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Cadernos de Pesquisa

versión impresa ISSN 0100-1574versión On-line ISSN 1980-5314

Cad. Pesqui. vol.53  São Paulo  2023  Epub 13-Sep-2023

https://doi.org/10.1590/1980531410029 

EDUCAÇÃO BÁSICA, CULTURA, CURRÍCULO

MULHERES ATLETAS NOS MANUAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIROS

MUJERES DEPORTISTAS EN LOS MANUALES DE EDUCACIÓN FÍSICA BRASILEÑOS

FEMMES ATHLÈTES DANS LES MANUELS D’ÉDUCATION PHYSIQUE BRÉSILIENS

Irene Moya-MataI  , todas as etapas de concepção, redação do artigo
http://orcid.org/0000-0002-9428-5179

Neide Cardoso de MouraII  , todas as etapas de concepção, redação do artigo
http://orcid.org/0000-0002-5125-994X

Alexandre Paulo LoroIII  , todas as etapas de concepção, redação do artigo
http://orcid.org/0000-0002-4207-7642

IUniversitat de València (UV), Valência, Espanha; irene.moya@uv.es

IIUniversidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó (SC), Brasil; neide.moura@uffs.edu.br

IIIUniversidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó (SC), Brasil; alexandre.loro@uffs.edu.br


Resumo

Os atletas são ícones do esporte, pois são considerados modelos a serem imitados pela sociedade em geral, especificamente pelos alunos. O objetivo deste estudo foi verificar se as referências imagéticas de atletas profissionais representadas nos livros didáticos de educação física no ensino fundamental I e II no Brasil perpetuam modelos esportivos masculinos, ou tornam visíveis os modelos esportivos femininos. Utilizamos uma metodologia descritiva e comparativa por editoras, e, como técnica de pesquisa, a análise de conteúdo. Os resultados mostram o predomínio do modelo esportivo masculino nas imagens. Portanto é necessário que as editoras revisem esses materiais didáticos para aumentar a representatividade feminina e passar a oferecer modelos esportivos femininos aos discentes.

Palavras-Chave: RELAÇÕES DE GÊNERO; EDUCAÇÃO FÍSICA; LIVROS DIDÁTICOS

Resumen

Los y las deportistas son iconos del deporte, ya que se consideran modelos a imitar por la sociedad en general, en particular por el alumnado. El objetivo de este estudio fue verificar si las referencias de las imágenes de deportistas profesionales representadas en los libros de texto de educación física en la educación primaria y secundaria en Brasil perpetúan modelos deportivos masculinos, o, por el contrario, visibilizan modelos deportivos femeninos. Se utilizó una metodología descriptiva y comparativa por editoriales, siendo el análisis de contenido la técnica de investigación. Los resultados muestran el predominio del modelo deportivo masculino en las imágenes. Por lo tanto, es necesario que las editoriales revisen estos materiales didácticos para aumentar la representación de mujeres y empezar a ofrecer modelos deportivos femeninos al estudiantado.

Palabras-clave: RELACIONES DE GÉNERO; EDUCACIÓN FÍSICA; LIBROS DE TEXTO

Résumé

Les athlètes sont des icônes sportifs, car ils sont tenus pour des modèles à être suivis par la société en géneral et, plus précisément, par les étudiants. Le but de cette étude a été de vérifier si l’images d’athlètes professionnels trouvées dans les livres didactiques brésiliens d’éducation physique perpétuent des modèles sportifs masculins ou bien rendent visibles des modèles féminins. On a employé une méthodologie descriptive et comparative des maisons d’édition analysées, et l’analyse de contenu comme technique de recherche. Les résultats révèlent que prévalent les images des modèles sportifs masculins. Il est donc nécessaire que les éditeurs révisent ces supports pédagogiques pour accroître la représentation des femmes et commencent à proposer aux étudiants des modèles sportifs féminins.

Key words: RELATIONS DE GENRE; ÉDUCATION PHYSIQUE; LIVRES DIDACTIQUES

Abstract

Athletes are icons of sport, as they are considered models to be imitated by society in general, specifically by students. The objective of this study was to verify whether the imagery references of professional athletes represented in physical education textbooks in elementary school I and II in Brazil perpetuate male sports models, or, on the contrary, make visible female sports models. We used a descriptive and comparative methodology by publishers, and, as a research technique, content analysis. The results show the predominance of the male sports model in the images. Therefore, it is necessary that publishers review these teaching materials to increase female representation and begin offering female sports role models to students.

Key words: GENDER RELATIONS; PHYSICAL EDUCATION; TEXTBOOKS

O livro didático constitui um pilar básico na formação integral de seus interlocutores, sejam estudantes ou professores. Compreende-se, neste estudo, o livro didático como uma produção que “serve para criar informações, veiculando e divulgando, com uma linguagem mais acessível, o saber científico”; ainda, como um “veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura” (Bittencourt, 2006, pp. 72-73).

O livro didático é um dos produtos culturais de maior divulgação entre o público brasileiro com acesso ao ensino escolarizado (Fonseca, 2003). Esse tipo de material é considerado um guia curricular estruturado e de referência nos processos de mediações de ensino, aprendizagem ou formação, utilizado pelos docentes da educação básica como suporte fundamental no planejamento e ações pedagógicas.

Sobre esse tema, Choppin (2004) destaca que o livro didático, como recurso de ensino, assume diferentes características no interior da escola: referencial, ao refletir um programa de ensino com temas e conteúdos de importante disseminação; instrumental, ao incorporar estratégias de ensino na obtenção de competências disciplinares; ideológica e cultural, como meio de transmissão da língua, da cultura e dos valores da classe dominante; e documental, como instrumento didático de perspectiva crítica e reflexiva dos discentes. Essas características denotam a função social do livro didático como um bem cultural complexo e estratégico, potencialmente capaz de contribuir para a compreensão dos mecanismos de produção/circulação do conhecimento.

O fato de esse material ser cada vez mais ilustrado na última década motivou a busca por uma melhor compreensão desses discursos a partir da análise de imagens e de sua relação com o texto verbal em livros didáticos de ciências e física para o ensino fundamental, médio e superior (Souza & Rego, 2018). Ao analisarem os guias de livros didáticos e dos editais de convocação, as autoras identificaram que nem todos os guias expressam com detalhes os critérios adotados para análise das imagens presentes nas obras selecionadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). Não obstante, os editais de convocação de editores apresentam sete itens semelhantes como critérios eliminatórios comuns para as ilustrações dos livros (dois itens são referentes a aspectos pedagógicos das ilustrações, diretamente relacionados aos conteúdos específicos do componente curricular; os demais são mais genéricos e envolvem a garantia de aspectos éticos, estéticos e culturais).

Imagens são discursos visuais compostos de elementos plásticos, icônicos e linguísticos. Desse modo, a linguagem visual constitui um sistema de signos (assim como a linguagem verbal) na transmissão de mensagens. Isso quer dizer que “as imagens não são as coisas que representam, elas se servem das coisas para falar de outra coisa” (Joly, 2007, p. 84). Além da função pedagógica que as imagens desempenham, elas ainda podem colaborar com determinadas visões de mundo, naturalização de ideias, conceitos, princípios, comportamentos e estéticas. Nesse sentido, a representatividade da diversidade da população brasileira nos livros didáticos contribui para o modo como os usuários entendem o papel de diferentes agentes na sociedade, assim como para os sentidos que estão sendo construídos a partir de fontes imagéticas. Destarte, na sociedade contemporânea, a interpretação das imagens ganhou status semelhante à habilidade de dominar a escrita, constituindo-se como necessidade que se estabeleceu para a maioria da população (Bueno, 2011). Contemporaneamente, os livros didáticos também são tomados como objeto de investigação sobre problemáticas que envolvem currículo e gênero.

A categoria gênero é construída em editais do PNLD, por vezes, com base em critérios de cidadania ou direitos humanos; em outras, associada à mulher e relacionada ao que é considerado feminino e masculino (Cardoso & Melo, 2021). Percebe-se, assim, a permanência do androcentrismo e da heteronormatividade no mundo do esporte e na educação física escolar, numa sociedade diversa (Altmann, 2015), mas com escassa formação dos estudantes sobre a diversidade (Jaeger et al., 2019).

No que tange às representações de gênero social veiculadas em livros didáticos de língua portuguesa, com relação à abordagem realizada sobre os papéis sociais dos gêneros e sobre a sexualidade, Marcuschi e Ledo (2015) constataram a prevalência do tratamento estereotipado das relações de gênero, embora já seja perceptível a inserção de textos que remetem à emancipação feminina.

As concepções de masculinidades e/ou feminilidades presentes na materialidade discursiva de livros didáticos de história demonstram que a abordagem dos conhecimentos históricos adotada pelas obras tem naturalizado assimetrias de poder entre as masculinidades e feminilidades históricas e socialmente construídas (Ribeiro & Silva, 2020).

Estudos internacionais conduzidos no País Basco evidenciam a sub-representação das mulheres medievais em livros didáticos de ensino fundamental, além de estereótipos e ausência de aspectos relacionados diretamente à sua história (Castrillo et al., 2021). Nos livros didáticos de história e filosofia de ensino médio utilizados na Espanha é possível encontrar imagens de mulheres associadas ao ambiente familiar e tarefas domésticas, enquanto os homens são representados em um contexto de trabalho, geralmente no exercício de funções públicas (Llorent-Bedmar & Cobano-Delgado Palma, 2014). Em outra pesquisa realizada no mesmo país, Navajas (2014) analisou 115 livros didáticos de diversas áreas, com o objetivo de mensurar a presença e a importância dada às mulheres nas obras. Os resultados apontam presença muito baixa de mulheres (12,8%) nos materiais. Esses dados expressam uma lacuna, uma vez que a exclusão de referências femininas fragiliza a situação social das mulheres e favorece a perpetuação de desigualdades, não considerando sua contribuição para o desenvolvimento humano e a construção do conhecimento.

Dito de outra forma, a importância formativa dos livros didáticos, somada à iminente proliferação de estudos voltados para a análise imagética, chama a atenção de inúmeros pesquisadores. Evidencia-se, assim, que os estudos se voltam para as imagens contidas nos livros didáticos, com enfoque na análise do modo como determinados segmentos sociais têm sido representados nos livros escolares de diferentes áreas; outras, ainda, analisaram dados quantitativos (Bittencourt, 2006).

Historicamente, as práticas esportivas têm sido palco de disputas por novos modos de existência, reconhecimento e ocupação de espaço (Altmann & Camargo, 2021). Pontualmente, os estudos de gênero na educação física (EF), refletidos na literatura e nos regulamentos vigentes, são uma necessidade e um requisito para o desenvolvimento de uma escola, de uma prática corporal e de uma sociedade capazes de transformar os modelos e as relações tradicionais e suas possíveis implicações (Lleixà-Arribas et al., 2020).

A representatividade feminina nos esportes

Diante das políticas educacionais referenciadas, os manuais do professor de EF precisam ser analisados, uma vez que “o corpo e as relações de gênero são socialmente produzidos também dentro dos currículos escolares” (Altmann, 2015, p. 24). Dentre as várias unidades temáticas que integram as vivências da área, elegemos o esporte, pois este se destaca como forte fenômeno de análises de masculinidades e feminilidades na escola.

A participação e a aceitação de mulheres no esporte moderno é um fenômeno social recente. O primeiro registro da participação feminina nos Jogos Olímpicos da Era Moderna é do ano de 1900, contudo as mulheres levaram 104 anos para ser 40,7% do número total de atletas a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos (XXVIII Olimpíada em Atenas, 2004: 4.306 mulheres e 6.452 homens) (Miragaya, 2007). Isso significa que a história da inclusão das mulheres no esporte pode ser identificada como uma história de poder e dominação masculina, caracterizada pelos papéis de desigualdade, nos quais as mulheres desempenhavam funções secundárias.

A presença da mulher nos esportes, especificamente nas Olimpíadas, é um processo histórico de inserção marcado por inúmeras lutas, gerando grandes episódios de reivindicação de direitos iguais durante os séculos XIX e XX. Para Oliveira et al. (2008) esse processo não foi tão expressivo no Brasil, mesmo assim seguiu o padrão de preconceitos e conquistas que se observou no mundo, produzindo grandes ícones da luta feminina pelo esporte. Os Jogos Olímpicos da Era Moderna realizados no Rio de Janeiro, Brasil (Rio-2016), por exemplo, foram a edição com maior número de atletas mulheres participantes, superando a Olimpíada de Londres (2012). No ano de 2016, quase metade dos atletas eram mulheres (o Brasil participou com 465 atletas, sendo 209 mulheres).

Recentemente, a mídia esportiva tem referenciado os pódios alcançados por mulheres em competições de alto nível, por vezes enfatizando o quanto avançaram em territórios tradicionalmente dominados por homens, entretanto esse fenômeno merece ser analisado com maior atenção. Se o esporte representa um significativo elemento para a promoção de maior visibilidade das mulheres no espaço público e se, ao longo da história do esporte nacional, houve a projeção de talentos esportivos femininos, cabe ressaltar que essas conquistas resultam muito mais do esforço individual de pequenos grupos do que de uma efetiva política nacional de inclusão das mulheres no âmbito do esporte e das atividades de lazer (Goellner, 2006).

Não diferente da sociedade como um todo, a sub-representação feminina em práticas esportivas é um fenômeno recorrente nas atividades escolares (Altmann, 2015). Nesse contexto, enfatizamos o uso de imagens no manual do professor de EF, com enfoque nas categorias gênero e esporte.

O esporte feminino é um cenário privilegiado para a exposição de corpos na sociedade contemporânea; ao serem evidenciados, também educam outros corpos, e são potencialmente indutores na produção de estereótipos e preconceitos, ambos conceitos socialmente construídos (Goffman, 1982). Nesse sentido, ressaltamos que as obras do PNLD obrigatoriamente devem atender algumas diretrizes, como a “Observância de princípios éticos e democráticos necessários à construção da cidadania, ao respeito à diversidade e ao convívio social republicano” (Ministério da Educação, 2018b, p. 43), objetivando a produção de obras livres de estereótipos ou preconceitos de condição socioeconômica, regional, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de idade, de linguagem, religioso, de condição de deficiência, assim como de qualquer outra forma de discriminação ou violação de direitos humanos.

As concepções sobre as desigualdades de gênero fazem parte do chamado “currículo oculto”, que, a nosso ver, tem uma função muito mais gritante do que suas imagens podem veicular (Botelho & Neira, 2014). Esse aspecto representa uma dimensão encoberta do currículo, mas muito poderosa para aprender normas, valores e relações sociais velados e subentendidos, e que são transmitidos frequentemente (Devís et al., 2005), muito embora o currículo oculto possa ser igualmente formativo na aprendizagem de atitudes e práticas sociais para a desconstrução de injustiças. Sobre esses fatos, acrescentamos que tais estruturas se revestem de concepções inadequadas quanto às relações de gênero e outras desigualdades sociais.

A análise de livros didáticos de EF no Brasil é muito escassa (Botelho & Neira, 2014), ademais são raros os estudos sobre a presença de atletas femininas nesse tipo de material curricular: geralmente as análises abordam a imagem corporal. No estudo de Loro et al. (2021), os pesquisadores afirmam que a diversidade de gênero está representada nos manuais de EF brasileiros analisados; contudo os resultados mostram corpos ectomorfos, de cor ou raça branca e sem deficiência, perpetuando a invisibilidade da diversidade de corpos, de cor ou raça e de pessoas com deficiência. Em outro estudo, González-Palomares, Altmann et al. (2015) analisaram 929 fotografias de livros didáticos destinados a estudantes do ensino fundamental e médio publicados entre 2006 e 2012. As pesquisadoras encontraram uma reprodução dos padrões hegemônicos que vinculam o tipo de prática corporal ao gênero: homens aos esportes e mulheres às atividades de fitness e condicionamento físico. As pessoas com deficiência estão muito pouco representadas nas práticas esportivas: apenas 1,5%, principalmente homens, em esportes coletivos (64,3%) ou individuais (28,6%), e em contextos competitivos no mais alto nível de profissionalismo.

Para analisar os atletas representados nos manuais de EF brasileiros, referenciamos alguns estudos prévios realizados na Espanha, os quais examinaram a presença de atletas masculinos e femininos nas imagens dos livros didáticos de EF publicados na Espanha para estudantes entre 6 e 12 anos (Moya-Mata & Ros, 2018; Ruiz-Rabadán & Moya-Mata, 2020) e de 12 a 16 anos (Sánchez- Hernández et al., 2017).

Na análise dos livros de ensino fundamental, Moya-Mata e Ros (2018) analisaram 41 imagens de atletas profissionais publicadas pela editora Edelvives, vinculada ao Comité Olímpico Espanhol, encontrando que apenas 31,7% dos atletas representados são mulheres.

Nessa mesma linha, a investigação de Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020) revelou uma sub-representação das atletas olímpicas femininas, perpetuando modelos masculinos como referências esportivas. As atletas femininas foram principalmente americanas, sem deficiência, que competiam nos Jogos Olímpicos de Verão, em modalidades esportivas individuais, sendo o esporte por excelência o atletismo, e a atleta olímpica com mais presença, Nadia Comaneci.

Sánchez-Hernández et al. (2017) analisaram a presença e reincidência de atletas do gênero feminino e masculino nos livros didáticos de 3º e 4º ano do ensino médio de duas editoras, identificando ausência de atletas do sexo feminino na editora Serbal e presença de apenas 15% na editora Teide. Nas duas casas publicadoras quase não há recorrência, ou seja, os atletas costumam aparecer apenas uma vez. Mais uma vez se confirma a ausência de referências esportivas femininas na escolaridade obrigatória espanhola, de 6 a 16 anos.

Ante o exposto, o objetivo do presente artigo foi analisar as referências imagéticas de atletas profissionais representadas nos livros didáticos de EF no ensino fundamental I e II, entre os anos 2017 e 2018, destinados aos seus docentes, a fim de pesquisar se estes perpetuam modelos esportivos masculinos, ou, ao contrário, tornam visíveis os modelos esportivos femininos.

Método e amostra

O estudo é empírico e descritivo, pois é uma descrição sistemática da realidade estudada como ela é, sem manipulá-la ou alterá-la (Bisquerra, 2019), e comparativo, já que são comparados livros didáticos de diferentes editoras brasileiras selecionadas para a amostra.

A análise de conteúdo foi usada como técnica de pesquisa (Neuendorf, 2017), definida por Bardin (1986, p. 29) como a “busca através de procedimentos sistemáticos e objetivos para descrever o conteúdo das mensagens - obter alguns indicadores - quantitativos ou não - que permitem inferir conhecimento relacionado às condições de produção e recepção destes”.

Para Lombard et al. (2002), a análise de conteúdo é especialmente apropriada para a análise de mensagens. Igartua (2006, p. 181) explica que tal tipo de análise “permite descobrir o DNA das mensagens de mídia”. Por outro lado, há três propriedades fundamentais atribuídas à análise de conteúdo: ela é sistemática, objetiva e quantitativa (Wimmer & Dominick, 2011).

Segundo Lozano (1994, p. 142), é sistemática porque “se baseia em um conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma forma a todos os conteúdos analisáveis”. É objetiva porque implica que as idiossincrasias ou preconceitos particulares do pesquisador não afetem os resultados, de modo que, quando pessoas diferentes aplicam separadamente as mesmas categorias para a mesma amostra, podem chegar às mesmas conclusões. E é quantitativa porque, como esclarecem Wimmer e Dominick (2011), seu objetivo é alcançar a representação mais precisa possível, atribuindo números para as diferentes categorias para posteriormente processá-los estatisticamente. Nesse sentido as imagens veiculadas pelos livros didáticos de EF para o ensino fundamental são as nossas unidades de amostragem e análises.

A amostra está formada por 68 fotografias que pertencem a dez livros didáticos de EF publicados no Brasil. A seleção foi intencional e/ou de conveniência. Foram analisados os livros destinados ao docente do ensino fundamental (anos iniciais e finais) publicados entre os anos 2017 e 2018, produzidos pelas editoras aprovadas no PNLD (Ministério da Educação, 2017, 2018b): Boreal, Terra Sul, FTD e Moderna (Tabela 1). Os livros didáticos estão organizados em dois volumes. O volume 1 é destinado aos professores de 1º e 2º ano, enquanto o volume 2, a professores de 3º a 5º ano. As obras destinadas aos professores de 6º a 9o ano (volume único) foram produzidas pelas editoras Moderna e Terra Sul, a partir do Edital de Convocação n. 1/2018-CGPLI para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas e literárias para o PNLD 2020 (Ministério da Educação, 2018b).

Tabela 1 Livros didáticos de educação física do Brasil 

Editora Título Ano de publicação Nível escolar
Boreal Práticas corporais e a educação física: 1º e 2º ano 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
Práticas corporais e a educação física: 3º a 5º ano 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
FTD Encontros Educação Física, 1º e 2º ano: Manual do professor de educação física 2018 Ensino fundamental
- anos iniciais
Encontros Educação Física, 3º, 4º e 5º ano: Manual do professor de educação física 2018 Ensino fundamental
- anos iniciais
Moderna
Práticas corporais Educação Física 1º a 2º ano: Manual do professor 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
Práticas corporais Educação Física 3º a 5º ano: Manual do professor 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
Práticas corporais Educação Física 6º a 9º ano: Manual do professor 2018 Ensino fundamental
- anos finais
Terra Sul Manual do professor para a Educação Física: 1º a 2º ano 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
Manual do professor para a Educação Física: 3º a 5º ano 2017 Ensino fundamental
- anos iniciais
Manual do professor para a Educação Física: 6º a 9º ano 2018 Ensino fundamental
- anos finais

Fonte: Elaboração dos autores.

Instrumento e variáveis

O instrumento usado para análise da amostra, como é possível observar na Tabela 2, parte do sistema de categorias desenhado por Moya-Mata e Ros (2018), em um estudo anterior, no qual analisam imagens de atletas femininas em livros didáticos de EF a partir das variáveis: ano, gênero, cor ou raça, nacionalidade, tipo de esporte olímpico, ambiente de prática, classificação esportiva, evento esportivo e nome da atleta.

Tabela 2 Sistema de codificação para a análise das imagens de atletas 

Dimensões Categorias Indicadores
Características do atleta Gênero Masculino
Feminino
Cor ou raça Branca
Parda
Negra
Asiática
Deficiência Com deficiência
Sem deficiência
País Tantos quantos existentes na amostra
Características do esporte Prática esportiva Tantos quantos existentes na amostra
Classificação esportiva Individual
Coletivo
Adaptado
Evento esportivo Jogos Olímpicos
Jogos Paralímpicos
Outras competições
Treino
Não se especifica

Fonte: Elaboração dos autores.

O sistema de categorias é composto de duas dimensões: características do atleta e características do esporte. A dimensão características do atleta inclui as variáveis: a) gênero, diferença entre homens e mulheres que, construída socialmente, pode variar segundo a cultura, determinando o papel social atribuído ao homem e à mulher e às suas identidades sexuais; b) cor ou raça, divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor da pele, formato da cabeça, tipo de cabelo, etc.); c) deficiência, dependendo da presença ou ausência de limitação física, mental ou sensorial; e d) país, espaço demarcado por fronteiras geográficas e dotado de soberania própria.

A dimensão característica do esporte corresponde aos esportes representados nos livros didáticos de EF, definidos pelas variáveis: a) disciplina esportiva, dependendo do esporte praticado pelo atleta; b) classificação esportiva, categorização do esporte conforme seja realizado individualmente, em grupo ou adaptado; e c) evento esportivo, realização de modalidades esportivas, cada qual subdividida em categorias, nas quais se disputam títulos com a presença de um público torcedor.

Processo e análise estatística

Na sequência, foram selecionados imagens e textos associados a atletas do gênero feminino para uma análise qualitativa, bem como uma análise quantitativa de sua prevalência, a fim de descobrir quais são os modelos de esportes olímpicos femininos e identificar quais são os esportes de que participam. Lembramos que, ao analisarmos o gênero feminino, estamos ao mesmo tempo analisando o masculino, pois entendemos que uma análise composta pelos dois gêneros seria mais adequada para o nosso caso.

Para a análise das imagens foram selecionadas aquelas que retratavam uma figura feminina e/ou masculina em um contexto esportivo, identificando seu nome. As figuras em que o nome do atleta não era mencionado foram descartadas, bem como aquelas que não tinham relação com a amostra do estudo. Em seguida, as imagens e os textos associados foram selecionados e analisados qualitativa e quantitativamente, para identificar quais modelos esportivos de atletas masculinos e femininos são oferecidos pelos manuais de EF aos docentes que atuam no ensino fundamental.

As imagens foram codificadas pelo investigador principal, e o trabalho dividido em várias sessões para evitar erros por exaustão. As imagens foram analisadas por observação direta do livro didático. Para o processamento dos dados foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS® Inc., versão 21.0, Chicago, IL, EUA) para Windows. Uma análise descritiva univariada e comparativa entre as editoras foi apresentada em porcentagens.

Resultados e discussões

Em relação à autoria dos manuais analisados, obtivemos a maioria feminina, com 14 autoras e 9 autores. Essa constatação remete ao que Moura (2007) observou nas análises que empreendeu: apesar de se verificarem algumas mudanças referentes à presença feminina nas imagens dos livros didáticos, a autoria feminina ainda busca maior representação masculina. Quanto às ilustrações, a maioria é de homens (8 ilustradores); contam-se apenas 4 ilustradoras. Esse fato pode também revelar essas dissonâncias em termos da representatividade feminina nos esportes. Convém ressaltar que tais constatações nos auxiliam a compreender como a configuração dos livros didáticos carece de outras análises que possam evidenciar essa naturalização, que não se restringe à área da EF, estendendo-se a outros campos disciplinares. Nesse sentido, Scott (1995) nos alerta para a necessidade de estarmos atentos à naturalização de situações históricas e sociais como atemporais - no caso, a disparidade de representações revela implicitamente a visibilidade de uns em detrimento de outros.

Na sequência, a partir dos dados encontrados, são apresentados os resultados e as discussões, desdobramentos das análises das imagens referentes a: gênero, cor ou raça, deficiência, país, prática esportiva, classificação esportiva, evento esportivo e atletas mais representados.

Em relação aos resultados dos atletas representados, das 68 imagens que compõem a amostra de referenciais esportivos nos livros didáticos de EF no ensino fundamental no Brasil, a editora Boreal aparece com 1 imagem (1,5%); a editora FTD, com 3 imagens (4,4%); a editora Moderna, com 47 imagens (69,1%); e a editora Terra Sul, com 17 imagens (25%). Portanto, a Moderna é a editora que mais representa atletas em seus livros didáticos, enquanto as editoras FTD e Boreal praticamente os invisibilizam e omitem possíveis referências esportivas. A discrepância de percentuais desse tipo de imagens, subsequentemente, também influenciará nos diferentes níveis de representatividade, por vezes, contribuindo para a criação de estereótipos.

Gênero

A análise descritiva revelou que os homens compõem o gênero mais representado nos livros didáticos de EF, com 42 imagens (61,8%), em relação à presença feminina, com 26 imagens (38,2%).

Como é possível observar na Figura 1, na análise das imagens escolhidas pelas editoras verificamos que, em três das quatro casas publicadoras, representam-se mais atletas masculinos do que femininos. As editoras FTD, Moderna e Terra Sul representam mais homens que mulheres: 2 imagens, 30 imagens e 10 imagens, respectivamente; enquanto a Boreal é a única editora em que prevalece a representação de atletas femininas, com 1 imagem.

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 1 Gênero dos atletas nos livros didáticos de educação física 

Os livros didáticos brasileiros de EF continuam a representar em maior medida o gênero masculino. A representação de atletas femininas é muito escassa, coincidindo com o observado nos estudos de Moya-Mata e Ros (2018) e Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), que mostram que nos manuais do ensino fundamental quase dois terços das imagens representam atletas masculinos.

Os resultados mais significativos de prevalência masculina nas imagens são apresentados por Sánchez-Hernández et al. (2017), que encontraram, para material do ensino médio, 100% de atletas masculinos na editora Serbal e 85% na editora Teide. Essa realidade apresenta um desajuste na prática dos méritos esportivos e profissionais e deixa meninas e jovens sem um modelo de referência a seguir.

Essa sub-representação das atletas femininas também ocorre nas imagens relacionadas com a atividade física nesse material didático no Brasil (González-Palomares, Altmann et al., 2015; González-Palomares, Rey-Cao et al., 2015), apesar da gradativa incorporação de mulheres na prática de esportes. Ressalta-se que, em um estudo atual, identificou-se uma mudança de tendência, no sentido de uma representação mais equitativa de homens e mulheres mediante agrupamentos mistos nas imagens dos livros brasileiros (Loro et al., 2021).

Ante o exposto, deve-se atentar aos elementos culturais que são veículos de concepções sobre os gêneros, entre os quais os livros didáticos, materiais educacionais por excelência, uma vez que esses conceitos representam um conjunto de “significados dos símbolos e que limitam e reduzem suas possibilidades metafóricas, sendo expressos nas doutrinas religiosas, educativas, científicas ou jurídicas, e torna[m] fixa a oposição binária do significado do homem e da mulher, do masculino e do feminino” (Scott, 1995, p. 86).

Cabe aqui registrar que nossos achados fornecem materialidade para a apreensão de que as normatizações, ao fomentar relações desiguais na participação esportiva em geral - no caso, por meio das diferentes ilustrações sobre a representação frequente masculina e a invisibilidade feminina -, adquirem formas diferenciadas.

Cor ou raça

Quanto à cor ou raça dos atletas representados, predomina a cor ou raça branca, com 47 imagens (69,1%); seguem-se a cor ou raça parda, com 14 imagens (20,6%); a cor ou raça preta, com 6 imagens (8,8%); e a asiática, com 1 imagem (1,5%).

Por editoras, como apresentado na Figura 2, a Moderna representa majoritariamente a cor ou raça branca, com 36 imagens (76,6%), seguida da editora Terra Sul, com 10 imagens (58,8%). A cor ou raça parda é representada principalmente pelas editoras Boreal e FTD, com 1 e 2 imagens, 100% e 66,6%, respectivamente. A cor ou raça preta é representada somente pelas editoras Terra Sul e Moderna, com 3 imagens cada uma, 17,6% e 6,4%, respectivamente. A cor ou raça amarela é representada somente pela editora Moderna, com 1 imagem (2,15%). É importante ressaltar a omissão da cor ou raça indígena em todas as editoras.

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 2 Cor ou raça dos atletas nos livros didáticos de educação física 

A discrepância de percentuais desse tipo de imagens, subsequentemente, também influenciará nos diferentes níveis de representatividade, por vezes contribuindo para a criação de estereótipos. A maior representatividade de atletas de cor ou raça branca nos livros didáticos brasileiros coincide com o estudo de Moya-Mata e Ros (2018), em relação à cor ou raça das atletas olímpicas nos livros didáticos de EF espanhóis. Destarte, também coincide com estudos sobre a análise das imagens nos livros didáticos brasileiros de EF, como o estudo de Loro et al. (2021), que mostra corpos de cor ou raça branca, principalmente, e contrasta com o quadro legislativo atual conforme o qual os manuais didáticos são elaborados.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2013) apresenta a temática da classificação da cor ou raça baseada nos resultados obtidos pela Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População (Pcerp) (2008), permitindo compreender melhor o atual sistema de classificação da cor ou raça. Desde o ano 2000, o IBGE utiliza cinco categorias nas pesquisas (pela ordem em que figuram no questionário): branca, preta, amarela, parda e indígena - que também constam do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2013). Naquele ano, aumentou no Brasil o número de pessoas que se declararam negras (pretas ou pardas), as quais constituíram mais da metade da população (50,7%). Dados mais recentes apontam que, em 2015, 53,9% das pessoas se declararam de cor ou raça preta ou parda (Ministério da Saúde, 2017).

As informações sobre raça/cor são relevantes para atender as competências e princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Ministério da Educação, 2018a). Nos cursos de graduação em EF, o tema começa a ser pesquisado e introduzido de forma processual, em relação à cultura dos países africanos e à própria cultura brasileira, bem como quanto às questões referentes a preconceito e discriminação (Rangel, 2006).

O aprofundamento desse tema é uma preocupação dos profissionais da área de EF, embora ainda de forma modesta. Conforme constataram Lima e Brasileiro (2020), ao situar a especificidade das produções científicas recentes (artigos) que apresentavam relação com a cultura afro-brasileira, a área da EF tem se aproximado das relações étnico-raciais. Os dados indicam estudos sobre manifestações culturais, esportes em grupos étnicos africanos, comunidades quilombolas, legislação, multiculturalismo e interculturalidade, sendo predominantes dois campos temáticos: a capoeira e o racismo no futebol.

Deficiência

Os atletas sem deficiência são mais representados (54 imagens - 79,4%) do que os atletas com deficiência (14 imagens - 20,6%). As editoras Boreal e FTD não incluem imagens de atletas com deficiência; somente as editoras Moderna, com 12 imagens (25,5%), e Terra Sul, com 2 imagens (11,8%), contemplam essa visibilidade (Figura 3).

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 3 Deficiência dos atletas nos livros didáticos de educação física 

As mulheres atletas com deficiência são menos representadas que os homens atletas com deficiência. Concretamente, das 14 imagens de atletas com deficiência, 10 são de homens - 71,43% (Gabriel Sousa, Daniel Wagner, Richard Whitehead, Acott Readon, Felipe Gomes, Cícero Nobre, Ronald Hertog, Jeroen Teeuwen, Flávio Reitz e Fernando Fernandes) - e 4 imagens são de mulheres - Mônica Santos, Aliona Halkina, Marlou Van Rhijn e Vanessa Daobry.

Essa infrarrepresentação de atletas com deficiência nos livros didáticos da EF brasileira em comparação com os atletas sem deficiência coincide com o achado de Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), que comprovou que nenhuma atleta feminina com deficiência foi visibilizada nos livros didáticos de EF espanhóis.

A menor representação de mulheres atletas com deficiência em relação aos homens (ou a ausência delas) mostra uma dupla discriminação baseada na deficiência e no gênero. Essa dupla discriminação já pôde ser identificada nos livros escolares brasileiros, em que a mulher com deficiência é representada em 7,7% das imagens (González-Palomares, Rey-Cao et al., 2015) ou 9,1% do total analisado (Loro et al., 2021).

Contraditoriamente, a participação das mulheres cresce exponencialmente desde os Jogos Paralímpicos de 1984, quando atletas brasileiras conseguiram um feito que jamais se repetiria na história: ser maioria nos pódios e conquistar mais medalhas (19) do que os homens (9), totalizando 5 ouros, 12 pratas e 2 bronzes femininos (Comitê Paralímpico Brasileiro, 2021).

Ante o exposto, perde-se a chance de dar visibilidade a atletas que marcaram a história recente do Movimento Paralímpico Brasileiro: Ádria Santos (velocista), Alana Maldonado (judô), Aline Rocha (esqui cross-country), Carol Santiago (natação), Cátia Oliveira (tênis de mesa), Débora Menezes (parataekwondo), Edênia Garcia (natação), Jane Karla (tiro com arco), Jerusa Geber (velocista) e Márcia Menezes (halterofilismo). As atletas Márcia Malsar, Amintas Piedade, Anelise Hermany e Miracema Ferraz (atletismo) e Maria Jussara Mattos (natação) subiram ao pódio mais de uma vez. Miracema foi a primeira atleta brasileira a conquistar seis medalhas em uma única edição dos Jogos Paralímpicos. Em quantidade, o maior número de mulheres medalhistas ocorreu no Rio-2016, quando trinta atletas femininas subiram ao pódio (incluindo os esportes coletivos) (Comitê Paralímpico Brasileiro, 2021).

País

O país mais representado pelos atletas que aparecem nas imagens é o Brasil, com 29 imagens (42,6%), seguido de Estados Unidos, com 8 (11,8%), Grã-Bretanha, com 4 (5,9%), e Suíça e Holanda, com 3 (4,4% cada um). Quanto aos demais países, a representação é mínima: Jamaica, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, com 2 imagens (2,9% cada um); e Bielorrússia, Dinamarca, Bélgica, Suécia, Quênia, Tajiquistão, Rússia, Ucrânia, Nigéria e Irlanda, com 1 (1,5% cada um).

Como se observa na Figura 4, o Brasil é o único país representado em todas as editoras, sendo 100% das imagens nas editoras Boreal e FTD. O segundo país mais representado é os Estados Unidos, nas editoras Moderna e Terra Sul. Moderna é a editora que mais países representa, a partir dos seus atletas, com 19 países e nacionalidades.

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 4 País dos atletas nos livros didáticos de educação física 

Nos estudos de Moya-Mata e Ros (2018) e de Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), foram analisados os países mais representados nos livros didáticos espanhóis. Identificaram-se atletas de 35 nacionalidades diferentes, sendo os Estados Unidos o país mais representado. As atletas espanholas são quase invisibilizadas. A única atleta olímpica espanhola representada é Gemma Mengual (nado sincronizado).

O poder simbólico das imagens desempenha um papel fundamental na transformação cultural, e isso configura uma possibilidade de reflexão sobre uma visualidade capaz de criar imaginários referentes à constituição das identidades brasileiras. Nesse sentido, a presença majoritária de atletas de um determinado país precisa ser problematizada, uma vez que, segundo Bignami (2002), a identidade se configura pelo processo de interação entre as nações e, a partir do momento em que determinados padrões são aceitos como parâmetros de identidade nacional, passam a ser produzidos e incorporados no comportamento individual ou adquirem valor de imagem.

Prática esportiva

As principais práticas esportivas representadas nos livros didáticos de EF não são adaptadas: contam com 54 imagens (79,4%), ante as práticas esportivas adaptadas, com 14 imagens (20,6%). Nas práticas esportivas não adaptadas, o esporte mais representado é a ginástica artística (16), seguida de atletismo (11) e boxe (9). Representados por 2 imagens cada um, encontramos futebol, beisebol, remo, canoagem, tênis e lutas; e, com 1 imagem, natação, handebol, rúgbi, golfe, ciclismo de pista e hipismo. Entre as práticas esportivas adaptadas, o principal esporte representado é o atletismo (10 imagens), seguido de esgrima em cadeira de rodas (2 imagens) e natação e kitesurf adaptado (1 imagem cada um).

Assim, como apresentado na Figura 5, pode-se comprovar que a ginástica artística é a prática esportiva não adaptada mais representada tanto na editora Boreal (1 imagem - 100%) como na editora Moderna (13 imagens - 27,7%); a editora FTD representa na mesma proporção o atletismo, o futebol e o handebol, com 1 imagem (33,3% cada uma), e a editora Terra Sul representa principalmente o boxe, com 7 imagens (41,2%). Tanto a editora Moderna como a Terra Sul retratam maior variedade de práticas esportivas: a Moderna é a única editora que representa atletas no beisebol, natação, golfe, remo, canoagem, ciclismo de pista, hipismo, rúgbi e tênis; e a editora Terra Sul, nas lutas.

De práticas esportivas adaptadas, a editora FTD não inclui nenhuma imagem nos seus livros didáticos, enquanto a editora Moderna inclui imagens de atletismo (9), esgrima em cadeira de rodas (2) e natação (1); e a editora Terra Sul, 1 imagem de atletismo e 1 de kitesurf.

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 5 Práticas esportivas nos livros didáticos de educação física 

Esses resultados diferem daqueles encontrados por Moya-Mata e Ros (2018) e Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), já que, apesar da porcentagem baixa, representam práticas esportivas adaptadas, ao contrário que ocorre nos materiais espanhóis, em que tais práticas não são representadas.

Relativamente à ginástica artística, os resultados não coincidem com os estudos precedentes espanhóis, os quais apontam o atletismo como a prática esportiva mais representada (Moya-Mata & Ros, 2018; Ruiz-Rabadán & Moya-Mata, 2020; Sánchez-Hernández et al., 2017). Entretanto, coincidem com esses estudos prévios no que se refere ao esporte adaptado, uma vez que o atletismo é o esporte mais representado dos atletas paralímpicos nos livros didáticos brasileiros. No entanto, se comparamos os resultados com os livros do ensino médio espanhol, as imagens representadas novamente diferem no tocante à atividade física adaptada, como é o goalball (González-Palomares, Rey-Cao et al., 2015).

Embora os esportes mais representados nos livros didáticos de EF brasileiros sejam a ginástica artística e o atletismo, no contexto escolar predominam os esportes coletivos. O atletismo é pouco difundido nas aulas de EF em decorrência das condições de infraestrutura das escolas, falta de espaço e de materiais específicos, desinteresse dos alunos e da instituição em promovê-lo, pouca tradição dessa modalidade esportiva e fragilidade na formação de professores (Gemente & Matthiesen, 2017). Em relação à produção de conhecimento sobre ginástica na escola, podemos afirmar que é restrita, não sendo suficiente para embasar a prática dos professores e contribuir para uma mudança no trato com o conteúdo gímnico (Oliveira et al., 2020).

Apesar dos impasses, o processo inclusivo de alunos com deficiência nas aulas de EF em escolas públicas regulares do Brasil está em desenvolvimento (Castro & Telles, 2020). Para esses pesquisadores, há ainda grandes lacunas para os docentes e a comunidade escolar, que enfrentam diversas dificuldades, entre elas a precária formação docente, pouca interação interpessoal e limitada acessibilidade arquitetônica, instrumental e metodológica.

Classificação esportiva

A classificação esportiva mais representada são os esportes individuais, com 56 imagens (82,4%), contra 12 imagens (17,6%) que representam os esportes coletivos. No caso das editoras, Boreal representa exclusivamente esportes individuais; FTD publica principalmente esportes coletivos (66,7%); e Moderna, esportes individuais (78,7%), bem como a editora Terra Sul (Figura 6).

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 6 Classificação dos esportes nos livros didáticos de educação física 

Esses resultados coincidem com os estudos de Moya-Mata e Ros (2018) e Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), segundo os quais os esportes individuais representam 92,3% das imagens dos atletas. Contudo, não coincidem com estudos precedentes sobre as atividades físicas adaptadas representadas nos livros didáticos brasileiros, que são principalmente coletivas 64,3% (González- -Palomares, Altmann et al., 2015).

No presente estudo, constatamos que predomina nos livros didáticos de EF a representação de mulheres praticando modalidades esportivas individuais, com 23 imagens (88,5%), ante 3 imagens (11,5%) de modalidades esportivas coletivas. O esporte, como domínio social, é pautado em valores como performance e resultado e, por vezes, fundamentado nos estereótipos de gênero, prevalendo o julgamento cultural de quais sejam práticas masculinas ou femininas (Melo et al., 2015). As modalidades esportivas são definidas culturalmente com características predominantes masculinas (futebol, halterofilismo, skate, hóquei, arremesso de peso e martelo), modalidades com características predominantes femininas (ginástica rítmica, nado sincronizado, dança, balé clássico, patinação) e modalidades com cunho mais neutro (corridas, basquete).

Sobre esse assunto, o estudo de Melo et al. (2015) evidenciou a existência de preconceito em relação a homens que praticam esportes considerados culturalmente femininos, dependendo do grau de envolvimento esportivo, e que homens e mulheres apresentam diferenças nessas avaliações. A mulher (atleta ou não) mostra menor preconceito com o homem atleta. Os homens aplicam o estereótipo àquele atleta que pratica o esporte mais feminino ou neutro, avaliando-o como mais negligente. Essa característica tem conotação negativa (preguiça/descuido) quando se trata de atletas. O estudo também revelou que, mesmo sendo atletas, os homens tendem a não abandonar o que foi culturalmente apreendido, e avaliam seus pares com maior preconceito do que as mulheres.

Evento esportivo

Os eventos esportivos em que os atletas retratados nas imagens aparecem são principalmente os Jogos Olímpicos, sobretudo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, com 39 imagens (57,4%); seguidos dos Jogos Paralímpicos (Rio-2016), com 13 imagens (19,1%); outras competições internacionais, com 12 imagens (17,6%); e atividades de treino e não especificadas, com 2 imagens (2,9%).

Conforme apresenta a Figura 7, por editoras, os Jogos Olímpicos são o evento mais representado nos livros didáticos de EF, com mais da metade das imagens (FTD: 2 imagens; Moderna: 28 imagens; e Terra Sul: 9 imagens), com exceção da editora Boreal, que apresenta somente 1 imagem, sem especificar o evento esportivo. Os Jogos Paralímpicos são representados em duas editoras: Moderna, com 12 imagens (25,5%), e Terra Sul, com 1 (5,9%); enquanto as atividades de treino são representadas somente na editora Terra Sul, com 2 imagens (11,8%).

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 7 Evento esportivo nos livros didáticos de educação física 

Esses resultados coincidem com os encontrados nos estudos de Moya-Mata e Ros (2018) e Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), em que todas as imagens se referem a esportes celebrados nos Jogos Olímpicos de Verão, em diferentes sedes olímpicas. Ressaltamos que, nas imagens da amostra deste estudo, os atletas não estão representados apenas nos Jogos Olímpicos, mas também em diferentes tipos de eventos, como Jogos Paralímpicos, campeonatos mundiais, treinos ou outros. Portanto, a variedade de competições está mais representada do que nos estudos de Moya-Mata e Ros (2018) e Ruiz-Rabadán e Moya-Mata (2020), onde se constata que os atletas sem deficiência são figurados exclusivamente em Jogos Olímpicos; e os atletas com deficiência, exclusivamente em Jogos Paralímpicos (González-Palomares, Rey-Cao et al., 2015).

Os estudos de Camargo (2018), especificamente aqueles relacionados aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, inserem o universo dos esportes na intersecção com os campos de estudo de gênero e sexualidades. Ao problematizar a manifestação pública das sexualidades e práticas sexuais de atletas profissionais, observa-se como enunciações sobre esse tema têm provocado tensão em um sistema complexo de controle de suas próprias sexualidades e daquela de outros.

Atletas mais representados

Por fim, de todos os atletas mencionados nos livros didáticos de EF no Brasil, recolhidos na Tabela 3, a mais representada é Flávia Saraiva (atleta brasileira de ginástica artística), com 3 referências nas editoras Boreal, Moderna e Terra Sul; seguida de Adriana Araújo (também de ginástica artística), com 2 referências na editora Terra Sul; Usain Bolt (atleta jamaicano de atletismo), com 2 referências nas editoras Moderna e Terra Sul; e Arthur Zanetti (atleta brasileiro de ginástica artística), com 2 referências na editora Moderna.

Tabela 3 Atletas mais citados nos livros didáticos de educação física 

Boreal FTD Moderna Terra Sul
Flávia Saraiva Wagner Domingos Flávia Saraiva Julius Yego Yusuke Tanaka Flávia Saraiva
Marta Vieira Joc Pederson Marlou Van Rhijn Shallon Olsen Usain Bolt
Henrique Teixeira Robson Conceição Felipe Gomes Arthur Zanetti George Horine
Joanna Maranhão Cícero Nobre Alexandra Raisman Dick Fosbury
Gabriel Sousa Vanessa Daobry Elissa Downie Flavio Reitz
Mônica Santos Ronald Hertog Oleg Verniaiev Uhunoma Osazuwa
Aliona Halkina Jeroen Teeuwen Roger Federer Diego Hypólito
Daniel Wagner Genevieve Behrent Rafael Nadal Katie Taylor
Richard Whitehead Rebecca Scown Neymar Sofya Ochigava
Scott Reardon Gideoni Monteiro Liam Adams Adriana Araújo
Webb Simpson Lukas Werro Daniele Hypólito Ronda Rousey
Rebeca Andrade Simon Werro Bryce Harper Iuri Marajó
Nina Derwael Eduardo Menezes Mavzuna Chorieva Fernando Fernandes
Pedro Luiz de Oliveira Kélian Galletier Robenilson de Jesus
Alexander Russo Max Whitlock Shakur Stevenson
Sofie Skoog Isabela Onyshko Joedison Teixeira

Fonte: Elaboração dos autores.

Os atletas representados neste estudo diferem das atletas mais representadas no estudo de Moya-Mata e Ros (2018): Fanny Blankers-Koen (atletismo), Wilma Rudolph (atletismo) e Nadia Comaneci (ginástica artística); atletas que foram lendas nas suas modalidades, sendo maior a visibilidade das atletas femininas no material de ensino fundamental do que no de ensino médio na Espanha (Moya-Mata & Ros, 2018; Sánchez-Hernández et al., 2017).

Concretamente, chama a atenção neste estudo que a atleta mais representada seja Flávia Saraiva, considerando que no Brasil já houve interdição da prática de modalidades esportivas identificadas como impróprias à “natureza” feminina. Por esse motivo a representação feminina no esporte é fundamental, como referência positiva na sociedade contemporânea. Entretanto, apesar dos recentes avanços na participação e cobertura midiática do esporte feminino, o sexo e as normas de gênero seguem influenciando nas transmissões da mídia nas últimas edições dos Jogos Olímpicos, independentemente do meio, esporte ou país (Salido-Fernández & Muñoz-Muñoz, 2021).

Ainda que tenham ocorrido avanços em termos da “entrada das mulheres” na área dos esportes, percebemos que as editoras Moderna e Terra Sul apresentaram uma diversidade maior de personagens atletas, tanto masculinas como femininas, embora estas com menor representatividade. Podemos inferir que a veiculação de atletas femininas cresceu, embora ainda sejam pouco representadas em esportes considerados de domínio masculino.

Algumas considerações

A partir do estudo realizado, constatamos, nos manuais de educação física do ensino fundamental I e II no Brasil, o predomínio de imagens de atletas masculinos, de cor ou raça branca, sem deficiência, de nacionalidade brasileira, praticantes de esporte individual (principalmente de ginástica artística) e nos Jogos Olímpicos de Verão.

A evidente hegemonia de imagens que representam homens de cor/raça branca não apenas invisibiliza as mulheres de maneira geral, mas também aquelas de cor/raça parda, negra, amarela e indígena, fragilizando a garantia e o aprofundamento dos princípios de igualdade, diversidade e equidade, os quais orientam as políticas de educação ao reconhecer as demandas de grupos específicos, além de atuar para a redução do impacto dos determinantes sociais.

Essa invisibilidade de atletas femininas em geral e das diversidades raciais, de deficiência, esportes ou competições internacionais, em particular nos materiais didáticos, confirma a tripla discriminação que sofrem as atletas: por ser mulher, por não ter cor ou raça branca e por ter deficiência. Assim, a infrarrepresentação de atletas femininas na comunidade escolar contrasta com a ideia de que nessa etapa educacional se devem promover valores que favoreçam a atenção à diversidade, inclusão e igualdade de oportunidades. Portanto, é essencial tornar visível o que está escondido e elevá-lo à consciência coletiva da comunidade educativa, especialmente a discriminação por razão de gênero, que acontece frequentemente nas aulas de educação física.

Em face do exposto, a representação de homens e mulheres no conteúdo visual dos livros didáticos deverá ser gerenciada por meio de apresentação de imagens que indiquem paridade, tanto em aspectos quantitativos como qualitativos. Ressaltamos, ainda, a importância de que as análises dos livros didáticos possibilitem a presença de pesquisadores sociais sobre temas referentes a gênero, raça, etnia e classe social, pois os conteúdos veiculados não se despregam dos sentidos e significados sociais, culturais e políticos de que são portadores.

Consideramos que a ampliação do interesse sobre as pesquisas e estudos a respeito dos materiais didáticos distribuídos às escolas brasileiras em muito contribui para enunciar os avanços e as permanências de equívocos, bem como as invisibilidades na perspectiva de gênero, embora compreendamos que, apesar de tímidas, as pesquisas sobre o tema sempre constituirão um passo à frente na contribuição para a formação de docentes brasileiros. Desse modo, considerando a educação física escolar, o estudo e as referências (imagéticas e textuais) esportivas em contexto não profissional também são relevantes para futuros trabalhos.

Disponibilidade de dados

Os dados subjacentes ao texto da pesquisa estão informados no artigo.

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Recebido: 19 de Janeiro de 2023; Aceito: 14 de Junho de 2023

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