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Conjectura: Filosofia e Educação

versão impressa ISSN 0103-1457versão On-line ISSN 2178-4612

Conjectura: filos. e Educ. vol.27  Caxias do Sul  2022  Epub 10-Mar-2024

https://doi.org/10.18226/21784612.v27.e022023 

ARTIGOS

Percepções de professores de filosofia sobre a especificidade da disciplina de filosofia*

Perceptions of philosophy teachers on the specificity of the philosophy discipline

Fabio Antonio Gabriel2 

Ana Lúcia Pereira3 

2Doutor e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Licenciado em Filosofia; Bacharel em Teologia; Licenciado em Letras. Especialista em Ética; Especialista em Ensino de Filosofia e Sociologia; Especialista em Ensino Religioso. Foi bolsista de doutorado CAPES/Fundação Araucária. Tem experiência docente no ensino superior e no ensino médio. Áreas de pesquisa: Ensino de Filosofia; Estágio Supervisionado; Ética; Filosofia Contemporânea; Formação de Professores; Ensino Religioso. Atualmente realizando estágio pós-doutoral na Universidade Estadual de Ponta Grossa.

3Doutora (2011) e Mestre (2005) em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduada em Ciências e Matemática na Universidade do Norte Pioneiro (UENP, 1994). Professora do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG, Brasil) desde 2012. Professora do Programade Pós-Graduação em Educação, em que serviu como vice-coordenador (2014-2015) e do Programa em Ensino de Ciências e Educação Matemática (2017) na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Coordenadora do Curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, do Sistema Universidade Aberta do Brasil na UEPG. Membro do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - BASis - INEP/MEC. Foi pesquisadora visitante na University of Strathclyde, no Reino Unido (2016-2018) pelo Programas Estratégicos - DRI, com apoio da Capes. Também atuou como coordenadora Institucional do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID / Capes / UEPG, 2012-2013) e como Coordenadora de Gestão e Processos Educacionais no PIBID (Capes / UEPG, 2014-2016). Foi Chefe do Núcleo Regional de Educação de Jacarezinho no Estado do Paraná (2009-2010). Presidente do Sindicato dos Professores (APP) da região Jacarezinho (2002-2009). Autor de vários artigos em revistas e atua como referee nas áreas de Políticas Educacionais, Formação de Professores; Práticas e Desenvolvimento Curricular; Ensino e Aprendizagem; Psicanálise; Mídias Sociais; Ciência, Tecnologia e Sociedade e Educação Matemática. Editor associado da Frontiers in Psicologia da Educação desde 2015. Bolsista de Produtividade da Fundação Araucária-Paraná.


Resumo

Este artigo, um recorte de pesquisa de Doutorado, objetiva desvelar as percepções de 208 professores de Filosofia do Paraná no sentido de buscar evidenciar quais seriam as especificidades dessa disciplina em relação a outras do currículo. Inicialmente, disserta-se sobre a intermitência da disciplina de Filosofia no currículo da Educação Básica, com base em Deleuze e Guattari (2010), os quais demarcam o entendimento da Filosofia como criação de conceitos. Em seguida, fundamentando-se em Rodrigues e Gelamo (2019), entre outros autores, reflete-se sobre o modo de compreender a Filosofia, que pode oscilar entre uma compreensão enciclopédica com base na memorização dos sistemas filosóficos e a experiência filosófica. Por fim, por meio da análise de conteúdo de Bardin (2016), a seguinte questão de um questionário que envolvia outras dez foi analisada: “Você acredita que a Filosofia proporciona espaços ou momentos diferenciados em relação aos das outras disciplinas? Se sim, no que ela se diferencia?”. Das respostas dos 208 docentes, emergiram as seguintes categorias: criação de conceitos, espaço para debate/reflexão de ideias, possibilidade da experiência filosófica e superação do senso comum. Os resultados apontam, assim, um sentido de que a disciplina de Filosofia não deve limitar-se a um conhecimento enciclopédico, mas tratar-se de um conhecimento que se relaciona com o cotidiano de seus interlocutores. Faz-se necessário, porém, saber valorizar adequadamente a história da Filosofia, pois, ao valorizá-la demais, pode-se incorrer a um ensino meramente descritivista; contudo, ao não a valorizar, pode-se debruçar em discussões sem conteúdo filosófico.

Palavras-chave Especificidade da Filosofia; Criação de Conceitos; Experiência Filosófica

Abstract

This article, a cutoff from a Doctoral research, aims to unveil the perceptions of 208 Philosophy teachers from the state of Paraná, Brazil, in the sense of seeking to highlight the specificities of the Philosophy discipline in relation to other subjects in the curriculum. Initially, it is discussed about the intermittency of the Philosophy discipline in the Basic Education curriculum, based on Deleuze and Guattari (2010), who demarcate the understanding of Philosophy as the creation of concepts. Then, based on Rodrigues and Gelamo (2019), among other authors, we reflect on how to understand Philosophy, which can oscillate between an encyclopedic understanding based on the memorization of philosophical systems and philosophical experience. Finally, through Bardin’s (2016) content analysis, the following question from a questionnaire involving ten others was analyzed: “Do you believe that Philosophy provides different spaces or moments in relation to those of other disciplines? If so, how does it differ?”. From the responses of the 208 teachers, the following categories emerged: creating concepts, space for the debate/reflection of ideas, the possibility of philosophical experience and overcoming common sense. The results point in a sense that the discipline of Philosophy should not be limited to encyclopedic knowledge, but, rather, it is knowledge that is related to the daily lives of its interlocutors. However, it is necessary to know how to properly value the history of Philosophy, because, on the one hand, when valuing the history of Philosophy too much, one can incur a merely descriptive teaching; on the other hand, by not valuing the history of Philosophy, one can engage in discussions without philosophical content.

Keywords Specificity of Philosophy; Creation of concept; Philosophical experience

Introdução

Quando pensamos sobre ensino de Filosofia, é importante termos presente o fato de que a concepção que temos dela influencia no modo como ensiná-la e entendê-la. Nesse sentido, justifica-se a presente pesquisa, cujos dados foram recolhidos durante pesquisa de Doutorado com questionário realizado com 208 docentes, sendo eles professores de Filosofia do Estado do Paraná.

Esta investigação surgiu como um estudo posterior ao Doutorado, quando enviamos um questionário a 208 professores de Filosofia do Paraná contendo, entre outras, uma questão sobre a especificidade da Filosofia na percepção dos referidos professores. Pensar sobre essa especificidade auxilia-nos a refletir sobre a própria identidade da Filosofia. Partimos do pressuposto de que não existe uma Filosofia, mas filosofias, e assim teremos, também, diferentes visões sobre o que é Filosofia a partir da visão dos professores que participaram da pesquisa. É importante ressaltarmos que entendemos que o ensino de Filosofia é influenciado pelas diversas percepções que se tem dela, pois a partir de uma determinada concepção de ensino surgem metodologias e formas de ensinar-se Filosofia.

Iniciaremos falando sobre a intermitência da Filosofia no currículo e o entendimento dela como criação de conceitos. Posteriormente, refletiremos sobre a questão da relevância de se dar um peso adequado para a história da Filosofia no processo do filosofar não desvalorizando-a, mas também não a valorizando demasiadamente. Em seguida apresentaremos os dados de pesquisa e os resultados alcançados.

1 A intermitência da presença da Filosofia no currículo e o entendimento dela como criação de conceitos segundo Deleuze e Guattari (2010)

Iniciamos com uma breve reflexão sobre as intermitências da Filosofia na Educação Básica. Dias-Santos (2020) traz um recorte a partir da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) (BRASIL, 1961), em que a disciplina de Filosofia deixa de ser obrigatória no currículo. Com o perfil técnico da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a segunda LDBEN (BRASIL, 1971), a Filosofia deixa completamente o currículo por razões de não ser entendida como disciplina científica (DIAS-SANTOS, 2020).

Com a Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008, a Filosofia e a Sociologia ganham novamente espaço como disciplina autônoma (BRASIL, 2008). A visão aparente é de que, finalmente, Filosofia e Sociologia teriam seus espaços resguardados no currículo da Educação Básica. Contudo, isso não duraria uma década. Já em 2016 a intermitência da Filosofia no currículo novamente entraria em voga. Com a Medida Provisória nº 746, de 22 de setembro de 2016 (BRASIL, 2016), que viria a se configurar como Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017), o Novo Ensino Médio foi implantado e, consequentemente, junto a outras disciplinas, exceto Matemática, Língua Portuguesa e Língua Inglesa, perderiam o status de obrigatórias.

Dias-Santos (2020) apresenta que a escolha por itinerários conforme o proposto pela reforma do Ensino Médio é uma falácia, porque as instituições escolares não terão condições orçamentárias para ofertar todos os itinerários formativos. Nessa perspectiva de incerteza sobre a perpetuação da disciplina na grade curricular é que entendemos ser importante defender seu espaço e sua função de problematizadora da existência. Na sequência, voltamo-nos a refletir sobre a compreensão de Deleuze e Guattari (2010) sobre o ensino de Filosofia como criação conceitual.

Deleuze e Guattari (2010) ensinam sobre a identidade da Filosofia: ela não é contemplação, nem reflexão nem comunicação. Nos dizeres dos pensadores: “A filosofia não contempla, não reflete, não comunica, se bem que ela tenha de criar conceitos para estas ações ou paixões” (DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 13). Deleuze e Guattari (2010) entendem que a Filosofia não contempla porque a contemplação é um rever dos mesmos conceitos; também não seria reflexão porque mesmo sem a Filosofia as pessoas podem refletir. Os autores defendem que não há Filosofia sem problema filosófico, pois vivencia-se a Filosofia a partir de uma problematização. Nesse sentido, entendemos o quão importante é estudar os filósofos e suas teorias a partir das suas problematizações, mas não considerando suas teorias como imutáveis. Assim, o que é a Filosofia para Deleuze e Guattari (2010, p. 11)?

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos. O amigo seria o amigo de suas próprias criações? Ou então é o ato do conceito que remete à potência do amigo, na unidade do criador e de seu duplo? Criar conceito sempre novos é o objeto da filosofia. É porque o conceito deve ser criado que ele remete ao filósofo como àquele que o tem em potência, ou que tem sua potência e sua competência.

Nesse contexto, pensamos na Filosofia como espaço para criação conceitual. Os filósofos Deleuze e Guattari (2010) também afirmam que pensar suscita a indiferença geral. Nessa perspectiva, na atualidade deparamo-nos com um discurso neoliberal que quer negar a relevância da disciplina de Filosofia porque ela não auxiliaria na preparação para o mercado de trabalho. Urge refutar tal premissa, porque ela e outras disciplinas humanas contribuem muito para uma formação crítica do cidadão e o que muitos governantes não querem, na realidade, é que as pessoas pensem, visto que pensar é um ato perigoso, como nos afirmam Deleuze e Guattari (2010).

Os autores entendem que fazer história da Filosofia é comparável à arte do retrato; assim, não se trata de repetir o que o filósofo disse, mas repetir um ato de criação conceitual, dotando a filosofia de determinado filósofo de modo a conferir-lhe novo significado e sentido, de modo a ressignificar conceitualmente a filosofia inicial de determinado filósofo. Entendemos, dessa forma, que a experiência filosófica é justamente dar novo significado para a história da Filosofia, relacionando-a com nosso cotidiano. Cruz e Mostafa (2009, p. 15) ajudam-nos a compreender o significado da Filosofia com as seguintes considerações:

Os conceitos filosóficos para Deleuze e Guattari não são ideias que seguem regras sistemáticas de organização. Os conceitos, nesse plano de pensamento, são como intensidades incorporais, ordenadas intensivas que dizem do acontecimento, não do estado das coisas. Os conceitos acomodam-se por vizinhança, por zonas de proximidade e indiscernibilidade, em um plano de imanência, tendo, portanto, uma sistematização possível com regras estabelecidas. Conceitos que, da mesma forma, apresentam consistência interna em relação aos seus componentes que, mesmo sendo heterogêneos, não podem ser separados.

Assim sendo, o estudo de Deleuze e Guattari (2010) possibilita-nos pensar em uma Filosofia não dogmatizada e um ensino de Filosofia que não se caracterize apenas pelo descritivismo filosófico. O descritivismo filosófico com uma supervalorização da história da Filosofia não é producente, na medida em que não possibilita uma experiência filosófica. Nessa perspectiva, a partir de Deleuze e Guattari (2010), podemos ir além e entender a Filosofia como problematizadora da existência. Estudar a sua história é buscar trazer para o hoje as problematizações filosóficas que moveram os filósofos a filosofar sobre determinado problema de seu contexto histórico.

2 O que transmitimos é um conteúdo filosófico?

Nesta seção refletiremos um pouco sobre o modo de compreender a Filosofia que pode oscilar entre uma forma de compreensão enciclopédica com base na memorização dos sistemas filosóficos e na experiência filosófica. Entendemos que a própria formação de professores de Filosofia tende a ser enciclopédica e desvinculada da possibilidade da transmissão de conteúdos filosóficos. Partimos do entendimento de que apenas quem vivenciou uma experiência do pensamento na própria Licenciatura terá condições de mediar o ensino de Filosofia no Ensino Médio como experiência filosófica.

Rodrigues e Gelamo (2019) entendem que, em certa perspectiva, o ensino de Filosofia corre o risco de limitar-se a uma prática descritivo-doutrinária da história da Filosofia, a qual denominamos de enciclopedismo. Os autores, a partir da obra “O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual”, de Jacques Rancière (2017), apresentam a crítica da lógica da transmissão doutrinária de conteúdos filosóficos que empobrece a possibilidade formativa, denunciando, assim, um ensino de Filosofia descritivo-doutrinário. Eles apresentam, por exemplo, que o documento “O currículo do Estado de São Paulo” propõe como encaminhamento pedagógico o ensino da história da filosofia. Nesse sentido, “[...] a crítica principal a essa abordagem é o risco de se cair numa realidade enciclopédica” (RODRIGUES; GELAMO, 2019, p. 463). A história da Filosofia, quando valorizada de forma extrema, acaba por transformar o ensino de Filosofia em um ensino descritivista que impende uma situação de criação conceitual, porque se limita apenas a reproduzir pensamentos de filósofos da tradição.

Contudo, quando pensamos em história da Filosofia, precisamos ponderar também que sem ela não há possibilidade de filosofar. É necessário, assim, buscar estabelecer um justo meio para poder utilizá-la de modo adequado. Não há filosofar sem conteúdo filosófico, mas também não há exercício da prática do filosofar se a Filosofia for transformada em um enciclopedismo infrutífero. Podemos ter percepções sobre qual ensino de Filosofia é lecionado se observarmos o modo como é entendida a própria avaliação na disciplina de Filosofia. Quando as questões são abertas e possibilitam que o aluno expresse seu pensamento de forma autônoma, temos um ensino como experiência filosófica; todavia, quando as questões são fechadas e exigem um conhecimento apenas memorizado da história da Filosofia, temos um ensino de filosofia enciclopédico reinando.

Rodrigues e Gelamo (2019) defendem que o simples ensino da história da Filosofia não garante a experimentação do filosofar por parte do estudante, porque se trata de um processo de limitar-se ao contato com doutrinas filosóficas. Eles contrapõem o enciclopedismo à visão de Carrilho (1987), o qual realiza uma proposta da Filosofia como laboratório conceitual. A proposta de Carrilho (1987) alinha-se à perspectiva de Deleuze da Filosofia como criação conceitual, na medida em que está associada a um exercício do pensar por conceitos e experimentações. A Filosofia, nesse contexto, não se caracteriza como forma de doutrinação, mas de um pensar crítico que viabiliza uma experiência do pensamento que relaciona os filósofos da tradição com o presente vivenciado pelos alunos. Gabriel, Pereira e Alves (2020) contribuem com essa reflexão quando afirmam:

Assim, o ensino de Filosofia não é uma mera tarefa de transmissão de conteúdos que um professor de Filosofia realiza. Ele deve abarcar toda a existência do professor-filósofo que constitui sua aula, conforme aponta Carrilho (1987), em um laboratório conceitual. O professor necessita contribuir para que seus estudantes realizem uma experiência do pensamento, que filosofem sobre sua existência, partindo dos referenciais dos sistemas filosóficos de todos os tempos. Acreditamos que o contato com a realidade escolar é momento oportuno para que o professor de Filosofia amadureça na sua identificação com o ser professor-filósofo e busque ensinar Filosofia não apenas de modo descritivo, mas problematizando filosoficamente o ensino de Filosofia e sua própria identidade como futuro professor de Filosofia.

Avanço (2020) entende que junto a uma concepção enciclopédica de Filosofia temos, no contexto do ensino de Filosofia no Brasil, uma compreensão eurocêntrica, a qual tende a transformar em dogma os conceitos dos filósofos da tradição. Assim, mesmo na formação de professores de Filosofia, por vezes, prevalece uma explicação enciclopédia desta, e não é raro encontrar professores que entendem que a Filosofia não é para ser ensinada para todos, mas para um grupo de seletos que poderia ter acesso ao pensamento filosófico.

Horn (2009, p. 94) afirma sobre a especificidade da disciplina de Filosofia, na qual o professor é convidado a trabalhar com essa disciplina de forma “[...] dinâmica, problematizante e nunca estática”. O autor argumenta que, para cumprir essa tarefa, o professor de Filosofia é convidado a apresentar os filósofos não como um mosaico de pensadores, mas relacionando os conteúdos ensinados com o cotidiano. A grande tarefa da Filosofia, segundo Horn (2009), é contribuir para o caminhar progressivo do aluno rumo à sua autonomia do pensamento.

3 Dados empíricos e análises

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e pela Plataforma Brasil pelo Parecer do Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) número 60481016.7.0000.0105. Trata-se de uma pesquisa qualitativa por existir maior interesse no processo de pesquisa na intepretação do pesquisador do que na questão numérica dos dados empíricos (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Neste artigo fazemos um recorte de um questionário envolvendo dez questões aplicado a 208 professores de Filosofia do Paraná. Com a ajuda da coordenação técnica da disciplina de Filosofia da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR), o questionário foi encaminhado para os responsáveis técnicos da disciplina nos respectivos Núcleos Regionais de Educação (NRE). Isso possibilitou que os questionários chegassem aos professores respondentes.

Os dados de identificação dos participantes encontram-se descritos a seguir, nas Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5.

Tabela 1 Faixa etária dos professores de Filosofia do Paraná – 2017. 

Faixa etária Participantes Percentagem
18 a 25 anos 19 9,1%
25 a 35 anos 61 29,3%
35 a 50 anos 92 44,2%
Mais de 50 anos 29 13,9%
Não responderam 4 1,9%
Total 208 100%

Fonte: Os autores (2020).

Tabela 2 Sexo dos professores de Filosofia do Paraná – 2017. 

Sexo Participantes Percentagem
Masculino 134 64,4%
Feminino 67 32,2%
Não responderam 7 3,36%
Total 208 100%

Fonte: Os autores (2020).

Tabela 3 Há quanto tempo trabalha como professor(a) de Filosofia. 

Tempo Participantes Percentagem
Menos de 5 anos 56 26,9%
5 a 10 anos 93 44,7%
11 a 15 anos 4 1,9%
15 a 20 anos 36 17,3%
21 a 25 anos 2 0,96%
Mais de 25 anos 9 4,3%
Não responderam 8 3,8%
Total 208 100%

Fonte: Os autores (2020).

Tabela 4 Tipo de vínculo empregatício. 

Vínculo Participantes Percentagem
Rede Particular 22 10,5%
Concursado 120 57,6%
PSS (contratado) 53 25,4%
Não responderam 13 6,25%
Total 208 100%

Fonte: Os autores (2020).

Tabela 5 Área de concurso. 

Área de concurso Participantes Percentagem
Filosofia 128 61,5%
Ciências Humanas 18 8,6%
Outra formação 10 4,8%
Não é concursado 51 24,5%
Não respondeu 1 0,48%
Total 208 100%

Fonte: Os autores (2020).

Neste texto abordamos as respostas dos docentes à seguinte questão:

Você acredita que a Filosofia proporciona espaços ou momentos diferenciados em relação aos das outras disciplinas? Se sim, no que ela se diferencia?

Não é nosso objetivo buscar uma definição de Filosofia, mas compreendermos as percepções de professores que, no cotidiano, estão a filosofar com seus alunos sobre os possíveis significados para a Filosofia. As respostas dos docentes foram analisadas mediante análise de conteúdo de Bardin (2016) e o agrupamento das questões em categorias foi realizado mediante a utilização do software Atlas ti. Elencamos, a seguir, as categorias que emergiram.

Uma primeira categoria de respostas emergiu como criação de conceitos, que é um entendimento deleuziano, muito embora a Filosofia seja “criar conceitos” para muitos que nunca leram Deleuze. Um segundo grupo de respostas apresenta-a como espaço para debate/reflexão de ideais, com a Filosofia ganhando relevância como momento de debate e diálogo. Uma outra categoria denominamos como possibilidade de experiência filosófica, no sentido de que é algo vital que não pode ser assumido acidentalmente na vida das pessoas, mas deve modificar o próprio sentido da vida. E uma última categoria sobre as percepções sobre o sentido da Filosofia apresenta-o como superação do senso comum.

Em relação à questão em análise – Você acredita que a Filosofia proporciona espaços ou momentos diferenciados em relação aos das outras disciplinas? Se sim, no que ela se diferencia? –, as categorias que surgiram sobre a especificidade da disciplina de Filosofia foram: criação de conceitos, espaço para debate/reflexão de ideias, possibilidade de uma experiência filosófica e superação do senso comum. Tratando-se da criação de conceitos, os participantes (nomeados aqui com a letra “P” e um número de 1 a 208) declararam:

P21: Especialmente na criação de ideias, possibilidades novas para a vida, soluções de problemas por meio do uso da racionalidade e do bom senso no sentido cartesiano.

P28: A filosofia, salvo raras exceções, é o único momento que o aluno tem espaço para reflexões sobre a sua realidade em que pode se expor sem medo e criar conceitos.

P30: Sim, a aula de Filosofia é um laboratório de investigação conceitual.

P34: Sim. É, na maioria das vezes, o único momento de fala e liberdade de pensamento e de criação conceitual.

P40: Acredito que sim, e ela pode se diferenciar principalmente quando transpomos um conteúdo teórico ao fazer-se prático, ou seja, unindo Filosofia e vida aos modos de Rizomas.

P71: Ensinar a filosofar.

P100: Sim, proporciona posicionamento crítico através de questionamentos e debates sobre o contexto histórico social, e principalmente em relação ao cotidiano do educando, buscando interagir com o professor e demais alunos na troca de experiências e temas diversos propostos em sala.

P191: Sim. Ela se diferencia por ser um espaço de autoconhecimento (ou um espaço onde haja potência de autoconhecimento) e de construção de conceitos (não se trata de simplesmente se apropriar de conceitos já forjados) que serão utilizados na vida de todos os envolvidos, inclusive na vida do professor.

P195: Nas infinitas possibilidades de recriação e ressignificações do real e o imaginário.

Deleuze e Guattari (2010, p. 24) ensinam-nos que

[...] todo conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua solução: estamos aqui diante de um problema concernente à pluralidade dos sujeitos, sua relação, sua apresentação recíproca.

Assim, nessa categoria, como aparece a caracterização da Filosofia como criação de conceitos, urge salientarmos que isso remete a uma situação de problematizar a própria existência, o que vai culminar na aula de Filosofia como possibilidade para uma experiência filosófica. O sujeito P30 entende a aula como laboratório conceitual, o que evoca Carrilho (1987), cujo escopo se volta a uma Filosofia capaz de contribuir para um pensar como oficina de conceitos. O autor ainda entende que a Filosofia é um experimento, não uma fábrica de doutrinas que jamais devem ser questionadas.

Gallina (2004) nos ensina sobre a ênfase de Deleuze no processo da criação de conceitos. É no cotidiano, no devir do dia a dia que encontramos a gênese da problematização filosófica. A autora apresenta-nos a crítica deleuziana a uma história da Filosofia cuja imagem é vista de maneira transcendente. Deleuze e Guattari (2010) insistem que o filósofo cria conceitos a partir do plano de imanência, não da transcendência. Nas palavras de Gallina (2004, p. 367): “Ao problematizar o filósofo institui um plano de imanência”. Assim, a criação de conceitos tem como pressuposto uma problematização, um questionamento diante do cotidiano. Gallina (2004, p. 368) nos auxilia a pensar na especificidade da Filosofia quando nos apresenta o que é inerente à atividade filosófica: “A atividade filosófica ocupa-se com as condições que permitem a formulação de problemas, e nisso consiste a aprendizagem em filosofia”.

As declarações dos participantes que seguem dizem respeito à categoria espaço para debate/reflexão das ideias:

P8: Os alunos sentem que na aula de Filosofia há um espaço para debater ideias e pensamentos, momentos muitas vezes inexistentes em outras disciplinas.

P10: Espaço para diálogo, interpretação.

P20: Sim, posto que os conteúdos e suas formas de trabalho permitem uma amplitude de ações e atividades que abarcam as mais diversas esferas da condição humana.

P22: Os temas da Filosofia são propícios para debates. Além do mais, a aula de Filosofia, nos moldes tradicionais, engessa o debate. Aula de Filosofia exige a participação dos alunos.

P70: Momentos de debate e discussão.

P76: Sim, nos diálogos em sala de aula.

P77: Sim, pois o diálogo em sala não gira em torno do inquestionável.

P80: Acredito que sim. Pelo menos procuro instigar meus alunos a desenvolver uma reflexão, a se questionarem e a questionar. A ver as coisas sob diferentes ângulos. Não imponho ideias.

P81: Sim, desbanalizando o banal não apenas com informações diversas do cotidiano mas ao estimular o pensar reflexivo de cada estudante.

P82: Sim, ela tem mais espaço para debates, reflexões, mesas redondas, etc.

P167: Sim. [...] pela prática ou práxis do professor, uma vez que ela é uma disciplina provocativa, questionadora, formadora da consciência crítica devido ao seu método investigativo, pesquisador, curioso, debatedor, democrático, etc.

P199: A filosofia é uma disciplina que possui sua especificidade – ela não é instrução nem treinamento, é exercício de pensar crítica e dialogicamente sobre os problemas da vida e da descoberta do sujeito como ser pensante.

P205: Sim. É ela que analisa os fundamentos dos saberes.

P208: Sim. A Filosofia ajuda interdisciplinaridade. Ajuda na motivação dos alunos em diversas disciplinas, e tem por excelência o entendimento dos vários objetos de estudo das diversas áreas científicas.

Os dizeres de P8 situam-nos no campo da sala de aula de Filosofia como momento de um laboratório do pensamento. Trata-se, pois, de um espaço em que o estudante pode exprimir a singularidade do seu pensamento. Os dizeres de P22, por sua vez, caminham no entendimento da necessidade de um engajamento participativo dos alunos na aula de Filosofia com vistas a superar um enciclopedismo que pode reduzir essa aula a um mero descritivismo filosófico, conforme nos ensina Carrilho (1987). Ajuda-nos também a refletir sobre a especificidade da Filosofia a fala de P199, que afirma que a Filosofia é exercício do pensar.

Horn (2009, p. 49) auxilia-nos na reflexão sobre as características da Filosofia e de seu ensino no excerto que segue:

A filosofia em sua característica específica tem um tipo de indagação e é, ao mesmo tempo, alvo da mesma. É neste ponto, acredita-se que a Filosofia encontra na História – na maneira de viver e de se organizar das pessoas – seu ponto de partida (encontro) e o elo que a liga do presente ao passado. Quer dizer, a Filosofia se consistiu e se constitui a partir das indagações da vida cotidiana, da vida feita por perguntas, dúvidas, afirmações acerca dos problemas imediatos do dia-a-dia ou de questões mais elaboradas que remetem à origem da vida, das coisas, do universo ou mesmo da arte, da política, da paixão e da religião.

Nesse sentido, os dizeres de Horn (2009) vão ao encontro das afirmações dos participantes dessa categoria, na medida em que se entende a importância do filosofar para debater e refletir sobre os problemas existenciais do ser humano. Isso nos leva à próxima categoria: possibilidade de uma experiência filosófica.

P2: Em parte ela se diferencia nos momentos de discussões, debates em sala de aula, na qual o professor, junto a seus alunos, faz a experiência filosófica.

P9: Sim, abre mais espaço para a aprendizagem dialogada.

P12: Se o profissional der espaço, é possível que nas aulas de Filosofia o aluno identifique problemas e realize uma reflexão dos temas.

P13: Sim, possibilita o diálogo, o debate, aprimorando a troca de saberes, de experiência.

P15: Acredito que seja o de chamar os alunos à reflexão para que se façam autores de sua própria história; para que saibam defender suas ideias com conhecimento e respeito às demais; para que não apenas sejam números nos bancos escolares, mas pretensos filósofos a serviço de uma existência que os tire da inércia.

P42: Sim, se o professor está disposto a atuar enquanto tal, não preso as rédeas de controle, de um conteúdo que “temos que vencer”, ou que não podemos perder o foco da aula. Estar sempre aberto ao diálogo inteligente e bem conduzido. Talvez, por raras vezes, os estudantes tenham chance de conversar e tirar as dúvidas que não foram sanadas em outros momentos, ou até locais.

P79: Com certeza. As aulas de Filosofia além de tratar da história da Filosofia proporcionam debates, reflexões sobre o senso comum.

P80: Acredito que sim. Pelo menos procuro instigar meus alunos a desenvolver uma reflexão, a se questionarem e a questionar. A ver as coisas sob diferentes ângulos. Não imponho ideias.

P94: Muitas vezes surgem questões que nem mesmo o professor de Filosofia esperava, sendo de extrema importância o diálogo. Os alunos têm no professor de Filosofia algo que em outros professores não acredita ser possível realizar. Muitas das indagações desses alunos se direcionam ao professor de Filosofia. Às vezes são questionamentos que nos surpreendem. Mas fico feliz quando posso contribuir para que esse aluno continue sendo esse questionador.

P150: Com certeza, pois permite maior plasticidade nas abordagens, valoriza a dúvida e o erro, o diálogo e se põe a conectar conteúdos aparentemente díspares.

P154: É o espaço privilegiado do fazer filosófico, da especulação sobre a essência humana e sobre as questões sociais que constroem nossa identidade.

P181: Acredito sim, apresenta espaços para os debates, análise com base nas realidades vivenciadas pelos alunos, o que nos leva a uma gama de possibilidades, como, por exemplo, já utilizei dinâmicas como torta na cara, debates, projeto cinema e filosofia, entre outros.

Pensar a aula de Filosofia tendo como especificidade a possibilidade de uma experiência filosófica é um desafio a ser transposto, tendo em vista os desafios que enfrentamos cotidianamente na sala de aula. Gabriel (2017) apresenta que a proposta curricular do Estado do Paraná considera a aula de Filosofia como criação de conceitos e momento de sensibilização da própria existência para com os problemas filosóficos que angustiam os estudantes. Horn (2009), nesse sentido, afirma que os filósofos não foram insensíveis às demandas filosóficas de seu tempo, pois buscavam compreender quais eram os problemas sociais, políticos e educacionais para filosofarem sobre eles.

Avanço (2020) defende, nesse contexto de criação conceitual, que seria muito importante que professores de Filosofia, além de ensiná-la, fizessem Filosofia, no sentido de tornarem sua aula um laboratório do pensamento, superando o que chamamos de enciclopedismo. Nessa perspectiva, entendemos a relevância de que o professor dessa disciplina não apenas ensine teorias filosóficas, mas também tenha vivenciado na Licenciatura uma experiência do filosofar. É importante destacarmos que a Licenciatura em Filosofia é convidada a ser espaço também de reflexão e debate para formar professores que, além do conhecimento técnico dos conteúdos filosóficos, tenham também conhecimentos didáticos da maneira como ensinar Filosofia e tenham empreendido em suas existências um exercício do filosofar. Caso contrário, terão dificuldades em mediar uma experiência filosófica dos estudantes da Educação Básica.

As falas dos participantes a seguir dizem respeito à última categoria: superação do senso comum:

P1: A Filosofia aceita ser questionada, não foge dos questionamentos contrários, não se contenta com afirmações superficiais. É a melhor disciplina para superar o senso comum.

P 115: Sim, pela interdisciplinaridade com as demais disciplinas curriculares, o ser humano está filosofando constantemente, a filosofia pode ser ensinada em qualquer espaço, sempre o novo está ao nosso redor.

P130: Sim, porque permite que o sujeito possa desenvolver uma determinada criticidade com relação ao conhecimento ofertado.

P141: A Filosofia permite que sejam criadas “pontes” com praticamente todas as outras disciplinas, e que também sejam propostos questionamentos que enriquecem os conteúdos.

P146: Sim. Na árdua tarefa de superar o senso comum, mediante o tratamento do conhecimento sistematizado.

P152: Arte de pensar e sair do senso comum.

P159: Pois, apesar de científica, como as demais disciplinas, ela permite que o aluno contra-argumente sem qualquer constrangimento.

P164: Acredito no potencial da Filosofia no que se refere à possibilidade de expandir a visão de mundo dos alunos.

P192: Sim. A filosofia é uma proposta de mudança do ponto de vista do senso comum.

As menções dos participantes dessa categoria apresentam a importância da superação do senso comum (doxa) para o conhecimento justificado (episteme). Heller (1983) apresenta-nos que o esforço filosófico de todos os tempos é justamente o de buscar conhecer o mundo de forma mais objetiva, muito embora essa objetividade esbarre sempre na própria subjetividade do filósofo. O senso comum é um conhecimento a ser respeitado, mas quem se propõe a filosofar é convidado a sair da caverna de Platão e conhecer o mundo além das sombras. Conforme Horn (2009, p. 40), “[...] todo conhecimento filosófico se faz enquanto práxis histórica”, e assim a Filosofia constitui-se como um ramo do saber que questiona o senso comum no sentido de propiciar àqueles que têm contato com ela apropriar-se de um senso crítico diante da realidade do cotidiano.

4 Considerações finais

A presente pesquisa buscou evidenciar as percepções de 208 professores de Filosofia do Paraná sobre o seu entendimento sobre a especificidade da Filosofia. Para esses professores o entendimento sobre o que se tem de específico passa por uma compreensão da Filosofia que se relaciona com as seguintes categorias: criação de conceitos; espaço para debate/reflexão de ideias; possibilidade de uma experiência filosófica; superação do senso comum.

Entendemos ser relevante uma compreensão da Filosofia e de seu ensino como experiência filosófica que possibilite uma superação do mero enciclopedismo, o qual pode se tornar nocivo quando se limita a um descritivismo filosófico, sem uma reflexão e relacionamento com a existência concreta dos estudantes. Essas categorias evidenciadas, a começar pela criação de conceitos, contribuem para nossa hipótese da importância de um ensino como experiência filosófica, na medida em que a criação de conceitos evidencia um exercício do filosofar que vai além do memorizar conteúdos enciclopédicos de Filosofia.

Uma outra categoria que consideramos também muito pertinente é a que se refere ao entendimento da Filosofia como espaço para o debate e a reflexão. O momento da aula de Filosofia é específico para a reflexão, o debate, a formação do cidadão e a superação do senso comum (conforme nos aponta a outra categoria). Nesse sentido, vale a pena evidenciarmos que entendemos que a grande importância da Filosofia no espaço escolar é contribuirmos para a saída da menoridade intelectual e o encaminhamento para a maioridade intelectual, de forma a possibilitarmos que os estudantes pensem de forma autônoma e tenham condições de criar conceitos e pensar sobre a sua própria existência.

*O primeiro autor agradece a bolsa de Doutorado concedida no âmbito de cooperação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação Araucária.

Referências

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Recebido: 01 de Abril de 2021; Aceito: 14 de Junho de 2021

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