Introdução
Originalidade é uma componente que integra a qualidade da investigação cientifica (Mårtenssona, Forsb, Wallinc, Zanderd, & Nilsson, 2016), nomeadamente na aceitação de teses de doutoramento (Kyvik & Thune, 2014) e na publicação de artigos científicos (Peng, 2015). Por esta razão, analisamos um conjunto de artigos que estão ligados a estes temas e que fazem referência ao termo “originalidade”. Todos os artigos referem que o tema “originalidade” é de grande importância, principalmente no momento de o identificar em qualquer trabalho cientifico, mas nunca explicam em concreto e detalhadamente o seu significado de forma abrangente; as suas caraterísticas, como as identificamos ou qual a diferença entre originalidade num artigo cientifico e numa tese de doutoramento, são exemplos da ausência dessa identificação os artigos escritos por Torrance et al. (1993), Zuber‐Skerritt & Fletcher (2007) ou Lundgren & Robertsson (2013). Outros artigos, relativos ao mesmo tema, nem fazem referência a “originalidade” como requisito para publicar artigos científicos e/ou na aceitação de teses de doutoramento, este parece ser um fator ignorado, como é o caso do artigo escrito por Brooks & Normore (2015) e do artigo escrito por Harwood (2005). Por outro lado, em algumas universidades, existe maior preocupação em que os estudantes optem por uma análise intelectual rigorosa (Serenko, Bontis, Booker, Sadeddin, & Hardie, 2010), crítica (Watts, 2008), resolvam problemas ou apliquem conhecimentos em novas situações (Jonassen, 2000) do que propriamente mencionem explicitamente a originalidade (Bourke & Holbrook, 2011). Em outros artigos analisados, verificou-se que um grupo de autores afirmam que originalidade é um julgamento subjetivo (Pieters, Warlop, & Wedel, 2002) e (Silvia, Martin, & Nusbaum, 2009), outros realçam que definir originalidade é difícil (Stigler, 1995) e outros ainda afirmam que originalidade não é algo suficientemente interessante para garantir uma publicação cientifica (Coniam, 2012). Talvez a falta de rigor na definição ou a falta de um conjunto de características encoraje alguns autores a reclamar sobre a dificuldade que sentem em trabalhar com alunos com o tema originalidade (Runco, 2015). Existem também autores que escrevem no mesmo artigo sobre dois temas, que são criatividade e originalidade, contudo, pela ausência de definições abrangentes e claras, esses artigos podem conduzir os leitores a interpretações pouco esclarecedoras ou até confusas (Uidhir & Freeland, 2015). Como ponto de partida, poderemos dizer que criatividade é a capacidade cognitiva para fazer associações e combinar categorias amplas ou muitas ideias simultaneamente (Cropley, 2000), é pensar em algo de novo, valioso e aberto que nos ajuda a enriquecer (Maley & Bolitho, 2015) para posteriormente através da originalidade, ser criado ou produzido essa novidade (Clarke & Lunt, 2014). A originalidade é constituída por propriedades observáveis publicamente (objetos físicos, estilos e comportamentos) enquanto a criatividade, em contraste, não é normalmente observável, mas imaginável (Brand, 2015). Finalmente, quando surge a definição de originalidade, ela é apresentada de diversos pontos de vista, tendo como base o tema de cada artigo e as conveniências do autor (Lancaster & Culwin, 2007), (Glück, Ernst, & Unger, 2010), (Kamp, Admiraal, & Rijlaarsdam, 2016). Embora alguns autores tenham realizado um trabalho esforçado e de grande qualidade para explicar o que é a originalidade, verificou-se por análise desses artigos que o resultado desses trabalhos são muito particulares (Cremin, 1998), (Turcotte, Drolet, & Girard, 2004), (Pavoine, Ollier, & Dufour, 2005). Assim, pensamos que uma forma para resolver este problema é encontrar um conjunto de características pertencentes ao termo originalidade, que irá permitir identificar a sua existência ou falta dela em trabalhos científicos e/ou ajudar os interessados a construir uma definição correta e ampla do termo originalidade. Após esta identificação, apresentamos qual a diferença entre originalidade num artigo cientifico e numa tese de doutoramento.
Objetivo da investigação
O objetivo deste estudo é encontrar e apresentar um conjunto de características associados ao termo originalidade, que possa ser utilizado como guia em diversas áreas científicas, nomeadamente para identificar a originalidade em artigos científicos e em teses de doutoramento. Uma vez que ainda permanece a falta de precisão para aceitar de forma generalizada uma definição completa sobre originalidade, este estudo procura ajudar todos os intervenientes interessados (nomeadamente professores, alunos e membros de jornais científicos) a identificar “originalidade” de uma forma fácil, rigorosa e abrangente em artigos científicos ou teses doutoramento e/ou ajudar todos aqueles que pretender construir uma definição sobre originalidade. Não é o objetivo desta investigação construir uma definição sobre originalidade.
Fase 1 - Identificação das características
Os participantes
Através da classificação de jornais científicos do SCImago para a categoria de "Educação", obtivemos uma lista ordenada de Jornais. Dessa lista foram selecionados os 100 melhores classificados. Posteriormente identificamos os membros correspondentes a esses jornais. Todos aqueles de que foi possível identificar o correio eletrônico foram selecionados para o questionário de pesquisa. No total trinta e três participantes completaram o questionário de pesquisa, identificados de acordo com a sua função em dois grandes grupos “Painel de revisão editorial” e “Editor chefe / Executivo / coeditor”, ver Figura 1.
O instrumento
Foi criado um questionário, que era composto por cinco questões. As duas questões iniciais eram de resposta fechada (Draaijer, Hartog, & Hofstee, 2007) e as outras três questões eram de resposta aberta (Powers, 2010). As perguntas abertas permitiam que os participantes escrevessem respostas completas usando o seu conhecimento/experiência, podendo escrever respostas curtas ou longas (Smyth, Dillman, Christian, & Mcbride, 2009). O questionário começou pedindo aos participantes que se identificassem de acordo com a função que exercem no jornal cientifico. De seguida, perguntámos aos participantes se existia alguma diferença entre identificar a originalidade num artigo cientifico a ser publicado num jornal e identifica-la numa tese doutoramento. As opções de resposta eram “o mesmo” ou “diferente”, e no caso da opção de resposta ser “diferente” então os participantes eram reencaminhados para uma pergunta aberta para que explicassem as diferenças existentes. Na terceira pergunta, pedíamos aos participantes para definirem originalidade de uma forma geral. A quarta questão pretendia saber quais eram as características para identificar originalidade num artigo cientifico. A quinta pergunta solicitava aos inquiridos que escrevessem as características que identifiquem a originalidade numa tese de doutoramento.
Recolha de dados
Os participantes foram convidados por correio eletrônico para participar nesta pesquisa, no e-mail enviado era explicado em detalhes que o questionário de pesquisa tinha como principal objetivo identificar as características de originalidade para um trabalho cientifico, em especial, num artigo e numa tese doutoramento, e perceber se existiam diferenças entre ambos. A média de tempo para completar a pesquisa foi de aproximadamente vinte e quatro minutos por participante. Após os inquéritos serem concluídos, os dados foram recolhidos, codificados e analisados.
Análise dos dados
As respostas obtidas através do questionário foram introduzidas numa folha do MS Excel. Posteriormente, foram distribuídas por tabelas e analisadas. Para a primeira e segunda pergunta foram utilizados métodos estatísticos simples, uma vez que eram questões fechadas. Para as restantes perguntas, ou seja, perguntas abertas, foi utilizado a metodologia qualitativa, inicialmente recorrendo a código aberto (Walker & Myrick, 2006) e posteriormente ao código de correspondência (Kendall, 1999) para sintetizar, categorizar e relacionar temas. Doze características surgiram, ou seja, existe originalidade num trabalho cientifico se estivermos perante algo novo como: interpretação, metodologia, método, hipótese, tema, resultado, dados, testes, objetivos, pesquisa empírica, feito pelo autor e contribuição para o conhecimento. Várias estatísticas gerais foram realizadas em volta das perguntas do questionário e como a maioria dessas perguntas eram “abertas”, a frequência total era superior ao número de inquiridos.
Resultados da fase 1
O mesmo ou diferente
Após os participantes se identificarem (pergunta 1, figura 1), o questionário prosseguia com a seguinte pergunta: “Identificar a originalidade num artigo cientifico é…” e as opções de resposta eram: a) o mesmo que identificar originalidade numa tese doutoramento; b) diferente do que identificar originalidade numa tese de doutoramento. A maioria dos participantes respondeu que era diferente (67,9%), ver Figura 2.
Diferença existente
Com base na pergunta anterior, para os participantes que respondiam “diferente do que identificar originalidade numa tese de doutoramento” o questionário convidava-os a explicar as diferenças através da questão 3 “É diferente por quê?”. Dois itens surgiram como sendo as principais diferenças:
Como pode ser definido originalidade
Na pergunta seguinte queríamos saber, de forma generalizada, como os inquiridos definem originalidade (“Como define originalidade em termos gerais?”). Com esta questão pretendíamos construir as características que identificassem a originalidade. Desta recolha de dados, doze características foram identificadas, ou seja, de uma forma geral, existe originalidade se, em comparação com outros trabalhos científicos já realizados anteriormente, estivermos na presença de: uma nova interpretação, uma nova metodologia, um novo método a ser utilizado, uma nova hipótese a ser utilizada, um novo tema, um novo resultado obtido, novos dados, novos testes a serem realizados, novos objetivos a serem alcançados, nova pesquisa empírica realizada, um trabalho realizado pelo autor e uma nova contribuição para o conhecimento cientifico.
Características da originalidade num artigo submetido a um jornal
Após conhecermos a opinião dos inquiridos sobre a definição de originalidade em termos gerais, foi o momento ideal para perguntar objetivamente quais são as características que identificam originalidade num artigo cientifico submetido a um jornal cientifico. Onze características foram identificadas pelos participantes, essas características devem conter algo de novo em relação a trabalhos anteriores, nomeadamente: interpretação, metodologia, método, hipótese, resultado, dados, testes, objetivos, pesquisa empírica, autoria, contribuição para o conhecimento cientifico.
Características da originalidade para uma tese doutoramento
Com o objetivo de conhecer o outro componente do título deste trabalho, isto é, identificar as características da originalidade numa tese doutoramento, foi utilizada a seguinte questão: “Quais são as características que identificam originalidade numa tese de doutoramento?”. Doze características foram identificadas pelos participantes, ou seja, uma tese de doutoramento deve possuir algo de novo comparada com trabalhos de investigação anteriores (no caso de existirem) nomeadamente: interpretação, metodologia, método, hipótese, tema, resultado, dados, testes, objetivos, pesquisa empírica, autoria, contribuição para o conhecimento cientifico, ver Figura 3.
Com base nas respostas das questões número 3, 4 e 5, foi construído um resumo apresentado na figura 3 que mostra as caraterísticas de originalidade em termos gerais e as diferenças entre as características da originalidade num artigo cientifico e as características de originalidade numa tese de doutoramento. Em termos do número de caraterísticas, a diferença está no tema, que deve ser novo numa tese de doutoramento, mas pode não ser novo num artigo cientifico.
Fase 2 - Validação das características
Os participantes
Os mesmos participantes da fase 1, isto é, todos membros dos jornais que estavam nessa lista, foram igualmente convidados para o segundo questionário de pesquisa. No total quarenta e quatro participantes completaram o questionário de pesquisa, identificados de acordo com a sua função em dois grandes grupos “Painel de revisão editorial” e “Editor chefe / Executivo / coeditor”, ver Figura 4.
O instrumento
Este questionário era composto por três questões, todas as questões eram de resposta fechada (Draaijer, Hartog, & Hofstee, 2007). O questionário explicava aos participantes que o objetivo era validar as características encontradas num questionário anterior, o qual eles também tinham sido convidados a preencher. O questionário começou por pedir aos participantes que se identificassem de acordo com a função que exercem no jornal cientifico. Em seguida, perguntávamos aos participantes qual o seu grau de concordância ou discordância com as características apresentadas, que tinham sido construídas com base no questionário anterior. As opções de resposta para cada característica eram “discordo fortemente”, “discordo”, “discordo um pouco”, “concordo um pouco, “concordo” e “concordo fortemente”. Na terceira pergunta, pedíamos igualmente aos participantes para manifestassem o seu grau de concordância ou discordância relativamente à diferença entre originalidade numa tese de doutoramento e originalidade num artigo cientifico. As duas diferenças identificadas na fase 1 eram colocadas na mesma escala construída na pergunta anterior.
Recolha de dados
Os participantes foram convidados por correio eletrônico para participar nesta pesquisa, no correio eletrônico enviado era explicado com detalhe, que o questionário de pesquisa tinha como principal objetivo validar as características de originalidade para um artigo cientifico e para uma tese de doutoramento, características essas que foram identificadas num questionário anterior designada por fase 1. A média de tempo para completar a pesquisa foi de aproximadamente onze minutos por participante. Após os inquéritos serem concluídos, os dados foram recolhidos e analisados estatisticamente.
Análise dos dados
Todas as respostas obtidas através do questionário foram introduzidas numa folha do MS Excel em tabelas e analisadas com métodos estatísticos simples.
Resultados da validação
Validação das caraterísticas
Após os participantes se identificarem (pergunta 1, figura 4), a pergunta seguinte do questionário era: “Originalidade está associada a um conjunto de caraterísticas apresentadas em seguida, mencione o seu grau de concordância ou discordância para cada uma delas.” A Tabela 1 mostra todos os resultados obtidos. Ao observarmos os resultados da tabela 1, principalmente as três primeiras colunas da escala “Discordo fortemente”, “Discordo” e “Discordo um pouco”, podemos verificar que todas as caraterísticas são aceites, uma vez que estas três colunas apresentam pouca expressão de resultados em comparação com as três colunas seguintes, ou seja, o somatório de resultados das três primeiras colunas da escala (“Discordo fortemente”, “Discordo” e “Discordo um pouco”) totaliza 97 enquanto que o somatório das três colunas seguintes (“Concordo um pouco”, “Concordo” e “Concordo fortemente”) totaliza 431, a mesma lógica pode ser aplicada a cada característica, isto é, o somatório das três primeiras colunas da escala é sempre inferior ao somatório das três colunas seguintes.
Característica / Grau | Discordo fortemente | Discordo | Discordo um pouco | Concordo um pouco | Concordo | Concordo fortemente |
Nova investigação empírica | 6 | 8 | 6 | 6 | 10 | 8 |
Nova metodologia | 0 | 4 | 7 | 17 | 8 | 8 |
Novo método | 0 | 2 | 10 | 16 | 12 | 4 |
Novos testes | 0 | 4 | 4 | 18 | 14 | 4 |
Novo tema | 0 | 2 | 10 | 14 | 10 | 8 |
Novos objetivos | 0 | 4 | 2 | 16 | 20 | 2 |
Novos dados | 0 | 4 | 6 | 8 | 18 | 8 |
Feito pelo autor | 0 | 0 | 10 | 10 | 8 | 16 |
Nova hipótese | 0 | 0 | 4 | 12 | 20 | 8 |
Novo resultado | 0 | 0 | 4 | 12 | 10 | 18 |
Nova interpretação | 0 | 0 | 0 | 10 | 24 | 10 |
Contribuição para o conhecimento | 0 | 0 | 0 | 0 | 10 | 34 |
Fonte: Elaborado pelo autor.
Por outro lado, se na tabela 1 introduzirmos uma nova linha designada por “Peso” (linha 1 da tabela 2) e atribuirmos um peso a cada coluna (grau de importância), em que, à coluna “Discordo fortemente” é atribuído um peso de 1 e à coluna “Concordo fortemente” é atribuído um peso de 6, e de seguida aplicar a fórmula em baixo para cada célula (pertencente a cada caraterística), obtemos um novo valor para cada coluna e consequentemente obtemos um total de grau de importância (ver Tabela 2).
Característica = ∑ (A x 1) + (B x 2) + (C x 3) + (D x 4) + (E x 5) + (F x 6)
Nota: Em que A corresponde à coluna “Discordo fortemente”, B corresponde a “Discordo”, C corresponde a “Discordo um pouco”, D corresponde a “Concordo um pouco”, E corresponde a “Concordo” e F corresponde a “Concordo fortemente”.
Peso → | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | |
Característica / Grau | Discordo fortemente | Discordo | Discordo um pouco | Concordo um pouco | Concordo | Concordo fortemente | Total |
Nova investigação empírica | 6 | 16 | 18 | 24 | 50 | 48 | 162 |
Nova metodologia | 0 | 4 | 30 | 64 | 60 | 24 | 185 |
Novo método | 0 | 8 | 21 | 68 | 40 | 48 | 182 |
Novos testes | 0 | 8 | 12 | 72 | 70 | 24 | 186 |
Novo tema | 0 | 4 | 30 | 56 | 50 | 48 | 188 |
Novos objetivos | 0 | 8 | 6 | 64 | 100 | 12 | 190 |
Novos dados | 0 | 8 | 18 | 32 | 90 | 48 | 196 |
Feito pelo autor | 0 | 0 | 30 | 40 | 40 | 96 | 206 |
Nova hipótese | 0 | 0 | 12 | 48 | 100 | 48 | 208 |
Novo resultado | 0 | 0 | 12 | 48 | 50 | 108 | 218 |
Nova interpretação | 0 | 0 | 0 | 40 | 120 | 60 | 220 |
Contribuição para o conhecimento | 0 | 0 | 0 | 0 | 50 | 204 | 254 |
Fonte: Elaborado pelo autor.
O total obtido na tabela 2 permite conhecer a importância de cada caraterística, ou seja, das doze as características identificadas a mais importante é “contribuição para o conhecimento” e a menos importante é “nova investigação empírica”, no entanto todas elas são essenciais para identificar a originalidade nos trabalhos científicos. A Figura 5 mostra o grau de importância de cada caraterística.
Validação das diferenças
A validação das duas diferenças encontradas na questão 3 fase 1 era a última pergunta colocada neste questionário de avaliação, a mesma era a seguinte: ”Com base nas características identificadas na pergunta anterior, a identificação de originalidade de um artigo em comparação a uma tese de doutoramento difere nos itens em baixo. Por favor, indique o grau de concordância ou discordância para cada item.”. A escala de resposta era igual à pergunta anterior, ou seja, “Discordo fortemente”, “Discordo”, “Discordo um pouco”, “Concordo um pouco”, “Concordo” e “Concordo fortemente”. A Tabela 3 mostra a frequência de todas as respostas. À semelhança da análise realizada para validar as características, observamos que as diferenças foram aceites, uma vez que, as três colunas da escala designadas por “Discordo fortemente”, “Discordo” e “Discordo um pouco” apresentam pouca expressão de resultados em comparação com as três colunas seguintes, ou seja, o somatório dos resultados das três primeiras colunas da escala (“Discordo fortemente”, “Discordo” e “Discordo um pouco”) totaliza 30 enquanto que o somatório das três colunas seguintes (“Concordo um pouco”, “Concordo” e “Concordo fortemente”) totaliza 144.
Diferença / Grau | Discordo fortemente | Discordo | Discordo um pouco | Concordo um pouco | Concordo | Concordo fortemente |
Artigo - Pode ser apenas qualitativo | 4 | 4 | 8 | 12 | 8 | 6 |
Artigo - Um ou vários autores | 2 | 0 | 4 | 8 | 10 | 20 |
Tese doutoramento - Um único autor (o estudante) | 2 | 0 | 4 | 0 | 18 | 20 |
Tese doutoramento - Deve mostrar capacidade para o inquérito | 0 | 0 | 2 | 6 | 14 | 22 |
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com a atribuição do “Peso” (linha 1 da Tabela 4) em cada coluna (grau de importância), em que à coluna “Discordo fortemente” é atribuído um peso de 1 e à coluna “Concordo fortemente” é atribuído um peso de 6, e com a aplicação de uma formula (em baixo) para cada célula (pertencente a cada diferença), obtemos um novo valor para cada coluna e consequentemente um total (ver tabela 4).
Diferença = ∑ (A x 1) + (B x 2) + (C x 3) + (D x 4) + (E x 5) + (F x 6)
Nota: Em que A corresponde a “Discordo fortemente”, B corresponde a “Discordo”, C corresponde a “Discordo um pouco”, D corresponde a “Concordo um pouco”, E corresponde a “Concordo” e F corresponde a “Concordo fortemente”.
Diferença / Grau | Discordo fortemente | Discordo | Discordo um pouco | Concordo um pouco | Concordo | Concordo fortemente | Total |
Artigo - Pode ser apenas qualitativo | 4 | 8 | 24 | 48 | 40 | 36 | 700 |
Artigo - Um ou vários autores | 2 | 0 | 12 | 32 | 50 | 120 | 1136 |
Tese doutoramento - Um único autor (o estudante) | 2 | 0 | 12 | 0 | 90 | 120 | 1208 |
Tese doutoramento - Deve mostrar capacidade para o inquérito | 0 | 0 | 6 | 24 | 70 | 132 | 1256 |
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fase 3 - Exemplos de descrição para as características
Após a identificação e validação das caraterísticas de originalidade, entendemos que devíamos complementar este trabalho com exemplos de descrição das características descobertas. Estes exemplos, pretendem auxiliar-nos a identificar mais facilmente e rapidamente a originalidade em trabalhos científicos. Para nos ajudar a construir os exemplos de descrição para cada característica, selecionamos 48 artigos que tinham relevância para este trabalho, eles estavam distribuídos em vários repositórios científicos internacionais. Relevância é um conceito central na ciência da informação devido à sua importância para a pesquisa no campo da documentação, informação e/ou informação cientifica (Bookstein, 1979), (Hersh, 1994) e (Kotkas, Holbrook, & Rannikmäe, 2016), ou seja, o resultado da pesquisa sobre o assunto a investigar possui pelo menos um componente importante de informação contida nos documentos consultados e que permite responder ou ajudar à investigação em curso (Barry, 1994) e (Muddiman & Frymier, 2009).
Base de dados utilizada
A estratégia de selecionar vários repositórios de informação para a revisão da literatura deve-se ao facto de garantir o máximo de qualidade e rigor para este trabalho. Neste contexto, selecionamos os trabalhos científicos relevantes dos repositórios que possuem impacto significativo na ciência devido à sua grande reputação na publicação de artigos e consulta para novos trabalhos científicos ou melhoramento destes: EBSO (Shapiro, 2013), ERIC (Jacsó, 2007), SAGE e Scopus (Bar-Ilan, 2007).
Revisão da literatura
A originalidade é um aspeto intrínseco do valor de todo o trabalho de investigação (Golden-Biddle & Locke, 2007). Originalidade é usualmente entendida como alguma coisa nova, que não foi feita anteriormente (Lancaster & Culwin, 2007), (Moore, 2007), em que unimos diversos elementos para criar um todo, novo, coerente e que resultará no original escrito pela primeira vez (Krathwohl, 2002). A originalidade pode ser identificada de diversas formas (Rhoten, O'Connor, & Hackett, 2009), uma forma muito básica e simples de a identificar é nos perguntarmos: a) o que difere o trabalho científico que está a ser feito de outros trabalhos semelhantes realizados anteriormente? (no caso de existirem trabalhos semelhantes), isto é, o que há de novo? (Holbrook, Bourke, Lovat, & Dally, 2005), b) qual o valor que adiciona à ciência? (Webster & Watson, 2002), e c) para que serve o meu trabalho (objetivo, propósito, contribuição para o conhecimento)? (Mu, 2015), (Ortinau, 2011). Um modelo muito mais “sofisticado” que o anterior mas pouco detalhado foi construído por Mårtenssona et al. (2016), que identifica a originalidade de um trabalho científico tendo em conta a ideia, o procedimento e o resultado; ou seja, segundo os autores se estes itens são novos então existe originalidade. Coniam (2012) também identifica três itens, embora diferentes dos autores anteriores: contribuição para o conhecimento, aceitabilidade das reivindicações e investigação de acordo com o âmbito. Para além dos artigos acima consultados, outro conjunto de artigos permitiu concluir que nós podemos identificar a existência de originalidade num artigo cientifico ou numa tese de doutoramento recorrendo a grupo de nove perguntas: I) O tipo de investigação científica utilizado para a investigação é diferente do que foi feito anteriormente? (Neuman, 2014), por exemplo é uma investigação estatística, comparativa, experimental, histórica, quase-experimental, casual, comparativa, correlação, de diferente interpretação, um estudo de caso, um estudo de campo, etnográfico, bibliográfico, empírico, investigação-ação (Boyle, et al., 2014), (Currie, 2016), (Rakap, 2015), (Horsford & D'Amico, 2015); II) o método cientifico utilizado é diferente daquele utilizado anteriormente? (Ifenthaler & Seel, 2013), por exemplo foi utilizado o método dedutivo, indutivo ou hipotético-dedutivo (Sik, 2015); III) a metodologia utilizada na pesquisa atual é diferente da anterior? (Nye, Melendez-Torres, & Bonell, 2016), por exemplo foi empregue a metodologia qualitativa, quantitativa ou ambas (Eyisi, 2016); IV) os instrumentos de recolha de dados são diferentes comparado com o trabalho anterior? (Spence, Lachlan, & Rainear, 2016), isto é, os questionários realizados (Hong & Choi, 2015), as entrevistas realizadas (Roulston, 2014), a análise estatística realizada, que deve apresentar interpretações diferentes (Aminghafari, Cheze, & Poggi, 2006), a análise de conteúdo realizada deve ser diferente (Faucher & Garner, 2015), ou as checklists utilizadas devem ser diferentes (Tosh, 2015), (Owen & Baum, 1985); V) as técnicas de recolha de dados utilizadas são diferentes? (Robinson, Emden, Croft, & Vosper, 2011) e (Johnson & Clarke, 2003), isto é, a observação (Webster, R. , 2015), a análise documental (O'Donnell, 2016), o inquérito (Ting & Ho, 2015), os testes de validação que foram realizados são diferentes ou nunca foram realizados (Haertel, 2013), o grupo de focos é diferente (Faucher & Garner, 2015), o portfólio do investigador é diferente (Hack, 2015), (Zhong & Jiang, 2016) ou são utilizadas outras formas como por exemplo o método delphi (Geist, 2010), (Gill, Leslie, Grech, & Latour, 2013); VI) as hipóteses são diferentes, isto é, as combinações possíveis de acordo com a operação realizada com as variáveis de investigação são diferentes? (Stiburek, 2016), por exemplo é utilizado uma variável dependente, independente, controle, interveniente (Meneses, Fàbregues, Rodríguez-Gómez, & Ion, 2012); VII) o tema é diferente, isto é, o contexto, o tópico (Soler, 2011) ou o ponto de partida do tema? (Dernt, 2014); VIII) os resultados são diferentes, isto é, a descrição dos relatos encontrados é diferente? (Heitzmann, 2008), como por exemplo apresentá-los em forma de texto, dados, figuras, gráficos (Ahl, 2016) e (Houts, Doak, Doak, & Loscalzo, 2006); IX) os objetivos traçados para a investigação são novos? (Ambrose & Kulik, 1999), por exemplo, explorar outras direções (Runco, Illies, & Eisenman, 2005), outras estratégias (Wood & Tarrier, 2010), outra motivação ou criatividade (Smith & Yang, 2004).
Recolha e análise dos dados
Durante a leitura e análise dos 48 artigos da revisão de literatura, foram introduzidas numa tabela no MS Excel todas as frases chave. Posteriormente recorreu-se a códigos abertos (Walker & Myrick, 2006) e ao código de correspondência (Kendall, 1999) para sintetizar, categorizar e relacionar características emergentes. Agregado às doze características identificadas na fase 1 surgiram um conjunto de exemplos de descrição/significado: interpretação (estatística, comparativa, experimental, histórica), metodologia (qualitativa, quantitativa ou mista), método (dedutivo, indutivo e hipotético-dedutivo), hipótese (variável dependente, independente, controle, novos dados), tema (tópico, contexto, ponto de partida), resultado (descrição dos relatos encontrados - podem ser textos, dados, figuras, gráficos ou outras formas de apresentação), dados (instrumentos de recolha: questionários, entrevistas, análise estatística, análise de conteúdo + técnicas de recolha de dados: observação, análise documental, inquérito, testes de validação, grupo de focos, Delphi), testes (validação, complemento, outro método, outro procedimento), objetivos (explorar outras direções, outras estratégias, criatividade), pesquisa empírica, feito pelo autor, contribuição para o conhecimento (nova descoberta publicada que permite evoluir e desenvolver novas ideias).
Resultado
As características encontradas e complementadas na revisão da literatura com um conjunto de exemplos de descrição/significado, resultou num esquema gráfico apresentado na Figura 6. Este esquema simples e claro permite identificar as características diretamente ligadas ao termo de originalidade e permite também visualizar alguns exemplos de descrição dessas características. Assim, a figura 6 deve ser interpretada desta forma:
características de originalidade - constituído pelo primeiro anel imaginário ligado à caixa central e que é composto pelas características: interpretação, metodologia, método, hipótese, tema, resultado, dados, testes, objetivos, pesquisa empírica, feito pelo autor e contribuição para o conhecimento;
exemplos de descrição - constituído pelo segundo anel imaginário ligado a cada característica.
De forma semelhante, foi igualmente construído um esquema gráfico correspondente às diferenças entre a identificação de originalidade num artigo científico e numa tese de doutoramento. Como foi dito na primeira fase deste estudo, existem duas grandes diferenças: o número de autores que realizam o trabalho (um artigo pode ser escrito por um conjunto de autores, mas uma tese de doutoramento deve ser o trabalho apenas do estudante) e a metodologia (um artigo pode ser apenas qualitativo, mas uma tese doutoramento tem de mostrar capacidade para o inquérito). A Figura 7 mostra as diferenças.
Conclusão
Na investigação científica, a originalidade tem um papel importante, na medida em que, as descobertas originais são fundamentais para o progresso científico. Contudo, não foi encontrado por nós nenhum artigo científico que contivesse um conjunto de características para identificar facilmente a originalidade num trabalho científico. Neste contexto, o nosso trabalho permitiu encontrar um conjunto de características ligadas à originalidade e, em conjunto com a revisão de literatura, construímos uma pequena descrição ligada a cada caraterística. Uma representação em forma guia (Figuras 6 e 7) ajudará aos interessados a reconhecer a originalidade em trabalhos científicos, de uma forma simples e clara.
Esta pesquisa permite concluir que os trabalhos desenvolvidos anteriormente por outros autores centram-se em definições, muitas delas complexas, outras incompletas e outras centradas apenas nos trabalhos de pesquisa que desenvolvem, ou seja, pouco abrangentes e pouco generalizadas. Com recurso somente a esses trabalhos é difícil identificar a originalidade de um trabalho científico. Por esta razão, uma possível solução para eliminar estes pontos fracos, é utilizar as características encontradas neste trabalho e criar uma única forma de identificar originalidade. A representação da figura 6 e a figura 7 é abrangente, generalizado e universal para qualquer aluno, professor, membro de jornal ou outro interessado possa identificar a originalidade ou, alguém que pretenda construir uma definição.
Em suma, neste momento há uma base de trabalho uniforme. Dado a importância deste tema, mas também a sua complexidade, para trabalhos futuros, torna-se necessário explorar a hipótese de construção de uma ferramenta simples e prática que ajude todos os interessados a identificar automaticamente a originalidade num trabalho científico.