No dia 14 de dezembro de 2018, faleceu na cidade de Natal, a professora, educadora e pesquisadora Neide Varela Santiago. A professora Neide Varela foi a primeira Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (com Áreas de Concentração em Tecnologia Educacional e Educação Pré-Escolar), criado pela Resolução do Consepe n° 105, de 15 de agosto de 1977.
Por circunstância da morte de Neide Varela Santiago, a prof.ª Márcia Maria Ribeiro e o prof. Jefferson Fernandes Alves (Diretores do Centro de Educação) publicaram a seguinte nota: "A professora Neide Varela foi formadora de inúmeros profissionais e pesquisadores na área da Educação Infantil. Além disso, contribuiu para o fortalecimento do Núcleo de Educação Infantil do Programa de Pós-Graduação em Educação na elaboração a na concepção do seu projeto pedagógico. Nos seus últimos anos na UFRN, à frente do CRUTAC, coordenou um dos maiores programas de formação inicial de professoras da UFRN, o PROBÁSICA, atuando em mais de 70 municípios do Rio Grande do Norte e formando mais de 4.500 docentes nos cursos de Pedagogia, Matemática, Educação Física, Letras e Ciências Biológicas. A professora Neide recebeu o título de Professora Emérita do Centro de Educação da UFRN, em 2012, pelo inestimável trabalho realizado pela Educação. O Centro de Educação e a UFRN lamentam profundamente a perda da professora Neide Varela Santiago, profissional competente, dedicada e engajada na luta por uma Educação Pública de qualidade social."
O professor Willington Germano - um dos primeiros professores no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN - publicou, também, uma nota com o seguinte teor: "A professora Neide foi uma grande figura humana. Ficamos mais pobres com a sua partida. Além de professora exemplar pelo seu talento e responsabilidade, era uma pessoa simples e de uma humanidade à flor da pele. Foi uma das principais responsáveis pela estruturação da Pós-Graduação na UFRN. Dedicou-se à Educação e à defesa de causas e ideias nobres como a justiça social e a luta por um mundo melhor. Sentiremos muito a sua falta. Descanse em paz. Adeus querida amiga". Por tudo o que a professora Neide Varela Santiago representa para a história da educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Estado do Rio Grande do Norte, o Conselho Editorial da Revista Educação em Questão publica a entrevista concedida em maio de 2016. É a nossa homenagem para a professora Neide Varela.
Em que contexto educacional aconteceu a transferência do Mestrado de Tecnologia Educacional do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INPE) de São José dos Campos para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte?
Ao retornarmos do curso de doutorado (em 1977), tínhamos a intenção de implantar, no Departamento de Educação, áreas de pesquisa para possibilitar a criação futura de curso de pós-graduação stricto sensu, uma vez que as Universidades do Nordeste começavam a se mobilizar para a implantação de cursos de Mestrado. Acreditávamos que um curso de especialização possibilitaria aos professores o conhecimento dos princípios teóricos da pesquisa educacional me estudos sistemáticos, bem como a elaboração de trabalhos monográficos. Para tanto, elaboramos o projeto de um curso de Especialização em Educação Pré-Escolar e Alfabetização destinado, principalmente, aos professores do Departamento de Educação. Na realização do curso, contaríamos, como contamos, com a colaboração de professores da Universidade de São Paulo, (especialmente da Profª. Drª. Geraldina Porto Witter), com os quais havíamos mantido contatos e discutido o projeto do curso.
Quais as razões socioeducacionais para a concretização da transferência desse Mestrado de Tecnologia Educacional para a UFRN?
Nessa ocasião, um curso de Mestrado em Tecnologia Educacional que funcionava no Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais estava sendo desativado e o então Reitor da UFRN, professor Domingos Gomes de Lima, negociou com os responsáveis para que o referido curso fosse implantado em Natal. Para tanto, seria contratado um grupo de professores e egressos do curso na qualidade de professores visitantes. O Departamento de Educação aceitou a ideia de criar, não um Mestrado em Tecnologia Educacional, mas um Mestrado em Educação com áreas de concentração em Tecnologia Educacional e Educação Pré-Escolar.
Nos primeiros anos, o corpo docente do curso era composto, na maioria, por mestres, contando, apenas, com quatro doutores. Uma professora do Departamento de Educação e três professores americanos que foram contratados como professores visitantes. À época, houve uma grande preocupação: delinear, organizar e fortalecer as Linhas de Pesquisa para que se tornassem compatíveis com as áreas de concentração. Para tanto, foram programados encontros, seminários e outras atividades que pudessem propiciar a discussão e o aprofundamento teórico-prático sobre a pesquisa em educação.
Além dessas preocupações, coexistiam três aspectos que, naquela época, mereciam atenção especial: i) escolha livre por parte dos mestrandos das temáticas que seriam trabalhadas em suas dissertações. Algumas vezes, não existia professor interresado ou estudando aquele assunto, o que implicava a busca de pessoas habilitadas em programas de pós-graduação de outras instituições universitárias e ii) escolha de temas vinculados às áreas de concentração e/ou às linhas de pesquisa do curso de mestrado.
Como avalia os benefícios do Mestrado em Educação com área de concentração em Tecnologia Educacional e Educação Pré-Escolar, naquele momento para a UFRN, e, particularmente, para Departamento de Educação?
Os benefícios que o Mestrado legou à UFRN e, particularmente, ao Departamento de Educação é inegável e visível, uma vez que despertou, nos professores, o desejo de aprofundamento de estudos, incentivando-os na produção cientifica, e repercutindo, naturalmente, no ensino de graduação e pós-Graduação em Educação. Esse envolvimento dos professores motivou alunos desses dois níveis de ensino, a participar de Grupos de Pesquisa e de estudos.
Outro aspecto que merece destaque é que, com a criação do Mestrado, houve a realização de intercâmbios com órgãos nacionais como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Instituto Nacional Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a Fundação Carlos Chagas, a Fundação Getúlio Vargas e, também, com os Cursos de Pós-Graduação do país.
O Mestrado em Educação da UFRN esteve representado pelos seus professores na Comissão de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes (com mandato de dois anos), escolhidos em Assembleia realizada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), havendo, ainda, outras representações, como, por exemplo, no Comitê de Pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Convém considerar, ainda, que muitos de seus professores assumiram consultorias de projetos desenvolvidos por órgãos de fomento, como por exemplo, os do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O que levou ao redimensionamento do Mestrado e extinção das Áreas de Concentração? Qual o novo modelo assumido?
O redimensionamento da Pós-Graduação em Educação, tornando-se um Programa mais amplo com cursos de Especialização, de Mestrado e de Doutorado, como também a implantação de Grupos de Pesquisas, criteriosamente definidos por temas de pesquisa, representou, inegavelmente, avanços no fortalecimento e nas contribuições ao amadurecimento profissional e científico de todos os que estão vinculados a esse Programa. Admiramos a estrutura que o Programa de Pós-Graduação atualmente, desenvolve cursos de Mestrado e de Doutorado, com a convicção de que as experiências passadas contribuíram, de certa forma, para firmar os avanços com aperfeiçoamentos.
Gostaríamos de acentuar que após a nossa aposentadoria (em 1990), continuamos, por um tempo, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, em atividades referentes à orientação de alunos e à participação em Grupo de Pesquisa. Como coordenadora da Pós-Graduação em Educação, estive em credenciamento e recredenciamentos pela Capes. Para minha satisfação, tivemos a oportunidade de estar à frente da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação durante um pouco mais de dez anos. Enfim, sou parte dessa História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Neide Varela Santiago (maio de 2016).