Introdução
O inglês é uma língua reconhecida mundialmente. Segundo dados apresentados por Schütz (2003), estima-se que 75% de toda comunicação internacional por escrito, 80% da informação armazenada em todos os computadores do mundo e 90% de conteúdo da internet estejam em inglês. Além disso, de acordo com Crystal (2001), há no mundo cerca de 400 milhões de falantes nativos da língua inglesa. Talvez seja por essa razão que tantos brasileiros se interessem em aprender a falar, escrever, ler, escutar e mais recentemente, pesquisar sobre a língua inglesa.
Conforme Rodrigues (2006), a pesquisa científica está aumentando seu espaço nos cursos de educação superior na maioria das universidades. Esta tem sido considerada um ambiente em que se vivencia a cultura universal e que tem por finalidade o ensino, a pesquisa e a extensão, sendo organizada para a formação de profissionais que atuarão na sociedade.
Em Moita Lopes (2000), encontramos que o ensino de uma língua estrangeira deve fazer parte do processo educacional do aprendiz como um todo e o estudante deve se inserir de forma ativa no processo conhecimento. Daí a importância de desenvolver nos estudantes a capacidade de fazer perguntas, de levantar questionamentos, de estimular a curiosidade e isso pode ocorrer quando a pesquisa é assumida como princípio metodológico do ensino. O professor de Letras não apenas ensina a língua, mas também forma novos professores.
Assim, considerando que uma das funções da universidade, bem como do professor do curso de Letras, é propiciar ao aluno o acesso a novos saberes, estimulando a dúvida e a curiosidade o presente artigo apresenta parte dos resultados de uma investigação que teve como objetivo compreender como os professores de língua inglesa de um curso de licenciatura em Letras percebem a relação entre ensino e pesquisa no contexto da sala de aula e a possibilidades de participação dos estudantes neste processo.
A motivação para este trabalho surgiu de algumas perguntas frequentes de estudantes de graduação e pós-graduação: O que é pesquisa? A pesquisa é importante na docência? O bom professor é também pesquisador? Como a pesquisa impacta na docência? Os alunos realizam pesquisas em sala de aula? Ou participam das pesquisas realizadas pelo professor? De que forma?
A abordagem da pesquisa foi qualitativa e a técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semiestruturada, sendo utilizado os princípios da Análise de Conteúdo na interpretação dos dados. Foram entrevistados três professores que atuam em disciplinas de língua inglesa, no curso de Letras - Inglês, em uma universidade comunitária catarinense, após terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para garantir o sigilo, os participantes foram identificados por meio de números pela ordem das entrevistas.
Este texto não tem a pretensão de solucionar estas questões, mas oferecer subsídios para reflexões e provocar novas perguntas. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é propor uma discussão sobre o ensino e a pesquisa, que possa contribuir para que estudantes e professores se interessem pelo assunto e entendam a pesquisa como uma atividade de suma importância no processo de formação dos futuros professores.
Pesquisa e ensino na Educação Superior da língua inglesa: sobre a teoria e a empiria
Iniciamos essa discussão conceituando a pesquisa e a relação desta com o processo de formação e o contexto da sala de aula, a partir de referenciais teóricos. Ao discutir o papel da pesquisa em Ciências Sociais, Chizzoti (2005) afirma que:
A pesquisa investiga o mundo em que o homem vive e o próprio homem. Para esta atividade, o investigador recorre à observação e à reflexão que faz sobre os problemas que enfrenta, e à experiência passada e atual dos homens na solução destes problemas, a fim de munir-se dos instrumentos mais adequados à sua ação e intervir no seu mundo para construí-lo adequado à sua vida.
O autor destaca a importância da observação e da reflexão na prática de pesquisa, além de se referir à estreita relação entre os conceitos de pesquisa e problema. Embora na pesquisa a observação não tenha sido utilizada como técnica de coleta de dados, a observação do cotidiano e o levantamento de questões a serem investigadas foram recorrentes para se chegar à problemática aqui abordada.
Vários autores afirmam que as pesquisas têm como motivação e objetivo a solução e compreensão de problemas (MARCONI & LAKATOS, 2000; PÁDUA, 2000; CHAVES, 2003; RUDIO, 2009). No entanto, é necessário destacar que o conceito de problema é discutido de formas diferentes na literatura, não estando apenas relacionado a situações negativas.
O problema de pesquisa pode ser, entre outras probabilidades, um questionamento (APPOLINÁRIO, 2004) sobre um tema, uma curiosidade sobre uma questão pontual, etc. Assim, o termo problema pode se referir à sistematização de procedimentos de estudo e investigação.
Sistematizar esses procedimentos dentro da universidade é incentivar o questionamento dentro de um processo de reconstrução de conhecimento. Para Demo (1997), a construção do conhecimento se dá através de uma reformulação de teorias e conhecimentos existentes. A reconstrução do conhecimento é considerada o critério diferencial da pesquisa, englobando teoria e prática.
De acordo com Dias Sobrinho (2010), no cenário de pressões e contradições que existe hoje dentro da universidade, os professores são desafiados a agir com competência e disposição, para formar as novas gerações segundo valores humanistas e democráticos e para desempenhar seu trabalho docente com criatividade e liberdade pedagógica. Nessa perspectiva, é fundamental a ruptura das fronteiras disciplinares e das limitações quanto ao desenvolvimento da pesquisa dentro e fora do espaço de sala de aula.
Como afirma Cunha (2012), a pesquisa constitui-se num modo de pensar e de proceder frente ao conhecimento. É uma atitude epistemológica que atribui formatos à ação dos docentes e dos estudantes. Essa forma de agir costuma ser chamada de atitude investigadora que é parte de uma visão de mundo reforçada pela perspectiva do conhecimento em movimento, sempre provisório.
Sendo assim, a pesquisa acaba por ser cada vez mais reconhecida como estratégia para melhoria da educação e do ensino, principalmente na educação superior.
Para Masetto (2003, p.103), “Ensino com pesquisa se trata de uma estratégia fundamental para melhoria da qualidade dos cursos de graduação, aceita e defendida por todas as instituições de ensino superior. Além disso, é uma técnica que permite várias aprendizagens”.
No ensino com pesquisa o estudante se torna protagonista no processo de aprender, e o objeto de estudo e de reflexão acaba se tornando ponto de partida e de chegada para apreensão da realidade.
Nesse sentido, a pesquisa pode se traduzir como importante componente metodológico do ensino, por isso é importante que o professor universitário assuma a pesquisa como princípio educativo e formativo.
No entanto, este é um processo que deve ser construído e alcançado pelos que protagonizam este processo de ensinar, aprender, pesquisar em sala de aula, ou seja: os professores.
Os três professores do Curso de Licenciatura em Letras Português/Inglês entrevistados neste estudo reconheceram a importância da pesquisa para o ensino na universidade. Ela é considerada por eles como uma forma de favorecer o processo de construção/reconstrução de conhecimento do estudante.
Em um curso de licenciatura a pesquisa é considerada fundamental e pode trazer inúmeros benefícios à formação do professor em uma sociedade “que se propõe a formar cidadãos críticos, participativos, solidários, autônomos, responsáveis pela formação de homens e de mulheres e por sua autoformação”, conforme aponta Ens (2006, p. 13).
Por isso na universidade, para que os estudantes possam ter uma boa formação, conforme apontado por Rodrigues (2006), o aluno deve desenvolver conteúdos teórico-práticos necessários à sua formação profissional e intelectual, cabendo-lhe não só a reter esses conteúdos, mas também produzir conhecimento.
Conforme apontam Cachapuz et al. (2001), o desenvolvimento de um novo campo de conhecimentos aparece quase sempre associado a condições como: a existência de uma problemática relevante, capaz de despertar um interesse suficiente que justifique os esforços necessários ao seu estudo; o caráter específico dessa problemática e o contexto sócio-cultural, bem como os recursos humanos e condições externas.
Para um dos professores entrevistados “a pesquisa é o que nos move para a construção do conhecimento. Por meio da pesquisa aprendemos a aprender e a pensar” (Professor 2).
Para outro entrevistado o ato de pesquisar desenvolve no professor a autoridade do conhecimento, da erudição, pois
o professor que não pesquisa, não tem o que falar. Ele papagueia o que os outros estão pesquisando, falando. Pesquisa na sala de aula pra mim é o professor que constrói materiais, que vai atrás de materiais. Que ajuda na construção do conhecimento do aluno, por meio de perguntas, problematizando, não só levando respostas prontas (Professor 1).
Esse depoimento encontra guarida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB, (BRASIL, 1996) que apresenta como uma das finalidades da educação superior: “incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive”. Além disso, a lei ainda coloca que a universidade deve estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo.
Ao Ensino Superior, conforme Souza (1997, p.30) a LDB atribui como características:
criar os novos saberes mediante pesquisa, difundir a cultura organizada e sistêmica, mediante o uso de uma semântica apropriada, e repartir o seu conhecimento com a comunidade externa às faculdades e universidades, mediante a prática do extensionismo. O que marca o saber universitário é a complexidade intelectual do pensamento, em que assentam suas proposições.
A LDB, com tais disposições, de forma clara incorporou o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e a concepção de que o ensino tem como finalidade incentivar a pesquisa e a investigação cientifica.
Dessa forma ensino, pesquisa e extensão integram a aprendizagem e são fundamentais para qualquer instituição universitária que queira apresentar bons resultados e ter relevância social.
O Plano Nacional de Educação de 2001, aprovado pela Lei n.º 10.172/2001, já expressava que:
As Universidades constituem, a partir da reflexão e da pesquisa, o principal instrumento de transmissão da experiência cultural e científica acumulada pela humanidade. Nessas instituições apropria-se o patrimônio do saber humano que deve ser aplicado ao conhecimento e desenvolvimento do país e da sociedade brasileira. A Universidade é, simultaneamente, depositária e criadora de conhecimentos. (BRASIL, 2001)
Assim, a Universidade define-se como o lugar que deve incentivar a pesquisa em todos os níveis do ensino superior: graduação, pós-graduação “lato sensu” e nos programas “stricto sensu”.
Dentro desse contexto da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da expectativa das legislações de desenvolvimento da pesquisa em todos os níveis de ensino da educação superior é que estão inseridos os cursos de graduação e especificamente o curso de Letras.
Nesse sentido, a pesquisa, entendida como um processo que busca compreender e transformar a realidade, seja sobre o ensino ou no ensino (VIEIRA, 2005), além de proporcionar a relação com o ensino, é uma poderosa estratégia de desenvolvimento profissional, oportunizando o protagonismo do professor em seu próprio processo de mudança e melhoramento.
Parece haver certo senso comum no discurso de que a pesquisa qualifica o ensino, embora nem sempre se efetive na prática, conforme estudos de Cunha (2012). Também Hughes (2008) afirma que a integração entre ensino e pesquisa tem se apresentado muito mais como um mito do que como uma efetiva construção por parte de todos que vivem a universidade. A pesquisa ainda engatinha quando se trata de sala de aula no ensino superior.
Segundo Healey (2008), a maioria dos docentes, quando questionada sobre como sua pesquisa impacta no ensino, aponta para o caminho em que seus resultados de pesquisa são integrados em suas aulas. No entanto, existem muitas outras maneiras de relacionar pesquisa e ensino: os estudantes podem aprender sobre métodos e técnicas de pesquisa; podem realizar seus próprios projetos (individualmente ou em equipes); podem colaborar na pesquisa dos professores; podem ganhar experiência de pesquisa aplicada e consultoria através da aprendizagem baseada no trabalho. Ou seja, é necessário diversificar, chamar a atenção dos estudantes para que se sintam desafiados com os diferentes usos da pesquisa pelo professor.
Para compreender essas diferentes formas ou maneiras de conceber a relação entre ensino e pesquisa na universidade Healey (2008) aponta quatro grandes divisões: a docência impulsionada pela pesquisa; a docência orientada para a pesquisa; a docência baseada na pesquisa e; a pesquisa tutorizada. Nas duas primeiras, a pesquisa está centrada no professor, e os estudantes atuam apenas como espectadores. Já na docência baseada na pesquisa e a pesquisa tutorizada a docência é centrada nos estudantes e os mesmos atuam como participantes ativos dos processos de pesquisa.
Nas duas primeiras abordagens o foco está no docente. Na “docência impulsionada pela pesquisa”, o professor desenvolve a relação entre ensino e pesquisa através da apresentação aos estudantes de resultados de estudos realizados, mediante processos de pesquisa em que eles ou outros professores participaram.
Na “docência orientada para a pesquisa”, os estudantes aprendem os processos utilizados na pesquisa e o plano de ensino dá importância aos termos, as normas, as técnicas, aos procedimentos, mas não a pesquisa em si, pois ela não se realiza. Nos dois casos, os estudantes são colocados de frente à pesquisa na condição de espectadores.
Nas abordagens com foco nos estudantes, os mesmos são considerados sujeitos ativos na pesquisa. Na “docência baseada na pesquisa”, os estudantes são também investigadores e o plano de ensino do professor consta principalmente de atividades baseadas na indagação, na dúvida e a pesquisa torna-se objeto de alcance de resolução destas questões. A fronteira entre o papel do professor e do estudante é mínima; ambos ensinam e aprendem, sob a coordenação do professor.
Na “pesquisa tutorizada” os estudantes são incentivados a desenvolver pesquisas sob a orientação do docente e são desafiados a elaborar artigos com os resultados de seus estudos.
Para Healey (2008), as abordagens centradas nos estudantes, baseadas em problemas e indagações, fomentam a aprendizagem profunda. E são essas aprendizagens que podem fazer diferença na formação dos futuros professores.
No curso de Letras da universidade pesquisada, pela análise das entrevistas, vários tipos de relações entre pesquisa e ensino são utilizados, dependendo do momento e da característica das disciplinas curriculares. Das respostas dos três entrevistados, podemos perceber diferentes maneiras de relação entre ensino e pesquisa. Um deles é a “docência baseada na pesquisa”, pois o plano de ensino do professor consta principalmente de atividades baseadas na indagação, na dúvida e a pesquisa torna-se objeto de alcance de resolução destas questões. Um exemplo desse uso pode ser percebido na seguinte fala:
Na disciplina de estágio, a própria elaboração do plano de aula é uma descoberta, de autoria. Eu vejo nele algumas coisas do método científico, de buscar referencial, de ter um problema. Não é uma pesquisa constituída, mas tem elementos de pesquisa” (Professor 1).
Segundo Barnett (2008), a docência baseada na investigação visa aumentar o envolvimento do estudante como investigador, convidando-o a vivenciar os processos próprios à pesquisa, possibilitando níveis mais sofisticados de desenvolvimento intelectual.
Para os professores entrevistados, essa prática acontece em diversas disciplinas do curso, em momentos diferentes. Isso pode ser ratificado pela seguinte fala:
A escrita do relatório final é um trabalho acadêmico, que precisa ser referenciado teoricamente. Na disciplina de literatura eu tenho bastante, por meio de problematizações. Tanto de literatura, quanto ensino de literatura, os alunos fazem pesquisas, entrevistas e constroem ensaios, artigos (Professor 1).
Em certa medida essa prática pode ser relacionada com a “pesquisa tutorizada”, pelas suas características indagadoras e de produção de textos e artigos.
De acordo com um dos entrevistados na maioria das vezes seus alunos participam de suas pesquisas.
Delimitamos o objeto de estudo, construímos as ferramentas de como vamos observar, registrar e analisar as práticas de professores de Inglês. A partir do objeto de pesquisa e da metodologia começamos o contato com o que queremos investigar (Professor 3).
Este mesmo entrevistado afirma que os estudantes ficam interessados e apresentam várias dúvidas relacionadas ao objeto de pesquisa. O professor, então, faz o papel de orientador no processo de questionamento do acadêmico em relação ao objeto de pesquisa.
Já um dos entrevistados não demonstra uma familiaridade com a pesquisa em sala de aula e com a participação dos estudantes. Com relação às pesquisas em sala de aula afirma: “observo que tem muitos alunos com dificuldade em pesquisar” (Professor 2). Talvez a dificuldade também esteja no professor, embora entendamos que uma sala numerosa de estudantes não é a condição ideal, nem para o ensino, nem para a pesquisa.
Um dos entrevistados fala da dificuldade da pesquisa, especificamente nas disciplinas de língua inglesa:
Nas disciplinas de língua inglesa, te confesso que a gente tem um pouco de dificuldade. É uma dificuldade que não é nossa. Os estudos de língua inglesa no ensino superior vão mostrar esse duplo desafio, que é ensinar a língua e também ensinar a lecionar. Por conta disso, eu acho que as atividades de pesquisa ficam um pouco preteridas (Professor 1).
Os três professores entrevistados dizem perceber certa resistência vinda dos estudantes quando se trata de desenvolverem sua própria pesquisa ou participarem mais ativamente da pesquisa de um orientador. Um dos entrevistados afirma que “há muitas situações envolvidas na pesquisa e das quais ela depende. A dificuldade de leitura e interpretação que se apresenta no ensino em geral é um fator que compromete o ser pesquisador” (Professor 2). Para eles, os estudantes da universidade ainda não entendem ao certo a importância da pesquisa para se tornarem bons professores depois de formados. Da mesma forma, cabe questionarmos se podem ser bons professores universitários, responsáveis pela formação dos futuros professores de inglês da educação básica e ensino médio, sem desenvolverem o ensino com pesquisa.
Citam a dificuldade da leitura e interpretação, habilidades necessárias para se desenvolver uma boa investigação pedagógica. Além disso, os professores ainda acrescentam que muitos estudantes “concebem o processo de pesquisa como algo somente para pesquisador profissional, e não como parte de um processo que deve formar profissionais da educação pela pesquisa” (Professor 3). Esse pensamento talvez seja fruto de um ensino centrado na docência e não na participação ativa dos estudantes no processo ensino-aprendizagem.
Ainda assim, eles insistem em construir uma rotina aos poucos com os alunos, de estudo e pesquisa, pois “a gente não abre mão disso, de tirar o aluno da zona de conforto. É o que eu acredito e o que a maioria dos professores aqui do curso de Letras acredita” (Professor 1).
A participação dos estudantes nas pesquisas é o início de um processo que pode desenvolver a autonomia dos universitários, o que, segundo Contreras (2002), não é algo dado ou surgido de fora para dentro do sujeito. Ela é construída e está intimamente relacionada à geração “de significado e de vontade e intenção criadora”.
Os professores acreditam que a universidade está no caminho certo, e que cada professor deve ir atrás de sua própria pesquisa para, com isso, também incentivar os alunos. No entanto, não podemos deixar de destacar o importante papel que a universidade tem no sentido de promover coletivamente a capacitação a fim de que a relação ensino e pesquisa possa ser uma realidade institucional.
Um dos nossos interlocutores assim se expressou:
Eu me considero um professor pesquisador com certeza, por vários motivos. Estou fazendo doutorado. Meu campo principal é a análise do discurso, mas eu tenho interesse e venho escrevendo também algumas coisas sobre material didático, ensino de línguas, principalmente ensino de língua inglesa (Professor 1).
Um dos entrevistados confessa que não se considera pesquisador, mas tem a intenção de se tornar um em pouco tempo, como podemos perceber em sua fala: “Eu participo de grupo de pesquisa, mas não sou pesquisadora. Faço registros sobre minha docência e leituras. Aposentei-me no Estado no ano passado e pretendo me dedicar à pesquisa a partir de agora” (Professor 2).
Para um dos entrevistados a pesquisa é de extrema importância na docência, “porque a educação precisa de docentes que articulem ensino, pesquisa e extensão para ter uma escola com alunos que possam pensar, questionar e agir” Acredito que a sala de aula é o lugar para isso (Professor 3).
O mesmo entrevistado se considera também um pesquisador. Seu objeto de estudo são as crenças de professores sobre o ensino/aprendizagem de língua inglesa. Para esse professor, existe uma grande influência de sua pesquisa em sua forma de ensinar, pois
o impacto se da pelo fato de eu entender melhor de que forma se estabelecem as crenças que os acadêmicos trazem para a academia sobre o ensino/aprendizagem de uma Língua Estrangeira. Desta forma, consigo dialogar com eles, numa tentativa de desconstruir algumas crenças por meio da reflexão, observação e pesquisa (Professor 3).
A respeito de quando começar a pesquisa com os estudantes, os entrevistados concordam que quanto antes, melhor. Um dos nossos entrevistados ratifica esse entendimento quando assim se manifestou:
o nível de complexidade de uma pesquisa para o aluno de primeira fase vai ser diferente de um aluno de mestrado e doutorado. No princípio, o aluno não vai construir um conhecimento novo, mas pelo menos vai ter contato com algumas coisas interessantes, que são: necessidade de referencial bibliográfico diversificado, não lhes é passada uma resposta pronta, por que ele vai descobrir através de leituras e através de uma problematização (Professor 1).
Outro entrevistado vai além, pois para ele “a pesquisa deve fazer parte do cotidiano escolar já nas séries iniciais. As crianças adoram perguntar. Suas perguntas são o ponto de partida para pesquisas (Professor 2).
Alimentar a curiosidade e dar espaço para a questionamentos são posturas que o professor formador precisa buscar sempre. Quando a docência é centrada nos estudantes ela busca a participação ativa, o desenvolvimento da criatividade e da autonomia. Como ensina Freire (2014, p. 33).
A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta, faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos.
É necessário, então, que o professor desenvolva essa curiosidade no aluno. E que essa seja uma prática constante, já que para fazer pesquisa, o aluno necessita diversas outras habilidades.
De acordo com os autores Boruchovitch e Bzuneck (2001, p.38):
Toda situação de aprendizagem deve ser planejada levando-se em consideração aqueles elementos já reconhecidos como promotores da motivação intrínseca. Apresentar desafios, promover curiosidade, diversificar planejamentos, propor fantasia, compartilhar decisões favoráveis à motivação dos alunos facilmente implementadas.
Dessa forma, cabe ao professor universitário levá-los a entender, através do exemplo, como o uso das diferentes relações entre pesquisa e ensino pode ser um instrumento de qualificação da prática docente e melhoria na educação.
Considerações finais
Conforme foi apontado ao longo desse trabalho, a pesquisa constitui um elemento muito importante para a formação do professor. Ela é elemento fundamental para que os estudantes construam/reconstruam conhecimento.
As técnicas de estudo e leitura, análise, pensamento e escrita combinadas com o rigor científico, enriquecem a jornada do estudante em seu percurso de formação. Considera-se essa questão ainda mais importante quando se trata de alunos que se tornarão professores após a graduação. A relação vai muito além do preparo para a elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), como pensam alguns.
Para os professores entrevistados, a forma que utilizam a pesquisa influencia muito em sua docência. Principalmente no curso de licenciatura, que irá formar educadores. Os exemplos vivenciados em sala de aula, e na pesquisa, serão fundamentais como referências de ação dos futuros docentes.
Com base nas entrevistas realizadas nesse estudo, podemos perceber que os professores do curso de Letras da universidade pesquisada utilizam diferentes relações entre pesquisa e ensino em suas aulas. No entanto, essa relação entre ensino e pesquisa ainda é incipiente. De acordo com os entrevistados, existe resistência por parte dos estudantes de participar de trabalhos que envolvem a pesquisa. Ademais, também é possível haver resistências por parte de algum professor por insegurança de trabalhar nesta perspectiva. Ou seja, ainda é mais comum ver os estudantes como espectadores na pesquisa.
Na percepção dos professores entrevistados, os estudantes deveriam participar de pesquisas e entender as diferentes relações entre elas e o ensino o quanto antes. Na medida em que as instituições se proporem a formar professores e pesquisadores desde os primeiros anos da graduação, elas tendem a consolidar uma educação superior de qualidade, na medida em que visa o desenvolvimento da autonomia e do poder de crítica.
Nos campos da educação e, mais especificamente do inglês em sala de aula, é cada vez mais necessário que os professores sejam preparados para incentivar a dúvida, o questionamento, a curiosidade e a criatividade dos estudantes. Por isso é necessário estimular a relação ensino com pesquisa já no processo de formação dos futuros professores, sem esquecer que a vivência desta relação deve vir conjuntamente com a preparação para o ato de ensinar.
De qualquer forma fica a reflexão e a possibilidade de crítica, já que o texto foi produzido com este fim.