Envelhecer: pontos de cristalização dos processos de formação ao longo da vida
Os processos de formação acontecem ao longo de toda a vida, indo do berço ao túmulo. Eles estão inseridos em biografias individuais e histórias de vida, bem como em um contexto sócio histórico. Para o indivíduo isso geralmente significa que uma espécie de contabilidade da vida é realizada na maturidade, o que pode ser entendida como uma apropriação da própria história de vida. Mas o que é e como acontece esta contabilidade? As referências para este processo são, por um lado, as expectativas de vida mais ou menos conscientes do próprio sujeito que foram constituídas em fases anteriores da sua existência. Estas servem de referência para uma comparação interindividual onde o indivíduo considera o que conseguiu ou não realizar. Por outro lado, esse processo de contabilidade acontece através da comparação social intersubjetiva com outras pessoas. Isso significa que os pares de idade de sua própria geração assumem, muitas vezes, a função de referência social. Assim, podemos dizer que uma pessoa avalia o seu estado de saúde ou o seu status social ao confrontar a sua condição de vida com a de outros indivíduos da mesma idade (Lehr; Thomae, 1987).
Além disso, como em todas as outras fases de vida, o enfrentamento dos desafios normativos e das tarefas evolutivas típicas da idade, bem como dos eventos inesperados e graves - positivos ou complicados -, constitui uma característica essencial do desenvolvimento e da formação na maturidade (Fooken, 2005). Todos esses processos são tanto uma expressão e um resultado da formação na maturidade quanto, simultaneamente, uma característica constitutiva dos processos formativos no percurso do envelhecimento. Nesse sentido, muito do que se pode considerar como formação ao longo da vida se torna visível para a pessoa somente na maturidade, quando essa olha para o seu percurso a partir do final da sua existência. Assim, postulou Charlotte Bühler, em 1933, no prefácio do seu livro O curso da vida humana como problema psicológico: "[...] Em vez disso, pareceu-me absolutamente necessário a partir do todo e, especialmente, a partir do final da vida humana, captar o que afinal as pessoas realmente querem na vida e como, até o fim, seus objetivos são estruturados" (Bühler, 1933, p. VII).
A velhice traz um valioso ensejo para o sujeito: a oportunidade de ser capaz de fazer uma revisão de toda a sua vida, de reorganizar e reavaliar muitos eventos e experiências que ocorreram no seu curso. Contudo, não se deve restringir esta tarefa de revisão do passado como a única função desta fase de vida. Não por acaso postulou o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard: "É bem verdade que a filosofia diz que a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. Mas nisso esquece-se o outro princípio de que a vida só pode ser vivida olhando-se para frente" (Kierkegaard, 1843; 1923, p. 203). Assim, também, e especialmente na velhice, ainda se trata de um viver olhando-se para a frente que, na verdade, só termina com a morte.
Durante muito tempo os processos formais de educação foram privilégios concedidos mais aos homens do que às mulheres. Contudo, os processos formativos, objetos de estudo deste artigo, se aplicam igualmente a homens e mulheres na maturidade. Neste contexto é interessante pontuar que uma das primeiras feministas do século XIX, Hedwig Dohm (1903-1979), avó de Katja Mann, esposa do poeta Thomas Mann, na idade de 72 anos formulou um apelo veemente para o potencial de desenvolvimento da mulher idosa: "Escute, mulher velha, o que outra mulher velha te diz: Resista! Tenha coragem de viver! Não pense em nenhum momento na tua idade. [...] Se tu vives somente por um dia, tu tens um futuro na tua frente." (Dohm 1903, p. 220).
Nesse sentido, a formação na maturidade constitui-se por três tempos simultâneos: [1] Da necessidade de querer "viver olhando para frente" e [2] simultaneamente compreender a vida vivida "no passado", bem como [3] viver o presente se relacionando com as pessoas da própria geração, com pessoas mais jovens e com aquelas (ainda mais) velhas. Na velhice, uma série de temas e estilos de vida marcados pela biografia se cristalizaram e podem servir, ao mesmo tempo, como base para novos inícios e liberdades tardias. Nesta perspectiva, o presente artigo considera principalmente as relações inter e multigeracionais, bem como o contexto sócio histórico, como quadro de referência e fatores de influência ao processo de formação na maturidade.
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