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Revista de Educação PUC-Campinas

versão impressa ISSN 1519-3993versão On-line ISSN 2318-0870

Educ. Puc. vol.29  Campinas  2024

https://doi.org/10.24220/2318-0870v29a2024e12953 

DOSSIÊ A construção de âncoras narrativas em tempos de plataformização digital

Autobiografia, narrativa e pesquisaformação: princípios, conceitos e finalidades nas pesquisas qualitativas em educação

Autobiography, narrative and researcheducation: principles, concepts and specifics in qualitative research in education

Joelson de Sousa Morais1 
http://orcid.org/0000-0003-1893-1316

1Universidade Federal do Maranhão, Curso de Pedagogia, Programa de Pós-Graduação em Educação e Práticas Educativas. Imperatriz, MA, Brasil. E-mail: joelson.morais@ufma.br.


Resumo

O presente texto configura-se como um ensaio teórico-bibliográfico e reflexivo que tem como objetivo compreender as dimensões conceituais, reflexivas e interpretativas da autobiografia, narrativa e da pesquisaformação2 nas pesquisas qualitativas em educação, mais especificamente refletir acerca dessas abordagens de pesquisa, seus princípios e finalidades no contexto da formação de professore(a)s e nas pesquisas científicas. Para isso, a fundamentação teórico-epistemológica desta escrita se tece mediatizada em diálogo com o(a)s autore(a)s das pesquisas narrativas e (auto)biográficas, com os contributos de: Marie-Christine Josso, Paul Ricoeur, Dilthey, Ivor Goodson, Inês Bragança, Conceição Passeggi, Elizeu Clementino de Souza, entre outro(a)s. Como lições e aprendizagens, este estudo revelou que a pesquisaformação é um dispositivo metodológico potencial que vem transformando os modos de fazer pesquisa e de se formar, simultaneamente, com o uso das narrativas autobiográficas, trazendo o sujeito para o centro do debate e das discussões, o que tem feito diferença tanto na academia quanto na sua articulação com outras instâncias socioculturais, sendo a escola uma dessas instituições, entre outras, que se retroalimentam dando vigor, sentido e significado à vida, à aprendizagem, à formação docente e à construção do conhecimento científico.

Palavras-chave Construção de conhecimentos; Educação; Formação de professore(a)s; Pesquisa autobiográfica

Abstract

This text is configured as a theoretical-bibliographic and reflective essay that aims to understand the conceptual, reflective and interpretative dimensions of autobiography, narrative and research-formation, in qualitative research in education, more specifically, reflexively on these research approaches, their principles and specifically in the context of teacher training and scientific research. To this end, the theoretical-epistemological foundation of this writing is weaved through dialogues with authors of narrative and (auto)biographical research with contributions from: Marie-Christine Josso, Paul Ricoeur, Dilthey, Ivor Goodson, Inês Bragança, Conceição Passeggi, Elizeu Clementino de Souza and others. As lessons and learning from the study revealed that research training is a potential device that has been transforming the ways of doing research and training, simultaneously, with the use of autobiographical narratives, bringing the subject to the center of debate and discussions, which has difference both in the academy and in its articulation with other sociocultural instances, with the school being one of these institutions, among others, that feed each other back, giving vigor, meaning and meaning to life, learning, training and construction of scientific knowledge.

Keywords Construction of knowledge; Education; Teacher training; Autobiographical research

Introdução

Em tempos de mudanças aligeiradas das sociedades, neste século XXI, que alteram, cada vez mais, os ritmos, as intensidades e os modos de vida, formação e profissão das pessoas, propor uma discussão acerca das narrativas no campo da educação e das pesquisas científicas torna-se uma preciosidade e uma necessidade premente. Isso se deve, sobretudo, pelo fato de que quando os sujeitos narram suas experiências contribuem e apontam suas potencialidades em diferentes perspectivas: formativas, psicológicas, educacionais, socioculturais e de outras tantas dimensões.

Uma constatação merece destaque, e torna-se fundamental situá-la nestes tempos atuais de aceleramento da vida, formação e profissão pela força do capital: a de que, como sinalizado por Benjamin (2012) no século XX, a arte de narrar está em vias de extinção. Para contrapor essa lógica, este texto apresenta-se como uma das possibilidades de combate ao desperdício da experiência, com vistas a trazer a narrativa para o centro do debate da formação e do desenvolvimento profissional docente e de forma a ser um dispositivo metodológico, de pesquisa e formação, em face de o sujeito se configurar como autor e protagonista desse processo.

Além do mais, a relevância do tema das narrativas também se dá por empreender um processo em que a pessoa que narra passa a dar sentido à sua vida, à pesquisa, à formação e à aprendizagem quando essas são percebidas, refletidas e conscientizadas nos percursos trilhados por ela, renovando-se e se projetando nos caminhos a galgar.

Assim, busca-se dar valor e legitimidade à trama epistemológica, política e metodológica de um saber e conhecimento plural, complexo e inter, multi e transdisciplinar que seja fruto da própria vida, formação e experiência, construídas pelas múltiplas aprendizagens, tecendo, em diálogo com muitos sujeitos, contextos e espaçostempos existenciais, bem como com o conhecimento do campo educacional.

A perspectiva multifacetada de aprender, conhecer e tomar consciência das caminhadas mediatizadas por processos formativos e de autoformação concebida pela pesquisaformação narrativa autobiográfica3 leva a pessoa a um estado de reflexividade que é transformador e emancipatório, capaz de múltiplas (re)invenções de si, do(a) outro(a), do mundo e do seu entorno, tecendo outras tantas possibilidades de vida, formação e profissão.

Narrar os acontecimentos pelos quais passam os sujeitos, em tessituras caracterizadas por afetações e marcas do que, em sua memória, são possíveis de evocar e refletir, são maneiras outras de combater o esquecimento das sensações, emoções e sensibilidades que cada um(a) consegue enxergar e transpor, criativamente, nas escritas narrativas das experiências trilhadas pelas pessoas e, principalmente, quando essas narrativas são pensadas, produzidas, refletidas e interpretadas por professore(a)s e pesquisadore(a)s em suas produções e nas pesquisas científicas que elaboram.

Situar a narrativa como um trampolim para se pensar os vários níveis de composição de si em movimentos assimétricos e que vão se descortinando no devir que se apresenta como possibilidades na vida, experiência e formação de cada sujeito: eis, pois, o caráter instituinte com que se materializa e se apresenta, no contexto de uma pesquisa científica, desenvolvida no âmbito da pesquisaformação narrativa autobiográfica.

Como um campo em contexto de expansão nas últimas quatro décadas no Brasil e no mundo em diferentes áreas do saber e do conhecimento, as abordagens sobre pesquisas narrativas e autobiográficas visam a “[...] contribuir para a construção de novas formas de se conceber a pessoa humana e os meios de pesquisa sobre ela e com ela” (Souza, 2023, p. 4).

Nesse sentido, “a autobiografia é a forma mais elevada e mais instrutiva, na qual a compreensão da vida vem ao nosso encontro” (Ditlhey, 2010, p. 178). Por isso, “é a narrativa que torna acessível a experiência humana no tempo, o tempo só se torna humano através da narrativa” (Ricoeur, 2010, p. 1, XI) – daí a importância de narrar, de registrar as experiências vividas por meio da narração, da memória e da experiência que emerge, em um jogo simbólico e existencial entre o praticar a ação, pensar sobre ela e narrá-la. Desse modo, a “[...] ação de narrar e de refletir sobre as experiências vividas, ou em devir, permite dar sentidos ao que aconteceu, ao que está acontecendo, ao que pode mudar ou permanecer inalterável, mas também ao que poderia ter acontecido e por quais razões” (Passeggi, 2021, p. 94).

Em consideração ao exposto, cabe ressaltar que “[...] o aporte (auto)biográfico apresenta uma natureza formadora, produz conhecimento e, potencialmente, pode constituir uma experiência de transformação pessoal e coletiva” (Bragança, 2012, p. 87). Por isso a sua relevância e pertinência nas pesquisas qualitativas em Educação que a adotam como perspectiva teórica, metodológica, política e epistemológica.

O presente texto, portanto, configura-se como um ensaio teórico-bibliográfico e reflexivo que situa discussões conceituais, interpretativas e compressivas acerca da autobiografia, das narrativas e da pesquisaformação no contexto das pesquisas qualitativas em educação – dimensões essas que nos acompanham há doze anos em estudos, pesquisas e publicações sobre seus usos metodológicos na docência universitária nos cursos de licenciatura em que o autor desse texto vem atuando, sobretudo no curso de Pedagogia.

A questão mobilizadora de partida deste texto delineia-se a partir da seguinte provocação: quais conceitos e implicações (trans)formadoras podem ser dados com as autobiografias, narrativas e pesquisaformação nas abordagens de pesquisas qualitativas em educação?

Embora não seja um imperativo categórico, as reflexões aqui produzidas tem acompanhado algumas pesquisas que são produzidas dentro dessas abordagens, nas quais o(a)s autore(a)s pesquisadore(a)s não explicitam seus conceitos e suas próprias compreensões e entendimentos conforme o termo que utilizam nos seus escritos, seja essa uma pesquisa narrativa, autobiográfica ou pesquisaformação. Portanto, ressalta-se a necessidade de os autores apontarem, em seus textos, o seu entendimento de forma a situar o(a) leitor(a) sobre qual perspectiva de discussão está sendo trilhada, propiciando, assim, outras percepções e interpretações possíveis.

Cabe salientar, inicialmente, que cada uma dessas perspectivas é abordada em seus respectivos campos conceituais, metodológicos e teóricos; algumas se entrelaçando, mutuamente, umas com outras, e, por vezes, concebidas de forma independente e separadas, razão pela qual este texto se propõe a pôr em evidência o conceito de autobiografia, narrativa e pesquisaformação e os seus respectivos princípios e finalidades nas pesquisas qualitativas em Educação.

Esta escrita tem como objetivo compreender as dimensões conceituais, reflexivas e interpretativas da autobiografia, narrativa e pesquisaformação nas pesquisas qualitativas em Educação, mais especificamente refletir acerca dessas abordagens de pesquisa, seus princípios e suas finalidades no contexto da formação de professore(a) e nas pesquisas científicas.

Para isso, a fundamentação teórico-epistemológica deste escrito se tece mediatizada em diálogos com autores(as) de pesquisas narrativas e autobiográficas e com os contributos de: Marie-Christine Josso, Paul Ricoeur, Dilthey, Ivor Goodson, Inês Bragança, Conceição Passeggi, Elizeu Clementino de Souza, entre outro(a)s.

Este artigo está organizado em cinco momentos. Neste primeiro, são situadas as contextualizações sobre o estudo. O segundo traz reflexões acerca das narrativas no campo educacional com suas dimensões conceituais e interpretativas. O terceiro discute os fundamentos e as finalidades da autobiografia, com seus conceitos e usos na Educação. O quarto explicita os princípios e dimensões da pesquisaformação na abordagem narrativa e autobiográfica e o último, traz algumas lições e aprendizados, como considerações reflexivas que ficam.

Sobre a narrativa e seus postulados no campo educacional

O campo das pesquisas narrativas é muito amplo, complexo e multifacetado, sendo constituído de inúmeros conceitos, implicações e modos de interpretações, assim como é plural o delineamento das perspectivas que são produzidas pelo(a)s autore(a)s que se enveredam por essa abordagem.

Além do mais, é possível identificar reflexões que situam o campo das pesquisas narrativas e autobiográficas em diversas áreas do saber, nas quais discutem seus postulados, princípios e suas abordagens conceituais, reflexivas e interpretativas que trazem riqueza, diferentes enfoques e modos diversos de compreensão do vivido pelo narrar.

É válido salientar dois grandes momentos do movimento autobiográfico em Educação no Brasil e suas configurações, explicitados no Quadro 1, que foram importantes para que se avançasse no debate a respeito dessa abordagem.

Quadro 1 Períodos históricos dos movimentos autobiográficos em Educação no Brasil. 

Períodos Desdobramentos
Anos 1990 Primeiro momento de eclosão do autobiográfico e das histórias de vida em Educação
Anos 2000 Expansão e diversificação dos temas de pesquisa com metodologia de investigação científica e abordagens autobiográficas.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Passeggi e Souza (2016).

As narrativas são fonte de estudos de diferentes correntes de pesquisa e áreas do conhecimento e se tecem em variadas perspectivas ao longo da sua historicidade, desde o início do século XX, e, mais fundamentalmente, de forma mais alargada e aprofundada no século XXI, sobretudo nas últimas quatro décadas (Bragança, 2023; Breton, 2023; Goodson, 2020; Josso, 2010; Passeggi, 2023; Souza, 2023).

Entre as várias correntes de pensamento e áreas do conhecimento que tomam a narrativa como escopo de estudos, pesquisas e coro privilegiado e que vêm adotando as narrativas como subsídios teóricos, metodológicos e epistemológicos, avançando vertiginosamente seu campo de reflexões e pesquisas nas últimas décadas, podem ser citadas: filosofia, sociologia, letras-linguística, psicologia, história e educação, entre outras. O texto em pauta se debruça em citar e transitar um pouco apenas pelas áreas mencionadas acima, tendo em vista serem do escopo de estudos, pesquisas e reflexões trilhados pelo autor, ao longo da vida acadêmica, científica, formativa, profissional, em face dos interesses pessoais que são mobilizados nessa abordagem.

Na área da filosofia, podem ser mencionados, como exemplos de produção de conhecimentos, os trabalhos desenvolvidos por Walter Benjamin, Paul Ricoeur e Wilhelm Dilthey; na sociologia, os de Franco Ferraroti, Daniel Bertaux e Claude Dubar; nas letras e linguística, os estudos de Philippe Lejeune e Leonor Arfuch; na psicologia, pode ser citada a obra de Jerome Bruner; na história, merecem destaque as pesquisas de Ivor Goodson e François Dosse; na educação, destacam-se as reflexões de Marie-Christine Josso, Cristine Delory-Momberger, António Bolívar, Inês Bragança, Conceição Passeggi, Elizeu Clementino de Souza, entre outro(a)s.

Como as perspectivas, formas de abordagens e os modos de reflexão e entendimentos acerca da narrativa são diversos e amplos, cabe explicitar os conceitos tecidos por autore(a)s de algumas áreas escolhidas para reflexão neste texto.

Se faz mister elucidar quais diferenças e modos de entrelaçamento são possíveis de tecer entre narrativa, autobiografia e pesquisaformação no campo das pesquisas qualitativas em Educação, razão pela qual esta parte do texto busca refletir sobre essa primeira dimensão – da narrativa – no tocante a algumas concepções e seus postulados.

Nem sempre a narrativa é autobiográfica, porque ela pode se constituir da contação de histórias de outras pessoas – tratando-se, nesse caso, de uma biografia. A biografia busca traçar os itinerários trilhados por uma pessoa, mas suas histórias de vida são contadas por outra pessoa, buscando o maior grau de fidelidade possível dos acontecimentos vividos por quem é biografado(a). Nesse sentido, como “gênero híbrido, a biografia se situa em tensão constante entre a vontade de reproduzir um vivido real passado, segundo as regras da mimesis, e o polo imaginativo do biógrafo, que deve refazer um universo perdido segundo sua intuição e talento criador” (Dosse, 2015, p. 55).

No caso da Educação e da docência, a narrativa pode ser produzida pela revelação de experiências educativas ou de práticas pedagógicas de aulas desenvolvidas pela tessitura de saberes e fazeres de professore(a)s nos seus cotidianos escolares ou de outras instituições, lugares e contextos onde estiverem imerso(a)s e atuando profissionalmente. Nesse sentido, contar o que se fez não necessariamente implica falar de si. A narrativa inscrita, nessa lógica, aproxima-se mais de um relato de experiência ou de uma descrição de acontecimentos de experiências vividas pelo sujeito a partir do fazer cotidiano da/na profissão.

Um exemplo de tipo de narrativa que não é concebida como autobiográfica é a narrativa pedagógica, a qual é desenvolvida por meio de estudos e reflexões sobre situações vividas no cotidiano escolar por professore(a)s e é fruto de acontecimentos tecidos em aulas ou relacionadas à prática pedagógica docente em diálogo com o(a) educando(a)s nos processos de ensino e aprendizagem. Vale a pena trazer uma citação que elucida os princípios das narrativas pedagógicas:

Buscam resgatar acontecimentos das aulas, seja para dizer de seus processos de aprendizagem que não cabem na linguagem verbal (como fotos, filmes, trabalhos pedagógicos dos alunos), seja para contar momentos em que esses registros de avaliações dos alunos não dão conta, até se configurarem como método de produção de “dados” e textos de análise em investigações científicas, orientando-se pelas proposições e fundamentações bakhtinianas

(Prado; Seródio, 2015, p. 53).

Já a autobiografia (que será mais bem discutida na seção a seguir) implica um movimento outro em que a pessoa fala do que fez; ou seja, narra acontecimentos vividos por ela, em diálogo com o coletivo e fruto de atravessamentos que envolvem reflexões sobre si – tecidas sobre sua vida pessoal, formativa, acadêmica, profissional e sociocultural, em um entrelaçamento dessas com uma variedade de outras tantas dimensões e com a presença do componente da memória, da sensibilidade, da afetação e da emoção. É um entregar-se na contação de histórias de vida de forma a expressar acontecimentos, fatos temporais e contextos vividos por si, tirando lições e implicando em aprendizagens, construção de conhecimentos, propiciando formação no dinamismo da reflexividade tecida entre o si, o(a) outro(a), as experiências vividas e em função de diferentes temporalidades nas quais a pessoa esteve presente ou que exercitou a sua memória, sua evocação e reflexão.

Uma significativa contribuição que tematiza sobre narrativa, desenvolvida por Ricoeur (2010) em sua potente trilogia Tempo e narrativa a partir dos estudos que ele fez das categorias de temporalidade em Santo Agostinho na obra Confissões, produzida no gênero narrativa, e da Poética de Aristóteles acerca do fazer humano, em um desdobramento na composição da narrativa como tessitura de intriga, é concebida como um gênero que se dá por meio do transcurso da ação humana, refletida e construída como imitação e representação como artes do fazer, mobilizadas pelo sujeito. Em uma reflexão elucidativa sobre o conceito expresso por esse autor, é possível compreender sua proposição reflexiva na medida em que ele afirma que “chamamos de narrativa exatamente aquilo que Aristóteles chama de mythos, isto é, agenciamento dos fatos” (Ricoeur, 2010, p. 65).

Nesse sentido, a narrativa é um gênero discursivo no qual se produz reflexões e tomadas de consciência, como uma linguagem de expressão da experiência vivida pela reflexividade empreendida pela pessoa a partir de suas histórias cotidianas de vida, de sua formação ou profissão, mediante a imersão na memória acerca dos fatos vividos e experienciados por si em diferentes temporalidades da existência.

Ao pensar por esse prisma, cabe salientar um conceito relevante sobre narrativa no âmbito da pesquisaformação de abordagem autobiográfica no campo da Educação. Segundo Morais e Bragança (2021a, p. 226), “a narrativa é um gênero do discurso, no qual se materializam as experiências vividas pelo sujeito, mediadas pela reflexividade (auto)biográfica sobre os percursos trilhados no decurso da sua existencialidade”.

Assim, cabe refletir conceitualmente que a narrativa é um relato da experiência de um sujeito em que é feita uma reflexão a respeito do que se pensa (produzindo uma reflexão da reflexão; ou seja, uma metarreflexão), do que se faz e do que é tecido cotidianamente (em termos das práticas de vida, formação e desenvolvimento profissional) a partir das implicações que o afetam, produzindo significações do vivido, praticado e refletido e gerando transformações em si e nos contextos à sua volta.

Esse esforço de pensar por esse viés leva a invocar um pensamento de Bolívar, Domingo e Fernandez (2001, p. 20, tradução própria), que compreendem:

[...] como narrativa, uma experiência expressada como um relato, por outro (como enfoque de investigação), as pautas/formas de construir sentido, a partir de ações temporais pessoais, por meio da descrição e análise de dados biográficos. É uma particular reconstrução da experiência (do plano da ação ao sintagmático da linguagem), pelo que – mediante um processo reflexivo – dá-se significado ao acontecido ou vivido.

Desse modo, a narrativa, portanto, é uma elaboração oriunda das experiências trilhadas por um sujeito na qual pratica-se uma reflexividade tecida pela linguagem sobre acontecimentos que os afetou, produzindo um conjunto de sensações, reflexões e transformações de si com o outro e reverberando no estado de ser, estar, pensar e fazer.

Traz-se, também, um potente conceito de narrativa expresso por Delory-Momberger (2016), que usa a expressão de biográfico em suas escritas – bem aos moldes de como concebem essa abordagem o(a)s autore(a)s francófonos(as). Segundo a autora, “a categoria biográfica poderia ser definida como uma categoria da experiência que permite ao indivíduo, nas condições de sua inscrição sócio-histórica, integrar, estruturar, interpretar situações e os acontecimentos da experiência” (Delory-Momberger (2016, p. 138).

À luz das reflexões conceituais disponíveis na literatura, é possível compreender que a narrativa diz respeito a um modo de contar a experiência vivida por um sujeito e é mobilizada pelo exercício da memória, do pensar e do tirar lições e aprendizados do vivido pelos acontecimentos pelos quais esse passou nos itinerários que trilhou.

Mediante os conceitos expressos, questiona-se: quais as contribuições das narrativas para as pesquisas qualitativas no campo da Educação?

[...] Os efeitos gerados pela narrativa devem, de fato, situar-se na escala da compreensão, por meio do modo como o sujeito confere sentido à experiência vivida ao longo do tempo, segundo uma perspectiva longitudinal, dando-lhe sentido ao participar da forma como se realiza em um ou mais modos de existência

(Breton, 2023, p. 11).

Desse modo, a pessoa que narra as suas experiências de vida, pesquisa, aprendizagem ou formação reflete acerca dos percursos que trilhou; toma consciência, através da narração, do que viveu e atribui outros sentidos a essas experiências, que passam a guiar seus projetos, cujos aspectos podem gerar transformações significativas em sua existência. Então entra em jogo uma reflexividade narrativa em que a pessoa passa a se ver pela narração, e na qual, muitas vezes, o componente das histórias de vida emerge, tecendo, portanto, uma escrita narrativa autobiográfica cuja abordagem será mais bem discutida na próxima seção.

A autobiografia e suas dimensões formativas nas pesquisas qualitativas em Educação

Deve-se salientar, primeiro, que neste texto será usada a expressão “narrativa autobiográfica” para fazer referência à autobiografia, tendo em vista as posições políticas, teóricas e epistemológicas adotadas no texto pelos(as) autores(as) e em consonância com o posicionamento já defendido anteriormente de que toda autobiografia implica em ser situada como uma narração – por isso a escolha do uso dos termos conjugados, os quais, por vezes, poderão aparecer separadamente.

Para desenvolver uma pesquisa narrativa autobiográfica, alguns aspectos se tornam desafiantes, pois são complexos e constituídos de incertezas, e se juntam a um cenário de aprofundamento do campo. Essas questões se dão, justamente, pelo fato de que compreender o campo autobiográfico requer a mobilização de leituras da área, regada por um constante movimento de exercitar uma escrita narrativa reflexiva em primeira pessoa e por um processo de lapidação da experiência temporal de modo que o sujeito se sinta implicado e faça sentido para si, para o outro e para o meio circundante.

Por isso, a pessoa que escolhe narrar a sua pesquisa autobiograficamente precisa se munir de um conjunto de elementos que aliam um voltar-se para si, exercitar a memória para se lembrar de acontecimentos que, transpareceram mais relevantes em sua vida, e empreender uma ousada aventura de interpretar as experiências vividas de modo a constitui-las em aprendizagens e construções de conhecimentos e que, de algum modo, signifiquem como um processo de formação e autoformação.

Na esteira desse pensamento, na tessitura de uma pesquisa-formação4, tornam-se fundamentais as proposições cunhadas por Josso (2010), uma das fundadoras da corrente de Histórias de vida em formação, inicializada na década de 1980 com os usos metodológicos das narrativas de histórias de vida na Educação e formação de adultos.

Segundo a autora, essa proposta de pesquisa-formação inscrita pelo protagonismo das narrativas de vida tecidas pela própria pessoa gera um efeito transformador, o qual implica em um olhar renovado sobre si mesmo e como sujeito sociocultural que é e que se vai constituindo em um vir a ser em constante movimento da existência (Josso, 2010).

Posto isso, convém trazer alguns conceitos relevantes sobre autobiografia de modo a situar suas implicações e seus reflexos no contexto das pesquisas qualitativas em Educação, que é o foco do presente texto.

No bojo de uma reflexão de validade hermenêutica que prima pelo processo de compreensão e interpretação da vida em movimento, entrelaçando experiências vividas no decurso dos acontecimentos trilhados pelo sujeito, cabe elucidar, conceitualmente, que “a autobiografia é apenas a autorreflexão do homem sobre o seu transcurso vital, uma autorreflexão expressa de maneira escrita. Tal autorreflexão, porém, renova-se em certo grau em todo indivíduo. Ela sempre está presente” (Dilthey, 2010, p. 180).

O componente autobiográfico, portanto, faz parte do sujeito, condiz com a sua própria condição existencial e se transmuta em diversos tipos e modos de expressão do vivido, assim como na composição da identidade e da subjetividade de cada pessoa. Porém, nem sempre se faz presente, dada a importância que o sujeito atribui a si e às suas histórias de vida, bem como às circunstâncias nas quais a autobiografia emerge ou não, por meio de dispositivos variados como conversas, cartas, diários e outros vários.

Outra contundente reflexão conceitual sobre autobiografia posiciona o sujeito no centro do debate de uma reflexão sobre si no transcurso da sua experiência vivida. Para ser mais preciso, nas palavras de Lejeune (2008, p. 14), a autobiografia seria definida como “narrativa retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz de sua própria existência, quando focaliza sua história individual, em particular a história de sua personalidade”.

Face ao exposto, a autobiografia condiz com a tessitura de uma narrativa que o sujeito faz de si próprio em uma escala temporal de sua existência, buscando relatar acontecimentos de sua história de vida em diferentes espaços, tempos e circunstâncias.

Cabe salientar, então, que o teor da narrativa autobiográfica pode se revelar em variados assuntos, frutos dos interesses do(a) narrador(a), bem como em função das marcas deixadas em suas memórias vividas, das escolhas feitas dos acontecimentos a narrar e dos mecanismos que dispararam suas memórias e histórias a serem contadas no momento em que emergiram.

De todo o modo, a narrativa autobiográfica revela muito de quem narra, se compõe de um valor axiológico que é intransferível para outrem e possui uma dimensão estética, uma vez que cada pessoa narra com um estilo próprio e de uma forma diferente da outra, expressa sensibilidades, emoções e propicia a tomada de consciência de si pela narração das histórias dos sujeitos.

No contexto das pesquisas qualitativas em Educação, quais os princípios, as finalidades e as contribuições das abordagens narrativas autobiográficas? E, mais especificamente, em se tratando dessa abordagem produzida de forma escrita, quais os ganhos para as pesquisas científicas? Diante desses questionamentos, convém salientar que: “A narrativa autobiográfica oferece um terreno onde explorar os modos como se concebe o presente, divide o futuro, e, sobretudo, se conceitualizam as dimensões intuitivas, pessoais, sociais e políticas da experiência educativa” (Bolívar; Domingo; Fernandez, 2001, p. 19, tradução própria).

As diferentes temporalidades (passado, presente e futuro) se fazem presentes no processo de narrar, e é sob esse hibridismo entre o ontem, hoje e o amanhã que o sujeito consegue se enxergar ao tomar consciência da sua historicidade, passando a atribuir sentido ao que vivenciou em sua existência, experiência e formação.

No tocante à escrita narrativa autobiográfica, em função da qual muitas pesquisas científicas são produzidas, a sua riqueza é tamanha pelo fato de que traz, a quem narra, conhecimento de si, aludido pela narração de histórias de vida nas quais se entrelaçam outras dimensões que atravessam o sujeito, como de ordem macro: de âmbito sociocultural, político, econômico e de outros tantos contextos. É consoante as reflexões sobre narrativas ao posicionamento defendido por Goodson (2019) ao assinalar que das pesquisas, quando passam a se nutrir do pessoal e biográfico, como no caso do(a)s professore(a)s, acabam emergindo, inclusive, o político, o econômico e o social, o que é vital para a compreensão da realidade, da formação e da profissão do(a)s envolvido(a)s e do (re)posicionamento das políticas públicas, dos currículos e de tantos outros conhecimentos necessários e imprescindíveis para a área.

A diferença da escrita narrativa autobiográfica nas pesquisas qualitativas em Educação em relação a outros tipos de pesquisa é o seu poder de formação e transformação do sujeito, o qual produz conhecimento sobre si próprio a partir das narrativas das suas histórias de vida e que vai se (re)inventando no processo, no coletivo e na partilha, mediatizado pelos registros da experiência e na construção potencial de aspectos que aliam, de forma tridimensional, o enriquecimento da formação, a construção de conhecimentos e a tessitura de aprendizagens.

Nesse sentido, primar por esse tipo de abordagem como perspectiva teórica, metodológica, política e epistemológica revela-se como um divisor de águas tanto para quem pesquisa como para quem participa dos estudos. Os retornos são satisfatórios para ambo(a)s, professore(a)s e pesquisadore(a)s, narradore(a)s em suas mais diversas contribuições sobre o ensino, a pesquisa, a formação e a profissão.

Se faz relevante, portanto, pensar nos contributos das escritas narrativas autobiográficas para as pesquisas qualitativas em Educação tendo em vista a potencial vitalidade concebida pelo seu poder de formação e transformação e pelo fato de serem tecidas em uma outra racionalidade que se pauta pela sensibilidade e coloca, de forma entrelaçada à vida, a pesquisa, a aprendizagem, a formação e a profissão, as quais se entranham uma na outra e produzem o tecido vivo, pulsante e enriquecedor da pesquisa. Nesse sentido, “a escrita autobiográfica ancora-se em uma racionalidade outra, sensível, estética. Entramos e não sabemos como vamos sair, pois somos envolvidos por movimentos que nos tomam e (trans)formam” (Bragança, 2023, p. 10).

Desse modo, reflete-se sobre a riqueza da pesquisa narrativa, corroborando a respeito dos desafios da aventura autobiográfica no campo científico defendidos por Souza (2023), cuja abordagem tem uma aposta de caráter epistemopolítico que coloca, no centro, a capacidade de reflexividade produzida pelo próprio sujeito; uma aposta pós-colonial, a qual se assenta contrária às visões monolíticas, elitistas e que nega a reflexividade do sujeito como produtor de conhecimentos, e pós-disciplinar, na qual cada pessoa tem o direito de ir e vir na construção de outros tantos referenciais heurísticos de vida, pesquisa e formação. Aliás, ressalta-se que, “como aposta pós-disciplinar, a pesquisa (auto)biográfica emerge do horizonte de conhecimentos que os humanos constroem em suas narrativas autobiográficas, sobre eles mesmos e sobre seu contexto social e histórico” (Souza, 2023, p. 8).

Por isso, produzir pesquisa narrativa autobiográfica em Educação implica em um poder de decisão que é desafiante, complexo e constituído de uma escolha determinada, consciente e fundamental para a pessoa que a assume, tendo em vista ser uma abordagem que situa o sujeito como autor(a), ator/atriz e protagonista do seu próprio processo de formação, em entrelaçamento com o(a)s tanto(a)s outro(a)s com o(as) quais dialoga no processo, com o mundo, com os acontecimentos e fatos, e, em permanente constituição de subjetividades, sempre em mutação. Requer, portanto, entrega, exposição e se acercar de que é o caminho que move o sujeito com o espírito, corpo, alma, deleite e emoção.

Enfim, a beleza e o encanto do gênero narrativo autobiográfico, no âmbito da pesquisa científica, implicam considerar que o “[...] Auto.Bio.Grafar é saber-poder conceber-se, reconhecer-se sob várias peles, renascer de outras maneiras no processo de reflexão narrativa” (Passeggi, 2023, p. 9). Produzir narrativas é se permitir habitar outros mundos, inaugurar novas possibilidades e se (re)descobrir sob várias outras facetas em um mergulho na subjetividade.

Narrar de forma autobiográfica, é, portanto, se lançar a uma metamorfose em que não se sabe como começar, o que se encontrará e desvelará no percurso, e nem como será o final, pois é uma aventura permanente que não cessa; o sujeito simplesmente mergulha, se encontra, encanta-se e transborda sob vários níveis de composição de si com o(a) outro(a), passando a atribuir cada vez mais significado ao processo de pesquisaformação. É sob essa forma de pesquisar e se formar, simultaneamente, em coletivo e partilha nos processos empreendidos na pesquisa científica que será pauta a discussão na próxima seção.

Pesquisaformação narrativa autobiográfica: princípios conceituais e epistemopolíticos

Esta parte do texto dispara alguns questionamentos que são fundamentais para pensar a proposição do tema desta seção e o encadeamento das discussões feitas ao longo deste escrito: é possível fazer pesquisa sem aprender e se formar? Aprofundando um pouco mais a provocação, questiona-se: desenvolver uma pesquisa científica em Educação, na qual o(a) professor(a) pesquisador(a) narrador(a) desenvolve, mergulha e se vê implicado(a), não traria processos de formação, autoformação e mudanças de percursos, reflexões de si, do outro, do que ele faz e dos caminhos vários a trilhar?

Acredita-se que todas as dimensões se entrelaçam e se implicam na vida, na pesquisa e na formação das pessoas que escolhem desenvolver uma pesquisa narrativa autobiográfica e, sobretudo, quando primam pela abordagem metodológica da pesquisaformação. Afinal de contas, não há como viver a pesquisa, com todas as suas sinuosidades, seus atravessamentos, as escolhas feitas, interrelações estabelecidas nos contextos e com as pessoas que fazem parte do estudo, bem como na mobilização de processos reflexivos, interpretativos e a construção de conhecimentos ao longo da escrita do texto científico sem se deixar afetar, tocar, sentir, aprender, formar e se transformar. Por isso que toda pesquisa é, também, uma pesquisaformação, mesmo que esses termos não sejam usados, mas as pessoas envolvidas aprendem, se formam com ela, no percurso e com tudo o que está entrelaçado, e se transformam durante o processo, no começo, no meio e no fim, sempre em movimento e em constante dinamismo.

Feitas essas considerações, passa-se, agora, a explicitar um pouco mais sobre os princípios conceituais e epistemopolíticos da pesquisaformação narrativa autobiográfica em Educação. Por que conceituais? Pelo fato de evidenciarem o que é uma pesquisaformação de modo a situarem seu entendimento e sua compreensão nas pesquisas qualitativas em Educação. E por que epistemopolíticas? Por que essa abordagem de pesquisa tem um viés de construção de conhecimentos – por isso, epistêmico e, ao mesmo tempo, político, pois se tece em uma corrente de estudos que privilegia o saber e o conhecimento da pessoa na transformação de si com o outro, fruto do seu engajamento e de modos de interpretações nos seus contextos sociopolíticos, econômicos e culturais, nos quais estão imersas as suas contribuições na tessitura de aprendizagens, saberes, conhecimentos e formação.

Os atravessamentos indissociáveis entre pesquisar-formar são tributários da corrente das Histórias de vida em formação, da obra de Marie-Christine Josso, Pierre Dominicé, Gaston Pineau, António Nóvoa, Maria da Conceição Passeggi, Elizeu Clementino de Souza e Maria Helena Menna Barreto Abrahão, sendo as palavras grafadas articuladas por um hífen. No presente texto são tecidos diálogos que aproximam os campos de estudo da referida corrente com os estudos nos/dos/com os cotidianos escolares, a partir das contribuições de Nilda Alves e no âmbito das experiências narrativas e autobiográficas, optando pelo uso do neologismo pesquisaformação com as contribuições de Inês Bragança.

Nesse sentido, é importante destacar que, neste texto e em outros estudos e pesquisas, assume-se a pesquisaformação não apenas em abordagens metodológicas que envolvem grupos. Mesmo quando o trabalho consiste em uma narrativa autobiográfica do(a) autor(a) ou por meio da participação de narradores(as) em diálogo com o(a) pesquisador(a), entende-se que a pesquisa narrativa autobiográfica leva a uma perspectiva formadora, tanto para quem está no papel de pesquisador(a) narrador(a) quanto para o(a)s participantes envolvido(a)s.

Feitos esses apontamentos, convém assinalar a compreensão conceitual adotada neste texto de pesquisaformação para seguir com suas finalidades no contexto das pesquisas qualitativas em Educação. Desse modo,

[...] Qualificamos esse cenário de “pesquisa-formação” porque a atividade de pesquisa contribui para a formação dos participantes no plano das aprendizagens reflexivas e interpretativas e toma lugar, no seu percurso de vida, como um momento de questionamento retroativo e prospectivo sobre seu(s) projeto(s) de vida e sua(s) demanda(s) de formação atual

(Josso, 2010, p. 71).

Assim, quem realiza estudos adotando o princípio da pesquisaformação no bojo da abordagem narrativa autobiográfica se forma em conjunto com quem está participando ao mesmo tempo em que pesquisa. Trata-se de um tipo de pesquisa que não separa a vida da pesquisa, da formação, da aprendizagem e do conhecimento; pelo contrário, todas essas dimensões se nutrem e retroalimentam-se de formas misturadas, com diferentes intensidades e em variadas temporalidades da existência, em movimento e em um constante dinamismo provocado entre memória, experiência e narração.

Diante do exposto, cabe salientar os princípios e pressupostos que remontam à origem da pesquisa-formação:

A pesquisa-formação tem sua origem na pesquisa-ação, já que busca um efetivo envolvimento dos pesquisadores na transformação individual e coletiva. Essa perspectiva encontra fundamentação na dialética histórica, no conceito de práxis, tal como proposto por Marx, que perspectiva uma filosofia que não apenas interprete o mundo, mas possa transformá-lo, por meio de uma relação de imbricação entre prática-teoria-prática

(Bragança, 2012, p. 115).

A pesquisa-formação emergiu, assim, como um modo de fazer pesquisa, rompendo com o modelo clássico que situava, em graus de separabilidade, o(a) pesquisador(a) e os sujeitos participantes do estudo. Ao contrário, o que preconiza essa abordagem, e com o que se justifica a sua defesa, é que as relações horizontais e o diálogo permanente, situando os sujeitos como aprendentes (pesquisador(a) e participantes da pesquisa) configuram-se como elementos disparadores e fundantes para que a pesquisa possa ser desenvolvida no decurso do processo.

A pesquisaformação implica um movimento de aprender, construir conhecimentos, se formar e autoformar durante todo o percurso da pesquisa, do começo ao fim do ciclo em que está imersa a pessoa, com as pessoas envolvidas, o contexto pesquisado e o fruto de múltiplos acontecimentos e atravessamentos socioculturais, políticos e existenciais que são suscitados nesse percurso.

Trata-se de um aprender que se constitui em uma dimensão plural e de forma ininterrupta ao longo de toda a vida, em que a pessoa leva para a sua pesquisa um conjunto significativo de acontecimentos que rememora o passado; atualiza-se no presente, com os acontecimentos vividos por si, e projeta-se, no futuro, pela narração, transpondo essas temporalidades em suas escritas narrativas autobiográficas, que se materializam, no texto científico, como resultado da sua reflexividade praticada durante o transcurso da pesquisa.

No caso do(a) professor(a) pesquisador(a) narrador(a), quando esse para e passa a pensar e elaborar uma reflexão acerca das suas experiências de vida, formação e profissão ao longo do tempo, faz escolhas do que se efetua e lhe afeta de modo mais significativo, faz relação com a sua pesquisa e seu estudo, transpõe para o escrito e se transforma em produção, no seu texto de trabalho de conclusão de curso, na graduação ou nas dissertações de mestrado e teses de doutorado. Por isso a relevância que reside no poder de implicação que é gerado pelo mergulho que fazem muito(a)s pesquisadore(a)s que escolhem a pesquisaformação como abordagem de pesquisa para se aprofundar e produzir conhecimento. Nesse sentido, conforme aponta a literatura:

Segundo esse novo paradigma, o professor como ser aprendente é capaz de compreender a historicidade de suas aprendizagens, realizadas e por se realizar, ao longo da vida (life learning), em todas as circunstâncias (lifewide learning), e de produzir teorias e conhecimentos sobre seus modos de fazer, de ser e de aprender

(Passeggi, 2016, p. 75).

Pela narrativa autobiográfica, efetuam-se processos de singularização promotores de criatividades produzidas pelos sujeitos através dos quais são tecidas uma busca e uma descoberta de si, ultrapassando qualquer forma de engessamento e imposição identitária ou formação de um perfil que, na verdade, vai se modificando, paulatinamente, pelo jogo subjetivo em que se transforma em vários espaçostempos da vida, experiência e pesquisaformação em que estão engajados(a)s e se lançam de forma desafiante como um devir.

Sobre o caminhar e tecer a pesquisaformação na abordagem narrativa autobiográfica, um trecho do diário de pesquisa de Morais (2022), extraído da sua tese de Doutorado em Educação, tematizado: Os sentidos da pesquisaformação em movimento, conta esse processo com o seguinte:

Não há receita e um modo pré-estabelecido de pesquisaformação na construção do conhecimento científico. Ela é um amálgama de saberes, conhecimentos e experiências que vão, paulatinamente, sendo construídas, única e singularmente pelo sujeito, fruto das necessidades que emergem em seu universo existencial, e articuladas com as demandas que se delineiam no princípio, e que surgem dos itinerários percorridos, além das múltiplas relações estabelecidas, construídas e transformadas por si, e pelos outros que nos põe a (re)ver e (re)pensar o que estamos pensando, fazendo e nos afetando sensivelmente pelos deslocamentos gerados

(Morais, 2022, p. 38).

Assim, pesquisar e formar se articulam de modo que o sujeito envolvido nesse processo possa ser transformado pela reflexividade que pratica na linguagem e que tece em suas experiências existenciais, formativas e profissionais, entre outras dimensões. Eis que o princípio da pesquisaformação, portanto, se consolida em ações empreendidas pelo sujeito na ação, tramadas em uma dialética em que está imerso, surtindo modificações em si, na realidade à sua volta e no contexto em que está envolvido.

Os princípios e as potencialidades da pesquisaformação no contexto das abordagens de pesquisas narrativas e autobiográficas condiz com o fato de que a pessoa faz uma incursão, a um voltar-se sobre si mesma para tirar lições, aprendizados e construir conhecimentos e formação em diálogos com dimensões socioculturais dos quais participa. Nesse sentido,

A potencialidade da pesquisaformação na abordagem narrativa (auto)biográfica se revela, portanto, rica na co-construção de inúmeras reflexões e transformações que acontecem em um voltar para si, resgatando memórias, histórias e percursos que, ao longo do processo formativo e de vida tecido pelo sujeito, vão nos fazendo – no momento em que acontece essa tomada de consciência do refletido – tecer, também, um processo de (auto)formação capaz de ser mobilizador de emancipações implicadas nos itinerários formativos da experiência em curso

(Morais; Bragança, 2021b, p. 7).

Com essa abordagem de pesquisa qualitativa, é possível perceber a riqueza e a potencialidade com que se apresenta no cotidiano do(a) narrador(a), tendo em vista que se ancora em uma ciência outra emergente, sensível e plural, que encontra, no sujeito, modos outros de tessitura de uma epistemologia da formação centrada no próprio sujeito. Por isso, o poder de formação, transformação e emancipação das consciências.

Reflexões Finais

É nas escritas narrativas da pesquisaformação que se tem a possibilidade de tecer uma reflexividade autobiográfica que amplia e permite a construção de saberes e fazeres da experiência e formação em que estão se desenvolvendo os sujeitos, promovendo, assim, tessituras subjetivas que desvelam outros tantos de si com o outro pelo encontro partilhado coletivamente.

Construir narrativas autobiográficas nesses tempos cada vez mais aligeirados em que a modernidade rouba a subjetividade do encontro consigo e com o outro, retirando a arte da narração, como criatividade e inventividade, é um modo privilegiado de autoconhecimento, por meio de múltiplas linguagens em que, de outros modos, não seria possível consolidar processos de compreensão, reflexão e transformação de si e do meio circundante, ao qual se poderia lançar.

O desafio posto no contexto da Educação, da pesquisaformação e da experiência é empreender possibilidades de construção teórica, metodológica e, ao mesmo tempo, política e epistemológica de narrativas autobiográficas como tessituras de uma subjetividade pulsante e emancipatória que recupera o sujeito em sua integralidade e lhe faz ser ator/atriz e autor(a) das suas próprias histórias, mediadas pela consciência operada em processos reflexivos que resgatam a sensibilidade, as emoções e os estados de ser e estar como capacidade transformadora do ser humano na sociedade.

A pesquisaformação, portanto, é um dispositivo potencial que vem transformando os modos de fazer pesquisa e se formar, simultaneamente, com o uso das narrativas autobiográficas, trazendo o sujeito para o centro do debate e das discussões, o que tem feito diferença tanto na academia, quanto na sua articulação com outras instâncias socioculturais, sendo a escola uma dessas instituições, entre outras, que se retroalimentam dando vigor e significado à vida, à aprendizagem, à formação e à construção do conhecimento científico.

As contribuições da pesquisaformação narrativa autobiográfica em Educação no bojo das pesquisas qualitativas em Educação se apresentam por meio de múltiplas vias: a primeira é que as pessoas envolvidas no processo são tomadas como as próprias produtoras, autoras e protagonistas das suas aprendizagens e formações pela reflexividade narrativa que empreendem, a partir das suas próprias histórias de vida. Desse modo, é um tipo de pesquisa que privilegia a vida em sua complexidade existencial, como componente fundamental do processo formativo na tessitura de uma racionalidade sensível, instituinte, estética e narrativa.

A segunda é que as pessoas que privilegiam as abordagens narrativas e autobiográficas ressignificam sua própria vida, experiência, pesquisa e formação quando passam a tomar consciência do poder e potencial da sua historicidade na construção de conhecimentos. A terceira é que, ao olhar para o passado pela memória, percebem o que foi significativo e que pode contribuir, de alguma forma, com o presente, rechaçam o que não lhes agrega valor e passam a guiar os seus projetos de futuro, razão pela qual suas vidas são transformadas e se deixam viver, fazer e entrecortar-se com a força motriz que move corpo, espírito, razão, emoção e paixão no valor e na legitimidade do campo autobiográfico, como razões e sentidos de uma existência que pulsa, transborda, envolve, faz muito mais sentido e permite experienciar modos outros de ser feliz, se deleitar, aprender e se formar na tessitura de uma pesquisa, educação, formação e de mundo melhor.

2A escolha da junção de duas ou mais palavras é tributária da inspiração nos estudos nos/dos/com os cotidianos, os quais têm Nilda Alves (2003) como fundadora. A intenção é ultrapassar o modelo clássico e hegemônico de ciência, permitindo a construção de outras tantas palavras e dando outros significados possíveis à escrita científica. Do mesmo modo, o texto se fundamenta em Inês Bragança (2018), que principiou o uso do termo pesquisaformação, junto e em itálico, no contexto das produções em um livro do Congresso Internacional de Pesquisa (auto)biográfica (CIPA), realizado em 2018.

3A expressão pesquisaformação narrativa autobiográfica foi usada pela primeira vez por Inês Bragança (2018) e aglutina as palavras “pesquisa” e “formação” numa mesma para dar sentido e responder à complexidade que abarca a abordagem de pesquisa que privilegia essas dimensões e que, muitas vezes, tonam-se indissociáveis na pesquisa científica em seu processo de elaboração pelo seguinte fato: quem pesquisa, se forma e aprende ao pesquisar – daí o termo “pesquisaformação”, e quem narra, não apenas fala do(a) outro(a), mas acaba falando de si também, daí o termo “narrativa autobiográfica”, em que o si e o outro podem emergir em um mesmo relato de experiência ou pesquisa desenvolvida.

4O uso do termo “pesquisa-formação”, separado por hífen, será primado na escrita deste texto quando estiver fazendo referência a Josso ou a outro(as) autores(a)s que o utilizam nesse formato, conforme retratam a origem dessa corrente metodológica de pesquisa na década de 1980 a partir de seus idealizadores (Josso, Dominicé, Finger e Pineau) e em consonância com o que evidenciam muitas pesquisas científicas nessa direção, enquanto “pesquisaformação”, junto e em itálico, é o modo como vem se pautando esse e outros escritos, como já salientado anteriormente, com inspirações em Nilda Alves (2003), em função dos estudos nos/dos/com os cotidianos e fundamentado em Bragança (2018) e Morais e Bragança (2021a; 2021b), na tessitura das pesquisas narrativas autobiográficas em Educação.

Como citar este artigo: Morais, J. S. Autobiografia, narrativa e pesquisaformação: princípios, conceitos e finalidades nas pesquisas qualitativas em educação. Revista de Educação PUC-Campinas, v. 29, e2412953, 2024. https://doi.org/10.24220/2318-0870v29a2024e12953

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Recebido: 17 de Maio de 2024; Revisado: 13 de Agosto de 2024; Aceito: 14 de Agosto de 2024

Editora

Luciana Haddad Ferreira

Conflito de interesse

Não há conflito de interesses.

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