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Motrivivência

versão On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.32 no.63 Florianópolis  2020  Epub 01-Set-2020

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020.e71704 

Artigo Original

Conteúdos pedagógicos nas competições infantojuvenis de futebol e futsal: um estudo comparativo

Pedagogical contents in soccer and futsal junior competitions: a comparative study

Contenidos pedagógicos en competencias de fútbol y futsal infantil y juvenil: un estudio comparativo

Gabriel Henrique Treter Gonçalves1 
http://orcid.org/0000-0001-8048-7565

Rodrigo Vieira Bulso2 
http://orcid.org/0000-0002-7555-3094

Leandro Teixeira Floriano1 
http://orcid.org/0000-0002-2767-5724

Carlos Adelar Abaide Balbinotti2 
http://orcid.org/0000-0002-6358-1848

1Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Departamento de Educação Física, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


RESUMO

Este estudo tem como objetivo descrever e comparar os níveis de favorecimento ao desenvolvimento de conteúdos pedagógicos nas competições infantojuvenis de futebol e futsal, a partir da opinião de treinadores. Foi aplicada a Bateria de Testes Gonçalves-Balbinotti de Favorecimento ao Desenvolvimento de Conteúdos Pedagógicos do Esporte Infantojuvenil (BTGB-CP). Participaram do estudo 32 treinadores de futebol (n = 16) e futsal (n = 16) brasileiros, que atuam com crianças e jovens participantes de competições das respectivas modalidades. De modo geral, as competições de futebol e futsal parecem contribuir de forma satisfatória para o desenvolvimento dos conteúdos pedagógicos: Habilidades Motoras; Estratégico-Tático; Socioeducativo; Autonomia; Afetivo-social; Democratização. Entretanto, os resultados evidenciaram que as competições de futsal contemplam o desenvolvimento de conteúdos pedagógicos em maior quantidade e nível quando comparado ao futebol.

PALAVRAS-CHAVE: Esportes; Competição; Ensino; Futebol; Futsal

ABSTRACT

The aim of this study is to describe and compare the levels of support of pedagogical contents development in soccer and futsal junior competitions according to coaches’ opinions. The Gonçalves-Balbinotti Test Battery for Favoring the Development of Pedagogical Contents in Sports Among Children and Youth (BTGB-CP) was applied. Thirty-two Brazilian soccer (n = 16) and futsal (n = 16) coaches participated in the study. All of them work with children and youngsters who compete in their respective sport. In general, soccer and futsal competitions seem to contribute in a satisfactory way to the development of pedagogical contents: Motor Skills; Strategic-Tactical; Socio-Educational; Autonomy; Affective-social; Democratization. However, the results showed that futsal competitions contemplate the development of pedagogical contents in greater quantity and level when compared to soccer.

KEYWORDS: Sports; Competition; Teaching; Soccer; Futsal

RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo describir y comparar los niveles de favorecimiento al desarrollo de contenidos pedagógicos en competencias de fútbol y futsal para niños y jóvenes, basado en la opinión de los entrenadores. Se aplicó la Batería de Pruebas Gonçalves-Balbinotti de Favorecimiento al Desarrollo de Contenidos Pedagógicos en el Deporte Infantojuvenil (BTGB-CP). En el estudio participaron 32 entrenadores brasileños de fútbol (n = 16) y futsal (n = 16), que trabajan con niños y jóvenes que participan en competencias de las modalidades respectivas. En general, las competencias de fútbol y futsal parecen contribuir satisfactoriamente al desarrollo de contenidos pedagógicos: Habilidades Motoras; Estratégico-Táctico; Socioeducativo; Autonomía; Afectivo-social; Democratización. Sin embargo, los resultados mostraron que las competencias de futsal contemplan el desarrollo de contenidos pedagógicos en mayor cantidad y nivel en comparación con el fútbol.

PALABRAS-CLAVE: Deportes; Competición; Enseñanza; Fútbol; Futsal

INTRODUÇÃO

A competição esportiva pode ser um instrumento pedagógico fundamental para a formação das crianças e jovens em suas diferentes dimensões - cognitivo-motora, socioafetiva e ético-moral. Além disso, a competição esportiva dá sentido a todo o processo de treinamento e preparação devendo, portanto, ser contemplada desde a iniciação esportiva (MARQUES, 2004). Para tanto, é necessário, inicialmente, estabelecer objetivos à prática competitiva. Estas especificações, além de orientarem a gestão pedagógica das competições esportivas, auxiliam na definição e no estabelecimento dos conteúdos que serão desenvolvidos (WIERSMA, 2005).

Tudo aquilo que pode ser exercitado de forma intencional e conduzido pela prática esportiva e seus atores é denominado conteúdo pedagógico (CP). Gonçalves (2018), por meio de uma revisão de literatura, identificou que os CP mais citados por autores especialistas em Pedagogia do Esporte são: Desenvolvimento de Habilidades Motoras (HM), compreendidas como as habilidades de realizar movimentos corporais com certa eficiência, constituindo uma ação intencional a fim de alcançar um objetivo estabelecido (TANI; CORRÊA, 2016); Desenvolvimento Estratégico-Tático (ET), definidos como os processos relacionados à percepção, análise e tomada de decisão, estando fortemente vinculados à cognição (SILVA; GRECO, 2009); Desenvolvimento Socioeducativo (SE), caracterizado fundamentalmente pelo desenvolvimento de valores e comportamentos intrínsecos à prática esportiva; Desenvolvimento de Autonomia (Au), expresso pela possibilidade e capacidade que a criança ou adolescente tem de tomar decisões e expressar ideias, a partir de suas convicções e vontades (NEWTON; DUDA; YIN, 2000); Desenvolvimento Afetivo-Social (AS), associado aos relacionamentos interpessoais e senso de conexão com os outros (ALVES; RODRIGUES; VIEIRA, 2013); Democratização (De), que refere-se à possibilidade de inclusão e participação efetiva do maior número de praticantes possível, incentivando a diversidade e a pluralidade no esporte (VERMEULEN; VERWEEL, 2009).

Partindo desse levantamento, Gonçalves (2018) desenvolveu um modelo teórico-explicativo multidimensional relativo ao Favorecimento ao Desenvolvimento de Conteúdos Pedagógicos no Esporte Infantojuvenil (Figura 1). Este modelo relaciona conteúdos pedagógicos gerais (CPG) - Desenvolvimento Técnico-Tático (DTT), Desenvolvimento de Autonomia Ético-Moral (DAEM) e Desenvolvimento de Coesão (DCo) - aos seis CPE citados anteriormente. Esta proposta corrobora com o modelo sugerido por Côté e Hancock (2014), os quais afirmam que uma mesma prática pode, simultaneamente, contribuir com o desenvolvimento e alcance de diferentes desfechos - no caso Performance, Desenvolvimento Pessoal e Participação.

Fonte: Gonçalves (2018)

Figura 1 Modelo Teórico-Explicativo Multidimensional de Favorecimento ao Desenvolvimento de Conteúdos Pedagógicos no Esporte Infantojuvenil 

Para que estes diferentes CP sejam contemplados nas competições esportivas infantojuvenis e, assim, contribuam para a formação esportiva de crianças e jovens, é necessário romper com modelos competitivos tradicionais - que reproduzem sistemas adultos -, e adotar estruturas de desenvolvimento esportivo que busquem atender adequadamente aos interesses e necessidades dos praticantes (BERGERON et al., 2015). Algumas propostas nestes moldes já vêm sendo aplicadas em modalidades esportivas específicas (ARENA; BÖHME, 2004; MILISTETD et al., 2014).

Especificamente relacionado a competições de futebol e futsal, pouco se tem produzido. Milistetd et al. (2014) identificaram que as federações paranaenses responsáveis pelas competições destas modalidades propunham poucas adequações estruturais e funcionais quando comparadas a outros esportes coletivos, como basquetebol, handebol e voleibol. O futebol apresentava alteração no tempo de jogo, enquanto o futsal, além do tempo de jogo, alterava o peso e tamanho da bola, além de tornar obrigatória a participação efetiva de todos os jogadores inscritos. Seriam estas adequações suficientes para favorecer o desenvolvimento dos diferentes CP?

Diante dos motivos a seguir: a) o contexto histórico-cultural, pelo fato do futsal ter sido concebido, inicialmente, enquanto uma versão reduzida do futebol, por necessidades e condições do contexto local; b) a indicação por parte das novas propostas em pedagogia do esporte de que a adequação da complexidade tática, através da redução do espaço de jogo e número de jogadores, pode contribuir para o desenvolvimento de jogadores; c) as diversas similaridades e relações entre aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos, destacando-se fundamentos técnicos; lógicas internas pautadas por princípios táticos gerais, operacionais e fundamentais comuns; caracterização do esforço físico; valências físicas predominantes e decisivas; além da já evidenciada transição de atletas entre as modalidades; e d) a extensa gama de estudos comparativos existentes entre as modalidades; a comparação entre as formatações de ambas as competições - no sentido da formação de atletas através do favorecimento ao desenvolvimento de diferentes conteúdos pedagógicos do esporte - pode contribuir cientificamente com as discussões acerca das modalidades e complementar conhecimentos já consolidados. Assim, o presente estudo tem por objetivo descrever e comparar os níveis de favorecimento ao desenvolvimento de conteúdos pedagógicos nas competições infantojuvenis de futebol e futsal, a partir da opinião de treinadores.

MÉTODO

Caracterização do estudo

O estudo se caracteriza por ser de natureza quantitativa, a partir da aplicação de escalas. Este tipo de estudo é considerado por diversos autores (ANASTASI; URBINA, 2000; CUNHA, 2000; BALBINOTTI, 2001; 2005) como uma das formas mais objetivas e sistemáticas de acesso à informação. No entanto, é fundamental que sejam verificadas as qualidades psicométricas dos instrumentos, mais especificamente, neste caso, aquelas relativas à confiabilidade dos dados, diminuindo as chances de erros e vieses na pesquisa (PASQUALI, 2010).

Amostra

A amostra foi composta por 32 treinadores - todos brasileiros, do sexo masculino, com idades variando de 23 a 58 anos (= 31,3; DP = 10,8) e com tempo de experiência como treinador entre 1 e 40 anos (= 14,2; DP = 10,0). Destes, 30 treinadores possuíam graduação em Educação Física (sendo 19 especialistas e 4 mestres), e 2 possuíam o segundo grau completo. A seleção dos participantes do estudo foi determinada por conveniência (não aleatória), mas com o cuidado de evitar grupos de classes especiais. Todos os profissionais envolvidos na pesquisa trabalhavam em clubes, escolas esportivas ou escolas e conduziam treinamentos específicos para categorias de base no futebol (n = 16) e futsal (n = 16).

Instrumentos

Para obtenção dos dados foram utilizados dois instrumentos: 1) questionário bio-sócio-demográfico utilizado para controle das variáveis dependentes: sexo, idade, tempo de experiência e modalidade esportiva; e 2) Bateria de Testes Gonçalves-Balbinotti de Favorecimento ao Desenvolvimento de Conteúdos Pedagógicos no Esporte Infantojuvenil (BTGB-CP) (GONÇALVES; BALBINOTTI, 2016).

A BTGB-CP é composta por seis escalas independentes, as quais são relativas aos seis conteúdos pedagógicos mais citados pela literatura especializada: HM, ET, SE, Au, AS e De. Os 10 itens da primeira escala tratam dos aspectos relativos ao desenvolvimento de habilidades motoras (ex.: A prática avaliada estimula o desenvolvimento de variadas habilidades motoras). Os 11 itens da segunda escala tratam dos aspectos relativos ao desenvolvimento estratégico-tático (ex.: A prática analisada é adequada para que os participantes consigam aplicar seus conhecimentos táticos). Os 8 itens da terceira escala tratam dos aspectos socioeducativos (ex.: A prática analisada estimula o respeito ao adversário). Os 10 itens da quarta escala tratam dos aspectos relacionados ao desenvolvimento de autonomia dos participantes (ex.: A prática analisada permite que os participantes contribuam com a arbitragem). Os 10 itens da quinta escala tratam dos aspectos afetivo-sociais (ex.: A prática analisada estimula o trabalho em equipe). Por fim, os 10 itens da sexta escala tratam da democratização da prática esportiva (ex.: A prática analisada estimula a participação independentemente do nível técnico). Todos os itens deveriam ser respondidos conforme uma escala do tipo Likert graduada em 6 pontos, indo de (1) “Discordo fortemente” até (6) “Concordo fortemente” que [*item*]. Cada escala foi analisada individualmente com escore bruto elevado indicando um alto nível de favorecimento ao desenvolvimento do conteúdo pedagógico em questão.

Procedimentos de coleta e análise de dados

Os dados foram coletados de forma presencial, por meio do preenchimento dos instrumentos impressos, ou não-presencial, por meio de formulário on-line, o que possibilitou o acesso a treinadores de diferentes regiões do país. Inicialmente, foi realizado um contato prévio, por e-mail, com clubes, escolas e treinadores no intuito de verificar a disponibilidade em participarem do estudo. Neste primeiro contato foram apresentados o tema e os objetivos do trabalho. Os treinadores selecionados foram informados que estariam livres para desistir da pesquisa a qualquer momento, caso desejassem. Com a concordância expressa, solicitou-se que os treinadores assinassem ou assinalassem seu consentimento de acordo um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual assegurava a confidencialidade de suas respostas. Os procedimentos realizados, e aqui descritos, foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob o número de referência 271.526.

Para a realização da análise dos dados, utilizaram-se os softwares SPSS (Versão 21.0) e Jamovi (Versão 1.1.9). A fim de responder adequada e minuciosamente ao objetivo geral desta pesquisa, realizou-se a exploração dos escores obtidos pela BTGB-CP segundo princípios comumente aceitos na literatura especializada (REIS, 2000; PESTANA; GAGEIRO, 2014). Inicialmente foram realizadas análises prévias, referentes ao comportamento de resposta aos itens, a fim de se identificar eventuais problemas quanto à variabilidade de respostas e normalidade dos dados. Também foram calculados os coeficientes alpha de Cronbach, com o intuito de se atestar a confiabilidade dos dados obtidos. Foram realizados os cálculos relativos à estatística descritiva - apresentados em Média, Desvio-Padrão, Média aparada a 5% e Mediana - para ambos os CPG e CPE, bem como para a BTGB-CP completa, por modalidade. Ainda, realizou-se testes t para amostras independentes, para a comparação dos índices encontrados para a BTGB-CP, CPG e CPE entre as modalidades e testes t pareados para comparações entre CPG e CPE intragrupos. Por fim, foram realizados os cálculos relativos ao tamanho do efeito (d de Cohen), para todas as comparações, pois estes sofrem menor influência do tamanho amostral (ESPÍRITO-SANTO; DANIEL, 2015).

Confiabilidade dos dados

Anteriormente à realização do presente estudo, a BTGB-CP passou por um processo de validação relativo a seu conteúdo (CVC > 0,9; K = 0,822), estrutura interna (matrizes limpas; Satf > 0,40), estabilidade do modelo (X2/gl < 1,567; AGFI > 0,992; RMSEA < 0,052; CFI > 0,994) e fidedignidade (αHM = 0,869; αET = 0,921; αSE = 0,889; αAu = 0,870; αAS = 0,936; αDe = 0,915), apresentando resultados satisfatórios em todos os quesitos (GONÇALVES, 2018). Coube ao presente estudo realizar uma análise preliminar para conhecimento dos dados, bem como uma análise da confiabilidade (fidedignidade) das escalas da BTGB-CP com base nos dados obtidos.

Inicialmente, as médias encontradas para cada um dos 59 itens estudados individualmente variaram entre 2,62 e 5,28, com desvios-padrão associados variando entre 0,81 e 1,96. Esses resultados preliminares são considerados satisfatórios, pois não houve aderência predominante (seja positiva ou negativa) a nenhum dos itens isolados - itens com médias muito próximas aos valores extremos (1 ou 6). Ainda, como demonstrado pelo gráfico de bigodes (Figura 2), não foi identificada a presença de qualquer caso extremo ou outlier nas respostas de ambas as modalidades.

Figura 2 Gráfico de bigodes com demonstração da ausência de casos extremos e outliers 

Com o objetivo de verificar a distribuição dos dados, para a posterior comparação destas médias, testaram-se os índices de normalidade através do cálculo Shapiro-Wilk (S-W) para os dados deste estudo. Seus resultados (S-WFutebol(16) = 0,952; p = 0,525; S-WFutsal(16) = 0,969; p = 0,816;) indicaram haver normalidade na distribuição dos dados. Todos esses resultados sustentam a adequabilidade dos dados em estudo e a continuidade das análises.

Por fim, foram calculados os coeficientes Alpha Cronbach para cada dimensão individualmente. Os resultados (αHM = 0,862; αET = 0,920; αSE = 0,877; αAu = 0,885; αAS = 0,906; αDe = 0,886), assim como aqueles apresentados por Gonçalves (2018), demonstraram escores satisfatórios, indicando ser, a BTGB-CP, um instrumento de medida preciso nos contextos do futebol e futsal.

RESULTADOS

Estatísticas descritivas gerais e comparações entre grupos

Verificou-se que a média das respostas aos itens da BTGB-CP, para ambos os grupos, superou a média esperada (valor médio da escala de respostas utilizada - neste caso 3,5) - XFutebol = 3,69; XFutsal = 4,68. Este, por si só, seria um indicativo positivo, visto que o que se espera de um evento competitivo para crianças e jovens é a contemplação da maior parte dos requisitos pedagógicos teoricamente indicados. Este dado não responde precisamente ao objetivo da pesquisa. Analisou-se a média do escore bruto do BTGB-CP (média da soma das respostas de cada item) como um todo - primeiro nível do modelo teórico-explicativo multidimensional. Constatou-se que os valores obtidos referentes às competições infantojuvenis de futsal foram superiores aos valores das competições de futebol. Isso indica, mesmo preliminarmente, que, segundo os treinadores participantes, as competições de futsal favorecem mais o desenvolvimento dos CP aqui analisados, de uma forma geral, quando comparadas às competições de futebol.

Apesar desta importante constatação, era necessário investigar com maiores detalhes o que estaria ocasionando este fenômeno. Avaliou-se o segundo nível do modelo teórico-explicativo multidimensional apresentado - aquele referente aos Conteúdos Pedagógicos Gerais (CPG). Pode-se notar que os resultados das médias obtidas nas dimensões DTT, DAEM e DCo variaram de 3,58 a 4,87 independente do grupo (Tabela 1).

As médias pouco variaram quando analisadas por modalidade. Apesar de próximas, podem representar uma ordem de prevalência no favorecimento a estes CPG. No futebol o CPG mais favorecido foi o DAEM, seguido pelo DTT, e, por último DCo. No futsal o CPG mais favorecido também foi o DAEM, seguido pelo DCo, e, por fim, DTT. Por um lado, estes resultados são positivos, visto que os CPG estariam sendo desenvolvidos de forma equilibrada nas competições de ambas as modalidades. Contudo há de se ressaltar que todas as médias obtidas para o futsal foram superiores que as do futebol, indicando, através de testes t para amostras independentes, diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) nestes índices médios (Tabela 1). Além disso, os tamanhos de efeito, os quais variaram de “grande” (0,80 a 1,29) a “muito grande” (d ≥ 1,30), reforçam as diferenças evidenciadas.

Tabela 1 Estatística descritiva e de comparação entre grupos do Favorecimento ao Desenvolvimento de Conteúdos Pedagógicos do Esporte Infantojuvenil (BTGB-CP) e Conteúdos Pedagógicos Gerais (CPG) 

MEDIDA GRUPO n TENDÊNCIA CENTRAL E DISPERSÃO t d
DP 5% Mediana
BTGB-CP Futebol 16 3,69 0,71 3,69 3,63 -3,899* -1,47
Futsal 16 4,68 0,62 4,68 4,59
DTT Futebol 16 3,72 0,73 3,78 3,97 -2,636 -0,93
Futsal 16 4,48 0,89 4,48 4,64
DAEM Futebol 16 3,78 0,85 3,76 3,51 -4,306* -1,52
Futsal 16 4,87 0,55 4,89 5,01
DCo Futebol 16 3,58 0,88 3,57 3,72 -4,096 -1,45
Futsal 16 4,71 0,65 4,73 4,72

Legenda: n: número de participantes da amostra;: média; DP: Desvio-Padrão;5%: média aparada a 5%; t: Teste t para amostras independentes; *: p < 0,05; d: d de Cohen.

Como cada um dos CPG é composto por dois Conteúdos Pedagógicos Específicos (CPE) - terceiro nível do modelo teórico-explicativo multidimensional apresentado -, foi possível aprofundar e detalhar ainda mais o perfil de favorecimento das competições infantojuvenis destas modalidades (Tabela 2). Assim, exploraram-se os valores médios obtidos para cada uma das escalas, referentes aos CPE.

Tabela 2 Estatística descritiva e comparação dos Conteúdos Pedagógicos Específicos (CPE) 

MEDIDA GRUPO n TENDÊNCIA CENTRAL E DISPERSÃO t d
DP 5% Mediana
DTT HM Futebol 16 3,52 0,81 3,55 3,75 -2,648* -0,94
Futsal 16 4,33 0,92 4,34 4,48
ET Futebol 16 3,91 0,78 3,98 4,07 -2,284* -0,81
Futsal 16 4,62 0,96 4,64 4,79
DAEM SE Futebol 16 4,01 0,92 4,00 3,87 -3,522* -1,24
Futsal 16 5,02 0,70 5,04 5,12
Au Futebol 16 3,55 0,85 3,55 3,40 -4,601* -1,63
Futsal 16 4,72 0,57 4,74 4,80
DCo AS Futebol 16 4,34 0,89 4,38 4,55 -2,642* -0,93
Futsal 16 5,07 0,66 5,10 5,25
De Futebol 16 2,82 1,04 2,77 2,45 -4,741* -1,68
Futsal 16 4,35 0,74 4,36 4,65

Legenda: n: número de participantes da amostra;: média; DP: Desvio-Padrão; 5%: média aparada a 5%; t: Teste t para amostras independentes; *: p < 0,05; d: d de Cohen.

A partir dos resultados das médias obtidas para cada uma das escalas, pôde-se criar um ranking de emergência dos CPE mais (e menos) favorecidos pelas competições analisadas. No futebol, o conteúdo pedagógico mais favorecido foi o AS, seguido do ET, SE, Au, HM, e, por fim, De. No Futsal, o AS também aparece em primeiro lugar, no entanto é seguido pela SE, Au, ET, De e, por fim, HM. Apesar de ser somente um indicador dos resultados pretendidos, visto que maiores análises são necessárias para se compreender o fenômeno estudado e bem responder ao objetivo do estudo, pode-se identificar um certo padrão entre as duas práticas analisadas. Ambas as competições apresentam maior favorecimento ao AS, assim como os dois CP menos favorecidos foram o desenvolvimento de HM e De. Cabe destacar que, da mesma forma que nos CPG, verificou-se através de testes t para amostras independentes que todos os CPE apresentaram diferenças significativas (p < 0,05) entre os grupos, todas reforçadas por tamanhos de efeito “grandes” e “muito grandes”. Estes resultados indicam que, de fato, as competições de futsal favorecem mais o desenvolvimento destes conteúdos pedagógicos quando comparadas às competições de futebol (Tabela 2).

Ao ter se identificado o perfil preliminar de favorecimento ao desenvolvimento de conteúdos pedagógicos das competições infantojuvenis de futebol e futsal, e respondido parcialmente ao objetivo deste estudo, procedeu-se às análises comparativas intragrupos, comparando-se as dimensões entre elas, a fim de, finalmente, traçar o perfil definitivo para esta amostra.

Comparações de médias intragrupos

Inicialmente, foram comparados, a partir de testes t para amostras pareadas, os três CPG dentro de cada um dos grupos, a fim de se verificar a existência de uma prevalência (ou detrimento) no favorecimento de qualquer um destes CPG. No grupo Futebol não foram identificadas diferenças significativas (p < 0,05) entre as dimensões, ou seja, apesar de apresentarem diferenças numéricas, as médias são indissociáveis estatisticamente. O comportamento das médias para o grupo Futsal foi diferente, encontrando-se diferença significativa (p < 0,05) entre a dimensão mais favorecida (DAEM) e a menos favorecida (DTT). Contudo, entre dimensões adjacentes não foram identificadas diferenças, indicando um comportamento (de)crescente atenuado entre os CPG, onde a dimensão DCo assume um papel de ligação entre as dimensões mais e menos favorecidas.

A fim de, finalmente, descobrir o padrão de favorecimento ao desenvolvimento de conteúdos pedagógicos nas competições infantojuvenis de futebol e futsal, verificaram-se as diferenças entre cada um dos CPE dentro dos grupos de análise (Tabela 3). Assim, segundo as opiniões dos treinadores, as competições de Futebol favorecem, em primeiro lugar, o AS, ET e SE (indissociáveis estatisticamente; p > 0,05), seguidos do desenvolvimento de Au e de HM (também indissociáveis estatisticamente; p > 0,05) e, por último, a De. Já, as competições infantojuvenis de Futsal favoreceriam, de uma forma mais homogênea (AS, SE, Au, ET, De e HM, nesta ordem), com diferenças numéricas, todos os conteúdos pedagógicos simultaneamente, já que dimensões adjacentes não apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05).

Tabela 3 Comparações de médias entre dimensões em cada grupo 

DIMENSÕES PAREADAS GRUPO
FUTEBOL FUTSAL
t GL d t GL
Habilidades Motoras - Autonomia 0,104 15
Habilidades Motoras - Democratização 4,038* 15 0,93 0,085 15
Estratégico-Tático - Socioeducativo 0,530 15
Estratégico-Tático - Autonomia -0,535 15
Estratégico-Tático - Afetivo-social -0,837 15
Estratégico-Tático - Democratização 1,464 15
Socioeducativo - Autonomia 3,730* 15 0,99 1,909 15
Socioeducativo - Afetivo-social -0,590 15

Legenda: t: Teste t pareado; GL: graus de liberdade; *: p < 0,05; d: d de Cohen.

DISCUSSÃO

Em se tratando do padrão de favorecimento dos CPG em cada um dos grupos analisados, verificou-se que ambas as modalidades apresentam certo equilíbrio, especialmente no futebol. Este é um importante resultado, visto que o desejável em um evento pedagogicamente estruturado é que todos os CPG sejam (se não igualmente) contemplados de alguma forma (CÔTÉ; HANCOCK, 2014). Vale destacar que o DTT foi o CPG menos favorecido no futsal (com diferença estatisticamente significativa quando comparado ao DAEM).

O conteúdo pedagógico AS parece ser bem contemplado nestas duas modalidades. Isso pode estar relacionado ao fato de serem esportes coletivos, orientados à sinergia - no sentido de estimular trabalhos em grupo em função de um objetivo comum ligado à tarefa (CARRON; BRAY; EYS, 2002). Segundo Carron, Widmeyer e Brawley (1998) este é um processo dinâmico refletido na tendência de um grupo se juntar e permanecer unido na busca de seus objetivos e/ou para a satisfação de necessidades afetivas. Este é um importante resultado, visto que a interação social, o relacionamento, é uma necessidade psicológica básica e pode contribuir de forma importante com o comportamento autodeterminado (DECI; RYAN, 2000) por referir-se a sentimentos de conexão e pertencimento com outros, os quais são otimizados em ambientes agradáveis, que promovam suporte por meio da afeição, da preocupação e do envolvimento com os pares (RYAN; DECI, 2007).

Também é comum entre as duas modalidades o fato do conteúdo pedagógico SE estar entre os mais favorecidos. O esporte enquanto uma manifestação educacional, tem como característica a valorização dos aspectos relacionados à formação e promoção de valores e atitudes (GAYA; TORRES, 2004). No futebol, os itens orientados à concorrência - relacionados ao favorecimento e desenvolvimento de aspectos educativos associados às vitórias e derrotas - foram aqueles que elevaram a média da dimensão SE, enquanto que os itens orientados à ética - relacionados ao favorecimento de valores relacionados ao fair-play, como respeito, honestidade e lealdade - diminuíram esta média. Este resultado corrobora com o estudo de Saldanha et al. (2018), o qual encontrou índices mais altos para as dimensões “Antidesportivismo” e “Trapaça” quando aplicado um instrumento de atitudes para a tomada de decisão moral a atletas de futebol. Estaria o fato das competições de futebol serem mais voltadas ao alto-rendimento influenciando o comportamento dos jogadores, reforçando atitudes de “vitória a qualquer custo”? Cabe destacar que esporte de rendimento para os mais jovens também deveria integrar um ambiente de formação e educação, com grande potencial de desenvolvimento dos aspectos morais (GAYA; TORRES, 2004). Entretanto, os atuais sistemas competitivos são sustentados por ideias reducionistas, com um único objetivo: a vitória. Essas práticas estão comumente associadas ao “vencer a qualquer custo”, e, portanto, devem sofrer alterações voltadas à educação e formação das crianças (REVERDITO et al., 2008).

O conteúdo pedagógico ET está entre os mais favorecidos no futebol e aparece com média elevada no futsal, ou seja, segundo a opinião dos treinadores, esse é um conteúdo contemplado de forma satisfatória em ambas as modalidades. Os resultados estão em concordância com a literatura especializada, uma vez que é justamente nos esportes coletivos que os aspectos estratégico-táticos assumem seu nível de expressão máximo (GARGANTA, 2004). Devido ao menor espaço de jogo e consequente maior pressão espaço-tempo, a tomada de decisões táticas no futsal precisa ser realizada com maior velocidade e precisão (SILVA et al., 2011). Já no futebol, observa-se que a conformação da competição não favorece o desenvolvimento destes aspectos em idades jovens, afinal, poucas são as adequações quando em comparação às competições adultas (MILISTETD et al., 2014). Este fato vai contra o que é indicado por Baldi et al. (2016), Baldi, Silva e Faria (2017) e García-Angulo et al. (2020), os quais afirmam que é possível se obter um índice maior de ações táticas a partir da realização de jogos com dimensões reduzidas e com menor número de jogadores. No futsal, apesar de não ser um dos CPE mais favorecidos, é significativamente mais enfatizado quando comparado ao futebol - talvez justamente pelo fato de, apesar da lógica interna semelhante, ser uma modalidade com menores dimensões e número de jogadores inferior. Da mesma forma que evidenciado no futebol, jogos reduzidos no futsal também parecem favorecer diferentes componentes estratégico-táticos (MIGUEL; PINTO, 2018).

O CPE Au encontra-se em um bloco intermediário de favorecimento em ambas as modalidades, podendo efetivamente ser mais estimulado, visto que a autonomia também é uma necessidade psicológica básica (DECI; RYAN, 2000). Por um lado, entende-se que cabe ao treinador oferecer maior liberdade a seus atletas para tomarem decisões em campo, não sendo, portanto, uma atribuição da formatação da competição. Contudo, outras medidas podem ser adotadas a fim de contribuir para o favorecimento deste conteúdo pedagógico, a exemplo de outras modalidades (LEONARDO; SCAGLIA, 2018), bem como específicos do futebol. O tênis é um bom exemplo, pois, na maior parte de suas competições infantojuvenis, não há árbitro ou interferência de treinador, designando aos atletas a responsabilidade de conduzir sua prática, tendo que tomar decisões importantes. No futebol, a competição proposta da Federação Alemã de Futebol (Deutscher Fussball-Bund), denominada FairPlayLiga, visa criar alternativas que estimulem a criatividade, a coragem e a tomada de decisão, bem como aumentar a autoconfiança das crianças. Entre as medidas adotadas estão as regras do árbitro e dos torcedores, as quais podem contribuir com o desenvolvimento de autonomia dos praticantes. Primeiramente, não há árbitro - as crianças devem aprender a assumir a responsabilidade por seus comportamentos e pelo cumprimento das regras do jogo. Ainda, os torcedores devem manter uma distância de 15 metros do campo - assim se comportam de forma mais contida e as crianças não ficam expostas a comandos e instruções, muitas vezes agressivos, por parte de seus espectadores (DEUTSCHER FUSSBALL-BUND, 2014).

Observando, efetivamente, os indicativos de limitações pedagógicas destes eventos competitivos, destacam-se os conteúdos pedagógicos De e HM. No grupo de análise relativo às competições de futebol, o primeiro, inclusive, é a única dimensão que possui média inferior à média esperada (Xesperada = 3,5). Apresenta, portanto, indícios de limitações relativas à inclusão e à participação. Neste sentido, seria interessante: a) incluir mecanismos para reduzir exclusões, principalmente em função de características físicas e nível técnico; e b) estimular a atuação ativa do maior número possível de pessoas, seja reduzindo espaços, promovendo mais ações efetivas com a bola, seja instituindo regras relativas às substituições, tornando obrigatória a participação de jogadores suplentes; o que em algumas competições de futsal já foi implementado. A Federação Alemã de Futebol, por exemplo, já propõe regras simplificadas do futebol profissional para as categorias infantojuvenis (através da FairPlayLiga) que visam garantir a participação de todos, como as substituições repetidas e ilimitadas (SONNENSCHEIN, 2017). As médias pouco expressivas dentro de cada grupo poderiam estar relacionadas ao fato das categorias competitivas das presentes modalidades serem divididas em intervalos de dois anos. Neste caso, as crianças que estão no primeiro ano da categoria geralmente têm menores chances de jogar quando comparadas às que estão no segundo, em decorrência das diferenças de estágio maturacional e de desempenho (RÉ; JUNIOR; BÖHME, 2004).

No caso da dimensão HM, verifica-se que os treinadores interpretam como deficientes os itens orientados à conformação das competições, em ambas as modalidades. Estes itens avaliam as adaptações estruturais e funcionais na elaboração das regras da competição e quanto estas adaptações podem influenciar no desenvolvimento de habilidades motoras. Outros estudos já evidenciaram este problema, especialmente nas competições de futebol. Discute-se, principalmente, o número de jogadores por equipe e as medidas do campo de jogo (CLEMENTE et al., 2012), o que produz uma alta demanda física em jovens atletas, proporciona pouca ação técnica efetiva e não reproduz fielmente as demandas técnicas futuras. Alguns estudos realizados com jovens futebolistas (CLEMENTE et al., 2012; BALDI et al., 2016; BALDI; SILVA; FARIA, 2017; GARCÍA-ANGULO et al., 2020) sugerem que, com menos jogadores em campo, o número de ações técnicas individuais, como dribles, passes e finalizações, aumenta. Já, campos menores podem auxiliar na quantidade de passes trocados, ao passo que podem restringir a eficiência da ação, visto que os adversários estão mais próximos dos companheiros de equipe. Desse modo, para que se tenha uma competição adequada, a quantidade de jogadores, o nível técnico e as dimensões do campo devem ser cuidadosamente consideradas (CLEMENTE et al., 2012). Como exemplos, pode-se citar no Brasil a Federação Paulista de futebol (FPF) que desde 2016 adota na categoria sub-11 (10 e 11 anos) redução na dimensão do campo de jogo, das traves, tamanho e peso da bola, número de jogadores titulares (nove), e substituições ilimitadas (FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL, 2019). Já em nível internacional a Federação Alemã de Futebol e Federação Canadense de Futebol apresentam número diminuído de jogadores e dimensões de campo reduzidas nas categorias menores. O número de jogadores em campo, as dimensões de campo e das traves, bem como o tempo de jogo, aumentam progressivamente de acordo com a categoria, por idade (CANADIAN SOCCER ASSOCIATION, 2014; DEUTSCHER FUSSBALL-BUND, 2014).

CONCLUSÕES

De uma forma geral, e apesar de serem modalidades com lógicas internas semelhantes, o futsal neste estudo contemplou o desenvolvimento de conteúdos pedagógicos em maior quantidade e nível quando comparado ao futebol. Possivelmente, este seja um resultado do fato de que, por ser praticado em um espaço mais reduzido, a prática do futsal favoreça o desenvolvimento de algumas habilidades motoras relacionadas às modalidades, bem como de aspectos estratégico-táticos, pelo reduzido número de opções para tomada de decisão. Além disso, o espaço reduzido e um menor número de jogadores promove, naturalmente, maior número de ações técnico-táticas individuais. Ainda, promove maior democratização do esporte, tornando possível a atuação de jogadores com diferentes composições físicas, por vezes discriminados em outras modalidades e posições, como goleiro de futebol, pelo tamanho desproporcional da baliza. A possibilidade de substituições ilimitadas e do jogador substituído retornar ao jogo no futsal, diferentemente das regras tradicionais do futebol, também promovem maiores índices de favorecimento ao desenvolvimento Afetivo-Social e de Democratização.

Como considerações finais, uma primeira indicação seria modificar as competições infantojuvenis de futebol. Caso se escolha por não modificar as competições, uma melhor alternativa no sentido da formação do jogador seria a participação em competições de futsal em idades iniciais.

A partir dos achados desse estudo, identificou-se limitações pedagógicas nas competições, iniciando, assim, discussões acerca das possíveis modificações nos diferentes contextos. As limitações desta pesquisa contribuem para indicar a possibilidade da realização de novos estudos. Sugere-se, assim, estudos com amostras mais robustas, que permitam discriminar os resultados por categoria ou tipo de competição, bem como estudos qualitativos, que efetivamente tragam à tona sugestões de modificações que possam contribuir no desenvolvimento dos CP considerados como deficientes por este estudo.

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AGRADECIMENTOS Não se aplica

FINANCIAMENTO Não se aplica

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM Não se aplica

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob o número de referência 271.526, em 14 de maio de 2013

LICENÇA DE USO Os autores cedem à Motrivivência - ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

EDITOR DE SEÇÃO Juliano Silveira

REVISÃO DO MANUSCRITO E METADADOS João Caetano Prates Rocha; Kelli Barreto

Recebido: 19 de Fevereiro de 2020; Aceito: 24 de Agosto de 2020

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