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Ensino em Re-Vista

versão On-line ISSN 1983-1730

Ensino em Re-Vista vol.28  Uberlândia  2021  Epub 29-Jun-2023

https://doi.org/10.14393/er-v28a2021-28 

Dossiê 2 - História da educação matemática

Uma história de Formação de Professores no Paraná: a Universidade Volante

Una historia de Formación de Profesores en Paraná: la Universidad Volante

1Doutor em Educação Matemática. Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná-PR, Brasil. E-mail: rolkouski@uol.com.br.

2Doutor em Educação. Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná-PR, Brasil. E-mail: carlos_r2v@yahoo.com.br.

3Mestra em Educação em Ciências e em Matemática. Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná-PR, Brasil. E-mail: lauraamoreira@gmail.com.


RESUMO

Este artigo apresenta os cursos de formação de professores ofertados pelo projeto da Universidade Federal do Paraná, Universidade Volante, na década de 1960. A história é contada a partir de fontes documentais e de fontes orais criadas para essa investigação sobre uma parte da História da Educação no Paraná. Foram consultados os anuários da Universidade Federal do Paraná, promotora da Universidade Volante, que forneceram dados quantitativos. As fontes orais contribuíram com aspectos qualitativos e foram criadas a partir de entrevistas com duas educadoras que participaram do projeto, uma como formadora e outra como aluna. As entrevistas foram realizadas seguindo procedimentos teórico-metodológicos da História Oral, que são apresentados no artigo. A investigação revelou como se mobilizavam os professores do interior do Paraná, na década de 1960, em busca de formação profissional em um cenário que revela uma faceta da história da formação de professores e da educação matemática no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: História da Educação; Formação de Professores; História Oral; História da Educação Matemática no Paraná

RESUMEN

Este artículo presenta los cursos de formación de profesores ofrecidos por el proyecto de la Universidad Federal de Paraná, Universidad Volante, en la década de 1960. La historia es contada a partir de fuentes documentales y de fuentes orales creadas para esta investigación sobre una parte de la Historia de la Educación en Paraná. Fueron consultados los anuarios de la Universidad Federal de Paraná, promotora de la Universidad Volante, que proveyó datos cuantitativos. Las fuentes orales contribuyeron con aspectos cualitativos y fueron creadas a partir de entrevistas con dos profesoras que participaron del proyecto, una como formadora y otra como alumna. Las entrevistas fueron realizadas siguiendo los procedimientos teórico-metodológicos de la Historia Oral, que son presentados en el artículo. La investigación reveló cómo se movilizaban los profesores del interior de Paraná, en la década de 1960, en la búsqueda de formación profesional en un escenario que revela una faceta de la historia de la formación de profesores y de la educación matemática en Brasil.

PALABRAS CLAVE: Historia de la Educación Matemática; Formación de Profesores; Historia Oral; Historia de la Educación Matemática en Paraná

ABSTRACT

This article presents the teacher education courses offered by the project of the Federal University of Paraná, Volante University, in the 1960s. The story is told from documentary sources and from oral sources created for this research on a part of the History of Education in Paraná. The yearbooks of the Federal University of Parana, promoter of the Volante University, were consulted, which provided quantitative data. The oral sources contributed qualitative aspects and were created from interviews with two educators who participated in the project, one as a trainer and the other as a student. The interviews were conducted following theoretical and methodological procedures of Oral History, which are presented in the article. The investigation revealed how teachers from the interior of Paraná, in the 1960s, were mobilized in search of professional training in a scenario that reveals a facet of the history of teacher education and mathematics education in Brazil.

KEY WORDS: History of Mathematics Education; Teacher Education; Oral History; History of Mathematics Education in Paraná

Introdução

A Universidade Volante foi um projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com a colaboração do governo do Estado do Paraná e municípios, na década de 1960. Esse projeto realizava ações em cidades polo do Estado, que abrangiam desde cursos de capacitação4 de professores até a realização de palestras e concertos da orquestra sinfônica da Universidade.

Dentre os cursos oferecidos pela Universidade Volante estavam os destinados à formação de professores que buscavam socializar os assuntos que eram discutidos nas aulas da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da UFPR. É reconhecido por Pinto (2013) que a Universidade Volante era um projeto arrojado que previa sanar a carência de professores para a escola secundária no estado, pois a maioria dos professores do Ginásio5 e do Colégio6 eram profissionais de outras áreas do conhecimento e/ou não licenciados.

Neste artigo, apresentaremos algumas compreensões sobre tais cursos, valendo-nos de uma análise de documentos e de narrativas de duas educadoras, Henrieta Diminsky Arruda e Neuza Bertoni Pinto, que atuaram, respectivamente, como formadora e aluna no projeto. As narrativas foram constituídas a partir de entrevistas realizadas de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos da História Oral e fazem parte de um acervo de fontes orais para a pesquisa da história da educação matemática no Brasil.

Além disso, traremos um panorama sobre a formação de professores no Estado do Paraná na década de sessenta, contexto para a criação da Universidade Volante. Também apresentaremos a metodologia da História Oral - do modo como utilizada para obter as narrativas das educadoras entrevistadas - e, finalmente, abordaremos algumas compreensões sobre a Universidade Volante e o seu papel na história da educação matemática no Brasil.

A formação de professores de Matemática no Brasil e a Universidade Volante

É possível afirmar que a formação de professores, em universidades do Brasil, teve início a partir da década de 1930, com o Estatuto das Universidades Brasileiras, quando cursos de Licenciatura foram alocados nas Faculdades de Filosofia Ciências e Letras (FFCL), as quais tinham como um dos seus objetivos ofertar cursos de formação de professores para o Ensino Secundário (MARTINS-SALANDIM, 2012).

A carência de professores formados ficou ainda mais grave a partir de 1942, quando foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Secundário (Reforma Capanema),7 que provocou um aumento significativo8 de estudantes no ensino secundário. Como alternativa, para impulsionar a formação de professores que atuariam no Ensino Secundário, no Brasil, as autoridades da época promoveram a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). Dentre outras ações, a CADES viabilizava os Exames de Suficiência. Com eles, o Ministério da Educação (MEC) organizava cursos preparatórios, bem como testes, que forneciam, aos candidatos aprovados, o registro profissional que os autorizava a lecionar em cidades nas quais não houvesse faculdade de Filosofia e/ou professores licenciados.

No Paraná, em particular, o enfrentamento da falta de professores vinha acontecendo desde 1938, com a fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná (FFCL-PR). Especificamente para professores de matemática, a partir de 1940 foi autorizado o Curso de Matemática dessa instituição. Mas o número de professores formados não era suficiente, de modo que, ainda na década de 1960, há registros da atuação da CADES na formação de professores no Paraná, com cursos nas cidades de Curitiba e Londrina (COSTA, 2013).

Na década de 1960, o governo paranaense decidiu criar políticas públicas de atualizações e cursos de aperfeiçoamento para os professores, com o intuito de adequar o sistema educacional ao seu projeto de desenvolvimento econômico do Estado. Para efetivar essas ações foram lançadas as Semanas Educacionais. Nessa mesma década também houve outras implementações: foram ofertados cursos destinados ao Ensino Industrial; o Programa Brasileiro e Americano ao Ensino Elementar (PABAEE)9 e cursos de aperfeiçoamento elaborados pelo Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE)10. Na área de matemática, para além das formações mencionadas, houve, de acordo Lima (2006), a atuação do Grupo de Estudos do Ensino de Matemática (GEEM)11 na capacitação de professores que lecionavam essa disciplina. Essa contribuição aconteceu por intermédio do Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática (NEDEM), conforme o trabalho elaborado por Seara (2005). A existência de cursos sobre o Ensino de Matemática Moderna no Estado do Paraná também foi registrada por Costa (2013).

O NEDEM surgiu no início da década de 1960 como um grupo de professores interessados em estudar o ensino de matemática. O Núcleo tinha como sede o Colégio Estadual do Paraná, e era coordenado pelo professor Osny Antonio Dacol. Uma ação importante desse grupo foi a produção de coleções de livros didáticos destinados ao ensino de matemática, bem como cursos de capacitação e treinamento para professores. Esses cursos, que ocorreram entre 1967 e 1968, contavam com o patrocínio da Fundação Educacional do Paraná (FUNDEPAR). Os treinamentos realizados pelo NEDEM justificavam-se pela adoção das coleções de livros didáticos pelas escolas públicas, fazendo com que fossem necessários cursos para que os professores pudessem utilizá-los.

Apesar do panorama apresentado, a falta de professores no interior do Paraná continuava sendo um problema que se estendeu até o final da década de 1960. Os cursos promovidos por entidades como NEDEM, GEEM e CADES12 eram oferecidos predominantemente na capital e em cidades polo, o que dificultava a participação de professores de municípios mais distantes. Nesse sentido, a Universidade Volante teve um importante papel na formação de professores no interior, principalmente por abranger grande parte do estado do Paraná. Um vestígio da atuação da Universidade Volante como capacitadora de professores pode ser observado a partir dos dados presentes na Figura 1, indicando o número de participantes por tema, e sua respectiva frequência, na primeira edição realizada na cidade de Ponta Grossa. Pode-se perceber que a temática que obteve maior número de inscritos e de frequência foi Didática e Pedagogia, revelando o interesse pela formação de professores.

Fonte: Universidade do Paraná, 1960-1961, p.125.

FIGURA 1: Dados relativos à primeira promoção da Universidade Volante 

A Universidade Volante teve oito edições que aconteceram nos seguintes municípios e anos: Ponta Grossa (1961); Londrina (1962); Maringá e Jacarezinho (1963); Paranaguá (1964); Cascavel (1968); Paranavaí (1969) e Campo Mourão (1970), além de uma edição especial ocorrida no ano de 1969, nos festejos do Bicentenário do município da Lapa. Esses cursos atingiram um número expressivo de municípios e um total de 85.845 inscritos em todas as edições. Eles eram divididos em Cursos de Inscrição Livre, abertos para a inscrição de qualquer tipo de público; Cursos Eletivos e Cursos Profissionais, destinados a um público específico. As inscrições poderiam ser efetuadas nas prefeituras dos municípios; além disso, aos participantes que tivessem frequentado ao menos dois terços das aulas, eram concedidos certificados de participação (VIEIRA, 2014).

Em média, os cursos promovidos pela Universidade Volante duravam de quatro a cinco dias e, geralmente, atendiam às solicitações dos municípios selecionados para cada edição. A Universidade selecionava as áreas correspondentes e encaminhava as solicitações para as suas Coordenadorias, para que elas disponibilizassem os professores que participariam daquela promoção. As comunidades se preparavam para receber os cursos, geralmente, em salas de aulas improvisadas, utilizando salões paroquiais e ginásios.

Tais encaminhamentos estavam em consonância com o que a Universidade Federal do Paraná, em seu anuário de 1960-1961, destacava como objetivos da Universidade Volante, considerada uma atividade pioneira de interiorização da Universidade:

  • Democratização da Universidade - que se concretiza quando ela abre suas portas ao povo.

  • Desenvolvimento cultural e técnico das populações do interior do Estado - por meio de cursos de atualização e orientação, altamente práticos e ao alcance de todas as camadas do povo, que atendam aos reclamos e reivindicações regionais.

  • Motivação para o desenvolvimento cultural - encaminhando a cultura a todas as partes em que ela se fizer necessária. (UNIVERSIDADE DO PARANÁ, 1960-1961, p.120).

Devido à falta de recursos financeiros, a última promoção da Universidade Volante ocorreu no ano de 1970. A Universidade Volante foi tratada como projeto pioneiro da extensão universitária da UFPR que, anos mais tarde, viria a servir de modelo para outras práticas extensionistas em nível nacional, tais como o Projeto Rondon (VIEIRA, 2014).

Apesar da importância da Universidade Volante no Estado do Paraná, os dados documentais disponíveis são, principalmente, quantitativos. Para auxiliar na percepção de como ela funcionava e era recebida pelos participantes, optamos pela elaboração de fontes orais, por meio de entrevistas a duas professoras que estiveram envolvidas nas ações da Universidade Volante. Na próxima seção, apresentaremos o referencial metodológico utilizado na realização das entrevistas e criação dessas fontes.

Procedimentos metodológicos para a criação das fontes orais

De acordo com Portelli (2010) a História Oral é uma forma específica de discurso, em que o termo história invoca uma narrativa do passado e o termo oral indica um meio de expressão. Ao rememorar e produzir narrativas os sujeitos contam aquilo que viveram, impregnados pelo modo como ainda se relacionam com o seu passado e pelos significados que atribuem a ele no tempo presente (RIOS, 2012).

A criação das fontes orais nessa investigação aconteceu por meio dos parâmetros metodológicos da História Oral praticada pelo GHOEM13, na vertente da História Oral Temática. Ao trabalhar com História Oral Temática, o pesquisador se detém a um conjunto de temas definidos pelos objetivos da investigação e experiências de vida do colaborado. Para esse tipo de investigação, a seleção dos entrevistados é fundamental. Em um encontro, marcado para outros fins, constatamos que a professora Neuza Bertoni Pinto havia sido aluna em alguns dos cursos promovidos pela Universidade Volante, num período em que também atuava como diretora de uma escola na cidade de Palotina-PR. Ela contou que a sua participação nos cursos da Universidade Volante foi muito importantes para a sua trajetória, pois ela tinha o desejo de “fazer mais” pelo lugar onde estava trabalhando.

A segunda educadora entrevistada foi a professora Henrieta D. Arruda. A partir do contato com a dissertação de Masseli (2017), na qual consta uma entrevista com a professora Henrieta, tivemos ciência de que ela havia ministrado cursos de Matemática na Universidade Volante. Muito disposta a conversar e colaborar com a pesquisa, a Profa. Henrieta revelou a sua paixão por ensinar, afirmando que “definitivamente nasceu para ser professora”.

Cada entrevista foi conduzida com o uso de palavras-chave, disponibilizadas para as colaboradoras em formato de fichas, escolhidas de modo a considerar a atuação14 de cada educadora na Universidade Volante. As entrevistas passaram pelo processo de transcrição, textualização e aprovação por parte das colaboradoras. Ao final do processo, foram assinados os termos de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e as cartas de cessão.

Além das fontes orais produzidas, realizamos uma pesquisa documental nos anuários da Universidade Federal do Paraná. Essa busca aos anuários ocorreu a partir da menção a eles feita por Vieira (2014), desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR, e permitiu a obtenção dos resumos de cada edição da Universidade Volante.

Os testemunhos, as fontes orais.

O historiador Jenkins (2013), ao apresentar a sua versão sobre o que é história, menciona que ela é um discurso sobre o passado, desmistificando o pensamento de que história e passado tenham o mesmo significado. Ademais, ele enfatiza que,

O passado já aconteceu. Ele já passou e os historiadores só conseguem trazê-lo de volta mediado por veículos muito diferentes, de que são exemplo os livros, artigos, documentários etc., e não como acontecimentos presentes. O passado já passou, e a história é o que os historiadores fazem com ele quando põem mãos à obra. A história é o ofício dos historiadores [...]. (p.25).

Ou seja, o objeto da história é o passado, e o passado é tudo que se passou em todos os lugares. O que isso pode nos dizer sobre a Universidade Volante? Ela é um passado pertencente à década de 1960, no Estado do Paraná. Era uma iniciativa da universidade que promovia cursos, sendo alguns deles destinados à formação de professores. A investigação sobre a Universidade Volante construiu uma versão histórica sobre o seu próprio passado. Essa percepção está de acordo com as ideias de Jenkins (2013), ao sepultar a ideia de alguns historiadores que pretendem invocar o passado real, objetivo e verdadeiro. Jenkins (2013) afirma que tais pretensões não foram e nunca serão passíveis de serem realizadas, uma vez que

[...] nenhum historiador consegue abarcar e assim recuperar a totalidade dos acontecimentos passados, porque o “conteúdo” desses acontecimentos é praticamente ilimitado. Não é possível relatar mais que uma fração do que já ocorreu, e o relato de um historiador não corresponde exatamente ao passado: o simples volume desse último inviabiliza a história total. A maior parte das informações sobre o passado nunca foi registrada, e a maior parte do que permaneceu é fugaz. (p.31).

A versão da história da Universidade Volante que apresentamos é, portanto, um discurso sobre esse passado, um discurso dentre os muitos possíveis. Sobre a interpretação desse passado, Jenkins (2013) afirma que o passado que “conhecemos” sempre é condicionado por nossas próprias visões e,

[...] graças à possibilidade de ver as coisas em retrospecto, nós, de certa maneira, sabemos mais sobre o passado do que as pessoas que viveram lá. Ao traduzir o passado em termos modernos e usar conhecimentos que talvez não estivessem disponíveis antes, o historiador descobre não só que foi esquecido sobre o passado, mas também “reconstitui” coisas que nunca estiveram constituídas como tal [...]. (p.34).

A história nunca se basta, ela sempre se destina a alguém, é produzida sendo influenciada por relações de poder. De acordo com Jenkins (2013, p.34) “[...] a história é basicamente um discurso em litígio, um campo de batalha onde pessoas, classes e grupos elaboram autobiograficamente suas interpretações do passado para agradarem a si mesmos”.

Com relação à História Oral, Alberti (2013) afirma que, dependendo da direção do trabalho a ser realizado, ela pode ser definida como método de investigação, fonte de pesquisa ou técnica de produção e tratamento de depoimentos gravados. Ela menciona ainda que, se fosse arriscar uma definição para História Oral, poderia dizer que se trata de um método de pesquisa que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram/testemunharam acontecimentos como uma forma de aproximação do objeto de estudo (ALBERTI, 2013). No tocante às entrevistas, Alberti afirma que a História Oral permite recuperar aquilo que não se encontra em documentos de outra natureza, como acontecimentos pouco esclarecidos ou nunca evocados, experiências pessoais e impressões particulares. Ela acredita que,

[...] a principal característica do documento de História Oral não consiste no ineditismo de alguma informação, tampouco no preenchimento de lacunas de que se ressentem os arquivos de documentos escritos ou iconográficos, por exemplo. Sua peculiaridade - e da História Oral como um todo - decorre de toda uma postura com relação à história e as configurações socioculturais, que privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu [...]. (ALBERTI, 2013, p.30-31).

Por outro lado, o estudo dos documentos escritos, notadamente dos Anuários, evidenciou que neles não se contemplava a perspectiva dos professores formadores e alunos participantes dos cursos de formação de professores da Universidade Volante. Assim, a produção de fontes orais, oriundas das entrevistas realizadas com as duas educadoras, permitiu contemplar outras perspectivas, mais pessoais e qualitativas, do movimento da Universidade Volante, possibilitando uma reflexão sobre suas contribuições para a formação docente no estado do Paraná, naqueles anos.

É importante ressaltar que nem toda entrevista se adéqua à produção de fontes orais, sendo necessários alguns cuidados especiais. O pesquisador Alessandro Portelli pode provocar algumas reflexões que levam a aprofundar as ideias sobre esse momento carregado de tensões. Portelli (2010) diz que o momento da entrevista (a entre/ vista) é uma troca de olhares, e que

[...] a situação de entrevista institui uma bipolaridade dialógica, dois sujeitos face a face, mediados pelo emprego estratégico do microfone. Em torno desse objeto os dois se olham. A ideia de que existe um “observado” e um “observador” é uma ilusão positivista: durante todo o tempo, enquanto o pesquisador olha para o narrador, o narrador olha para ele, a fim de entender quem é e o que quer, e de modelar seu próprio discurso a partir dessas percepções. (p.20).

Ou seja, o discurso é moldado pela relação entre o pesquisador e seu colaborador. Esta afirmação de Portelli (2010) mostra também a importância de manter uma relação de cordialidade e confiança mútua durante a entrevista, pois a maneira como o pesquisador conduz esse processo determina a forma do relato. Ademais, sobre esse assunto, Portelli (2010) aborda que

Costuma-se falar na empatia e na confiança entre o entrevistado e o entrevistador, mas o que realmente torna significativa a História Oral é o esforço de estabelecer um diálogo entre e para além das diferenças. [...] Para falar da fronteira que existe entre nós (colaborador e pesquisador), deve haver um esforço no sentido de se falar para além da fronteira. Com um único gesto, se demarca e se cruza esse limite, o que transforma a entrevista em um espaço utópico- uma experiência de igualdade na qual dois sujeitos, separados pelas hierarquias culturais e sociais, escancaram suas desigualdades e as anulam, fazendo delas o território de suas trocas. (p.213, grifos dos autores).

Para Portelli (2010) a História Oral é uma oportunidade para narradores ocultos15 lançarem mão de um discurso público, uma vez que tais narradores raramente têm a oportunidade de falar. Essa afirmação foi particularmente importante para nossa pesquisa, uma vez que, embora a professora Henrieta tivesse sido professora de alguns dos cursos promovidos pela Universidade Volante, seu nome não constava em nenhum registro de tais cursos nos anuários da UFPR. Com a História Oral, a professora Henrieta teve a oportunidade de narrar sua participação, ainda que ela não estivesse registrada nas fontes documentais que tivemos acesso para esta pesquisa.

Sobre os colaboradores das pesquisas, Portelli (2010) afirma que pessoas não são livros e, obviamente, não podem ser estudadas como tal. Isso impõe a necessidade de pontuar que há pesquisadores que lastimam que os colaboradores, em entrevistas assim produzidas, não tenham sido folheados a fim de se obter o maior número de informações sobre o tema. Isso não só é impossível (visto cada colaborador tem o seu tempo e a sua forma de narrar as suas histórias), como também não é desejável, uma vez que o processo de investigação, aqui, não encontra paralelo com uma investigação policial, por exemplo, ou com um depoimento em que algo deva ser dito. Nesse processo de investigação, no momento de combinar a possibilidade de concessão da entrevista, os objetivos são apresentados e o colaborador é convidado a dizer o que desejar sobre o assunto, sendo que os seus silêncios é que devem ser levados em conta como indicativos de questões que merecem novas investigações.

Bruner (2014) afirma que há algo além das sutilezas da estrutura narrativa nos impedindo de passar da intuição para o entendimento explícito do problema de compreender o que é uma narrativa. Para o autor, histórias não são inocentes e elas carregam uma mensagem, muitas vezes tão bem camuflada que nem mesmo o narrador sabe do que se trata. Quase nunca nos questionamos sobre qual é a forma dada à realidade quando a vestimos com uma história, e que o senso comum sustenta que a forma da história é uma janela transparente para a realidade, e não uma forma que lhe impõe um molde. E isso acontece porque não importa que todos saibamos que o universo das boas histórias é habitado por bons protagonistas ou que o mundo real não é “realmente” desse jeito; nós também nos agarramos a modelos narrativos da realidade e os utilizamos para moldar nossas experiências diárias. A narrativa, incluindo a ficcional, dá forma para as coisas no mundo real e, muitas vezes, oferece credenciais de acesso à realidade.

Sobre a capacidade de narrar uma história, Bruner (2014) afirma que uma história, assim como todo ato de fala, é uma enunciação, e também tem um propósito específico ou seja, o que narrador queria ao fazer aquela narração à aquele espectador?. Isso nos leva a refletir sobre as fontes orais produzidas neste trabalho e a pensar que o ato de narrar sobre essas palavras não pode ser, e nunca será, um ato moldado, uma vez que, como Bruner (2014) afirma, o narrador, ao narrar-se, narra-se com um objetivo específico para essa determinada pessoa, e escolhe sobre como e o que irá narrar. Ao discorrer sobre uma das palavras-chave dessa pesquisa (“viagens”), a narrativa da Professora Neuza contempla as dificuldades do caminho, das estradas, pois ela percebe que tal informação seria útil às nossas reflexões sobre a importância da Universidade Volante.

De acordo com Bruner (2014),

Por meio da narrativa nós construímos, reconstruímos, e de alguma forma reinventamos o ontem e o amanhã. Memória e imaginação amalgamam-se nesse processo. [...] Por mais que a mente humana tenha exercitado sua memória e refinado seus sistemas de registro, ela nunca consegue capturar o passado de maneira completa e fiel. Por outro lado, ela jamais consegue escapar ao passado. Memória e imaginação são fornecedoras e consumidoras uma da outra. (p.103).

Essas afirmações de Bruner (2014) corroboram ao que tentamos capturar nas entrevistas realizadas para esta pesquisa. Ou seja, temos noção de que as educadoras, ao relatarem suas lembranças sobre a Universidade Volante, estão mostrando a maneira como elas enxergam, no momento da entrevista, os cursos, assim como o que as marcou e se fez memória.

Reflexões

Nesta seção, apresentaremos algumas compreensões sobre a Universidade Volante, ancoradas nas entrevistas com as professoras Neuza e Henrieta, que participaram dos cursos de formação de professores, a primeira na condição de aluna e a segunda como docente destes cursos, conforme mencionado anteriormente.

O primeiro destaque se refere ao modo como as professoras Neuza e Henrieta ficaram sabendo dos cursos da Universidade Volante e se mobilizaram para frequentá-los. Nesse sentido, a professora Neuza mencionou que atuava no “Ginásio Estadual Santo Agostinho” e, devido à transferência do marido para outra cidade, ela fora convidada a assumir a direção dessa instituição.

[...] no ano de 1961 tive que assumir a direção da mesma, talvez por ser a única professora formada em Escola Normal Secundária e também por já estar atuando como Secretária e professora de Matemática, matéria que eu gostava muito, mas ensinava com o conhecimento que trazia da Escola Normal. [...] E eu fui me envolvendo e recebi o aviso de que iria ter essa Universidade Volante. E a distância de onde eu estava, Palotina para Cascavel acho que dava mais de 100km, mas parecia mais distante por que era tudo estrada de terra, tinha barro. [...] e para mim foi um acontecimento! [...] Me inscrevi em todos os cursos que eu pude e fiquei lá a semana toda. Então aqui eu já falei da importância que teve para mim e da forma de ingresso. (Neuza Bertoni Pinto em MOREIRA, 2018, p.55).

Percebe-se que os cursos promovidos pela Universidade Volante, para a professora Neuza, tiveram um importante papel no que diz respeito às possibilidades de formações continuadas, àquela época, no estado do Paraná. Como ela menciona, era de seu interesse continuar os seus estudos; no entanto, naqueles anos, esse tipo de formação era raro devido às condições de infraestrutura que o Estado disponibilizava.

Já quanto à participação da professora Henrieta, como professora ministrante dos cursos da Universidade Volante, o caminho foi um pouco diferente. Na década de 1960, época em que iniciaram os cursos da Universidade Volante, Henrieta também estava envolvida com o NEDEM e foi a partir desse grupo que ela foi convidada a participar dessas formações.

Bom, já esse aqui é o material que usávamos para a Universidade Volante, é a teoria da Matemática do NEDEM que nós levamos para Londrina, e pelo interior do Paraná. “Noção Fundamental para o Ensino Moderno da Matemática na Primeira Série.” A professora Clélia e eu que íamos e, então organizávamos todas as apostilas para a Universidade Volante, para divulgar o trabalho do NEDEM nos cursos de pedagogia no interior do Paraná. (Henrieta D. Arruda em MOREIRA, 2018, p.69).

Em sua narrativa, a professora Henrieta menciona utilizar o livro do Quinto Ano16 produzido pelo NEDEM para a preparação das aulas dos cursos da Universidade Volante em que ela participou. No entanto, foi percebido, no resumo por edição de cada Universidade Volante, que o professor Osny Antonio Dacol, coordenador do NEDEM naqueles anos, também atuou como professor de alguns dos cursos da Universidade, o que nos leva a ponderar que, talvez, os cursos de Matemática, apresentados por professores colaboradores do NEDEM, tivessem como base o material produzido por este grupo e não apenas só o curso apresentado pela professora Henrieta.

Outro ponto que concerne à proximidade do NEDEM à Universidade Volante está ligado às semelhanças entre suas funções. Enquanto a Universidade Volante levava cursos pelas regiões por onde passava, na década de 1960, a fim de disseminar as discussões que estavam ocorrendo na FFCL-UFPR, bem como para prestar serviços e proporcionar outros cursos e palestras, o NEDEM, nesta mesma época, disseminava o Movimento da Matemática Moderna no estado Paraná, oferecendo cursos instrutivos para o uso de seus livros. Este apontamento foi realizado pelo fato de que, na entrevista cedida pela professora Henrieta, muitas das vezes em que ela abordava algum tópico da Universidade Volante, ela se referia ao NEDEM, fazendo com que fosse necessária nossa intervenção para questionar como havia ocorrido determinado fato na Universidade Volante. Isso nos levou a reflexão de que talvez, para muitas das pessoas envolvidas em ambas as iniciativas, a Universidade Volante e os Cursos do NEDEM fossem a mesma coisa ou, então, a confusão entre ambos poderia ocorrer comumente devido as suas semelhanças, pois ambos formavam professores e os assuntos difundidos e/ou tratados eram os mesmos.

Outro ponto de destaque é relacionado à dificuldade de locomoção, na época em que a Universidade Volante era, para muitos professores de municípios interioranos, a única oportunidade de formação.

Essa questão de viagens como eu falei era uma dificuldade enorme, em relação ao meio de locomoção, de transporte, existia um ônibus, mas a gente usava muito conduções particulares, por que na época eram raras entre as famílias. Então era muito difícil a locomoção de uma cidade para outra, por conta da precariedade mesmo das estradas. (Neuza Bertoni Pinto, em MOREIRA, 2018, p.57).

Bom, Universidade Volante é aquilo que eu te falei, 62,72,82,92,2002,2012, 54 anos. Que pena! É porque não tinha universidade no interior, hoje em dia tem. Os professores não tinham oportunidade de ter esses conteúdos, então na época ela serviu para alguma coisa... Imagine Londrina 50 anos atrás, Maringá e mais todas aquelas cidades que nós fomos... Realmente foi uma ideia boa, não me lembro se foi a secretaria de educação que fez isso, ou patrocinado pela secretaria... Esses cursos que nós demos foi justamente sobre o início da Matemática, a nomenclatura, a terminologia correta, aquela sequência certa de você trabalhar a Matemática, inclusive até a maneira de segurar o lápis porque as crianças, a maioria das crianças até hoje e professor também, não sabem segurar um lápis da forma correta.[...] Então, tinha que começar daí, do BEABA da coisa sabe? Para poder traçar os numerais, tudo de maneira correta. “- Qual é o traçado correto dos numerais?” A maioria das pessoas fazia de qualquer jeito. Eu vi verdadeiros absurdos!. (Henrieta D. Arruda em MOREIRA, 2018, p.71).

Pode-se perceber que esses fatores influenciavam na busca por formações, uma vez que elas não eram oferecidas comumente e o acesso territorial era dificultado. Na região oeste do Estado do Paraná, as terras ainda estavam sendo colonizadas17, a estruturação dessa parte do estado estava iniciando, e isso também influencia na estrutura educacional dessa região do estado. Além disso, também é possível perceber, na fala da professora Henrieta, a falta de formações para professores no interior do estado do Paraná. Essas afirmações ajudam a compreender o quão importante foi a atuação da Universidade Volante no interior do estado, no oferecimento de cursos de formações de professores, por se tratar de cursos que “foram” até a população.

Outro ponto que gostaríamos de destacar refere-se ao fato da associação do surgimento da Universidade Volante à influência e/ou modelo para a criação das Universidades Estaduais no estado do Paraná. Tal questão foi levantada durante a realização desta pesquisa e, no entanto, nos estudos realizados após este questionamento, não foram encontrados registros de tal influência, embora seja mencionado na fala da professora Neuza que ela acreditava que a Universidade Volante tinha “plantado a semente” para a abertura de universidades na região18.

Além dos aspectos levantados, ainda há um ponto que gostaríamos de destacar e deixar em aberto: o fato de o oferecimento de cursos de “Técnicas de Vacinação” e cursos relacionados à Higiene também serem destinados a professores, durante algumas edições da Universidade Volante.

Teve um professor, Paulo de Tarso Monserrat, que fez uma belíssima palestra sobre a questão da higiene, porque tinham uma concepção, na escola e parece que estava mudando um pouco, do papel do professor para manter a saúde das crianças. Era uma visão que eu gostei muito [...]. (Neuza Bertoni Pinto, em MOREIRA, 2018, p. 58).

É interessante observar a mudança de leis na história, pois, atualmente, professores não podem, e nem devem atuar como profissionais da saúde, assim como a higiene do aluno também não diz respeito ao trabalho do educador.

Considerações Finais

Este artigo teve como objetivo apresentar os cursos de formação de professores oferecidos pela Universidade Volante, no Estado do Paraná, na década de 1960, mobilizando fontes orais criadas a partir de duas entrevistas com educadoras do Estado do Paraná. Destacamos a importância da Universidade Volante na interiorização da formação de professores, já presente na capital, em um momento de dificuldades políticas e precariedade estrutural das rodovias do Estado. Além disso, as fontes orais indicaram uma inter-relação entre o que ocorria na capital, em termos de educação matemática, a Matemática Moderna do NEDEM e as formações promovidas pela Universidade Volante.

Ao mesmo tempo em que algumas lacunas foram preenchidas, outras se abriram a partir das fontes orais constituídas. Destacamos a possível relação entre a Universidade Volante e as primeiras universidades do interior do Paraná e as formações relativas à higiene e saúde para todo o conjunto de professores.

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4Embora não concordemos com o termo capacitação para se referir a processos de formação de professores, manteremos a nomenclatura utilizada nos documentos da época.

5Ginásio/Ginasial: termo dado pela Reforma Capanema ao primeiro ciclo de quatro anos, quando instituiu um Ensino Secundário em 1942. Segundo Brasil (1942) o Ginásio seria o estabelecimento de ensino secundário destinado a ministrar o curso de primeiro ciclo. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-publicacaooriginal-1-pe.html>.

6Colégio: termo dado a um dos estabelecimentos do ensino secundário, instituído pela Reforma Capanema. Segundo o Decreto-Lei nº 4.244 que dispõe sobre a Reforma Capanema, o “Colégio” seria o estabelecimento de ensino secundário destinado a dar, além do curso próprio do ginásio, os dois cursos de segundo ciclo (BRASIL, 1942). Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-publicacaooriginal-1-pe.html>.

7A Reforma Capanema instituiu um Ensino Secundário com dois ciclos, um primeiro ciclo de quatro anos (Ginasial) e o segundo ciclo de três anos, nas modalidades clássico e científico (BRASIL, 1942). Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-publicacaooriginal-1-pe.html>.

8MOREIRA (2018) relata esse crescimento em números.

9Programa Brasileiro e Americano ao Ensino Elementar (PABAEE): Este programa foi fruto de um acordo entre o Brasil e a United States Operation Mission to Brazil, e tinha como objetivo principal a melhoria do ensino primário. Este acordo teve início em 1956 com término em 1961, porém foi renovado e se estendeu até meados de 1964. A sede de sua organização estava alocada no Instituto de Educação de Minas Gerais, em Belo Horizonte, e o órgão responsável por sua promoção o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Para saber mais sobre o PABAEE, recomenda-se Moreira (2018).

10Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE): O CEPE teve grande parte de sua ação voltada para o Ensino Primário e em relação ao Ensino Médio têm-se registros de cursos relacionados com a disciplina de Matemática, com a temática da Matemática Moderna, tendo como palestrante Osvaldo Sangiorgi. Para saber mais sobre o CEPE, recomenda-se (COSTA, 2013).

11Grupo de Estudos do Ensino de Matemática (GEEM): O GEEM tinha sua sede localizada na cidade de São Paulo e dentre suas ações, destaca-se os cursos que como objetivo a formação matemática do professor, apresentando conceitos relacionados ao Movimento da Matemática Moderna (MMM). Para saber mais sobre o GEEM, recomenda-se Silva (2006).

12Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES): A CADES, dentre suas ações, promovia os Exames de Suficiência através dos quais o Ministério da Educação (MEC) organizava cursos preparatórios e um teste que oferecia ao candidato aprovado o registro profissional que o autorizava a lecionar em cidades onde não houvesse faculdade de Filosofia. Para saber mais sobre a CADES, recomenda-se Baraldi e Gaertner (2013).

13Para melhor compreensão da História Oral praticada pelo Grupo de História Oral e Educação Matemática, recomenda-se Garnica (2007).

14As palavras-chave foram escolhidas de acordo com o papel que cada professora desempenhava na Universidade Volante. Dessa maneira, foram pensadas em palavras que versavam sobre o planejamento dos cursos oferecidos, no caso da prof. Henrieta que foi professora cursista, a citar: livro-texto; e, no caso da professora Neuza, aluna dos cursos em questão, palavras que fossem relacionadas com a participação nos cursos oferecidos, a citar: colegas de curso.

15Para saber mais sobre o termo narradores ocultos, indica-se Portelli (2010).

16Para saber mais sobre a coleção de livros do NEDEM, recomenda-se Seara (2005) e Masseli (2017).

17Apesar de não concordarmos com o termo colonizadas, optamos por utilizá-lo uma vez que é o termo utilizado por nossas colaboradoras em suas entrevistas.

18Por falta de tempo, essas discussões não serão abordadas ao longo deste texto.

Recebido: 01 de Junho de 2020; Aceito: 01 de Novembro de 2020

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