O livro Educare l’infanzia: temi chiave per i servizi 0-6, escrito pelas pesquisadoras ^{Anna Bondioli e Donatella Savio}, apresenta quatro capítulos com temáticas essenciais para a educação infantil: o currículo, as relações, o ambiente e o brincar. Publicada em abril de 2018, a obra foi produzida dentro de um contexto de grandes mudanças na educação infantil italiana. A partir da Lei n. 107, de 2015, e do Decreto n. 65, de 2017, a Itália instituiu o sistema integrado de educação de 0 a 6 anos. Assim, os serviços italianos que atendem a essa faixa etária precisam planejar em conjunto, considerando as especificidades de cada etapa. A publicação é de grande relevância para os pesquisadores e profissionais da educação infantil italiana, mas também se constitui como um importante referencial teórico para pensar a primeira etapa da educação básica no Brasil.

Nas páginas introdutórias, as autoras apresentam a concepção de criança, ou seja, como sujeito de direitos, ativo, capaz de decidir, com vontade de interagir e conhecer. Nessa perspectiva, os serviços para crianças de 0 a 6 anos deveriam trabalhar com percursos educativos que promovam uma abertura para o outro e de colaboração. Adultos e crianças como coautores de percursos educativos significativos, que envolvam aspectos sociais, cognitivos e afetivos. São estas concepções, de criança e de experiência significativas nas trajetórias educativas, que orientam os quatro capítulos do livro que apresentamos a seguir.

No primeiro capítulo, “Un curriculo per lo 0-6?”, o currículo é abordado como um percurso intencional, que nasce de um processo coletivo, com acompanhamento constante e avaliações que buscam verificar se os objetivos propostos foram alcançados. Na parte inicial, as pesquisadoras discutem a criança e o currículo segundo Dewey, as especificidades da infância e referenciais, italianos e internacionais, sobre o currículo. No item “Un curriculo per l´infanzia 0-6: alcuni indicatori”, são analisados indicadores para um currículo para infância. O primeiro indicador coloca a importância de um projeto que considere a observação, a documentação e a avaliação, sendo incluídas algumas orientações para realização dessas ações. Outro indicador é a qualidade do currículo, que necessita englobar: uma perspectiva holística; a indissociabilidade entre educar e cuidar; a criança como centro da proposta; um currículo movido pelo interesse e curiosidade dos pequenos; um processo “che si fa mentre si fa”; a identidade e a história (institucional, cultura local, tradições); e o brincar como atividade principal das crianças de 0 a 6 anos. Finalmente, o terceiro indicador refere-se às esperienze educative, tais como: as psicofísicas e de desenvolvimento; a exploração e as científicas; a comunicação e as linguagens; e a expressão (gráfica, sonora, entre outras). A proposta de um currículo para infância, apresentada nesse primeiro capítulo, perpassa três dimensões essenciais que as autoras colocam nos capítulos que seguem, a começar pelos aspectos relacionais.

No segundo capítulo, “Le relazioni”, a perspectiva adotada é de uma pedagogia participativa, que reconhece a criança como um sujeito capaz, com direito e competência para expressar sua opinião, que, desde o nascimento, é predisposta à interação social. O capítulo apresenta quatro temáticas: a participação; as relações adulto-criança; as relações criança-criança; e as relações adulto-adulto. Entre os elementos discutidos pelas autoras, destacamos a importância da identità educativa (princípios, teorias, boas práticas da qual compartilham os/as profissionais) e a escuta da criança que deve ocorrer de forma holística, considerando suas diversas linguagens.

Outra dimensão abordada pelas pesquisadoras, no terceiro capítulo (“Spazi e tempo”), é o ambiente (espaço-tempo). O planejamento dos espaços e dos tempos, considerando a criança o centro do processo educativo, é organizado com o objetivo de promover experiências educativas significativas. O ambiente precisa ser acolhedor, que convide a permanência e inclua elementos materiais de interesse dos pequenos. Como nos capítulos anteriores, nesse também são apresentados indicadores relacionados com a dimensão do capítulo, ou seja, indicadores para os espaços e os materiais e para a organização dos tempos.

No último capítulo, “Il gioco”, as discussões são em torno do brincar, partindo de referenciais teóricos e do documento Proposal for key principles of a quality framework for early childhood education and care (2014), da Comissão Europeia. As autoras discutem como o brincar deve ser central nos serviços educativos de crianças de 0 a 6 anos, constituindo elemento fundamental dos projetos educacionais. Considerando a brincadeira vital para as crianças, sendo uma importante voz dos pequenos, são apresentados indicadores/aspectos para construir e/ou analisar a ludicidade nas propostas educacionais relacionados com o projeto, os espaços, os materiais, os tempos, os grupos de crianças e o papel dos adultos.

Observamos, no decorrer de todo o livro, que, como proposto pelas autoras, as dimensões trabalhadas são imprescindíveis para um currículo para crianças de 0 a 6 anos, principalmente ao colocá-las como centro do processo.

Cabe destacar que, ao final de cada capítulo, além da síntese (“In sintesi”), que retoma os principais pontos do texto, há uma série de perguntas realizadas pelas autoras (Domande di autoverifica). Esses questionamentos convidam o leitor, especialmente os profissionais que trabalham com a educação infantil, a refletir sobre as dimensões tratadas pelas autoras, relacionando com suas práticas ao interno do serviço para infância, identificando oportunidades para melhoria do desenvolvimento profissional.

Pensar o currículo para os pequenos de forma integrada, na perspectiva mostrada pelas autoras, é um grande desafio para pesquisadores, professores e gestores. A obra traz contribuições importantes: além dos conceitos discutidos, os indicadores (presentes em todos os capítulos) são subsídios relevantes para orientar o trabalho dos profissionais da educação infantil, nas suas ações diárias.