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Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação

versão impressa ISSN 0104-4036

Resumo

DEMO, Pedro. Aula não é necessariamente aprendizagem. Ensaio: aval. pol. públ. educ. [online]. 2004, vol.12, n.43, pp.669-695. ISSN 0104-4036.

Chamar a aula de trambique de professor é logo ofensa irreparável para grande parte dos professores, porque só fazem isso na vida. Definem-se como profissionais que "dão aula" e para tanto são contratados, sobretudo quando são "horistas". Professores básicos não são, como regra, horista, mas, em muitos casos "dão aula" pela manhã, tarde e noite, quase sempre para ganhar uma miséria. Exaurem-se, dando aula. Evidentemente, esta expressão tem apenas finalidade retórica e didática quer provocar a discussão aberta. Peço, pois, que o professor não perca tempo em se ofender, apenas se disponha a discutir comigo, brandindo, não dardos envenenados, mas argumentos. Aqui temos o caso lídimo da relevância plena da "autoridade do argumento", não do "argumento da autoridade". Em grande medida, aula e típico argumento de autoridade, pois se mantém por conta da autoridade do professor, não por sua necessidade didática. A diferença entre autoridade do argumento e argumento de autoridade é monumental. No segundo, agimos de modo instrumentista, de fora para dentro, de cima para baixo, esperando que o aluno se submeta, se alinhe na condição de objeto, geralmente através das reações clássicas de escutar com toda atenção, tomar nota de tudo e devolver ipsis litteris na prova. No primeiro, aparece o gesto autopoiético de dentro para fora, tipicamente reconstrutivo político, na condição de sujeito participativo, constituindo neste processo dinâmico, complexo não linear, sua autonomia histórica. Relação pedagógica é de autonomia, como sempre quiseram todos os grandes educadores, desde pelo menos Sócrates. Etimologicamente, educar provém de "educere" (latim) e quer dizer "retirar de dentro". Paulo Freire, ao colocar sua intuição soberba da "politicidade" da educação, sugeria:: "o bom educador é aquele que influencia seu aluno de tal modo que o aluno não se deixe influenciar" (DEMO, 2002b). O professor, obviamente, age de fora, porque é fator externo, mas o processo educativo se instala de dentro, quando os dois lados se comportam como sujeitos envolvidos em dinâmicas recíprocas, nas quais a influencia precisa tornar-se libertadora, não cerceadora. Neste texto, busco polemizar sobre a aula, não para acabar com ela - vai continuar como troféu do professor, mas para colocá-la em seu devido lugar. Tem seu lugar, mas é caracteristicamente supletivo. Não pode, em hipótese alguma, ser o centro da didática. Neste centro está a aprendizagem do aluno, nunca a aula do professor. Parto da noção de que cabe ao professor cuidar da aprendizagem do aluno como compromisso fatal. E retiro daí a conclusão que pretendo agora argumentar da melhor maneira possível: quem de verdade quer cuidar da aprendizagem do aluno, não dá aula, mas faz o possível e o impossível para que ele possa aprender bem; aí cabe a aula, mas como gesto de acréscimo, não como essência de uma relação autoritária e instrucionista. Uma das excrescências mais gritantes do professor é considerar a aula como expressão máxima da "relação pedagógica", que, a estas alturas, esquece do aluno, pois o deixa como figura decorativa num processo onde deveria ocupar nada mais que o centro.

Palavras-chave : Focalização de Políticas Sociais; Sociedades de Classes e Focalização; Políticas Sociais Universais; Focalizadas e Multiculturalismo; Distribuição de Renda e Poder.

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