A revista Série-Estudos publica, no seu segundo número de 2024 (v. 29, n. 66), quinze artigos de diferentes instituições de educação superior do Brasil. Os doze primeiros artigos tratam da educação para as relações étnico-raciais na educação básica e na educação superior. Além desses, há um artigo relacionado a questões gênero, um sobre educação a distância e um acerca do acesso à cidadania num contexto de fluxos migratórios em um mundo globalizado.
O primeiro artigo intitula-se “As Relações Étnico-Raciais no Currículo de Ciências e Educação Física: apontamentos teóricos” e tem autoria de Catiana Nery Leal, Maria de Fátima de Andrade Ferreira e Rafael Casaes de Brito. O artigo mostra possiblidades de inserção da história e cultura africana e afro-brasileira em disciplinas da educação básica, conforme preconizado pela Lei 10.639/2003.
O segundo artigo, denominado “Njila ku kibuku: educação afrocêntrica e construção de novos modos de educar na escola pública”, é de Taisa de Sousa Ferreira e Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios. As autoras mostram que, por meio dos princípios da educação afrocêntrica, é possível romper com o eurocentrismo que marca os conhecimentos e os currículos da educação básica, bem como combater o racismo que persiste na educação.
O terceiro artigo, “‘Espanhol para Todos’: uma autoetnografia do entenderle professora decolonial”, é de Millena Dánily P. Rodrigues e Joziane Ferraz de Assis. As autoras trazem a análise de uma experiência de um cursinho de Espanhol desenvolvido como projeto de extensão vinculado ao Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, mostrando que é possível transformar o ensino da Língua Espanhola e uma perspectiva decolonial, por meio do estudo da realidade latino-americana.
O quarto artigo, “De neguinha a professora: trajetórias de vida-formação de docentes negras do Ensino Fundamental I em Primavera do Leste, MT”, tem autoria de Júlia Rodrigues Nunes Café, Lucas Santos Café e Ademar de Lima Carvalho. No artigo, analisa-se a trajetória formativa de cinco professoras negras com foco no racismo e sexismo, evidenciando a interseccionalidade de raça, gênero e classe em suas vidas.
O quinto artigo, “Representatividade africana e afro-brasileira nos currículos da educação básica do estado de Santa Catarina, Brasil”, é de Kairo Madah da Costa Moraes e Cláudia Battestin. No texto, aborda-se as dificuldades de implementar a Lei 10.639/2023 num estado que se destaca pelo ocultamento da história e cultura africana. As autoras defendem a urgência de implementar uma educação afrocentrada e antirracista.
O sexto artigo, “Miren al mariquita” - la metamorfosis en ‘bicho’: estudio psicosocial sobre un hombre negrogay situado y ‘sitiado’, tem autoria de Antonio José de Souza e Elaine Pedreira Rabinovich. As autoras mostram como o olhar discriminador afeta o processo de construção “de si”, trazendo repercussões negativas para a vida, tais como o sentimento de vergonha e o medo de assumir-se negrogay.
O sétimo artigo, “Práticas culturais de contações de histórias e a literatura no contexto escolar: por uma educação antirracista”, é de Victoria Sara de Arruda e Laura Noemi Chaluh”. No artigo, argumenta-se que as contações de histórias são importantes recursos pedagógicos para combater o racismo estrutural, valorizar as identidades negras, a negritude, e contribuir para a reparação histórica do povo negro.
O oitavo artigo, “Artevivências: (re)inventando o currículo escolar a partir de mulheres negras”, tem autoria de Camila Nagern Marques Vieira, Sirlene Ribeiro Alves e Maria Cláudia Rodrigues. As autoras trazem possibilidades de decolonizar os currículos por meio da arte produzida por mulheres negras que vivem múltiplas exclusões em função de um processo histórico escravista e patriarcal.
O nono artigo, “‘Contrato Racial’ e representatividade negra: estruturas desafiadoras a uma educação antirracista”, é de Claudecir dos Santos e Bruna Marcos Velho. No artigo, analisam-se os desafios para implementar uma educação antirracista tendo em vista a superação do racismo estrutural, versando sobre a importância de um contrato racial e da representatividade negra nos diferentes espaços da sociedade.
O décimo artigo, “Experiências educativas de pessoas negras surdas sob uma perspectiva afrocentrada: um caminho de possibilidades”, tem autoria de Rafaela de Alcântara Barros, Clayton Márcio Hermes Pereira e Maria da Conceição dos Reis. Os autores analisam o processo de construção da identidade negra surda no cenário da licenciatura Letras-LIBRAS, mostrando que, no contexto investigado, a identidade surda ganha mais destaque que a questão da identidade negra.
O décimo primeiro artigo, “Cartas político-afetivas contra o racismo na pós-graduação”, é de Victor de Jesus. No artigo, problematiza-se a pós-graduação stricto sensu no Brasil, reconhecendo que os impactos das leis 10.639/2003 e 12.711/2012 não foram tão significativos como nos cursos de graduação. A pós-graduação continua sendo um espaço quase exclusivamente de alunos e docentes brancos e de conhecimentos eurocêntricos.
O décimo segundo artigo, “Carta a várias mãos para uma educação antirracista: a você, colega de universidade”, tem autoria de Karin Juliana Daffinyn da Silva, Camila Trindade Coelho e Ivonete Teresinha Schulter Buss Heidemann. As autorias, baseadas em suas experiências, problematizam, entre outras questões, o racismo que há na universidade, a invisibilidade da intelectualidade negra, a violência racial e as opressões associadas à população negra além da violência racial, mas condicionadas a esta.
O décimo terceiro artigo, “Dispositivo da família: problematizando o discurso de família-afeto”, é de Luciana Kornatzki e Paula Regina Costa Ribeiro. No artigo, analisa-se o discurso de família-afeto em famílias homoparentais, apresentando que o afeto é utilizado como argumento para não questionar os padrões heteronormativos.
O décimo quarto artigo, “Conhecimento tecnológico de alunos da EaD: análises sobre os resultados do Survey TPACK aplicado a estudantes de licenciatura”, tem autoria de Edison Trombeta de Oliveira. No texto, versa-se sobre a percepção que licenciandos de quatro cursos ofertados na modalidade a distância têm sobre seu domínio no uso das tecnologias, destacando que esse domínio melhorou em função de estudarem nessa modalidade.
O último artigo “Migrações internacionais, direitos humanos e cidadania” é de Ariadne Celinne de Souza e Silva e Celeida Maria Costa de Souza e Silva. As autoras analisam o acesso à cidadania num contexto de fluxos migratórios em um mundo globalizado, defendendo a necessidade de os Estados adotarem políticas de integração e acolhimento para que a cidadania cosmopolita se torne uma realidade.
Boa leitura.