CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os processos avaliativos formais estão presentes na vida desde os primeiros anos escolares. Ao longo do percurso escolar e acadêmico, os estudantes vão se deparando com uma diversidade de formatos e instrumentos utilizados no campo avaliativo com o intuito de acompanhar o conhecimento adquirido, mas ainda há um forte domínio e valorização social de formatos tradicionais, calcados exclusivamente no uso de provas e testes.
Todavia, esses processos avaliativos vêm paulatinamente dando espaço para abordagens alternativas sobre esse campo, buscando caminhos mais viáveis para qualificar o ensino. Neste artigo, buscamos analisar pesquisas internacionais entre os anos de 2016 a 2021, visando estudos que respectivamente abordavam a utilização de feedbacks e que se referiam à autorregulação da aprendizagem, por entendermos ambos os conceitos como cruciais em uma compreensão adequada do processo avaliativo, em alinhamento com as demandas contemporâneas, que não entendem mais o sentido de uma avaliação pautada apenas em resultados, sem nenhuma perspectiva sobre percurso.
Segundo Sadler (1989), o feedback pode ser percebido como uma prática de avaliação formativa, que tenta fechar a lacuna entre o desempenho atual e o desejado. O feedback dialógico interfere nas interações entre acadêmicos e docentes (ARINDA; SADIKIN, 2021). Em consonância, as perguntas formuladas pelos docentes soam como uma lacuna esclarecedora (PITT; NORTON, 2017), havendo uma percepção positiva de que as utilizações dos feedbacks realizados melhoram as habilidades de comunicação (ION et al., 2019).
Conforme Schunk e Greene (2018), as orientações das metas dos discentes são fatores cruciais da aprendizagem autorregulada (SRL), como indicadores importantes de sua motivação e desempenho em ambientes acadêmicos (ZIMMERMAN; MOYLAN, 2009). Ainda, afirmamos que “[...]a autoavaliação inclui todos os três domínios do SRL: cognitivo, motivacional e afetivo” (PARIS; PARIS, 2001, p. 95).
Com isso, fizemos uma Revisão de Escopo (PETERS et al., 2020) com artigos selecionados na base de dados Dimensions, considerada uma base emergente e robusta atualmente. Nesse sentido, a questão que norteou nosso estudo foi: quais tendências têm sido apresentadas na literatura internacional recente a respeito de feedback e autorregulação da aprendizagem no âmbito das pesquisas sobre avaliação no Ensino Superior? Na seção seguinte, será detalhado o protocolo de pesquisa adotado e, na sequência, a análise dos dados investigados.
PROTOCOLO DE PESQUISA NA REVISÃO DE ESCOPO
Para a elaboração dessa pesquisa, aplicamos uma Revisão de Escopo, que reúne informações referentes às principais tendências da literatura internacional a respeito de feedback e autorregulação da aprendizagem no Ensino Superior. No sentido de realizar a análise, cumprimos as orientações do PRISMA-ScR para scoping review, que é a extensão do PRISMA para revisões de escopo (TRICCO et al., 2018). Esse modelo de revisão pretende mapear os principais conceitos que apoiam determinada área de conhecimento, examinar a extensão, alcance e natureza da investigação, sumarizar e divulgar os dados da investigação e identificar as lacunas de pesquisas existentes (ARKSEY; O’MALLEY, 2005). Assumimos como frameworks a estratégia PCC, População (P), Conceito (C) e Contexto (C) (PETERS et al., 2020).
Realizamos uma pesquisa na Plataforma Dimensions no dia 26 de maio de 2021. Além disso, optamos por ponderar os dados completos e o período determinado para a busca entre os anos de 2016 a 2021, sendo incluídos os filtros para pesquisa somente de documentos que fossem artigos e de acesso aberto. Utilizamos esta base de dados por possuir o maior conjunto de informações de pesquisa veiculados do mundo (DIGITAL SCIENCE, 2021). A plataforma tornou-se uma grande ferramenta, podendo ser comparada com a Web of Science e a Scopus (THELWALL, 2018). Além de tudo, publicações, citações, conjuntos de dados e o contexto em torno dessas publicações são todas as peças-chaves de informações quando se trata de compreender as atividades e resultados de pesquisas (DIGITAL SCIENCE, 2021).
Utilizamos as palavras: avaliação AND autoavaliação AND Ensino superior AND aprendizagem autorregulada AND avaliação formativa AND feedback AND feedback formativo em dados completos. Visto que o estudo visa saber quais as tendências apresentadas na literatura internacional, os termos foram pesquisados em inglês, com o uso do operador booleano AND. A quantidade de dados identificados na base de dados Dimensions foi de n=323 (trezentos e vinte e três artigos). Os artigos selecionados para esta revisão possuem como população (P) os discentes; quanto ao conceito (C), feedback e autorregulação da aprendizagem (C), o contexto, restrito a pesquisas realizadas no ao ensino superior.
Todavia, após essa pesquisa na base de dados, foi realizada a seleção dos trabalhos para responder à questão de pesquisa com exatidão, a partir da leitura do título, resumo e palavras-chave, além dos critérios de inclusão e exclusão apresentados na tabela a seguir:
Critérios de inclusão (CI) | Critérios de exclusão (CE) |
---|---|
CI1-Títulos e resumos dos artigos; | CE1- Artigos que abordavam outra modalidade de ensino; |
CI2- Artigos com temáticas sobre Avaliação e Avaliação no Ensino Superior; |
CE2- Artigos do Ensino Fundamental; |
CI3- Artigos sobre feedback e autorregulação da Aprendizagem; |
CE3- Artigos sobre Ensino Médio; |
CI4- Análise dos critérios como Benefícios e Desafios; |
CE4- Artigos de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado; |
CI5- Metodologia e Instrumento; | CE5- Artigos que evidenciavam a avaliação, mas não direcionavam seus estudos para a utilização de feedbacks e aprendizagem autorregulada; |
CI6- Conceitos e autores. | CE6- Artigos duplicados, os de acesso restrito e os que estavam fora do contexto. |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).
Para a seleção, os artigos deveriam abarcar todos os critérios de inclusão e os que foram excluídos estavam enquadrados em algum dos critérios de exclusão. Contudo, restaram 43 (quarenta e três) artigos para leitura completa. A seguir, apresentaremos a análise do estudo realizado e as três categorias de subdivisão, com o intuito de facilitar a compreensão das tendências internacionais sobre a avaliação no Ensino Superior.
ANÁLISE DOS ARTIGOS SELECIONADOS
Após a leitura e aproximação aos dados, os artigos foram subdivididos em três categorias de análise. Cabe salientar que um número significativo de trabalhos selecionados abrange a temática da Avaliação Formativa e a uso de feedbacks para auxiliar e reforçar a autorregulação da aprendizagem. Nos trabalhos qualitativos e quantitativos, foram utilizadas as técnicas de questionários e entrevistas. Em um número menor, encontramos outras técnicas de coleta de dados, tais como observação e grupos focais.
A separação dos quadros foi obtida de forma criteriosa, as quais são denominadas da seguinte forma: Categoria A, refere-se às pesquisas que abordam a Avaliação Formativa; Categoria B, pesquisas que abordam o feedback e a autorregulação da aprendizagem dos alunos; Categoria C, feedback dialógico. Com a finalidade de especificar a análise realizada e o compartimento dos estudos em cada categoria, serão retratados, três quadros-sínteses que desenham a revisão de escopo realizada:
Autores | País | Foco | Justificativa para a inserção nesta categoria |
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Paul B. K., Sarkar S., Nandi S., Alim M. A., Biswas S. |
Bangladesh | A revisão foi conduzida para determinar como a avaliação formativa é usada atualmente no ensino superior para informar a instituição sobre as práticas de prestação de avaliação formativa para os | O artigo conceituou a avaliação formativa e definiu uma gama de práticas de avaliação formativa e modelos disponíveis na literatura educacional. |
K., Rahman M. A. |
alunos. | ||
Diana Pereira, Maria Assunção Flores e Alexandra Barros |
Portugal | Este artigo focaliza a avaliação em ensino superior, especialmente com foco em contrastar os métodos tradicionais e os métodos de avaliação centrados no estudante. | A classificação do artigo nesta categoria justifica-se por evidenciar a prevalência dos estudantes por métodos mais adequados as suas necessidades do que os métodos tradicionais. |
Ana Muñoz- Restrepo |
Colômbia | A avaliação, quando usada para a aprendizagem, pode servir como um guia para análise, discussão e feedback no processo de avaliação. | O artigo enfatiza a necessidade de mudar as crenças sobre a natureza e o papel da avaliação no processo de aprendizagem. |
Susan J. Deeley |
Reino Unido | Baseando-se na literatura e na evidência empírica em um universidade escocesa, são estudadas as vantagens e desvantagens do uso da tecnologia na avaliação. | Ao adotar uma abordagem flexível, o uso de diferentes tipos de tecnologia pode ser benéfico para facilitar a avaliação eficaz para a aprendizagem. |
Ernesto Panadero, Anders Jonsson, Juan Botella. |
Espanha | Esta revisão meta-analítica explora os efeitos da autoavaliação na aprendizagem regulada (SRL) e autoeficácia. |
Ao reforçar a importância da autoavaliação dos alunos, o artigo problematiza uma outra visão acerca da avaliação no ensino superior, sendo relevante para compor esta categoria. |
Joanna Tai, Rola Ajjawi, Dav id Boud, Phillip Dawson e Ernesto Panadero. |
Madri, Reino Unido, Austrália e Austrália |
O desenvolvimento do julgamento avaliativo dos alunos deve ser uma meta do ensino superior, para permitir que os alunos melhorem seus trabalhos e atendam suas futuras necessidades de aprendizagem. | Uma vez que o estudo apresenta um método relacionado à aprendizagem e avaliação no ensino superior foi incluído nesta categoria, por contribuir com tal discussão. |
Ernesto Panadero, Heidi Andrade, Susan Brookhart. |
Barcelona/ Espanha | Apresenta e discute publicações fundamentais que informam as compreensões atuais acerca da relação entre Avaliação Formativa e aprendizagem autorregulada. | Propõe um roteiro do desenvolvimento do campo e direções para o futuro das pesquisas nessa área, sendo um material produtivo para pensar o campo avaliativo. |
Helen Mc Lean |
Austrália | Avaliação e aprendizagem são reconceituadas como um sistema integrado e um processo dialógico. | Este estudo contribui para a compreensão da avaliação, oferecendo sua reconceituação como um sistema integrado e todo dialógico. |
Birgit Schütze, Elmar Souvignier, Marcus Hasselhorn |
Hasselhorn, Marcus (Instituto Alemão de Pesquisa Educacional Internacional) |
Descreve o estado atual da pesquisa sobre avaliação formativa, caracterizando a estrutura, apresentando resultados sobre sua eficácia e abordando os desenvolvimentos associados à sua implementação. | Por abordar a avaliação formativa na atualidade, é importante para esta categoria. |
Zeng, Wenjie; Huang, Fuquan; Yu, Lu; Chen, Siyu |
China | O artigo estuda a avaliação orientada para a aprendizagem (LOA), um conceito cunhado por Carless. | Em razão de explorar uma proposta diferenciada de avaliação (LOA), o artigo classificase nesta categoria. |
Liesbeth K. J. Baartman e Frans J. Prins |
Holanda | Explora como designers, professores e alunos experimentam a construção de significados nos critérios de avaliação. |
Ao abordar algumas facilidades e desafios desta estratégia avaliativa no ensino superior, o estudo insere-se nesta categoria por contribuir com tais discussões. |
Katrin Rakoczy, Petra |
Alemanha | Intervenção de avaliação formativa para o ensino, investigando se teria | Tal proposta enquadrouse nesta categoria ao analisar as |
Pinger, Hochweber, Eckhard Klieme, Birgit Schütz, Michael Besser. |
efeitos sobre o interesse e desempenho dos alunos. |
potencialidades da avaliação formativa na motivação dos alunos e sua autoeficácia. | |
Bayrak, Fatma; Yurdugül, Halil |
Turquia |
Examinou a relação entre a consciência metacognitiva dos alunos e suas percepções de auto intervenção e criação de um perfil de aluno com base nesta informação. | A autoavaliação é uma temática essencial no contexto do ensino superior, e por isso, tal artigo contempla esta categoria. |
Eachempati Prashanti e Komattil Ramnaraya n. |
Índia | Nesse artigo, apresentamse 10 máximas que mostram maneiras que as avaliações formativas podem ser mais bem compreendidas, apreciadas e implementadas. | Tal revisão de literatura classifica-se nesta categoria, ao discutir a respeito da avaliação no ensino superior, expondo as 10 máximas neste sentido. |
J. David Cabedo e Amparo MasetLlaudes |
Espanha |
Este estudo apresenta uma autoavaliação formativa no programa que foi implementado, tendo resultados positivos na aprendizagem. |
Esta experiência no referido Programa representa um artigo importante para esta categoria. |
Heidi L. Andrade |
NY, Estados Unidos | A revisão de 76 estudos empíricos oferece uma perspectiva crítica sobre a relação entre autoavaliação e as percepções dos alunos sobre a autoavaliação e a | Autoavaliação, avaliação formativa, avaliação em sala de aula, autoavaliação, aprendizagem autorregulada (SRL) são aspectos analisados. |
associação entre autoavaliação e aprendizagem autorregulada. | |||
Naomi E. Winstone a e David Boud |
Reino Unido |
Nesse artigo, é apresentado um exame crítico das questões criadas pelo emaranhado entre avaliação e feedback. | Diferenciar esses conceitos é essencial para garantir sua efetividade no ensino superior, evitando usos inadequados dos mesmos. |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).
Evidenciamos os dezenove artigos selecionados nessa categoria, pois eles trazem reflexões gerais a respeito da avaliação formativa e não utilizam especificamente o feedback. Ressaltando a importância da avaliação no Ensino Superior, notamos variedades de países que realizam estudos na temática. Compreendemos que a avaliação formativa não tem caráter classificatório, não se detém somente na nota final do processo e sim possui um papel de acompanhar a trajetória do ensino e da aprendizagem. Os artigos da categoria A possuem uma mescla de estudos referentes à avaliação formativa, inclusive citamos o artigo denominado Dez máximas da avaliação formativa (PRASHANT; RAMNARAYAN, 2019), que auxilia na compreensão da temática e reflete que a avaliação formativa é construída diariamente, a partir de passos amigáveis.
Parte-se do embasamento de que as considerações a respeito da avaliação no ensino superior são melhoradas e estudadas à proporção que conversam e analisam como fazer, por que fazer e quais são as implicações das metodologias adotadas para execução e sucesso acadêmico dos estudantes, de modo a auxiliar na permanência e finalização da formação acadêmica (TINTO, 2012). A avaliação formativa pode ser mensurada como uma avaliação colaborativa, a qual docentes e discentes alinham seus pensamentos e andam igualmente com objetivos e responsabilidades de compartilhar ensinamentos através de diálogos contínuos. Cabe salientar, que as tabelas foram organizadas para facilitar a visão sobre a escolha dos trabalhos e está subdividida em autores, país, foco e justificativa. No Quadro 2, apresentamos as pesquisas classificadas na Categoria B:
Autores | País | Foco | Justificativa para a inserção nesta categoria |
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Yueting Xu e David Carless | China | O construto trata do letramento em feedback do professor, o qual precisa se tornar parte de programas de formação de professores. | O estudo aborda o letramento em feedback do professor, dialogando acerca de sua importância para a avaliação no ensino superior. |
Gavin TL Brown, Elizabeth R. Peterson e Esther S. Yao |
Nova Zelândia |
Concepções de feedback dos alunos (SCoF), aprendizagem autorregulada (SRL), autoeficácia acadêmica (ASE) e média de notas (GPA) tiveram o foco deste estudo. | O modelo indica a centralidade de acreditar que o feedback existe para orientar os próximos passos na aprendizagem. |
Georgeta Ion, Elena CanoGarcía, Maite FernándezFerrer. |
Espanha | Este artigo tem como objetivo analisar o feedback fornecido pelos docentes (com ênfase no feedback escrito), a fim de valorizar a autorregulação da aprendizagem. | O protagonismo dos tutores deve passar para os alunos a busca de um feedback mais dialógico, em que cada estudante se torne o juíz de seu próprio processo de aprendizagem. |
Ricky Lam | China | Revisão sobre o feedback na visão de diferentes pesquisas científicas recentemente publicadas. | Os caminhos apontados para a realização de um feedback sustentável e de qualidade são pertinentes para esta categoria de análise. |
Wei Wei e Yanmei Xie. |
China |
Este estudo investigou as mudanças nas práticas de feedback dos professores de uma universidade de elite na China. | Ao investigar o feedback na perspectiva do desempenho dos alunos, o artigo classifica-se nesta categoria. |
David Carless e David Boud. |
Austrália |
Neste artigo conceitual, as respostas dos alunos ao feedback são revisadas e uma série de barreiras para a compreensão dos alunos sobre o feedback são discutidas. | Professores são identificados desempenhando papéis facilitadores importantes na promoção do letramento em feedback do aluno. |
Christine Ossenberg, Amanda Henderson, Marion Mitchell. |
Austrália | Uma revisão do escopo seguindo a metodologia de Arksey e O'Malley foi conduzida, onde elementos de feedback foram extraídos das publicações incluídas e categorizados em 11 atributos principais. | Esta revisão de escopo apresenta material atual para analisar os referidos elementos que compõem o feedback. |
Georgeta Ion, Angelina Sánchez Martí e Ingrid Agud Morell. |
Espanha | Este estudo visa analisar os benefícios que dar e receber feedback têm para o desenvolvimento cognitivo e metacognitivo dos alunos. | Uma descoberta importante deste estudo foi o papel dos alunos na sua própria aprendizagem. Nesse sentido, este artigo se classifica nesta categoria sobre feedback. |
Laura M. Dooley e Nicholas J. Bamford |
Austrália |
Fornece uma visão geral das evidências atuais sobre o feedback dos pares sobre as atividades de aprendizagem colaborativa no ensino superior. | O feedback formativo de pares pode fornecer uma oportunidade o desenvolvimento de competências essenciais e, diante disso, o artigo foi selecionado na presente categoria. |
Marisa E. Crisostomo e Rahul S. Chauhan |
Texas, EUA | Este artigo apresenta uma breve revisão das melhores práticas para a construção de feedback do aluno e considera os problemas que os docentes enfrentam ao fornecer esse feedback. | Esta abordagem individualizada do feedback consiste numa pesquisa bastante importante para explorar as possibilidades do feedback, representando uma razão para fazer parte desta categoria. |
Jennifer Hill e Harry West. |
Reino Unido |
Explora as percepções dos alunos sobre a abordagem dialógica de feedforward e se houve melhora no desempenho e aumento da satisfação dos estudantes. | Este estudo apresenta resultados inovadores sobre o feedback e o feedforward (orientado ao futuro), sendo atual e tecendo contribuições para este estudo e para pesquisas futuras. |
Whitney J. Bevan |
Austrália |
A pesquisa apresenta um estudo de caso universitário, que explora opiniões de feedback | Os resultados elevados iluminam a complexidade associada ao feedback dos alunos, a diversidade das percepções dos alunos sobre o |
fornecido aos alunos do ambiente construído (BE). |
feedback e uma gama de preferências dos alunos ocorrências associadas ao feedback fornecido. | ||
Catherine Paterson, Nathan Paterson, William Jackson e Fiona |
Austrália | Esta revisão sistemática tem como objetivo identificar nos alunos necessidades e preferências de feedback acadêmico no ensino superior. |
Esta revisão informou várias implicações importantes para a prática exclusivamente na perspectiva dos alunos. Os educadores são incentivados a implementar o método baseado em evidências de feedback dos alunos em sua prática diária. |
Bas T. Agricola, Frans J. Prins e Dominique M. A. Sluijsmans. |
Holanda |
Neste estudo, um experimento fatorial 2 × 2 (N = 128) foi conduzido para examinar os efeitos de uma solicitação de feedback formulário (com versus sem) e modo de feedback (escrito vs. comentários verbais). | Os resultados mostraram que o feedback verbal teve uma significativa maior impacto na percepção de feedback dos alunos do que feedback escrito. |
Shutao Wang e Demei Zhang |
China |
O objetivo deste estudo foi determinar o efeito mediador da aprendizagem na relação entre o feedback do professor percebido e o desempenho acadêmico de estudantes universitários. | Os resultados indicaram que o feedback do professor percebido teve um impacto positivo no engajamento de aprendizagem dos alunos. |
Anne Malar Selvaraj, Hazita Azman |
Malásia |
Discute revisões escritas por professores e obstáculos ao feedback, a fim de reconhecer a utilidade do feedback no domínio da educação. | Feedback adequado ajuda os alunos a aprenderem como cumprir seus objetivos de aprendizagem. |
Cecilia Ka Yuk Chan e Jiahui Luo |
China | Neste estudo, dez oficinas de formação de professores foram realizadas com a intenção de aprimorar a competência dos professores em avaliação e feedback. | Assim, o estudo atentou para a importância de os professores reconhecerem as práticas avaliativas como possibilidades de autorregulação da aprendizagem. |
Intisar Mohamed El-Sayed |
Arábia Saudita (*o artigo está escrito em árabe) |
Aborda a eficácia do uso do ciclo de feedback formativo para o desenvolvimento da compreensão profunda e as habilidades de autorregulação. | A pesquisa constatou a eficácia do ciclo de feedback formativo que acompanha a perspectiva da avaliação para a aprendizagem. |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).
Os dezoito trabalhos apresentados no Quadro 2, que compõem a Categoria B, trazem uma importante contribuição para qualificação da perspectiva da avaliação formativa. Entendemos que nessa forma de avaliação o docente planeja as atividades definindo os objetivos de cada proposta e seleciona os melhores instrumentos educativos, possibilitando um feedback construtivo para os discentes, bem como, preparando o indivíduo que frequenta o ensino superior para fazer sua autoavaliação.
Observamos que autoavaliação deve ser utilizada como estratégia instrucional, cujo objetivo final é orientar os discentes para que aprendam a se avaliar, compreendendo que a aprendizagem repercute em sua autorregulação (PANADERO; ALONSO-TAPIA, 2017). Ou seja, usar a autoavaliação não é exclusivamente uma decisão pedagógica sem enormes repercussões. Inclusive, os docentes devem ter consciência de todos esses processos, buscando maneiras de fazer com que os discentes se sintam instigados a avaliar seus próprios desempenhos, melhor dizendo, passem a desenvolver uma série de processos metacognitivos como planejamento, monitoramento e avaliação (WINNE; HADWIN, 1998).
Dessa forma, os dois conseguem regular a aprendizagem. O docente acompanha e dialoga (verbal ou escrita) com os discentes para verificar a melhor maneira de qualificar o ensino. A literatura internacional apresenta uma variedade de investigações que utilizam o feedback como meio de acompanhamento da aprendizagem e autorregulação. Através dessa análise, evidenciamos que o feedback do docente tem um impacto positivo no engajamento da aprendizagem dos discentes, inclusive uma mentoria adequada possibilita que os discentes aprendam como cumprir seus objetivos de aprendizagem, tornando-se responsáveis pela sua evolução. No Quadro 3, apresentamos as pesquisas classificadas na Categoria C:
Autores | País | Foco | Justificativa para a inserção nesta categoria |
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Kimberly Baker |
USA | Este estudo enfoca o momento da revisão por pares, um formulário de feedback altamente estruturado e as revisões dos escritos dos alunos após se envolverem na revisão por pares. | O artigo classifica-se nesta categoria por promover uma discussão pertinente acerca do feedback e da revisão por pares. |
Stan van Ginkel, Judith Gulikers, Harm Biemans e Martin Mulder |
Holanda | Este estudo examina os processos de feedback conduzidos diretamente após 95 apresentações dos alunos nas seguintes condições: feedback do professor, feedback dos colegas, feedback dos pares guiados pelo tutor. | A condição de feedback do professor teve pontuação nos critérios de qualidade significativamente mais alta do que feedback dos pares com orientação do tutor e sem orientação. |
Bart Huisman, Nadira Saab, Paul van den Broek e Jan van Driel. |
Austrália |
O estudo faz uma metaanálise que sintetiza a pesquisa empírica quantitativa disponível sobre o impacto de feedback dos pares sobre o desempenho da redação acadêmica de alunos do ensino superior. |
O feedback dos colegas resultou em melhoria da escrita dos alunos, sendo tal estudo um material atual para analisar o feedback dos pares. |
James W. Gaynor |
Reino Unido |
A pesquisa investiga a qualidade do feedback dos pares, a importância da avaliação e as percepções dos alunos sobre o que é mais útil. | Em razão do feedback por pares consistir em uma estratégia de feedback dialógico, tal trabalho classifica-se na presente categoria. |
Angela Choi Fung Tam |
China |
Entrevistas semiestruturadas, observações em sala de aula e diários reflexivos foram usados para coletar dados. Alunos relataram benefícios e desafios da discussão baseada em exemplares, que depende muito da qualidade do feedback dialógico. | Reconceitualização de feedback dialógico e pedagógico são temáticas abordadas neste artigo e inserem-se no âmbito desta categoria. |
Gabrielle Hansen |
Noruega |
O estudo explora o valor do diálogo como meio de facilitar o alinhamento entre a compreensão do professor e do aluno de um processo formativo de avaliação. | Em virtude da ênfase neste viés dialógico de avaliação, este artigo se justifica por inserir-se nesta categoria. |
James Wood |
Coreia do Sul |
Este artigo conceitual baseia-se em uma síntese da captação de feedback existente, a partir da coregulação do processo em ambientes digitais | Este estudo é importante para analisar as potencialidades de um modelo dialógico de feedback potencializado pelas tecnologias. |
Charlie Smith |
Reino Unido |
O estudo fornece uma visão sobre as percepções dos alunos a respeito da utilidade de diversos métodos de feedback, com atenção às abordagens dialógicas. | O artigo traz um modelo que contém: o ambiente do feedback, o discurso do feedback e o conteúdo da mensagem. |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).
Os oito trabalhos agrupados na categoria C são sobre feedbacks dialógico (entre pares e entre docentes e discentes), pesquisas sobre diálogos de acompanhamento possibilitam a autorregulação da aprendizagem. Alunos que realizaram essa modalidade de avaliação formativa relataram benefícios e desafios da discussão baseada na qualidade do feedback dialógico. Outra análise é o impacto do feedback entre pares, que melhora a escrita dos alunos. Também, destacamos nos artigos dessa categoria a valorização do diálogo como meio de facilitar o alinhamento entre a compreensão do docente e do discente de um processo formativo de avaliação.
No mesmo sentido, Luckesi (2011, p. 263) afirma que “[...] a eficiência na aprendizagem não depende só do aprendiz, mas, em simultâneo, do ensinante e do sistema”. Cabe ao docente também ter empatia, ser um bom observador e um comunicador competente, dessa forma a aprendizagem torna-se positiva (DULFER; KOOPAEI, 2021).
REFLEXÕES FINAIS
Resgatamos a pergunta inicial: quais tendências têm sido apresentadas na literatura internacional recente a respeito de feedback e autorregulação da aprendizagem no âmbito das pesquisas sobre avaliação no Ensino Superior? Verificamos uma grande variedade de estudos na literatura internacional sobre a temática de feedback, autorregularão e avaliação no ensino superior. Destacamos a avaliação formativa como meio acompanhar o estado da aprendizagem, visando a utilização de feedbacks formativos e dialógicos. Nos artigos, verificamos um leque de métodos para proporcionar comentários, sejam entre pares ou dos docentes para seus discentes, incluindo, em em alguns casos, o auxílio de softwares específicos que auxiliam nesta finalidade.
Observamos, também, que a autorregulação está interligada à autoavaliação e torna-se uma das principais metas da avaliação formativa. Quando o discente consegue analisar seu aprendizado, com estratégias metacognitivas, compreenderá como são realizados os processos de internalização dos seus pensamentos, tendo consciência das competências e de suas dificuldades. Com a autoavaliação, também passa a obter mais autonomia, sendo protagonista do estudo, compartilhando experiências e responsabilidades com os docentes. Consideramos, inclusive, que a avaliação formativa é indissociável do feedback, e que, para ser eficaz, ele precisa ser positivo e estimulador para a realização das tarefas.
Além disso, artigos que abordam tendências de prática de feedback de qualidade, que resultam no maior impacto para o sucesso dos indivíduos no ensino superior. Realçam que o feedback deve ser positivo, específico, oportuno e encorajar o acadêmico para o engajamento ativo (HAUGHNEY; WAKEMAN, HART, 2020). Desse modo, destaca-se que as mudanças em avaliação são indispensáveis de serem realizadas, tendo claro que o caminho é mais importante que o resultado (IRALA; MENA, 2021). Nesse sentido, é importante mencionar a necessidade de contemplar na formação do docente do Ensino Superior uma gama de conhecimentos específicos relacionados ao letramento em avaliação e ao letramento em feedback, como forma de qualificar as práticas de ensino e a compreensão dos processos de aprendizagem dos discentes.
Temos potencial de reiterar, como conclusão dessa revisão de escopo, efetuada com artigos recentes da literatura internacional dos anos de 2016 a 2021, que seria interessante pesquisas crescentes sobre feedforward (que pode ser traduzido como proalimentação), para dar continuidade ao ciclo total do feedback. Relatamos muitos artigos que associam o feedback como método que converge para o desempenho atual do aluno. No entanto, o feedforward possibilita uma prévia de ações subsequentes, orientadas ao futuro, realizadas em prol de sucessivas melhorias subsequentes.
Por fim, é possível observar que as principais tendências da literatura internacional a respeito da avaliação no ensino superior estão articuladas entre avaliação formativa, autorregulação da aprendizagem e feedback (especialmente o dialógico). Na avaliação formativa, as atividades e os objetivos guiam os feedbacks construtivos, além da existência da prática da autoavaliação.