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Revista Brasileira de Educação

versão impressa ISSN 1413-2478versão On-line ISSN 1809-449X

Rev. Bras. Educ. vol.29  Rio de Janeiro  2024  Epub 27-Nov-2024

https://doi.org/10.1590/s1413-24782024290111 

Artigo

A revisão integrativa nos estudos das políticas públicas educacionais: potencialidades e aplicabilidade do método

La revisión integrativa en los estudios de políticas públicas educativas: potencialidad y aplicabilidad del método

Eldaronice Queiroz de AlvarengaI 

ELDARONICE QUEIROZ DE ALVARENGA é doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Analista educacional na Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Diretora Educacional na Superintendência Regional de Ensino de Pirapora-MG (SEE-MG).

, Escrita – Primeira Redação, Conceituação, Metodologia, Curadoria da Dados, Análise Formal, Obtenção de Financiamento, Investigação, Administração do Projeto, Recursos, Software, Validação, visualização, Escrita – Revisão e Edição
http://orcid.org/0000-0002-0833-422X

Maria Clarice Lima BatistaII 

MARIA CLARICE LIMA BATISTA é doutora em psicologia social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bibliotecária no Setor de Apoio ao Pesquisador Portal Capes da mesma instituição.

, Análise Formal, Supervisão, Validação, Visualização, Investigação, Escrita – Revisão e Edição
http://orcid.org/0000-0001-5907-0095

Eyleen Nabyla Alvarenga NiitsumaIII 

EYLEEN NABYLA ALVARENGA NIITSUMA é doutora em enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Docente em enfermagem no Instituto Federal de Educação do Norte de Minas Gerais (IFNMG).

, Conceituação, Análise Formal, Metodologia, Software, Validação, Visualização, Validação, Escrita – Revisão e Edição
http://orcid.org/0000-0002-5781-6313

Rosimar de Fátima OliveiraVI 

ROSIMAR DE FÁTIMA OLIVEIRA é doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenadora do grupo de pesquisa em Política e Administração de Sistemas Educacionais (Pase) da mesma instituição.

, Conceituação, Análise formal, Obtenção de Financiamento, Administração do Projeto, Recursos, Supervisão, Validação, Escrita – Revisão e Edição
http://orcid.org/0000-0002-2212-4018

ISecretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, Pirapora, MG, Brasil. E-mail: eldaroniceqalvarenga@gmail.com

IIUniversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: clarycelima@gmail.com

IIIInstituto Federal de Educação do Norte de Minas Gerais, Almenara, MG, Brasil. E-mail: eyleenmg@hotmail.com

IVUniversidade Federal de Minas Gerais, Pampulha, MG, Brasil. E-mail: rosimarfoliveira@gmail.com


RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar as possibilidades do uso da revisão integrativa como método que analisa e sintetiza revisões de literatura no campo da educação e, também, propor um protocolo que demonstra a possibilidade de aplicar essa metodologia em um estudo das políticas públicas educacionais. A investigação buscou responder se o método da revisão integrativa é aplicável nas pesquisas realizadas nesse campo. Com esse fim, utilizou-se a revisão narrativa com mapeamento da literatura na perspectiva qualitativa. A investigação mostra que a revisão integrativa, quando apoiada em protocolos apropriados ao objeto da pesquisa, constitui-se como um método aplicável às pesquisas do campo das políticas educacionais.

Palavras-chave: Política Educacional; Revisão Integrativa; Protocolo de RI

RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo resaltar las posibilidades de utilizar la Revisión Integrativa como un método que analiza las literaturas en el campo de la Educación, y también proponer un protocolo que demuestra cómo es posible aplicar esta metodología en un estudio de políticas públicas educativas. La investigación buscó responder si el método de Revisión Integrativa es aplicable en revisiones de literatura en investigaciones realizadas en este campo. Para ello se utilizó la Revisión Narrativa, mapeando la revisión desde una perspectiva cualitativa. La investigación apunta que la Revisión Integrativa, cuando apoyada en el uso de protocolos adecuados al objeto de investigación, constituye un método aplicable a la investigación en el campo de las políticas educativas.

Palabras clave: Política Educativa; Revisión Integradora; Protocolo de Revisión Integrativa

ABSTRACT

This article aims to present the possibilities of using integrative review as a method that analyzes and synthesizes literature reviews in the field of education, and also to present a protocol that shows how it was possible to apply this methodology in a study of educational public policy. The investigation sought to answer whether the integrative review method is applicable in literature reviews in research conducted in this field. To this end, the narrative review technique was used, with mapping of the review from a qualitative perspective. The investigation points out that integrative review, when supported by the use of protocols appropriate to the research object, constitutes a method applicable to research in the field of educational policies.

Keywords: Educational Public; Integrative Review; Integrative Review Protocol

INTRODUÇÃO

As pesquisas em educação no Brasil ganharam destaque no espaço universitário a partir da criação dos programas de pós-graduação em 1965 e da sua ampliação na década de 1970, especialmente com a criação de grupos de pesquisa (Vosgerau e Romanowski, 2014). Acrescenta-se a isso o aumento da produção acadêmica na área, como fruto, em parte, das exigências do Sistema Nacional de Pós-Graduação, e, também, pelo fortalecimento da importância dos resultados das pesquisas para a formulação das políticas públicas educacionais (Gatti, 2012). Essa conjuntura demanda aos cientistas progressivamente mais investigações baseadas na revisão de literatura (RL), com o propósito de mapear, analisar e sintetizar as pesquisas publicadas nos distintos campos da educação.

A RL tem como objetivo problematizar novas demandas investigativas e sinalizar desenhos metodológicos que possam ser aplicados nas diferentes subáreas do conhecimento (Vosgerau e Romanowski, 2014). No que se refere à metodologia, o processo de revisão exige estudos em diferentes fontes bibliográficas que permitam ampliar a compreensão sobre determinado tema, constituindo-se na primeira etapa do processo de construção do conhecimento científico. Nessa lógica, a pesquisa, que tem a RL como única fonte investigativa e/ou mesmo como etapa inicial, preocupa-se em realizar uma ampla análise e uma rigorosa elaboração de síntese com vista a ampliar e aprofundar a compreensão científica do objeto em estudo. Tal concepção posiciona a RL como o primeiro passo para o desenvolvimento do conhecimento científico (Ingram et al., 2006).

Há diferentes métodos para realizar uma RL. Eles se baseiam em técnicas como a revisão bibliográfica tradicional, também conhecida como revisão narrativa (RN), e no uso de mecanismos e metodologias das revisões de literatura sistematizadas (RLS),1 com seus distintos métodos, aqui em destaque a revisão integrativa (RI). A disseminação de vários métodos de pesquisa na organização e discussão de estudos acadêmicos tem contribuído para a seleção do uso de métodos da RL mais sistemáticos e rigorosos, como destacam Whittemore e Knafl (2005).

Nessa perspectiva, este artigo tem como objetivo primordial apresentar as possibilidades do uso da RI na pesquisa de RL no campo das políticas públicas educacionais. Com esse fim, o texto traz uma discussão sobre o método da RI como proposta de RLS, colocando em destaque o potencial de seu uso por acadêmicos e pesquisadores na área da educação, e apresenta, por meio de evidências,2 um protocolo que mostra como foi possível aplicar esse método em um estudo da subárea das políticas públicas educacionais.

Após esta introdução, o texto está organizado em três seções. A primeira apresenta o delineamento metodológico dos estudos que originaram este artigo. A segunda desenvolve uma reflexão teórica sobre o processo da RL com suas implicações conceituais e metodológicas, problematizando suas diferentes abordagens, tipos e métodos, como contexto para abordar o método da RI. A terceira seção referencia a aplicação da RI nas políticas educacionais, quando se apresenta o passo a passo e os critérios que foram considerados na elaboração de um Protocolo de RI para a realização da RLS do projeto de pesquisa em desenvolvimento na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Alvarenga, 2019); e por fim, as considerações finais.

Como resultado do estudo realizado, sinaliza-se que a RI, quando apoiada na utilização de protocolos apropriados ao objeto da pesquisa, se constitui como um método aplicável às pesquisas do campo das políticas educacionais, em ampla expansão no Brasil. A investigação mostrou ainda que a limitada publicação de métodos e protocolos utilizados na RL no campo das políticas públicas educacionais institui os resultados aqui apontados como um potencial teórico para o campo. Sendo assim, este texto contextualiza metodologias ainda majoritariamente utilizadas no campo da saúde e incorpora-as aos estudos das políticas educacionais.

DELINEAMENTO METODOLÓGICO

Sustentadas pelos estudos bibliográficos sobre RL no campo educacional, observamos ser comum os estudiosos dessa temática argumentarem sobre as fragilidades dos estudos de revisão e a carência de maior aprimoramento metodológico neste campo de conhecimento (Gough, 2007; Thomas, 2007; Vosgerau e Romanowski, 2014). Tais argumentos nos inquietaram, conduzindo-nos ao desafio de estudar técnicas de RL com maestria, para imprimir maior rigor aos estudos de revisão na área de políticas públicas educacionais.

Assim, a RI, objeto investigativo apresentado neste trabalho, nasceu de uma problemática discutida e refletida em uma pesquisa de doutoramento: o uso da RI, como um método da RLS, seria adequado para a RL no campo das políticas públicas? Se sim, teríamos neste campo de conhecimento um protocolo de RI que pudéssemos utilizar em nossa pesquisa? Com o intento de responder a essas questões, fez-se um estudo apoiado em duas categorias de análise: a RL com seus métodos e a RLS, com seus respectivos métodos de coleta de dados.

Nesse cenário de indagações e reflexões, a investigação sobre a abordagem qualitativa da RI, da qual resultou este artigo, deu-se em duas etapas. Na primeira, realizou-se uma RN sobre a RL com seus distintos métodos, com enfoque na RI. A técnica de RN foi escolhida por mostrar-se o melhor método da RL para iniciar um estudo em que se procure identificar os fundamentos, os argumentos, as semelhanças e as diferenças do objeto pesquisado. Na segunda etapa da pesquisa, deu-se a elaboração de um Protocolo de Pesquisa, que compreendeu o primeiro estágio do fluxo do processo da RI, parte integrante da RL de um projeto de pesquisa em desenvolvimento na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais — UFMG (Alvarenga, 2019; 2021).

UM PANORAMA SOBRE A REVISÃO DE LITERATURA: IMPLICAÇÕES CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS

Ao refletir sobre o conhecimento como construção coletiva da comunidade científica, o pesquisador, da mesma maneira que o formulador de políticas públicas, ao propor um projeto de pesquisa ou uma nova política, inicialmente examina as produções científicas existentes sobre o seu tema de interesse. Essa etapa de estudos oportuniza ao pesquisador júnior se aprimorar apoiando-se nos ombros do pesquisador sênior, descortinando teorias, conceitos, métodos, abordagens e contextos já analisados pelos seus predecessores em determinada área de conhecimento.

Essa analogia denota que, na trajetória de um pesquisador, o percurso investigativo acadêmico se pavimenta em uma metódica RL, na medida em que uma RL elucidativa dá oportunidade ao investigador de lançar um olhar longínquo e ousado sobre novas possibilidades de estudo em um campo científico específico. Pois a pesquisa, mesmo com suas inerentes limitações, traduz-se como forma de evidenciar as descobertas anteriores. Isso posto, podemos definir RL como "um método tradicional para assegurar-se do que já se conhece em um campo de pesquisa" (Gough, 2007, p. 62).

De acordo com Alves-Mazzotti (1992), a RL tem dois objetivos: construir uma contextualização para o problema e analisar as possibilidades presentes na literatura consultada para a construção do referencial teórico da pesquisa. Contextualizar o objeto de pesquisa com base em uma RL diz respeito à capacidade do pesquisador de situar-se no cenário do problema, no decurso da área de estudo e da análise do referencial teórico. Esse processo induz o caminho a ser trilhado pelo pesquisador, a começar pela definição do problema de pesquisa até a interpretação dos resultados. Tal compreensão torna a RL um processo na busca de investigações (consolidadas ou não), complementando e/ou contestando contribuições científicas dadas, anteriormente, ao estudo do objeto. Acepção que constitui a RL como busca de pesquisas científicas secundárias por meio da localização e análise de publicações científicas em artigos, livros, teses e dissertações impressas ou eletrônicas sobre um tema ou objeto de estudo, com posterior publicação da síntese dos estudos realizados.

A proposição de um problema de pesquisa numa RL requer que o pesquisador se situe nesse processo, de forma a analisar o estado atual do conhecimento em sua área de interesse, comparando e contrastando abordagens teórico-metodológicas utilizadas, bem como avaliando o peso e a confiabilidade de resultados de pesquisa, de modo a identificar pontos de consenso, controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser esclarecidos. Uma trajetória de pesquisa baseada nesse ideal auxilia o pesquisador a definir melhor seu objeto de estudo e a selecionar teorias, procedimentos e instrumentos ou, ao contrário, a evitá-los, quando estes se mostrarem pouco eficientes na busca do conhecimento pretendido (Alves-Mazzotti, 1992).

Yin (2016, p. 79) argumenta que a RL tem por finalidade "reunir o que se conhece sobre um determinado tema, possivelmente sublinhando linhas de pensamento controversas ou díspares ou mesmo o progresso no decorrer do tempo no conhecimento acumulado sobre um assunto". Esse ponto de vista requer a elaboração de uma síntese pautada em diferentes estudos bibliográficos, apta a criar uma vasta compreensão sobre certo conhecimento acadêmico. Esse procedimento transforma a RL no primeiro passo para a construção do conhecimento científico em todos os campos de estudo. Isso se deve ao fato de o papel da RL ser reconhecido, no mundo acadêmico, pela existência de periódicos de revisão em todas as áreas disciplinares e temáticas das ciências, pois é desse processo que surgem novas teorias, novas abordagens e metodologias de pesquisa, bem como se apresentam as possibilidades de reconhecimento de lacunas e oportunidades para o surgimento de novas pesquisas em um campo específico.

Levando em conta a grande quantidade de pesquisas e publicações produzidas a cada ano no campo científico da educação (Vosgerau e Romanowski, 2014), a RL pode ser considerada um empreendimento difícil, em que o acadêmico muitas vezes pode ser tentado a buscar uma bibliografia sem nenhum critério definido. Desse episódio, pode resultar uma RL sem procedimentos explícitos, sendo muitas vezes, em algumas pesquisas, impossível saber o que foi revisado e de que forma (Gough, 2007). Para que a RL apresente resultados com valor empírico, há a essencialidade de um método científico próprio que lhe confira validade. Segundo Ingram et al. (2006), existem diferentes métodos para realizar uma RL, cabendo ao pesquisador definir o que melhor atende à sua investigação.

Como confirmam os diferentes autores analisados por Vosgerau e Romanowski (2014), há variadas denominações que se referem à RL como levantamento bibliográfico, RL, RN, revisão bibliográfica, estado da arte, estudo bibliométrico, revisão sistemática, RI, metanálise, metassumarização e síntese de evidências qualitativas. Segundo as duas autoras, essas nomenclaturas estão presentes nas diferentes áreas do conhecimento; contudo, todas as pesquisas referenciadas tratam, de alguma forma, de temas relacionados à educação (Vosgerau e Romanowski, 2014).

Considerando as implicações conceituais e metodológicas de cada uma das abordagens apontadas por Vosgerau e Romanowski (2014), este estudo ordena os tipos de revisão citados em dois grupos distintos: as revisões que mapeiam e as revisões que avaliam e sintetizam. As revisões de mapeamento dizem respeito à primeira etapa de um levantamento bibliográfico e têm como finalidade levantar todas as referências secundárias sobre determinado tema. Ou seja, mapeiam estudos publicados em livros, sites, revistas, vídeo, tudo que possa contribuir para um primeiro contato com o objeto de estudo investigado, sem critério detalhado e específico para a seleção da fonte. Nessa abordagem, o levantamento bibliográfico trata o tema investigado de forma geral e sem sistematização metodológica, sem esclarecer de que forma foi realizado o levantamento das referências, quer seja manual, quer seja (também) por meio de softwares específicos, tais como o EndNote3 e o Mendeley,4 que permitem a exportação das referências localizadas para os dispositivos do pesquisador.

As revisões que analisam e sintetizam, diferentemente das que mapeiam, estabelecem uma questão investigativa, definem estratégias de diagnóstico crítico e de busca, exigem transparência no estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão dos estudos — que são, necessariamente, primários, ou seja, coletados pelo próprio pesquisador, tais como surveys, entrevistas, observações, relatos etc. (Davies, 2007). Com base nesses estudos, organizamos a abordagem do agrupamento da RL em revisão de mapeamento e revisão de avaliação e síntese, seguindo a divisão apresentada na Figura 1.

Fonte: elaborada pelas autoras com base nos estudos de Vosgerau e Romanowski (2014).

Figura 1 Organograma dos tipos de abordagens da revisão de literatura. 

No processo da RL, compete ao pesquisador o desafio de optar, entre as distintas abordagens e metodologias, pelo método que melhor capta os resultados das pesquisas publicadas em sua área de estudos. Pois, embora os métodos de coleta da RL tenham pontos em comum, cada um tem um propósito distinto, uma vez que cada uma das abordagens possui critérios de coleta e análise distintos, a depender do objetivo do tema a ser pesquisado (Rother, 2007). Whittemore e Knafl (2005) argumentam que a disseminação de metodologias distintas na pesquisa em RL tem contribuído para o uso de métodos mais sistemáticos e rigorosos.

Na Figura 2, apresentam-se os dois tipos de metodologias de pesquisa na RL: as RN e as RLS (Rother, 2007); as primeiras se enquadram na abordagem de mapeamento e as segundas na abordagem de avaliação e síntese. As subseções a seguir detalham os principais aspectos inerentes a cada uma dessas tipologias e suas principais diferenças.

Fonte: elaborada pelas autoras com base nos estudos de Rother (2007).

Figura 2 Organograma dos tipos de revisão de literatura. 

REVISÃO DE LITERATURA NARRATIVA

A RN, como método de pesquisa de literatura, no campo da abordagem das revisões de mapeamento, é apropriada para mapear referências sobre determinado assunto, possibilitando novas análises, descrição e argumentação, do ponto de vista teórico ou contextual das investigações publicadas. Nesse tipo de revisão, não há exigência de rigor nas informações referentes às fontes utilizadas na pesquisa, na apresentação da metodologia utilizada para a busca das referências, nem nos critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos.

Na RN, o pesquisador seleciona os trabalhos consultados de acordo com o ponto de vista teórico e o contexto do tema abordado, tratando-se, portanto, de uma síntese de pesquisas publicadas em artigos de revista, jornais impressos e/ou eletrônicos, em teses, dissertações e livros sobre determinado objeto de estudo, com base na interpretação e análise crítico-pessoal do pesquisador, autor da revisão de literatura narrativa. Uma vez que os critérios de busca não são especificados e as publicações são selecionadas de forma aleatória, os estudos de resultados da RN suscitam forte viés pessoal do pesquisador, pois a análise crítica frequentemente denota um olhar pessoal e subjetivo. Tais aspectos conduzem as evidências científicas das RN a serem mais facilmente questionadas (Rother, 2007).

Em lugar do termo RN — mais usado na área da saúde (Vosgerau e Romanowski, 2014) —, Yin (2016) utiliza "pesquisa tradicional". Esse autor afirma que o pesquisador, ao ler um estudo pela primeira vez para elaborar uma RN, deve cumprir as seguintes etapas para captar as informações das referências pesquisadas: i. identificar o tema de estudo, incluindo o problemas e/ou questão da pesquisa; ii. identificar a metodologia da pesquisa, incluindo as técnicas de coleta de dado, a extensão da coleta e o contexto da pesquisa; iii. identificar os principais resultados dos estudos, incluindo a data específica usada para representar os resultados e as principais conclusões do estudo; por fim, iv.fazer seus próprios comentários sobre as virtudes e fraquezas do estudo e os detalhes bibliográficos completos para citar o estudo.

Yin (2016) orienta que as informações coletadas na RN sejam registradas em tabelas e/ou planilhas do Excel. Aqui, incluímos aplicativos como Rayyan (Qatar Computing Research Institute — QCRI)5 e/ou softwares gerenciadores de referência como Mendeley, EndNote, Zotero, entre outros.

Para realizar uma RN com êxito, é imprescindível garantir o pilar da empiria da RL: o tema, o método e o resultado, elaborando, com base nesses fundamentos, a conclusão das referências levantadas, pilar representado na Figura 3.

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos estudos de Rother (2007) e Yin (2016).

Figura 3 Tripé dos pilares empíricos da revisão narrativa. 

REVISÃO DE LITERATURA SISTEMATIZADA

Na abordagem revisão de avaliação e síntese, a RLS se apresenta como síntese sistematizada de pesquisa. Esse método contribui para que políticas e práticas baseadas em evidências deem suporte empírico ao aumento das intervenções e informações científicas, as quais vêm crescendo velozmente e ocupando o espaço das pesquisas primárias no processo de tomadas de decisão na educação. A RLS diz respeito aos vários tipos de revisões sistematizadas que identificam as evidências de pesquisas acumuladas sobre um tópico ou uma questão, avaliando-as criticamente com relação à sua metodologia e às suas conclusões, determinando as mensagens coerentes e variáveis geradas por esse corpus de trabalho (Davies, 2007).

As revisões bibliográficas do tipo sistematizadas são uma síntese de estudos primários que contêm objetivos, materiais e métodos claramente explicitados e que foram conduzidos de acordo com uma metodologia clara e reprodutível. Ou seja, essa abordagem possui uma sequência de etapas predefinidas, em que a metodologia é especificada com técnicas padronizadas e passíveis de reprodução.

Com base nos estudos de Whittemore e Knafl (2005), as RLS podem ser realizadas por meio de diferentes métodos, quais sejam: a RI, a revisão sistemática, a metanálise e o metassumário, como se apresentam na Figura 4.

Fonte: elaborada pelas autoras com base em Whittemore e Knafl (2005).

Figura 4 Organograma dos métodos das revisões de literatura sistematizadas. 

Galvão, Sawada e Trevizan (2004) explicam que a primeira fase para a condução de um processo de RLS, em qualquer um dos seus métodos, consiste na elaboração de um protocolo, o qual garante que a revisão de literatura seja desenvolvida com o mesmo rigor de uma pesquisa. Os componentes básicos desse protocolo são: i. a pergunta da revisão; ii. os critérios de inclusão; iii. as estratégias para buscar as pesquisas e a definição de como as pesquisas serão avaliadas criticamente; iv. a coleta; v. a síntese dos dados; vi. a divulgação dos resultados. O planejamento das RLS deve ser cuidadosamente elaborado, e recomenda-se a avaliação do protocolo por um profissional competente, anterior ao início da revisão. No caso deste estudo, o Protocolo da RI foi analisado pela bibliotecária do Setor de Apoio ao Pesquisador da Biblioteca Universitária da UFMG.

REVISÃO NARRATIVA X REVISÃO DE LITERATURA SISTEMATIZADA

Um dos aspectos que distingue a RLS da RN é o nível de abrangência em que se dá a busca de estudos primários potencialmente relevantes. As RLS contribuem para evitar as leituras genéricas que muitas vezes se encontram nas RN ao se fazerem as buscas, bem como avaliar e analisar criticamente toda a literatura de pesquisa disponível sobre o objeto estudado. Diferem, ainda, em virtude da maneira como formulam uma pergunta de pesquisa, sua abordagem abrangente de investigação, sua estratégia de diagnóstico crítico, a transparência dos critérios para incluir ou excluir estudos primários e a criação de um protocolo (Davies, 2007).

A RN é recomendada para o mapeamento da produção científica disponível e para a (re)construção de redes de conceitos que articulam saberes de diversas fontes na tentativa de buscar novos conhecimentos daquilo que se deseja pesquisar (Cordeiro et al., 2007). Todavia, ainda segundo esses autores e com base nos estudos de Segura-Muñoz et al. (2002), a RN possui caráter "descritivo-discursivo", o que leva à não apresentação de "características de reprodutibilidade e repetibilidade, tornando-se demasiadamente empírico, obscuro, e/ou inconclusivo na opinião de alguns pesquisadores" (Cordeiro et al., 2007, p. 05). Os autores ressaltam, porém, que essa "afirmativa não nega a importância das revisões narrativas"; entretanto, abre janelas para novas possibilidades e para outros métodos de RL ainda pouco utilizados.

Com a inserção da RLS nos vários campos do conhecimento nas últimas décadas, novas formas de análise e síntese vêm sendo desenvolvidas; destaca-se, especialmente, a área das ciências da saúde — área de consolidação das revisões sistematizadas. Esse cenário caracteriza a RLS no domínio científico, por si mesma e por seus métodos bem definidos; não como o levantamento da literatura disponível, como trata a RN, mas como resultado de uma pesquisa com elevado rigor metodológico. De tal modo, os métodos das RLS vêm sendo utilizados com o intento de preencher as lacunas deixadas pela RN (Sampaio e Mancini, 2007).

REVISÃO INTEGRATIVA: UMA ANÁLISE TEÓRICA E DE APLICABILIDADE

No presente artigo, aborda-se apenas um dos quatro métodos das RLS — a RI. A construção teórica da RI baseia-se principalmente nos estudos de Cooper (1984), Ganong (1987), Broome (2006) e Whittemore e Knafl (2005). Com relação à aplicabilidade da RI, os estudos tomam por base as referências citadas neste artigo cotejadas com a práxis do método na RL do projeto de pesquisa de Alvarenga (2019). O procedimento foi escolhido por dois motivos: i. possibilitar a síntese e análise do conhecimento científico já produzido sobre o tema investigado: o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), como instrumento que induz relações intergovernamentais na federação brasileira com base nos processos da gestão escolar (Alvarenga e Oliveira, 2021); ii. apresentar um modelo teórico para a compreensão da "gestão escolar democrática" baseado na análise das relações intergovernamentais (RIG) induzidas pelo PDDE (Alvarenga, 2019).

A RI é um método específico da RLS, que resume o passado da literatura empírica ou teórica, para fornecer uma compreensão mais abrangente de um fenômeno particular (Broome, 2006). As RI se preocupam em integrar informações mais abrangentes sobre um tema, sejam elas advindas de pesquisa quantitativa ou qualitativa, podendo ser utilizadas para revisar teorias, propor conceitos e identificar lacunas de pesquisa.

O termo "integrativa" que denomina a RI tem origem na integração de opiniões, conceitos ou ideias provenientes das pesquisas utilizadas no método. A metodologia empregada na busca das fontes é especificada, e o material analisado pode incluir tanto estudos originais como revisões teóricas e relatos de casos. Na RI, há a exigência de que sejam especificados o objeto de estudo, a coleta e análise de estudos primários, a definição de critérios de busca, a análise sumária dos estudos e a evidência científica comprovada. O propósito básico da RI se constitui em adquirir um intenso entendimento de determinado fenômeno fundamentando-se em estudos anteriores.

Segundo Sampaio e Mancini (2007), entre os métodos de RLS, a RI é o mais amplo, tendo uma vantagem: permitir a inclusão simultânea de pesquisa qualitativa, experimental e quase experimental, proporcionando uma compreensão mais completa do tema de interesse e a combinação de dados de literatura teórica e empírica. Este aspecto permite ao revisor elaborar uma RI com diferentes finalidades, ou seja, ela pode ser utilizada para a definição de conceitos, para a revisão de teorias ou para a análise metodológica dos estudos incluídos de determinado tópico.

Para Whittemore e Knafl (2005), o processo de análise de literatura com o uso da RI requer a formulação de um problema, a catalogação da pesquisa de literatura, a definição dos procedimentos de escolha da literatura, a avaliação crítica de um conjunto de dados, a análise de dados e a apresentação dos resultados.

Com base nos estudos realizados, o processo de elaboração da RI encontra-se bem definido na literatura. Entretanto, diferentes pesquisadores adotam formas específicas de definir as etapas da RI. No estudo que culminou com a elaboração deste artigo, optamos pelos argumentos de Whittemore e Knafl (2005), para quem o processo de RI deve seguir uma sucessão de seis etapas bem definidas. Elas podem ser visualizadas na Figura 5 e serão apresentadas mais detalhadamente em seguida.

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos estudos de Whittemore e Knafl (2005).

Figura 5 Funcionograma da revisão integrativa. 

Por meio das seis etapas da RI, o processo permite reunir, analisar e sintetizar resultados de pesquisas sobre um tema delimitado ou questão, de forma sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. A Figura 5 apresenta graficamente as seis etapas do método da RI e seu funcionamento, devendo elas ser seguidas rigorosamente pelos pesquisadores.

ARQUITETURA TEÓRICA DAS SEIS ETAPAS DA REVISÃO INTEGRATIVA

Nesta subseção, detalhamos teoricamente as seis etapas da RI. As particularidades da execução da RI serão expostas no item Protocolo de uma RI, a ser apresentado na próxima subseção.

A primeira etapa consiste, primordialmente, na identificação do tema e seleção da questão de pesquisa. Ela norteia a construção do protocolo de uma RI. Sua organização subsidia o entendimento teórico da revisão e inclui definições aprendidas de antemão pelos pesquisadores ou um projeto de pesquisa, por exemplo. De tal modo, esta etapa se inicia com a definição de um problema e a formulação de uma pergunta de pesquisa, que deve ser clara e específica, pois ela norteará toda a pesquisa (Mendes, Silveira e Galvão, 2008).

Após a formulação da pergunta de pesquisa, o próximo passo é definir os descritores e/ou palavras-chaves, aqui denominados "termos de busca", que subsidiarão a definição das estratégias de busca nos bancos de dados selecionados (Broome, 2006). A estratégia de busca é uma técnica ou um conjunto de regras para tornar possível o encontro entre uma pergunta formulada e a informação armazenada em uma base de dados. Lopes (2002) ressalta que, para o planejamento da estratégia de busca, a identificação apropriada dos elementos descritivos de um item e/ou registro de informação contido em uma base de dados é de fundamental importância. Para o autor, o ato de verificar a documentação da base a ser consultada, a fim de identificar a codificação definida pelo banco de dados para cada campo do item de informação, é um primeiro passo para a eleição de uma estratégia de busca que seja coerente com os bancos de dados a serem consultados pelo pesquisador. Por fim, cada passo dado na primeira etapa da RI deve estar relacionado e sistematizado em um documento próprio denominado Protocolo.

Na segunda etapa, estabelecem-se os critérios de inclusão e exclusão. Após a execução de todos os passos da primeira etapa, inicia-se a busca nas bases de dados para identificação dos estudos que serão incluídos na revisão. Esta etapa depende muito dos resultados encontrados ou delineados na etapa anterior, pois um problema amplamente descrito tenderá a conduzir a uma amostra diversificada, exigindo maior critério de análise do pesquisador. Frequentemente, a seleção de artigos inicia-se de forma mais ampla e afunila-se na medida em que o pesquisador retorna à sua questão inicial, pois o movimento de busca na literatura nem sempre é linear (Broome, 2006). Os critérios de inclusão e exclusão devem ser identificados no estudo, sendo claros e objetivos, mas podem passar por reorganização durante o processo de busca dos artigos e durante a elaboração da RI.

Na terceira etapa são apontados os estudos pré-selecionados e selecionados. Para identificar tais estudos, realiza-se a leitura criteriosa dos títulos, resumos e palavras-chaves de todas as publicações completas localizadas pela estratégia de busca, para posteriormente verificar sua adequação aos critérios de inclusão do estudo. Nos casos em que o título, o resumo e as palavras-chaves não são suficientes para definir sua seleção, recorre-se à publicação do artigo na íntegra. Os estudiosos das RLS recomendam que o processo de avaliação realizado na terceira etapa da RI passe pelo olhar analítico e criterioso de mais de um revisor.

Na quarta etapa, os estudos são categorizados. Esta etapa tem por objetivo sumarizar e documentar as informações extraídas dos artigos científicos encontrados nas fases anteriores. Essa documentação deve ser elaborada de forma concisa e fácil (Broome, 2006). As informações coletadas dos artigos devem incluir, por exemplo: tamanho da amostra e quantidade dos sujeitos, metodologia, mensuração de variáveis, métodos de análise e a teoria ou conceitos embasadores utilizados (Ganong, 1987).

Nessa lógica, para extrair as informações dos artigos, o pesquisador deve fazer uso de um instrumento que permita analisar separadamente cada artigo (tanto num nível metodológico quanto em relação aos resultados das pesquisas) e possibilite a síntese dos artigos, salvaguardando suas diferenças. Essa etapa é similar à de análise dos dados, realizada em pesquisas científicas tradicionais. Para analisar as informações coletadas nos artigos científicos, é necessário que o pesquisador crie categorias analíticas que facilitem a ordenação e a sumarização de cada estudo. Essa categorização pode ser realizada de forma descritiva, em que o pesquisador indica os dados mais relevantes para seu estudo (Broome, 2006). Para categorizar e analisar as informações, o pesquisador pode utilizar diferentes métodos, tais como: sintetização dos dados; listagens de fatores que mostram o efeito das variáveis ao longo do tempo de estudo; escolha ou exclusão de estudos, entre outros (Mendes, Silveira e Galvão, 2008). Para criar categorias, o pesquisador pode proceder de formas diferentes. Um exemplo é a listagem de variáveis, por meio da escolha de estudos válidos que se aproximem do tema de pesquisa, de forma que haja o descarte daqueles que não se aproximam da questão norteadora definida pelo pesquisador. O pesquisador deve deixar clara a maneira como analisa os dados extraídos dos artigos científicos (Ganong, 1987).

Na quinta etapa, fazem-se a análise e interpretação dos resultados. Esta etapa diz respeito à discussão sobre os textos analisados na RI. O pesquisador, guiado pelos achados, realiza a interpretação dos dados e, com isso, é capaz de levantar as lacunas de conhecimento existentes e sugerir pautas para futuras pesquisas (Ganong, 1987; Mendes, Silveira e Galvão, 2008). Para validar seu estudo, o pesquisador deve deixar claro quais lacunas foram encontradas na literatura e quais caminhos futuros outros pesquisadores podem adotar em suas pesquisas científicas (Ursi e Galvão, 2005). Os estudiosos das RLS recomendam que as revisões selecionadas desta abordagem passem pelo olhar analítico e criterioso de mais de um revisor.

Na sexta e última etapa, elabora-se a apresentação da revisão/síntese do conhecimento, que deve possibilitar a replicação do estudo. Esta última etapa consiste na produção de um artigo ou relatório de pesquisa que deve contemplar a descrição de todas as fases percorridas pelo pesquisador, de forma criteriosa, e deve apresentar os principais resultados obtidos. Para Mendes, Silveira e Galvão (2008, p. 763), essa etapa é "um trabalho de extrema importância, já que produz impacto devido ao acúmulo do conhecimento existente sobre a temática pesquisada". Por fim, tem-se a apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Nesta etapa, a pesquisa deve ser apresentada com detalhes, assim como as pesquisas de fontes primárias. A apresentação dos dados deve oferecer ao leitor informações sobre os estudos revisados, e não somente focalizar os achados mais importantes, devendo incluir os procedimentos adotados na condução da revisão, os aspectos relativos ao tema investigado e o delineamento dos estudos incluídos.

Para Whittemore e Knafl (2005), são o rigor metodológico e a sistematização da RI que a evidenciam como potencial para construir a ciência. Os dois autores, porém, alertam para os cuidados que os pesquisadores devem ter no momento da realização da RI, pois, sem a definição de métodos explícitos e sistemáticos, a margem de erros neste método torna-se considerável. Os autores lembram que o erro pode ocorrer em qualquer fase da revisão. Por exemplo, a fase da pesquisa bibliográfica pode ficar incompleta quando não se consideram importantes fontes primárias, ou até mesmo os dados das fontes primárias podem ser extraídos de forma incorreta ou ser mal interpretados. A RI deve ser conduzida com rigor e transparência de forma a permitir informações que possibilitem aos leitores avaliar a pertinência dos procedimentos empregados na elaboração da revisão.

PROTÓTIPO DE PROTOCOLO: FLUXO DA REVISÃO INTEGRATIVA DE UMA PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS

Nesta subseção, apresenta-se o Protocolo da RI da RL do projeto de pesquisa de Alvarenga (2019) como possibilidade de aplicação da RI nos estudos realizados no campo das políticas educacionais. O Protocolo discrimina todos os itens de cada etapa da RI com os seus conteúdos. Ele se inicia com um campo denominado "Identificação", no qual constam informações como: título da pesquisa que origina a revisão; objetivos da pesquisa, dando ao leitor informações suficientes para o entendimento do tema da pesquisa e o tipo de estudo; metodologia da RI.

É importante definir as etapas da metodologia, que difere entre os estudiosos do método. Em nosso caso, optamos por utilizar as seis etapas apresentadas por Whittemore e Knafl (2005), além de definir os autores envolvidos no processo da revisão com a indicação dos papéis de cada pesquisador, como o responsável pelo planejamento da pesquisa, da redação do Protocolo, pela busca sistemática e a seleção dos estudos.

No Protocolo, devem ser pontuados os itens que vão responder às questões metodológicas referentes à RI: quem revisou os artigos? Houve mais de um revisor envolvido? Os artigos foram avaliados independentemente por cada revisor? De que forma?

No caso deste Protocolo, foram convidados dois revisores do Grupo de Pesquisa em Política e Administração de Sistemas Educacionais (GruPase/FaE/UFMG) para a análise das referências rastreadas pela aplicação da estratégia de busca nas bases de dados. Na análise do título, resumo e palavras-chaves — etapa inicial do processo de seleção —, os estudos foram avaliados independentemente por cada revisor. Entre os selecionados, a avaliação do texto completo foi realizada apenas pela autora do projeto de pesquisa (Alvarenga, 2019). A título de exemplo, apresentamos no Quadro 1 uma síntese com todos os elementos essenciais que devem compor um Protoco de RI, com vista a exemplificar a aplicabilidade do método. Em suma, apresenta-se o fluxo do processo da RI na Figura 6. O procedimento da RI se divide em seis estágios distintos, mas complementares entre si, a saber: i. elaboração do protocolo de pesquisa, que compreende a sistematização das atividades previstas nas primeira e segunda etapas da RI; ii. gestão da literatura — trata-se do gerenciamento da literatura selecionada, que corresponde às ações da terceira etapa; iii. coleta de dados — momento da organização da bibliografia pesquisada, que se refere às questões previstas na quarta etapa; iv. análise dos dados — estágio em que se fazem os estudos, a interpretação e discussão dos achados na literatura, ações que dizem respeito às atividades da quinta etapa; v. síntese da revisão, correspondente à elaboração de relatórios — estágio que harmoniza com as atividades da sexta etapa; vi. escrita e publicação dos resultados, momento quando se elaboram artigos que descrevam detalhadamente a revisão.

Quadro 1 Protocolo de revisão integrativa 

IDENTIFICAÇÃO
  1. Título do Projeto de Pesquisa: Relações Intergovernamentais na Gestão das Escolas Públicas do Estado de Minas Gerais: uma análise por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE (2007-2020) (Alvarenga, 2019).

  2. Objetivo da RI: identificar e analisar o conceito de gestão escolar.

  3. 3. Metodologia: RL com abordagem qualitativa e sistemática, do tipo RI, com a utilização do método em seis etapas distintas.

  4. Autores envolvidos no processo da revisão: Eldaronice Queiroz de Alvarenga (planejamento da pesquisa; elaboração da primeira versão do Protocolo de RI; levantamento da literatura e inclusão nos aplicativos; pré-seleção e seleção da literatura com base nos critérios de inclusão e exclusão contidos no Protocolo; elaboração de um tutorial para uso do Rayyan e Mendeley para os revisores; análise dos resultados; escrita da primeira versão dos artigos de resultados); Maria Clarice Lima Batista (revisão da primeira versão do Protocolo com olhar técnico profissional); Rosimar de Fátima Oliveira e Eyleen Nabyla Alvarenga Niitsuma (análise científica da primeira versão do Protocolo); Daniel Santos Braga e Franceline Rodrigues da Silva (revisores da literatura selecionada).

1ª ETAPA
Temática: Financiamento público da gestão educacional.
Tema: Gestão escolar financeira.
Objeto de estudo: o PDDE.
Sujeitos de pesquisa: escolas públicas estaduais localizadas no estado de Minas Gerais.
Contexto da pesquisa: a gestão escolar a partir da indução das Relações Intergovernamentais (RIG) provocadas pelo PDDE.
Temporalidade da pesquisa: janeiro/1995 a janeiro/2022.
Hipótese do projeto de pesquisa: o PDDE, ao induzir relações entre o Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), as Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Educação, as Unidades Executoras (UEx) e as escolas públicas, reorganiza a gestão escolar democrática prescrita na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 [Brasil, 1996)].
Problemas do Projeto de Pesquisa a serem respondidos pela RI: As RIG induzidas pelo PDDE na gestão escolar redefiniram o modelo de gestão escolar democrática definida na LDB/96? Como ocorrem e quais são as relações centro-escola induzidas pelo PDDE na gestão escolar? O que as pesquisas empíricas realizadas no período de janeiro de 2000 a janeiro de 2022 apontam a respeito das relações centro-escola induzidas pelo PDDE na gestão escolar? O que se sabe e/ou quão pouco se sabe sobre um modelo teórico para compreensão da "gestão escolar democrática" mediante a análise das RIG induzidas pelo PDDE?
Categorias de análise: Gestão escolar; PDDE; relações intergovernamentais.
Descritores definidos com base nas categorias de análise:
  • Gestão escolar: administração escolar, instituição de ensino, democracia, democrática, participação, representação.

  • PDDE: Programa Dinheiro Direto na Escola; financiamento na modalidade do PDDE, pactuação, contrato.

  • Relações intergovernamentais: coordenação, articulação, relação, interconexão, integração, burocratas, ações articuladas, assistência técnica, assistência financeira, regulação, governança, monitoramento, controle, formulação, execução, instrumentos normativos, procedimentos, atores institucionais, instrumentos de articulação entre os entes federados e a gestão escolar, consenso, deliberação, decisão.

Questão norteadora: Qual a definição de "gestão escolar democrática" na literatura pesquisada?
2ª ETAPA
Estratégias de busca: a amostragem para a seleção foi determinada por meio dos seguintes critérios de inclusão e exclusão:
  1. Inclusão:

    1. Definição de gestão escolar como desfecho

    2. Estudos publicados na íntegra com resumos

    3. Estudos publicados na íntegra

    4. Estudos com data de publicação no período de janeiro de 1995 a janeiro de 2022

    5. Trabalhos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol

    6. Artigos publicados em periódicos revisados pelos pares (peer review)

    7. Pesquisas publicadas e artigos de periódicos disponíveis em base de dados assinadas pela Capes, com acesso remoto pela UFMG, via Comunidade Acadêmica Federada (CAFE)

    8. Pesquisas publicadas como dissertações, teses e artigos, depositadas e disponíveis na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações/ Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia — BDTD/IBICT

  2. Exclusão:

    1. Ausência de desfecho

    2. Publicações sem resumo

    3. Publicações duplicadas

    4. Estudos fora da temporalidade definida

    5. Publicações em outros idiomas, não especificados no Protocolo

    6. Artigos não revisados pelos pares (assinados ou de acesso aberto)

    7. Artigos publicados em outras bases de dados

    8. Dissertações e teses publicadas em outras bases de dados

Termos de busca: (Programa Dinheiro Direto na Escola OR Direct Money in School Program) AND (Gestão Escolar OR Gestão Escolar Democrática OR Relações Intergovernamentais OR Financiamento PDDE).
Uso de operadores booleanos (estratégias específicas): uso de AND (limita a busca, faz a inclusão de termos); OR (expande a busca para contemplar pelo menos um dos termos indicados), sendo usado para termos diferentes com o mesmo significado — no caso, Programa Dinheiro Direto na Escola ou PDDE; NOT (exclusão, limita a busca, exclui artigos que contêm o termo indicado — no caso desta pesquisa, o termo saúde, que usa muito a sigla PDDE).
Bases de dados:
http://bdtd.ibict.br/vufind/
http://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.p
Justificativa para a definição das bases de dados:
As bases de dados foram selecionadas com base nos seguintes aspectos, considerados suficientes para realização desta RI.
A BDTD, desenvolvida pelo IBICT*, inclui a maioria dos repositórios das teses e dissertações gerados das pesquisas das instituições de ensino superior no âmbito nacional. Outro fator foi a operabilidade do motor de busca, com a interface de busca mais eficiente para a recuperação e filtros nos temas pesquisados, em relação ao Catálogo de Teses e Dissertações da Capes.
Para a pesquisa de artigos de revisão, o Portal de Periódicos da Capes** é a maior biblioteca virtual de informação científica dirigida à comunidade acadêmica nacional, composta de bases de pesquisa pagas, assinadas pela Capes e bases de livre acesso. O conteúdo é disponível gratuitamente para a comunidade acadêmica das instituições de ensino e pesquisa do Brasil.
No BDTD do IBICT:
1. Utilizou-se a "busca avançada" para os termos definidos, nos campos adequados.
2. Definiu-se o período de 1995 até 2022.
3. Salvaram-se as teses e dissertações em pastas de RI no computador, organizadas e identificadas separadamente para dissertação (mestrado) e tese (doutorado), de acordo com os termos de busca por assunto. Em seguida, os arquivos foram exportados para o Mendeley, visto que a plataforma da BDTD/IBICT não permitiu o processo de exportação dos arquivos diretamente para Rayyan.
No Portal de Períodicos Capes:
1. Utilizaram-se os serviços personalizados oferecidos pela ferramenta CAFE, da Comunidade Acadêmica Federada, com recursos para o acesso e a identificação pela comunidade acadêmica. A ferramenta viabiliza o acesso remoto (em computadores fora da instituição e até no exterior) ao conteúdo assinado (pago) pelo Portal de Periódicos. O acesso é feito mediante a identificação do usuário (alunos, servidores, professores, pesquisadores e, especificamente no caso da UFMG, também aos ex-alunos). A senha para identificação é o login e senha do Minha UFMG, cadastro que toda a comunidade vinculada à instituição possui para acesso a todos os serviços. O Portal Capes oferece também a ferramenta "Meu Espaço", com cadastro individual, que possibilita salvar as pesquisas feitas, favoritar artigos e utilizar o serviço de alerta para receber notificação de artigos novos indexados com termos escolhidos pelo usuário. O Sistema de Bibliotecas da UFMG possui o Setor de Apoio ao Pesquisador (https://www.bu.ufmg.br/bu_atual/o-sistema-de-bibliotecas/apoio-ao-pesquisador/), que oferece treinamentos individuais e coletivos, presenciais e remotos, também por meio de seu canal no YouTube (https://www.youtube.com/c/Suporte%C3%A0PesquisaUFMG), no qual ficam gravadas as apresentações de convidados sobre bases e ferramentas para pesquisa. O Setor intermedia, entre os editores e a Capes, problemas e sugestões relacionados ao uso do Portal.
2. Estratégias de busca no Portal de Periódicos: Na busca avançada, utilizou-se o termo Programa Dinheiro Direto na Escola (em "Qualquer campo", significando a busca nos campos de título, palavras-chaves); selecionou-se no segundo campo "É exato" para garantir a busca do termo composto em sua integridade, excluindo a possibilidade da busca das palavras isoladas. Acrescentou-se a booleana OU para pesquisar junto à sigla PDDE, utilizando "É exato" para garantir a exatidão da sigla. Acrescentou-se também o NÃO para excluir os trabalhos relacionados à saúde nos quais a sigla apareceu, conforme demonstrado abaixo:
No filtro de data: selecionou-se "nos últimos 22 anos"; no filtro de idioma "inglês, português, espanhol"; data inicial: 01/01/2000; data final: 31/01/2022. No filtro de revisão: optou-se por marcar "mostrar somente periódicos revisados pelos pares". No filtro tipo de material: "artigos". Todos os filtros foram utilizados conforme demonstrado abaixo:
3 As referências foram exportadas para o EndNote e organizadas, conforme os termos de busca, para posteriormente anexá-las ao Rayyan, como demonstrado no print a seguir:
Organização do material coletado das bases de dados:
  • Os artigos do Portal Capes foram enviados para o EndNote, organizados em pastas pelos termos de busca e, em seguida, exportados para o aplicativo Rayyan.

  • As dissertações e teses foram salvas em PDF; em seguida, exportadas para o aplicativo Mendeley, uma vez que o BDTD não possibilitou a exportação direta para o Rayyan.

3ª ETAPA
Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados
  1. Organização dos estudos pré-selecionados em pastas individuais, utilizando os aplicativos Rayyan QCRI e/ou Mendeley.

  2. Triagem pela remoção de duplicatas pelo pesquisador principal.

  3. Seleção do material pré-selecionado pela leitura do resumo, palavras-chaves e título das publicações por dupla de revisores de maneira independente.

  4. Resolução de discordâncias por consenso.

  5. Seleção dos estudos elegíveis pela leitura do texto completo pelo pesquisador principal.

4ª ETAPA
Organização dos estudos selecionados
  • 1. Formação de uma biblioteca para os estudos selecionados pelo pesquisador principal:

  • 1.1. para artigos exportados do Portal de Periódicos da Capes, foi utilizado o aplicativo EndNote;

  • 1.2. para teses e dissertações, foi organizada uma biblioteca individual no computador.

  • 2. Material selecionado organizado em pastas nomeadas de acordo com os termos de busca.

  • 3. Análise crítica dos estudos elegíveis para compor a revisão.

5ª ETAPA
Análise e interpretação dos resultados
  1. Leitura completa e criteriosa dos estudos selecionados pelo pesquisador principal.

  2. Elaboração de planilha para registro dos dados.

  3. Registro dos resultados pertinentes em planilha do Excel.

6ª ETAPA
Escrita da revisão/síntese do conhecimento
  1. Elaboração dos procedimentos (descrever detalhadamente como se deu a revisão com base neste protocolo).

  2. Elaborar artigo e publicá-lo em coautoria com os revisores.

Fonte: elaborado pelas autoras com base em Alvarenga (2019; 2021) e Alvarenga e Oliveira (2021).

*O IBICT desenvolveu e coordena a BDTD, que integra por meio eletrônico os sistemas de informação de teses e dissertações existentes em todas as instituições de ensino superior e pesquisa do Brasil, dando maior visibilidade à produção científica nacional. Fonte: https://bdtd.ibict.br. Acesso em: 20 mar. 2021.

**O Portal de Periódicos Capes busca fortalecer os programas de pós-graduação no Brasil por intermédio da democratização do acesso on-line à informação científica. O Portal fornece, por meio do seu site, acesso a diversos conteúdos em formato eletrônico, tais como: textos disponíveis em mais de 45 mil publicações periódicas, nacionais e internacionais; diversas bases de dados que reúnem trabalhos acadêmicos e científicos, além de patentes, teses e dissertações, entre outros tipos de materiais, cobrindo todas as áreas do conhecimento. O portal pode ser acessado por intermédio de computadores conectados à internet no interior das instituições ou por acesso remoto por meio de usuário e senha. Esta última maneira foi denominada de acesso CAFE. Fonte: https://www-periodicos-capes-gov-br. Acesso em: 20 mar. 2021.

Fonte: elaborada pelas autoras com base em Alvarenga (2021).

Figura 6 Fluxo da Revisão Integrativa. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A RI tem o potencial de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo o rigor metodológico das revisões sistemáticas. O método nasce como alternativa para revisar rigorosamente e combinar estudos com diferentes metodologias e integrar os resultados científicos.

Com base no estudo analítico apresentado neste artigo, que objetivou demonstrar as possibilidades do uso da RI no campo da educação, conclui-se que a revisão sistemática integrativa na área das políticas públicas educacionais pode auxiliar pesquisadores, acadêmicos, formuladores de políticas e profissionais a tomarem decisões bem fundamentadas sobre as políticas públicas educacionais. O método permite incorporar resultados da eficácia ou não da metodologia utilizada na investigação, ou mesmo análises científicas no campo da empiria de determinada política pública. Assim, a RI constitui-se como um método meritório para a realização de RL no campo das políticas públicas educacionais, pois permite a combinação de dados da literatura empírica e teórica que podem ser direcionados à definição de conceitos, identificação de lacunas nas áreas de estudos, revisão de teorias e análise metodológica dos estudos sobre determinado tópico. A combinação de pesquisas com diferentes métodos combinados na RI amplia as possibilidades de análise da literatura.

Ao apresentar um protocolo específico em pesquisa realizada no campo das políticas públicas educacionais, este artigo comprova a aplicabilidade dessa metodologia em um estudo da subárea das políticas públicas educacionais. A RI, portanto, pode ser considerada uma técnica adaptável para a realização da RL neste campo de estudo. Embora tenhamos clareza de que combinar dados de delineamento de pesquisas qualitativas e quantitativas diversas seja complexo e desafiador, a condução da RI, por meio da inclusão de uma sistemática rigorosa, resulta na diminuição de vieses e erros em um trabalho de revisão.

Feito isto, pode-se firmar a RI como instrumento válido da RL, no cenário atual, das políticas públicas educacionais no Brasil. A variedade de referências bibliográficas que podem ser utilizadas na composição da amostra de uma RI conjugada com a multiplicidade de finalidades desse método proporciona como resultado um quadro completo de conceitos, teorias, metodologias disponíveis no campo científico e/ou problemas relativos às políticas públicas no campo educacional.

Apesar das possibilidades de aplicação da RI na dimensão educacional apontadas neste manuscrito, que incluam a RI como método de RLS, perante as lacunas reveladas nos estudos entendemos ser necessário intensificar esforços no desenvolvimento de pesquisas com delineamentos metodológicos daquele método, principalmente na empiria das políticas públicas educacionais.

Espera-se, com este estudo, contribuir para a comunidade acadêmica que aspira a um maior rigor metodológico na pesquisa em educação e proporcionar uma visão geral de como realizar uma RI na prática, bem como servir de insight para novas pesquisas relativas ao tema.

1Neste artigo, propomos o uso do termo revisões de literatura sistematizadas (RLS), que engloba os métodos da revisão integrativa, da revisão sistemática, metanálise e sumário. Optou-se por utilizar esta definição em substituição ao termo "revisão sistemática", proposto pelos autores Whittemore e Knafl (2005), a fim de evitar dúbio entendimento com o método "revisão sistemática".

2Dados que sustentam e/ou refutam uma afirmação. Há vários tipos de evidências disponíveis aos pesquisadores, acadêmicos e profissionais, para dar sustentação a ideias e proposições que surgem como parte de uma pesquisa ou trabalho: observação de documentos, da escuta das palavras de outros, da razão ou da reflexão, das pesquisas, no geral, sejam elas de qualquer tipo (Thomas, 2007).

3Software gerenciador de referências bibliográficas desenvolvido pela Clarivate Analytics e disponível gratuitamente na plataforma Web of Science. O acesso e registro podem ser por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), disponível em http://www.periodicos.capes.gov.br. Acesso em: 10 abr. 2021.

4Software gratuito disponibilizado para acadêmicos por uma empresa sediada em Londres, Reino Unido. O software é conhecido principalmente por seu gerenciador de referências, usado para gerenciar, compartilhar, ler, anotar e editar artigos científicos, teses e dissertações e para criar uma rede de investigação para gerir análises de RL on-line, descobrir tendências de investigação e se ligar a outros pesquisadores com o mesmo interesse em uma área de estudo. Fonte: www.mendeley.com. Acesso em: 15 maio 2021.

5Aplicativo da web gratuito, financiado pela Qatar Computing Research Institute, uma organização sem fins lucrativos do Qatar, utilizado primariamente para auxílio em revisões de literatura com abordagem sistemática. Oferece uma variedade de recursos, incluindo a criação de um projeto de revisão, convite a colaboradores, exploração de citações em diferentes formatos, exportação, importação, rotulagem e filtragem de citações, categorização em referências incluídas, excluídas e "em dúvida", cegamento entre revisores e identificação automática de potencial duplicidade. Fonte: https://www.rayyan.ai. Acesso em: 20 jun. 2021.

Financiamento:Os estudos fundamentam-se no Projeto de Pesquisa "Relações intergovernamentais na gestão das escolas públicas do Estado de Minas Gerais: uma análise por meio do PDDE (2007-2020)", que contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), n. APQ 01372-21.

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, Eldaronice Queiroz de. Projeto de Pesquisa Relações Intergovernamentais na Gestão das Escolas Públicas do Estado de Minas Gerais: uma análise por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE (2007-2020). Belo Horizonte: UFMG, 2019. [ Links ]

ALVARENGA, Eldaronice Queiroz de. Base de dados da revisão de literatura da pesquisa Relações Intergovernamentais na Gestão das Escolas Públicas do Estado de Minas Gerais: uma análise por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE (2007-2020). Belo Horizonte: UFMG, 2021. [ Links ]

ALVARENGA, Eldaronice Queiroz de; OLIVEIRA, Rosimar de Fátima. PDDE: Mecanismo Indutor de Relações Intergovernamentais na Gestão das Escolas Públicas Brasileiras. Seminários Regionais da ANPAE [Recurso Eletrônico] Organizadores: Gilda Cardoso Araujo, Itamar Mendes da Silva, Lilian Marques Freguete, Lorrainy Ferrari e Rosenery Pimentel do Nascimento. Local: Vitória, ES: nº 06, 2021. Tema Central: "A educação na pandemia: dilemas da democracia e o direito à Educação". ISSN 2595-5705. Disponível em: https://www.seminariosregionaisanpae.net.br/index.htm. Acesso em: 08 fev. 2022. [ Links ]

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Recebido: 09 de Março de 2023; Aceito: 22 de Agosto de 2023

Conflitos de interesse:

Os autores declaram que não possuem nenhum interesse comercial ou associativo que represente conflito de interesses em relação ao manuscrito.

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