Introdução
No contexto brasileiro, nos últimos anos, novos consumidores foram descobertos por meio da ascensão das classes populares para as camadas médias e do aumento do poder de consumo de idosos. Essa transformação anima a economia e desperta o interesse para o surgimento de negócios voltados a atender as demandas desses segmentos. Nesse sentido, os idosos dos grupos populares vêm sendo vistos no Brasil como novos consumidores.
A melhora da condição financeira dos idosos também passou a despertar especial interesse de diferentes instituições financeiras. Os órgãos bancários, através de suas publicidades, atraem milhões de idosos a cada ano para a contratação de créditos, sobretudo o consignado, levando ao crescente endividamento da população. Nesse cenário se torna importante pensar em intervenções educativas destinadas a esta fatia da população, potencialmente mais vulnerável por suas condições de idade, de baixa escolaridade e de classe social.
Embora os dados da PNAD/2009 mostrem uma redução do analfabetismo em todas as idades, inclusive na faixa de 40 anos e mais, ainda assim há um grande contingente de analfabetos nesta faixa etária: cerca de 16,5% (IPEA, 2010). Tendo em vista este panorama, é imprescindível que as estratégias didáticas utilizadas em ações pedagógicas considerem a participação nas atividades de sujeitos que tenham este perfil, não fazendo da condição de exclusão da escola uma impossibilidade de aprendizagem.
Tendo como preocupação a produção de ações educativas para o consumo com idosos, realizou-se uma pesquisa com mulheres idosas em um contexto popular com o objetivo de analisar os processos de construção coletiva de conhecimentos acerca de práticas de consumo e decisões financeiras. A ação pedagógica foi fundamentada nas ideias pedagógicas de Paulo Freire, que embasam a educação popular, e da abordagem da psicologia histórico-cultural, construída a partir das contribuições de Lev Vigotski.
O texto segue discutindo as problemáticas associadas ao consumo entre idosos no contexto brasileiro, especialmente de crédito consignado, e a necessidade de educar consumidores. Em seguida apresenta o desenho da pesquisa e alguns saberes produzidos pelas idosas no contexto da intervenção. Por fim, o trabalho propõe, ainda, alguns princípios que possam orientar propostas educativas voltadas para o empoderamento do consumidor idoso, no sentido de ampliar suas potencialidades e sua capacidade de intervenção social, quando estes não apenas se apropriam de novos conhecimentos, mas se reconhecem no lugar de sujeitos de saber e de direito ao saber.
Texto na íntegra em PDF