Análise das ementas da disciplina de Psicologia da educação nos cursos de Pedagogia das universidades públicas do estado do Paraná

Ao identificar as sete (07) Universidades Públicas Estaduais do Paraná que ofertam o curso de Pedagogia, realizou-se uma busca pelas ementas referentes ao ensino de Psicologia, especificadamente da disciplina de Psicologia da Educação. A descrição das ementas relacionadas ao ensino de Psicologia da Educação das universidades pesquisadas encontra-se a seguir.

No Quadro 3, nota-se que 85% das universidades pesquisadas apresentam a disciplina de Psicologia da Educação nos ementários de Pedagogia, sendo observada tal nominação em 93% dos cursos.

Destaca-se que há instituições que distribuem o conteúdo de Psicologia durante os quatro anos de curso; outras o concentram nos 1° e 2° anos ou nos 3° e 4° anos.

Quanto à carga horária, observa-se que:

Fonte: Organizado pelas autoras.

Gráfico 1 Carga horária total por curso 

Segundo ^{Tonus e Rodrigues (2009}), a maioria dos cursos de formação de professores possibilita o ensino de Psicologia voltado à Educação por meio da disciplina nominada como Psicologia da Educação.

Todavia, observou-se que as disciplinas que trabalham os conteúdos psicológicos, que pertencem aos fundamentos específicos das Ciências Educacionais, podem apresentar outras nomenclaturas, a depender do conteúdo principal a ser abordado:

Fonte: As autoras.

Gráfico 2 Nomenclatura das disciplinas de Psicologia 

Na Universidade 01, o ensino de Psicologia ocorre nos 2° e 3° anos, totalizando 180 horas, por meio da disciplina “Psicologia do Desenvolvimento B”, a qual aborda as teorias do desenvolvimento humano e suas interfaces com a educação, de tal modo que a relevância social das questões contemporâneas possa ser discutida. Além disso, apresenta as seguintes abordagens: Comportamentalistas/ a Teoria da Aprendizagem Social; a Aprendizagem Significativa, Teoria do Processamento da Informação; Inteligência e Aprendizagem.

Na Universidade 02 são dois campi com aulas presencias e/ou semipresenciais, nos quais a Psicologia é ensinada por meio de cinco disciplinas, totalizando 272 horas. Há, ainda, a modalidade EAD (Educação à Distância) com duas disciplinas, totalizando 136 horas. É perceptível a maior concentração de conteúdos no ensino presencial e/ou semipresencial, devido à distribuição das disciplinas por temáticas teóricas, enquanto na EAD, tais abordagens são apresentadas de um modo generalista.

Na Universidade 03, dois campi que apresentam disciplinas, com diferenças nominais e de carga horária. Assim, no primeiro campus, o ensino de Psicologia ocorre em duas disciplinas que totalizam 180 horas, e no segundo campus, são 216 horas distribuídas em duas disciplinas.

Na Universidade 04, o ensino de Psicologia é realizado uniformemente durante os quatro anos, em quatro disciplinas, totalizando 272 horas. É notório o delineamento das teorias psicológicas, de suas relações e influências na área educacional por meio dos conteúdos presentes na ementa.

Na Universidade 05, dois campi ofertam o curso de Pedagogia, sendo que no primeiro, o ensino de Psicologia da Educação é realizado em 120 horas, por meio de duas disciplinas. Já no segundo campus, são duas disciplinas totalizando 216 horas, evidenciando, também, diferença de conteúdo de um campus para o outro.

Na Universidade 06 são 204 horas de ensino de Psicologia, sendo duas disciplinas que abordam a análise histórica da relação entre Psicologia e Educação. Além disso, apresentam as teorias psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento.

Na Universidade 07 são três campi que ofertam o curso de Pedagogia. No primeiro, são 210 horas de ensino de Psicologia, por meio de duas disciplinas. No segundo, são três disciplinas que totalizam 204 horas. E no terceiro, são três disciplinas sobre o ensino de Psicologia com um total de 204 horas. Vale salientar que não há homogeneidade em relação à grade curricular e aos conteúdos trabalhados.

Analisando as ementas, compreende-se que não há uma padronização quanto à denominação das disciplinas e à carga horária, bem como dos conteúdos referentes ao ensino de Psicologia da Educação, seja nos campi ou entre uma universidade e outra.

No que diz respeito às principais correntes teóricas da psicologia relacionadas à Psicologia da Educação, identificou-se a seguinte configuração:

Fonte: As autoras.

Gráfico 3 Principais teorias abordadas nas ementas 

De modo geral, na disciplina inicial são apresentados os conceitos e a evolução da Psicologia da Educação. Posteriormente, a maioria dissemina as principais teorias psicológicas de aprendizagem e desenvolvimento, bem como discorre sobre as contribuições para o contexto escolar. As teorias encontradas nos ementários convergem com os dizeres de ^{Sala e Goñi (2000}), os quais argumentam que as explicações teóricas sobre a aprendizagem escolar mais relevantes são:

[...] teoria da aprendizagem verbal significativa; as teorias cognitivas da aprendizagem baseadas na psicologia do processamento da informação; a teoria genética da aprendizagem; e a teoria sociocultural da aprendizagem e do ensino (^{SALA; GOÑI, 2000}, p. 111).

^{Carrara (2004}) complementa essa lista com o “Behaviorismo” (p. 109), a Psicanálise (p. 13) e a “Psicologia de Henri Wallon” (p. 47), também contempladas nas ementas analisadas. Além das teorias apresentadas, outros temas se fizeram presentes nos cursos: os temas adolescência, drogas, escolha profissional, fracasso escolar, medicalização, neuropsicologia, desenvolvimento neuropsicomotor e promoção de saúde integral estiveram, cada um, presentes em 3% das propostas; os temas bullying, família e desenvolvimento social foram apresentados em 6% das ementas e a motivação, personalidade, psicopatologias e sexualidade foram mencionadas em 8% das ementas. Já o desenvolvimento afetivo/emocional foi mencionado em 11% das ementas, enquanto o desenvolvimento cognitivo esteve presente em 17% das propostas.

O ensino de Psicologia da Educação, portanto, está presente no currículo dos futuros professores pedagogos como disciplina obrigatória de fundamentos. Isto se deve à necessidade de entendimento do processo de aprendizagem e de desenvolvimento do ser humano, uma vez que é o professor quem ensina. Todavia, não há uma organização quanto ao currículo da referida disciplina entre as ementas de campi que pertencem a uma mesma universidade. Pois, por mais que apresentem a introdução dos conceitos, bem como as teorias psicológicas de aprendizagem e de desenvolvimento, é possível identificar diferentes abordagens psicológicas trabalhadas nos campi. Contudo, a questão não é padronizar o currículo referente ao ensino de Psicologia, mas assegurar que os futuros professores pedagogos, de diferentes universidades, possam ter acesso às diversas correntes teóricas da Psicologia. Por outro lado, faz-se preciso que tais professores, por receberem uma formação generalista, não se apropriem equivocadamente dos conhecimentos psicológicos abordados nos cursos de Pedagogia.

A percepção das acadêmicas sobre o ensino de Psicologia em Pedagogia

É inegável a importância do ensino de Psicologia para a formação do professor pedagogo. E, ainda que haja pluralidade teórica, esta não exclui a possibilidade de priorizar os fundamentos que podem instrumentalizar a prática docente (^{GUERRA, 2003}). Tal fato pôde ser evidenciado por meio da análise dos pressupostos teóricos que compõem as ementas da disciplina de Psicologia da Educação nos cursos de Pedagogia nas universidades públicas paranaenses.

Para ^{Larocca (2002}), a contribuição desta ciência à prática educativa perpassa pelas diferentes abordagens psicológicas, bem como pelo diálogo teórico desse campo de conhecimento com a prática docente. Em que pese, em uma entrevista, Ana Mercês Bahia ^{Bock (2010}) ressalta que uma profissão requer tanto a apropriação do saber quanto um posicionamento crítico frente à visão de mundo, homem e sociedade que se deseja formar.

Ainda, dando continuidade à análise da disciplina de Psicologia da Educação, fez-se necessário captar as percepções de acadêmicas do curso de Pedagogia de uma das universidades pesquisadas, situada no norte do estado do Paraná, a respeito da referida disciplina e dos conteúdos abordados.

Após a leitura e a interpretação das respostas coletadas por meio do questionário, algumas expressões de análise foram organizadas de acordo com a categoria, unidades e subunidades, já expostas na Figura 1.

A seguir, apresenta-se a categoria, as unidades e as subunidades elencadas, com excertos das respostas mais significativas.

Quanto à U1 - Importância da disciplina, todas as acadêmicas participantes (100%) afirmaram o quão importante é a disciplina de Psicologia da Educação para a formação do professor pedagogo, uma vez que o ensino de Psicologia possibilita o conhecimento de diferentes abordagens psicológicas, de modo a contribuir com a compreensão dos fenômenos educativos.

Nesse sentido, as acadêmicas corroboram com o pensamento de ^{Libâneo (2004}, p. 157), segundo o qual a Psicologia da Educação possui a incumbência “[...] de fornecer ao professor princípios do comportamento humano, especialmente os relacionados com a aprendizagem escolar [...]”, de modo que possa transformar os métodos em situações pedagógicas concretas.

A importância, portanto, está no fato de proporcionar o ensinamento quanto às formas de compreender as especificidades de aprendizagem e do desenvolvimento, para melhor atuar em sala de aula, de modo a atender as necessidades dos estudantes. Uma vez que a natureza aplicada da disciplina de Psicologia da Educação, possui como objeto de estudo os fenômenos e processos educacionais, de modo a possibilitar a compreensão destes por meio de uma teoria (^{SALVADOR, 2004}).

No que tange à U2 - Relação Psicologia e Tendência Pedagógica, ressaltamos que apenas uma acadêmica participante revelou que as teorias psicológicas não foram relacionadas às tendências pedagógicas. De acordo com ^{Almeida (2000}, p. 105), “[...] a falta de integração da Psicologia com as demais disciplinas pedagógicas e específicas [...]”, torna-se um obstáculo para a formação de professores.

Por outro lado, 12 participantes (85,7%) se recordam de estudar, em outras disciplinas, o conteúdo referente às teorias psicológicas, bem como as tendências pedagógicas. Porém, não explanam sobre essa relação, uma vez que só mencionam que algumas disciplinas retomam determinados conteúdos psicológicos e/ou pedagógicos. E A14 enfatiza que:

[...] tais relações foram trabalhadas, porém com pouco aprofundamento, muito se discute no curso acerca das teorias de Piaget e Vygotsky, porém as demais são deixadas de lado, as tendências psicológicas resumem-se as que tratam sobre a educação como a tendência ambientalista, construtivista, empirista e behaviorista (A14, Q4).

De fato, a Psicologia desenvolve estudos e pesquisas relacionados a inúmeros assuntos, tais como: aprendizagem, linguagem, raciocínio, memória, percepção e pensamento (^{CARRAHER, 1997}), os quais são relevantes para a Educação. Porém, os “professores não se apropriam devidamente das teorias apresentadas em tal disciplina, teorias que deveriam subsidiar o trabalho educativo” (^{TONUS; RODRIGUES, 2009}, p. 161), isto pelo fato das teorias serem apresentadas superficialmente ou pela ausência de articulação com a prática docente.

Em relação à SC1 - Conteúdos, no tocante à U3 - Abordados, as participantes comentaram sobre os conteúdos elencados na ementa das disciplinas cursadas, como por exemplo: as principais teorias do desenvolvimento humano, bem como o desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo e emocional e processos de aprendizagem. Além da identificação dos problemas e possíveis encaminhamentos, a saber:

Gráfico 4 Conteúdos abordados 

No que diz respeito à U4 - Não abordados, ^{Almeida (2000}, p. 105), argumenta que “[...] normalmente a carga horária destinada à Psicologia da Educação é muito pequena, e traz questionamento sobre o que priorizar [...]”. Tal fato é confirmado neste excerto: “[...] não foi suficiente o tempo pois o conteúdo é muito extenso” (A9, Q4). Evidenciamos, portanto, que a carga horária de 180 horas, distribuídas em duas disciplinas ao longo de dois anos é insuficiente. Por isso, pode ser que alguns conteúdos sejam trabalhados superficialmente. O esvaziamento de conteúdo nas graduações e as capacitações precárias são o reflexo da desvalorização do conhecimento científico por nossa sociedade (^{LEONARDO; SILVA, 2013}). Isto reflete tanto na formação do professor pedagogo quanto na qualidade da educação brasileira.

É válido mencionar que os conteúdos referentes à Educação Especial e aos transtornos e/ou dificuldades de aprendizagem, em virtude da amplitude de conceitos, políticas públicas e conhecimento no que concerne à pessoa com deficiência, sejam abordados com maior enfoque nas especializações. Ressaltamos, porém, que devido à crescente demanda social, como a inclusão e os novos padrões familiares, tais temáticas devem fundamentar a formação do professor pedagogo.

Quanto à U5 - Necessitam de aprofundamento, a partir das respostas analisadas, tem-se:

Gráfico 5 Conteúdos que necessitam de aprofundamento 

Com isso, entende-se que as acadêmicas reconhecem a contribuição dos conhecimentos psicológicos para a sua atuação docente, pois sentem falta de mais conhecimentos que possam subsidiar suas ações no processo de ensino e de aprendizagem de seus estudantes. ^{Gatti (1995}, p. 16), salienta a necessidade de “[...] construir as pontes entre os modelos explicativos e o concreto vivido”, pois os cursos de formação não devem continuar ensinando a Psicologia de modo abstrato, sem relacioná-la à realidade escolar.

Segundo ^{Guerra (2000}, p. 88), “apesar das críticas em relação às implicações da Psicologia como área de conhecimento na Educação e das sérias dificuldades de implementações das contribuições que deveriam chegar à formação de professores através da disciplina Psicologia da Educação [...]”, as pesquisas revelam a indispensabilidade dos conhecimentos psicológicos ao processo educativo.

Assim, corrobora-se com este apontamento, visto que a partir do movimento de análise das percepções das acadêmicas de Pedagogia, compreende-se que estas reconhecem as contribuições da disciplina de Psicologia da Educação para a sua formação, tendo em vista a sua atuação profissional. Entretanto, salientam a necessidade de um maior aprofundamento das correntes teóricas psicológicas atreladas à Educação, com o intuito de atender a infinidade de situações que ocorrem no dia a dia em sala de aula. Pois, diante da singularidade de cada ser humano, há inúmeras estratégias que podem ser utilizadas para mobilizar o estudante a ampliar e desenvolver os seus conhecimentos.