Introdução
A aposentadoria é um fenômeno do mundo moderno e das sociedades industrializadas. As novas formas de trabalho, como o emprego assalariado, e as modificações na estrutura social do século XIX, contribuíram para a criação da instituição aposentadoria. Pensada inicialmente como um tipo de esmola do Estado, a aposentadoria se transformou em um direito social e em um novo estágio de vida que goza de seu próprio nome, bem como de estrutura legal, ofertas de consumo, revistas e livros e comunidades de vivência relacionadas ao tema.
Como as pessoas enfrentam, hoje, no Brasil esta situação ambivalente da aposentadoria? Quais são as expectativas dos sujeitos que estão se aproximando da idade de aposentadoria? E como foram as experiências de pessoas que passaram pelo processo de aposentar-se? Estas são as perguntas centrais do presente artigo. Para obter respostas, o artigo traz, em um primeiro momento, contribuições de três teorias clássicas da Gerontologia: Teoria do Desengajamento, Teoria da Atividade e Teoria da Continuidade. Em um segundo passo, o artigo discute perspectivas atuais a respeito da aposentadoria, demonstrando a ambivalência presente nos diferentes discursos. Assim, o artigo analisa 70 entrevistas com adultos maiores de 45 anos que procuraram um curso de introdução ao uso do computador, sendo que pouco mais da metade deles já estava aposentada. Os dados demonstram o imaginário sobre a saída do mundo do trabalho para aqueles que ainda estavam trabalhando e a forma como este processo foi vivenciado por quem já havia saído do mundo do trabalho. Além disso, indicam em que aspectos essa experiência correspondeu às expectativas que tinham quando ainda estavam trabalhando.
As entrevistas mostram, por um lado, que a aposentadoria e a saída do mundo do trabalho são, de fato, acontecimentos impactantes nas vidas das pessoas, exigindo uma série de novas aprendizagens e reorganizações. Por outro lado, fica evidente que existem muitas formas diferentes de como este processo é experimentado pelas pessoas. Apesar do grupo dos participantes da pesquisa não ser representativo para a população brasileira em geral, as respostas permitem uma visão diferenciada de como o processo de aposentadoria está sendo vivido hoje no Brasil.
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Introduction
Retirement is a phenomenon of the modern world and of industrialized societies. The new forms of labor, such as paid jobs, and the changes in social structure that took place during the 19th century contributed to create the institution of retirement. Initially thought of as a kind of State alimony, retirement was changed into a social right and into a new stage of life, that carries its own name, as well as a legal structure, consumption offers, books, magazines and interest groups related to the theme.
How do people face today in Brazil the ambivalent situation of retirement? What are the expectations of people approaching the age of retirement? And what are the experiences of people going through the process of retirement? These are the central questions of the present article. To gather some answers, the article begins by calling upon the contributions of three classical theories of Gerontology: Disengagement Theory, Activity Theory and Continuity Theory. At second moment, the article discusses current perspectives about retirement, demonstrating the ambivalence present in different discourses. The article analyzes 70 interviews with people above 45 years of age who attended an introductory personal computing course, with just over half of them being already retired. Results reveal the ideas about the process of leaving the world of labor entertained by working people, and the way in which this process was experienced by those who had already left work. Apart from that, they indicate in which aspects the experience corresponded to expectations they had whilst still at work.
Interviews have shown, on the one hand, that retiring and leaving the world of labor are in fact deeply impacting events in people's lives, demanding a series of new learning and reorganizing experiences. On the other hand, it became clear that there are many different ways in which people can experience this process. Although the group of people interviewed here are not representative of Brazilian population in general, the answers afford a novel outlook on how the process of retirement is being experienced in Brazil today.
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