processo pedagógico. |
P21 | Freire tem a contribuir com toda a educação, inclusive com a das crianças pequenas. O estudo sobre os saberes da docência (Pedagogia da Autonomia) é importantíssimo na formação de um professor reflexivo; considerar que a criança é, também, um ser social; e, muitas outras. |
P25 | Uma educação mais humanizada, vivenciando os valores do cotidiano, colocando os alunos a construírem o seu próprio conhecimento através da sua cultura, costumes e hábitos, formando assim cidadãos humanos, críticos e construtivos de uma sociedade melhor. |
Fonte: Dados do questionário de pesquisa (2021)
As percepções dos pós-graduandos/as acerca das contribuições do pensamento freiriano para o processo de formação continuada, na Educação Infantil e para reinvenção dos saberes e fazeres docentes, são inegáveis. Retratam que através de Paulo Freire é possível reconstruir e reinventar a educação, através de uma práxis docente.
Sob essa prisma, precisamos definir práxis na perspectiva freiriana. De acordo Paulo Freire (2007; 2018), os homens/mulheres são sujeitos da práxis, a medida, porém, que se permite o movimento de ação e reflexão, posto que é a práxis que possibilita a transformação do mundo. Nessa ótica, o referido autor, aponta que para a consolidação de uma práxis docente é necessário o diálogo - ferramenta que permite as trocas de conhecimentos, saberes, experiências, pensamentos, atitudes, sentimentos, comportamentos, etc.
Nesse sentido, os/as pós-graduandos/as apontam que Paulo Freire pode contribuir para: leitura, reflexão, debate, conscientização, criticidade, libertação, dialogicidade, ser mais tolerante, entender a realidade dos/as estudantes e ter um olhar sensível. Como podemos observar, o quadro acima nos mostra que, algumas palavras geradoras das obras freirianas se fazem presentes nas respostas dos/as colaboradores/as e pressupõem aprendizagens significativas para o processo de formação continuada.
Além disso, notamos que, para os/as pesquisados/as a educação é vista como prática social viva e o processo educativo é lugar de troca de aprendizagem; tanto para docente, quanto para discente, ambos aprendem juntos/as. O diálogo é uma ferramenta essencial para que isto ocorra, visto que sem diálogo, não há trocas de aprendizagens. Tem de um lado, o/a professor/a que só falar, e do outro, os/a alunos/a que só escutam, este tipo de prática favorece, o que Freire (2019;2020) chama de educação bancária.
Freire (2007, p. 47) nos lembra que “ensinar não é transferir conhecimento”. Tudo isso supõe que quando o/a docente ensina, ele/a também se coloca na posição de aprendiz, se lança na direção de uma experiência construtiva do conhecimento, pautada, como diz o referido autor, na ética, no compromisso e na responsabilidade de educador/a.
Essas análises dos nossos colaboradores/as nos permitem refletir o quanto as obras de Paulo Freire necessitam se fazer presentes na formação continuada de professores/as. Sem dúvidas, Freire tem muito a nos ensinar com seu modo peculiar de ver a vida, de ver o homem/mulher, de conceber a educação, de mostrar o caminho de transformação social pela educação. Freire trouxe leveza em seus escritos, trouxe mensagem de fé para momentos sombrios.
Outro aspecto a considerar, Freire (2007) nos mostra que para adentrar no campo da docência tem exigências, no seu livro Pedagogia da Autonomia, ele diz que, ensinar exige coragem, dedicação, criatividade, amorosidade, rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos educandos, ética, consciência do inacabamento, autonomia, bom senso, curiosidade, competência profissional, entre outras mais. De posse dessa percepção, o sujeito em formação terá a oportunidade de construir sua identidade profissional para contribuir com uma educação libertária emancipatória, tão necessária num país como o nosso, que a desigualdade estrutural cresce ainda mais com a pandemia.
Algumas possíveis considerações
Além do enfrentamento da pandemia, os/as estudantes e /os professores/as brasileiros/as enfrentam uma crise na política, na saúde, na economia, entre outros. Infelizmente, este momentos de crise sanitária não foi tratado com a devida seriedade pelos nossos governantes. O que estamos vivenciando se configura como verdadeiro descaso, que se desdobra em quase 600 mil mortos, no Brasil2; 14,8 milhões de desempregados/as, diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; adoecimento em massa da população, ocasionado pela Covid-19. Esses fatos são bastantes ilustrativos para admitir que o contexto sociopolítico afeta a formação de professores/as, seja inicial ou continuada; e consequentemente, a profissão docente.
Diante desse cenário brasileiro, precisamos unir esforços para a superação das dificuldades nos diversos setores da vida. Em se tratando da formação continuada docente, o Curso de Especialização em Educação Infantil, o qual investigamos, dá uma demonstração de luta e de sucesso na trajetória, mesmo com todos os obstáculos causados pela pandemia. Os discentes sinalizam para a importância da (re)construção do conhecimento, para a luta incessante na vida pessoal e profissional e destacam as concepções freirianas como âncora para a educação. É indiscutível que, o pensamento de Paulo Freire está sempre em movimento espiral, dialogando com a diversidade da contemporaneidade e fortalecendo as bases para uma educação libertadora.
Esperamos com este debate contribuir com os cursos de formação continuada das universidades, fortalecendo os saberes e fazeres da docência, em especial da Educação Infantil. Deixamos a marca da esperança que nos move a continuar acreditando nos caminhos possíveis para uma educação/ação transformadora, libertadora, dialógica e humanista. Somos seres capazes de mudar tudo que aprisiona e oprime. Portanto, somos sujeitos movidos pela superação, pela luta e pela (re)existência. Concluímos, afirmando que é preciso (re)criar e (re)inventar as nossas ações para transformar o mundo.