SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.36Formação docente sobre inclusão escolar de alunos público da Educação Especial no Brasil: uma revisão integrativaAções voltadas a pessoas com deficiência: uma análise de publicações das revistas científicas em extensão no Brasil índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Educação Especial (Online)

versão On-line ISSN 1984-686X

Rev. Educ. Espec. vol.36  Santa Maria  2023  Epub 12-Jun-2024

https://doi.org/10.5902/1984686x68635 

Artigo Demanda Contínua

A produção científica sobre o capacitismo no ensino superior: uma revisão integrativa de literatura

Scientific production on ableism in higher education: an integrative literature review

Producción científica sobre el capacitismo en la universidad: una revisión bibliográfica integradora

1Universidade federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. joana_milan@hotmail.com

2Universidade federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. marivete@yahoo.com.br


RESUMO

Compreender como o capacitismo se reproduz no ensino superior é imprescindível para se remover barreiras de acesso ao conhecimento e para a garantia da participação social de pessoas com deficiência nesse espaço. Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a produção científica referente ao capacitismo no ensino superior quanto às perspectivas conceituais, as principais implicações para as pessoas com deficiência e os elementos que corroboram a construção de práticas anticapacitistas. As informações foram obtidas por meio de uma revisão integrativa da literatura que abrangeu 36 artigos disponibilizados nas bases de dados Scopus, PsycInfo, Web of Science, SciELO; One File e ERIC, publicados entre 2000 e 2020. Os achados foram analisados a partir de um protocolo de revisão elaborado pelas autoras. Os resultados foram organizados em três categorias: a) perspectivas conceituais do capacitismo; b) reprodução do capacitismo no ensino superior e; c) contribuições para a construção de práticas anticapacitistas. Identificou-se que o capacitismo é institucionalizado no ensino superior e corrobora a patologização e medicalização das pessoas com corporalidades desviantes do padrão normativo. A construção de práticas anticapacitistas demanda a análise crítica das narrativas capacitistas, a incorporação da perspectiva interseccional, e o compromisso com a eliminação das barreiras e com a participação das pessoas com deficiência. Por fim, destaca-se a relevância de se incorporar a categoria capacitismo na produção do conhecimento, formação dos profissionais que atuam no ensino superior e nas políticas educacionais brasileiras.

Palavras-chaves: Capacitismo; Patologização; Ensino superior

ABSTRACT

Understanding how ableism is reproduced in higher education is essential to remove barriers to accessing knowledge and to guarantee the social participation of people with disabilities in this space. This research aimed to characterize the scientific production regarding ableism in higher education in terms of conceptual perspectives, the main implications for people with disabilities, and the elements that support the construction of anti-ableist practices. The information was obtained through an integrative literature review covering 36 articles available in the Scopus, PsycInfo, Web of Science, One File, and ERIC databases, published between 2000 and 2020. The findings were analyzed using a protocol of review prepared by the authors. The results were organized into three categories: a) conceptual perspectives on ableism; b) reproduction of ableism in higher education and; c) contributions to the construction of anti-ableist practices. It was identified that ableism is institutionalized in higher education and corroborates the pathologization and medicalization of people with deviant corporalities from the normative standard. The construction of anti-ableist practices demands critical analysis of the capacitation narratives, the incorporation of the intersectional perspective, and the commitment to the elimination of barriers and the participation of people with disabilities. Finally, the relevance of incorporating the category ableism in the production of knowledge, training of professionals working in higher education and in Brazilian educational policies are highlighted.

Keywords: Ableism; Pathologization; Higher education

RESUMEN

Comprender cómo se reproduce el capacitismo en la educación superior es fundamental para eliminar las barreras de acceso al conocimiento y garantizar la participación social de las personas con discapacidad en este espacio. Esta investigación tuvo como objetivo caracterizar la producción científica sobre el capacitismo en la educación superior en términos de perspectivas conceptuales, las principales implicaciones para las personas con discapacidad y los elementos que sustentan la construcción de prácticas anticapacitista. La información se obtuvo mediante una revisión integradora de la literatura que abarca 36 artículos disponibles en las bases de datos Scopus, PsycInfo, Web of Science, One File y ERIC, publicados entre 2000 y 2020. Los hallazgos se analizaron mediante un protocolo de revisión elaborado por los autores. Los resultados se organizaron en tres categorías: a) perspectivas conceptuales sobre el capacitismo; b) reproducción del capacitismo en educación superior y; c) contribuciones a la construcción de prácticas anticapacitistas. Se identificó que el capacitismo está institucionalizado en la educación superior y corrobora la patologización y medicalización de las personas con corporalidades que se desvían del estándar normativo. La construcción de prácticas anticapacitistas exige un análisis crítico de las narrativas capacitistas, la incorporación de la perspectiva interseccional, y el compromiso con la eliminación de barreras y la participación de las personas con discapacidad. Finalmente, se destaca la relevancia de incorporar la categoría capacitismo en la producción de conocimiento, la formación de profesionales que trabajan en la educación superior y en las políticas educativas brasileñas.

Palabras clave: Capacitismo; Patologización; Enseñanza superior

Introdução

A inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior vem sendo um grande desafio no contexto brasileiro. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) (LEI Nº 13.146, DE 6 de julho de 2015), a qual é baseada na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, garante a inclusão de estudantes com deficiência em todos os níveis de ensino, inclusive no ensino superior. Outro dispositivo criado em 2005 visando contribuir com a permanência dos estudantes com deficiência na universidade é o Programa de Acessibilidade na Educação Superior (Programa Incluir) -do Ministério da Educação (MEC). O objetivo principal do Programa Incluir é o de fomentar a criação e a consolidação de núcleos de acessibilidade nas Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) visando efetivar a inclusão de pessoas com deficiência à vida acadêmica, por meio da eliminação de barreiras arquitetônicas, comportamentais, pedagógicas e de comunicação (BRASIL, 2013).

Apesar de iniciativas como o Programa Incluir, e demais legislações voltadas à inclusão no ensino superior, ainda há um baixo número de estudantes com deficiência matriculados no ensino superior. Os dados de 2021 do Censo da Educação Superior (INEP, 2022) apontam que 63.404 matrículas de graduação são declaradas com registro de deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, o que corresponde a 0,71% do total de matrículas em cursos de graduação neste ano.

O estudo de revisão sistemática da literatura brasileira realizado por Gomes et al. (2021), com o objetivo de evidenciar questões relacionadas à percepção do processo de inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior com o foco nos aspectos da legislação e percepção discente/docente a respeito do tema estudado, identificou que ainda há muitos desafios nesse âmbito. Os resultados indicam que há uma grande carência na estrutura arquitetônica, na adequação de práticas pedagógicas e na formação docente. Outro estudo de revisão de literatura, o qual incluiu artigos nacionais e internacionais, foi o realizado por Mazera, Schneider e Padilha (2021) com o objetivo de conhecer os aspectos abordados pela produção científica em relação à temática da inclusão da pessoa com deficiência nas instituições de ensino superior. Os resultados mostraram que há inúmeros entraves para a inclusão, tais como as lacunas curriculares, a estereotipação do corpo, as crenças e a falta de capacitação do corpo docente.

O presente estudo parte do pressuposto de que o capacitismo é basilar na manutenção das barreiras vivenciadas cotidianamente por estudantes com deficiência, que persistem apesar dos inúmeros avanços no âmbito legal e das políticas públicas brasileiras. O capacitismo é o termo escolhido pelos ativistas da deficiência do Brasil e de outros países para nomear o preconceito e a discriminação experienciados por pessoas com deficiência. Esse é conceituado com base em Fiona Campbell, uma mulher com deficiência, como "uma rede de crenças, processos e práticas que produz um determinado tipo de eu e de corpo (o padrão corporal) que é projetado como perfeito, típico da espécie e, portanto, essencial e totalmente humano" (CAMPBELL, 2001, p. 44, tradução nossa). A autora argumenta que com base no capacitismo a deficiência é situada como inerentemente negativa, sendo que esta deveria ser curada ou mesmo eliminada. Ainda sobre o capacitismo, Mello (2016) destaca que esse hierarquiza as pessoas com base na adequação dos seus corpos à corponormatividade, caracterizando pessoas com deficiência de modo generalizado como incapazes. Ademais, o capacitismo tem um caráter estrutural e interseccional e há uma estreita relação entre o capacitismo e as demandas do sistema capitalista (GESSER; BLOCK; MELLO, 2020).

Pesquisadores como Brown (2020) e Singer e Bacon (2020) afirmam que o capacitismo está intrinsicamente presente nas universidades e corrobora a manutenção de barreiras para o acesso dos grupos minoritários. Fortemente influenciadas pelas políticas neoliberais, as universidades vêm sendo transformadas em negócios corporativos voltados aos princípios da eficiência e autossuficiência. Essa conjuntura impõe que os estudantes sejam avaliados a partir de um regime rígido de produtividade, eficácia e excelência voltado para resultados que mantenham o status da instituição no mercado competitivo. Posto isso, percebe-se que no ensino superior há uma ênfase na performatividade, eficiência e produtividade pessoal, a qualcontribui para a valorização de indivíduos normativos e capazes (BLACKMORE, 2016). Isso corrobora o fortalecimento do capacitismo, uma vez que grupos que divergem do ideal de capacidade por apresentarem características indesejáveis na academia, como vulnerabilidade, fraqueza, anormalidade física e mental e dependência tenham sua permanência neste espaço deslegitimada. Visando a promoção de processos educativos inclusivos no ensino superior, faz-se necessário estudar como o capacitismo tem sido reproduzido nesse contexto.

Esta pesquisa se caracteriza como uma revisão integrativa de literatura que teve como objetivo caracterizar a produção científica referente ao capacitismo no ensino superior quanto às perspectivas conceituais, as principais implicações para as pessoas com deficiência e os elementos que corroboram a construção de práticas anticapacitistas. Essa revisão é relevante pois os estudos sobre o capacitismo e o ensino superior são iniciais no Brasil e não há ainda nenhuma revisão integrativa publicada em revista brasileira.

Método

Esse estudo corresponde a uma revisão integrativa de literatura, que consiste em uma ampla análise de literatura, trabalhando com dados teóricos e empíricos, que se objetiva a compreender um determinado fenômeno a partir de estudos anteriores, a revisar teorias e evidências e a analisar problemas metodológicos de um tópico particular, dentre outros. Para conduzir o caminho percorrido na revisão integrativa (RI), optou-se por trabalhar com as cinco fases do processo de elaboração proposto por Cooper (1984):

Formulação do problema - As perguntas que conduziram o olhar na escolha e na leitura atenta dos artigos foram: Como o capacitismo tem sido conceituado nos estudos sobre o ensino superior? Como o capacitismo é reproduzido no ensino superior?Quais são os elementos voltados à construção de práticas anticapacitistas no ensino superior trazidos pela literatura?

Coleta de dados - A busca foi realizada em bases de produção científica e abrangeu artigos publicados até 31 dedezembro de 2020. Como critério de inclusão, adotamos: a publicação deveria estar dentro da temática proposta anteriormente, publicada na forma de artigos científicos e ensaios teóricos nos idiomas inglês, português ou espanhol. Como critérios de exclusão: ficam excluídas as publicações cujos processos não tivessem de acordo com a temática abordada por este estudo, bem como a exclusão de publicações fora do formato de artigos, relatos de experiência e ensaios (Teses, dissertações, revisões de literatura e afins).

Os termos utilizados na pesquisa foram “Ableis*” e “Higher Education” ou “University”, definindo-se a procura dos termos citados no título, no resumo ou nas palavras-chave e com as suas respectivas traduções em português e espanhol. Devido à natureza interdisciplinar e ao caráter exploratório dessa temática, foram eleitas seis bases de dados que possuem abrangente e importante cobertura na área das Ciências Humanas, principalmente na psicologia e na educação. As bases foram: 1) Web of Science - Base de dados multidisciplinar com indexação de artigos e periódicos de grande impacto; 2) OneFile (GALE) - Base com artigos completos, gratuitos, das revistas mais importantes do mundo, com vasta cobertura na área das ciências humanas; 3) SCOPUS (Elsevier) - uma das maiores bases de literatura científica revisada por pares indexadora na CAPES; 4) PsycINFO - Editada pela American Psychological Association (APA), com grande cobertura nas áreas da psicologia e da educação; 5) Scientific Electronic Library Online (SciELO) -base de dados de acesso gratuito com muitas produções brasileiras e do sul global; 6) ERIC (U. S. Department of Education, que apresenta uma variedade de estudos sobre educação.

Nessa etapa de busca nas seis bases foram localizados 383 artigos. Após a eliminação de duplicidade das obras, as quais foram disponibilizadas em mais de uma base, e a subsequente leitura atenta dos títulos e dos resumos localizados, foram definidos os critérios para a seleção da composição do acervo do estudo. Em uma primeira triagem, foram excluídos os artigos escritos em outro idioma para além dos redigidos em português, inglês ou espanhol e os artigos da área da Educação Infantil, Fundamental e Média, bem como aqueles duplicados, totalizando a eliminação de 326 artigos.

Análise de juízes - o intuito foi verificar se os artigos respondiam às perguntas de pesquisa. Assim sendo, individualmente dois pesquisadores do tema fizeram suas análises e, posteriormente, realizou-se a verificação do índice de concordância. O resultado foi de 96% de concordância, e, após uma discussão entre os juízes e os pesquisadores, foi de 100% de concordância. Decidiu-se pela exclusão de 21 estudos após esta etapa.

Avaliação dos dados - Visando elucidar os achados mais relevantes do estudo, as autoras criaram um protocolo de revisão. Esse contemplou os seguintes elementos: identificação; características metodológicas dos estudos; aspectos conceituais; resultados e conclusões (sobre a reprodução do capacitismo e indicadores para práticas anticapacitistas).

Fonte: Elaboração própria

Figura 1 Diagrama representativo do processo de seleção das publicações 

Análise de dados - dados os objetivos específicos desta revisão, a análise dos resultados foi feita em duas etapas. A primeira visou analisar as conceituações do capacitismo trazidas pelos artigos e os principais autores citados. A segunda etapa, por sua vez, consistiu em analisar mais detalhadamente as duas categorias centrais do estudo:a) a reprodução do capacitismo no ensino superior e; b) as principais contribuições trazidas pela literatura para a construção de práticas anticapacitistas na universidade.

Resultados e Discussão

Em relação às características dos artigos incluídos nesta revisão, dos 36 analisados, 16 foram coletados na base de dados Web of Science, 13 na Scopus e os sete demais na Eric. O idioma de todas as produções analisadas foi o inglês. No que tange à origem dos estudos, conforme apresentado na Tabela 1,17 foram realizados nos Estados Unidos (EUA), seguido de 10 no Reino Unido (sendo um desses em parceria com uma universidade da Espanha) e cinco no Canadá. Bélgica, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Colômbia tiveram um estudo cada. Na América do Sul, identificou-se apenas o estudo realizado na Colômbia. A ausência de estudos relacionados ao capacitismo no Brasil pode estar relacionada ao fato de essa categoria ter sido incorporada no âmbito da academia a menos de uma década por autoras como Dias (2013) e Mello (2016). Assim, muitos pesquisadores utilizam “barreiras atitudinais” e “discriminação por motivo de deficiência” como categorias para descrever os processos discriminatórios vivenciados pelas pessoas com deficiência no ensino superior.

Tabela 1 Caracterização dos artigos selecionados para a revisão 

TÍTULO ANO PERIÓDICO PAÍS
Ammarantha Wass: Trans-Crooked Experience of a Teacher at the Universidad Pedagógica Nacional (UPN). 2020 Nómadas Colômbia
Ableism in the academy: A series about disability oppression and resistance in higher education. 2020 Critical Education EUA
Omission and Othering: Constructing Autism on Community College Websites. Community 2020 Community College Journal of Research and Practice USA
The insider view: tackling disabling practices in higher education institutions 2020 Higher Education Reino Unido
‘I had to pop a wheelie and pay extra attention in order not to fall:’ embodied experiences of two wheelchair tennis athletes transgressing ableist and gendered norms in disability sport and university spaces 2020 Qualitative Research in Sport, Exercise and Health Reino Unido
Supporting LGBQ+ Students with Disabilities: Exploring the Experiences of Students Living on Campus 2020 The Journal of College and University Student Housing EUA
A Technology of the self and the other: a case study on disabled Body Politics among university students 2020 Journal of Disability, Development and Education International South Africa
“It’s All About Learning as a Community”: Facilitating the Learning of Students with Disabilities in Higher Education Classrooms 2020 Journal of College Student Development USA
Encountering ableism in the moment: how university students discuss accommodations with faculty members 2020 Critical Education Canadá
Impact of ableist microaggressions on university students with self-identified disabilities 2020 Disability & Society Canadá
Laissez-faire ableism in the academy: Contouring the map with graduate student perspectives 2020 Critical Education EUA
Navigating Challenges to Facilitate Success for College Students with Autism 2020 Journal of Higher Education EUA
“It would besimpler to see success without dominating discourse ability”: Neurodivergent communicators in postsecondary education 2020 Critical Education Canadá
Ableism and disablism in higher education: The case of two students living with chronic illnesses 2019 Alter Reino Unido
“I Guess I’ll Have to Bring It”: Examining the Construction and Outcomes of a Social Justice-Oriented Service-Learning Partnership 2019 Journal of Transformative Education EUA
Political disclosure: resisting ableism in medical education 2019 Disability & Society Nova Zelândia
Disability cultural centers: How colleges can move beyond access to inclusion 2019 Disability and Society EUA
Making space in higher education: disability, digital technology, and the inclusive prospect of digital collaborative making 2019 International Journal of Inclusive Education Canadá
The logic of bio-meritocracy in the promotion of higher education equity 2019 Disability & Society Canadá
“People see me, but they don’t see me”: An intersectional study of college students with physical disabilities 2018 Journal of College Student Development EUA
Ableism in academia: where are the disabled and ill academics? 2018 Disability and Society Reino Unido
Barriers to higher education for students with bipolar disorder: A critical social model perspective. 2018 Social Inclusion EUA
Unreasonable adjustments: the additional unpaid labour of academics with disabilities 2018 Disability & Society Reino Unido
Life after LEAD: A Retrospective Analysis of What Members Learned from a Collegiate Disability Awareness Group 2018 Innovative Higher Education EUA
Breaking Barriers and Building Bridges: Understanding How a Student Organization Attends to the Social Integration of College Students with Disabilities 2017 The Journal of Postsecondary Education and Disability EUA
Experiences of university life for students with Asperger’s Syndrome: a comparative study between Spain and England 2017 International Journal of Inclusive Education Reino Unido e Espanha
“We are not anything alike”: marginalization of health professionals with disabilities 2017 Disability & Society Canadá
Digital Media Education and Advocacy: Addressing Attitudes toward Disability on College Campuses. 2016 The Journal of Postsecondary Education and Disability EUA
Enabling the classroom and the curriculum: higher education, literary studies and disability 2016 Journal of Further and Higher Education Reino Unido
“Not Wishing to Be the White Rhino in the Crowd”: Disability-Disclosure at University 2015 Journal of Language and Social Psychology Bélgica
Examining Ableism in Higher Education through Social Dominance Theory and Social Learning Theory 2015 Innovative Higher Education EUA
Voices of “disabled” post-secondary students: Examining higher education “disability” policy using an ableism lens 2012 Journal of Diversity in Higher Education Canadá
“I avoid pubs and the student union like the plague”: Students with asperger syndrome and their negotiation of university spaces 2010 Children’s Geographies Reino Unido
Stirring up the sediment: The corporeal pedagogies of disabilities 2010 Discourse Austrália
Disability and the rhetoric of inclusive higher education 2004 Journal of Further and Higher Education Reino Unido
When architecture disables: teaching undergraduates to perceive ableism in the built environment 2000 Teaching Sociology EUA

Fonte: Elaboração própria

Os achados da revisão indicam que a análise dos processos de discriminação às pessoas com deficiência na universidade a partir da categoria capacitismo é predominante no hemisfério norte, com especial destaque para os EUA e Reino Unido. Em relação aos anos das publicações, conforme os dados da tabela 1, 13 foram publicadas em 2020, seis em 2019, cinco em 2018, três em 2017 e as nove demais entre os anos de 2000 a 2016. Observa-se um aumento expressivo de publicações nos últimos anos, sendo que 36.1% dos estudos são de 2020e 75% dos últimos quatro anos, o que indica que a categoria capacitismo vem sendo recentemente incorporada nas pesquisas sobre a inclusão de pessoas com deficiência nas instituições de ensino superior.

Dos estudos analisados, 27 são considerados relatos de pesquisa, oito ensaios teóricos e um relato de intervenção. Em relação ao delineamento dos relatos de pesquisa, 24 apresentam delineamento qualitativo, dois misto (quanti/quali) e um quantitativo. Dentre os relatos de pesquisa, 26 têm como sujeitos de pesquisa pessoas com deficiência, o que coaduna com a perspectiva emancipatória da deficiência que tem como premissa pesquisar COM as pessoas com deficiência e não SOBRE elas (MORAES, 2010). Por fim, há uma tendência de se privilegiar as narrativas das pessoas com deficiência, sendo que oito artigos trazem narrativas no título, e muitos ao longo do texto, o que coaduna com a perspectiva anticapacitista (GESSER; BLOCK; MELLO, 2020).

Abaixo são apresentados e discutidos os principais achados do estudo a partir das categorias: a) perspectivas conceituais sobre o capacitismo; b) a reprodução do capacitismo no ensino superior; c) contribuições para a construção de práticas anticapacitistas. Essas categorias foram estabelecidas a partir dos objetivos da pesquisa e buscaram sintetizar as principais contribuições dos artigos analisados.

Perspectivas conceituais sobre o capacitismo

Neste tópico, serão apresentadas as perspectivas do capacitismo presentes na literatura analisada. Bock, Gesser e Nuernberg (2018) destacam que as compreensões dos pesquisadores impactam no modo como analisam o fenômeno e nos achados da pesquisa. Os estudos analisados nesta revisão apresentam uma diversidade de compreensões do capacitismo.

Identificou-se que o conceito de capacitismo utilizado nos estudos analisados faz uma crítica contundente ao caráter binário de capacidade/incapacidade e aos efeitos que ele produz na sociedade. Essa crítica aparece de forma mais evidente nos trabalhos de Bialka et al. (2019), Fernandez (2019), Hartley et al. (2016), Jain (2019) e Kruse e Oswal (2018). Segundo os autores, a partir dessa perspectiva, as pessoas sem deficiência são consideradas pela sociedade como o “padrão” de capacidade e as pessoas com deficiência são consideradas incapazes. Ademais, a perspectiva binária o capacitismo se caracteriza como um sistema que privilegia corpos capazes e discrimina corpos com deficiência (KATTARI, 2015; BIALKA et al., 2017; EHLINGER; ROPERS, 2020; JAIN, 2020; KATTARI, 2015; NACHMAN; BROWN, 2019).

O capacitismo é destacado na literatura analisada como institucional e fortemente presente na estrutura social. A dimensão institucional é enfatizada por Livingston (2000), Freedman, Dotger e Song (2020) com base em Beckwith (2019). O caráter estrutural do capacitismo é destacado por ele estar presente em diversos âmbitos da sociedade, como nas instituições educacionais, políticas e econômicas, na cultura e na arte. O estudo de Cadwallader (2010) descreve a influência do capacitismo na estrutura social como tão profunda a ponto de moldar as instituições, costumes, relações de poder, formas de socialização e estilos dominantes de ser e estar no mundo.

Todos os 36 artigos estudados abordam, em sua compreensão de capacitismo, a esfera da do preconceito e da discriminação. Nessa direção, o estudo de Lynch e Hill (2020) destaca que capacitismo discrimina e procura regular, disciplinar e categorizar os corpos. Alguns estudos destacam também a compreensão do capacitismo como um sistema de opressão de caráter interseccional (BOLT, 2004; KATTARI, 2015; BIALKA et al., 2017; BRCKALORENZ; FASSETT; HURTADO, 2020; EHLINGER; ROPERS, 2020; FREEDMAN; DOTGER; SONG, 2020; ROJAS, 2020). Esse entendimento expõe como a intersecção do capacitismo vivenciado pelas pessoas com deficiência com outros sistemas de opressão - tais como o racismo, sexismo e heteronormatividade (BOLT, 2004) - molda a experiência das pessoas com deficiência, demandando uma análise interseccional (FREEDMAN; DOTGER; SONG, 2020).

Os estudos de Brown e Leigh (2018), Chiang (2019), Cox et al. (2020), Edelstein et al (2020) e Jain (2019) trazem a concepção de capacitismo internalizado da autora Fiona Campbell (2008). Com base na mesma autora, 14 artigos relacionam o conceito de capacitismo como a reiteração da norma, a qual é produzida no contexto sociocultural e produz a valorização social de certas capacidades consideradas necessárias para o contexto acadêmico (CAMPBELL, 2008).

Por fim, a partir do mapeamento das perspectivas teóricas de conceituação do capacitismo, percebe-se que todos os artigos utilizam o conceito de forma crítica às normas sociais vigentes. Em relação à compreensão, essa varia entre: o capacitismo como estrutural, institucional, como uma forma de discriminação, um sistema de opressão interseccional, uma relação de poder ou como um privilégio das pessoas sem deficiência.

A reprodução do capacitismo no ensino superior

Neste tópico, dar-se-á visibilidade aos resultados obtidos que evidenciam a forma como o capacitismo se reproduz nas universidades. Assim, baseado na análise da literatura, serão abordados os seguintes itens: a) os efeitos da meritocracia e do modelo biomédico para a reprodução do capacitismo na universidade; b) a (in)visibilidade da deficiência no contexto universitário; c) discriminação e barreiras atitudinais; d práticas pedagógicas não acessíveis.

a) Os efeitos da meritocracia e do modelo biomédico para a reprodução do capacitismo na universidade

Alguns estudos analisados mostraram que o modo como as universidades têm sido organizadas contribui fortemente à manutenção da meritocracia e à reprodução de práticas baseadas no modelo biomédico. Essas instituições têm sido estruturadas com base em visões elitistas que privilegiam o acesso de certos grupos de pessoas que têm perfis mais condizentes com as características neoliberais e produtivistas presentes no contextodo ensino superior (BÊ, 2019; SINGER; BACON, 2020). Como é relatado por Kruse e Oswal (2018) e Merchant et al. (2020), os departamentos dependem de sua capacidade de recrutar estudantes para obter altas pontuações e produzir trabalhos acadêmicos que são classificados por 'especialistas', a fim de obter mais lucro e prestígio para a universidade. Os estudos de Bolt (2017) e Fernandez (2019) apontam que a deficiência é compreendida como um desvio da ética do ensino superior, que privilegia a habilidade e a perfeição enquanto estigmatiza qualquer sinal de fragilidade intelectual, mental ou física.

Os achados da pesquisa apontam que a presença do capacitismo no ensino superior se dá pela valorização do mérito, da habilidade e da competição, que possuem um alto valor na comunidade universitária. Ademais, reproduzindo a lógica da meritocracia, Inckle (2018), Bê (2019) e Merchant et al. (2020) destacam que o sistema acadêmico recompensa a excelência individual como se esta fosse um fato inato, sendo esperado que um estudante com deficiência se autogerencie, além de tornar invisível o trabalho extra causado pela necessidade de ajustar e criar acesso para si mesmo em um contexto com muitas barreiras.

Além da perspectiva meritocrática, alguns estudos apontaram que o capacitismo se reproduz a partir da concepção do modelo biomédico, que faz parte da estrutura das instituições de ensino superior em suas políticas e práticas (WOLBRING, 2012; HUTCHEON; KRUSE; OSWAL, 2018; FREEDMAN; DOTGER; SONG, 2020). A partir deste modelo, a resposta da universidade a acomodação da deficiência é individualizada, desconsiderando assim o contexto externo que inclui barreiras atitudinais e barreiras causadas pela estrutura institucional. Além disso, a presunção de deficiência como sendo de natureza biomédica tende a moldar que a "evidência" de deficiência em nível individual/biomédico/psicológico (por exemplo, documentação de diagnóstico) seja exigida para receber serviços acessibilidade nas instituições (HUTCHEON; WOLBRING, 2012). Essa compreensão também produz como efeito a medicalização da deficiência, que tem sido compreendida por muitas instituições como única estratégia de obter acesso à educação, conforme apontaram os estudos de Kruse e Oswal (2018) e Friedman, Dotger e Song (2020).

Por fim, Taylor e Shallish (2019), ao tratar do capacitismo nas universidades, abordam a lógica da bio-meritocracia. Esta opera de forma generalizada dentro de sistemas de educação superior, a partir da contínua marginalização dos indivíduos rotulados com deficiências dentro da academia que está ligada a manutenção da supremacia do corpo capaz. Desta forma, em consonância Bê (2019), os estudos revisados como efeito do capacitismo nas universidades a crença fundamental de que as mentes e os corpos precisam ser apressados e corrigidos, ao invés de seus ritmos serem respeitados.

b) A (in)visibilidade da deficiência no contexto universitário

Neste tópico, serão apresentados achados que apontam que a invisibilização da deficiência no contexto acadêmico, em decorrência do capacitismo, corrobora a produção e manutenção de barreiras no ensino superior, conforme estudos de Abes e Wallace (2018), Kruse e Oswal (2018), Bialka et al. (2019), Lynch e Hill (2020), Merchant et al. (2020) e Brckalorenz, Fassett e Hurtado (2020). Esta invisibilização da deficiência é abordada nos estudos analisados em espaços como: salas de aula (ABES; WALLACE, 2018, BIALKA et al., 2019; BRCKALORENZ; FASSETT; HURTADO, 2020), esportes (LYNCH; HILL, 2020), publicidades da universidade (ABES; WALLACE, 2018), websites (MADRIAGA, 2010), pesquisas realizadas na academia (MERCHANT et al., 2020) e interações sociais (KRUSE; OSWAL, 2018).

Em nove dos estudos analisados, a invisibilidade ou hipervisibilidade da deficiência foi retratada com relação às diferentes identidades interseccionais (raça/cor, orientação sexual e classe). Os estudos apontam que os estudantes com deficiência experimentam o apagamento de suas identidades, entretanto os alunos com múltiplas identidades oprimidas - além da de pessoa com deficiência - experimentaram também o apagamento interseccional. Assim, o capacitismo é experimentado de forma desproporcional pelos estudantes cuja deficiência se cruza com identidades privilegiadas ou marginalizadas, moldando a complexidade da experiência da deficiência no ensino superior (CASEMENT; CARPIO DE LOS PINOS; FORRESTER-JONES, 2017; FREEDMAN; DOTGER; SONG, 2020). Estudantes com múltiplas identidades oprimidas frequentemente enfrentam mais barreiras para serem acolhidos na comunidade universitária, conforme destacam os estudos de Casement, Carpio de los Pinos e Forrester-Jones (2017), Abes e Wallace (2018), Brckalorenz, Fassett e Hurtado (2020) e Freedman, Dotger e Song (2020). Isso tende a ocorrer quando raça e deficiência se interseccionam, uma vez que pessoas negras foram historicamente deficientizadas, reforçando ainda mais a vivência do capacitismo por esse grupo social, que a partir de dois aspectos não se enquadram no estereótipo de um estudante universitário (ABES; WALLACE, 2018). Além disso, vale citar o estudo de Brckalorenz, Fassett e Hurtado (2020) junto a população LGBT+ vivendo na universidade, o qual identificou que estudantes LGBT+ com deficiência sofrem mais discriminação do que os sem deficiência.

Outra forma de invisibilização interseccional citada pelas pesquisas é a falta de espaços de discussão e ações contra o capacitismo em comparação a outras opressões como racismo, sexismo, classismo e heteronormatividade (BIALKA et al., 2019; BOLT, 2004). Desta forma, destaca-se, a partir dos estudos revisados, a necessidade de os gestores universitários incorporarem o capacitismo em suas discussões e práticas voltadas à inclusão.

c) Discriminação e barreiras atitudinais

Os estudos analisados mostraram que as interações com os estudantes com deficiência costumam ser de caráter discriminatório, e que eles têm suas capacidades questionadas por conta de suas deficiências, com destaque para os trabalhos de Bulk et al. (2017), Chinyowa (2020) e Ehlinger e Ropers (2020). Esses autores identificaram três formas de discriminação estrutural: a inflexibilidade dos programas de ensino; a burocracia associada com a obtenção de adaptações para a acessibilidade; e as suposições generalizantes referentes às demandas necessárias para a garantia da inclusão. Todas essas têm por base o ideal hegemônico de capacidade, que exclui pessoas comcorpos/mentes considerados desviantes da norma, os quais são posicionados como desadaptados.

O estudo realizado por Hutcheon e Wolbring (2012) em uma universidade canadense mostrou que a discriminação dos estudantes com deficiência é institucionalizada, uma vez que as adaptações para a acessibilidade das pessoas com deficiência são compreendidas como um "fardo" ou uma "obrigação". Quando essas deficiências são invisíveis, como é o caso de estudantes com deficiência psicossocial, torna-se ainda mais difícil a luta pelo direito à acessibilidade, conforme mostrou o estudo realizado por Kruse e Oswal (2018).

Como efeitos da discriminação, os estudos de Bialka et al. (2017) e Bulk et al. (2017) identificaram o estereótipo de que pessoas com deficiência são propensas a ter problemas de saúde mental, o que contribui para perpetuar atitudes discriminatórias. Hartley et al. (2016) destacam que os estereótipos e discriminações aos estudantes com deficiência geram impactos diversos, com destaque para a baixa autoestima da pessoa com deficiência, a redução da sua visão sobre si e sobre a sua autoeficácia. O estudo de Bê (2019) enfatiza que as generalizações acerca da deficiência são produzidas a partir da falta de conhecimento sobre essa experiência, e dificultam a emergência de relações mútuas entre pessoas com e sem deficiência. Ademais, os estudos de Abes e Wallace (2018), Freedman et al., (2020) e Jain (2019) apontaram que um dos efeitos da discriminação e dos estigmas em relação a deficiência é o processo da revelação ou não da deficiência (ABES; WALLACE, 2018; FREEDMAN et al., 2020; JAIN, 2019). Em muitas situações, a revelação da deficiência é evitada com vista a preservar o estudante de todo o estigma relacionado a ela (FREEDMAN et al., 2020).

Outro efeito da discriminação identificado nos estudos foi o de que os estudantes com deficiência, visando minimizar os efeitos do capacitismo, fazem o possível para serem vistos como normais e não como um “peso”, não revelando suas deficiências (KRUSE; OSWAL, 2018; ABES; WALLACE, 2018; FREEDMAN et al., 2020). Assim, esses estudantes invisibilizam suas identidades para a sobrevivência psicológica e física, especialmente quando o capacitismo se intersecciona com outras formas de opressão (ABES; WALLACE, 2018).

As experiências de discriminação por motivo de deficiência produzem um impacto negativo sobre a autoimagem, sobre as crenças no que tange ao desempenho acadêmico, bem como sobre os sintomas de saúde mental dos estudantes com deficiência (BRCKALORENZ; FASSETT; HURTADO 2020; LETT; TAMAIAN; KLEST, 2020). Estes resultados foram apoiados pelos participantes do estudo de Lett et al.(2020), os quais relataram que quanto maior a experiência de discriminação explícita, piores os sintomas de ansiedade e depressão percebidos. Os achados dos autores indicaram que quando as instituições acadêmicas respondem inadequadamente à discriminação, os sintomas de saúde mental e desempenho acadêmico são afetados negativamente.

d) Práticas pedagógicas não acessíveis

Alguns estudos da revisão indicaram que o capacitismo tem sido fortemente reproduzido por meio de práticas pedagógicas inacessíveis aos estudantes com deficiência. Essas são organizadas de modo a atender somente alguns corpos e mentes - que se enquadram no padrão de normalidade - e produzem como efeito a patologização e medicalização da deficiência (BARDEN, 2012, como citado em BÊ, 2019). Autores como Bolt (2004) e Bê (2019) destacam o fato de que, nas universidades, não é adotado uma abordagem teórica que é crítica à representação capacitista da deficiência. Além disso, o currículo acadêmico em si não inclui a história ou experiência de estudantes com deficiência, podendo até excluir pessoas com deficiência das representações disponíveis.

No estudo de Ehlinger e Ropers (2020), o qual levantou as principais barreiras para o aprendizado dos participantes com deficiência, o papel do professor foi um dos temas mais proeminentes, por conta da posição de poder que este ocupa na sala de aula, sendo sua pedagogia uma facilitadora ou uma barreira para os estudantes. Os estudos de Casement, Carpio de los Pinos e Forrester-Jones (2017) e Cox et al. (2020), os quais analisam a realidade dos estudantes com autismo na universidade,identificaram como principais barreiras para o aprendizado tantoas práticas instrucionais que não consideram nem acomodam proativamente as características distintas dos estudantes com autismo comoas barreirasobstaculizadoras da participação dos estudantes em sistemas de grupos grandes e médios. Ademais, relatou-se que os padrões de avaliações dos cursos eram difíceis de lidar, e como consequência disso, alguns alunos do estudo explicam o fracasso na trajetória acadêmica como a sua própria culpa, indicando algum grau de capacitismo internalizado (COX et al., 2020).

As descobertas dos estudos analisados indicam que a abertura dos professores e coordenadores para o acolhimento das necessidades dos estudantes com deficiência é essencial para a inclusão, visto que a inflexibilidade e a inquestionabilidade dos programas educacionais marginalizam e excluem os estudantes com deficiência de forma sistemática (CASEMENT; CARPIO DE LOS PINOS; FORRESTER-JONES, 2017; EHLINGER; ROPERS, 2020; COX et al., 2020). Por fim, a análise da literatura revisada neste tópico indicou que o processo de ensino-aprendizagem nas instituições universitárias vem sendo construído por práticas pedagógicas reprodutoras do capacitismo.

Contribuições para a construção de práticas anticapacitistas

Alguns textos analisados apresentam proposições para a construção de práticas anticapacitistas nas universidades. Esses destacam que é fundamental que os mecanismos de reprodução do capacitismo no contexto universitário sejam visibilizados e que as narrativas que os fundamentam sejam criticamente examinadas. Também enfatizam a importância de se identificar as barreiras vivenciadas cotidianamente por estudantes com deficiência e os impactos dessas nas trajetórias acadêmicas como o primeiro passo para o enfrentamento do capacitismo, bem como enfatizam a importância de se construir as práticas com a participação de pessoas com deficiência.

Os estudos de Cox et al. (2020), Ehlinger e Ropers, (2020), Fernandez (2019) e Kruse e Oswal (2018) apontam a importância da formação de professores para a promoção da inclusão na universidade, uma vez que esses profissionais são importantes mediadores do aprendizado e inclusão dos estudantes com deficiência. Os autores destacam que a comunicação, a disponibilidade para o acolhimento das demandas de acessibilidade e a preocupação com o bem-estar e aprendizagem dos alunos são facilitadores fundamentais nesse processo. Em consonância, Fernandez (2019) afirma que “os educadores precisam conceber abordagens pedagógicas inclusivas que reconheçam e abracem as diferenças individuais entre os estudantes” (p. 5, tradução nossa). Nessa direção, Freedman et al. (2020) propõe uma pedagogia mais acessível a partir da utilização do desenho universal, o qual fornece um meio para repensar as acomodações individuais em favor da construção de ambientes universitários que incluam e valorizem a deficiência. Assim, o pessoal de serviços para pessoas com deficiência e os membros do corpo docente podem trabalhar em conjunto para projetar políticas flexíveis de cursos que reduzem as barreiras para acomodar as necessidades dos estudantes com deficiências.

Alguns autores também destacam a importância de se visibilizar a deficiência e outras identidades marginalizadas para o combate ao capacitismo (CASEMENT; CARPIO DE LOS PINOS; FORRESTER-JONES, 2017; ABES; WALLACE, 2018, WALLACE, 2018; BRCKALORENZ; FASSETT; HURTADO, 2020; FREEDMAN, DOTGER; SONG, 2020). Com relação a invisibilidade interseccional, Abes e Wallace (2018) apontam para a necessidade de os educadores serem parceiros dos estudantes na busca por suas identidades, nomeando os sistemas de opressão que tornam os estudantes invisíveis, criando espaços para que tragam a multiplicidade de elementos que os constituem, e valorizando a deficiência como uma identidade social interseccional. Os autores destacam que as pessoas sem deficiência também devem se engajar no combate ao capacitismo, o que coaduna com a proposta de Gesser, Block e Mello (2020) que, baseadas na premissa de que o capacitismo é estrutural e interseccional, defendem a premissa de coalizões para o fortalecimento das lutas anticapacitistas.

Outra estratégia de enfrentamento do capacitismo nas universidades, apresentada por um dos estudos analisados, é a oferta de cursos sobre a temática. Bialka et al. (2019) relataram um trabalho de aplicação do Service Learning o qual ofereceu a oportunidade para que os estudantes relacionassem as experiências de campo relacionadas à deficiência ao conteúdo do curso que versava sobre o capacitismo. Ehlinger e Ropers (2020) propõem o desenvolvimento de atividades de colaboração entre colegas de classe com e sem deficiência como forma de combate ao capacitismo.

O estudo de Hartley et al. (2016) apontou a relevância de se utilizar mídias sociais produzidas e divulgadas por estudantes com deficiência na luta contra o capacitismo. O estudo dos autores mostrou que a utilização destas mídias impacta na identidade coletiva dos estudantes com deficiência e seu senso crítico. Essas mídias também contribuíram para facilitar a divulgação do ponto de vista dos estudantes com deficiência para a comunidade universitária, oferecendo um grande potencial para resistir a representações simplistas da deficiência, para contestar o capacitismo e as suposições epistemológicas associadas que posicionam os indivíduos com deficiência como inferiores aos indivíduos sem deficiência.

As contribuições para práticas que colaborem com a revelação da deficiência no ambiente universitário sem discriminação e frustrações para os estudantes com deficiência são destacadas por Blockmans (2015) e Kruse e Oswal (2018). Este último autor relata que algumas universidades belgas distribuem folhetos entre todos os estudantes sobre "como estudar com deficiência funcional, praticar esportes ou artes" em dias aleatórios e na matrícula (não fazendo distinção entre estudantes com base em suposições de deficiência), e reiteram que estão disponíveis para acolherem estudantes com deficiência em seus escritórios que oferecem serviços para esse público. O artigo de Bulk et al. (2017) aponta que a relação da pessoa com deficiência com os serviços da universidade melhora ao fornecer uma oportunidade de ser acolhido por alguém de seu próprio grupo minoritário. Neste sentido, o artigo de Bialka et al. (2017) destaca a contribuição de organizações estudantis de alunos com deficiência à inclusão destes na universidade, contribuindo para que os estudantes se sintam incluídos e formem relações significativas entre eles. Também, o estudo de Hutcheon e Wolbring (2012) apresenta como contribuição a inclusão de estudantes universitários com deficiência na formulação de políticas universitárias voltadas à construção da acessibilidade, pois são os mais informados sobre suas próprias necessidades (HUTCHEON; WOLBRING, 2012).

Por fim, alguns estudos destacam a necessidade de mudanças estruturais nas universidades. Merchant et al. (2020) e Brckalorenz, Fassett e Hurtado (2020) apontam que é necessária uma mudança nos valores da instituição e destacam que essa só ocorrerá quando as pessoas com deficiência estiverem presentes no ensino superior, nos espaços políticos, e nos cargos seniores. Por conseguinte, outra pesquisa de Koren e Evans-El (2020) aborda que todos os atores institucionais devem ter um papel ativo para assegurar a equidade e o acesso dos estudantes com deficiência, rompendo-se com a ideia de que o apoio a eles é da responsabilidade somente de serviços de deficiência.

Os resultados deste estudo mostram a potência da categoria capacitismo como uma lente analítica voltada à visibilidade dos processos opressivos vivenciados por pessoas com deficiência no ensino superior. Também destacam a necessidade de se romper com o modelo biomédico e centrar a compreensão da deficiência como uma categoria interseccional. Por fim, os estudos destacam a relevância de se incluir as pessoas com deficiência nas políticas universitárias, coadunando com o lema do movimento político das pessoas com deficiência "Nada sobre nós, sem nós".

Considerações finais

Esta revisão integrativa de literatura que teve como objetivo caracterizar a produção científica referente ao capacitismo no ensino superior quanto às perspectivas conceituais, as principais implicações para as pessoas com deficiência e os elementos que corroboram a construção de práticas anticapacitistas. Observou-se a prevalência de estudos norte-americanos e europeus em contraste com a ausência de estudos nacionais, o que pode estar relacionado ao fato de muitos estudos brasileiros utilizarem a categoria “barreiras atitudinais”. Sem negar a importância de estudos que utilizaram a categoria barreiras atitudinais, decidimos utilizar, nesta revisão integrativa, a categoria capacitismo por ela ter sido desenvolvida por autores com deficiência; ser utilizada por ativistas da deficiência para visibilizar os processos de opressão e privilégio decorrentes de ser ou não pessoa com deficiência; ser amplamente utilizada na literatura internacional; e pelo potencial político e interseccional que ela oferece, já destacado pelas primeiras autoras que introduziram essa categoria no âmbito acadêmico (DIAS, 2013; MELLO, 2016).

A partir da análise dos artigos, foi possível identificar que o capacitismo é amplamente caracterizado a partir do seu caráter binário capacidade/incapacidade. Assim, as pessoas sem deficiência são consideradas o “padrão” de capacidade e as pessoas com deficiência são caracterizadas como incapazes. Alguns estudos também destacaram o capacitismo como um sistema que privilegia corpos capazes e discrimina corpos com deficiência. Ainda em relação à conceituação do capacitismo, foram identificados estudos que situam o capacitismo como um sistema de opressão que se intersecciona com o racismo, o sexismo, a LGBTfobia e o classismo. A análise dos artigos também aponta a relevância de os estudos sobre a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior brasileiro incorporarem a categoria capacitismo a fim de complexificar suas análises sobre os processos de opressão vivenciados por pessoas com deficiência neste contexto.

Os estudos analisados indicaram que o capacitismo está amplamente presente nas instituições de ensino superior, e que sua reprodução deve ser compreendida a partir das características neoliberais e produtivistas presentes nas universidades. A compreensão da deficiência circunscrita a um problema médico/individual atravessa tanto os serviços voltados à inclusão dos estudantes com deficiência como também as práticas pedagógicas, produzindo como efeito a busca pela medicalização da deficiência e dificultando a compreensão dela como uma categoria identitária. Quando a deficiência se intersecciona com outros marcadores identitários, o processo de exclusão tende a ser amplificado, uma vez que há uma tendência de que a deficiência seja hipervisibilizada (como um problema médico) e as demais características identitárias fiquem invisíveis. A partir do campo dos estudos feministas da deficiência, é possível afirmar que o capacitismo contribui para deslegitimar a luta política das pessoas com deficiência vinculadas à universidade pelo direito à acessibilidade.

A pesquisa indicou importantes contribuições para a construção de práticas anticapacitistas no âmbito do ensino superior, sendo essas circunscritas: a) a construção de programas de formação voltados ao exame das compreensões acerca da deficiência e outras diferenças; b) a construção de pedagogias acessíveis voltadas ao acolhimento de estudantes com corporalidades múltiplas; c) a organização do espaço físico para facilitar a participação dos estudantes aos diversos espaços da universidade; d) a criação de centros culturais para que estudantes com deficiência possam se encontrar; e) a incorporação da perspectiva interseccional em todas as práticas voltadas às pessoas com deficiência.

Apesar de as informações obtidas nesta pesquisa responderem aos objetivos do estudo, acredita-se que mais pesquisas devam ser realizadas no contexto brasileiro e latino-americano, para abranger a realidade desses diferentes contextos. Como vieses desta revisão integrativa, destacam-se as bases de dados selecionadas, a limitação de busca por estudos em somente três idiomas (português, inglês e espanhol). Sugere-se que revisões futuras possam ampliar o alcance para abarcar estudos publicados em literatura cinzenta, como livros e documentos oriundos de programas de pós-graduação, assim como estudos compostos por outros descritores semelhantes para o termo capacitismo. Ademais, reitera-se a necessidade de se desenvolver mais estudos relacionados a reprodução do capacitismo e a sua relação com o poder biomédico e a ideologia da meritocracia no contexto universitário, visto que a medicalização das pessoas com deficiência e, muitas vezes, a redução dessa experiência a uma tragédia médica, ainda predominam no contexto do ensino superior.

Referências

ABES, Elisa S; WALLACE, Michelle M. “People see me, but they don’t see me”: an intersectional study of college students with physical disabilities. Journal of College Student Development, v. 59n. 5, p. 545-562, Set. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1353/csd.2018.0052 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BÊ, Ana. Ableism and disablism in higher education: the case of two students living with chronic illnesses. Alter, v. 13, n. 3, p. 179-191, Ago. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.alter.2019.03.004 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BIALKA, Christa S., et al. Breaking barriers and building bridges: understanding how a student organization attends to the social integration of college students with disabilities. The Journal of Postsecondary Education and Disability. Huntersville, v. 30, n. 2, p. 157-172, 2017. Disponível em: <Disponível em: https://eric.ed.gov/?id=EJ1153574 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BLACKMORE, Paul. Prestige in academic life: excellence and exclusion. London e New York: Routledge, 2016. [ Links ]

BLOCKMANS, Inge G. E. “Not wishing to be the white rhino in the crowd”: disability-disclosure at university. Journal of Language and Social Psychology, Belgium, v. 34, n. 2, p. 158-180, 2015. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1177/0261927X14548071 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BRCKALORENZ, Allison, FASSETT, Kyle T. & HURTADO, Sarah S. Supporting LGBQ+ students with disabilities: exploring the experiences of students living on campus. The Journal of College and University Student Housing. v. 46 n. 3, p. 78-91, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://eric.ed.gov/?id=EJ1250900 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BROWN, Nicole; LEIGH, Jennifer. Ableism in academia: where are the disabled and ill academics? Disability and Society. London, v. 33, n. 6, p. 985-989, Abr. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2018.1455627 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BROWN, Nicole. Theorizing ableism in academia. In: BROWN, Nicole e LEIGH, Jennifer. Ableism in Academia. London: UCL Press, 2020. p. 1-10. [ Links ]

BOCK, Geisa, KEMPFER, Letícia, GESSER, Marivete e NUERNBERG, Adriano Henrique. Desenho Universal para a Aprendizagem: a Produção Científica no Período de 2011 a 2016. Revista Brasileira de Educação Especial. Baurú, v. 24, n. 1, p. 143-160, jan. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-65382418000100011 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BOLT, David. Disability and the rhetoric of inclusive higher education. Journal of Further and Higher Education. London, v. 28, n. 4, p. 353-358, Nov. 2004. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/0309877042000298849 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BOLT, David. Enabling the classroom and the curriculum: higher education, literary studies and disability. Journal of Further and Higher Education. London, 41(4), 556-565, Mar. 2016. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/0309877X.2015.1135888 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

BRASIL. Ministério da Educação. Documento orientador Programa Incluir - Acessibilidade na educação superior SECADI/SESU. 2013. Disponível em: <Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13292-doc-ori-progincl&category_slug=junho-2013-pdf&Itemid=30192 >. Acesso em: 21 jan. 2021. [ Links ]

BRASIL. Secretaria Geral. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, 2015. Disponível em: <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm >. Acesso em: 24 jul. 2021. [ Links ]

BULK, Laura Yvonne, et al. “We are not anything alike”: marginalization of health professionals with disabilities. Disability & Society. London, v. 32, n.5, p. 615-634, abr. 2017. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2017.1308247 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

CADWALLADER, Jessica Robyn. Stirring up the sediment: The corporeal pedagogies of disabilities. Discourse, v. 31, n. 4, p. 513-526, set. 2010. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/01596306.2010.504366 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

CAMPBELL, Fiona Kumari. Inciting Legal Fictions: ‘Disability's Date with Ontology and the Ableist Body of the Law. Griffith Law Review, London, v. 10, n.1, p. 42-62, 2001. Disponível em: <Disponível em: http://hdl.handle.net/10072/3714 >. Acesso em: 18 nov. 2019. [ Links ]

CAMPBELL, Fiona Kumari. Exploring internalized ableism using critical race theory. Disability & Society, v. 23, n. 2, p. 151-162, mar. 2008. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687590701841190 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

CASEMENT, Sue; CARPIO DE LOS PINOS, Carmen; FORRESTER-JONES, Rachel. Experiences of university life for students with Asperger’s Syndrome: a comparative study between Spain and England. International Journal of Inclusive Education, v. 21, n. 1, p. 73-89, 2017. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/13603116.2016.1184328 >. Acesso em: 22 jan. 2021. [ Links ]

CHIANG, Evelyn S. Disability cultural centers: How colleges can move beyond access to inclusion. Disability & Society. London, v. 35, n. 7, p. 1183-1188, Out. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2019.1679536 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

CHINYOWA, Kennedy. A Technology of the self and the other: A case study on disabled body politics among university students. International Journal of Disability, Development and Education. p. 1-10, Jul. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/1034912X.2020.1779916 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

COOPER, Harris. The integrative research review: a systematic approach. Beverly Hills: Sage, 1984, 143p. [ Links ]

COX, Bradley E.; et al. Navigating challenges to facilitate success for college students with autism. Journal of Higher Education, v. 92. n. 2, p. 25-278, Ago. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/00221546.2020.1798203 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

DIAS, Adriana. Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal a narrativa capacitista social. In: I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS SOBRE A DEFICIÊNCIA SEDPCD/DIVERSITAS/USP, 2013.Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência SEDPcD/Diversitas/ 2013USP: São Paulo, p. 1-14. [ Links ]

EHLINGER, Emily; ROPERS, Rebecca. “It’s All About Learning as a Community”: Facilitating the Learning of Students with Disabilities in Higher Education Classrooms. Journal of College Student Development, Baltimore, v. 61, n. 3, 333-349, Mai. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1353/csd.2020.0031 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

FERNANDEZ, Stephen. Making space in higher education: disability, digital technology, and the inclusive prospect of digital collaborative making. International Journal of Inclusive Education, p. 1375-1390, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/13603116.2019.1610806 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

FREEDMAN, Justin E.; DOTGER, Benjamin H.; SONG, Yosung. Encountering ableism in the moment: how university students discuss accommodations with faculty members. Critical Education, v. 11, n. 15, p. 21-37, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://ices.library.ubc.ca/index.php/criticaled/article/view/186504 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

GESSER, Marivete; BLOCK, Pamela; MELLO, Anahi Guedes de. (2020). Estudos da Deficiência: interseccionalidade, anticapacitismo e emancipação social. In: GESSER, Marivete; BÖCK, Geisa; KEMPFER, Letícia; LOPES, Paula Helena. (Org.). Estudos da Deficiência: interseccionalidade, anticapacitismo e emancipação social. Curitiba: CRV., 2020, p. 17-35. [ Links ]

GOMES, Elihab Pereira; et. al. Processos de inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior: Uma revisão sistemática. Research, Society and Development. Itajubá, v. 10, n. 8, p. 1-9, jul. 2021. Disponível em: <Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i8.16977 >. Acesso em: 23 ago. 2021. [ Links ]

HARTLEY, Michael T.; et al. Digital media education and advocacy: addressing attitudes toward disability on college campuses. The Journal of Postsecondary Education and Disability, v. 29, n. 3, p. 239-247, ago. 2016. Disponível em: <Disponível em: https://eric.ed.gov/?id=EJ1123800 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

HUTCHEON, Emily J.; WOLBRING, Gregor. Voices of “disabled” post-secondary students: Examining higher education “disability” policy using an ableism lens. Journal of Diversity in Higher Education, v. 5, n. 1, p. 39-49, 2012. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1037/a0027002 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da Educação Superior 2021. Brasília: Inep. 2022. Disponívelem:Disponívelem:https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2021/apresentacao_censo_da_educacao_superior_2021.pdf . Acesso em: 25 março de 2023. [ Links ]

INCKLE, Kay. Unreasonable adjustments: the additional unpaid labour of academics with disabilities.Disability & Society. London, v. 33, n. 8, p. 1372-1376, mai. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2018.1480263 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

JAIN, Neera R. Political disclosure: resisting ableism in medical education. Disability & Society. London, v. 35, n. 3, p. 389-412, Aug. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2019.1647149 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

LETT, Kayla; TAMAIAN, Andreea, & KLEST, Bridget. Impact of ableist microaggressions on university students with self-identified disabilities. Disability & Society. London, v. 35, n. 9, p. 1441-1456, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2019.1680344 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

LIVINGSTON, Kathy. When architecture disables: teaching undergraduates to perceive ableism in the built environment. Teaching Sociology. Washington, D.C., v. 28, n. 3, p. 182-191, jul. 2000. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.2307/1318988 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

KATTARI, Shanna K. Examining ableism in higher education through social dominance theory and social learning theory. Innovative Higher Education. v. 40, n. 5, p. 375-386, fev. 2015. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10755-015-9320-0 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

KOREN, Emily R.; EVANS-EL, S. E. Xhey. Laissez-faire ableism in the academy: Contouring the map with graduate student perspectives. Critical Education. v. 11, n. 14, p. 14-30, ago. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://ices.library.ubc.ca/index.php/criticaled/article/view/186519 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

KRUSE, Allison K.; OSWAL, Sushil K.S. Barriers to higher education for students with bipolar disorder: A critical social model perspective. Social Inclusion. v. 6, n. 4, 194-206, dez. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.17645/si.v6i4.1682 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

LYNCH, Shrehan; HILL, Joanne. ‘I had to pop a wheelie and pay extra attention in order not to fall:’ embodied experiences of two wheelchair tennis athletes transgressing ableist and gendered norms in disability sport and university spaces. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health. p. 1-14, fev. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/2159676x.2020.1731575 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

MADRIAGA, Manuel. “I avoid pubs and the student union like the plague”: Students with Asperger syndrome and their negotiation of university spaces. Children’s Geographies. v. 8, n. 1, p. 39-50, jan. 2010. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/14733280903500166 >. Acesso em: 20 jan. 2021. [ Links ]

MAZERA, Maiara Suelen; SCHNEIDER, Dulcinéia Ghizoni; PADILHA, Maria Itayra. Política de acesso, acessibilidade e inclusão educacional da pessoa com deficiência: revisão integrativa. Revista Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, v. 29, n. 1, 2021. Disponível em:<Disponível em:https://doi.org/10.12957/reuerj.2021.55486 >. Acesso em: 02 nov. 2021. [ Links ]

MELLO, Anahi Guedes de. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciênc. saúde coletiva. Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3265-3276, out. 2016. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320152110.07792016 >. Acesso em: 02 ago. 2017. [ Links ]

MERCHANT, Wendy; et. al. The insider view: tackling disabling practices in higher education institutions. Higher Education. v. 80, n. 2 p. 273-287, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10734-019-00479-0 >. Acesso em: 22 jan 2021. [ Links ]

MORAES, Marcia. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In: MORAES, Marcia; KASTRUP, Virginia (org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau. 2010. p. 26-51. [ Links ]

NACHMAN, Brett Ranon; BROWN, Kirsten R. Omission and othering: constructing autism on community college websites. Community College Journal of Research and Practice. v. 44, n. 3, p. 211-223, jan. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/10668926.2019.1565845 >. Acesso em: 22 jan 2021. [ Links ]

ROJAS, Yennifer Paola Villa. Ammarantha Wass: trans-crooked experience of a teacher at the universidad pedagógica nacional (UPN). Nómadas. n. 52, p. 243-255, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.30578/nomadas.n52a14 >. Acesso em: 22 jan 2021. [ Links ]

SINGER, Steven J.; BACON, Jessica K. Ableism in the academy: a series about disability oppression and resistance in higher education. Critical Education. v. 11, n. 14, p. 1-13, ago. 2020. Disponível em: <Disponível em: https://ices.library.ubc.ca/index.php/criticaled/article/view/186616 >. Acesso em: 22 jan 2021. [ Links ]

TAYLOR, Sunaura. Beasts of Burden: Animal and Disability Liberation. 2017 New York: The New Press. [ Links ]

TAYLOR, Ashley; SHALLISH, Lauren. The logic of bio-meritocracy in the promotion of higher education equity. Disability & Society. London, 1-24, mai. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://doi.org/10.1080/09687599.2019.1613962 >. Acesso em: 23 jan 2021. [ Links ]

Recebido: 14 de Dezembro de 2022; Aceito: 02 de Fevereiro de 2023; Publicado: 23 de Maio de 2023

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons