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Cadernos de Pesquisa

versão impressa ISSN 0100-1574versão On-line ISSN 1980-5314

Cad. Pesqui. vol.55  São Paulo  2025  Epub 08-Set-2025

https://doi.org/10.1590/1980531411434 

RESENHAS

TRABALHO PEDAGÓGICO NO PROEJA: DISPUTAS, POLÍTICAS E EXPERIÊNCIAS NA EPT

Mareliza Fagundes de Araújo DuarteI 
http://orcid.org/0000-0002-1111-7218

Leandro LampeII 
http://orcid.org/0000-0002-3154-0224

IUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria (RS), Brasil; marelizaduarte2017@gmail.com

IIUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria (RS), Brasil; leandroolampe@gmail.com

Maraschin, M. S.. 2019. Trabalho pedagógico na educação profissional: O Proeja entre disputas, políticas e experiências.. Appris,


O livro Trabalho pedagógico na educação profissional: O Proeja entre disputas, políticas e experiências, de Mariglei Severo Maraschin, publicado no ano de 2019, pela editora brasileira Appris, apresenta-se como importante contribuição social e acadêmica, gerada a partir do empreendimento de esforços para pesquisa e estudos sobre a educação de jovens e adultos (EJA) integrada à educação profissional e tecnológica (EPT) durante seu doutoramento, no qual expõe, já no título, as inquietações que a movem: Dialética das disputas: Trabalho pedagógico a serviço da classe trabalhadora? (Maraschin, 2015).

Para a efetivação de sua tese, a autora pensou em questões norteadores para sua hipótese e, no decorrer da escrita, questiona temas como: as disputas que se configuram na prática; os movimentos dos cursos Proeja nos institutos federais (IFs) do Rio Grande do Sul; a forma como acontece o trabalho pedagógico nos cursos Proeja;1 os sentidos que assumem as categorias trabalho e tecnologia no trabalho pedagógico nas políticas de educação básica integrada à educação profissional na modalidade EJA; e a participação da classe trabalhadora nos cursos do Proeja.

Para a compreensão e produção de sentidos, é de grande relevância considerar o contexto no qual a obra foi produzida. Para isso, Maraschin trouxe para a discussão suas práticas e vivências de mulher, acadêmica, professora e pesquisadora. Sua trajetória se faz inicialmente na formação em Pedagogia e, no decorrer da caminhada, realizou mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na atualidade, é professora do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) e dos programas de pós-graduação em Educação e em Educação Profissional, na UFSM. Da associação de sua trajetória com as suas práticas e vivências, parte de uma abordagem dialética e, ao mesmo tempo, um olhar sobre o fenômeno e sobre sua trajetória, pois foi protagonista da implantação do Proeja no estado do Rio Grande do Sul (Maraschin, 2019).

Nessa obra, por meio da pesquisa teórica e da prática da pesquisadora, contando com suas experiências e vivências, pôde constatar a implantação das políticas públicas de integração da EJA à EPT nos últimos anos na rede federal e o trabalho pedagógico desenvolvido nos IFs do Rio Grande do Sul (Maraschin, 2019). Através disso, mobilizou esforços e empreendeu estudos, e, assim, sua obra apresenta o objetivo central de

. . . investigar, na perspectiva dialética, o(s) sentido(s) do trabalho, da tecnologia e do trabalho pedagógico nas políticas de educação básica integradas à educação profissional, na modalidade de educação de jovens e adultos, dos Institutos Federais do RS e como contribuem para a configuração de um contexto de dialética das disputas em torno das políticas e do trabalho pedagógico, de 2005 a 2014. (Maraschin, 2019, p. 21).

Dessa forma, o estudo, motivado pelos anseios e trajetória da pesquisadora, tem seu referencial teórico-metodológico ancorado na práxis, na compreensão dos sentidos do trabalho pedagógico, do trabalho, da tecnologia e do lugar da classe trabalhadora nas políticas e no trabalho pedagógico da EPT integrada à EJA (Maraschin, 2019). Sendo assim, a autora assume a dialética materialista histórica, a partir de Marx,2 e, no movimento das categorias do método, do conteúdo e da interlocução durante a pesquisa, ela foi se configurando, dividindo a obra em quatro capítulos.

O primeiro capítulo aborda a “Dialética das disputas”, tema criado pela autora durante o seu processo de imersão nas políticas educacionais e o trabalho pedagógico na educação profissional, sendo um prenúncio das discussões advindas. A partir da dialética das disputas, organiza um apanhado teórico sobre políticas de educação profissional integrada à EJA, verificando constantemente como elas se organizam na prática. A autora realiza reflexões acerca das contradições e retrocessos com base na historicidade das políticas públicas brasileiras que, por sinal, são muito bem ancoradas por pesquisadores e autores da área da educação, como também por si própria, enquanto docente, e a partir dos sujeitos que disputam a política do Proeja.

No segundo capítulo, os “Institutos Federais do Rio Grande do Sul e a implantação das políticas de educação profissional na modalidade EJA: Historicidade e movimentos”, a autora retoma os aspectos históricos e as políticas públicas inseridas no contexto dos IFs do estado do Rio Grande do Sul. Com isso, elabora discussões sobre os movimentos e relações de oferta das políticas desenvolvidas para os traba- lhadores sob a via da EJA. Sendo assim, o capítulo relata a historicidade e os movimentos das políticas da EJA integrada à EPT através dos dados produzidos pela autora, que comprovam sua necessidade de melhoria.

No terceiro capítulo, “Trabalho pedagógico: A efetividade das políticas”, a autora relata a busca sobre o sentido do trabalho pedagógico e os movimentos que realizou para apresentar uma discussão teórica sobre trabalho pedagógico e suas percepções na práxis. Na obra, ficam evidentes a presença da dialética das disputas nos discursos de professores, gestores e estudantes e o reconhecimento de que essa disputa está presente na historicidade do trabalho pedagógico.

No último capítulo, “O trabalho pedagógico a serviço da classe trabalhadora: Para além das disputas e na dialética das disputas”, discute os diferentes sentidos do trabalho pedagógico, suas manifestações e disputas, sejam nos cursos dos IFs do Rio Grande do Sul ou nas políticas educacionais. Por fim, a autora refere ser um processo inacabado e amplo, sendo as relações construídas na práxis das políticas (Maraschin, 2019).

Durante a leitura da obra, enfatiza-se o terceiro capítulo, “Trabalho pedagógico: A efetividade das políticas”, que, além de trazer a discussão teórica sobre trabalho pedagógico e a práxis, trouxe também as discussões dos sentidos do trabalho pedagógico ligados ao Proeja do Rio Grande do Sul, no qual as pesquisas buscaram encontrar as evidências de entender o trabalho como ações, relações e transformações (Maraschin, 2019). Percebeu-se a importância do trabalho pedagógico no processo formativo dos professores e estudantes considerando a forma crítica de pensar nos seis campi dos ins- titutos federais do Rio Grande do Sul, que, juntos, caracterizam o lócus da pesquisa.

Conforme a autora, percebe-se que “o trabalho pedagógico crítico é o que oferece sentido às políticas de EJA e de Educação Profissional” (Maraschin, 2019, p. 294). E, assim, emerge a necessidade de ultrapassar barreiras, para que o trabalho não se encerre em si mesmo e possa ser compreendido a partir das dialéticas das disputas, e de interpretar as contradições e historicidades do processo, colocando as disputas a serviço da classe trabalhadora.

Por fim, a autora observa a necessidade de um trabalho pedagógico coletivo que se efetive na práxis das políticas, que reflete sob as instituições, promovendo, por consequência, transformação nos sujeitos que as ocupam, sejam trabalhadores ou estudantes (Maraschin, 2019). Assim, tanto a obra quanto a tese Dialética das disputas (Maraschin, 2015), aqui sustentada pela autora, mostram-se atuais e relevantes para o contexto das políticas educacionais brasileiras, podendo ser transpostas e servir como lente para a análise de pesquisadores e estudiosos do tema em outros contextos, além da EJA, a exemplo das alterações na política do ensino médio.

Referências

Frigotto, G. (Org.). (2010). A produtividade da escola improdutiva: Um (re)exame das relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista (9ª ed.). Cortez. [ Links ]

Konder, L. (2009). A questão da ideologia (7ª ed.). Expressão Popular. [ Links ]

Konder, L. (2015). Marx: Vida e obra (23ª ed.). Expressão Popular. [ Links ]

Kosik, K. (1969). Dialética do concreto (C. N. Coutinho, Trad.). Paz e Terra. (Obra original publicada em 1963). [ Links ]

Lukács, G. (2010). O jovem Hegel: Sobre as origens e os antecedentes da ideologia hegeliana (N. Schneider, Trad.; 2ª ed.). Boitempo. [ Links ]

Maraschin, M. S. (2015). Dialética das disputas: Trabalho pedagógico a serviço da classe trabalhadora? [Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Maria]. Manancial: Repositório Digital da UFSM. https://repositorio.ufsm.br/handle/1/11580Links ]

Maraschin, M. S. (2019). Trabalho pedagógico na educação profissional: O Proeja entre disputas, políticas e experiências. Appris. [ Links ]

Mészáros, I. (2008). A educação para além do capital (I. Tavares, Trad.; 2ª ed.). Boitempo. [ Links ]

Pinto, A. V. (1979). O conceito de tecnologia (Vol. 1). Contraponto. [ Links ]

Pinto, A. V. (2005). Consciência e realidade nacional (Vols. 1-2). Contraponto. [ Links ]

Tse-Tung, M. (2009). Sobre a prática & Sobre a contradição. Expressão Popular. [ Links ]

Como citar esta resenha Duarte, M. F. de A., & Lampe, L. (2025). Trabalho pedagógico no Proeja: Disputas, políticas e experiências na EPT [Resenha do livro Trabalho pedagógico na educação profissional: O Proeja entre disputas, políticas e experiências, de M. S. Maraschin]. Cadernos de Pesquisa, 55, Resenha e11434. https://doi.org/10.1590/1980531411434

1Salientamos que, tanto na obra referida quanto nesta resenha, utiliza-se o termo “Proeja” devido ao Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, que, naquela época, era vigente. Agora, após diversas discussões envolvendo pesquisadores e trabalhadores da área, inclusive empreendidas por Mariglei Severo Maraschin, utiliza-se o termo EJA-EPT, expressando uma tomada de posição que exige superação do Programa para uma política nacional efetiva.

2As referências da autora (Maraschin, 2019) partem de Marx, mas se apoiam também em Kosik (1936/1969), Vieira Pinto (1979, 2005), Lukács (2010), Meszáros (2008), Konder (2009, 2015), Frigotto (2010) e Tse-Tung (2009).

Recebido: 15 de Setembro de 2024; Aceito: 23 de Junho de 2025

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