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Conjectura: Filosofia e Educação

versão impressa ISSN 0103-1457versão On-line ISSN 2178-4612

Conjectura: filos. e Educ. vol.27  Caxias do Sul  2022  Epub 10-Abr-2024

https://doi.org/10.18226/21784612.v27.e022039 

RESENHAS

PITANO, Sandro de Castro; STRECK, Danilo Romeu; MORETTI, Cheron Zanini. Paulo Freire: uma arqueologia bibliográfica. Curitiba: Appris, 2019.

Monica Scotti1 

1Doutoranda em Educação pelo PPGEdu/UCS. Possui graduação em Licenciatura Plena em Matemática, com Habilitação em Física, pela Universidade de Caxias do Sul (2000) e Mestrado em Matemática Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007). Atualmente é professora de Matemática na Escola Municipal de Ensino Fundamental Giuseppe Garibaldi, na Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, e professora Mestre Assistente II na Universidade de Caxias do Sul.


A obra “Paulo Freire: uma arqueologia bibliográfica” é um trabalho coletivo, que resulta dos estudos de Pós-Doutorado do professor Sandro Pitano, intitulado “Articulações teóricas e metodológicas do pensamento de Paulo Freire: diálogos explícitos, implícitos e possíveis”, desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Os autores e organizadores, Sandro de Castro Pitano, Danilo Romeu Streck e Cheron Zanini Moretti, são pesquisadores da área de Educação, com raízes na Educação Popular. Sandro Pitano é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realizou estágio de Pós-Doutorado e Pós-Doutorado Sênior pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS. Atualmente é vice-coordenador do GT6 Educação Popular da ANPED. O professor Danilo Streck também é pesquisador do programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e doutor em Educação pela Rutgers University (New Jersey/USA). Cheron Zanini Moretti é professora pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Doutora em Educação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), coordena o grupo de pesquisa Educação Popular, Metodologias Participativas e Estudos Decoloniais. Danilo e Cheron também estão vinculados ao GT6 da ANPED.

Os autores entregam um livro que traz uma visão abrangente da obra de Freire, com destaque para as influências que contribuíram para a sistematização do pensamento freireano. No centenário de Paulo Freire, celebrado no ano passado, a revisitação a suas obras foi potencializada pelos movimentos comemorativos. Soma-se a esse momento mais de cinquenta anos de sua obra mais famosa, A pedagogia do oprimido, que hoje é tomada como referência em diferentes áreas do conhecimento. Quais foram as vozes que dialogaram com Freire nas reflexões que contribuíram para a elaboração de suas concepções filosóficas e pedagógicas? Quem caminhou com o “andarilho da utopia”, deixando marcas nas suas bases epistemológicas e teóricas? A compilação de algumas informações que podem responder a esses questionamentos é o mote desse estudo que, conforme os autores, “visa aprofundar a compreensão sobre as bases do pensamento freireano por meio da identificação e da análise das influências vinculadas à sua obra”.

O livro é uma coletânea de verbetes elaborados pelos autores e por pesquisadores colaboradores e convidados, num projeto grandioso de análise detalhada da obra de Feire. Traz mais de quinhentos itens, entre pensadores e filósofos, influenciadores e influenciados, instituições e organizações freireanas, entre outros. Se, como nos diz Gadotti, “não se faz uma longa caminhada sem beber de muitas fontes”, temos pequenas amostras e indicativos de fontes referenciadas na obra de Freire que, portanto, são de acesso aos leitores e estudiosos. Os mais de setenta colaboradores dessa “escavação” são citados no final do livro, sendo também listados os verbetes por área de conhecimento.

Na organização, os autores desdobraram a análise da obra de Paulo Freire em dois momentos: primeiramente, identificaram autores e autoras, pessoas, experiências e instituições que fundamentam o pensamento freireano; em seguida, os pesquisadores e pesquisadoras, incluindo convidados, passaram à análise das relações entre cada autor e autora identificados e a obra de Freire.

O leitor é convidado a circular pelos verbetes, apresentados em ordem alfabética, de acordo com seus interesses e disposição em participar da “empreitada arqueológica” proposta pelos autores, num movimento de exploração das conexões que nos levam à compreensão das relações e tramas evidenciadas nos estudos de Freire. De Marx, Dewey, Gramsci, passando por Piaget e Vygotsky, seguindo com Boaventura de Sousa Santos, Maturana, Papert, entre tantos outros autores e pensadores, sem esquecer-se de um grupo de mais de sessenta autoras mulheres, uma infinidade de conexões, confluências e interseções teórico-epistemológicas são apresentadas. Podemos destacar, também, importantes autores e autoras latino-americanos, como Marcela Gajardo e Oscar Jara, que figuram no texto apresentado com suas contribuições em temas relacionados à pesquisa participante.

Cheron Moretti escreve sobre feminismo e a obra de Freire, no verbete “Mulheres”. Uma mulher, em especial, também é fonte dos escritos de Cheron: Elza Freire e sua influência sobre o método de alfabetização de Paulo Freire bem como sua importância na decisão dele de deixar a advocacia e assumir-se educador. Desdobra outros verbetes no livro e fala da influência de Gilberto Freyre nos escritos de Paulo Freire. O educador disse, em diversos momentos, que foi “salvo por bons autores”, referindo-se à obra de Freyre. Cheron também escreve sobre os quinze anos de exílio de Freire – é importante informar o leitor que o livro traz escritos sobre tempos e lugares importantes para ele, tais como o tempo de exílio, a sua relação com a África e a importância de sua experiência em Angicos.

Danilo Streck nos apresenta, entre outros, o teólogo protestante Richard Shaull, norte-americano que foi um dos pioneiros da Teologia da Libertação e utilizou a obra de Freire na Filadélfia, especialmente com grupos de igrejas, apontando sua relevância para o contexto norte-americano, especialmente para a luta dos negros, dos migrantes latinos e dos jovens.

As contribuições de Sandro Pitano nos trazem um pouco das relações de Freire com filósofos, historiadores, educadores, dramaturgos, sociólogos, escritores, políticos, entre outros. Sandro escreve sobre a influência direta da obra de Vygotsky na pedagogia freireana e traz as palavras do próprio Freire sobre a primeira leitura da obra do psicólogo, que o deixou “com medo e feliz por causa das coisas que estava lendo”. Se, para Freire, a aprendizagem se processa em meio à prática social, revelam-se as relações do pensamento freireano com a psicologia histórico-cultural.

Um colaborador da obra é, também, verbete do livro: Carlos Rodrigues Brandão. Brandão tem, em Freire, um dos autores centrais de sua referência teórico-metodológica, na sua trajetória como educador popular e antropólogo. Freire cita Brandão e considera-o um educador engajado na luta por uma Educação crítica, participativa e política. No livro, Brandão escreve sobre Bronislaw Malinowski e a influência da antropologia funcionalista inglesa sobre a experiência de cultura popular da qual Freire fez parte. A antropologia de Malinowski está centrada na ideia de cultura. No Brasil da década de 1960, “uma educação liberadora, libertadora, conscientizadora, que veio ser a seguir uma educação popular, como uma das práticas sociais populares, constituiu a cultura como uma categoria essencial para pensar e agir” (p. 83).

Ao final da leitura, desvelamos “o menino conectivo”, que certa vez Paulo Freire confessou se considerar, redesenhando suas conexões e compondo nosso próprio conjunto de interlocuções teóricas, como parte dos estudos necessários aos que pretendem incursionar pelo universo do pensamento freireano: “um pensamento próprio absolutamente peculiar porque absolutamente imbricado em sua vida e na realidade social”, nas palavras de Ana Maria Araújo Freire, ou Nita Freire, que também compõe o universo dessa arqueologia.

Portanto, considera-se que a obra é, juntamente com o Dicionário Paulo Freire (STRECK; REDIN; ZITKOSKI, 2018) uma importante fonte de informações sobre o pensamento de Paulo Freire, constituindo-se como referência de consulta e de leitura para aqueles e aquelas que se interessam por e/ou estudam a obra de um dos maiores nomes mundiais da Educação.

Referências

PITANO, Sandro de Castro; STRECK, Danilo Romeu; MORETTI, Cheron Zanini. Paulo Freire: uma arqueologia bibliográfica. Curitiba: Appris, 2019. [ Links ]

STRECK, Danilo; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime. Dicionário Paulo Freire. São Paulo: Autêntica, 2018. [ Links ]

Recebido: 07 de Novembro de 2022; Aceito: 09 de Novembro de 2022

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