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Jornal de Políticas Educacionais

versão On-line ISSN 1981-1969

J. Pol. Educ-s vol.17  Curitiba  2023  Epub 08-Abr-2024

https://doi.org/10.5380/jpe.v17i0.92033 

Resenhas

Pesquisa em Política Educacional: perspectivas metodológicas

Maria Margarete Marschall1 
http://orcid.org/0009-0008-7572-7606

Márcio Giusti Trevisol2 
http://orcid.org/0000-0001-6127-1750

1Especialista em Educação Especial. Mestranda em Educação na Universidade do Oeste de Santa Catarina. Joaçaba, SC. Brasil

2Doutor em Educação. Professor na Universidade do Oeste de Santa Catarina. Joaçaba, SC. Brasil


Sob organização de Altair Alberto Fávero, Carina Tonieto, Chaiane Bukowski e Junior Bufon Centenaro, o livro “Pesquisa em Política Educacional: perspectivas metodológicas” emergiu dos estudos e pesquisas realizadas no Grupo de Pesquisa em Educação Superior da Universidade de Passo Fundo (GEPES/UPF) durante o ano de 2022. A coletânea aborda questões relacionadas aos elementos metodológicos que constituem a pesquisa em política educacional, que se pautam pela atenção de produzir conhecimentos que atendam à relevância acadêmica e social, aos princípios éticos, aos fundamentos teóricos e metodológicos. Por isso, a presente obra disponibiliza um conjunto de textos que se unem no objetivo de apresentar contribuições às pesquisas em políticas educacionais, notadamente, pela observância rigorosa do referencial teórico, método e caracterização da pesquisa quanto à sua natureza, problema, objetivos e procedimentos técnicos. Nesse contexto, a coletânea é composta por dezesseis capítulos, assinados por pesquisadores da área com experiência nacional e internacional que contribuem para a fundamentação da pesquisa no campo educacional.

No primeiro capítulo, os autores Altair Alberto Fávero, Antônio Pereira dos Santos, Carina Tonieto, Caroline Simon Bellenzier, Chaiane Bukowski e Junior Bufon Centenaro, que também escrevem o segundo e terceiro capítulos, apresentam "Reflexões sobre a pesquisa em Política Educacional e seu objeto de estudo”, com ênfase na diversidade de possibilidades buscando compreender algumas definições conceituais acerca das políticas educacionais e refletir sobre os objetos de estudo das pesquisas do campo, abordando o conceito de Política educacional, levando a uma reflexão sobre sua natureza e especificidade, temas, problemas e referenciais teóricos e metodológicos, apresentando desafios para as pesquisas em políticas educacionais.

O segundo capítulo, intitulado “O referencial teórico na pesquisa em política educacional", objetiva retomar a importância e a função do referencial teórico nas pesquisas em política educacionais e identificar alguns posicionamentos apresentados em manuais de metodologia científica. O capítulo apresenta concepções acerca do referencial teórico na pesquisa e um importante estudo por meio de comparações de cinco obras selecionadas que fazem referência à teoria ou ao referencial teórico para a elaboração e condução de pesquisas.

Continuamente, em seu terceiro capítulo, sob o título “O problema de pesquisa: a relação entre a dúvida científica e a elaboração da pergunta”, com objetivo de apontar a necessidade de elaboração do problema de pesquisa no processo de investigação científica e mapear algumas definições de problema de pesquisa presentes em manuais de metodologia científica, abordam resultados e discussões acerca de um estudo baseado em cinco obras que apresentam a elaboração do problema de pesquisa a fim de mapear as definições e identificar os elementos básicos que as compõem, sua importância para o processo de pesquisa e as orientações quanto à sua elaboração.

No quarto capítulo, sob o tema “Abordagem qualitativa e quantitativa nas pesquisas em políticas educacionais: caracterização e possibilidades de cruzamento”, de autoria de Altair Alberto Fávero, Ana Paula Pinheiro e Jerônimo Sartori, buscando aprofundar o debate sobre as potencialidades da abordagem qualitativa e quantitativa no campo da pesquisa acadêmica em Políticas Educacionais, trazem um debate sobre a abordagem quantitativa e suas perspectivas, apresentando a possibilidade de entrecruzamento entre a abordagem qualitativa e quantitativa nas pesquisas em políticas educacionais.

No que se refere ao quinto capítulo, os autores Ana Carolina Leite da Silva, Marcio Pedroso Juliani e Simone Zanatta Guerra, abordam “A pesquisa básica e aplicada nas investigações de políticas educacionais: potencialidades e limites”. Retrata as ciências humanas e a pesquisa em políticas educacionais, salientando que, ao se intencionar na construção do conhecimento científico, devemos manter a vigilância epistêmica e o rigor científico apoiado ao problema de investigação de forma ética, comprometida e cuidadosa, compreendendo que a pesquisa básica apresenta muitas potencialidades levando à reflexão e à criticidade. Ambas podem atuar de forma complementar uma da outra, e apresentam grande relevância para a produção do conhecimento científico.

O sexto capítulo, intitulado “Interação e diálogo com o campo de estudos: a pesquisa bibliográfica em políticas educacionais”, de autoria de Altair Alberto Fávero, Ana Carolina Leite da Silva, Flávia Stefanello, Julia Costa Oliveira e Taís Silva Pereira, objetiva complexificar e sistematizar indicativos sobre a função da pesquisa bibliográfica em estudos da área, ressaltando o processo de interação e diálogo. Enfatiza a convocação de uma “comunidade argumentativa” para aderir a um campo teórico robusto e consistente, e aponta as etapas fundamentais e as especificidades da pesquisa bibliográfica para constituir-se numa abordagem metodológica potente e produtiva.

O sétimo capítulo, assinado por Carina Tonieto e Marcio Pedroso Juliani, aborda o “Tratamento e análise de dados na pesquisa em política educacional”, em que os pesquisadores realizam uma análise em manuais e guias de pesquisas com a finalidade de identificar os conceitos de tratamento e análise de dados, identificando se são apresentados com clareza à comunidade acadêmica. Os autores ressaltam ainda que a produção dos dados, que também pode ser considerado como o coração da pesquisa, é sempre um processo dialético entre a técnica e a teoria, e que, além da aplicação de um método para obtenção dos resultados, a vigilância epistemológica da pesquisa torna-se essencial.

O capítulo oito, de autoria de Aristeo Santos López e Tania Morales Reynoso, intitulado “Estado del arte: brechas matagales y senderos al andar”, tem o objetivo de apontar as pesquisas do estado da arte como ponto de partida para as investigações. Em especial, os autores mexicanos chamam a atenção para a postura dos pesquisadores que precisam evitar a superficialidade quando buscam estudos já publicados. Em uma segunda direção, apresentam importantes distinções entre estado da arte, estado da questão e estado do conhecimento. Por fim, os pesquisadores registram que essa pesquisa deve observar questões éticas que evitem a produtividade excessiva, o plágio, autoplágio e cyberplágio.

O capítulo nove traz “A pesquisa documental e sua importância para a compreensão de políticas educacionais”, tornando-se relevante devido ao grande número de documentos pontuados em diversos contextos em que as políticas educacionais se desenvolvem. Assinado por Junior Bufon Centenaro, Chaiane Bukowski e Antonio Pereira dos Santos, que abordam fontes documentais de políticas educacionais e apresentam alguns conceitos sobre documentos, e a definição do procedimento da pesquisa documental, como também abordam apontamentos com relação aos passos e delineamentos da pesquisa, por meio das perspectivas da análise textual discursiva e da análise de conteúdo.

No décimo capítulo, escrito por Carina Tonieto, Caroline Simon Bellenzier e Chaiane Bukowski, que abordam a temática “Análise de conteúdo nas pesquisas em políticas educacionais”, por meio de mapeamento das pesquisas de doutorado produzidas entre o período de 2010 e 2021 nos programas de pós-graduação em educação disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses (BDTD), com o intuito de compreender como essas pesquisas utilizam a análise de conteúdo e quantas delas estão vinculadas à linha de políticas educacionais. Seguidamente os autores abordam o conceito e algumas caracterizações da análise de conteúdo, como técnica e método.

A Metapesquisa no campo da política educacional: uma proposta de pesquisa em construção” é a temática abordada pelos autores Carina Tonieto, Catiane Richetti Trevizan e Diocélia Moura da Silva no capítulo onze, em que apresentam elementos teóricos e as principais características que orientam e definem sua realização. Os autores apontam também que, apesar de pouca teorização sobre metapesquisa, principalmente no Brasil, há um grupo de pesquisadores nacionais e internacionais, a ReLePe, que apresenta estudos e discussões com grandes contribuições acerca dessa temática, reconhecendo nela diferentes estilos, porém assumindo que não se pode separar o teórico do metodológico.

Já no capítulo doze, delineado por Altair Alberto Fávero, Ana Lúcia Kapczynski, Daniê Regina Mikolaiczik e Evandro Consaltér, os autores realizam uma abordagem sobre a “Pesquisa-ação e políticas educacionais: um diálogo possível e relevante de compartilhamento de saberes”, em que buscam compreender esse método de pesquisa, dados históricos, potenciais formativos e reflexões na atuação docente, objetivando analisar potencialidades da pesquisa-ação no campo das políticas educacionais, demonstrando peculiaridades, limites, caráter dialógico e interativo na produção e socialização do conhecimento nesse campo. Os pesquisadores trazem um estudo de dados quantitativos, identificando que a pesquisa-ação no campo das políticas educacionais ainda é pouco utilizada, apontando como potencialidade para um instrumento que favorece a análise crítica dos objetivos de investigação.

No capítulo treze, os autores Carmem Lúcia Albrecht da Silveira, Sandra Maria Zardo-Morescho e Renata Cecilia Estormovski realizam uma importante reflexão acerca da “Etnografia de redes como forma de análise das políticas educacionais no cenário global”, objetivando reconhecer sua importância, tendo em vista que a etnologia de redes é uma metodologia destinada ao mapeamento do conteúdo das relações políticas em um campo particular, também sendo definida como análises etnográficas de governança de ação. Neste capítulo, abordam a contextualização da etnografia de redes como uma metodologia para a pesquisa em políticas educacionais, a atuação das redes de governança nesse campo, como também indicam a influência das redes internacionais na produção da política da educação brasileira.

Seguidamente, em seu capítulo quatorze, produzido por Carina Copatti e Graziela Bergonsi Tussi, que abordam concepções acerca da temática “Estudo de caso na compreensão das políticas educacionais e de sua influência nos contextos escolares”, objetivando um constructo-teórico reflexivo sobre o estudo de caso qualitativo, ou etnográfico, considerando também suas contribuições para o campo das políticas educacionais. Também apresentam um estudo acerca de uma análise de publicações, a fim de identificar aspectos que envolvessem os procedimentos, percursos e resultados na utilização do estudo de caso nas políticas educacionais.

Prosseguindo com o tema “Grupo Focal, uma análise do planejamento e execução com foco na utilização em ambientes virtuais”, temática contemplada no décimo quinto capítulo, em que os autores Altair Alberto Fávero, Camila Chiodi Agostini, Elia Maria Leandro Uangna e Larissa Morés Rigoni buscam analisar o planejamento e a execução do grupo focal, buscando explorar conceitos, potencialidades, limites e sua aplicação em ambientes virtuais, apresentando de forma didática e conceitual os principais aspectos dessa técnica de pesquisa e trazendo uma investigação sobre os desafios.

E para encerrar esta coletânea de perspectivas metodológicas, o capítulo dezesseis, elaborado por Adriana Costa, Altair Alberto Fávero, Lidiane Puiati Pagliarin e Priscila de Campos Velho, traz uma abordagem acerca das “Potencialidades e riscos da utilização da entrevista na pesquisa no campo das políticas educacionais”, com o propósito de apresentar e enfatizar as vantagens e desvantagens na utilização da entrevista, como também relatar a sua relevância nesse campo. Os autores ressaltam a relação entre entrevistador e entrevistado, a fim de abrir caminho para a fala e a escuta, não deixando a entrevista cair num jogo de perguntas e respostas.

Revelando a diversidade de possibilidades metodológicas da pesquisa em política educacional, todavia a coletânea apresentada traz subsídios acerca das dimensões metodológicas de extrema importância a serem considerados na elaboração da pesquisa, com fundamentações e abordagens que se fazem necessárias para contribuir com a comunidade acadêmica em política educacional, tornando-se um convite de leitura especialmente para a iniciação científica e pesquisadores de mestrado.

Recebido: Julho de 2023; Aceito: Julho de 2023; Publicado: Julho de 2023

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