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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.20 no.56 Rio de Janeiro jan./mar 2019  Epub 19-Dez-2019

https://doi.org/10.12957/teias.2019.39754 

Resenhas

DARCY RIBEIRO: EDUCAÇÃO COMO PRIORIDADE. LÚCIA VELLOSO MAURÍCIO (ORG.). SÃO PAULO: GLOBAL, 2018

Estevão Rafael Fernandes(*) 

(*) Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia. Doutor em Ciências Sociais (Estudos Comparados sobre as Américas pela Universidade de Brasília). E-mail: estevaofernandes@gmail.com.

RIBEIRO, DARCY. EDUCAÇÃO COMO PRIORIDADE. MAURÍCIO, LÚCIA VELLOSO. SÃO PAULO: GLOBAL, 2018.


RESUMO

Esta resenha busca apresentar ao leitor algumas das inquietações por trás do pensamento de Darcy Ribeiro, a partir dos textos organizados no livro de Lúcia Velloso. Em que pese haver passado mais de duas décadas desde o falecimento daquele autor (educador, antropólogo e, acima de tudo, brasileiro), seus escritos seguem mais atuais e necessários que nunca, a fim de se compreender o papel crítico a ser desempenhado por uma educação de qualidade, voltada para a formação da cidadania.

Palavras-chave: Educação; Política; Brasil

ABSTRACT

This review tries to present to the reader some of the anxieties behind the thought of Darcy Ribeiro, from the texts organized in the book of Lúcia Velloso. Although more than two decades have passed since the death of the author (educator, anthropologist and, above all, Brazilian), his writings are more current and necessary than ever before, in order to understand the critical role to be played by a quality education, focused on the formation of citizenship.

Keywords: Education; Politics; Brazil

RESUMEN

Esta revisión trata de presentar al lector algunas de las ansiedades detrás del pensamiento de Darcy Ribeiro, a partir de los textos organizados en el libro de Lúcia Velloso. Aun que han transcurrido más de dos décadas desde la muerte del autor (educador, antropólogo y, sobre todo, brasileño), sus escritos son más actuales y necesarios que nunca, para comprender el papel fundamental que debe desempeñar una educación de calidad, centrada en la formación de la ciudadanía.

Palabras clave: Educación; Política; Brasil

Poucos autores são tão necessários, hoje, quanto Darcy Ribeiro: e o livro brilhantemente organizado por Lúcia mostra isso. A chamo de Lúcia, apesar de não conhecê-la e quebrando os cânones formais estabelecidos na e pela academia - para quem eu deveria chamá-la, secamente, de Maurício, ou Velloso - por considerá-la (não Maurício ou Velloso, mas Lúcia) uma parente próxima. Ela, filha intelectual de Darcy, como resta claro em sua Apresentação e eu, neto de Darcy, filho que sou (na graduação, mestrado, doutorado e no coração) de uma de suas outras filhas diletas: sua Universidade de Brasília. Entrei na graduação no mesmo ano em que Darcy nos deixou (novamente “Darcy”, não “Ribeiro”) e ecoam, pelos corredores extensos do Instituto Central de Ciências os ecos do pensamento libertário e criativo de seu criador, tão bem expostos nos capítulos organizados por Lúcia.

O livro consta de seis seções compostas por textos de relativa pouca circulação, escritos originais de Darcy sobre educação em diferentes contextos, totalizando 27 capítulos nos quais transborda Brasil e brasilidade, hoje tão raros à nossa elite intelectual. Os textos variam bastante de tom, desde mais programáticos e técnicos até aqueles, mais emocionados (como seu discurso proferido em 1995, ao receber o título de doutor honoris causa da UnB, já no fim da vida).

Uma das opções deste resenhista seria, justamente, picotar capítulo por capítulo, esmiuçar seção por seção para, ao final e ao cabo, dizer formalmente como o texto de “Velloso Maurício” merece uma leitura atenta e contribuirá para o campo da Educação. Optar por esse modelo escolástico e bem-comportado de texto seria uma violência. Mais apropriado é deixar claro, desde já, porque o texto de Lúcia, lido de fôlego e à luz do flerte autoritário de nosso país, nestes tempos, é necessário.

É necessário, sobretudo, por nos lembrar que Educação, em tempos de escolas sem partido e “ideologias de gênero” (sic) não dizem respeito à subordinação e disciplina, mas a incutir nos jovens, de todas as idades, um espírito crítico que se volte para a superação da precariedade estrutural. Educação é política. Não no sentido, como querem fazer crer os que agem por ignorância, incompetência ou má fé, de pensar o ato de Educar como Doutrinação (o que quer que isso seja...). Ao contrário, quando Darcy escreve que os jovens não devem “respeitar seus pais” ele assim o faz por dizer, como é preciso ser dito hoje, que não devem repetir os erros que levaram nosso Brasil a ser desigual. “Cometam erros, mas novos erros”, parece ecoar em cada página... “Não se subordinem”, parece gritar desesperadamente Darcy, ao mesmo tempo em que esmiúça nossa história.

É necessário por colocar perguntas, hoje vistas como perigosas por setores inclusive de dentro da Educação, como “por que somos incapazes de educar nossa população”? ... Irônico, inclusive, ler essas páginas ao tempo em que temos visto, nos noticiários, faixas pedindo banimento de Paulo Freire, censura às Universidades e perseguição explícita a professores e à liberdade de cátedra. Nosso “moinho de gastar gente” é o que é, por sua incapacidade de ver, na Educação, a forma de romper com o descaso e a desigualdade.

É necessário, finalmente, por dar o exemplo de coragem, que tantas vezes nos tem faltado. E aqui é necessário nós, academia, termos um momento de autocrítica: não temos nós, em meio à corrida para alimentarmos nossos lattes e pontuar para nossos programas, nos perdido em algum lugar? Me incomoda - ou melhor, me impele - ler esses textos darcyanos. Em cada palavra, ponto e mesmo nos espaços entre as palavras e parágrafos, seus textos pulam. Há neles gana. Há neles coragem. Há neles um sentimento de necessidade da mudança e de brasilidade que hoje, verdade seja dita, nos falta.

Os textos que Lúcia nos traz falam de educação, pois falam de coragem, política, Brasil, mudança, desigualdade... Notem: falam de educação pois falam desses assuntos, e não por também falar desses assuntos... Dizer que seu livro merece ser lido por trazer contribuição ao campo das políticas de educação não basta. Seu livro precisa ser lido, por nos lembrar de onde viemos, onde queremos chegar e por que não chegamos lá. E precisa ser lido, sobretudo, por nos lembrar da coragem necessária para isso. Obrigado por isso, Lúcia. Obrigado, Darcy.

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