Introdução
A preocupação com a qualidade da formação discente é amplamente discutida e objeto de estudo em inúmeros trabalho (Andriola, 2014; Lima, Andriola, 2018; Giacomin; Simon; Tosta, 2019). É notório que a qualidade com que a instituição de ensino superior forma seus alunos está relacionada à inserção dos egressos no mundo do trabalho, à adequação de novas práticas laborais, à continuidade do aperfeiçoamento, à rápida ascensão na carreira profissional, à propensão em empreender, entre outros aspectos.
Nesse sentido, é essencial entender o perfil e as perspectivas desses egressos, encontrar limitações, descobrir problemas, buscar soluções e, eventualmente, traçar novos caminhos rumo à qualificação da formação (Sampaio et al., 2013; Silva; Grazziano; Carrascosa, 2018). Portanto, é essencial investigar as características dos egressos, a fim de compreender e qualificar a relação entre a formação discente e o mundo do trabalho (Calbino et al., 2020).
A legislação brasileira está atenta para a formação de profissionais qualificados. A LDB cita que a educação superior tem por finalidade, entre outras, a qualificação do estudante para o mercado de trabalho, formando diplomados para a inserção profissional e para contribuir no desenvolvimento da sociedade brasileira. Dessa forma, entende-se que o ensino superior visa a preparar as pessoas para atuação profissional, com fins de contribuir com o desenvolvimento social e econômico brasileiro.
Cabe destacar também que o Inep realiza avaliações externas in loco das IES e, dentre as dimensões a serem avaliadas pela comissão de avaliadores, a política de atendimento aos estudantes, compostos por alguns indicadores de avaliação relacionada ao acompanhamento de egressos, é criteriosamente avaliada. Segundo o Inep, este quesito objetiva contribuir com a melhoria da qualidade do ensino oferecido.
Embora seja importante estudar os egressos de uma IES, ainda são poucos os estudos no contexto brasileiro. Segundo Calbino et al., (2020) a escassez de estudos sobre os egressos é ainda maior quando o mesmo é realizado em determinadas áreas do conhecimento, tais como Engenharias ou Educação. Ainda, segundo os autores, cada área do conhecimento tem suas especificidades, em especial, quando relacionadas à formação para o mundo do trabalho. Cabral, Silva e Pacheco (2016) relatam que um estudo com as dez melhores IES públicas, segundo o Ranking Universitário da Folha do ano de 2015, revela que apenas quatro delas divulgaram, em seus sites oficiais, um programa de acompanhamento de egressos.
A Universidade Federal do Pampa - Unipampa -, campus Bagé, situa-se no extremo sul do Brasil e iniciou suas atividades no ano de 2006, formando sua primeira turma de egressos em 2010. Conta com uma oferta de 11 cursos de graduação: seis licenciaturas e cinco engenharias. Este fato confere a este campus uma pluralidade na formação de egressos em diversas áreas do conhecimento.
Conforme o plano de desenvolvimento institucional - PDI - 2019-2023 (Unipampa, 2019), a instituição é resultado da reivindicação da sociedade da mesorregião Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul, combinada à necessidade de ampliação da oferta de educação superior gratuita que convergiu com a política de expansão e interiorização do ensino superior público adotada pelo governo, como forma de alavancar o desenvolvimento das regiões interioranas. Essa combinação de fatores motivou, por parte dos dirigentes dos municípios inseridos na região, a proposição de criação de uma IES junto ao MEC, sendo a solicitação atendida pelo governo federal em 2005.
Os dez campi da Unipampa estão instalados nos municípios Alegrete, Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana. Forgiarini, Alves e Junior (2019), afirmam que esses municípios estão localizados em regiões estratificadas do ponto de vista social, de modo que um dos objetivos da implantação da Unipampa é reverter esses índices sociais abaixo da média por meio da geração de capital social, com vistas a promover o desenvolvimento regional.
Marchioro et al., (2007) ao realizar um diagnóstico da realidade educacional, econômica e cultural do município de Bagé, durante o período de implantação do campus Bagé, observaram um estado de estagnação desses indicadores e confirmaram a criação desta nova universidade como fator relevante para transformar essa realidade. Dada a importância do tema, este trabalho teve como objetivos identificar a inserção no mundo do trabalho, a predisposição empreendedora e a continuidade do aperfeiçoamento dos egressos da Unipampa, campus Bagé. Para atender a esses objetivos, utilizaram-se informações coletadas junto aos egressos da instituição.
Acompanhamento dos egressos: um importante instrumento de avaliação institucional
Estudos sobre o acompanhamento dos egressos nas IES são realizados há longo tempo. Por exemplo, nos Estados Unidos existem relatos desde a década de 1930 e no continente Europeu esses trabalhos são rotineiros. Entre diversos objetivos, estudar os egressos pode trazer como benefícios avaliar as práticas educacionais; aperfeiçoar os currículos; manter as relações com ex-alunos; busca por novos alunos, entre outros, (Calbino et al., 2020).
Recentemente, pesquisas acerca do acompanhamento dos egressos estão avançando em várias perspectivas, mediante aplicação de modelos de avaliação com a estratégia de coleta de informações quanto ao desempenho do formato pedagógico vigente na IES e suas implicações no desenvolvimento profissional dos alunos, considerando o desafio de oferecer uma educação de qualidade. O vínculo com os egressos pode ser percebido como permanente, pois o egresso continua carregando sua identidade, com a instituição, para sempre (Mcdearmon, 2012).
Para Meira e Kurcgant (2009), ao entrar para o mudo do trabalho, o profissional enfrenta situações complexas que o levam a confrontar as competências desenvolvidas durante o curso com as requeridas no exercício profissional. Tal vivência permite avaliar a adequação da estrutura pedagógica do curso e resgatar aspectos intervenientes desse processo, justificando o acompanhamento dos egressos.
É importante que a IES realize uma análise sobre as principais exigências profissionais do mercado. Com isso, será possível analisar se os cursos possuem um modelo pedagógico apto para que o aluno esteja preparado para os desafios profissionais, ou seja, o acompanhamento dos egressos em sua trajetória profissional por parte das IES. Para Lima e Andriola (2018), é fundamental avaliar a eficácia da atuação do aluno e, se necessário, rever o modelo pedagógico da IES, podendo implantar políticas e estratégias de melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem. Além disso, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - Sinaes - reforça a importância do estudo dos egressos. Esta preocupação deve ser ainda maior em instituições federais de ensino superior, pois existem um arcabouço legal de exigências com relação a este tema.
Existem diversos vieses que podem ser estudados quando o assunto é acompanhamento de egressos. Segundo Oliveira (2017), não restam dúvidas que um dos principais objetivos do público que busca uma formação na educação superior é a inserção no mercado de trabalho. Muitas instituições de ensino superior utilizam este mote como seu diferencial na busca por novos alunos. Assim, verificar a adequação da formação de seus egressos ao mercado de trabalho deve ser uma das principais preocupações de uma IES, de modo que ela seja vista como referencial de que suas ações de ensino, pesquisa e extensão estejam alinhadas às demandas de qualificação profissional (Brasil, 2004).
A pesquisa de Palmeira et al. (2020) teve como suporte a construção e validação de um questionário como forma de instrumento para acompanhamento dos egressos. Os autores constataram que ao acompanhar os egressos podem ser tomadas decisões focadas na formação dos novos profissionais, impactando em ações pedagógicas, como mudanças nos currículos em consonância com as transformações vivenciadas pela sociedade e as novas configurações presentes no mundo do trabalho e suas demandas.
Existe uma variada gama de aspectos que podem e devem ser estudados em trabalhos que buscam avaliar a formação dos egressos, entre estes podemos destacar: satisfação com o curso/atendimento às expectativas, satisfação com a instituição/atendimento às expectativas, além de questões mais pontuais relacionadas com: mercado de trabalho; satisfação pessoal; obtenção de conhecimento; formação para a pós-graduação, entre outras.
Com os resultados de um estudo sobre egressos é possível que a IES possa obter informações sobre a sua atuação e assim promover ações que tenham como objetivos reforçar as potencialidades e mitigar, até mesmo sanar, eventuais fragilidades. Para Calbino et al., (2020) as informações obtidas a partir de estudos com os egressos podem e devem ser utilizadas como formas de planejamento das IES, visando melhorar a gestão destas organizações em todas as dimensões de atuação: ensino, pesquisa, extensão e gestão.
Por fim, cabe destacar que em instituições mais jovens, como o caso da Unipampa, composta de diversos campi, que abrange múltiplas áreas de formação, como o campus foco deste estudo, torna-se ainda mais importante um estudo sobre seus egressos.
Conhecer os egressos e suas opiniões sobre a formação recebida durante a graduação permite a mesma realizar correções de rumo em seus mais diversos processos de ensino e aprendizagem.
Procedimentos metodológicos
Neste trabalho, buscou-se identificar e descrever as principais características de um grupo populacional, com base em um conjunto de dados quantitativos amostrais. Portanto, caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, do tipo cross-sectional (Cervo; Bervian, 2002; Gil, 2017). Nesse sentido, dadas suas características gerais, classifica-se esta pesquisa como survey.
O objeto do trabalho são as informações oriundas dos egressos dos cursos de graduação da Unipampa, campus Bagé, entre o período de 2010 e 2021. A população incluiu 1.268 egressos dos cursos de Engenharia de Alimentos (EA), Engenharia de Computação (EC), Engenharia de Energia (EE), Engenharia de Produção (EP), Engenharia Química (EQ), Licenciatura em Física (LF), Licenciatura em Letras - Línguas Adicionais e Licenciatura em Letras - Português e Literaturas de Língua Portuguesa (LL), Licenciatura em Matemática (LM), Licenciatura em Música (LMus) e Licenciatura em Química (LQ). Cabe destacar que o período definido nesta pesquisa refere-se ao ano em que se formou a primeira turma de egressos (2010), até o ano de início de realização deste trabalho (2021).
As respostas foram obtidas a partir de um questionário, enviado por intermédio da plataforma Google Forms. As questões inseridas no questionário foram organizadas conforme as dimensões: mobilidade regional e acadêmica, emprego, renda, inserção no mundo do trabalho, situação socioeconômica familiar e empreendedorismo, que segundo os autores estão interligadas a responder aos objetivos delineados da pesquisa.
O formulário foi enviado via endereço eletrônico para todos os egressos. Entretanto, egressos formados em anos mais longínquos, por não estarem com o endereço de correio eletrônico atualizado, foram contatados por outros meios, como exemplo as redes sociais. Para esta etapa do trabalho, contou-se com o auxílio de uma aluna bolsista e quatro alunos voluntários da Universidade. Após esse processo, contou-se com uma amostra de 308 sujeitos entrevistados ou 24,3% da população. O período utilizado para a coleta de dados foi entre outubro de 2021 e janeiro de 2022.
Os dados foram analisados utilizando técnicas estatísticas de análise exploratória dos dados (Devore, 2018). Os softwares R versão 4.1.3 (R Core Team, 2022) e Rstudio versão 1.2.5001 (RStudio Team, 2019) e o conjunto de pacotes tidyverse (Wickham et al., 2019) foram utilizados para o armazenamento, pré-processamento, processamento e análise estatística dos dados.
Caracterização geral dos egressos
Dos 1.268 egressos do período, o número de respondentes do questionário foi de 308, cerca de 24,3% da população. Essa taxa de retorno das respostas, satisfaz os critérios estatísticos para conferir validade ao trabalho. De outra parte, esta taxa de adesão, não muito elevada, é citada como normal no trabalho de Francisco et al., (2016), onde relata que a média de retorno fica em taxas mínimas de aproximadamente 30%.
A maioria dos respondentes cursou, respectivamente, LL (24,35%), EQ (23,05%) e EP (16,88%), que juntos somam 64% da amostra. O curso com menor representatividade na amostra foi o de LMus, com apenas seis respondentes. A idade mínima registrada foi de 22 anos, a máxima de 54 anos e a média de 30,5 anos. A figura 1 detalha o número de respondentes por curso e o respectivo percentual da amostra coletada. É importante destacar que o curso de LL apresentou o maior número de egressos no período estudado, 376, enquanto o curso de LMus o menor número, 37.
Em relação à mobilidade regional e acadêmica, constatou-se que 67% dos egressos residiam em Bagé ou alguma cidade limítrofe antes de iniciar a graduação na Unipampa. Atualmente, 50% dos egressos permanecem residindo na região. Esse dado indica haver importante parcela de formados, cerca de 17%, que fixou residência fora dos limites regionais após a conclusão da graduação. Calbino et al., (2020) destacam que 93,5% dos egressos da Universidade Federal de São João del Rei de Minas Gerais, entre o período de 2013 a 2017, eram do Estado de origem e apenas 6,5% dos demais Estados, ilustrando um caráter de regionalidade. Resultados similares foram encontrados nas pesquisas de Santos et al., (2015) e Lima e Andriola (2018), que ao analisarem o perfil de mil egressos de uma universidade do Ceará identificaram que cerca de 95% têm origem e residem no mesmo estado em que cursaram o ensino superior.
O tempo médio para concluir a graduação foi de 5,36 anos, com mediana de 5 anos e desvio padrão de 1,71 ano. O tempo mínimo reportado foi de 3 anos - para este tempo consideram-se situações como portadores de diploma, entre outras -, e o tempo máximo de 12 anos. Filtrando os dados pelo 1° e 3° quartis, temos em média 4 e 6 anos, respectivamente. Nesse caso, temos que 215 (69,8%) egressos precisaram de 4 a 6 anos para concluir o curso, outros 31 (10,1%) precisaram até 3 anos e 62 (20,1%) precisaram de 7 a 12 anos. Ao analisarmos separadamente, os licenciados necessitam, em média, 4,6 anos para a integralização do curso, enquanto os engenheiros seis anos. Apesar disso, a maioria dos egressos dos cursos de licenciatura (39,2%) precisam 4 anos para a integralização, ao passo que a maioria dos egressos da engenharia (36,4%) precisam 5 anos.
Por fim, investigou-se as perspectivas de continuidade do processo formativo por parte dos egressos. A tabela 1 representa as perspectivas de estar ou não realizando uma formação acadêmica, dividida entre os cursos de Licenciaturas (Lic) e Engenharias (Eng). Verificou-se que em média 54% responderam não estar estudando. Dentre os 46% que ainda permanecem na academia, destaca-se o elevado percentual de egressos que estão cursando pós-graduação em outra instituição (33% em média).
Q7: Você está estudando atualmente? | n | Lic (%) | Eng (%) |
Não | 75 | 52,45 | 56,36 |
Sim, uma nova graduação em outra instituição | 15 | 10,49 | 3,03 |
Sim, uma nova graduação na Unipampa | 1 | 0,70 | 0,61 |
Sim, uma nova pós-graduação em uma outra instituição | 47 | 32,87 | 34,55 |
Sim, uma nova pós-graduação na Unipampa | 5 | 3,50 | 5,45 |
Fonte: dados da pesquisa (2023).
Emprego, renda e mundo do trabalho
A maioria dos entrevistados (67%) não estava trabalhando antes de ingressar na universidade. Aqui podemos destacar que somente nos cursos de LM e LMus a maioria dos egressos estava trabalhando antes de ingressar na unipampa. Para o curso de LL os percentuais foram praticamente iguais (51 e 49%) e para os demais cursos, a grande maioria não trabalhava.
Analisando separadamente os cursos de Engenharias e Licenciaturas, percebemos que os perfis são muito distintos: 82% dos engenheiros não estavam trabalhando, ante 18% que trabalhavam antes do ingresso. Esses dados são muito relevantes e serão utilizados a seguir para cruzar com as informações sobre o perfil dos ingressantes dos diferentes cursos.
Na perspectiva de avaliar a inserção dos egressos no mundo do trabalho, os dados indicam um baixo percentual de formados que afirmaram não estar trabalhando no período de coleta dos dados, cerca de 17%. Dos 83% dos respondentes que estão trabalhando, 66% afirmaram estar atuando em sua área de formação, o que indica haver uma boa inserção desses profissionais em suas respectivas áreas. Em apenas um curso, EA, o percentual de egressos que não está trabalhando atualmente superou o percentual que está trabalhando: 60% versus 40%. Há que se destacar o alto percentual de inserção no mundo do trabalho dos cursos de EC (100%, dos quais 87% na área de formação), LMus (100%), EE (94%), EP (94%), LM (93%), LL (87%) e EQ (77%).
Por um lado esses dados apresentam um aspecto positivo quanto à alta taxa de empregabilidade dos egressos, mas, por outro, não refletem o cenário recente do mundo do trabalho. A figura 2 mostra o percentual de respondentes que estava trabalhando no período de coleta dos dados segundo o ano de conclusão do curso. É possível notar que os egressos que se formaram em anos recentes - 2018 a 2021 - estão com baixas taxas de inserção no mundo do trabalho. Essa constatação também é destacada por Lima e Andriola (2018), que sugere questões como a estabilidade no mercado de trabalho dos egressos oriundos dos primeiros anos de formação, o aumento da concorrência pelas vagas de emprego e a possibilidade dos egressos formados em anos recentes estarem assumindo postos de trabalho mais vulneráveis. Além disso, aponta-se que a saturação local do mercado de trabalho pode ser uma das possíveis causas para esse comportamento.
Com relação à análise do tipo de contratação dos respondentes inseridos no mundo do trabalho, verificou-se que o mercado formal, no setor privado, absorve a maioria dessa mão-de-obra: 53%, ante 39% no setor público e 8% no mercado informal. Esse cenário modifica-se drasticamente ao analisarmos separadamente os cursos das engenharias - 77% no setor privado, 16% no setor público e 7% no mercado informal - e das licenciaturas: 24% no setor privado, 66% no setor público e 10% no mercado informal. Esse perfil mostra a dependência dos licenciados em relação à contratação pelo serviço público. Por outro lado, evidencia que a grande maioria dos egressos dos cursos de Engenharia optam pelo serviço privado para adentrar no mundo do trabalho.
Outro ponto que ajuda a traçar o perfil do egresso diz respeito à renda bruta pessoal mensal. Conforme os dados, a maioria, 43%, recebe entre 2 e 4 salários mínimos, 26% recebe entre 4 e 10, 25% recebe menos que dois, 5% recebe entre 10 e 20 e 1% dos respondentes recebe mais que 20 salários mínimos. Ao analisarmos esses percentuais por curso, podemos notar grandes diferenças entre as diferentes formações. A figura 3 mostra esses percentuais considerando os cursos de Engenharia e Licenciatura, separadamente. Notadamente, os profissionais das áreas das engenharias têm renda maior, haja vista, por exemplo, a faixa salarial de 4 a 10 e de 10 a 20 salários mínimos: 34,3% e 8,2% para as engenharias e 48,2% e 16% para as licenciaturas, respectivamente. Esses percentuais evidenciam um padrão já conhecido das diferentes profissões no Brasil, ou seja, há grande variação entre os rendimentos do acordo com a formação (Vargas, 2011; Marcos; Mariano, 2022).
Ainda acerca da situação laboral do egresso, buscou-se avaliar pontos que dificultaram ou facilitaram a entrada do diplomado no mercado de trabalho. Em relação às dificuldades, os fatores pouca experiência profissional - 49% dos respondentes assinalaram esta alternativa -, situação econômica do país/Estado (39%) e falta de contatos que pudessem lhe indicar a vagas de emprego (34%), foram os que tiveram maiores percentuais.
Em relação aos pontos que aumentam as chances de entrar no mundo do trabalho, a alternativa boa reputação da Unipampa foi assinalada por 49% dos respondentes, seguida da opção cursos de aperfeiçoamento (34%) e concorrentes menos preparados (24%). Cabe ressaltar que em ambas as questões era possível assinalar mais de uma alternativa. Esses percentuais, aliados aos 55% dos egressos que indicaram que a formação na Unipampa teve impacto positivo na carreira, mostram que a universidade fomenta o ingresso desses diplomados no mercado de trabalho, contribuindo com seu desenvolvimento profissional.
Situação socioeconômica familiar
Nas questões relacionadas ao nível de escolaridade os resultados apontam haver certo equilíbrio entre a escolaridade do pai e da mãe do egresso, com ligeiro percentual maior para os pais com ensino fundamental (32,5%) e para as mães com ensino superior (20,1%). A maior discrepância fica por conta da pós-graduação: 13% para as mães e 4,9% para os pais. Por outro lado, há que se destacar que, em geral, o nível de escolarização do pai é menor que o da mãe, prevalecendo os percentuais mais elevados nos níveis, nenhuma escolaridade (4,9%), ensino fundamenta (32,5%) e ensino médio (37,3%).
Licenciaturas | Engenharias | Total | |||||
Resposta | Pai | Mãe | Pai | Mãe | Pai | Mãe | |
Nenhuma escolaridade | 4,9 | 2,8 | 4,8 | 3,6 | 4,9 | 3,2 | |
Ensino fundamental | 40,6 | 39,9 | 25,5 | 15,8 | 32,5 | 29,9 | |
Ensino médio | 35,0 | 35,7 | 39,4 | 37,0 | 37,3 | 36,4 | |
Ensino superior | 11,2 | 14,7 | 23,0 | 24,8 | 17,5 | 20,1 | |
Não sei | 4,2 | 0,7 | 1,8 | 0,0 | 2,9 | 0,3 | |
Pós-graduação | 4,2 | 6,3 | 5,5 | 1,8 | 4,9 | 13,0 |
Fonte: dados da pesquisa (2023).
Analisando separadamente as respostas dos egressos dos cursos de Licenciatura e de Engenharia, é possível notar que os pais dos egressos dos cursos de Engenharia possuem um grau de escolaridade maior do que os pais dos alunos de Licenciatura, ou seja, os dados indicam que o grau de escolaridade dos familiares influenciou na escolha do curso de graduação desses egressos. Essas observações corroboram com uma das conclusões da pesquisa de Nunes (2015), que mostra que, em geral, os alunos dos cursos de Licenciatura são oriundos de famílias que possuem baixo grau de escolaridade, baixa renda e formados em escolas públicas. Com isso, é possível dizer que a definição do curso de graduação dos egressos entrevistados passa por questões de classe social e escolaridade.
Adicionando a análise dos dados da tabela 1 às informações da figura 3, é possível perceber que o ingresso e a posterior conclusão do ensino superior eleva o estrato social do egresso da Unipampa. Considerando o aspecto da escolaridade, tanto da figura paterna, quanto da materna, são evidentes os indícios da ascensão do grau de instrução, que deve, em tese, conduzir a uma ascensão na renda pessoal e familiar.
Quando perguntado sobre qual era a maior qualificação antes de iniciar a graduação na Unipampa, 76,3% dos entrevistados afirmaram ter ensino médio, 18,2% ensino técnico, 3,6% graduação incompleta, 1,6% graduação completa e 0,3% pós-graduação.
Empreendedorismo
Aspectos relacionados ao perfil empreendedor dos egressos também foram abordados nesta pesquisa. As perguntas Q22: “Qual o grau de incentivo em empreender que o curso de graduação lhe ofereceu?”, Q23: “Com o término da graduação considero que me tornei um empreendedor” e Q24: “Em relação à abertura de um negócio próprio, assinale a opção que melhor reflete a sua condição”, buscaram traçar, ainda que superficialmente, o grau de empreendedorismo dos diplomados.
A figura 4 apresenta os dados, na escala Likert, para as questões Q22 e Q23. A maioria dos egressos (71%) considera baixo ou extremamente baixo o incentivo em empreender dos cursos de graduação. Associado a isso, mais da metade deles (53%) não se considera um empreendedor, quando este fato está associado à possibilidade de abertura de um negócio próprio. Os resultados mostram que os egressos, em geral, são pouco estimulados a empreender na graduação e que a abertura de um negócio próprio não é considerada uma prioridade.
Ainda com relação às questões anteriormente mencionadas, quando analisados separadamente os cursos de Licenciatura e os cursos de Engenharia, percebe-se uma leve tendência dos egressos das Licenciaturas em maior aderência às questões de empreendedorismo. Desperta atenção que dos cinco cursos de Licenciatura, em todos tivemos citações que o curso de graduação ofereceu algum grau significativo para empreender. Quanto aos cursos de Engenharia, esta resposta foi positiva em 3 dos 5 cursos.
Com relação à questão 23, as respostas demonstram que os egressos da Engenharia têm maior possibilidade de se tornar um empreendedor. Este fato é contraditório às respostas da questão 22, pois nesta questão os egressos das Licenciaturas afirmaram que receberam maior incentivo, durante a graduação, ao empreendedorismo. Este fato pode sugerir que alunos dos cursos de Engenharia tenham maior adesão ao tema, independente da formação que tenham recebido durante o curso de graduação. A questão 24 instigava os egressos a responderem sobre a intenção de empreender. Mais da metade dos alunos (53%), relatou que tem esta intenção ou já o fazem.
Os resultados demonstram fraca atenção às questões relacionadas ao empreendedorismo. Este fato é coerente com a colocação da universidade no estudo Ranking (2022). Conforme o ranking, a Unipampa ocupa a posição de número 41 entre 126 universidades. Em outros trabalhos, como o de Santos e Lenzi (2018), relacionam os autores e universidades que se destacam na atuação com empreendedorismo junto a universidades. Neste estudo não é citado nenhum professor da universidade/campus, objeto deste estudo. No trabalho de Giarola et al., (2013), que também relaciona pesquisadores com destaque na área de empreendedorismo, apenas um professor da universidade, ora em estudo, é citado, sendo de outro campus.
A Unipampa, campus Bagé ainda não possui incubadora de empresas, bem como parque tecnológico, embora existam projetos para o desenvolvimento destas estruturas. Segundo os autores Stal et al., (2016) a presença de uma incubadora de empresas tende a maximizar as atenções para a abordagem do tema empreendedorismo nas universidades.
Resultados e implicações para a gestão da universidade/campus
Diversos autores citados ao longo do trabalho afirmam que muitas podem ser as contribuições advindas do estudo com egressos. Dentre estas, destacamos o fato de permitir que os gestores universitários possam rever suas políticas e estratégias para contemplar melhor as expectativas dos estudantes e também da sociedade.
O grande percentual de alunos oriundos da cidade de Bagé, ou cidades limítrofes, abre a possibilidade para novas formas de ingresso, mais direcionadas ao contexto regional, tais como o concurso vestibular ou outros métodos que acompanham o desempenho do aluno durante o ensino médio.
Aproximadamente 47% dos egressos manifestam o interesse em continuar os estudos após a conclusão da graduação, quer seja em outra graduação ou iniciando-se na pós-graduação. Este fato revela uma oportunidade para a universidade/campus atuar junto a este segmento, quer seja na oferta de uma segunda graduação ou uma pós-graduação, visto que aproximadamente um terço dos egressos afirma estar cursando uma pós-graduação em outra instituição.
Um resultado bastante positivo é o que revela que, aproximadamente, dois terços dos egressos estão atuando em sua área de formação. Este fato, somado ao citado no parágrafo anterior, reforça ainda mais a possibilidade da oferta de pós-graduação, como forma de incentivar os alunos a continuarem seus estudos na área de graduação, visto que estão atuando no mercado de trabalho. Este bom índice de acesso ao mundo do trabalho, aliado a boa reputação da instituição, são fatores que devem ser utilizados como forma de divulgar a importância da universidade, e respectivos cursos, na tentativa de atrair novos alunos.
Ainda com relação ao mundo do trabalho, duas fragilidades foram citadas pelos egressos: pouca experiência profissional e falta de contatos que pudessem lhe indicar as vagas de emprego. Neste sentido, recomenda-se maior esforço da universidade no sentido de promover maior campo de atuação, em atividades tais como oferta de estágios e projetos que envolvam a sociedade e as empresas locais.
Os resultados também demonstram uma fragilidade das atividades desenvolvidas com relação ao tema empreendedorismo. Os resultados mostram que os egressos, em geral, são pouco estimulados a empreender na graduação e que a abertura de um negócio próprio não é considerada uma prioridade. Outro fato que pode e deve contribuir para aproximar mais a universidade da sociedade, em especial promover maior incentivo ao empreendedorismo, é a instalação de uma incubadora. Já existe projeto com esta finalidade na instituição/campus.
Considerações finais
Conforme apresentado, é importante para uma instituição de ensino superior conhecer o perfil de seu egresso, em especial no tocante a algumas características. Neste sentido, o trabalho teve como objetivo geral identificar a inserção no mundo do trabalho, a predisposição empreendedora e a continuidade do aperfeiçoamento dos egressos da Unipampa, Campus Bagé.
Desta forma, podemos destacar que a maioria dos egressos são oriundos da cidade de Bagé e cidades limítrofes. Este fato indica que a IES tem a possibilidade de promover ações para a captação de alunos de outras regiões do Estado e até mesmo do país, embora este resultado seja coerente com outros trabalhos, caracterizando um aspecto de regionalidade das instituições federais de ES.
Com relação ao tempo médio para a conclusão do curso, percebe-se que a grande maioria dos egressos precisam entre 4 e 6 anos para a integralização do curso. Outros egressos, aproximadamente 20%, precisaram de mais de 7 anos. Analisando separadamente, os licenciados necessitam, em média, 4,6 anos para a integralização do curso, enquanto os engenheiros 6 anos.
Quanto à formação para o mundo do trabalho, a maioria dos egressos não atuava antes do ingresso no curso superior. Entretanto, mais de 80% deles relataram atuar no mundo do trabalho após o término do curso, este fato demonstra a importância da presença da instituição para esta finalidade, ou seja, promover a inserção de seus egressos no mundo do trabalho.
Ainda com relação ao mundo do trabalho, de forma coerente ao cenário econômico brasileiro, os egressos que integralizaram seus cursos em anos mais recentes, últimos quatro anos, enfrentam maiores dificuldades para atuar no mundo do trabalho. Existe uma grande dependência das organizações públicas para a atuação dos egressos dos cursos de Licenciatura, de outra parte a grande maioria dos egressos dos cursos de Engenharia opta pelo serviço privado ao buscar a inserção no mundo do trabalho. Além disso, metade dos respondentes acredita que a reputação da instituição foi decisiva para sua inserção no mundo do trabalho.
Com relação à renda bruta mensal, aproximadamente 65% dos respondentes recebem até quatro salários-mínimos. Ainda sobre o cenário socioeconômico, é possível notar que os pais dos egressos dos cursos de Engenharia possuem um grau de escolaridade maior do que os pais dos alunos de Licenciatura, bem como uma renda familiar maior. Entretanto, em ambos os extratos a renda familiar média é abaixo de três salários-mínimos e menos de 40% dos pais têm formação superior. Estes fatos reforçam a fragilidade socioeconômica da cidade e região e a importância da presença da instituição, como fator que pode promover uma mudança econômica e social, por intermédio do maior e melhor acesso à educação.
O tema empreendedorismo se faz presente, atualmente, em praticamente todos os debates sobre educação e mundo do trabalho. Neste sentido, os egressos da Unipampa, campus Bagé relatam que recebem pouca informação e incentivo durante sua trajetória acadêmica sobre o tema, entretanto, mais da metade dos egressos relata a intenção de se tornar um empreendedor, sendo esta intenção maior entre os alunos dos cursos de Engenharia.
Como principal contribuição do trabalho, com base nos dados coletados, pode-se identificar o perfil do egresso do campus Bagé, da Unipampa, proporcionando informações relevantes para que os gestores do campus e da universidade possam, se necessário, rever as políticas educacionais. Outra contribuição foi a confirmação da fragilidade social e econômica da região e a importância da universidade para contribuir para a transformação da cidade e região.
Os resultados também permitem que gestores públicos e agentes privados possam realizar ações no sentido de promover uma maior e melhor inserção dos egressos no mundo do trabalho, visando a melhorar a realidade socioeconômica da região. A falta de estudos sobre os egressos dos demais campi da instituição pode ser considerada uma limitação para este trabalho. Com a realização de outros estudos nos demais campi, especialmente os que contam com cursos de Engenharia e Licenciatura, seria possível traçar ações conjuntas para a melhoria do desenvolvimento da Universidade. Fica este apontamento como sugestões para trabalhos futuros.