Introdução
Neste artigo apresenta-se uma metapesquisa desenvolvida com intuito de analisar sistematicamente teses e dissertações que abordam o Ensino por Investigação na Educação Infantil no período de 2012-2022. O metaestudo teve como objetivos específicos I) Identificar os referenciais teóricos por autores que abordam o Ensino por Investigação no contexto da Educação Infantil; e II) Identificar as metodologias empregadas nas pesquisas acerca da temática estudada.
A inserção de propostas de Ensino por Investigação no currículo escolar remonta à própria constituição das ciências como disciplina no final do século XIX. Neste período, defendia-se que a introdução de práticas investigativas no cotidiano escolar permitiria aos estudantes o desenvolvimento de pensamento indutivo (Bybbe, 2000; Rodrigues, Borges, 2008; Trópia, 2011; Zômpero; Laburú, 2011; Campos; Kalhil, 2018). No decorrer do século XX, gradualmente, o Ensino por Investigação foi introduzido nas propostas pedagógicas por meio de sucessivas reformas curriculares.
No entanto, os conceitos não são imutáveis e inflexíveis, mas sim cambiantes. Os significados a eles atribuídos costumam ser suscetíveis ao espírito e à influência da época que estão inseridos, bem como de novas perspectivas teóricas acerca dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, ao analisar historicamente as propostas de Ensino por Investigação percebe-se que, por vezes, as habilidades investigativas eram compreendidas como conteúdo do currículo e, por outras, como uma estratégia de ensino. Além disso, é possível identificar duas perspectivas teóricas que as propostas de Ensino por Investigação estavam assentadas: o pragmatismo, especialmente oriunda do pensamento de Dewey (1979; 1980) e, na década de 1990, percebe-se uma maior influência do construtivismo piagetiano.
A análise quantitativa da literatura acadêmica, especialmente de teses, dissertações e artigos, infere que as discussões acerca do Ensino por Investigação são difundidas e consolidadas, especialmente, para o ensino de Ciências no Ensino Médio e nos Anos Finais do Ensino Fundamental (CAMPOS; KALHIL, 2018). Em contrapartida, as discussões sobre possibilidades de desenvolver atividades de cunho investigativo na Educação Infantil ainda são incipientes. Hipotetiza-se que isso decorre, principalmente, do caráter relativamente recente dessa etapa da Educação Básica, pois até a promulgação da Constituição Federal de 1988, predominava uma concepção de criança como objeto de tutela do estado e o atendimento institucional da infância como um direito de mães trabalhadoras. Consequentemente, no contexto brasileiro, o paradigma hegemônico de educação para crianças assentava-se em uma perspectiva higienista e assistencialista.
Mesmo após a promulgação da carta magna brasileira, as discussões sobre o Ensino por Investigação no contexto da Educação Infantil foram parcos, tendo em vista que as pesquisas desenvolvidas neste período eram orientadas para demandas emergentes da institucionalização da infância. As análises de Rocha (2008) e Moraes (2005) a respeito das produções vinculadas ao Grupo de Trabalho 7 da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa - ANPED, ilustram essas tendências. Conforme as autoras, o foco dos trabalhos apresentados na reunião da associação estivera, inicialmente, orientados para discussão das políticas socioeducativas, aspectos relacionados à formação de professores, aos conceitos de jogos e brincadeiras, aos estudos da infância e, mais recentemente, nas abordagens metodológicas a respeito da pesquisa com crianças. Supõe-se ainda que o Ensino por Investigação não tenha sido foco prioritário de estudos e pesquisas acadêmicas em decorrência de sua fundamentação, por vezes pragmática, por outras construtivistas. E ambas as perspectivas foram sistematicamente questionadas e criticadas como sendo inadequadas à educação da primeira infância (Anped, 1998; Rocha, 2008).
No entanto, é fundamental reconhecer que os Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil (Brasil, 1998a; 1998b; 1998c) catalisam as discussões acerca das propostas pedagógicas para a Educação Infantil, tendo em vista que a partir desse documento assiste-se a uma difusão de produções acerca de Pedagogia de Projetos (Hernández, 1998; Hernández; Ventura, 1998) e das pedagogias italianas, em especial, a proposta de trabalho de Reggio Emilia. A partir da inserção destas propostas no cotidiano escolar, identifica-se uma difusão de práticas que fomentam o protagonismo infantil, situações de exploração e investigação, bem como a valorização dos espaços e materiais que são disponibilizados às crianças.
Entende-se que, subjacente a estas propostas de trabalho, há uma perspectiva de trabalho investigativo, tendo em vista que elas tensionam práticas de ensino fundamentadas em uma abordagem transmissiva ou voltada para o treino e a transmissão de informações. Contudo, reconhece-se a necessidade de melhor articular essas propostas de trabalho por investigação com as perspectivas de compreender a Educação Infantil, apresentando uma fundamentação sociológica, filosófica e antropológica.
Para tanto, torna-se necessário realizar um mapeamento e análise de produções que abordam esta temática, a fim de elucidar os referenciais subjacentes, bem como analisar as perspectivas metodológicas adotadas pelos seus autores. Neste estudo, optou-se por focalizar o estudo em teses e dissertações, pois entende-se que esse gênero do discurso ocupa papel central no ambiente acadêmico, sendo a materialização de discussões ocorridas em grupos de pesquisa e também a gênese de novas comunicações científicas.
Por meio da análise sistemática das produções selecionadas, busca-se responder ou reconhecer como os demais autores abordam os seguintes tópicos: Qual a abrangência das pesquisas realizadas? Que tendências teóricas podem ser encontradas nos estudos acerca do Ensino por Investigação na Educação Infantil? Qual a abordagem de pesquisa empregada pelos autores? Quais instrumentos são utilizados para produção do corpus do estudo? Quais procedimentos metodológicos são empregados para a análise dos dados? Como é resguardada a ética dos participantes nos estudos realizados? Que outras temáticas são conciliadas com a pesquisa sobre a Investigação na Educação Infantil?
O artigo encontra-se estruturado em três seções. Na primeira, intitulada “Metapesquisa focalizada: Amostragem e técnicas de análise” descreve-se os procedimentos utilizados para a seleção do corpus da pesquisa e as técnicas utilizadas para a análise do material. Na segunda seção, realiza-se uma análise dos fundamentos teóricos das teses e dissertações analisadas, apresentando os núcleos teóricos e interlocuções conceituais realizadas. Além disso, apresenta-se uma análise das propostas metodológicas que foram utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa, elencando tipos de pesquisa, instrumentos de geração de corpus e a técnica de análise do material. Finaliza-se o estudo identificando aspectos de convergência e divergência, bem como aspectos compartilhados pelos autores dos trabalhos.
Metapesquisa focalizado: Amostragem e técnicas de análise
Reitera-se que o objetivo deste artigo consiste em apresentar uma metapesquisa desenvolvida com intuito de analisar teses e dissertações que abordam práticas investigativas na Educação Infantil no período de 2012-2022. Entende-se que o material analisado constitui um gênero do discurso secundário característico do ambiente acadêmico-científico. Esse tipo de enunciado discursivo, conforme Bakhtin (2003), surge a partir da reelaboração de gêneros primários em contextos complexos e organizados. Diante disso, entende-se que teses e dissertações, ao mesmo tempo, são produtos de pesquisas amplas e profundas desenvolvidas por seus autores, mas também são gênese de comunicações científicas e publicações em periódicos.
Define-se a metapesquisa como um empreendimento investigativo que tem como intuito a realização de “[...] uma avaliação das pesquisas, [a fim de] identificar características, tendências, fragilidades e obstáculos para o desenvolvimento de um campo ou temática de pesquisa” (MAINARDES, 2018, p. 306). Logo, um metaestudo pode ser compreendido como uma ferramenta indispensável para analisar as diferentes pesquisas que abordam um determinado tema, a fim de obter uma clareza conceitual e identificar a pluralidade de pressupostos teóricos e epistemológicos que balizam as discussões. Em consonância com Gatti (2012) pode-se afirmar ainda que é no decorrer deste processo que se pode identificar com clareza os significados de conceitos utilizados
[...] não no intuito de impor uma unicidade de denominação, mas na direção de se tentar superar alguns conflitos, pelas preferências terminológicas entre os acadêmicos, como também para clarear algumas especificidades associadas a cada termo, o que pode permitir situar posições na investigação científica e mais esclarecimento aos interlocutores (Ibid, p. 15).
Entende-se que o desenvolvimento de um metaestudo é fundamental para a realização de uma pesquisa, pois, é a partir dele que se pode explorar diferentes tendências teóricas, identificando aspectos divergentes, convergências e possíveis lacunas existentes em estudos publicados. Além disso, reconhece-se os critérios de cientificidade e validade aceitos pela comunidade científica e que podem ser utilizados em pesquisas de campo. A partir deste trabalho inicial, o pesquisador assume um papel de propor novas articulações, a fim de qualificar, complexificar e validar dados obtidos no processo investigativo.
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por adaptar os procedimentos metodológicos propostos por Mainardes (2018). Desta forma, a metapesquisa foi organizada nas seguintes etapas: I) Definição de objetivos, da amostra e dos descritores; II) Delimitação da amostra por meio de dados bibliográficos; III) Classificação da amostra por meio da análise de resumos. IV) Análise sistemática dos materiais coletados.
Conforme exposto anteriormente, definiu-se como amostra para o estudo as teses e dissertações publicadas no período de 2012-2022. Logo, a constituição do corpus da pesquisa foi elaborado a partir de uma busca destas produções no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Utilizou-se como descritores “Educação Infantil” AND “Investigação”. Inicialmente, realizou-se uma leitura dos dados bibliográficos apresentados, a fim de selecionar os trabalhos que iam ao encontro da proposta de pesquisa. Tendo em vista o elevado número de produções, a fim de depurar os resultados encontrados, estabeleceu-se como critério arbitrário analisar somente Teses e Dissertações produzidas em Programas de Pós-graduação acadêmicos.
A segunda etapa da metapesquisa consistiu em analisar os dados bibliográficos (autor, título, informações sobre instituição), a fim de identificar teses e dissertações que abordam especificamente a temática pesquisada - práticas investigativas na Educação Infantil. Esse processo de refinamento de dados fundamenta-se no pressuposto de que o título seja uma síntese compacta dos trabalhos, bem como tenha coerência e corresponda às discussões que serão abordadas (IMBELLONI, 2012, p. 140). Com intuito de garantir que todo o material relevante fosse contemplado, optou-se por adotar um princípio de inclusão, pelo qual foram analisados na etapa posterior as produções acadêmicas em que a análise das informações bibliográficas não permitisse uma inferência clara sobre o trabalho.
A terceira etapa da metapesquisa consistiu na leitura dos resumos. Para Megid (1999, p. 45) os resumos “[...] ampliam um pouco mais as informações disponíveis” sobre as teses e as dissertações, permitindo identificar com maior clareza a contextualização da pesquisa, objetivo do estudo, procedimentos metodológicos, resultados e inferências. Neste momento, selecionou-se somente teses e dissertações que abordavam as Práticas Investigativas no contexto da Educação Infantil em uma perspectiva didática, isto é, analisando os processos de ensino e aprendizagem. Desta forma, exclui-se do estudo, pesquisas que analisavam cursos de formação inicial e continuada de professores, nos currículos dos cursos de Pedagogia ou em documentos oficiais. No Quadro 01, apresenta-se os critérios de inclusão e exclusão utilizados para seleção do material.
Critérios de Inclusão e Exclusão de Teses e Dissertações | |
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Critérios de Inclusão | Critérios de Exclusão |
Pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-graduação em Educação ou áreas afins (Educação em Ciências, Ensino de Ciências e Matemática). | Pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-Graduação Profissionais. |
Teses e Dissertações publicadas no período de 2012 a 2022. | Teses e Dissertações disponibilizadas no Banco de Teses e Dissertações da CAPES após o dia 30 de setembro de 2022. |
Pesquisas que abordavam o desenvolvimento de Práticas Investigativas como uma perspectiva da didática/estratégia de ensino. | Pesquisas que abordavam Práticas Investigativas no processo de Formação Inicial e Continuada de Professores e/ou analisavam somente documentos oficiais. |
Fonte: Autores (2023).
Salienta-se que a definição dos critérios de inclusão e exclusão do material decorrem de um processo arbitrário e, no caso deste estudo, foram elaborados tendo em vista o objetivo da pesquisa da qual o artigo é decorrente. Após a finalização da terceira etapa, identificou-se 18 teses e dissertações que foram lidas na íntegra. Lista-se no Quadro 2 a autoria dos estudos, programa e instituição na qual foram realizados e o título.
Autor | Título |
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Sandra Fagionato-Ruffino PPG em Educação-UFSCar |
O diálogo entre aspectos da cultura científica com as culturas infantis na Educação Infantil (Tese, 2012) |
Alexsandra S. de Souza Fin PPG Educação-UNOESTE |
O Ensino de Ciências na Educação Infantil: Os primeiros passos na Ciência (Dissertação, 2014) |
Monica Silva Aikawa PPG em Educação em Ciências na Amazônia-UEA |
Enfoques da Educação em Ciências nas práticas pedagógicas de Educação Infantil (Dissertação, 2014) |
Mariângela Costa Schneider PPG Ensino-UNIVATES |
O protagonismo Infantil e as Estratégias de Ensino que Favorecem em uma turma da Educação Infantil (Dissertação, 2015) |
Tatiana Schneider Vieira de Moraes PPG Educação-USP |
O desenvolvimento de processos de investigação científica para o 1° ano do Ensino Fundamental (Tese, 2015) |
Terezinha de Paula M. Esteves Ottoni PPG Educação-UEM |
Aprendizagem Conceitual na Educação Infantil (Dissertação, 2016) |
Andreia Cristina Freitas Barreto PPG Educação em Ciências e Matemática (Mestrado)-UESC |
Investigação Científica na Educação Infantil (Dissertação, 2016) |
Gerilucia Nascimento de Oliveira PPG Educação em Ciências na Amazônia-UEA |
O Diálogo da criança da Educação Infantil com a Ciência: Olhares e entrelaçamentos a partir do Bosque da Ciência (Dissertação, 2017) |
Vera Maria de Lima Silva PPG em Ensino e História das Ciências e Matemática-UFABC |
Ciências por Investigação: Uma abordagem para brincadeiras na Educação Infantil (Dissertação, 2016) |
Ariélla Ferreira Véra PPG Educação-UFPR |
Ciências da Natureza na Educação Infantil: Um estudo sobre a prática docente (Dissertação, 2017) |
Karina Luiza da Silva Fernandes PPG Educação-UNICAMP |
Brincar e Investigar Fenômenos com água na Educação Infantil (Dissertação, 2018) |
Jackeline Sarmento Gomes PPGE em Educação em Ciências na Amazônia-UEA |
Educação em Ciências no Contexto da Educação Infantil: um olhar para as práticas pedagógicas de um CMEI (Dissertação 2018) |
Aparecida Garcia Pacheco Gabriel PPG Ensino-UNIVATES |
Práticas Pedagógicas Investigativas na Educação Infantil: O cotidiano de sala de aula de egressas do curso de pedagogia da Faculdade de Alta Floresta/MT (Dissertação, 2018) |
Natália Almeida Ribeiro PPG Educação-UFMG |
Materialidade do conhecimento de crianças pequenas e a Educação em Ciências na Educação Infantil (Tese, 2019) |
Tassia Cabral da Silva PPG em Educação em Ciências na Amazônia-UEA |
Educação em Ciências e a Infância: Por uma visão das crianças (Dissertação, 2019) |
Sarah de Freitas Oliveira PPG Educação -UFU |
Alfabetização Científica em contextos da Educação Infantil (Dissertação, 2020) |
Eliane Nicolau da Silva PPG Educação-UFSCar |
A formação de conceitos científicos em crianças de cinco anos fundamentada em mediações sistematizadas (Tese, 2020) |
Aline Tatiana Ribeiro PPG Mestrado em Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática-UNICAMP |
As árvores que nos cercam: o trabalho com Botânica na Educação Infantil (Dissertação, 2020) |
Fonte: Autores (2023).
Após a leitura sistemática dos materiais citados anteriormente, as informações analisadas foram registradas na Ficha de Avaliação Sistemática de Teses e Dissertações adaptada da proposta de Matriz Epistemológica, da qual retiraram-se, posteriormente, dois aspectos para análise. Neste formulário, foram registrados os Dados de Identificação, Objetivo/Problema de Pesquisa, Concepções Teóricas/Conceito de Investigação, Núcleos Conceituais do Estudo, tipo de Articulação Teórica, Abordagem Metodológica, Cuidados Éticos, Garantia de Cientificidade, Pressupostos Gnosiológicos, Elementos Macroestruturais (vínculo explícito com mudança políticas ou orientações curriculares, relações explícitas com grupos de pesquisa ou Linhas de Pesquisa do Programa de Pós Graduação) e Modo de Apresentação dos Dados.
Análise epistemológica: aportes teóricos
Nesta seção do artigo, analisa-se os aportes teóricos empregados em cada uma das teses e dissertações, trazendo ainda os núcleos teóricos de cada estudo. Parte-se do pressuposto de que as pesquisas publicadas em forma de teses e dissertações possuem uma fundamentação teórica que pode ser apresentada como uma teoria única ou em um quadro teórico. Em ambos os casos, é esse conjunto de pressupostos que permite ao pesquisador a descrição ou interpretação do objeto ou fenômeno estudado (Paviani, 2013). Destaca-se ainda, que na perspectiva teórica adotada, a análise da teoria ou do quadro teórico subjacente em uma pesquisa permite identificar os conceitos, entendidos por Paviani (2013, p. 50-51) como resultantes “[...] de uma concepção mental [que] às vezes, pode ser expresso numa simples noção ou objetivado numa determinada modalidade de definição”. Frente ao exposto, na sequência, apresenta-se uma síntese do material analisado e, posteriormente, sumarizam-se os fundamentos teóricos e metodológicos dos estudos.
A tese intitulada “O Diálogo entre aspectos da cultura científica com as culturas infantis na Educação Infantil”, de autoria de Faggionato-Ruffino (2012), tem como objetivo analisar “quais as possibilidades do estabelecimento de um diálogo entre os aspectos da cultura científica com as culturas da infância na pré-escola [e identificar] como as crianças percebem e interagem com elementos da cultura científica na instituição da educação infantil” (Ibidem, p. 16). O quadro teórico da pesquisa é decorrente da combinação de uma perspectiva de aprendizagem sistêmica, com os conceitos de Cultura Infantil e Cultura Científica. Desta forma, ao abordar o Ensino de Ciência no contexto da Educação Infantil, a autora trabalha em uma perspectiva de ciências como uma cultura específica. Em relação aos aspectos metodológicos, a autora emprega uma pesquisa de abordagem qualitativa realizada com crianças de uma instituição de Educação Infantil do município de São Carlos/SP. O corpus da pesquisa foi constituído de filmagens, conversas dirigidas, produção de registros gráficos e registros fotográficos.
Aikawa (2014) analisa em sua dissertação “Educação em Ciências nas Práticas Pedagógicas de Educação Infantil”, como as “concepções de Educação em Ciências se expressam nas práticas pedagógicas dos professores nas turmas de pré-escola de um CMEI em Manaus” (Ibidem, p. 14). O quadro teórico da pesquisa é organizado a partir da combinação dos conceitos de Educação em Ciências, Formação para a Cidadania e Educação Infantil. A autora fundamenta o estudo em uma perspectiva de criança como protagonista, na qual precisa-se valorizar o brincar e o interagir. Soma-se a isso, uma abordagem de indissociabilidade entre o cuidar e o educar, enfatizando o caráter pedagógico do cuidado. Subjacente às discussões propostas pela autora, percebe-se uma orientação voltada à Pedagogia de Projetos. Metodologicamente, o estudo caracteriza-se como uma pesquisa de caráter qualitativo, em que foram realizadas entrevistas e observações das práticas de professores de uma instituição de ensino, sendo estes interpretados por meio da Análise de Conteúdo.
A dissertação intitulada “O Ensino de Ciências na Educação Infantil: os primeiros passos na Ciência” teve como objetivo “[...] investigar o que as crianças entendem por Ciência [e] qual a sua concepção acerca dos conteúdos e que tipo de associações elas fazem entre o conteúdo e a realidade” (FIN, 2014, p. 10). Dois conceitos são centrais no quadro teórico proposto pela autora: Infância e Ensino de Ciências. Em relação ao primeiro, realiza-se uma revisão histórica sobre a constituição da categoria Infância e as suas implicações para a organização da Educação Infantil no Brasil e no estado do Paraná. Ao abordar o Ensino de Ciências, a autora enfatiza as especificidades da Educação Infantil, enfatizando a necessidade do brincar como elemento central no desenvolvimento cognitivo das crianças. Ao analisar a fundamentação teórica do estudo, identifica-se uma predominância de um enfoque construtivista, manifesto, por exemplo, ao discutir os processos de aprendizagem da criança. A fim de alcançar o objetivo proposto para a pesquisa, Fin (2014) desenvolveu uma pesquisa de campo, em que foram realizadas entrevistas com professores, coordenadores e crianças, bem como observações de práticas pedagógicas em escolas públicas e privadas.
Na tese “O desenvolvimento de processos de investigação científica para o 1º Ano do Ensino Fundamental”, Moraes (2015) busca responder ao seguinte questionamento de pesquisa: “é possível verificar o engajamento de crianças de 6 anos em processos de investigação científica” (Ibidem, p. 70). A pesquisa fundamenta-se em um quadro teórico em que se identifica uma matriz construtivista de modo combinado com as discussões acerca da Alfabetização Científica e Tecnológica. Identifica-se como núcleos conceituais da pesquisa o Ensino de Ciências, Alfabetização Científica e Ensino por Investigação. Em relação aos aspectos metodológicos, identifica-se uma abordagem predominantemente qualitativa, na qual foi aplicado uma Sequência de Ensino Investigativa com crianças do 1º Ano do Ensino Fundamental. O corpus da pesquisa foi constituído por gravações de vídeo e áudio, bem como análise de portfólios produzidos pelas crianças participantes do estudo.
Aprendizagem conceitual é o tema da tese de Ottoni (2016). A autora, apoiada em uma perspectiva vygotskyana, buscou “identificar ações educativas que favoreçam a aprendizagem conceitual na educação pré-escolar” (Ibidem, p. 7). Diferentemente dos demais estudos analisados, a autora utiliza uma perspectiva teórica ao invés de dialogar com um quadro teórico. Assim, ela propõe uma combinação de dois núcleos conceituais de uma mesma teoria - Desenvolvimento Psíquico e Aprendizagem Conceitual, analisando como estes podem ser fomentados por meio de um Experimento Didático. A metodologia da pesquisa caracterizou-se por ser a intervenção pedagógica com crianças de idade entre 4 e 5 anos.
Na dissertação “O Protagonismo Infantil e as Estratégias de Ensino que o favorecem em uma turma de Educação Infantil”, Schneider (2015) busca “conhecer e analisar as Estratégias de Ensino que favorecem o Protagonismo Infantil na prática de sala de aula de uma professora da Educação Infantil que atua na rede pública do município de Lajeado/RS, com crianças de quatro e cinco anos” (Ibidem, 2015, p. 14). A fundamentação teórica do estudo decorre primordialmente das Pedagogias Italianas de Educação Infantil, em especial, da abordagem característica da cidade de Reggio Emilia/Itália. O núcleo conceitual do estudo consistiu no Protagonismo Infantil, sendo este combinado com Estratégias de Ensino, Investigação, Escuta e Participação. A consecução do objetivo da pesquisa ocorreu por meio de um estudo de abordagem qualitativa, em que a pesquisadora se valeu de observações participantes, diários de campo, entrevistas, filmagens e fotografias, sendo o corpus do estudo interpretado por meio da Análise de Conteúdo.
Freitas (2016) desenvolveu a dissertação “Investigação Científica na Educação Infantil” com intuito de “analisar as possibilidades de processos de investigação científica na Educação Infantil a partir de atividades investigativas” (FREITAS, 2016, p. 8). O quadro teórico do estudo organiza-se em torno dos conceitos de Ensino de Ciências, Ensino por Investigação, desenvolvimento do conhecimento científico e Alfabetização Científica. A autora parte do pressuposto de que mesmo as crianças sendo pesquisadoras espontâneas, o Ensino de Ciências por Investigação, na mais tenra idade, pode servir como uma estratégia de desenvolvimento de competências científicas, em especial aquelas que caracterizam o sujeito cientificamente alfabetizado. Percebe-se que a autora, ao propor o desenvolvimento de Sequências de Ensino Investigativas apoia-se em uma abordagem construtivista, na qual reconhece-se a importância do papel ativo da criança, bem como de atividades de caráter lúdico e exploratório. Para o desenvolvimento da pesquisa, Freitas (2016) vale-se de uma abordagem qualitativa em que propõe uma Sequência de Ensino Investigativa para crianças de cinco anos de idade que foram filmadas e, posteriormente, analisadas. Soma-se a isso a análise de desenhos produzidos pelas crianças.
Na dissertação “Ciências por Investigação: Uma abordagem para brincadeiras na Educação Infantil”, Silva (2016) busca “identificar os indícios que a Alfabetização Científica esteja presente nos registros e discussões dos pequenos” (Ibidem, p. 146). A fundamentação teórica da pesquisa encontra-se em pressupostos construtivistas, no qual a investigação é compreendida como uma ação que permite às crianças construírem um conhecimento físico do mundo (SILVA, 2016). Os núcleos conceituais da pesquisa consistem em Brincar, Alfabetização Científica e Conhecimento Físico, sendo estes abordados de modo combinado. A abordagem metodológica da pesquisa consiste em um estudo focalizado de um grupo de crianças das quais a pesquisadora é docente. O corpus da pesquisa foi constituído de gravações em áudio e vídeo, bem como de registros realizados pelas crianças. No processo de análise, Silva (2016) buscou identificar o desenvolvimento de competências científicas previamente definidas.
Na dissertação “Ciências da Natureza na Educação Infantil: um estudo sobre a prática docente”, Véra (2017) busca evidenciar “quais são as características da prática docente em Ciências da Natureza do professor de Educação Infantil” (Véra, 2017, p. 19). A autora fundamenta seu estudo em uma abordagem construtivista, identificando que as crianças constroem o seu conhecimento por meio de atividades exploratórias, manipulativas e das brincadeiras. Há ainda uma pressuposição de que a curiosidade é inata das crianças. Em suas considerações finais, a autora salienta o papel que o docente precisa desempenhar na organização de espaços e dos materiais oferecidos às crianças, bem como a necessidade de valorizar as interações e brincadeiras das crianças. Em relação aos procedimentos metodológicos, a autora realizou um estudo de caráter qualitativo de caráter exploratório, optando assim, por uma abordagem canônica. Para a produção do corpus da pesquisa, utilizou-se de entrevistas semiestruturadas realizadas com seis professores. A leitura sistemática do estudo, permite identificar que os núcleos conceituais da pesquisa são Prática Docente, Ensino de Ciências e Educação Infantil.
Oliveira (2017), na dissertação intitulada “O diálogo da criança da Educação Infantil com a Ciência: Olhares e entrelaçamentos a partir do Bosque da Ciência”, buscou responder ao seguinte questionamento “como a criança da Educação Infantil elabora conhecimento de ciência a partir da visitação ao Bosque da Ciência, considerando suas experiências no processo imaginário e na cultura de pares?”. A partir da análise da pesquisa, identifica-se que a fundamentação teórica se estrutura a partir da Sociologia da Infância, da qual provém os núcleos conceituais de Imaginário e Cultura de Pares. No quadro teórico elaborado pela autora, os conceitos supracitados são combinados com Educação em Ciências e Espaços não-formais. Para o desenvolvimento do estudo, a autora empreendeu uma pesquisa de caráter qualitativo focalizada em uma turma de Educação Infantil. Para produção de corpus da pesquisa foram realizadas observações, gravações de áudio, vídeos e registros fotográficos.
Na dissertação “Práticas Pedagógicas Investigativas na Educação Infantil: O cotidiano de egressas do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta - MT”, Gabriel (2018) investiga “[...] como duas egressas do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta - MT utilizaram o ensino por investigação em suas práticas pedagógicas em escolas públicas de Educação Infantil” (Ibidem, p. 23). A fundamentação teórica da pesquisa decorre das Pedagogias Italianas de Educação Infantil, especialmente, da abordagem desenvolvida na cidade de Reggio Emilia/Itália. O núcleo conceitual da dissertação consiste em Práticas Pedagógicas Investigativas, sendo que a autora o aborda a partir de três perspectivas: a) um princípio de trabalho; b) uma estratégia de ensino; c) Pedagogia dos Projetos. O estudo caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, realizada com duas turmas de Educação Infantil, na qual realizou-se observações participantes, diário de campo, entrevistas semiestruturadas, filmagens e fotografias.
Na dissertação “Brincar e Investigar Fenômenos com água na Educação Infantil”, Fernandes (2018) tem como objetivo “elaborar, desenvolver e avaliar um conjunto de atividades realizadas com crianças na Educação Infantil envolvendo a exploração de fenômenos com água, de modo lúdico, investigativo e interdisciplinar” (Ibidem, 2018, p. 21-22). Os núcleos conceituais da dissertação analisada consistem em Ensino de Ciências, Educação Infantil, Brincar e Investigar. Subjacente a estes conceitos, identifica-se ainda uma predominância da Teoria Histórico-cultural, utilizada de modo combinado com as discussões acerca do brincar e a sua pertinência para o desenvolvimento do conhecimento científico em crianças da Educação Infantil. A metodologia da pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, caracterizando-se como uma Pesquisa de Natureza Interventiva, na qual os dados foram produzidos por meio Diário de Campo, gravações em vídeo, análise de desenhos produzidos pelas crianças e registros fotográficos.
Em sua pesquisa de mestrado, intitulada “O Ensino de Ciências na Educação Infantil”, Haile (2018) busca responder ao seguinte questionamento: “aliar a intencionalidade educativa do professor com a curiosidade das crianças colabora para o desenvolvimento do ensino de Ciências na Educação Infantil?” (Ibidem, 2018, p. 14). O quadro teórico do estudo tem como núcleos conceituais a Infância, Ensino de Ciências e aula-passeio, tendo como principal aporte teórico documentos normativos da Educação Infantil no país. A autora caracteriza a pesquisa como dialética, observacional e descritiva, apresentando uma abordagem qualitativa em que os dados foram registrados em Diários de Campo e gravação de áudios de rodas de conversa realizadas.
Silva (2019) desenvolveu a dissertação “Educação em Ciências e a Infância: por uma visão das crianças”, na qual busca responder ao seguinte questionamento “Que visões estão sendo construídas na Educação Infantil sobre a participação da criança na construção do conhecimento por meio da Educação em Ciências?” (Silva, 2019, p. 9). A autora elabora um quadro teórico organizado em torno de dois conceitos principais: Infância e Educação em Ciências. Para a geração do corpus de pesquisa, Silva (2019) empreendeu uma pesquisa qualitativa em que realizou observações participantes, Diário de Campo e registros fotográficos em uma turma de 17 crianças.
Na tese “Materialidade do Conhecimento de crianças pequenas e Educação em Ciências na Educação Infantil”, Ribeiro (2019) tem como objetivo “investigar a atuação da materialidade na produção do conhecimento de crianças de cinco anos de idade em uma Escola Municipal de Educação Infantil em Belo Horizonte” (Ibidem, 2019, p. 6). Os fundamentos teóricos do estudo baseiam-se na Teoria Ator-Rede e a tese tem como principais núcleos conceituais Materialidade, Educação em Ciências e Actantes não-humanos. Para a consecução do objetivo proposto, a autora realizou uma pesquisa de caráter etnográfico, na qual foram utilizadas filmagens e anotações em diário de campo.
A formação de conceitos em crianças foi o tema da tese de Silva (2020) que buscou responder ao seguinte questionamento de pesquisa “Que tipos de instrumentos e procedimentos metodológicos são necessários para identificar as necessidades culturais de crianças de cinco anos de idade em relação ao processo de formação de conceitos, bem como realizar mediações sistematizadas na Zona de Desenvolvimento Proximal” (Silva, 2020, p. 17-18). Fundamentada na Teoria Histórico-cultural, a tese “A formação de Conceitos Científicos em crianças de cinco anos fundamentada em mediações sistematizadas” tem como núcleos conceituais o desenvolvimento cultural da criança, Zona de Desenvolvimento Proximal, Mediação e Funções Psíquicas Superiores. A metodologia de pesquisa caracteriza-se por uma abordagem autoral, que Silva (2020) nomeia de intervenção experimental. A geração do corpus para a análise ocorreu mediante a observações-participantes, rodas de conversa, filmagens e análise de desenhos produzidos pelas crianças.
Na dissertação “Alfabetização Científica em contextos da Educação Infantil”, Oliveira (2020) busca “compreender como se desenvolve a alfabetização científica em contextos de Educação Infantil” (Ibidem, 2020, p. 17). Tendo em vista esse objetivo, identifica-se como núcleos conceituais da dissertação o Ensino de Ciências, Alfabetização Científica e Pedagogia por Projetos. Para a consecução do objetivo da pesquisa, a autora empregou um método de abordagem qualitativo realizando um Estudo de Caso. Como instrumentos de produção de corpus da pesquisa, utilizou-se da análise de planejamentos didáticos, análise de Diário de Prática Pedagógica e registros fotográficos de um momento de Mostra Pedagógica.
O Ensino de Ciências na Educação Infantil também foi tema da pesquisa “As árvores que nos cercam: O trabalho com Botânica na Educação Infantil”, desenvolvido por Venerando (2020). Neste estudo, a autora desenvolveu uma pesquisa experimental de grupo único com 28 crianças com idade de três a seis anos, em que, por meio de um projeto sobre botânica, buscou responder ao seguinte questionamento: “Quais os conhecimentos adquiridos durante o processo de Ensino e Aprendizagem?” (Venerando, 2020, p. 8). Os núcleos conceituais do quadro teórico composto pela autora consistem em Infância, trabalho por Projetos e o Ensino de Ciências. Ao analisar o quadro teórico da autora, observa-se que ele decorre, principalmente, de documentos legais. No entanto, ao analisar a pesquisa experimental, identifica-se que, subjacente a ela, encontram-se pressupostos da Pedagogia de Projetos e, consequentemente, do movimento escolanovista. Para a produção do corpus da pesquisa, a autora valeu-se de um “[...] diário de campo, filmagens, fotografias, gravações de voz e dos registros das próprias crianças” (Ibidem, p. 69).
Após apresentar uma síntese de Teses e Dissertações, busca-se agora sumarizar alguns aspectos relacionados à metanálise realizada. No Quadro 3 listam-se os títulos dos estudos realizados, as respectivas orientações teóricas de cada pesquisa e os núcleos conceituais.
Título | Teoria/Quadro Teórico | Conceitos basilares do estudo |
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O Diálogo entre aspectos da cultura científica com as culturas infantis na Educação Infantil | Sociologia da Infância | Aprendizagem Sistêmica Cultura Infantil Cultura Científica |
Ciências da Natureza na Educação Infantil: Um Estudo sobre a prática docente | Construtivismo | Prática Docente Ensino de Ciências Educação Infantil |
O desenvolvimento de processos de investigação científica para o 1º Ano do Ensino Fundamental | Construtivismo | Ensino de Ciências Alfabetização Científica Ensino por Investigação |
Educação em Ciências nas práticas pedagógicas de Educação Infantil. | Pedagogia de Projetos | Educação em Ciências Formação para a Cidadania Cuidado |
Ciências por Investigação: Uma abordagem por brincadeiras na Educação Infantil | Construtivismo | Brincadeiras Alfabetização Científica Conhecimento Físico |
Investigação Científica na Educação Infantil | Construtivismo | Ensino de Ciências Alfabetização Científica Competências científicas Investigações Científicas |
Aprendizagem Conceitual e Educação Infantil | Teoria Histórico Cultural | Aprendizagem Conceitual Desenvolvimento Psíquico Experimento Didático |
O Protagonismo Infantil e as Estratégias de Ensino que o favorecem em uma turma de Educação Infantil | Pedagogias Italianas de Educação Infantil | Protagonismo Infantil Estratégias de Ensino Investigação Escuta Participação |
O diálogo da criança da Educação Infantil com a Ciência:Olhares e entrelaçamentos a partir do Bosque da Ciência | Sociologia da Infância | Imaginário Cultura de Pares Educação em Ciências Espaços não formais |
O Ensino de Ciências na Educação Infantil | Documentos Legais | Infância Ensino de Ciências Aula-passeio |
O Ensino de Ciências na Educação Infantil: Os primeiros passos na Ciência | Construtivismo | Infância Ensino de Ciências |
Práticas Pedagógicas Investigativas na Educação Infantil: O cotidiano de egressas do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta - MT | Pedagogias Italianas de Educação Infantil | Práticas Pedagógicas Investigativas Estratégias de Ensino |
Alfabetização Científica em contextos da Educação Infantil | Pedagogia de Projetos | Ensino de Ciências Alfabetização Científica Pedagogia de Projetos |
Brincar e Investigar Fenômenos com água na Educação Infantil | Teoria Histórico Cultural | Ensino de Ciência Educação Infantil Brincar Investigar |
A formação de Conceitos Científicos em crianças de cinco anos fundamentada em mediações sistematizadas | Teoria Histórico Cultural | Desenvolvimento cultural da criança Zona de Desenvolvimento Proximal Mediação Funções Psíquicas Superiores. |
Materialidade do Conhecimento de crianças pequenas e Educação em Ciências na Educação Infantil | Teoria Ator-Rede | Materialidade Educação em Ciências Actantes não-humanos |
Educação em Ciências e a Infância: por uma visão das crianças | Sociologia da Infância | Infância Educação em Ciências |
As árvores que nos cercam: O trabalho com Botânica na Educação Infantil | Pedagogia de Projetos | Infância Trabalho por Projetos Ensino de Ciências |
Fonte: Autores (2023).
Em relação às orientações teóricas dos estudos identificou-se uma predominância das seguintes perspectivas teóricas: I) Construtivismo; II) Sociologia da Infância; III) Abordagens Italianas de Educação Infantil; IV) Teoria Histórico-cultural; e V) Pedagogia de Projetos. Por fim, há ainda estudos que utilizam a Teoria Ator-Rede ou fundamentam-se, primordialmente, em documentos normativos da Educação Infantil.
Autores construtivistas são utilizados, sobretudo, nas pesquisas em que são analisadas Sequências de Ensino Investigativas ou que abordam a relação entre o brincar e o investigar. Entre as obras citadas com maior frequência nestes estudos encontra-se O Conhecimento Físico na Educação Pré-Escolar: Implicações da Teoria de Piaget, escrito por Kammi e Devries (1985). Neste livro, as autoras analisam as implicações das teorias do psicólogo suíço para o desenvolvimento do conhecimento físico, enfatizando a necessidade de as crianças realizarem atividades de exploração, manipulação e observação de objetos. Ao analisar o conceito de investigação apresentado nesta perspectiva, percebe-se que investigar é compreendido como uma estratégia de trabalho que se manifesta no currículo escolar da Educação Infantil em forma de sequências didáticas.
A segunda perspectiva teórica presente nas teses e dissertações analisadas refere-se a Sociologia da Infância. Sob essa nomenclatura, podem ser encontrados um conjunto heterogêneo de autores que, mesmo possuindo aspectos divergentes, apresentam em comum o reconhecimento da infância como uma construção histórica e social, bem como entendem a criança como produtora de cultura e capaz de exercer um papel ativo nos seus processos de socialização (REGO, 2018). No caso das teses e dissertações analisadas, pesquisadores que se filiam a essa perspectiva teórica utilizam com frequência os conceitos de infância e cultura. O conceito de investigação subjacente a estes estudos reconhece que a criança participante de uma proposta investigativa não assimila informações, mas sim as reconstrói e as reproduz de modo interpretativo.
As Pedagogias Italianas de Educação Infantil consistem na principal referência teórica de duas dissertações analisadas. Em ambos os estudos, o principal autor utilizado é Malaguzzi (2016). Schneider (2015) e Gabriel (2018) buscam na obra do pedagogo italiano e de seus comentadores, alguns princípios de trabalho, tais como o Protagonismo Infantil, Investigação e Escuta Sensível. Assim, o conceito subjacente de investigação é o de uma estratégia de ensino que permite contemplar os interesses das crianças no currículo escolar (Silva, 2011).
Os autores que fundamentam as suas pesquisas na Teoria Histórico-Cultural analisam, sobretudo, a construção de conceitos nas crianças. Nestas pesquisas, há maior ênfase nos processos de interação e mediação ocorridos no decorrer das práticas pedagógicas. Os pesquisadores que se valem desta perspectiva teórica, muitas vezes, discutem aspectos relacionados ao Ensino de Ciências que se aproximam ou convergem com a perspectiva adotada pelas Pedagogias Italianas de Educação Infantil e, também pela Sociologia da Infância.
Por fim, há um conjunto de pesquisas que se fundamentam na Pedagogia de Projetos, em especial nas obras de Hernández e Ventura (1998) e Hernández (1998). Cabe destacar que na análise realizada, os autores que fazem uso dessa perspectiva teórica acabam adotando uma postura de cunho pragmático, isto é, os projetos são a forma de desenvolver práticas investigativas no cotidiano da Educação Infantil. Mesmo que os autores não realizem essa reconstituição histórica, destaca-se que a proposta de Pedagogia de Projetos fundamenta-se no pensamento escolanovista e, também, na Teoria da Aprendizagem Significativa.
Além das perspectivas teóricas presentes nas pesquisas, buscou-se analisar ainda os conceitos centrais nos estudos analisados. A fim de sistematizar os dados apresentados no Quadro 3, anteriormente apresentado, organizou-se uma nuvem de palavras:
A análise da Imagem 1 permite inferir que os termos de “Ensino” e “Ciências” são identificados com maior frequência nas teses e dissertações analisadas. Em relação ao conceito de Ciências e suas derivações, ele permite identificar que os estudos sobre práticas investigativas no contexto da Educação Infantil podem ser considerados como emergentes de uma interação de duas áreas distintas de conhecimento, a saber, Educação Infantil e Ensino de Ciências. Esse caráter interárea exige que os pesquisadores que queiram abordá-lo precisam atentar-se às especificidades de ambas as áreas, identificando aspectos que sejam convergentes, mas também divergentes. A presença do conceito de “Ensino” também pode ser tomada como um indicativo de tensão existente nas discussões acerca da Educação Infantil, principalmente entre autores que defendem a necessidade de um ensino de caráter mais sistematizado (HAI, 2020) e àqueles que defendem uma postura de educação, na qual seria fundamental as brincadeiras, interações e explorações (Carvalho, 2019).
Em relação aos aspectos metodológicos, observa-se que as pesquisas apresentam predominantemente um caráter qualitativo, sendo focalizadas ou desenvolvidas ao nível institucional. Entende-se como pesquisas focalizadas aquelas desenvolvidas com um grupo específico de crianças (turma). Por sua vez, as pesquisas institucionais são aquelas em que os pesquisadores estudam uma determinada instituição, valendo-se da análise documental, entrevistas e observações dos participantes. Os tipos de pesquisa desenvolvidos também foram heterogêneos, sendo possível identificar Estudos de Caso, Pesquisa Ação, Pesquisa Etnográfica e um número relativamente grande de Pesquisas de Intervenção ou Análise de Sequências Didáticas desenvolvidas.
Para compor o corpus das teses e dissertações analisadas, os autores valem-se de um conjunto amplo de instrumentos. Em pesquisas focalizadas em investigar práticas pedagógicas de docentes, há uma predominância das entrevistas semiestruturadas, de observações participantes e de registros fotográficos. Nas pesquisas em que há intervenção ou a proposição de aplicação de situações de aprendizagem, percebe-se ainda o uso de filmagens, gravações de áudio das conversas das crianças e análise das produções infantis, especialmente, de desenhos. Os Diários de Campo são onipresentes em todos os estudos.
Considerações finais
Neste artigo, apresentou-se uma metapesquisa desenvolvida com intuito de analisar sistematicamente teses e dissertações que abordam o Ensino por Investigação na Educação Infantil no período de 2012-2022. Por meio do estudo realizado, almejava-se I) Identificar as perspectivas epistemológicas empregadas por autores que abordam o Ensino por Investigação no contexto da Educação Infantil; e II) Identificar perspectivas metodológicas empregadas nas pesquisas acerca da temática estudada.
Em relação às perspectivas epistemológicas, identificou-se que as teses e dissertações analisadas fundamentam-se, principalmente, no construtivismo, na Teoria Histórico-Cultural, nas Pedagogias Italianas de Educação Infantil, na Sociologia da Infância e na Pedagogia dos Projetos. Resguardada as diferenças entre essas tendências teóricas, reconhece-se que ambas convergem à necessidade de pensar práticas que rompam com os paradigmas de treino e instrução ou a ênfase no cuidado que historicamente marcaram a educação para crianças pequenas. Subjacente a todos os estudos percebe-se o reconhecimento de uma imagem de criança potente e capaz de aprender. Além disso, o papel do brincar, do interagir e a função educativa dos espaços e materiais também estiveram presentes nas pesquisas realizadas.
A análise dos termos basilares das teses e dissertações infere que o desenvolvimento de práticas investigativas no cotidiano da Educação Infantil, geralmente, encontra-se articulado com propostas de Ensino de Ciências ou com o desenvolvimento da Alfabetização Científica. Em ambos os casos, o Ensino por Investigação é apontado como uma estratégia de ensino para atingir determinados fins. A escolha por essa estratégia é justificada, por vezes ao condizer com a perspectiva teórica adotada pelos pesquisadores, por outras pelo fato de garantir o protagonismo infantil e as interações entre os pares ou ainda por ser mais adequada e fomentar uma habilidade inata das crianças.
Neste aspecto, identifica-se algumas lacunas ou aspectos que precisam ser mais bem discutidos pelos pesquisadores que abordam as práticas investigativas no contexto da Educação Infantil. O primeiro deles é o de que, além de uma estratégia de ensino, a investigação precisa ser compreendida como uma atitude ontológica por parte das crianças, isto é, um modo delas colocarem-se diante do mundo, a fim de identificar a continuidade ou a relação de causalidade entre os diferentes eventos. Assim, caberia ao adulto ser sensível a estas investigações ordinárias empreendidas pelas crianças e propor intervenções no cotidiano da escola de Educação Infantil de modo a dar sustentação a elas.
Em relação às proposições epistemetodológicas, identifica-se uma coerência entre as proposições metodológicas e as perspectivas teóricas adotadas pelos pesquisadores. Há uma pluralidade de tipos de pesquisa e instrumentos de coleta de dados utilizados pelos autores das teses e dissertações. Contudo, são raras as teses e dissertações que apresentam os pressupostos gnosiológicos da pesquisa ou das técnicas de análise estando estes, muitas vezes, implícitos nas escolhas metodológicas.
Por fim, destaca-se que este estudo consistiu em uma metanálise empreendida com objetivo de desenvolver um estudo exploratório, a fim de conhecer tendências teóricas e metodológicas utilizadas nas pesquisas sobre práticas investigativas com crianças. Torna-se necessário dar prosseguimento aos estudos, com intuito de identificar se as perspectivas identificadas em teses e dissertações também se manifestam em artigos e trabalhos publicados em eventos. Torna-se ainda fundamental realizar uma leitura analítica do material, a fim de identificar de que modo os autores conceituam a investigação.