Jane Paiva
Paula Leonardi
[...] é preciso que as maiorias trabalhem, comam, durmam sob um teto, tenham saúde e se eduquem. É preciso que as maiorias tenham o direito à esperança para que, operando o presente, tenham futuro. (FREIRE, 1993, p. 107)
O ano de 2021 arrastou uma série de contradições talvez nunca vividas tão penosamente e tantas em tão pouco tempo, para educadores, professores e pesquisadores, especialmente da área da educação: em meio a uma pandemia que teve início em fevereiro de 2020, e seguiu (des)controlada em grande parte dos países que, divulgando dados e informações, ainda agora mantém, especialmente entre nós, no Brasil, as gentes em sobressaltos constantes e cotidianos. A ação de um Senado da República com o instrumento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), ousou acender, de novo, esperanças que pareciam perdidas, tal a normalização do horror; a rotina cotidiana dos números macabros de mortes; a dor desenlutada das famílias enquanto a política seguia seu curso de desprezo e menosprezo pelos mais de 600 mil mortos vitimados por um vírus incontrolável, diante da ganância e da chance indigesta de “quem quer ser um milionário?”, no pior sentido que a evocação desse filme possa ter assumido em todos os quadrantes do país, especialmente no Norte, no Amazonas. Paralelamente, maiorias na população penavam as dores do desemprego, da falta de proteção salarial e sanitária dos trabalhos ultraprecarizados, entre muitas outras imputações que uma frágil democracia, que se esboroava, arrastava para a vala comum da História que, uma vez mais, golpeava a possibilidade de soberania e de cidadania no Brasil. Saúde em frangalhos, apesar dos heroicos esforços de equipes esgotadas por meses a fio de luta contra a COVID-19; ciência espoliada pelos inescrupulosos jogadores de um tempo sem produção, mas de lucros financeiros astronômicos; liberdades diariamente ameaçadas simbólica e materialmente, pela circulação voraz, intempestiva e sem limites de armas que potencializam o ódio em excesso, a escassez de solidariedade, a obscuridade da ignorância e da incompetência sem projeto no gerir da res publica.
Na cena permanente que se tem vivido dessa cruel e soturna realidade, Teias, potente, recebeu e publicou muito do que tem sido produzido por pesquisadores, e celebrou — com honras devidas a quem é patrono da educação brasileira — o Centenário de Paulo Freire. Foi mais um periódico entre tantas iniciativas feitas, que vieram à mostra, evidenciando a riqueza do que somos como educadores que, em meio a todo o cenário apresentado, corajosamente tomaram a palavra, narraram, relataram, refletiram e fizeram pensar que a esperança, tal como a utopia, permanece no horizonte, fazendo-nos caminhar.
Para juntos celebrarmos Freire, quatro parceiros internacionais — um pesquisador de Rouen, na França; uma pesquisadora do México; e duas pesquisadoras argentinas, de Córdoba e de Buenos Aires — integram esse número, consolidando o projeto Capes-PrInt da UERJ, de que constituímos parte.
Para além desses, outras autoras e autores diligentemente se apresentam com seus estudos, demonstrando a confiança em nossa Revista e nas companhias com quem repartirão ideias e reflexões.
Teias, assim, com disposição de resistir — melhor dizer (re-existir) — não apenas aos riscos da doença e da morte que tem ceifado tantas vidas, permite reinventarmo-nos como professores e pesquisadores que fizeram de plataformas virtuais os ambientes remotos de aprendizagens, de trabalho e pesquisa, pondo à luz o resultado de novas práticas, que rememoram possíveis e novos sentidos para celebrar Paulo Freire. Esse educador cujos princípios, valores e ensinamentos éticosestéticos-políticos-filosóficos-pedagógicos alimentam as vidas de gerações que o conheceram, leram, admiraram e seguiram reinventando-o.