1 Introdução
É corrente, no discurso do ensino superior, o argumento de que é necessário engajar o aluno. Seja em atividades presenciais ou a distância, nas mais diversas áreas do conhecimento, o engajamento estudantil tem sido uma constante. Neste sentido, o presente artigo busca apresentar perspectivas acerca do engajamento estudantil, suas possibilidades e os desafios encontrados pelos estudantes, durante o seu percurso no ensino superior.
Muitas pesquisas direcionam o foco para o engajamento estudantil, devido a grande possibilidade por compreender o ensino superior sob a ótica dos próprios estudantes. Isso pode se dar sob diferentes aspectos, como: a qualidade do estudo, as aprendizagens, as razões do abandono ou evasão, a riqueza das estratégias didáticas oferecidas, dentre outros.
Contudo, percebe-se que, nas investigações envolvendo o ensino superior e o engajamento do estudante, não há clareza em relação ao significado deste último termo, pois ele é empregado para justificar diversas situações. Por exemplo, “engajamento” pode ser considerado um conceito multidimensional, de forma que não existe uma abordagem singular para assegurar que esse será satisfatório (MARTINS; RIBEIRO, 2017). Todavia, ampla parte dos estudos, caracteristicamente, aborda definições operacionais para conceituar o termo.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo investigar e descrever sobre o tema engajamento estudantil no ensino superior, tomando como foco as características acadêmicas e não acadêmicas, conexas com as experiências de aprendizagem dos estudantes, fazendo analogias que perpassam o aprender e a sua vida pessoal. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliométrica junto à base de dados da SciELO, com o intuito de encontrar trabalhos para identificar as diferentes abordagens referentes ao tema aqui discutido.
Justifica-se a relevância da pesquisa, especialmente, sob dois aspectos. Socialmente, é importante compreender um conceito amplamente utilizado, mas de forma pouco clara, para que haja o devido esclarecimento do seu significado e uso racional em documentos e discursos. Já pelo âmbito acadêmico, esclarecer este apontamento é fundamental para pesquisas que se embasem no conceito para indicadores de qualidade ou eficácia da aprendizagem e as ações no ensino superior, por exemplo.
2 Referencial Teórico
“Engajamento” tem se tornado uma expressão corriqueira em discursos e documentos na educação. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, faz menção ao termo, sem definitiva conceituação. Uma das ações apontadas pelo documento para articulação particular com os currículos, por exemplo, é “conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens” (BRASIL, 2018, p. 17, grifo nosso).
O termo também citado em documentos voltados ao ensino superior, como no Instrumento de “Avaliação Institucional Externa: Presencial e a Distância - Credenciamento”, em seu indicador 1.2: Autoavaliação institucional: participação da comunidade acadêmica. Esta é a descrição para o conceito máximo:
O projeto de autoavaliação descreve como ocorrerá a participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica e da sociedade civil organizada (vedada a composição que privilegie a maioria absoluta de um deles), abrange instrumentos de coleta diversificados (voltados às particularidades de cada segmento e objeto de análise) e estratégias para fomentar o engajamento crescente. (BRASIL, 2017, p. 10, grifo nosso).
Neste documento, mais uma vez, a definição e a função do engajamento são negligenciadas. Não que seja possível desprezar a sua importância, apenas não há qualquer discussão sobre o termo, levando-o a um lugar comum nos discursos.
É até compreensivo que se coloque relevo no termo. Ao menos desde o movimento escolanovista, quando o centro do processo educacional se desloca do professor para o aluno e a função da educação começa a ser revista, urge transformar a escola em um local de interesse para o aluno. Isso porque, sabe-se que o aluno não aprende por inércia: é necessário existir algo que faça com que ele se movimente em direção à construção do conhecimento. Esse “algo” pode ser o desejo: o aluno precisa desejar aprender (MEIRIEU, 1998). Por motivos oriundos do próprio aluno ou construídos pelo docente ou demais atores do processo educacional durante a ação de ensinar, o desejo é fundamental.
A partir da chamada Quarta Revolução Educacional (ARAÚJO, 2011), este imperativo ganhou ainda novos contornos. A ampla adoção – ao menos em tese – de metodologias ativas e tecnologias digitais de informação e comunicação mudaram a lógica desse desejo e de como visualizá-lo no estudante.
Metodologias ativas devem ser entendidas como processos de ensino nos quais o professor se interessa em colocar o aluno para desempenhar em uma ação com processo e resultado visíveis, por meio de estratégias específicas (OLIVEIRA, 2019). É necessário que se perceba a ação do aluno – ainda que, mesmo sem estar realizando alguma atividade visível (como apenas refletindo, por exemplo), pode haver aprendizagem.
Se esta demanda de se “ver” a aprendizagem ocorrendo junto aos estudantes já é desafiadora na educação presencial, com a inserção das tecnologias em processos educacionais, isto tornou-se ainda mais complexo. Os conhecimentos dos docentes não devem proporcionar uma inserção impensada das tecnologias no ensino, mas sim propiciar uma nova forma de planejar, executar e avaliar as ações educacionais (OLIVEIRA, 2022; KOEHLER; MISHRA, 2009).
Especialmente a partir da pandemia de Covid-19, a tecnologia ganhou mais relevância na educação. Se antes ela era um fator desejado, agora passa a ser uma realidade que nos processos de ensino e de aprendizagem escolares, mesmo que inserido forçosamente (NÓVOA, 2020).
E, neste processo, muitos docentes indicam sentir falta de observar o aluno, ter indícios visuais se ele ficou com dúvida etc. Em estudo com professores durante o período de ensino remoto na pandemia de Covid-19, foi possível perceber a “angústia” citada por estes, devido à falta de presencialidade e dos indícios visuais que ela trazia (OLIVEIRA; GARBIN; PIRILLO, 2021).
Assim, refletir sobre o uso das tecnologias na educação torna-se imperativo, desde os mais simples (como celulares ou ambientes virtuais de aprendizagem) até os mundos virtuais e futurísticos metaversos. Isso porque a inserção desses elementos impacta fortemente o ensino e a aprendizagem, como já apontado. As tecnologias têm alterado de forma geral a percepção de ser humano: se antes era necessário responder a perguntas de imediato e, assim, lidar com possíveis eventos desagradáveis, a internet e os aplicativos de mensagens agora possibilitam escolher quando e ao que responder. Em tese, a competência de lidar com adversidades é menos desenvolvida (TURKLE, 2015).
Pode-se entender, neste sentido, a emergência do discurso do engajamento. O aluno deve estar envolvido ativamente na sua aprendizagem, enquanto algo que lhe parece de extrema importância. Mas, por quê? Quais evidências existem de que estar engajado pode tornar a aprendizagem mais efetiva? De forma mais profunda, o que é engajamento na educação?
É neste contexto que o presente artigo se encontra: refletir sobre o engajamento no contexto da educação superior brasileira. Parte-se de reflexões a respeito do conceito de engajamento e da necessidade de ao menos três elementos para construção de um ambiente aberto ao engajamento, especialmente na educação digital: cultura da conexão (tanto tecnológica quanto de posicionamento institucional para acolhimento e diálogo - conectar-se com pessoas), ambiente aberto a questionamento e inclusão (como ações inclusivas com os alunos e, ao mesmo tempo, políticas de inclusão institucionais como exemplo). Em síntese, seria a construção de um ethos of care, algo como um ethos ou espírito de cuidado, carinho (GOURLAY, 2015; GOURLAY et al., 2021).
Para este artigo, é tomada uma conceituação de engajamento para fins da categorização que será realizada nas análises. São três pilares que sustentam o engajamento estudantil: comportamental, que se refere às ações e à realização de tarefas; emocional, voltado às atitudes, aos interesses e aos valores dos estudantes; e cognitivo, direcionado às suas aprendizagens e como as autorregula (FREDRICKS; BLUMENFELD; PARIS, 2004).
3 Metodologia
Desenvolveu-se um estudo bibliométrico, de cunho qualiquantitativo, a partir da necessidade de se mapear as produções científicas nacionais sobre engajamento na educação, bem como suas definições e principais referenciais adotados.
Assim, para a seleção do corpus da análise, buscou-se na base de dados da SciELO aportes que pudessem colaborar para a compreensão acerca da definição do termo engajamento. A busca, realizada em outubro de 2022, teve como descritores as palavras “engajamento” e “ensino superior” em associação - tendo em vista o objetivo deste artigo - e retornou com 24 trabalhos.
Para atender ao proposto, o presente estudo percorreu as seguintes etapas: identificação do tema e da questão norteadora; estabelecimentos dos critérios de seleção do corpus; busca e seleção dos estudos na base de dados; e construção de quadro para análise e discussão dos resultados. Estabeleceram-se como critérios de inclusão trabalhos que versassem acerca do engajamento no ensino superior – haveria descarte de artigos no caso de existência de trabalhos que, embora estivessem nos resultados devido ao uso dos descritores, não abordassem diretamente o tema. Não foi estabelecido um espaço temporal para a busca das produções, pois o período foi definido a partir do aparecimento do primeiro trabalho. Para ilustrar os dados coletados, o resultado da busca foi organizado (Quadro 1) nos seguintes tópicos: título, autoria, periódico, ano de publicação, metodologia, principais referências e definição do termo engajamento.
Título | Autoria | Periódico | Ano | Metodologia | Principais Referências | Definição de engajamento | |
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1 | |||||||
2 |
Fonte: elaboração própria.
Assim, foi criada uma linha no quadro para cada produção encontrada. Cada coluna se refere, desta forma, a um dado levantado a ser considerado na discussão deste trabalho, conforme seção seguinte.
4 Resultados e Discussões
A falta de determinados dados em parte das publicações ou, ainda, a informação não objetiva dos dados (como a metodologia para coleta e/ou análise de dados que foram utilizadas), se apresentaram como desafios para esta investigação bibliométrica, induzindo os pesquisadores à inferência de informações, durante a análise dos artigos (Quadro 2). Na sequência, há análises quantitativas e qualitativas a respeito destes resultados.
Título | Autoria | Periódico | Ano | Metodologia | Principais Referências | Definição de engajamento | |
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1 | Health promotion actions in universities in the face of the covid-19 pandemic: a scoping review | Santiago, Adriana da Silva; Sabóia, Vera Maria; Souza, Sônia Regina de; Prado, Gabriela Silva dos Santos; Sota, Fabiana da Silva | Texto & Contexto - Enfermage m | 2022 | Pesquisa bibliográfica | Não Identificado | O engajamento está sendo utilizado para se referir à participação |
2 | Políticas de acesso e permanência na universidade do Texas, Austin (EUA): elementos para reflexão sobre o caso brasileiro | Heringer, Rosana | Educar em Revista | 2022 | Pesquisa bibliográfica; análise de documentos e realização de entrevistas | Vincent Tinto (1975, 1999); Alain Coulon (2008); Prado (2020) | A ideia do engajamento estudantil consiste principalmente numa atitude de envolvimento e compromisso do aluno com seu desenvolvimento |
3 | A identificação dos discentes com as associações atléticas universitárias e o reflexo quanto ao engajamento estudantil junto às instituições de ensino superior | Fagundes, André Francisco Alcântara; Prado, Rejane Alexandrina Domingues Pereira do; Felix, Débora Fabiana | Educação e Pesquisa | 2022 | Pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. Uso de questionários | Tajfel (1981); Matta; Lebrão; Heleno (2017); Almeida; Ferreira; Soares (1999); Gould; Carson (2008); Holt Neely (2011) | Participação, envolvimento, entusiasmo |
4 | Mensuração do engajamento online de estudantes do ensino superior: uma revisão de escopo na literatura internacional | Ortega, Fernanda da Cunha; Irala, Valesca Brasil | Texto Livre | 2022 | Revisão de escopo - modelo PRISMA-ScR para Scoping Review | Horn; Staker (2015); Redmond (2018); Tricco et al. (2018); Peters et al. (2020) | Considerado uma variável que pode influenciar o desempenho dos estudantes. Tem uma forte relação com o aprendizado e a satisfação dos estudantes |
5 | Os saberes da complexidade e as práticas pedagógicas | Luppi, Mônica Aparecida Rodrigues; Behrens, Marilda Aparecida; Prigol, Edna Liz | Educação e Pesquisa | 2022 | Pesquisa-ação | Morin (2001) | O engajamento está sendo utilizado para se referir à participação (o termo aparece uma vez) |
6 | Profile of the graduates of the PhD course of the postgraduate program in physical education: a case study at federal university of Santa Catarina (2006 to 2018) | Manta, Sofia Wolker; Sandreschi, Paula Fabricio; Cardoso, Allana Alexandre; Benedetti, Tânia Rosane Bertoldo; Farias, Gelcemar Oliveira; Resende, Rui; Nascimento, Juarez Vieira do | Revista Brasileira de Cineantrop ometria & Desempen ho Humano | 2020 | Estudo de caso | Não Identificado | O engajamento está sendo utilizado para se referir à participação |
7 | Relações de confiança e sua instrumentaliz ação no controle de docentes em IES privadas | Medeiros, Bárbara Novaes; Siqueira, Marcus Vinicius Soares | Revista Eletrônica de Administra ção (Porto Alegre) | 2019 | Pesquisa exploratória-descritiva | Não Identificado | Aborda a gestão de afetos em prol do engajamento |
8 | Engagement of multi-professional residents in health | Rotta, Daniela Salvagni; Lourenção, Luciano Garcia; Gonsalez, Elizangela Gianini; Teixeira, Priscila Regina; Gazetta, Cláudia Eli; Pinto, Maria Helena | Revista da Escola de Enfermage m da USP | 2019 | Estudo censitário transversal (Utrecht Work Engagement Scale), por meio questões distribuídas nas dimensões Vigor, Dedicação e Absorção | Schaufeli, Salanova, González-romá e Bakker (2002) | Envolvimento e valorização. (Vigor, Dedicação e Absorção) |
9 | Antecedents of work engagement of higher education professors in Brazil | Mercali, Gabriele D.; Costa, Silvia G. | RAM. Revista de Administra ção Mackenzie | 2019 | Abordagem quantitativa. Questionário on-line | Schaufeli, Salanova, González-romá e Bakker (2002) | O engajamento é definido como um estado de espírito positivo, caracterizado por vigor, dedicação e absorção |
10 | Engajamento entre estudantes do ensino superior nas ciências da saúde (validação do questionário ultrecht work engagement scale (uwes-s) com estudantes do ensino superior nas ciências da saúde) | Silva, Juliana Ollé Mendes da; Pereira Junior, Gerson Alves; Coelho, Izabel Cristina Meister Martins; Picharski, Gledson Luiz; Zagonel, Ivete Palmira Sanson | Revista Brasileira de Educação Médica | 2018 | Estudo observacional analítico transversal, com abordagem quantitativa | Caballero (2006); Cunha E Carrilho (2006); Portomartins e Basso-machado (2013); Schaufeli e Bakker (2003); Blasquesz (2011); Wang e Fredricks (2011) | O engajamento está ligado à conexão com a atividade e pode ser percebido no indivíduo pela energia despendida, pelo envolvimento e pela eficácia ao desempenhar determinada atividade |
11 | A Wikipédia como fonte de informação de referência: avaliação e perspectivas | Kern, Vinícius Medina | Perspectiva s em Ciência da Informação | 2018 | Não identificado | Não Identificado | Engajamento como participação ativa |
12 | O sentido da relação trabalho e saúde para os assistentes em administração de uma universidade pública federal no estado de Minas Gerais | Faria, Renata Mercês Oliveira de; Leite, Isabel Cristina Gonçalves; Silva, Girlene Alves da. | Physis: Revista de Saúde Coletiva | 2017 | Grupo focal | Ferreira (2012); Clot (2010); Jackson Filho (2015) | Engajamento relacionado à motivação. (pertencimento, envolvimento, compromisso, apropriação, sentir-se útil) |
13 | As aulas de graduação em uma universidade pública federal: planejamento, estratégias didáticas e engajamento dos estudantes | Sá, Eliane Ferreira de; Quadros, Ana Luiza de; Mortimer, Eduardo Fleury; Silva, Penha Souza; Talim, Sérgio Luiz | Revista Brasileira de Educação | 2017 | Metodologia estatística. Análise de variância - teste analysis of variance (ANOVA) | Fredricks; Blumenfeld; Paris (2004); Australia 2005); Marks (2000); Singh; Granville; Dika (2002); Borges; Julio; Coelho (2005); Julio; Vaz; Faria (2006); Milne; Otieno (2007); Faria (2008) | O engajamento refere-se à relação que o estudante estabelece com as atividades escolares que lhes são propostas. Essa relação é influenciada pela interação entre o estudante e o contexto no qual a atividade ocorre, pois, mudanças no contexto implicam alterações nos níveis de engajamento |
14 | Engajamento do estudante no ensino superior como indicador de avaliação | Martins, Letícia Martins de; Ribeiro, José Luis Duarte | Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas) | 2017 | Revisão da literatura internacional | Astin (1984); Pace (1984) Kuh (2009); Marti (2009); Mcclenney; Marti; Adkins (2012) | O conceito de engajamento considera a aprendizagem dos alunos e está atrelado a fatores externos |
15 | Engajamento cívico e escolaridade superior: as eleições de 2014 e o comportamen to político dos brasileiros | Dias, André Luiz Vieira; Kerbauy, Maria Teresa Miceli | Revista de Sociologia e Política | 2015 | Análise descritiva de dados, com base no modelo de regressão logística | Putnam (2000); Schlegel (2010) | Participação ativa, envolvimento |
16 | Students’ motivation for learning in virtual learning environments | Beluce, Andrea Carvalho; Oliveira, Katya Luciane de | Paidéia (Ribeirão Preto) | 2015 | Estudo de caso | Guay, Vallerand e Blanchard (2000) | Refere-se à motivação para a aprendizagem |
17 | O (não) funcionament o da reescrita em textos produzidos por licenciandos em letras | Ferreira, Elisa Cristina Amorim; Araújo, Denise Lino de | Trabalhos em Linguística Aplicada | 2014 | Interpretativist a, segue os procedimentos dos trabalhos documentais e exploratórios | Kato (1993); Meurer (1997); Sautchuk (2003); Jesus (1995); Ruiz (2001); Antunes (2003) | Engajamento aliado à experiência e à proficiência |
18 | Fatores que tornam o professor de ensino superior bem-sucedido: analisando um caso | Quadros, Ana Luiza de; Mortimer, Eduardo Fleury | Ciência & Educação (Bauru) | 2014 | Análise do discurso; entrevista semiestruturad a | Mortimer et al. (2007); Vygotsky, Luria, Leontiev, (1988); Vygotsky, 1993 | Está relacionado às estratégias de ensino diversificadas X engajamento dos estudantes |
19 | O processo dialógico de construção do conhecimento em fóruns de discussão | Bicalho, Rute Nogueira de Morais; Oliveira, Maria Cláudia Santos Lopes de | Interface - Comunicaç ão, Saúde, Educação | 2012 | Análise da Conversação | Hutchby, Drew (1995); Pontecorvo, Ajello, Zucchermaglio (2005); Machado (2005); Lopes de Oliveira (2000) | Apontam relação significativa entre o engajamento dialógico dos interlocutores e a qualidade dos processos de aprendizagem |
20 | Integração entre atividades computacionai s e experimentais como recurso instrucional no ensino de eletromagneti smo em física geral | Dorneles, Pedro Fernando Teixeira; Araujo, Ives Solano; Veit, Eliane Angela | Ciência & Educação (Bauru) | 2012 | Estudo de Caso Colaborativo Presencial | Ausubel (2003); Vygotsky (2003); Hodson, (1994); Gil-pérez et al. (1999); Ronen; Eliahu (2000); Borges (2002); Zacharia (2007) | Relação significativa entre o engajamento dialógico dos interlocutores e a qualidade dos processos de aprendizagem |
21 | Desafios da gestão coletiva da atividade na docência universitária | Nascimento, Elvia Lane Araújo do; Vieira, Sarita Brazão; Araújo, Anísio José da Silva | Psicologia: Ciência e Profissão | 2012 | Estudo qualitativo; Entrevistas não diretivas e análise documental | Não Identificado | Rendimento e produtividade |
22 | A resposta das politécnicas finlandesas aos desafios das políticas de inovação e de desenvolvime nto regional | Lyytinen, Anu; Hölttä, Seppo | Caderno CRH | 2011 | Múltiplos estudos de caso - análise da experiência | Burton Clark (1998) | Rendimento e produtividade |
23 | A avaliação no contexto da formação médica brasileira | Mourão, Maria das Graças Mota; Caldeira, Antônio Prates; Raposo, José J. B. Vasconcelos | Revista Brasileira de Educação Médica | 2009 | Não identificado | Não Identificado | Engajamento social. Compromisso |
24 | Engajamento político, competência técnica e elites dirigentes do movimento ambientalista | Oliveira, Wilson José Ferreira de | Revista de Sociologia e Política | 2008 | Entrevistas biográficas | Não Identificado | Engajamento social. Compromisso |
Fonte: elaboração própria.
A partir dos dados coletados, percebe-se que, dos 24 artigos, 2 são da mesma autoria (QUADROS; MORTIMER, 2014; SÁ et al., 2017). Contudo, a publicação de 2017 tem a contribuição de outros autores. A ordem cronológica dos artigos tem a sua primeira publicação no ano de 2008, com 1 artigo publicado. As demais publicações foram assim distribuídas: 2009 (1); 2011 (1); 2012 (3); 2014 (2); 2015 (2); 2017 (3); 2018 (2); 2019 (3); 2020 (1); 2022 (5). Evidencia-se que nos anos de 2010, 2013, 2016 e 2021, não foram identificadas publicações.
Constata-se, portanto, que o ano de 2022 contou com o maior número de registros – embora uma análise mais aprofundada não permita correlacionar essa informação com pesquisas voltadas a processos educacionais realizados durante a pandemia de Covid-19. Cabe ressaltar que 4 artigos se apresentam na língua inglesa.
Em relação às revistas nas quais os artigos foram publicados, foi possível encontrar 2 artigos na Ciência & Educação, na Revista Brasileira de Educação Médica e na Revista de Sociologia e Política. Além disso, foi identificada uma publicação em cada uma das seguintes revistas: Interface - Comunicação, Saúde, Educação; Educar em Revista; Educação e Pesquisa; Revista Brasileira de Educação; Revista da Avaliação da Educação Superior; Physis: Revista de Saúde Coletiva; Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano; Paidéia; Psicologia: Ciência e Profissão; Texto & Contexto – Enfermagem; Revista da Escola de Enfermagem da USP; Revista Eletrônica de Administração; RAM: Revista de Administração Mackenzie; Perspectivas em Ciência da Informação; Trabalhos em Linguística Aplicada; Texto Livre e Caderno CRH.
É possível verificar, que a área da educação é a predominante, de fato, nos periódicos nos quais ocorrem as publicações. Entretanto, cabe destaque à existência de uma série de publicações na área da Saúde, como na Revista Brasileira de Educação Médica e Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. Este é um percurso semelhante ao de algumas das abordagens contemporâneas de metodologias ativas, como Aprendizagem Baseada em Problemas ou Aprendizagem Baseada em Projetos, que começaram a ser adotadas inicialmente em cursos como Medicina (OLIVEIRA, 2019) para, posteriormente, ocuparem espaços em outros cursos e áreas.
No que tange à metodologia mais utilizada nos escritos, foi possível encontrar o estudo de caso em 4 artigos.
O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma pesquisa interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível, completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador (FONSECA, 2002, p. 33).
Isso pode ser observado, por exemplo, em artigo encontrado nesta pesquisa. Na investigação narrada, houve o acompanhamento de uma ação didática em “uma turma de licenciatura em Física [...], abrangendo todo o conteúdo de Eletromagnetismo em nível de Física Geral” (DORNELES; ARAUJO; VEIT, 2012, p. 99). É uma ocasião na qual pode-se obter dados próximos e aprofundados de um grupo selecionado – neste caso, de estudantes.
Outras 2 publicações utilizaram a pesquisa bibliográfica como metodologia, que pode ser considerada aquela “desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 44). É o caso de um dos artigos encontrados nesta pesquisa, que adota o procedimento para compreender, entre outras categorias, o engajamento, em bibliografia de língua inglesa, como fator de sucesso acadêmico (HERINGER, 2022). Uma vez que, como citado, é um termo ainda carente de definição, a estratégia da pesquisa bibliográfica é relevante para compreender o que se tem até o momento e, em pesquisas aplicadas posteriores, apoiar a construção do conceito.
Nos artigos que passaram por análise, foram identificados também diversos outros procedimentos analíticos. São eles: entrevistas, questionários, análise do discurso, análise documental e análise de variância.
A seguir, com base nos artigos elencados, foi possível identificar que, em grande parte dos artigos, o termo engajamento é utilizado como um processo visível de participação e envolvimento institucional, e que, portanto, deve ser fomentado por meio de ações da própria universidade, uma vez que o contexto influencia no nível de engajamento. Esta definição vai ao encontro de uma das principais correntes. “Há muita conversa em torno de atividades pertinentes à conexão entre comunidades, acesso à informação, trabalho entre pares e compartilhamento de ideias, e desenvolvimento da identidade acadêmica – elementos importantes do engajamento digital dos alunos” (GOURLAY, 2017, p. 412).
Ou seja: as publicações científicas que enveredam por este caminho tendem a colocar ênfase no papel da instituição para motivação dos alunos no processo de engajamento.
Durante o período em que o estudante está cursando a Universidade, o engajamento está relacionado tanto com as características e comportamentos próprios do estudante ao tornar-se universitário, assim como com fatores relacionados com a própria instituição de ensino e suas práticas. Com relação à Instituição de ensino, são observados fatores que envolvem desde a disciplina até o ambiente geral do campus e seus serviços e atividades ofertados, assim como o corpo docente e as interações entre os colegas (MARTINS; RIBEIRO, 2017, p. 240).
Para uma melhor compreensão, os escritos foram classificados em três categorias correspondentes a três dimensões do conceito de engajamento: comportamental, emocional e cognitiva (FREDRICKS; BLUMENFELD; PARIS, 2004). Os autores apontam que, sob estas três óticas, a análise do engajamento pode tornar-se mais rica.
Na primeira dimensão, ou seja, a comportamental, foram identificados 8 artigos que aludem às atitudes positivas dos sujeitos em relação à execução e à adesão de regras e normas. Também abrange a participação, o envolvimento, o desempenho e as ações que podem ser observadas dos envolvidos. Tal perspectiva, corrobora com as contribuições dos autores citados, sobre o engajamento comportamental estabelecer relação com a participação e envolvimento dos estudantes, bem como às condutas positivas empreendidas por eles (FREDRICKS; BLUMENFELD; PARIS, 2004).
É o caso de um trabalho encontrado nesta pesquisa, que estudou fatores relativos às atléticas universitárias. Neste contexto, apontam os autores, “a identificação dos estudantes com a atlética pode contribuir para o engajamento estudantil junto à instituição de ensino, e que a instituição de ensino pode aproveitar o esporte para gerar maior engajamento do estudante com a IES” (FAGUNDES; PRADO; FELIX, 2022, p. 19).
Por conseguinte, verificou-se 9 artigos que se referem às atitudes afetivas dos indivíduos e o vínculo que são estabelecidos com as instituições, bem como o sentimento de pertencimento em relação ao lugar a qual fazem parte – aspectos emocionais. Nesse sentido, compreende-se que o engajamento emocional envolve as reações afetivas e emocionais dos estudantes diante de uma atividade, dos sujeitos e de outros elementos que compõem o ambiente escolar (FREDRICKS; BLUMENFELD; PARIS, 2004).
Outro trabalho vai nesta linha ao discutir a gestão de afetos enquanto fator de instrumentalização do controle de docentes (MEDEIROS; SIQUEIRA, 2019). Termos como “promoção da confiança” e “construção de afetos e vínculos” são comuns nesta linha, de forma que fica caracterizado o engajamento enquanto um fator emocional construído.
Em continuidade, outros 5 documentos voltam-se a elementos cognitivos, como o nível de dedicação e de valorização que o indivíduo apresenta em relação ao próprio aprendizado. Desse modo, o engajamento cognitivo, está relacionado ao vigor do estudante na aprendizagem, marcado pelo esforço empreendido para alcançar níveis mais altos de entendimento acerca de determinado assunto (FREDRICKS; BLUMENFELD; PARIS, 2004).
Há outro trabalho, por exemplo, que vai nesta linha. Para os autores, a proposta didática levada a cabo no estudo de caso da pesquisa pode “promover a interatividade e o engajamento dos alunos em seu próprio aprendizado, transformando a sala de aula em um ambiente propício para uma aprendizagem significativa [...]” (DORNELES; ARAUJO; VEIT, 2012, p. 118). Ou seja: as atividades realizadas teriam a capacidade de fazer com que os alunos desejassem se dedicar mais aos estudos e à sua própria aprendizagem.
Por fim, foi possível constatar que 2 artigos não se enquadram em nenhuma das categorias supracitadas.
5 Considerações Finais
O presente artigo buscou apresentar uma perspectiva acerca do engajamento estudantil, identificando possibilidades e desafios encontrados pelos estudantes, durante o seu percurso no ensino superior. Por meio do estudo bibliométrico, foi possível empreender a quantidade de publicações acerca da temática relacionada ao engajamento. De modo geral, pode-se dizer que o engajamento estudantil abrange aspectos comportamentais, emocionais e cognitivos e pode ser compreendido como um constructo complexo e multifacetado, ou seja, possui características variadas e peculiares.
Assim, fica destacado que, com base neste estudo, o termo engajamento foi utilizado, nos artigos, como a participação e o envolvimento dos estudantes nas atividades acadêmicas e a relação que estes estabelecem com as instituições de ensino, num contexto em que a variáveis existentes influenciam no nível de engajamento. Nos artigos, entretanto, não há uma clara correlação entre o engajamento e a aprendizagem – fator que pode ser objeto de estudos para futuras pesquisas.
Ainda que o presente estudo bibliométrico tenha trazido contribuições acerca do conceito de engajamento, mostra-se proeminente considerar as limitações deste estudo, uma vez que ele restringiu a compreensão de engajamento no âmbito do ensino superior. Assim sendo, ressalta-se a importância de que estudos futuros avaliem o engajamento estudantil em outros níveis de ensino, para um maior entendimento e definição do termo engajamento.