(...) Para mim, o cinema que “educa” é o cinema que faz pensar, não só o cinema, mas as mais variadas experiências e questões que coloca em foco. Ou seja, a questão não é “passar conteúdos”, mas provocar a reflexão, questionar o que, sendo um constructo que tem história, é tomado como natureza, dado inquestionável
(Ismail Xavier, 2008, p. 15)
1 INTRODUÇÃO
Neste texto, pretendemos, a partir de dados obtidos em pesquisa realizada junto a professores de Geografia atuantes em escolas públicas de Dourados (MS), analisar como esses entendem e trabalham com o cinema no contexto educativo. A investigação da qual se originaram os referidos dados intitula-se: “O que pode o cinema na escola? Contribuições da Geografia para a regulamentação e implementação da Lei 13.006/2014”2 e integra a proposta comum da Rede Internacional de Pesquisa Imagens, geografias e Educação3.
A principal motivação para a realização da pesquisa foi a sanção da Lei nº 13.006/14, que acrescentou o parágrafo 8º ao artigo 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei Diretrizes e Base da Educação), instituindo a obrigatoriedade de exibição de filmes de produção brasileira nas escolas de educação básica, públicas e particulares, de todo o território nacional (BRASIL, 2014; 1996). Tal questão comparece no documento com a seguinte redação: “A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais”.
A pesquisa foi realizada no período de 2017 a 2020, envolvendo professores de Geografia atuantes na rede pública (escolas estaduais e municipais) de Dourados (MS), e teve como principal instrumento um questionário que foi aplicado junto aos professores que aceitaram participar da pesquisa4. O questionário era composto de 16 perguntas, entre questões abertas e fechadas, e visava identificar as relações pessoais e profissionais dos professores de Geografia com o cinema. Em Dourados, no total, 28 professores de Geografia responderam ao questionário, sendo que tais respostas embasam as análises apresentadas neste artigo.
O texto organiza-se em duas partes. Num primeiro momento, com base em autores como Duarte e Alegria (2008), Almeida (2017) e Freitas e Coutinho (2013), discutimos algumas ideias/questões que caracterizam as relações entre cinema e educação de forma geral, procurando destacar suas especificidades no que concerne ao ensino de Geografia. No segundo momento, apresentamos parte dos dados obtidos na pesquisa, de maneira a problematizar as concepções e práticas desenvolvidas pelos professores de Geografia quanto ao cinema e ao uso de filmes na escola.
2. CINEMA, EDUCAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA
Ao discutirem as origens das vinculações entre cinema e educação no Brasil, Duarte e Alegria (2008, p. 69) afirmam que a proposta de fazer uso do cinema como instrumento para educação escolar das massas analfabetas, provavelmente, foi compartilhada, desde o início, por educadores, produtores de cinema e gestores públicos e esse consenso pode ter ajudado a configurar o que os autores definem como “uso instrumental” de filmes em projetos educacionais. Em suas palavras, o “uso instrumental” se caracteriza como
(...) a exibição de filmes voltada exclusivamente para o ensino de conteúdos curriculares, sem considerar a dimensão estética da obra, seu valor cultural e o lugar que tal obra ocupa na história do cinema. Ou seja, se tomamos os filmes apenas como um meio através do qual desejamos ensinar algo, sem levar em conta o valor deles, por si mesmos, estamos olhando através dos filmes e não para eles (...).
(DUARTE; ALEGRIA, 2008, p. 69)
Almeida (2017), por sua vez, ao identificar as principais abordagens contemporâneas sobre cinema e educação, destaca, entre as mais conservadoras, aquelas que defendem o uso de filmes como ferramenta didática para ensino em sala de aula, o que caracteriza uma pedagogização do cinema. Em contraponto, o autor ressalta a presença de outras tendências que ampliam e problematizam essa dimensão instrumental ou pedagogizante na medida em que o consideram como: revelador de realidades e produtor de sentidos; forma de conhecimento ou, ainda, enfatizam o dimensionamento dos aspectos sensíveis e criativos do cinema.
Freitas e Coutinho (2013) evidenciam que a associação instituída entre cinema e educação pertence a uma matriz discursiva utilitarista, repetida e hegemônica. Assim, esses autores problematizam o uso recorrente e dominante do cinema em educação enquanto recurso didático-metodológico para o ensino-aprendizagem e como disciplinador de condutas e modos de ser:
Trata-se geralmente de uma função didática do cinema em educação, isto é, seu uso didático-metodológico como metáfora epistemológica, para transposição didática de ideias, situações ou conceitos, como imagem do pensamento, enfim, como recurso facilitador da relação ensino- aprendizagem. Assim, o uso do cinema em educação se dá de modo geral para ensinar, memorizar, repetir, explicitar, explicar, tornar claro, enfatizar, desde conceitos, saberes, períodos históricos e movimentos artísticos, culturais e sociais, indo até um uso predominantemente disciplinador e normalizador.
(FREITAS; COUTINHO, 2013, p. 478)
Embora apresentem perspectivas, objetivos e referenciais teórico-metodológicos distintos, os autores até aqui citados têm como ponto em comum a crítica à forma hegemônica com que o cinema tem sido concebido e utilizado em processos educativos. Assim, pode-se verificar, com base nesses autores, a existência de uma forte crítica ao caráter instrumental e utilitarista que predomina em grande parte das concepções sobre cinema e educação.
Quando direcionamos esta discussão especificamente para o campo da Geografia escolar, podemos relacionar a dimensão instrumental ou utilitarista do cinema com o que Oliveira Junior e Girardi (2011) denominaram concepção criativa das linguagens no ensino de Geografia. Nesta concepção, as linguagens (incluindo-se também a cinematográfica) atuam nas proximidades de seu sentido de comunicação, destacando-se as preocupações com a didática ou com as metodologias de ensino. Assim, “(...) a idéia de linguagem aparece nestes trabalhos como sinônima de recurso, ferramenta ou instrumento, comumente adjetivados de didáticos: recurso didático, ferramenta didática, instrumento didático.” (OLIVEIRA JR; GIRARDI, 2011, p. 02)
Em texto mais recente, no qual os referidos autores tiveram como foco de análise trabalhos que lidavam com perspectivas teóricas, metodológicas e epistemológicas da relação cinema e ensino de Geografia, eles afirmam que:
O território cinema e ensino de Geografia compõem-se de trabalhos voltados para os sujeitos aprenderem (conteúdos, habilidades críticas, reconhecimento social...) através de filmes (uma grande variedade deles, inclusive curtas-metragens). As marcas deste território são termos que remetem a um lugar habitual de docentes, no controle do processo de aprendizagem de conteúdos e habilidades: o apelo à ludicidade como estratégia de motivação da atenção e engajamento de estudantes; a crença na concretude – “dar vida” – dos conceitos trabalhados proporcionada pelas imagens, facilitando a compreensão dos estudantes; a apropriação de uma linguagem familiar aos estudantes para funcionar como recursos didático. O cinema é habitualmente colocado no lugar de “excelente difusor de ideias” e “eficiente formador de opinião”, não raro com apelo à máxima “uma imagem vale por mil palavras”.
(OLIVEIRA JUNIOR; GIRARDI, 2020, p. 56-57)
Os elementos e características apontadas pelos autores como constituintes das marcas da presença do cinema no ensino de Geografia demonstram e reforçam o caráter que reduz a linguagem cinematográfica à perspectiva da instrumentalização, “esvaziando a especificidade da linguagem para dar relevo a um pretenso ‘real’ manifestado na obra.” (OLIVEIRA JUNIOR; GIRARDI, 2020, p. 64)
Ferraz (2012, p. 380) problematiza esta questão afirmando a necessidade de uma “(...) apropriação da linguagem cinematográfica para além do que usualmente se faz, geralmente entendendo-o como um objeto a servir como recurso de ilustração de conteúdo para as disciplinas científicas melhor exemplificar seus temas trabalhados.”
Sendo assim, no caso da Geografia escolar, entende-se que para além de um recurso didático, o cinema é uma linguagem que participa da criação de sentidos espaciais. Isto significa pensarmos sobre quais conhecimentos e saberes geográficos os filmes possibilitam construir, ou seja, como essa linguagem participa e constrói nossas imaginações espaciais (Cf. MASSEY, 2008).
Em vista do exposto, passaremos a apresentar os dados da pesquisa realizada, na perspectiva de analisar em que sentido a dimensão instrumental e comunicativa do cinema está presente nas concepções e práticas dos professores de Geografia.
3. O CINEMA NA GEOGRAFIA ESCOLAR: O QUE PENSAM OS PROFESSORES?
Conforme mencionamos anteriormente, o questionário aplicado junto aos professores de Geografia continha 16 questões entre abertas e fechadas. Para fins deste texto, elegemos 3 questões abertas e 1 fechada, pois os elementos que as mesmas trazem são significativos para analisar as relações desses professores com o cinema no contexto escolar.
Um dado relevante a ser destacado, logo de início, é que apenas 4 dos 28 professores pesquisados informou ter lido algum livro ou realizado curso sobre cinema. Isso indica que a experiência com o cinema, para a maioria desses professores, restringe-se à condição de espectador de filmes.
De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, a seguir, podemos observar que quando perguntados sobre os motivos que os levam a utilizarem filmes na escola, a grande maioria dos professores apontou, como o primeiro motivo, o fato do cinema ser uma maneira de ampliação cultural dos alunos. A segunda opção mais indicada como motivo, mas em um número bem inferior, foi o vínculo do filme com algum conteúdo específico da Geografia.
Motivo | Número de Respostas |
---|---|
Porque o cinema é uma maneira de ampliação cultural dos alunos | 19 |
Porque se vincula a algum conteúdo específico de geografia | 4 |
Porque o cinema amplia a sensibilidade crítica | 3 |
Porque traz um conhecimento importante, mesmo que desvinculado da geografia | 1 |
Fonte: Questionário aplicado, 2017/2018.
Em princípio, quando olhamos para a situação configurada no Quadro 1, imediatamente deduzimos que, para a grande maioria dos professores pesquisados, o mais importante a ser considerado para a utilização de filmes em sua prática pedagógica diz respeito ao entendimento de que o cinema propicia, aos alunos, a ampliação cultural. Assim, poder-se-ia concluir que a valorização do potencial cultural do cinema estaria à frente e seria mais relevante que a vinculação com conteúdos específicos da Geografia ou mesmo a ampliação da sensibilidade crítica.
No entanto, quando observamos as respostas à questão aberta “Escreva uma frase sobre as relações entre escola e cinema”, percebemos, nas frases escritas pelos professores5, uma ênfase na concepção de cinema enquanto ferramenta didática para o ensino de conteúdos da Geografia, conforme pode-se verificar no Quadro 2:
A paisagem geográfica em movimento. A escola aprende com o cinema. Escola e Cinema: entretenimento e aprendizagens. Muito pouco utilizado. O cinema pode ser utilizado como linguagem que potencializa práticas pedagógicas reflexivas, ou como experiências topológicas sensoriais. Poderia ser mais intensa. O cinema na escola é uma maneira de ampliar os conhecimentos dos alunos. O cinema é uma janela da escola para o conhecimento do espaço geográfico. Cinema é uma ótima ferramenta de pesquisa para a escola. Escola deve estar vinculada e acompanhar as transformações, utilizando-se dos meios disponíveis para mediar a aprendizagem, entre esses meios podemos contar com o cinema. O cinema é uma das mais importantes ferramentas da expressão da arte e a escola pode ser o elo entre o estudante e a sua descoberta artística. O cinema contribui para reforçar conteúdos trabalhados em sala de aula. Através do cinema na escola é possível perceber que os educandos '' enxergarem para além do ver.'' Uma estratégia fundamental para despertar nos estudantes um olhar analítico e crítico, sobre assuntos e discursos que permeiam a sociedade. O cinema proporciona diferentes formas de ensinar. Escola e cinema, uma combinação perfeita! A escola pode usar o cinema como recurso para didático para transformar o indivíduo socialmente. O cinema também é um instrumento que contribui o desenvolvimento intelectual. Há sim uma relação, muitos filmes são úteis ao conteúdo do estudo. Transmissão de conhecimento no ensino aprendizado e apresentação de ideias e sentimentos. A interatividade entre o lúdico, abordando o real e o ideal. O filme traz a arte mais próximo do aluno! Toda forma de cultura será bem vista. Cinema e escola deveriam ser mais valorizados. |
Fonte: Questionário aplicado, 2017/2018.
Destaca-se, nas frases escritas por um número significativo de professores, a dimensão instrumental do cinema, podendo ser identificada em expressões como: ferramenta de pesquisa; mediador da aprendizagem; reforço de conteúdos; diferente forma de ensinar; utilidade para trabalhar conteúdos; transmissão de conhecimentos. Poucos foram os professores que escreveram frases nas quais há uma ênfase na formação cultural ou nos aspectos da linguagem cinematográfica.
Além disso, percebe-se que comparece o entendimento que reduz o cinema à ideia de entretenimento e ludicidade.6 Apenas duas frases, em nossa análise, fazem uma tentativa de aproximação maior com a Geografia, articulando a ideia do cinema como linguagem. São elas: “A paisagem geográfica em movimento” e “O cinema pode ser utilizado como linguagem que potencializa práticas pedagógicas reflexivas, ou como experiências topológicas sensoriais.”
Desse modo, confrontando as informações dos Quadros 1 e 2, pode-se inferir que há uma certa contradição ou incoerência nas concepções apresentadas pelos professores pesquisados. Em princípio, destacam o uso do cinema na escola como ferramenta importante para a ampliação cultural dos alunos, porém, em seguida, secundarizam essa dimensão ao expressarem em frases o que pensam sobre as relações entre cinema e educação.
Leal et al. (2017, p. 50) também destacam a ênfase na função ilustrativa do cinema identificada em pesquisa realizada com professores de diferentes regiões brasileiras. As autoras afirmam que a ideia de o filme estar articulado aos conteúdos disciplinares reforça a o entendimento de estarem a serviço do ensino, sendo considerados uma complementação ou uma ilustração da preleção dos docentes sobre os temas escolares.
Quando verificamos a listagem dos filmes utilizados pelos professores e sua relação com os conteúdos/temas trabalhados nas aulas de Geografia (Quadro 3), também podemos notar um atrelamento evidente à dimensão mais instrumental e ilustrativa do cinema, na medida em que se prioriza a narrativa em detrimento de outros aspectos do filme, ou seja, a “história contada” no filme deve abordar elementos do conteúdo o mais diretamente possível. Ademais, a narrativa deve retratar as paisagens dos lugares onde os fatos ocorrem, buscando uma certa verossimilhança.
Filmes exibidos | Conteúdo relacionado |
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Dança com Lobos | Relevo da América, expansão para o oeste |
Tempos Modernos | Revolução industrial/Capitalismo |
Diamante de Sangue | Exploração da África |
O dia depois de amanhã | Climatologia |
O nome da rosa | Reforma protestante |
Diários de motocicleta | Continente americano |
A falha de San Andreas | Tectonismo |
O Último Samurai | Aspectos socioeconômicos do Japão |
Sete Anos no Tibet | Diversidade cultural do continente asiático |
Spartacus | Ocupação do Espaço |
O menino do pijama listrado | Etnia |
Hotel Ruanda | Colonização da África |
Paradise Now | Oriente Médio |
A volta ao mundo em 80 Dias | Paisagens |
O último Imperador | Ásia oriental |
Os Sem Floresta | Questão Ambiental |
Resgate Abaixo de Zero | Oceania |
Mandela - Luta pela Liberdade | Apartheid |
A Menina que Roubava Livros | Nazismo |
A lista de Schindler | Nazismo na Alemanha |
O Grande Ditador | Segunda Guerra Mundial |
Uma Verdade Inconveniente | Meio Ambiente |
O Caçador de Pipas | Oriente Médio |
Stranger | Religião/Diversidade |
Volcano | Geologia |
Crianças Invisíveis | Direitos Humanos |
Adeus, Lênin | Guerra Fria |
Escritores da Liberdade | Protagonismo Juvenil |
O Pianista | Segunda Guerra Mundial (Geopolítica) |
Blade Runner – O Caçador de Androides | Globalização |
Fonte: Questionário aplicado, 2017/2018.
É importante destacar, também, que a maioria dos filmes utilizados pelos professores caracteriza-se por serem do chamado circuito comercial, geralmente exibidos na televisão e vencedores do Oscar, ou seja, filmes que tiveram ampla divulgação e acesso facilitado ao público. Observa-se a presença de alguns filmes considerados “clássicos” da cinematografia como Tempos Modernos, O Grande Ditador e Blade Runner. Quanto ao gênero, predomina o drama, havendo apenas menção a dois documentários e uma animação.
Quando associamos esta informação com a principal forma pela qual os professores escolhem os filmes a serem utilizados na escola, podemos inferir que o próprio acesso limitado dos professores a uma maior gama de títulos condiciona as escolhas dos filmes utilizados, pois a maioria informou fazer essa escolha a partir dos filmes assistidos ou por ter lido algum material referente à obra.
Em pesquisa realizada com 213 professores de diferentes regiões do Brasil, no período de 2011 a 2014, Azevedo et al. (2017, p. 39) constataram uma acentuada restrição do repertório fílmico do grupo de professores pesquisados com forte hegemonia do cinema comercial em detrimento dos filmes de arte, evidenciando:
(...) um cenário que revela o monopólio dos meios de produção, distribuição e exibição de determinados filmes e gêneros cinematográficos de maior sucesso pela população, pautados por interesses e esquemas da indústria de entretenimento norte-americana.
(AZEVEDO et al., 2017, p. 39)
Além disso, os gêneros fílmicos preferidos pelos professores também refletem uma certa homogeneização estética e ideológica.
Desta forma, é pertinente destacarmos o questionamento feito pelas autoras quanto à problemática da escolha e preferência dos professores em relação aos filmes:
(...) até que ponto podemos falar de escolhas e de preferências, quando o acesso a diversos tipos de filmes é tão desigual e assimétrico? Trata-se aqui de escolhas, de preferências, ou de contingências, de falta de opção de um restrito acesso? (...)
(AZEVEDO, et al., 2017, p. 40)
Ao observarmos os filmes nacionais mais utilizados pelos professores (Quadro 4), percebemos que o número de documentários aumenta em comparação com os títulos de produção estrangeira, embora o gênero drama também predomine. Em relação aos títulos dos filmes mais utilizados, igualmente se destacam aqueles que tiveram ampla divulgação e acesso facilitado ao público.
Título |
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Central do Brasil |
Olga |
Tropa de Elite |
Ilha das Flores |
Cidade de Deus |
O Auto da Compadecida |
Terra Vermelha |
Tainá |
Lixo Extraordinário |
O que é isso companheiro? |
Uma história de amor e fúria |
Pixote: a lei do mais fraco |
Nas terras do bem virá |
O veneno está na mesa |
Quanto vale ou é por quilo |
Hiato |
Entre rios |
O homem que virou suco |
Cabra marcado para morrer |
Narradores de Javé |
O mundo global visto do lado de cá- Encontro com Milton Santos |
Em nome da lei |
Eles não usam black tie |
O homem da capa preta |
O Invasor |
Os 12 trabalhos |
Fonte: Questionário aplicado, 2017/2018.
No Quadro 4 há dois filmes - Terra Vermelha e Em nome da Lei – que, muito provavelmente, são utilizados pelos professores pesquisados em razão de sua relação com aspectos/questões do contexto local e regional em que atuam7. Como o referencial curricular do estado de Mato Grosso do Sul prevê, na disciplina de Geografia, conteúdos ligados às características do estado, percebe-se aí a possível vinculação dos filmes para o trabalho com esses conteúdos/assuntos. (TERRA VERMELHA, 2008; EM NOME DA LEI, 2016)
Em vista dos resultados aqui apresentados, no que se refere ao trabalho com filmes no contexto educativo, constatou-se o predomínio de um tipo de cinema - tanto nos filmes de produção estrangeira, quanto nos de produção nacional: comercial e de ampla circulação; e de um tipo de gênero: o drama, embora quando se trata de cinema brasileiro, compareça um número um pouco maior de documentários.
No tocante ao entendimento dos professores de Geografia sobre o cinema, há uma espécie de contradição que se manifesta na dualidade entre a concepção de cinema como ampliação cultural e como recurso para ilustrar conteúdos. No entanto, essa contradição inicial desaparece quando analisamos a lista e filmes mais utilizados e sua relação com os conteúdos trabalhados, reforçando a ideia do cinema como recurso para ilustrar conteúdos geográficos. Assim, os filmes são tomados como ilustração verdadeira e realista do que se deseja ensinar, com forte apelo às paisagens dos lugares onde as narrativas se desenvolvem, buscando-se uma certa verossimilhança entre os filmes e a realidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando a epígrafe destacada no início deste texto, se para Ismail Xavier o cinema que “educa” é o cinema que faz pensar, quando esse educar está no âmbito da educação geográfica, acreditamos na necessidade de ampliar as concepções sobre o cinema restritas a dar relevo a um pretenso ‘real’ manifestado na obra. (OLIVEIRA JUNIOR; GIRARDI, 2020, p. 64)
A pesquisa realizada demonstrou que a aproximação dos professores de Geografia de Dourados (MS) com o cinema se dá mais pela busca de recursos didáticos para ilustrar ou reforçar os conteúdos trabalhados em detrimento das características e potencialidades dos filmes enquanto linguagem participante da criação de sentidos espaciais.
Acrescenta-se, ainda, que o distanciamento desses professores em relação ao cinema também pode ser observado pelo pouco conhecimento que possuem sobre essa linguagem, pois é reduzido o número dos que fizeram algum curso ou leram livros sobre cinema, conforme verificamos na pesquisa.
Estas constatações indicam a necessidade de ampliação da concepção restrita à dimensão instrumental e comunicativa do cinema predominante entre os professores participantes da pesquisa. Diante disso, entendemos ser necessário tensionar/problematizar essa concepção hegemônica entre os professores de Geografia, mobilizando o pensamento para outras possibilidades de conceber e utilizar a linguagem cinematográfica na escola.
Os resultados da pesquisa também trouxeram outros questionamentos, a saber: em que medida os professores formadores de professores colaboram (ou não) para construir entre os professores de Geografia tais concepções sobre cinema e educação a partir de suas próprias práticas? Como o cinema tem sido visto e utilizado nos cursos de formação de professores? Assim, ao encerrarmos este texto, lançamos estes questionamentos apontando possibilidades de ampliação e aprofundamento desta discussão a partir de novas pesquisas e outros debates.