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Educação em Revista

versão impressa ISSN 0102-4698versão On-line ISSN 1982-6621

Educ. rev. vol.35  Belo Horizonte jan./dez 2019  Epub 21-Ago-2019

https://doi.org/10.1590/0102-4698217636 

DOSSIÊ EDUCAÇÃO, SAÚDE E RECREAÇÃO

ARTIGO - DO INSTITUTO CENTRAL DE GINÁSTICA (GCI) DE ESTOCOLMO PARA O BRASIL: CULTIVO E DIVULGAÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO DO CORPO1

IUniversidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte, MG, Brasil.

IIUniversidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil.


RESUMO:

O artigo traz os resultados de pesquisa onde se estudou o Instituto Central de Ginástica de Estocolmo e como foi se constituindo lugar de cultivo e de divulgação do método sueco de ginástica. Mostra como o GCI, com suas políticas de formação e estratégias de ação, colaborou para o espraiamento da ginástica em diversos países. No Brasil, foca nos diversos modos em que o método ganha visibilidade: no pensamento pedagógico, nos manuais escolares e na presença de Fritjof Detthow, professor formado no Instituto, em São Paulo. O estudo mostra que a ginástica lingiana que chega ao Brasil precisa ser tomada como objeto cultural, como uma prática que não permanece pura e que, em sua circulação, carrega uma dimensão transformativa. A ginástica que Detthow traz ao Brasil guarda profundas relações com aquela aprendida no Instituto, ao mesmo tempo que, no contato com um novo caldo cultural e político, se transforma.

Palavras-chave: Ginástica; Educação do corpo; Método sueco

ABSTRACT:

This paper presents the results of a research on the Stockholm Gymnastics Central Institute and how the Swedish Gymnastics method was disseminated and cultivated. It shows how the GCI, with its training policies and strategies of action, collaborated to disseminate gymnastics in several countries. It focuses on Brazil, mainly on the different ways by which the method gained visibility: in the pedagogical thinking, in school textbooks and in the presence of Fritjof Detthow, a professor who graduated from the Institute in São Paulo. The study shows that the lingian gymnastics that arrived in Brazil must be taken as a cultural object, as a practice that does not remain pure and that, in its circulation, carries a transformative dimension. The gymnastics that Detthow brought to Brazil has deep relations with the one learned in the Institute, although it became different when in contact with a new cultural and political scenario.

Keywords: Gymnastics; Body education; Swedish method

INTRODUÇÃO

O texto tem como propósito compreender o lugar do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (GCI)2 no cultivo e na divulgação de um método ginástico - a ginástica sueca ou a ginástica de Ling.3 Intenta, também, mostrar, desde o Instituto, as maneiras como viaja até o Brasil e como, em terras brasileiras, vai aparecendo e se transformando.

Compreender a construção, transformação e circulação da ginástica de Ling, por meio de uma instituição, o GCI, se alinha a uma perspectiva historiográfica que altera o olhar para o objeto, observando-o “por dentro”. Inspirados em Revel (1998), poderíamos dizer, “ajustando a escala de análise”. O zoom é acionado para procurar a trajetória singular, vislumbrando perceber, nos métodos ginásticos, os sujeitos e as peculiaridades que marcaram sua construção e transformação. Sair de uma posição de olhar “de cima”, para uma posição que nos permita olhar “por dentro”. Revel (1998) afirma que escolher uma escala de observação, variando a objetiva, não significa apenas aumentar ou diminuir o tamanho do objeto, mas modificar sua forma e sua trama. No Brasil, a abordagem microanalítica nos estudos brasileiros tem sido um investimento relativamente recente na historiografia da Educação Física, apenas por volta de duas décadas. Mais ainda se pensarmos no tema da ginástica e de sua história.

Segundo Melo (1999), podemos perceber diferentes fases pelas quais caminharam o contar da história da Educação Física no Brasil. As primeiras fases se caracterizam pela ausência de recortes específicos de objetos, vinculando-se a periodizações políticas amplas e traçadas em longos marcos temporais, pela restrição no uso das fontes, pela preocupação no levantamento de datas, nomes e fatos e pautadas na experiência de grandes expoentes. Historiadores como Fernando de Azevedo (1920), Inezil Penna Marinho (1958) e Jair Jordão Ramos (1982), são os principais nomes dessas primeiras fases.

No que se refere à ginástica, preocupavam-se com a apresentação dos sistemas europeus, vislumbrando definir aquele a ser considerado mais adequado ao Brasil. Abordavam-na a partir da generalização dos métodos, sem preocupação com os diferentes sujeitos e as singularidades que marcaram a história da ginástica em diferentes lugares, inclusive no Brasil.4 Em geral, eram defensores da prática da ginástica sueca nas escolas, considerando seu valor educativo. É o que podemos perceber, por exemplo, no trecho de autoria de Fernando de Azevedo:

D’entre todas as escolas, que se propõem alcançar o alvo a que deve tender toda educação physica escolar, nenhum por certo sobreleva ao methodo de Ling na observação das leis physiológicas, na scientifica urdidura de todo o systema e em fructos imediatos. [...] Êste método, incontestavelmente o melhor sob o ponto de vista pedagógico, é chamado a suprir no sistema de educação uma grave lacuna que antes do século XIX os governos e os particulares deixavam em aberto [...]. (AZEVEDO, 1920, p. 149-150)

É certo que, com o tempo, o “contar” na Educação Física foi se refinando e mobilizando metodologias do campo da história. Movimento não linear e tateante, onde é possível perceber avanços no que se refere aos aspectos historiográficos, mas ainda sinalizam problemas de ordem metodológica, como a dispensa de fatos, datas e nomes em contraposição à centralidade que esses aspectos apresentavam nos períodos anteriores.5

É importante destacar as obras de Carmem Lúcia Soares (1990) e Silvana Vilodre Goellner (1992), as quais fazem avançar a narrativa da e sobre a Educação Física, e particularmente da ginástica, ao tramá-la a partir de problemas bem delineados no tempo passado, ao mobilizarem fontes documentais e dialogarem com o arcabouço teórico do campo da História.

Passadas duas décadas dos escritos de Melo (1999), percebemos uma reconfiguração do campo historiográfico. Taborda de Oliveira (2007) indica que se por um lado esse movimento de renovação historiográfica da Educação Física apresentou avanços significativos tanto nos aspectos qualitativos e quantitativos, por outro é preciso que essa renovação esteja continuamente atenta e reflexiva aos temas eleitos, aos recortes de objetos, às definições de problemas, ao uso das fontes e aos diálogos teóricos.

Percebe-se que o diálogo com a chamada História Cultural que tão fortemente floresceu no campo da História, de maneira ampla, e na História da Educação, de maneira mais específica, também impactou os estudos sobre a História da Educação Física. Os trabalhos de pesquisa que tematizam a ginástica passam a tomá-la como objeto cultural, e, do ponto de vista metodológico, a operar com um recorte temporal definido internamente ao problema/objeto, priorizando os sujeitos e suas práticas, não desconsiderando as datas, nomes e fatos e os inserindo de forma orgânica na proposta de estudo. Podemos citar os estudos de Góis Junior (2013; 2015); Melo e Peres (2014, 2016); Puchta (2015); Soares (2000, 2015), Gleyse, Dalben e Soares (2013); Quitzau (2016); Quitzau e Soares (2016); Jubé (2017); Moreno (2001, 2015); Soares e Moreno (2015); Romão e Moreno (2018); Baía, Bonifácio e Moreno (2017); e Avelar (2018).6

Esses estudos, ao elegerem trajetórias de sujeitos, de instituições, ao elegerem determinados livros, manuais, jornais ou revistas - não só como fonte, mas também como objetos de pesquisa - revelam o movimento de “ajuste da objetiva”, permitindo sofisticar o olhar para os mesmos, refinando o olhar mais “por dentro” e menos “por cima”.7

Ao buscarmos pesquisas que tematizam a ginástica, para além das fronteiras do Brasil, esse movimento também é percebido em diferentes países. Podemos citar, em Portugal, Carvalho e Correia (2015); na França, Sarremejane (2006), Andrieu (1988, 1999), Bui-xuân e Gleyse (2001); na Suécia, Ljunggren (2011), Lundvall (2015); na Argentina, Scharagrodsky (2011); e no Uruguai, Giménez (2011), entre outros.8 No conjunto de esforços empreendidos pela comunidade acadêmica internacional, essas pesquisas realizam um movimento de pensar a ginástica, conectando o micro e o macro, para percebê-la como elemento de uma educação do corpo requisitada em diferentes lugares, por diferentes sujeitos e com diversas motivações. Como dissemos, novas tramas vão sendo possíveis a partir do ajuste das objetivas.

Nas pesquisas empreendidas no âmbito do Grupo de Estudo e Pesquisa em História da Ginástica (GEPHGI),9 do qual os autores desse artigo são membros, tem-se realizado o esforço de “fechar a objetiva” para estudar a ginástica, elegendo sujeitos, manuais e instituições, os quais tiveram papel singular na construção dessa prática em diferentes países. Podemos citar os estudos de Moreno (2016), Baia (2018), Romão (2018), Martini (2018), Cabral (2017), Avelar (2018), Bonifácio (2018), Faria (2016) e Santana (2017).

É nesse movimento coletivo de pesquisa que foi possível construir a hipótese, já anunciada em outros trabalhos,10 de que o GCI se torna o epicentro da ginástica de Ling no mundo, divulgando o método e fazendo-o viajar além das fronteiras suecas. Estudar, pois, essa instituição, que tanto cuidou do legado “sagrado” de seu precursor, o qual deveria ser defendido de qualquer ameaça, construindo, por anos, ações nessa direção, pareceu-nos imprescindível.11 Rastrear e compreender o Instituto como lugar de cultivo da educação do corpo, como lugar de guarda e preservação do método de Ling, como lugar de divulgação dessa prática no mundo e, particularmente, no Brasil, mostrou-se um percurso de pesquisa potente.

O INSTITUTO CENTRAL DE GINÁSTICA: LUGAR DE REFERÊNCIA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Importante personagem na criação do Instituto Central de Ginástica, em Estocolmo, foi Pehr Henrik Ling.12 Nascido em 15 de novembro de 1776, na Suécia, teve sua atuação com a ginástica marcada pela sua passagem pela Dinamarca onde residiu por cinco anos.13 Em Copenhagen, frequentou aulas com Nachtegall (1777-1847), que marcariam, posteriormente, seu retorno à Suécia e sua dedicação à ginástica até 1839, momento de sua morte.14 Nachtegall já havia começado a formar professores de ginástica para o exército e para as escolas (PEREIRA, s/d). Ling, inspirado no trabalho do dinamarquês, planejava abrir em Estocolmo uma escola de formação de professores de ginástica para toda a Suécia.

Em 1813, Ling instala-se em Estocolmo, para atuar como professor de esgrima na Academia Militar, em Karlberg, região norte da cidade de Estocolmo.15 Paralelamente a esse trabalho, o sueco propõe à Comissão de Educação do governo um projeto de treinamento físico para jovens, por meio da ginástica. Com apoio formal de Esaias Tegnér, da Universidade de Lund,16 o Estado aprovou a proposta de Ling, e passou a reunir as condições necessárias para a criação do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo.17

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Gymnastiska_Centralinstitutet

IMAGEM 1 Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, em 1900 

O Instituto foi inaugurado em 1814, ocupando inicialmente salas adaptadas de prédios antigos que haviam abrigado uma fundição de canhão. Permaneceu nesse espaço toda sua trajetória, recebendo subsídios do governo real ao longo dos anos, o que possibilitou ampliar os espaços e suas atividades.18 Foi construído na região central da cidade.19 Sua denominação, Central, fazia referência à função de centralizar a formação do professor de ginástica em todo país, e no período em que se denominou Royal, marcava também o caráter estatal do mesmo. Vale lembrar que para tornar-se professor de ginástica nas escolas públicas na Suécia, obrigatoriamente deveria ter sido formado no Instituto. O mesmo valia para atuar como médico-ginasta: a licença concedida pelo Conselho de Saúde era condicionada aos estudos no GCI20 (POSSE, 1891).

Fonte: Adaptado de Leonard (1923).

IMAGEM 2 Instituto Central de Ginástica, expresso em corte 

Ao ar livre, a estrutura do Instituto comportava uma quadra triangular pavimentada (seção A) e um pátio de cascalho na parte traseira (seção B). As seções C e D tinham três andares de construção, abrigava a casa do diretor, de alguns professores e funcionários e, no térreo, camarins. A seção E estava destinada à ginástica médica, tendo um segundo andar ocupado por biblioteca, sala de leitura, duas salas de aula, sala para uso dos alunos e sala para armazenamento das coleções de anatomia. A seção F abrigava os camarins masculinos. As seções G e H, construídas em dois andares, comportavam na parte inferior, um amplo espaço para ginástica escolar e esgrima. Na parte superior, duas salas para a ginástica médica (atividade para aqueles que pagavam pelo tratamento), espaço de ginástica escolar e salas de aula. A seção I era destinada aos exercícios práticos de anatomia. Oposto a essa, a seção J, destinada aos aparelhos de ginástica. As seções referentes à letra K eram destinadas à guarda de pertences das pessoas que frequentavam o Instituto (LEONARD, 1923).

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Gymnastiska_Centralinstitutet

IMAGENS 3 Espaços para ginástica no Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, em 1900 

A organização do Instituto era realizada por um conselho, composto por um diretor e três outros membros, dos quais um deveria ser militar, outro professor e um médico21 (LEONARD, 1923). Essa composição guarda relação com a crença de Ling, de que ginástica deveria ter lugar na educação, na medicina (prevenção e cura) e na defesa nacional. Ling foi o primeiro diretor, permanecendo no cargo de 1813 até 1839, momento de sua morte (HOLMSTRÖM, 1949). Outros diretores foram indicados na sequência e, quase sempre com mandatos duradouros.

Fonte: Holmström (1949).

QUADRO 1 Diretores do Instituto Central de Ginástica no primeiro século 

Ling atuou sozinho até 1818, quando recebe Gabriel Branting, médico, para atuar como segundo professor do estabelecimento. Branting havia estudado na maior Faculdade de Medicina da Suécia à época, o Karolinska Mediko-Kirurgiska Institut. Havia sido aluno de Ling no Instituto em seu primeiro ano de funcionamento, sendo seu assistente na Academia Militar de Karlberg. Ao longo de sua trajetória, dedicou-se ao aperfeiçoamento dos fundamentos médicos da ginástica.22 Ling depositava muita confiança em Branting, transferindo gradualmente a responsabilidade da instrução teórica e prática, tornando-o figura central na continuação do trabalho do idealizador (LEONARD, 1923; PEREIRA, S/d).

Em 1829, Carl August Georgii inicia sua trajetória como professor no Instituto. Assim como Branting, Georgii era muito respeitado por Ling e foi um dos responsáveis por continuar seu trabalho. Uma de suas principais contribuições foi a finalização e publicação da principal obra de Ling, Gymnastikens allmänna grunder,23 em parceria com P. J. Liedbeck24 (PEREIRA, S/d, 309-310; HAGELIN, 1995).

Hjalmar Fredrik Ling, filho do P. H Ling, que havia estudado no Instituto, iniciou em 1843 sua atuação como professor e responsável pelo desenvolvimento da ginástica educativa. Seu trabalho tornou possível a adequação da ginástica de Ling nas escolas suecas. Inspirado na obra do pai, Hjalmar criou novos aparelhos adaptados às necessidades da escola e ampliou as possibilidades de exercícios, permitindo que grande quantidade de alunos pudesse se exercitar ao mesmo tempo. Também sistematizou os exercícios mais adequados em grupos - de acordo com as especificidades e a progressão. Essa realização foi fundamental para a organização de lições para meninas e meninos em idade escolar, de diferentes idades e com graus de habilidades distintos (LEONARD, 1923; PEREIRA, S/d). Dedicou-se, portanto, de forma contundente, no tema da ginástica pedagógica. É dele a autoria dos inúmeros desenhos de formas e movimentos da ginástica educativa - uma coleção de figuras de acordo com o efeito no organismo, em diferentes classes, como eram os planos de seu pai.

Fonte: https://archive.org/details/b29932269

IMAGENS 4 Desenhos de Hjalmar Ling 

Branting, Georgii e Hjalmar não apenas reproduziram saberes e práticas, mas atuaram no aperfeiçoamento do seu método. Lindroth (1979) afirma que a tarefa dos seguidores não foi tranquila - Ling não deixou escritos sobre a ginástica de forma a auxiliar a continuação de seu trabalho. Para o autor, a forte marca filosófica em Gymanastikens allmanna grunder, torna a obra não muito clara.25 Assim, muito do que se atribui a Ling tem a mediação, marca das experiências, que Branting e Georgii estabeleceram com o precursor, resultado do convívio de décadas.26

Fonte: Adaptado de Pereira (S/d) e Leonard (1923).

QUADRO 2 Primeiros continuadores do trabalho no GCI 

Em 1900 e 1901, o corpo de instrução do Instituto incluía um professor principal e um segundo professor em cada um dos três departamentos; duas professoras, uma delas em Higiene e outra em Medicina-ginástica; professores extras, homens e mulheres, num total de quinze pessoas.27 Esses professores eram responsáveis pela oferta de três cursos para o sexo masculino que formavam instrutores para o exército, professores de ginástica e médicos-ginasta. Para as mulheres, havia um curso único com duração de dois anos.28 O Instituto funcionava durante todo o dia, com a formação e a presença de alunos de escolas e pacientes que necessitavam ginástica médica. Cerca de 500 crianças frequentavam o GCI diariamente. As aulas para esse público serviam para treinamento dos alunos em formação. Em cada sala, os alunos eram subdivididos em pequenos grupos, sob a supervisão dos alunos do GCI. Para diversos autores, essa era uma das qualidades do trabalho do Instituto: a possibilidade de vivência prática do ensino da ginástica (LEONARD, 1923; POSSE, 1891).

Fonte: https://www.gih.se/Bibliotek/Om-biblioteket/Foton-ur-arkivet/Barngymnastik/Barngymnastik-1/

IMAGEM 5 Provável aula com alunos da escola elementar Klara, no GCI, em 1893 

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Gymnastiska_Centralinstitutet#/media/File:Lektion _i_anatomi_vid_Gymnastiska_Centralinstitutet_Stockholm_kvinnliga_kursen_1891-1893_gih0124.jpg

IMAGEM 6 Aula de Anatomia com alunas no GCI (1891-1893) 

Durante o primeiro ano, não importava o curso, os alunos tinham aulas comuns de (1) anatomia; (2) fisiologia da circulação e dos órgãos de nutrição e respiração; (3) teoria da ginástica educativa, incluindo posições, movimentos, comandos, lições e progressões; (4) ginástica militar e (5) teoria da esgrima. Somada às aulas teóricas, desde o primeiro ano do curso, havia instrução prática de ginástica educativa e esgrima (PEREIRA, S/d; LEONARD, 1923; POSSE, 1891).

No segundo ano, os alunos, além daquelas matérias teóricas citadas (agora mais amplas e profundas), tinham ainda (1) cinesiologia e (2) teoria da ginástica médica. No terceiro ano, os alunos tinham a oportunidade, ainda, de auxiliar no tratamento do grande número de pacientes que visitam o Instituto (PEREIRA, S/d; LEONARD, 1923; POSSE, 1891).

Uma vez formados, os professores ainda estavam sob supervisão do Instituto. Toda a ginástica sueca ministrada nas escolas era minuciosamente controlada pelo GCI. Segundo Posse (1891), o diretor do GCI tinha como um dos deveres fiscalizar a instrução da ginástica em todo o país, viajando de cidade a cidade. Professores poderiam ser afastados dos estabelecimentos escolares caso fossem considerados inaptos para o ensino do método. Para o autor, essa supervisão garantia a excelência do ensino da ginástica e a uniformidade no método.29

Percebe-se assim, que, lentamente, ao longo do tempo, o Instituto foi, intensa e extensivamente, assertiva e organizadamente se consolidando. Estruturou seu espaço físico de forma a poder colocar em prática sua proposta de tornar a ginástica uma matéria transversal para todas as crianças e jovens da Suécia. Além disso, colocou-se como o lugar de referência para a proposta de educação do corpo do povo sueco. Apostar na formação de professores de ginástica foi uma das estratégias fundamentais para dar conta de tal empreitada, investindo nos cursos, na especialização e na formação teórico-prática.

DESDE ESTOCOLMO: ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO DA GINÁSTICA SUECA

Como vimos, o GCI teve um papel fundamental no processo de circulação das ideias de Ling e vai se constituindo como centro irradiador do método. Na Suécia fez o método se expandir e daí o fez “viajar” de diferentes modos, e em diferentes épocas, pelo mundo. Nessa viagem, a ginástica racional vai sofrendo alterações ao longo do tempo, mas, sempre, sob observação rigorosa de seus princípios.

O Instituto foi tornando-se, como já dito, o epicentro da ginástica sueca no mundo. Tomou para si a responsabilidade de estudo, de continuação e de divulgação do método de Ling. Um forte traço missionário marcava os partidários da ginástica sueca, os quais viajavam ao estrangeiro para difundi-la, e propagar as ideias sagradas do precursor (LJUNGGREN, 2011; MORENO, 2015). Das ações que mais contribuíram para sua divulgação foi, sem dúvida, sua política de “intercâmbio”. Em 1913 chegou a ter 142 estrangeiros (GRUT,1913).30 O Instituto enviava representantes para outros países e recebia missões de estudiosos e pesquisadores estrangeiros que ali iam e retornavam aos seus países publicando relatórios e tratados que serviram de referência em todo o mundo. Destacam-se aqui as obras de Demeny (1901) e Lefebure (1903,1905).

É perceptível, acessando os anuários de ginástica do GCI, como o registro do espraiamento da ginástica lingiana pelo mundo era uma preocupação. Estados Unidos, França, Inglaterra, Portugal, Bélgica, Japão, Índia, e muitos países da América do Sul, em diferentes épocas, ou receberam professores formados no Instituto, ou enviaram missões para lá realizarem cursos.31

Fonte: Riksföreningens för Gymnastikens Främjande Arsbok, 1934

IMAGENS 7 Ginástica sueca pelo mundo - A: Romênia, B: India holandesa, C: Grécia, D: Brasil, E: China, F: Japão 

Poderíamos destacar, ainda, o esforço do Instituto em estar presente nos espaços internacionais de trocas de experiências, nas “zonas de contato” (PRATT, 1999). O Congresso Internacional de Educação Física de Paris de 190032 e de 191333 são exemplos.

VESTÍGIOS DA GINÁSTICA SUECA NO BRASIL

No Brasil, a prática da ginástica, e particularmente a sueca, já ocupava os discursos nas teses e tratados médicos, os quais ressaltavam o “novo método”, como eficiente e adequado. Podemos perceber esse fato no parecer do Dr. Rego Cesar sobre o livro de Schenström (1876), nos Annaes brasilienses de Medicina (1876)34 e também nas obras de intelectuais e políticos, como, por exemplo, o famoso parecer de Rui Barbosa de 188335 no qual vai ressaltar o exemplo da Suécia no que diz respeito à ginastica escolar e militar.

Entretanto, não foi de imediato que ela passou a ser tema ou ganhou espaço para ser lida/vista também por pessoas que não frequentavam espaços políticos e acadêmicos, mas obviamente alfabetizadas e que tinham acesso aos jornais.

No Brasil, em 24 de julho de 1892, uma extensa reportagem, de folha inteira, publicada no Jornal do Commercio, periódico do Rio de Janeiro, e três meses depois republicada no Jornal A ordem(22/10/1892), de Minas Gerais, chama a atenção para o método de ginástica que, tendo sido criado na Suécia, alcançou resultados inimagináveis naquele país. O artigo expõe, minuciosamente e em linguagem acessível, as características da ginástica sueca, sua concepção por Ling, a criação do Instituto de Ginástica de Estocolmo e seu funcionamento. Ao longo do texto, o articulista vai tentar mostrar como a ginástica sueca é adequada, pelas suas características harmoniosas, pelo caráter democrático, pela sua simplicidade, por ser pouco acrobática, por ser natural e exigir pouco esforço, dar ênfase na respiração, ser higiênica. Também por requerer amplitude nos movimentos e ter ação lenta e progressiva, por ser uma ginástica de atitudes, e ser fortemente inspirada em sentimento de estética e de harmonia. Além disso seria mais apropriada às mulheres. O artigo é uma defesa e um convite para a adoção da ginástica racional de Ling.36

É na última década do século XIX que a ginástica sueca começa a ocupar, lentamente, as páginas de jornais e revistas, como podemos observar no gráfico a seguir:37

Fonte: Hemeroteca Digital (Biblioteca Nacional)

GRÁFICO 1 Quantidade de reportagens de Ginástica sueca em periódicos por ano 

Além da quantidade, que aumenta significativamente, há um outro aspecto a ser ressaltado, que é a questão da linguagem. Podemos tomar os jornais, como um lugar sintomático que, em via de mão dupla, reverbera em suas páginas o que é tema da cultura, ao mesmo tempo em que produz essa cultura. Se tomarmos a linguagem (entendida como a incorporação de termos e expressões) como um dos “sintomas” de que algum fenômeno está sendo incorporado à cultura de um tempo e de um lugar, chama a atenção, por exemplo, como a expressão “ginástica sueca”, ou simplesmente “a sueca” vai sendo incorporada na linguagem cotidiana e não só na especializada. A expressão vaza do “discurso competente”, e chega aos jornais destinados às crianças, aos encartes direcionados ao público feminino, às crônicas e contos. Seja para se referir a uma prática corporal, seja usada como sinônimo de disciplina, a palavra/expressão vai sendo mobilizada como se fosse comum e todos a entendessem.38

Imaginar, portanto, como foi possível que a ginástica sueca ganhasse tal visibilidade nos jornais brasileiros, é, de alguma forma, pensar nos caminhos que essa prática seguiu, desde Estocolmo, para chegar ao Brasil.

Nossas pesquisas apontam que, aqui, a ginástica sueca ganhou visibilidade, sobretudo, através de três modos: (1) no discurso de intelectuais em defesa do método,39 (2) na vulgarização desse saber pelos manuais de ginástica e (3) na circulação de sujeitos. Dos três modos, a ginástica racional comportou alterações do pensamento matricial - por isso, compreender os modos de sua divulgação, suas transformações e permanências é importante.

Sobre a escrita de manuais, sabemos que houve um potente processo de produção de materiais que vulgarizaram o saber sobre a ginástica sueca. Um farto conjunto de impressos, com características de manuais, foi produzido em língua portuguesa. É notável o esforço de professores, mas também de militares e médicos, em escrever e divulgar a ginástica sueca, num esforço de sistematização e aplicação de sua prática. A ideia era de que os professores necessitavam de material em língua portuguesa que os auxiliassem.

Os manuais tinham um formato bastante convidativo. Um impresso simples, pequeno, objetivo, organizados em lições fáceis de aplicar, com uma rasa fundamentação teórica e uma sistematização de lições práticas contendo muitos desenhos que facilitavam sua compreensão. Os manuais didáticos cumpriam um papel importante de circulação e apropriação dos conhecimentos sobre a ginástica, já que se fazia necessário simplificá-la, considerando o excesso de detalhes em sua execução e os pormenores para sua prática.40

No Brasil, embora a historiografia tenha dado pouca atenção aos sujeitos que para nossas terras vieram, viajando desde Estocolmo, e o papel que cumpriram na divulgação dessa prática, é certo que vieram e que aqui cumpriram, ocupando diferentes lugares, papel importante em sua divulgação. Talvez, um pouco mais tardiamente do que em outros países, já que esse movimento se deu mais fortemente a partir dos anos 20 do século XX.

Embora não haja uma relação mecânica entre o deslocamento desses sujeitos e o incremento da ginástica sueca no mundo, nem no Brasil, prestar atenção nos sujeitos, perseguirmos suas trajetórias, é, de alguma forma, fechar a objetiva, encarnando a história. Como lembra Ângela de Castro Gomes (1993), as ideias em circulação, “não andam sozinhas pelas ruas”, são mediadas por um agente. Mesmo que a circulação de saberes, nesse caso da ginástica, tenha percorrido diferentes e inusitados caminhos que passam, como já visto, pela tradução de materiais, publicação de manuais, espaços de encontros e contatos, sujeitos serviram de mediação para o trânsito desses saberes.

É o caso, por exemplo, de Fritjof Detthow e de outros sujeitos que em terras brasileiras aportaram. Em 1919, jornais anunciam o recebimento de um telegrama41 sobre a vinda de uma comitiva de professores suecos para dar aulas em São Paulo. Há também anúncios42 que mostram que nessas terras havia professores, desde as primeiras décadas do século XX, formados no Instituto e trabalhando com ginástica sueca. Mme. Will, Mme. Ester Leo, Sven Kellander, Artur Linderdahl, Mme. Maria Grushka são alguns dos nomes que aparecem nas fontes.

Fritjof Detthow nasceu em 1886, na cidade de Ulricehamm, Suécia. Torna-se militar e atua nos quadros do exército sueco até 1918 quando passa à reserva, com a patente de capitão. Tendo estudado e se formado no GCI de 1913 a 1917, Fritjof vem em 1919 para o Brasil, contratado pelo Estado de São Paulo “para implantar a ginástica sueca nas escolas”.43

Na cidade paulista instala-se com a esposa e os dois filhos e passa a trabalhar para a Directoria Geral de Instrucção Pública (depois Diretoria Geral do Ensino), como assistente técnico de Educação Física,44 recebendo vencimentos da Secretaria do Interior do Estado de São Paulo.45 Seu vínculo com a Directoria o envolve em diversas ações: inquéritos sobre as escolas paulistas realizado em 1931,46 cursos ao professorado paulista sobre ginástica sueca e teoria da ginástica ao longo dos anos 1920 e 30, envolvimento com a III Conferência Nacional de Educação em 1929, entusiasmo na organização do I Congresso Brasileiro de Educação Física, entre outras importantes ações. Ao longo do tempo, esse vínculo permitirá a Detthow estabelecer contatos com importantes instituições, como o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo,47 com a Escola Superior de Educação Física48 e também com educadores importantes. Há indícios de uma potente rede de sociabilidade frequentada por ele, notadamente do campo educacional paulista. No ensino escolar, o professor sueco vai atuar em locais de grande visibilidade: na Escola Normal Caetano de Campos, onde atua como professor e onde há muitos registros de suas ações.49

Em diversas entrevistas que concede aos jornais, Detthow ressalta a experiência que a Suécia teve na implantação da ginástica e da educação física, a importância do GCI nessas ações e na formação de professores. Sua presença e vínculo com o campo educacional geram alterações importantes nas escolas paulistas no que tange ao ensino da ginástica, baseando-se no sistema sueco: adoção de fichas individuais, turmas organizadas por aptidão, habilidade e condição orgânica.50

Fonte: Correio de São Paulo, nº 165, 23 de Dezembro de 1932

IMAGEM 8 Frijtof divulga seu projeto de Educação Física nas escolas de São Paulo 

Concomitantemente ao seu trabalho com o Estado, o sueco dá aulas particulares de ginástica sueca. Os inúmeros anúncios publicados em jornais de São Paulo, já a partir de 1921, além de depoimentos, demostra que o professor monta uma sala com aparelhagem do sistema sueco de ginástica.51 Há também anúncios de professores particulares “formados por Frijtof Detthow”.52 Há notícias de que atuou em diversos festejos da Sociedade escandinava e de outras instituições de caridade, ensaiando danças e números de ginástica sueca.53 No final dos anos 1920, adquire o Instituto Jaguaribe, importante instituição que atendia à elite paulistana, oferecendo, entre outras atividades, ginástica sueca médica.54

Durante esse tempo, Fritjof vai também escrever, não só em jornais, mas também em revistas do campo educacional, no Brasil e no exterior: na Revista de Educação (órgão da Diretoria Geral do Ensino de São Paulo),55 na Revista Escuela Moderna(Espanha)56 e na revista Monitor (Argentina)57 encontram-se artigos do professor sueco. Há também o registro de artigos em revistas da área cultural como a Revista Vanitas,58 mundana e ilustrada, que indica artigos de Detthow.

O levantamento de fontes realizado até aqui indica que Fritjof Detthow desfrutou de um importante reconhecimento em São Paulo e desenvolveu um trabalho de divulgação e inserção da ginástica sueca bastante vigoroso. Ressalta-se que ao longo desse tempo há registros de viagens que realizou às terras de Ling para atualizar-se e ter notícias do avanço da ginástica racional a fim de partilhá-las no Brasil. Essas viagens, registradas em jornais, tiveram o apoio do governo de São Paulo, inclusive comissionando o professor para as viagens.59

Detthow atuou também no escotismo,60 foi tradutor (chegou a publicar o romance de Madame Dupret, Éramos Seis, em sueco)61 e ainda se envolveu com equipes de escavações científicas durante, sobretudo, fins da década de 1930 até a década de 1940. Ao longo desse tempo, nunca perdeu o vínculo com o governo sueco, representando-o em festividades, condecorações e atos oficiais.62

Fritjof Detthow viveu um período de muitas transformações no Brasil, de um modo amplo, e em São Paulo, particularmente. Foram tempos turbulentos que envolveram mudanças tanto no terreno político (embates locais, revoltas e o envolvimento com a Segunda Guerra), cultural (alterações de hábitos e costumes) e no campo educacional (destaca-se a reforma da educação nos anos 20).63 O professor atravessou também um período de muitas transformações do próprio sistema sueco, que também se modernizava, flertando com novas técnicas menos rígidas e também com o esporte.

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada permitiu perceber o intenso e extenso trabalho que o Instituto de Ginástica de Estocolmo imprimiu para educação dos corpos. Ao longo do tempo, os precursores da ginástica sueca, realizaram grandes investimentos no intuito de estruturarem um lugar, um método e uma formação de professores que pudesse ser referência para os cuidados físicos sobre o corpo. Esses cuidados, também, resvalaram sobre a moral e os costumes, afinal, educar o corpo pela ginástica era educar também sua vontade.

Certos de que tinham encontrado “o” método eficaz para educar o corpo, cultivá-lo e preservá-lo com boa saúde, o Instituto se colocou também como lugar de ressonância da ginástica sueca. Era preciso espalhar a notícia para o mundo: fazer com que a ginástica pudesse ser praticada por toda a gente, nos mais diversos lugares.

Vimos que ginástica lingiana que chega e circula no Brasil (mas também em outros lugares do mundo), precisa ser tomada como objeto cultural, como uma prática que não nasce nem permanece pura e que, em sua circulação, por meio de mediadores, carrega uma dimensão transformativa (GRUZINSKI, 2001). Assim, a ginástica sueca que Fritjof Detthow traz ao Brasil e trata de divulgar e implantar, guarda profundas relações e permanências com àquela aprendida no Instituto, ao mesmo tempo que, no contato com um novo caldo cultural e político, se transforma. O novo lugar, agora vivenciado pelo sueco, decerto impactaram suas ideias sobre educação do corpo e ginástica.

Consideramos que os resultados desse conjunto de pesquisas desenvolvido, permitem lançar luz sobre a história da educação dos corpos, da educação física e também sobre a história da educação no Brasil. Permitem perceber o processo de internacionalização de saberes e práticas, uma complexa trama que envolveu a tradução, a apropriação, a transformação, a reinvenção de métodos europeus em suas viagens até chegar a terras brasileiras. Nesse sentido, o material empírico mobilizado, corrobora com a ideia, já apontada por inúmeras teorias, de que nesse trânsito houve, em via de mão dupla, trocas, aprendizados, apropriações e reinvenções.

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1Pesquisa realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

2Tradução de Stockholm Central Institute of Gymnastics (GCI). Durante um tempo, o instituto tinha o nome de Royal Gymnastics Central Institute. Ao longo do texto, nos referimos ao Instituto usando a sigla GCI, como é mundialmente conhecido.

3Pehr Henirch Ling (1776-1839) é o idealizador da ginástica sueca. Mais adiante o papel de Ling na criação do Instituto será abordada.

4Importa dizer que esses autores escreveram obras que até hoje são consideradas marcos importantes na escrita da história da Educação Física. Se, de algum modo, podemos apontar limites no que se refere ao trato com a História, hoje suas obras são mobilizadas como fontes riquíssimas, as quais têm permitido aos historiadores contemporâneos construir outras tramas para a escrita da história. Além disso, em suas obras, há vestígios significativos que dão pistas de sujeitos, instituições, manuais, entre outros, para o desenvolvimento de novos problemas de pesquisa.

5Para Melo (1999), inserem-se nessa fase os autores Lino Castellani Filho (1988), Mário Cantarino Filho (1982) e Paulo Ghiraldelli Júnior (1988).

6Não está aqui um levantamento exaustivo de trabalhos que tematizam a história da ginástica. Sem dúvida, há outras pesquisas que poderiam entrar nesse rol - tarefa que exigiria mais cuidado e um estudo específico de crítica historiográfica. Essa tarefa foge aos objetivos desse texto.

8Decerto, como alertado na nota 5, outros estudos existem, mas não foi nosso objetivo fazer um levantamento exaustivo desses.

9O GEPHGI, sob a coordenação da Profª Andrea Moreno, reúne professores, estudantes de doutorado mestrado e iniciação científica, sendo um subgrupo do Centro de Memória da Educação Física (CEMEF) e atua no âmbito do Centro de Estudos e Pesquisas em História da Educação (GEPHE), ambos da UFMG.

11Legado “sagrado” é uma expressão que aparece no estudo de Ljunggren (2011).

12Seu nome é encontrado com diferentes grafias nos estudos pesquisados - Per Henrik Ling e Pher Henrik Ling. Mantemos essa grafia por ser a que aparece com maior frequência.

13Ling foi para Copenhagen em 1799, com 23 anos de idade. Lá, entrou para Universidade, aperfeiçoou seu contato com diferentes línguas, envolveu-se com a escrita de poemas e teve contato com a esgrima e ginástica. Retornou para a Suécia em 1804 (WESTERBLAD, 1909; GEORGII, 1854; LEONARD, 1923; PEREIRA (S/d); MARINHO, 1958). É importante ressaltar que esses autores, ao biografarem Pehr H. Ling, mobilizam documentos pertencentes ao arquivo histórico do GCI, muitos em língua sueca, e, em geral, coincidem nessas afirmações.

14 Ao retornar para a Suécia, Ling substitui o professor de esgrima na Universidade de Lund, onde permanece por 8 anos. Ali também ensina ginástica, e aprofunda-se nos estudos de anatomia e fisiologia. Ao conquistar a confiança de professores e estudantes, foi convidado para expor suas experiências em Gotemburgo, Malmo e Christianstad. Segundo Leonard (1923), durante o período que passou em Lund, Ling experimenta e organiza o seu método de instrução. Dedicou-se a compreender o corpo humano e descobrir suas necessidades, para a partir desse estágio, selecionar e aplicar os exercícios que poderiam atender a tais necessidades.

15Segundo Leonard (1923), Ling continuou a ensinar esgrima na Escola Militar de Karlberg até 1825, sendo que em 1821 atuava também como instrutor em ginástica e esgrima na Escola de Artilharia em Marieberg.

16Isaias Tegnér emitiu uma carta apresentando Ling, que foi encaminhada junto com o projeto de formação física do precursor ao Estado sueco. Isaias era conhecido no país, em função da canção War Song for the Militia of Scania e do prémio da Academia Sueca por seu poema patriótico Svea, em um momento que o patriotismo era tema de extrema relevância na região nórdica (LEONARD, 1923). Entretanto, é bom lembrar que não foi sem dificuldades que a ginástica sueca educativa conseguiu convencer de sua importância, tanto Marinho (1958, p. 239), como Pereira (S/d, p. 295), indicam que Ling já havia realizado contato para a criação do Instituto que foi negado, em função da existência de um pensamento de que na Suécia havia um “número suficientes” de saltimbancos e acrobatas.

17Em 1813, a Suécia estava sob o governo de Carlos XIII, o qual foi o responsável pela criação do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (PEREIRA, S/d, p. 280).

18Segundo Leonard (1923), em 1813, para instalar o Instituto, recebeu uma subvenção para alugar os espaços e comprar material e um valor mensal para exercer a função de diretor. Em fins de 1815 o governo sueco destinou um valor melhoria das instalações, representativo de um montante de mais de 20 vezes o investimento inicial, demonstrando, com isso, uma certa crença ao projeto de Ling (LEONARD, 1923).

19Com uma frente medindo cerca de 12 metros, formava-se um arco, com construção de um lado pela rua HamnGatan, por cerca de 60 metros, e pela rua BeridarebansGatan, com aproximadamente 72 metros. Perto do centro da rua HamnGatan, encontrava-se a entrada, com o nome “Instituto Central de Ginástica”.

20Mais adiante, detalharemos a formação ofertada pelo GCI.

21Essa divisão refere-se à organização presente no final do século XIX e início do século XX. De 1814 a 1818, pelo menos, a direção e execução das aulas eram totalmente responsabilidade de Ling. Somente em 1818 começaram a ser autorizadas contratações para ampliar os atendimentos que eram crescentes.

22Defendendo as ideias de Ling, as quais considerava novidade à época, propagou a tese de que os efeitos benéficos ao corpo não são resultantes apenas das alterações produzidas no sistema muscular, mas principalmente da influência exercida nos nervos e vasos sanguíneos (PEREIRA, S/d; LEONARD, 1923).

23Ling (1940). Em português, essa obra tem sido traduzida como “Princípios gerais de ginástica”, “Manual de ginástica” ou “Base geral para ginástica”, conforme podemos observar em Moreno (2015).

24P. J. Liedbeck (1802-1876), genro de Ling, foi aluno do Instituto e ensinou anatomia na instituição (PEREIRA, S/d, p. 365)

25Outros escritos de Ling sobre ginástica são artigos curtos, escritas fragmentadas, regulamentos com descrições de diferentes tipos de exercícios. Em sua maioria, sua obra é de poemas dramáticos, cujo tom ressalta as virtudes da velha Escandinávia (LINDROTH, 1979; GEORGII, 1854).

26Branting conviveu com Ling por cerca de duas décadas e Georgii por quase uma década.

27Segundo Leonard (1923), os estatutos previam que todos os professores do Instituto deveriam ser graduados nos mesmos. Entretanto, é bom ressaltar que, ao longo do tempo, houve divergências entre os professores e continuadores do método. Uma das principais divergências dizia respeito à divisão do método e, por conseguinte, do Instituto, em departamentos. Essa divergência foi caracterizada por Lindroth (1979) como o linguianismo X método natural. O primeiro representado por Hjalmar (e depois por Torngren) em contraposição Nyblaeus (e depois Balck). No primeiro o método educativo era considerado completo, podendo ser aplicado no exército ou na escola.

28O curso, realizado em três anos, estava dividido da seguinte forma: um ano para instrutores de ginástica, para atuar no exército, dois anos para professores de ginástica, para atuar na escola; e um ano adicional para aqueles que querem se devotar à prática da ginástica médica, também chamado de médico-ginasta, que autorizava atuar na prevenção e cura (POSSE, 1891).

29Nas cidades onde não se tinha condições financeiras para contratar professores graduados, o Instituto ofertava cursos para que outros professores, sem formação em ginástica, pudessem aplicar uma ginástica básica (POSSE, 1891).

30Segundo Leonard (1923), o número total de homens estrangeiros no Instituto em meados de 1900, era cerca de sessenta. Mesmo o número de mulheres, segundo o autor, que antes não era tão numeroso, aumentava a cada ano, aproximando-se do número dos homens. Durante o outono de 1900 havia estudantes homens da Grécia, da Noruega, da Dinamarca, da Finlândia e dos Estados Unidos. Havia estudantes mulheres da Rússia, da Holanda e da Inglaterra.

31 Pereira (S/d, p. 582-591)

32 Anais do CongrèsInternational de L1èducations Physique. Paris, 30 de agosto a 06 de setembro, de 1900. Esteve presente Lars Mauritz Torngren, diretor do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo.

33Anais do Congrès International de L1èducations Physique. Paris, 17 a 20 de março de 1913. Esteve presente Nils Fredrik Sellén, diretor do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, realizando apresentações práticas da ginástica sueca.

34Annaes Brasilienses de Medicina, 1876, p. 243.

36Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1892 e Jornal A ordem, Minas Gerais, 1892.

37Esse levantamento foi realizado consultando a base de dados da Hemeroteca Digital Brasileira, buscando pela palavra- chave gymnastica sueca, durante o ano de 2018.

38Gymnastica Sueca. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 24/07/1892; A Gymnastica Sueca. A ordem, Minas Gerais, 22/10/1892; A Gymnastica Sueca. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 16/06/1897; A moda. A Nação: Orgam do Partido Republicano, São Paulo, 09/11/1897; Nossas Gravuras. A Estação: Jornal Illustrado para a família, Rio de Janeiro, 30/09/1898; Echos. Jornal do Recife, Recife, 24/05/1905; Actualidades. O Paiz, Rio de Janeiro, 13/02/1909; O dia de um homem em 1920. O Commercio de São Paulo, São Paulo, 26/071909.

39Como já dito, há um crescente debate no campo educacional e político sobre a pertinência do sistema sueco para fundamentar as práticas escolares. Estamos falando de um Brasil, que não tinha desenvolvido um método próprio de ginástica e que tem na Europa uma referência cultural e econômica importante.

40Em artigo, Moreno (2015) aborda um conjunto de manuais que divulgaram a ginástica sueca em língua portuguesa. Além dos manuais de autoria de Pedro Manoel Borges, Antônio Martiniano Ferreira, Paulo Lauret, Arthur Higgins e Ludvig G. Kumlien, citados nesse trabalho, podemos citar também: Schereber, Manoel Baragiola, Domingos Nascimento, e Caldas e Carvalho (PUCHTA, 2015).

41 O Jornal, Maranhão, 10 de dezembro de 1919.

42No Jornal O Estado de São Paulo, em 14 de fevereiro de 1921 é a primeira notícia registrada de nomes de professores suecos atuando com massagens e ginástica.

43Essa é a expressão genérica que aparece nas fontes, ao se referirem ao professor sueco.

44Jornal Correio Paulistano, 19 de fevereiro de 1920.

45Fritjof Detthow vai viver em São Paulo até a sua morte em 1947, com 61 anos. A pesquisa ainda investiga até quando o professor mantém o vínculo com o Estado.

46 Revista Educação, Vol. VII, nº 05 4 05, abril/maio de 1932, p. 82-87.

47Jornal Correio de São Paulo, 23 de dezembro de 1932.

48 Jornal O Estado de São Paulo, 02 de setembro de 1936.

49Jornal O Correio Paulistano, 09 de abril de 1927; e Anuário do Ensino do Estado de São Paulo, 1926, p. 314.

50Correio de São Paulo, 23 de dezembro de 1932.

51 Correio Paulistano, 30 de agosto de 1921.

52O Estado de São Paulo, 9 de dezembro de 1926.

53Correio de São Paulo, 5 de agosto de 1933.

54Folha da Manhã, 20 de novembro de 1929 (São Paulo).

55Revista Educação, v. X, n. 10 e 11, Out/Nov de 1932, p. 117-130..

56Revista Escuela Moderna, 1934, p. 52-61.

58Jornal O Estado de São Paulo, 01 de junho de 1930 e 11 de dezembro de 1930.

59 Diário Nacional, 21 de fevereiro de 1932.

60Jornal O Estado de São Paulo, 03 de janeiro de 1931.

61 Diário do Paraná, 2 de dezembro de 1947.

62Folha da Manhã, São Paulo, 10 de setembro de 1942.

63SÃO PAULO. Decreto nº 3.356, de 31 de maio de 1921. Regulamenta a lei n.1.750, de 8 de dezembro de 1920, que reforma a instrução pública. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, São Paulo, 1921. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1921/decreto-3356-31.05.1921.html>. Acesso em: 19 out. 2015. Para saber mais sobre a Reforma Sampaio Dória, cf: Honorato (2017).

Recebido: 12 de Dezembro de 2018; Aceito: 17 de Abril de 2019

Contato: Andrea Moreno, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. Av. Antônio Carlos, 6627 Pampulha, Belo Horizonte|MG|Brasil CEP. 31.270-901

ANDREA MORENO - Doutora em Educação pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Professora do Programa de Pós-graduação em Educação, conhecimento e Inclusão da FAE/UFMG e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação (GEPHE/FAE/UFMG). E-mail:<andreafaeufmg@gmail.com>.

ANDERSON C. BAÍA - Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor do Programa de Pós-graduação em Educação (DPE/UFV) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação (GEPHE/FAE/UFMG). E-mail:<andersonbaia@yahoo.com.br>.

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