1 Introdução
A qualidade do trabalho docente não é pautada apenas em teorias, mas essencialmente na prática, com o incentivo da ação e com a forma de aprimorar os saberes (RAMOS, 2008). Silva, Ribeiro e Lima (2019) entendem que o ofício do professor é composto pelo desenvolvimento intelectual, que garante uma construção de saberes essenciais na atuação profissional, dando condições para que o discente tenha autonomia ao refletir. Dessa forma, é relevante entender as escolhas e o desenvolvimento profissional de um professor.
O desenvolvimento profissional docente envolve aspectos típicos de sua trajetória de vida, como elementos de sua profissão, da escola e de sua família (HOBOLD, 2018). Optar pela profissão docente na atualidade não é uma tarefa fácil, visto que ocorrem influências no processo de formação. O professor geralmente é visto como um sujeito que transmite conhecimento, porém essa imagem, com o passar dos anos, foi descontruída a partir de uma nova atribuição, que é a de formar sujeitos reflexivos e ativos na sociedade.
Nessa perspectiva, compreendemos que o docente, além de estar em uma posição de ministrar conhecimento, também influencia diretamente seus alunos, pois sua profissão está em constante modificação. Romanowski e Martins (2010) destacam que o desenvolvimento profissional é um complemento à formação inicial, uma vez que possibilita ao professor alcançar outros estágios de sua profissão.
Bernard Lahire, sociólogo francês, possui uma abordagem subjetivista que compreende o indivíduo por meio da sua singularidade. Lahire (2004) afirma que as pessoas se relacionam para além de sua classe, adquirindo, assim, um patrimônio de disposições mais diversificado. Nessa perspectiva, a internalização de ações disposicionais é obtida mediante o processo de conhecimento conquistado pelo agente ao longo da vida particular de maneira organizada e constante, mas não de forma automática e tampouco irreversível (ALVES, 2016). Desse modo, o autor organizou sua teoria com estudos direcionados à microssociologia seguidos por uma escala individual.
Lahire (2004), em sua obra intitulada Retratos Sociológicos, aborda dimensões e as distribui em: Família, Escola, Trabalho, Sociabilidade, Lazer-Cultura e Corpo.1 As dimensões são representadas por contextos sociais que influenciam o indivíduo e são fundamentais para compreender cada escolha e decisão tomada ao longo da sua trajetória, ou seja, torna-se possível constituir uma escala individual relacionando suas disposições individuais incorporadas nesses diferentes ambientes sociais.
De acordo com Lahire (2004), a escala individual se traduz em uma sociologia que pretende aceitar o desafio de mostrar que o social não se resume ao coletivo, encontrando-se também nas características mais específicas de cada indivíduo. A partir disso é possível compreender as variações individuais, ou seja, o conjunto de disposições que a pessoa tem.
No que se refere à escolha da profissão docente, essa decisão pode ser influenciada por diversos ambientes ou motivações. Almeida e Seixas (2011) compreenderam, em seus estudos, que a escolha profissional não é totalmente individual, mas sofre influências do âmbito escolar e, principalmente, do meio familiar.
No que tange ao quadro de socialização do indivíduo, a dimensão Escola influencia, em muitos casos, o aluno na escolha de sua profissão, pois a figura do professor representa uma referência (LAHIRE, 2004). Já a dimensão Família, por ser o primeiro modelo de socialização com que se tem contato, influencia diretamente a construção de valores e a formação de opiniões. É necessário compreender, entretanto, as “lealdades invisíveis”2 que ocorrem por meio do papel que a família tem no projeto de vida de uma pessoa. Quando um indivíduo decide seguir determinada profissão, acredita que essa decisão tenha sido unicamente individual, porém a família teve participação indireta (ALMEIDA; SEIXAS, 2011).
O desenvolvimento profissional e a escolha da carreira não representam um processo particular, uma vez que sofrem interferências variadas e relacionam uma história de vida com um futuro imprevisível. Essas ingerências surgem a partir das dimensões socializadoras que Lahire aborda em seus estudos. Assim, a carreira de um professor conta com etapas e estágios de desenvolvimento profissional, pois sofre influências da família, das instituições escolares, do ciclo de amigos e dos ambientes culturais ou de lazer (ROSSI, 2012; LAHIRE, 2004).
Com isso, torna-se relevante analisar e compreender o motivo pelo qual os comportamentos dos professores de Educação Física se modificam ao longo de sua trajetória de vida pessoal e do desenvolvimento profissional. Mediante uma pesquisa de revisão de literatura, buscamos discorrer acerca das contribuições teóricas de Bernard Lahire na edificação de uma sociologia da individualização, evidenciando aspectos das trajetórias de vida pessoal e profissional de professores de Educação Física, a partir dos caminhos apontados pelo autor, para refletir sociologicamente a teoria disposicional da ação.
Por fim, o presente ensaio tem como objetivo contextualizar, a partir de estudos recentes encontrados no campo, a metodologia dos retratos sociológicos de Bernard Lahire com a trajetória de vida e o desenvolvimento profissional de professores de Educação Física.
2 Metodologia
O presente artigo identifica-se como uma revisão de literatura do tipo narrativa, de cariz ensaístico e de natureza exploratória descritiva, tendo por finalidade efetuar uma revisão crítica no que tange à trajetória de vida e ao desenvolvimento profissional de professores de Educação Física por meio da metodologia de Bernard Lahire.
A pesquisa bibliográfica é um procedimento metodológico pautado na análise de um material já publicado, pois seu aporte teórico é feito a partir da leitura de livros, revistas, artigos entre outros (FONTELLES et al., 2009). A revisão de literatura é um requisito para esse tipo de pesquisa, a qual engloba a sistematização de procedimentos, bem como o objetivo do estudo selecionado (LIMA; MIOTO, 2007).
Em concordância com Lima e Mioto (2007), os procedimentos supramencionados na estruturação deste ensaio passaram por dois estágios: o primeiro foi caracterizado pela seleção do objetivo/temática do estudo, seus descritores e organização da metodologia investigativa; e o segundo, identificado pela pesquisa e avaliação dos materiais, divide-se em três circunstâncias: a) busca nas bases de dados elencadas; b) análise prévia dos materiais (título, resumo, objetivo, métodos e conclusão/considerações finais); c) leitura final dos materiais e efetuação dos resumos finais, os quais poderão voltar à primeira circunstância, caso haja necessidade.
No que se refere ao primeiro estágio, após a definição do objetivo do estudo, empregamos os descritores “Escala Individual”, “Bernard Lahire” e “Desenvolvimento Profissional”. O processo de organização privilegiou manuscritos nos idiomas português, inglês e espanhol.
No segundo estágio, optamos pela busca nas bases de dados Scielo e Google Acadêmico, totalizando 2.423 textos, dos quais os artigos selecionados englobaram os seguintes critérios de inclusão: artigos, na íntegra e nos idiomas português e inglês, que discorressem sobre a teoria de Bernard Lahire na área da Educação e o desenvolvimento profissional. Foram excluídos artigos fora do arco temporal de 12 anos. Além dos artigos selecionados, para a melhor compreensão do tema foram utilizados dois livros de Bernard Lahire: Patrimônios Individuais de Disposições – Para uma Sociologia à Escala Individual (2005) e Retratos Sociológicos – Disposições e Variações Individuais (2004).
O refinamento inicial analisou objetivos, métodos e considerações finais para que, a posteriori, fossem realizados a leitura detalhada e o fichamento dos artigos escolhidos. Para a sistematização da pesquisa foram separados 33 artigos, sendo 28 em português, 2 em inglês e 3 em espanhol. Com o fim de simplificar didaticamente a análise, no Quadro 1 encontram-se ordenados todos os artigos.
Autores | Ano | Periódico | Título | Objetivo | Método | Conclusão | |
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Natureza | Instrumento | ||||||
Adriane de Castro Menezes Sales Edna Maria Querido de Oliveira Chamon |
2021 | Revista Educação UFSM | Avaliação da formação inicial em EF: percepções de egressos da Universidade de Santa Catarina | Investigar as percepções de graduados em EF sobre sua formação inicial | Abordagem qualitativa | Questionário | Concluiu-se que os responsáveis pela estruturação da formação inicial em EF podem consolidar as práticas que foram bem avaliadas |
Michelle Guidi Gargantini Presta Rita de Cássia Fernandes Miranda Mônica Caldas Ehrenberg |
2021 | Educação: Teoria e Prática | Formação continuada de professores: o circo em debate | Analisar as contribuições, desafios e possibilidades de se desenvolver um projeto circense na educação infantil | Abordagem qualitativa | “Relato de Experiência” | Concluíram que diferentes aspectos da dinâmica escolar, além das tomadas de decisão coletivas, fortaleceram os vínculos e transformaram o espaço construído e compartilhado |
Giodésia Conceição Gomes de Araújo | 2020 | Psicologia da Educação | Formação continuada: constituição e contribuições para a identidade docente | Verificar se a formação continuada viabiliza o aprimoramento e a reconfiguração da identidade docente | Abordagem qualitativa | Entrevistas | Concluiu-se que alguns processos formativos contribuíram para a reconfiguração docente por meio de elementos específicos viabilizados nessas formações |
Felipe Lopes Terrão
Leda Maria de Oliveira Rodrigues |
2020 | Colloquium Humanarum | A escolha pelo curso de EF da UNIFESP | Identificar as razões da escolha pelo curso de bacharelado em EF | Abordagem qualitativa | Entrevistas Questionário |
Os autores concluíram que as razões são de origem familiar, trajetória social e educacional |
João Eduardo Martins | 2019 | Revista da Associação Portuguesa de Sociologia | Da sociologia da socialização à sociologia da individuação | Contribuir para a discussão teórica de uma sociologia com base nos autores Lahire, Dubet e Martuccelli | Abordagem qualitativa | Livros/teses/dissertações | A análise permitiu a compreensão explicativa de como o social se relacionava de maneira significativa com a vida pessoal dos indivíduos |
Márcia Souza Hobold | 2018 | Práxis Educativa | Desenvolvimento profissional dos professores: aspectos conceituais e práticos | Discutir o conceito de desenvolvimento profissional docente e sua implicação nos processos formativos | Abordagem qualitativa | Livros/teses/dissertações | Concluiu-se que há necessidade de valorizar os espaços formativos, de modo a priorizar a intencionalidade de se trabalharem questões da dimensão pessoal do professor |
Suelen Vicente Vieira Lucas Jacob Beuttemmuller Jorge Ambos |
2018 | Journal of Physical Education | Preocupações de professores de EF conforme os ciclos de desenvolvimento profissional | Analisar as preocupações dos professores conforme os ciclos de desenvolvimento profissional | Abordagem quantitativa | Questionário e escalas | Os autores concluíram que as preocupações apresentam comportamento semelhante com o avanço da carreira |
Fábio César Junges Charles Matin Ketzer Vânia Maria Abreu de Oliveira |
2018 | Educação & Formação | Formação continuada de professores: Saberes ressignificados e práticas docentes transformadas | Analisar as contribuições para a formação de professores numa perspectiva de flexibilização dos modelos de formação continuada | Abordagem qualitativa | Artigos e entrevistas | Conclui-se que há necessidade de um constante processo de formação continuada, sob o foco de um novo modelo transformativo, postado nos tempos atuais |
Luana Jaqueline da Silva et al. | 2018 | Movimento | Carreira docente em EF: história de vida de uma professora emérita | Contribuir para a ampliação da compreensão da história de professores aposentados atuantes na docência | Abordagem qualitativa | Entrevista semiestruturada | Concluíram que o percurso formativo foi caracterizado pelas experiências positivas com o esporte |
Gelcemar Oliveira Farias et al. | 2018 | Movimento | Ciclos da trajetória profissional na carreira docente em EF | Analisar a carreira de professores de EF | Abordagem qualitativa | Entrevista semiestruturada | Os autores identificaram cinco ciclos que caracterizam a carreira docente e sugerem acompanhar os docentes após o processo de aposentadoria |
Maria de Lourdes Salazar Silva Maria de Lourdes Sanchez-Velázquez |
2018 | Revista Culturas e Representações Sociais | Metodologia qualitativas das histórias de vida: uma referência para análise dialética entre o social e o indivíduo | Refletir entre o indivíduo e o social para compreender problemas socioeducativos | Abordagem qualitativa | Artigos | As autoras concluíram que o social é constituído no pessoal, e a singularidade de uma história pessoal é resultado do ambiente em que se está imerso |
David Pac Cecilia Serrano Martínez |
2018 | Revista Internacional de Sociologia da Educação | Práticas familiares na construção do criativo profissional | Analisar as relações entre configurações familiares e ocupações criativas | Abordagem qualitativa | Entrevista | Concluiu-se que as relações familiares influenciaram a escolha do perfil profissional |
Franciele Roos da Silva Ilha, Fabiana Ritter Antunes |
2018 | Biomotriz | Saberes docentes (re)construídos durante o processo de desenvolvimento profissional de professores de Educação Física | Compreender de que modo professores de EF constroem e/ou reconstroem seus saberes docentes | Abordagem qualitativa e descritiva-interpretativa | Questionário e entrevista semiestruturada | Concluiu-se que professores de EF destacam saberes emergentes da sua formação inicial e que constroem e (re)constroem saberes que são incorporados à sua prática diária |
Claudio Pinto Nunes Dalila Andrade Oliveira |
2017 | Educação e Pesquisa | Trabalho, carreira, desenvolvimento docente e mudança na prática educativa | Discutir algumas questões encontradas na literatura recente sobre a profissão docente | Abordagem qualitativa | Artigos | Concluiu-se que as definições somente fazem sentido se os objetivos do professor, da escola e dos sistemas educacionais estiverem articulados |
Veruska Pires et al. | 2017 | Revista Portuguesa de Educação | Identidade docente e EF: um estudo de revisão sistemática | Investigar a produção do conhecimento sobre a identidade docente na EF | Abordagem qualitativa | Artigos | Concluiu-se que a identidade docente é prioritariamente discutida a partir dos tempos e espaços das histórias de vida dos docentes |
Maria do Céu Neves Roldão | 2017 | Revista de Educação | Formação de professores e desenvolvimento profissional | Analisar a problemática da formação de professores e sua relação com o desenvolvimento profissional | Abordagem qualitativa | Artigos |
Concluiu-se haver a necessidade de reforçar o desenvolvimento profissional como transformativo da qualidade e da eficácia da formação |
Bernard Lahire | 2017 | Revista Latinoamericana de Metodología de las Ciencias Sociales | Mundo plural: por que os indivíduos fazem o que fazem? | Propor uma fórmula para o estudo de práticas universais que relacionam uma dimensão disposicional com contextualização | Abordagem qualitativa | O autor concluiu que podem existir interesses pelos aspectos do mundo social com o mesmo desejo de uma sociologia interacionista | |
Inês Cardoso Paula Batista Amândio Graça |
2016 | Movimento | A identidade do professor de EF: um processo simultaneamente biográfico e relacional | Examinar as experiências prévias de estagiários de EF na identificação com a profissão | Abordagem qualitativa | Entrevistas Diário de campo |
Concluiu-se que o investimento no desenvolvimento profissional era influenciado pela percepção do contexto e das relações sociais |
Ana Rodrigues Cavalcanti Alves | 2016 | Sociologias | Dos habitus de classe aos patrimônios individuais de disposições: reflexões sobre a prática em Pierre Bourdieu e Bernard Lahire | Analisar as contribuições teóricas de Pierre Bourdieu e Bernard Lahire na construção de uma sociologia da prática | Abordagem qualitativa | Livros e teses | Concluiu-se que tanto Bourdieu quanto Lahire tentaram superar as dicotomias encontradas nas ciências por meio de uma teoria disposicional da ação |
Nuno Nunes et al. | 2016 | Sociologia, Problemas e Práticas | Ação coletiva à escala individual e local: perfis e retratos sociológicos | Compreender a ação coletiva, explorando o dispositivo metodológico dos retratos sociológicos | Abordagem qualitativa | Entrevistas | O artigo concluiu que os acontecimentos marcantes nas histórias coletiva e pessoal desencadearam e justificaram a sua ação coletiva |
Paulo Lima Junior Luciana Massi |
2015 | Ciência & Educação | Retratos sociológicos: uma metodologia de investigação para a pesquisa em educação | Apresentar algumas das críticas de Bernard Lahire à abordagem de Bourdieu | Abordagem qualitativa | Entrevistas | Concluiu-se que a experiência de um indivíduo no ensino de ciências estará intimamente ligada a outras de socialização |
Bernard Lahire | 2015 | Educação e Pesquisa | A fabricação social dos indivíduos: quadros, modalidades, tempos e efeitos de socialização | Discutir acerca da importância de contextualizar as trajetórias individuais | Abordagem qualitativa | Livros, teses e artigos | O autor concluiu que a formação das diferentes experiências socializadoras de cada um depende do caráter heterogêneo delas |
Jose Santiago | 2015 | Revista Espanhola de Pesquisa Sociológica | Estrutura social à luz do novo: sociologias do indivíduo | Apresentar novas teorias da estrutura social por meio das novas sociologias do indivíduo | Abordagem qualitativa | Artigos | O autor concluiu que a sociologia precisa compreender a singularização das trajetórias de um indivíduo |
Janaína da Silva Ferreira José Henrique dos Santos Bruno de Oliveira Costa |
2015 | Revista Brasileira de Ciências do Esporte | Perfil de formação continuada de professores de EF: modelos, modalidades e contributos para a prática pedagógica | Descrever as modalidades de formação continuada frequentadas por professores de EF | Abordagem quantitativa | Questionário | Concluiu-se que a maior frequência em modalidades eventuais e de curta duração estava baseada prioritariamente na transmissão de conhecimentos |
Patrícia Gomes Paula Queirós Paula Batista |
2014 | Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto | A socialização antecipatória para a profissão docente: estudo com estudantes de EF | Conhecer o porquê da escolha do curso de EF e identificar os agentes de socialização | Abordagem qualitativa | Questionário Entrevista semiestruturada |
As autoras identificaram que as vivências anteriores em contextos desportivos fortaleceram a vontade de ser professor |
Fernanda Rossi Dagmar Hunger |
2012 | Revista Brasileira de Educação Física e Esporte | As etapas da carreira docente e o processo de formação continuada de professores de EF | Analisar os significados atribuídos por professores de EF escolar à relação entre formação continuada e desenvolvimento profissional | Abordagem qualitativa e quantitativa | Entrevista semiestrutura | Concluiu-se que a formação continuada contribuiu para a constituição do docente, uma vez que os professores reconheceram a sua importância |
Maria Elisa Grijó Guahyba de Almeida Andrea Seixas Magalhães |
2011 | Revista Brasileira de Orientação Profissional | Escolha profissional na contemporaneidade: projeto individual e projeto familiar | Analisar a construção de projetos de vida e o processo de escolha profissional | Abordagem qualitativa | Livros, teses e artigos | Concluiu-se que a transmissão da profissão na contemporaneidade ainda existe por conta das lealdades invisíveis e da influência familiar |
Vânia Galindo Massabni | 2011 | Educação e Pesquisa | Os conflitos de licenciados e o desenvolvimento profissional docente | Identificar a existência de conflitos entre professores de formação | Abordagem Qualitativa | Entrevista Semiestruturada | Concluiu-se que a formação inicial evidencia e problematiza as situações vividas no cotidiano docente |
Adriane de Castro Menezes Sales Edna Maria Querido de Oliveira Chamon |
2011 | Educação em Revista | Escolha da carreira e processo de construção da identidade profissional docente | Analisar os fatores na escolha da profissão e na construção da identidade profissional docente | Abordagem quantitativa | Questionário estruturado | Concluiu-se que o conjunto dos fatores que influenciam a escolha da carreira docente compõe um significado para sua construção de carreira |
Joana Paulin Romanowski Pura Lucia Oliver Martins |
2010 | Revista Diálogo Educacional | Formação continuada: contribuições para o desenvolvimento profissional dos professores | Analisar as contribuições da formação continuada para o desenvolvimento profissional dos professores | Abordagem qualitativa | Relatos de experiência | Concluiu-se que a formação continuada é mais uma nova forma de regulação profissional do que uma promoção da profissionalização docente |
Alexandra Folle et al. | 2009 | Movimento | Construção da carreira docente em EF: escolhas, trajetórias e perspectivas | Analisar a história de vida de professores de EF e identificar as escolhas, perspectivas e trajetórias vivenciadas | Abordagem qualitativa | Entrevista semiestruturada | O estudo encontrou diferenças e similaridades nas escolhas, trajetórias, fatos e acontecimentos vivenciados pelos docentes |
José Alberto Gonçalves | 2009 | Sísifo | Desenvolvimento profissional e carreira docente – Fases da carreira, currículo e supervisão | Investigar o processo contínuo de “tornar se professor” por meio do momento da carreira em que se encontram | Abordagem qualitativa | Teses e dissertações | O pesquisador concluiu que foi possível estabelecer certo paralelismo “evolutivo” entre as etapas da carreira docente |
Alexandra Folle Juarez Vieira do Nascimento |
2008 | Revista da Educação Física/UEM | Estudos sobre o desenvolvimento profissional: da escolha à ruptura da carreira docente | Analisar pesquisas que abordam o desenvolvimento profissional docente, em especial o de EF | Abordagem qualitativa | Artigos, livros, dissertações e teses | Concluiu-se que a escolha da profissão docente é influenciada por motivos tanto intrínsecos e altruístas quanto extrínsecos |
Bernard Lahire | 2005 | Sociologia, Problemas e Práticas | Patrimónios individuais de disposições-para uma sociologia à escala individual | Apresentar uma sociologia à escala individual, apelando ao estudo das variações interindividuais e intraindividuais dos comportamentos, no cruzamento da pluralidade das disposições incorporadas e da pluralidade dos contextos de ação | Abordagem qualitativa | Artigos, livros, dissertações e teses | A sociologia à escala individual não se coloca de modo algum em oposição aos métodos estatísticos e generalizantes, mas pretende somente dotar a sociologia de instrumentos adequados à apreensão dos vincos mais singulares do social. |
*EF – Educação Física.Fonte: Autores (2022).
3 Resultados e discussão da literatura
A seguir serão apresentados os resultados oriundos das análises dos artigos sistematizados no Quadro 1 e que fundamentaram a organização da discussão dos resultados em três eixos temáticos: I) a proposta metodológica de retrato sociológico de Bernard Lahire;3 II) fatores que influenciam a escolha profissional: dimensões Família e Escola; III) desenvolvimento profissional: da formação inicial à formação continuada.
3.1 A proposta metodológica de retrato sociológico de Bernard Lahire
Para Bernard Lahire, os indivíduos devem ser estudados em sua unicidade. Nessa ótica, discorreremos a respeito da teoria da ação desenvolvida e utilizada pelo autor, a partir da qual analisa condutas, comportamentos da sociedade e o passado internalizado de cada indivíduo, contribuindo, então, para a tradição disposicionalista (LAHIRE, 2004). Dessa maneira, Lahire organiza sua teoria com estudos voltados para a microssociologia por meio dos retratos sociológicos.
Para compreendermos a metodologia dos retratos sociológicos é pertinente entender os conceitos estabelecidos por Lahire. O conceito de disposição se refere a um passado incorporado de experiências já vivenciadas e que é reforçado pela duração da socialização. A partir desse passado as formas de ver, sentir e agir serão consolidadas (LAHIRE, 2004). As disposições deveriam, portanto, ser compreendidas em maneiras de crer e agir, pois um indivíduo concebe/compreende de formas diferentes um mesmo tipo de estímulo. Lahire (2017) entende que os comportamentos e as práticas de um ator são produtos da incorporação de experiências passadas e tipos de interação e relacionamentos com outros indivíduos.
Para entender os patrimônios individuais ou um conjunto de disposições adquiridas em diferentes contextos se faz necessário saber diferenciá-las. Disposição para crer, ou seja, hábitos mentais e disposições para agir, hábitos de ação (LAHIRE, 2005). No mesmo entendimento, Alves (2016) descreve que o propósito da sociologia disposicional exposta por Lahire é reconstruir a origem das disposições e averiguar a constituição social que concebe as disposições do indivíduo. Conforme a crença de uma pessoa, o seu sucesso ou fracasso dependerão de se haverá condições econômicas para agir de acordo com o idealizado e, caso não haja, ocorrerá um sentimento de frustração.
Lahire (2004) também utiliza os termos Apetência, Competência e Transferibilidade. Apetência é quando uma pessoa sente prazer, e, se a disposição for incorporada em condições positivas, pode gerar a paixão; competência é quando o ator tem um saber próprio para realizar uma função; e, por fim, a transferibilidade ocorre quando há uma transferência de disposição de um contexto diferente para outro.
A partir das relações sociais, da convivência e da observação com outras pessoas, são incorporados hábitos, costumes e gostos semelhantes. Para Nunes et al. (2016), as situações do dia a dia não são imparciais, mas contextos sociais estratégicos que produzem ações intencionais. Na tentativa de identificar e interpretar a gênese de uma disposição, Lahire (2004) utiliza a grade de socialização que se organiza em seis dimensões: Família, Escola, Trabalho, Sociabilidade, Lazer-Cultura e Corpo.
De acordo com Santiago (2015), a escola e a família são as principais instituições responsáveis pelo processo de socialização, pois formam novos indivíduos com diferentes valores e diretrizes. Nessa mesma linha de pensamento, Lahire (2004) compreende a Família como o primeiro modelo de socialização do indivíduo, pois tem início em sua infância e vai até a vida conjugal; a Escola abrange todo o período colegial, desde o maternal até o final da carreira escolar; o Trabalho envolve toda a trajetória profissional; a Sociabilidade inclui as amizades que o indivíduo teve durante toda a vida; Lazer-Cultura remete a todas as experiências culturais para situar a gênese das práticas de lazeres atuais; e o Corpo compreende as mudanças de hábito que ocorrem ao longo do tempo.
Por motivos de escassez de estudos na literatura relacionados com as dimensões Ambiente e Amigos iremos nos aprofundar apenas nas dimensões Família e Escola, para, então, compreendermos o patrimônio de disposições de um professor de Educação Física e o motivo pelo qual optou pela profissão. Dessa forma, destacamos a relevância de investigar e debater primeiro as disposições para, depois, entender o desenvolvimento profissional de um docente por meio da metodologia de Bernard Lahire.
3.2 Fatores que influenciam a escolha profissional: dimensões Família e Escola
A escolha da carreira profissional, de fato, é uma decisão importante a ser definida. Segundo Folle et al. (2009), os contextos social, familiar e pessoal contribuem para o processo de escolha da profissão, de modo que o indivíduo não segue, em muitos casos, a carreira que desejava para si. De acordo com Soares, Menezes e Freire (2016), o método das histórias de vida é viável a partir de uma tentativa de reencontrar uma trajetória e dos contextos vividos em tempos diferentes de um indivíduo, levando a uma reflexão sobre a sua própria jornada profissional e pessoal. Nesse sentido, a experiência na trajetória de vida é relevante, pois é ela que influencia e, de certo modo, motiva ou não a escolha da profissão.
Segundo Salazar Silva e Sanchez-Velazquez (2018), o indivíduo vive, desde seu nascimento, dentro de uma teia de interdependências que só pode ser desfeita quando essa organização permite, uma vez que ele convive com uma rede de relações móveis responsáveis por formar seu caráter e sua identidade pessoal. Logo, para melhor compreender a escolha e a trajetória profissional, iremos nos basear em algumas dimensões citadas por Lahire (2004).
Nessa temática utilizamos um livro de Bernad Lahire e 12 artigos de diferentes autores, nos quais ocorreu o uso das duas dimensões para se entender a gênese da disposição. Os trabalhos contextualizaram socialmente o indivíduo em sua formação profissional docente, sendo alguns direcionados para a dimensão Família e outros para a dimensão Escola, porém todos favorecendo a teoria disposicional de Lahire.
No que se refere à escolha da profissão na área da Educação física, existem diversos fatores que podem interferir nessa decisão. Lahire (2015) considera que a sociologia se empenha em separar os quadros de socialização em instituição “primária”, que se refere à família, e “secundária”, referente aos ciclos de socialização vivenciados na escola, política, cultura, entre outros. A família, portanto, representa uma instituição primária que influencia diretamente a construção do indivíduo por meio das disposições.
Silva et al. (2018) analisaram a carreira docente de uma professora aposentada de Educação Física e perceberam que, a partir da sua formação, suas irmãs e sobrinhos foram influenciados a cursar o ensino superior na área da Educação. Com isso, os familiares incorporaram disposições relacionadas com a carreira educacional pelo fato de estarem em contato com uma pessoa da dimensão Família pertencente a essa área.
Sendo assim, compreendemos que essa dimensão consegue interferir na escolha da profissão do indivíduo quando, por exemplo, os pais têm vivência em algumas modalidades esportivas ou quando exercem a profissão docente, dando seguimento, assim, a uma tradição familiar. Consoante Almeida e Seixas (2011), essa escolha pode ser mencionada como uma transmissão geracional, ou seja, uma herança profissional que ocorre principalmente na dimensão Família, mas também pode ocorrer no ambiente escolar.
De acordo com Lahire (2004), a dimensão Escola é entrelaçada com a dimensão Família, pois, por mais que pareçam ser âmbitos autônomos, não se pode falar de escola de forma desvinculada da família, visto que acontece uma mistura na grade de socialização e o indivíduo é inserido no meio escolar muito cedo. Desse modo, a razão para a escolha do curso pode ocorrer em idades precoces por influência dos pais, professores e amigos. Gomes, Queirós e Batista (2014), em um estudo realizado com 10 estudantes de Educação Física, identificaram que a prática desportiva ocorre na faixa etária entre 6 e 10 anos (58,4%), seguida da de 2 a 5 anos (24,8%) e, por fim, pela de 11 e 14 anos (15,3%). Logo, observamos que, a partir do contato com as práticas esportivas na infância, vividas na escola, há maior probabilidade de escolha pela docência na Educação Física.
Nesse entendimento, Folle e Nascimento (2008) evidenciaram, em seu estudo, que os docentes de Educação Física têm optado por essa profissão pelo prazer propiciado pela prática de esportes, o que torna um motivo essencial para a escolha. Com isso, observamos que a prática de esportes na infância pode influenciar a futura escolha da profissão.
Para Martins (2019), a socialização é permeada de forma cada vez mais precoce e as disposições são incorporadas com origem em diferentes ambientes sociais, já que, mesmo que a família seja a instituição primária, há uma convergência com outros agentes da sociedade. Desse modo, podemos perceber que, em algumas situações, a dimensão Escola pode prevalecer em relação à dimensão Família e que isso pode ser explicado por Lahire (2004) quando descreve que a infância e a adolescência são períodos de importantes descobertas, pois o indivíduo adentra mundos sociais diferentes do universo familiar e que, por sua vez, são considerados mais rígidos ou opressores, ao contrário da dimensão Escola, na qual a visão é de liberdade, o que tende a atraí-lo mais.
Além disso, a escola é um ambiente em que o aluno permanece a maior parte do tempo e acaba recebendo influências que reforçam suas escolhas e disposições. Apoiando essa fala, Cardoso, Batista e Graça (2016) afirmam que as influências dos professores, as experiências e o prazer pelas práticas esportivas são as principais razões pela escolha da profissão, mesmo quando não há incentivo por parte dos familiares, que, por sua vez, aconselham com opções economicamente mais favoráveis.
Logo, se na infância as decisões são tomadas pelos pais em sua totalidade, na adolescência já se adquire certa autonomia. Segundo Pac e Serrano-Martínez (2018), uma vez que a adolescência esteja em desenvolvimento, a interferência da família se torna menos intensa e a opinião dos amigos próximos, mais relevantes; porém, quando o indivíduo chega ao ensino superior, não há um padrão associado à influência, seja da família ou do ambiente escolar.
Ao analisar os retratos sociológicos, Lahire (2004) afirma que, por mais que tenhamos a sensação de que esses contextos estão dissociados, a família e a escola estão mais ligadas do que se imagina. Dessa forma, entendemos que essas duas dimensões se complementam e fazem parte das decisões e da escolha profissional de um indivíduo.
3.3 Desenvolvimento profissional: da formação inicial à formação continuada
Para essa temática foram utilizados 15 artigos de diferentes autores para se compreender o desenvolvimento profissional desde a formação inicial até a formação continuada. O tópico almeja expor os conflitos dos professores recém-formados e analisar a importância do investimento em formação continuada.
O processo formativo de um professor de Educação física perpassa por vários caminhos que constroem seu desenvolvimento profissional, desde a formação inicial até a continuada. De acordo com Rossi (2012), a formação exige ao docente uma dedicação pessoal e o aperfeiçoamento de um trabalho, a partir dos quais busca construir seus perfis profissional e pessoal.
Segundo Hobold (2018), o desenvolvimento profissional pode ser entendido como um seguimento da formação inicial e das diversas experiências com seus alunos, colegas de profissão, momentos de estudos e relacionamentos. Penna (2012) afirma que o professor se desenvolve por intermédio das aprendizagens do cotidiano, do relacionamento com outros docentes e de toda a dinâmica que ocorre no âmbito escolar. Assim, as crenças também constituem esse elemento constituinte na trajetória do docente, ou seja, são experiências e vivências que favorecem, de fato, o desenvolvimento do professor como profissional e como pessoa (PENNA, 2012).
O indivíduo inicia sua carreira na docência já no momento da prática no estágio, e as experiências lá vivenciadas representam uma oportunidade para que o estagiário se reconheça como professor e estruture o seu desenvolvimento como docente (PIRES et al., 2017). Ilha e Antunes (2018) pontuam que a vivência dentro do âmbito escolar proporciona aos futuros acadêmicos os saberes escolares que acrescentam e/ou confrontam os conhecimentos adquiridos dentro da graduação que irão formar seu perfil como docente.
Gonçalves (2009) relata que personalidade, competência, crença, ações, saberes e experiências irão constituir relacionamentos com outros indivíduos, sua posição na sociedade e, principalmente, seu papel como docente. São as etapas iniciais que constroem o professor, pois o docente enfrenta desafios dentro da escola que vão consolidar a teoria adquirida na graduação. É o momento de consolidação, na prática profissional, de competências como planejar, executar e avaliar o planejamento de aula para os alunos, mesmo considerando o seu desenvolvimento, em grande parte, nas experiências que são adquiridas durante a formação inicial (SALLES et al., 2021).
No início da carreira são evidenciados problemas e conflitos que surgem durante situações do cotidiano. Nesse prisma, os professores, em sua formação inicial, devem estar preparados para suportar as tensões das primeiras experiências da profissão (MASSABNI, 2011). Vieira, Beuttemmuller e Both (2018), em seu estudo com 92 professores de Educação Física, investigaram que os professores no início da profissão têm preocupações com o domínio de turma, com a não aceitação pelos alunos, além de inquietações com os planejamentos das aulas e a falta de estrutura; em contrapartida, quando são abordadas especificamente essas questões, os professores que estão no final de sua carreira se preocupam menos.
No que concerne à formação continuada, Araújo (2020) compreende que a especialização profissional vai em direção ao movimento que se entende como a apropriação do conhecimento. Romanowski e Martins (2010) afirmam que essa formação é peça fundamental para o desenvolvimento profissional, pois complementa a formação inicial e eleva o nível da carreira docente. Além disso, pode surgir como possibilidade de aprimorar a capacidade de resolver demandas que possam surgir no cotidiano. Sendo assim, oferece ao professor novas formas de enfrentar problemas, deixando-o mais respaldado para exercer a profissão.
Presta, Miranda e Ehrenberg (2021) garantem que a profissão docente possui múltiplas funções e que isso exige certa qualificação que não se restringe apenas às técnicas de lecionar. A ideia de que o professor é apenas transmissor de conhecimento não se encaixa mais na prática docente da atualidade. Nesse entendimento, Ferreira, Santos e Costa (2015) discorrem que, quanto mais consolidado for o seu conhecimento, mais a formação continuada possibilitará outros níveis de desenvolvimento do docente, pois essa formação tornará o professor mais independente e lhe dará capacidade para produzir conhecimentos. Esse tipo de formação permite que o docente adquira, em sua rede de conhecimentos, um leque de informações e possibilidades a serem exploradas.
É primordial que o professor se prepare não apenas para lidar com conflitos dentro da escola, mas também com as mudanças que ocorrem na sociedade. Segundo Nunes e Oliveira (2017), deve haver reflexões e táticas, desde a formação inicial e também durante o exercício mediante a formação continuada, acerca das alterações sociais e da exigência de formação profissional, de modo a preparar o futuro docente para enfrentar os conflitos próprios de cada fase de mudança social.
Ilha e Antunes (2018) asseguram que é de suma importância que os docentes invistam na formação continuada, seja mediante cursos, palestras, eventos científicos, livros, enfim, conhecimentos que irão compor e desenvolver o futuro professor. Araújo (2020) declara que a formação continuada amplia a possibilidade de o professor resolver diferentes desafios que surgem no dia a dia e que, durante o seu desenvolvimento, novos recursos são construídos e reinterpretados, dando-lhe novas formas e experiências de lecionar.
Torna-se essencial, portanto, que os docentes se conheçam e compreendam os conteúdos pedagógicos devido às mudanças que ocorrem na contemporaneidade. Nessa ótica, o professor será capaz de introduzir o aluno na sociedade, propiciando autonomia e reflexividade com capacidade de agir (JUNGES; KETZER; OLIVEIRA, 2018).
Sales e Chamon (2011) demostraram, em seus estudos, que somente 0,4% da amostra total adquiriu algum amparo financeiro para a formação. Os professores encontram dificuldades para seu desenvolvimento profissional, o que prejudica futuras oportunidades de ascensão como docente. Posto isso, entendemos que a formação continuada é necessária para o desenvolvimento profissional dos professores, embora estes enfrentem dificuldades para realizá-la.
A carreira docente está, portanto, em constante modificação e cabe ao professor investir e se desenvolver na sua carreira. A busca por (re)interpretar o conhecimento dará suporte tanto para sua formação inicial quanto ao longo de sua trajetória docente.
4 Considerações finais
Com base na literatura revisada procurou-se corroborar as reflexões acerca da utilização da metodologia dos retratos sociológicos como uma ferramenta para a análise e a compreensão das trajetórias de vida pessoal e profissional de professores de Educação Física. Os resultados evidenciaram que a trajetória de vida influencia a escolha da profissão e que as dimensões Família e Escola atuam diretamente nas tomadas de decisão inerentes à carreira profissional.
Além do mais, foi constatado que as dimensões Família e Escola são interligadas, não podendo ser desassociadas, pois a escola é um ambiente cujo sujeito passa a maior parte do tempo e acaba recebendo influências que reforçam suas escolhas, assim como a família, que também fortalece as escolhas e disposições por ser o primeiro ambiente em que se tem contato com um modelo de sociedade.
O desenvolvimento profissional docente perpassa desde a formação inicial até a formação continuada. Ao longo da carreira, o docente enfrenta conflitos do cotidiano, os quais a formação continuada o ajudará a resolver, dando-lhe novas ferramentas, além da apropriação do conhecimento para exercer a docência.
Por meio das literaturas analisadas, entendemos que, após a utilização da metodologia dos retratos sociológicos, de Bernard Lahire, foi possível investigar o motivo pelo qual uma pessoa se decide por uma determinada profissão e seu desenvolvimento na carreira. Por meio da escala individual compreenderam-se as ações de cada sujeito, as quais, por sua vez, foram internalizadas ao longo de toda sua vida a partir das dimensões que influenciaram suas tomadas de decisão nas trajetórias pessoal e profissional.
A análise dos trabalhos nos permitiu observar que foram realizados estudos de caso, métodos de entrevista e pesquisas qualitativas cujas conclusões destacaram que, no âmbito dos estudos de natureza pessoal e profissional, as dimensões com maior influência nas escolhas dos indivíduos são Família e Escola. Apesar de as dimensões Amigos e Ambientes não terem sido mencionadas, as relações pessoais e profissionais também sofrem sua influência. Por fim, devido à escassez de estudos na literatura, são necessárias mais investigações sobre a temática, visando todas as dimensões utilizadas na metodologia de Bernard Lahire.