O que os educadores precisam saber sobre planejamento educaciona e suas dimensões? O livro intitulado “As dimensões do planejamento educacional: o que os educadores precisam saber”, do autor Paulo Silva Machado Bispo dos Santos, aborda o planejamento como uma área de conhecimento interdisciplinar, que envolve elementos científicos e filosóficos, e se constitui em um campo de estudos multidimensional, cujas ramificações teóricas vão do Direito à Economia, da Filosofia à Administração, da Didática à Política. A obra tem como objetivo promover uma maior articulação entre teoria e prática no âmbito do planejamento educacional, com a intenção de superar visões monolíticas que ora priorizam a dimensão teórica, ora a dimensão prática. Segundo o autor, ao priorizar o campo teórico, o planejamento passa a ser visto como um processo abstrato reduzido a conceitos teóricos que dificilmente se aplicam às condições objetivas e concretas da realidade de escolas e redes de ensino. Ao priorizar o campo prático, com raros ou nenhum suporte teórico, são produzidos manuais que não passam de fórmulas experimentadas, e poucas vezes aplicadas, que nem sempre levarão o responsável pelo planejamento ao longo das trilhas da boa administração e gestão na direção dos resultados pretendidos.
O autor se pergunta se existe uma ciência do planejamento educacional e se é possível ter um mínimo de previsibilidade para o planejador educacional quando a realidade o coloca frente a múltiplas determinações de várias categorias, sejam elas econômicas, históricas, políticas, administrativas, culturais etc. Desse modo, defende que o planejamento educacional deve ser apreendido em sua integralidade, multidimensionalidade e interdisciplinaridade, sem a perspectiva de um plano com esquemas e fórmulas infalíveis.
A primeira parte, intitulada “Reflexões Teóricas e Marcos Conceituais”, é composta por bases teóricas, metodológicas e epistemológicas que nos revelam as condições nas quais o planejamento educacional poderia se desenvolver. Tais condições estão dispostas em quatro capítulos: Noções e conceitos básicos; As dimensões do planejamento educacional; As interfaces do planejamento educacional e sua interdisciplinaridade; e Pesquisa educacional e planejamento educacional. O autor identifica e contextualiza as três dimensões ontológicas referentes ao planejamento educacional, quais sejam: a pedagógica, a administrativa e a estratégica e justifica o enfoque dialético da obra, ao evidenciar a maneira em que essas dimensões se relacionam, a partir do momento em que a realidade educativa é interpretada pelo planejamento. O planejamento educacional é apresentado como uma estrutura epistemológica “aberta” e “flexível” por poder valer-se de diversas fontes, e por permitir que sejam desenvolvidos elementos de planejamento educacional nos mais variados níveis que vão desde o nível das salas de aula até o da planificação internacional dos sistemas de ensino. O autor justifica o caráter interdisciplinar do planejamento educacional na medida em que o relaciona a diversas subáreas da educação e, também, à transdisciplinaridade, já que o planejamento está associado às mais diversas áreas de conhecimento.
O planejamento educacional e as lições da prática são abordados na segunda parte do livro que se destina à aplicação e à análise do planejamento educacional em diversos contextos. Nela, Santos discute desde a relação entre políticas públicas e o planejamento educacional até a difícil discussão acerca da relação entre a qualidade educacional e planejamento educacional. A discussão é disposta em quatro capítulos: Políticas públicas, políticas educacionais e planejamento educacional; Planejamento educacional e financiamento da educação nas escolas pública e privada; Planejamento educacional em perspectiva estratégica: lições trazidas por escolas e redes de ensino que dão certo; e Planejamento educacional diante das questões da qualidade: rendimento escolar e qualidade educacional. Ao relacionar planejamento, delineamento de projetos e qualidade o autor convida-nos a refletir sobre a seguinte pergunta: “Qual é a escola que queremos?”. É a partir dessa pergunta que se torna possível esboçar os objetivos, prazos e metas a atingir. Para o autor, é com essa mesma pergunta que se delineia um dos princípios que nortearão os processos avaliativos e as estratégias de aprendizagem escolar. Defende que, sem saber qual escola queremos e sem estruturar uma boa relação entre os polos da qualidade/quantidade em matéria educacional, torna-se praticamente impossível realizar um trabalho que atenda aos anseios de quem planeja a escola e de quem nela está presente, sujeito ao impacto dos efeitos do trabalho pedagógico, administrativo e financeiro.
Na terceira e última parte, “Esboço de um manual para planejadores”, o autor busca uma conexão do planejamento educacional com a prática. Traz à discussão elementos exemplificadores aos processos de planejamento, relacionados aos níveis micro, meso e macro da esfera educacional. Santos demonstra a aplicação de sua metodologia com o ciclo de planejamento educacional que corresponde à sua análise, elaboração e execução em qualquer nível no âmbito educacional.
De maneira assertiva, o autor apresenta os procedimentos pertinentes à construção dos planos destinados aos professores, o plano de aula e o plano de ensino, cujos modelos nem sempre estão acessíveis, embora sejam comumente utilizados nas escolas; um passo a passo de planejamento e estruturação de um Projeto Político-pedagógico (PPP), bem como seus elementos e sua execução; e indicações de como os gestores educacionais de escolas e redes de ensino podem aplicar os dados e indicadores de larga escala (Ideb, Saeb, IDE, Prova Brasil, IDH e IDI) nos planejamentos educacionais.
Ao concluir, Santos reafirma sua posição em relação às possibilidades e aos limites do planejamento educacional e refuta o viés profético por vezes erroneamente atribuído a este. Pois trata-se de uma atividade científica, submetida à probabilidade, e não a determinações, uma vez que não há fator que se relacione ao homem e à sociedade que seja direta e mecanicamente determinado. Assim, declara quenão há precisão absoluta nas atividades de planejamento desenvolvidas, seja em qualquer área. Santos estabelece uma importante diferença entre o planejamento educacional tomado em sua integralidade, multidimensionalidade e interdisciplinaridade e a perspectiva que entende que o planejamento revela verdades ou apresenta esquemas e fórmulas que são não somente insuperáveis, mas infalíveis.
A obra contribui substancialmente em habilitar os sujeitos que se propõem a desenvolver atividades de planejamento na esfera educacional. Além de combinar conteúdos teóricos, instruções práticas e exemplos bem sucedidos, a obra também nos leva à reflexão e à conclusão de que o planejamento é fundamental no meio educacional, assim como em qualquer atividade humana. A leitura da presente obra também poderá auxiliar a desconstruir a crença errônea, amplamente difundida no campo educacional, de que os professores não necessitam realizar, e/ou não realizam, atividades de planejamento, pois, “na prática, a teoria é outra”.