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vol.35”ELES FAZEM A GINÁSTICA SUECA COM ADMIRÁVEL PRECISÃO …” CONSTRUÇÃO DE NAÇÃO E PRODUÇÃO DE INOCÊNCIA NO INDIGENISMO ESTATAL BRASILEIRO DO INÍCIO DO SÉCULO 20EDUCAÇÃO FÍSICA, GINÁSTICA, JOGOS E ESPORTE NO BRASIL: O IMPACTO ALEMÃO índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
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Educação em Revista

versão impressa ISSN 0102-4698versão On-line ISSN 1982-6621

Educ. rev. vol.35  Belo Horizonte jan./dez 2019  Epub 23-Ago-2019

https://doi.org/10.1590/0102-4698217174 

DOSSIÊ EDUCAÇÃO, SAÚDE E RECREAÇÃO

ARTIGO - ENTRE A GINÁSTICA E O ESPORTE: EDUCAÇÃO DO CORPO E MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE NAS SOCIEDADES GINÁSTICAS TEUTO-BRASILEIRAS

EVELISE AMGARTEN QUITZAUI 
http://orcid.org/0000-0001-9789-6488

I Universidad de la República (ISEF/Udelar), Instituto Superior de Educación Física, Paysandú, Uruguai.


RESUMO:

Entre meados do século XIX e fins da década de 1930 foram criadas no Brasil numerosas sociedades ginásticas cujo principal objetivo era, por meio de uma forma específica de educação do corpo, o Turnen, contribuir para a formação das comunidades teuto-brasileiras e para a manutenção de sua herança cultural em benefício do país que os acolhera. A partir das primeiras décadas do século XX, entretanto, o esporte passa a ganhar espaço entre essas sociedades e, como uma criação estrangeira, é envolvido por discussões e questionamentos acerca de seus possíveis benefícios educativos e higiênicos. Neste artigo, analisamos como ginástica e esporte foram apropriados pelas sociedades ginásticas como elementos de educação do corpo e manutenção identitária. Percebe-se que a resistência inicial à inserção do esporte está mais vinculada à preservação da ginástica como uma “herança” nacional alemã, e apresenta-se em diálogo com as discussões que se davam sobre o tema na Alemanha.

Palavras-chave: História da ginástica; História do esporte; Imigração alemã

ABSTRACT:

Numerous gymnastic societies were created in Brazil between the mid-nineteenth century and the end of the 1930’s. Their main goal was, to contribute to the formation of the German-Brazilian communities and preservation of their cultural heritage in benefit of the country that had welcomed them, through a specific form of body education, Turnen. From the first decades of the XX century on, however, sports start to gain some space in these societies and, as a foreign creation, is involved in discussions and inquiries about their possible educational and hygienic benefits. In this article we analyze how gymnastics and sports have been appropriated by the gymnastic societies as elements of body education and identity preservation. It is noted that the initial resistance to the sport insertion is more connected to the preservation of gymnastic as a national German “heritage” and it engages with the discussions on the theme that were taking place in Germany.

Keywords: History of gymnastic; History of sport; German immigration

INTRODUÇÃO

Ao longo do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, o Brasil se constituiu como um dos destinos de milhares de europeus que deixavam seus países de origem em busca de melhores condições de vida, ou mesmo novas oportunidades de negócios (WILLEMS, 1980; SEYFERTH, 1982; MAGALHÃES, 1998; SIRIANI, 2003). Entre os diferentes grupos que chegaram ao país no período estavam aqueles oriundos de regiões que hoje compõem a Alemanha. Os imigrantes identificados como “alemães” representaram um dos grupos cuja entrada sistemática ao país se manteve por uma grande duração. Oficializada a partir de 1820 (SIRIANI, 2003), a imigração de indivíduos de origem germânica se estende de forma quase contínua até a Segunda Guerra Mundial. Essa imigração sistemática de longa duração não significa, entretanto, que tenham constituído um dos grupos étnicos mais populosos do país.

A falta de dados faz com que seja difícil afirmar com precisão quantos alemães entraram no país desde que se iniciou sua imigração sistemática. Conforme Willems (1980), estatísticas mais precisas são encontradas apenas a partir da década de 1880 e, ainda assim, variam conforme os órgãos que as organizavam. A partir de registros do Departamento Nacional de Povoamento, e levando em consideração não apenas imigrantes identificados como “alemães”, mas também para todos aqueles que falavam alemão, Willems (1980) estima que, entre os anos de 1887 e 1936, o país recebeu cerca de 280.000 imigrantes de origens germânicas, o que corresponde a cerca de 7% do total de imigrantes que ingressaram no Brasil neste período.

Ainda que não constituíssem um grupo homogêneo e que houvesse diferenças entre as áreas colonizadas por alemães nas regiões sul e sudeste do Brasil, há um consenso entre os pesquisadores da imigração alemã de que uma característica marcante deste grupo era a vida associativa. Embora esta vida associativa apresentada pelos imigrantes alemães estivesse relacionada, ao menos inicialmente, com a falta de elementos básicos da vida pública, como escolas, serviços religiosos ou mesmo espaços de divertimento, ela não era um fenômeno surgido em terras brasileiras (LUEBKE, 1987; SEYFERTH, 1999; RIETH, 2007; SCHALLENBERGER, 2009). As associações constituíram-se como importantes estruturas sociais na Alemanha do século XIX (NIPPERDEY, 1972) e, segundo Rieth (2007), elas compartilhavam três características principais, que eram “pertença livre, espontânea ou voluntária”, “consciente superação dos limites estamentais, determinados por origem, propriedade ou formação”, e “ascensão de elites dentro da burguesia”. Entre as diferentes associações que começaram a se constituir na Alemanha desse período estavam as sociedades de ginástica (Turnvereine) (NIPPERDEY, 1972; KRÜGER, 2013).

Em terras brasileiras, as sociedades de ginástica também estavam entre as diferentes associações fundadas pelos imigrantes de origem alemã. Conforme Magalhães (1998), as associações criadas por este grupo que, paulatinamente, passa a se identificar como teuto-brasileiro,1 funcionavam como “micronações” em que se (re)criava e afirmava um sentimento de pertencimento coletivo e identidade étnica. Neste sentido, os estudos de Wieser (1991), Quitzau e Soares (2010) e Quitzau (2011, 2013, 2016) vêm indagando sobre o lugar das sociedades ginásticas e esportivas nessa vida associativa mais ampla constituída pelos imigrantes alemães estabelecidos no Brasil e, principalmente, sobre como essa forma específica de educação do corpo representada pela ginástica alemã - nomeada como Turnen - foi compreendida, nestes espaços, tanto como um meio de formação física e moral de seus associados, quanto como um elemento identitário.

Ao elegerem o Turnen, essa forma específica de ginástica criada no início do século XIX por Friedrich Ludwig Jahn (TESCHE, 2002; QUITZAU, 2015; 2016), estas associações tomam uma forma específica de educação do corpo como eixo central de suas ações, e que tem como característica marcante um forte vínculo com o nacionalismo alemão do século XIX. Entretanto, a partir das primeiras décadas do século XX, uma outra forma de educação do corpo, o esporte, passa a ganhar espaço entre essas sociedades e, como uma criação de origem inglesa, é envolvida por discussões e questionamentos acerca de seus possíveis benefícios educativos e higiênicos. É importante ressaltar que, ao tomar a ginástica e o esporte como formas específicas de educação do corpo, partimos aqui da noção desenvolvida por Soares (2014, p. 219) que, partindo da compreensão de educação como “um conjunto de processos culturais mais amplos” afirma que

Entre sua polissemia e consequentes ambiguidades, a noção de educação do corpo caracteriza-se pela progressiva repressão das manifestações corporais naquilo que parece ser incontrolável. Educar o corpo vem sendo, desse modo, torna-lo adequado ao convívio social e inseri-lo em processos de aprendizagens que buscam encobrir e apagar uma natureza rebelde, trazendo à luz uma natureza pacificada. (SOARES, 2014, p. 221)

Quitzau (2013), a partir da comparação entre uma sociedade ginástica e um clube esportivo na cidade de São Paulo, demonstrou que, apesar de serem práticas de origens distintas, tanto a ginástica como o esporte foram utilizados por estas instituições como elementos educativos, com o intuito de contribuir para a formação de uma comunidade física e moralmente forte, e que, neste cenário, há indícios de que, ao invés de comportarem-se como rivais, ambas as instituições buscaram estabelecer vínculos de cooperação. Entretanto, a análise dos documentos relacionados à sociedade ginástica demonstra, em muitos momentos, se não um discurso contra o esporte, uma grande ressalva a respeito desta prática. Neste sentido, buscamos ampliar este estudo antecedente analisando como Turnen e esporte foram apropriados pelas sociedades ginásticas teuto-brasileiras, nas regiões sul e sudeste do país, como elementos de educação do corpo e manutenção identitária, tentando identificar as tensões geradas pela introdução das práticas esportivas nesse cenário e de que maneira elas foram, paulatinamente, incorporadas como um complemento à ginástica. Para este fim, trabalhamos com um amplo conjunto de fontes constituído por atas de reuniões, fotografias, publicações elaboradas pelas sociedades ginásticas e recortes de jornais, compilados em acervos dos próprios clubes e em arquivos privados e públicos no Brasil e na Alemanha.

O ASSOCIATIVISMO GINÁSTICO TEUTO-BRASILEIRO: ORGANIZAÇÃO E COTIDIANO

Como mencionado na introdução, o associativismo é considerado como um aspecto característico das comunidades alemãs criadas no Brasil, especialmente aquelas mais próximas dos centros urbanos. Ainda que as primeiras iniciativas de criação de sociedades por estes imigrantes datem da década de 1820 (SEYFERTH, 1999), é apenas com a chegada mais numerosa de imigrantes com maior nível de formação e oriundos de áreas urbanas que se percebe um maior impulso da associativismo no país (SCHALLENBERGER, 2009). Se voltamos nosso olhar especificamente para o caso das sociedades de ginástica, que são o objeto da presente investigação, perceberemos que seu desenvolvimento coincide com as análises apresentadas por Schallenberger (2009).

As primeiras sociedades ginásticas fundadas por imigrantes de origem alemã em terras brasileiras datam do final dos anos 1850. Enquanto a primeira delas, a de Joinville, segue em atividade desde sua fundação, em 1858, a segunda, fundada no Rio de Janeiro em 1859, fechou as portas ainda no século XIX, deixando alguns poucos vestígios de sua existência. Wieser (1991) identifica que até o início da década de 1880, os imigrantes alemães fundaram apenas mais duas sociedades ginásticas no país, o que leva este autor a denominar essa fase inicial de desenvolvimento do associativismo ginástico como “período de isolação”. A partir da década de 1880, observa-se um aumento expressivo na quantidade de associações deste tipo, assim como os primeiros movimentos de criação de organizações suprarregionais que congregassem distintas sociedades ginásticas teuto-brasileiras, o que permite ao autor caracterizar esta fase como “período de organização suprarregional”, que se estende até 1917, limite final de seu estudo, pois é marcado por interrupções nas atividades das sociedades ginásticas devido à Primeira Guerra Mundial. Neste mesmo movimento realizado por Wieser, Quitzau (2016) identifica uma terceira fase, compreendida entre as décadas de 1920 e 1930, que pode ser classificada como “período de retomada e ampliação de atividades”, uma vez que estas associações não apenas voltam a seu funcionamento normal, como também apresentam um maior nível de comunicação entre si (especialmente por meio do que se pode nomear uma “imprensa ginástica”) e também adotam novas práticas corporais, como as esportivas. A melhora das formas de comunicação por meio de uma imprensa especializada facilitou, inclusive, uma maior interação com sociedades ginásticas fundadas por alemães em outros países sul-americanos, como Argentina e Chile.2

Essa imprensa ginástica, ao gerar uma circulação de periódicos entre as sociedades ginásticas teuto-brasileiras, contribuíram tanto para a aproximação destas instituições como para a construção de uma identidade entre seus associados, veiculando a ideia de que o ginasta teuto-brasileiro seria um indivíduo sempre pronto para o trabalho e para o sacrifício em nome do bem comum. Ao mesmo tempo, também estabeleciam uma imagem de que as sociedades ginásticas, e mesmo o Turnen, eram instituições que uniam essa comunidade criando um ambiente sem diferenciações partidárias, de classe ou confessionais (QUITZAU, 2016). A circulação destes periódicos dava força a uma ideia que era comum a estas instituições: como ginastas teuto-brasileiros, seus associados tinham um trabalho em comum que se constituía na manutenção da germanidade em terras estrangeiras a partir da preservação do Turnen, da língua alemã, de seus costumes, construindo um ambiente permeado por camaradagem e, principalmente, por um sentimento de pertencimento coletivo.

Estas mesmas revistas também nos indicam aspectos básicos do funcionamento das sociedades ginásticas, como quem tinha permissão para participar de suas atividades e utilizar suas instalações, ao mesmo tempo em que veiculavam certos comportamentos exigidos dos associados, como a responsabilidade compartilhada pela manutenção de equipamentos e espaços, e os horários limites para fechamento das instituições. Esse conjunto de regras e normas de comportamento, denominada Hausordnung (ordem da casa, em tradução literal), dizia respeito especialmente aos deveres e comportamentos esperados dos associados. Por outro lado, eram os estatutos que regiam o funcionamento destas instituições e determinavam as sanções possíveis àqueles que não se portassem conforme as regras estabelecidas, as quais poderiam variar de meras advertências à expulsão do quadro de associados.

Como as sociedades ginásticas da Alemanha, as teuto-brasileiras eram grupamentos voluntários de indivíduos, regidos por um estatuto que estabelecia, entre outras coisas, as finalidades e os objetivos que seriam perseguidos por estas instituições. Assim como as revistas e praticamente todos os documentos publicados pelas sociedades ginásticas teuto-brasileiras, os estatutos eram escritos em alemão. Ainda que pudesse haver algumas particularidades entre os regulamentos das diferentes associações, alguns pontos coincidiam em todos eles, como a composição do quadro de associados, a insistência em seu caráter apolítico e, principalmente, os objetivos das associações: entre os estatutos encontrados, é unânime a noção de que o objetivo das sociedades ginásticas era promover o fortalecimento corporal e espiritual da comunidade teuto-brasileira por meio do Turnen. Em muitos casos, agregava-se a estes objetivos a manutenção da língua e da cultura alemã e, aos meios para alcançá-los, as atividades ao ar livre, como jogos e passeios (QUITZAU, 2011; 2016).

As sociedades ginásticas teuto-brasileiras puderam funcionar quase ininterruptamente e sem grandes alterações por cerca de 80 anos, desde a criação da primeira destas associações, em Joinville, em 1858, até o início das políticas de nacionalização do governo Vargas, em 1938. Durante este período, estas sociedades tiveram uma atividade bastante intensa, com atividades que envolviam também apresentações de teatro e música, exibições de filmes e a disponibilização de livros e periódicos em língua alemã por meio de suas importantes bibliotecas.3 Durante a semana, oferenciam sessões de ginástica a seus associados, no período noturno. Nestes momentos, podiam exercitar-se nos diferentes aparatos disponíveis: argolas, barras paralelas e cavalos eram elementos básicos dos salões de ginástica destas sociedades. Nestas sessões de treinamento,

Todos os ginastas, mais velhos e mais novos, ficam em fila e esperam pelo comando do mestre de ginástica. Todos se viram para a direita e iniciam ligeiros passos de corrida em roda: começou a escola do corpo. Fortes movimentos de braços e pernas trabalham todo o corpo e deixam esvair-se as últimas sensações de frio que apresenta esta gélida noite do inverno brasileiro. Os exercícios aquecem o corpo e logo os ginastas se dividem em filas de cinco e reúnem-se para os exercícios livres. No palco, o mestre de ginástica demonstra os exercícios com leveza e gosto ao acompanhamento do piano. (...) (TURNERSCHAFT 1890, 1937, p.4)

Como durante a semana as sedes das sociedades ginásticas eram utilizadas por seus associados somente à noite, durante o dia várias delas disponibilizavam sua estrutura para que alunos das escolas alemãs locais pudessem também exercitar-se na ginástica. Em São Paulo,4 por exemplo, a Turnerschaft von 1890 colocava sua sede à disposição das escolas alemãs da cidade, enquanto em Porto Alegre, a Turnerbund tinha ação bastante similar (QUITZAU, 2011; 2016).

Ter uma sede própria que comportasse um ginásio era, nos anos iniciais das sociedades ginásticas, um dos principais desafios e um dos objetivos administrativos mais almejados. Em geral, estas associações iniciavam suas atividades em locais alugados, comumente em salões de hotéis ou pátios de escolas da colônia, para posteriormente mudar-se para um edifício próprio. A obtenção da sede, entretanto, ainda que significasse estrutura para levar adiante as sessões de ginástica e os encontros culturais, não satisfazia às necessidades destas associações. Uma vez obtida esta primeira estrutura, buscavam uma complementar: um espaço em que pudessem ter sua Spielplatz, praça de jogos em que se reuniam aos finais de semana para se exercitar ao ar livre. Aliado às sessões semanais de ginástica, os exercícios ao ar livre contribuiriam para combater as mazelas derivadas do ambiente urbano, pois, como afirmavam os membros da Turnernbund Porto Alegre, em um momento em que o “nervosismo se tornou uma doença da moda, tuberculose e outras tantas doenças crescem como flagelos da humanidade e todos chegamos hoje ao ponto de falarmos em uma decadência das forças do povo” (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 2, n. 2, 1916, p. 11), os exercícios físicos tornam-se um “remédio” contra os males corporais e morais. Por meio do Turnen, a saúde é aperfeiçoada, o corpo se torna forte, resistente, ágil e adquire uma postura “bela e natural”.

A praça de jogos ao ar livre, portanto, permitia uma ampliação das atividades oferecidas por estas associações a seus membros. Juntamente com corridas, saltos e lançamentos, exercícios que faziam parte das primeiras sistematizações de exercícios físicos, como o Turnen proposto por Jahn, podiam também exercitar-se em jogos como punhobol, handebol e futebol. Estes jogos, entretanto, sinalizam o ingresso de uma prática com uma lógica e origem distintas do Turnen: o esporte.

TURNEN X ESPORTE: TENSÕES E APROXIMAÇÕES

Há alguns anos vivemos aqui sob o signo do esporte, mas nossa ginástica provou novamente que, através dela, pode-se cuidar, aspirar e adquirir uma formação corporal múltipla (DEUTSCHER TURNVEREIN (STAMMVEREIN) ZU SÃO PAULO, 1905).

Em seu relatório de atividades referente ao ano de 1904, publicado no Deutsche Turnzeitung5 n° 24, em junho de 1905, a comissão diretiva da Deutscher Turnverein zu São Paulo demonstrava certa preocupação com uma novidade que começava a ganhar espaço na capital paulista, inclusive no âmbito da colônia alemã: o esporte. Se, por um lado, o Turnen havia se constituído ao longo do século XIX como a grande expressão da cultura física alemã, na passagem para o século XX ele começava a encontrar no esporte, tanto na Alemanha, como no Brasil, um potencial rival. Em São Paulo, por exemplo, entre os alemães já havia, desde 1899, o Sport Club Germania, fundado para a prática do futebol, e que crescia rapidamente nas primeiras décadas do século XX (QUITZAU; SOARES, 2010). Também em Porto Alegre, por exemplo, como demonstram os estudos de Mazo (2003), já havia, na passagem do século XIX para o XX, uma série de associações voltadas para práticas de caráter esportivo, como o remo, o turfe e a natação. O próprio termo sport já circulava em jornais em língua alemã no Brasil desde fins do século XIX, inicialmente referindo-se a práticas esportivas na Alemanha e, a partir da década de 1910, referindo-se especificamente a práticas realizadas em clubes teuto-brasileiros (ASSMANN; MAZO; FERNANDES, 2017).

Nesses primeiros anos do século XX, o esporte representava uma preocupação também para outras sociedades ginásticas, como a Turnerschaft von 1890 in São Paulo e a Turnerbund Porto Alegre. Ambas as associações, em seus relatórios de atividades referentes ao ano de 1905, indicam o mesmo problema e uma mesma hipótese explicativa: a queda na frequência às sessões de ginástica e a redução do quadro de associados, os quais eram inicialmente explicados no interior destes clubes como resultado de uma migração destes indivíduos para os clubes esportivos, mais especificamente, para os de futebol. Em 1904, a Turnerschaft von 1890 tecia críticas aos associados que, em um período de dificuldades do clube, trocavam o Turnen pelos “movimentos esportivos performáticos”, nomeadamente o futebol (TURNERSCHAFT VON 1890 IN SÃO PAULO, 1905).

A ressalva dos ginastas teuto-brasileiros do início do século XX não é uma exclusividade das sociedades ginásticas fundadas por alemães no Brasil, mas reflete, em certa medida, as tensões e os debates que estavam presentes na Alemanha deste mesmo período. O futebol, que chegou aos territórios alemães nas décadas de 1870 e 1880 (EISENBERG, 1991), e o esporte de maneira mais ampla, se configurou inicialmente como uma prática da elite aristocrática alemã e enfrentou grande resistência, especialmente por suas origens britânicas. Conforme analisa Merkel (2003), o fato de ser uma prática estrangeira, vinculado ao caráter internacionalista que apresentava, fez com que o esporte fosse recebido inicialmente com grande aversão, quando não com verdadeiro rechaço, principalmente pela Deutsche Turnerschaft.6 Quando Pierre de Coubertin deu início aos primeiros movimentos de organização do olimpismo moderno, suas ideias foram recebidas pelos Turner alemães com grande hostilidade, uma vez que eles a percebiam como

uma conspiração antigermânica, conforme se sentiam ameaçados por seus vizinhos franceses, esperando que eles fossem invadir a Alemanha a qualquer momento para buscar revanche pela derrota na guerra Franco-Prussiana. Eles também discordavam fundamentalmente da natureza internacional dos esportes e dos Jogos Olímpicos, uma vez que seu conceito de cultura física era claramente associado a características nacionais. (MERKEL, 2003, p.81)

O Turnen, essa forma de ginástica propagada pela Deutsche Turnerschaft e pelos ginastas de origem alemã que se instalaram em outros países, como no Brasil, é uma criação do início do século XIX, marcadamente influenciada pelo movimento nacionalista do período. Seu criador, Friedrich Ludwig Jahn buscava, por meio desta prática, exaltar o povo alemão e preparar a juventude para lutar principalmente contra a então dominação francesa e fragmentação dos territórios germânicos. A própria alteração do termo Gymnastik para Turnen é um indício dos interesses de Jahn e das influências que recebia do movimento nacionalista e de pensadores como Johann Gottfried von Herder, Wilhelm Friedrich Hegel, Johann Gottlieb Fichte e Ernst Moritz Arndt (TESCHE, 2002; MERKEL 2003; QUITZAU 2011; 2016).

Pensar o Turnen, portanto, é pensar uma forma de educação do corpo que foi concebida e nutrida por um forte vínculo com movimentos e lutas políticas ao longo de todo o século XIX, e que foi tomada pelos ginastas alemães como um elemento de constituição identitária nacional. Neste sentido, qualquer prática que viesse de espaços para além das recém-delimitadas fronteiras alemãs muito provavelmente seria alvo de intensa resistência por parte deste grupo. Neste sentido, conforme afirma Merkel (2003, p. 86)

Os principais opositores eram as lideranças do Turnbewegung, a classe média educada, e muitos filósofos. Comparando-o com a tradição nacional, patriótica do Turnen, os opositores do esporte argumentavam que ele não tinha fundamentação espiritual - quer dizer, que não havia um conjunto específico ou coerente de ideias patrióticas e nacionais associadas ao esporte, sendo simplesmente uma atividade de tempo livre nociva, incapaz de desenvolver virtudes positivas, mas, ao contrário, promovendo especialização, egoísmo exagerado, competitividade, e o princípio da conquista individual. O treinamento unilateral dos atletas, a emergente comercialização e profissionalização nos campos de futebol inglês, bem como nos ringues de boxe, também eram criticados.

Krüger (2013), ao estudar a formação dos clubes ginásticos e esportivos na Alemanha também aponta para o lugar do patriotismo no Turnen e na crítica dos ginastas ao movimento esportivo. Por outro lado, partindo da noção de que o Turnen era uma prática muito mais ampla que também envolvia jogos, afirma que, de certa forma, até estas práticas que conhecemos como esportes ingleses poderiam ser apropriadas pelas sociedades ginásticas, desde que praticadas em conformidade com o “espírito do Turnen”. E esta é uma noção essencial para compreendermos também o processo de introdução e disseminação das práticas esportivas nas sociedades ginásticas teuto-brasileiras, apesar desta aparente hostilidade inicial.

Ao mesmo tempo em que os relatórios de atividades das sociedades ginásticas teuto-brasileiras do início do século XX indicam que havia essa desconfiança frente ao esporte - especialmente ao futebol -, também sinalizam certa tendência apaziguadora por parte de suas comissões diretivas. A Turnerschaft von 1890, por exemplo, indica a hipótese de que a queda na frequência às sessões de ginástica estaria relacionada à participação de seus associados em jogos de futebol, porém ressalta logo em seguida que os próprios dados da associação mostravam o contrário: “apenas cinco ou seis de nossos associados se envolvem com o futebol, e eles são justamente os participantes mais ativos nas sessões de ginástica” (TURNERSCHAFT VON 1890IN SÃO PAULO, 1906, p. 781).

As mesmas observações são feitas pela Turnerbund Porto Alegre, no mesmo ano. Conforme esta associação,

Em comparação com os ramos do esporte que são representados em Porto Alegre, o Turnen se tornou novamente “antiquado”. Nosso propósito aqui não está em invejar o sucesso dos diferentes clubes esportivos que são muito amigos nossos; ao contrário, no futuro queremos lutar harmoniosamente pelo objetivo de trazer a grande massa daqueles que não praticam exercícios físicos para essa mais alta alegria de vida, que é o movimento corporal. Se esse movimento é chamado Turnen ou esporte, isso não deve nos colocar em oposição, mas a Turnerbund pode pedir que não se negligencie o Turnen semanal pelo esporte dominical. Temos muitos exemplos de como é possível unir Turnen e esporte dessa maneira, pois muitos de nossos Turner mais ativos são também esportistas (TURNERBUND PORTO ALEGRE, 1906).

É possível perceber, portanto, que apesar das críticas e da hostilidade inicial às práticas esportivas, as sociedades ginásticas gradualmente vão adotando um discurso conciliatório entre ginástica e esporte. Ao longo das primeiras décadas do século XX vamos encontrar, inclusive, associações que se denominam “ginásticas e esportivas”, como é o caso da Deutscher Turn- und Sportverein Rio de Janeiro (1909) e da Turn- und Sportverein São Bento (1925). Ainda que esse tom conciliatório não coloque, ao menos inicialmente, o esporte no mesmo patamar da ginástica (“a Turnerbund pode pedir que não se negligencie o Turnen semanal pelo esporte dominical”), o coloca ao menos como uma prática complementar, e que tem como principal vantagem o fato de ser ao ar livre.

Para os membros das sociedades ginásticas, o exercício corporal ao ar livre é um importante aliado no combate aos vícios físicos e morais derivados da vida nas crescentes cidades e de empregos que exigiam do corpo pouco movimento e posturas inadequadas, em ambientes fechados e com pouca circulação de ar. Como afirmam os ginastas porto alegrenses, os exercícios físicos são um “remédio” contra os males físicos e morais (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 2, n. 2, 1916, p.11). Ideia similar é compartilhada pelos paulistanos da Turnerschaft von 1890, ao afirmarem que os trabalhos diários, de características cada vez mais mecanizadas, afetavam a simetria corporal e afastava o indivíduo de um ideal de beleza marcado por uma musculatura forte, uma pele bronzeada e um olhar capaz de revelar ânimo e alegria de vida. Para este grupo de São Paulo, “da mesma forma que hospitais, farmácias e medicamentos são vistos como necessários e desejáveis para a cura dos doentes, é sábio cuidar para que o corpo não se degenere em decorrência dos modos de vida contemporâneos” (QUITZAU, 2011, p.107). Para os ginastas de São Paulo, “quanto maior a barriga, maior a aterosclerose!” (TURNERSCHAFT 1890, 1936), e essa noção era, em certa medida, compartilhada por ginastas teuto-brasileiros em outras cidades do país.

É consenso entre os membros das diferentes sociedades ginásticas que a prática regular do Turnen permitiria ao indivíduo obter um bom desempenho de coração e pulmões, uma musculatura resistente, ágil, e uma postura adequada. Aliás, estabelecem entre postura e funcionamento dos órgãos internos uma relação bastante direta, ao afirmar que uma boa postura

dá espaço aos pulmões para que possam se desenvolver vigorosamente, e os torna saudáveis, resistentes e insensíveis contra a entrada de doenças. Além disso, o ensino de uma boa postura estática, na caminhada, sentado, etc., juntamente com um marcado fortalecimento dos músculos do abdome e das costas, está sempre ligado com o fortalecimento da força de vontade. O ser humano precisa de força de vontade se quiser alcançar algo com competência [...] O ideal é quando Turnen e jogo são complementados pelo nado, que refresca e enrijece. Nadar fortalece nervos, pele, coração, pulmões, estimula o metabolismo, educa para a coragem e para a perseverança (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 2, n. 6, 1916, p. 54).

Como indica o excerto de Porto Alegre, a prática regular do Turnen não exercia efeitos apenas sobre a musculatura dos indivíduos, mas também contribuía para o desenvolvimento de uma série de virtudes. Em uma sessão de ginástica, eles

[...] se acostumam a tensionar completamente suas forças espirituais e corporais para empregá-las em um objetivo, em uma tarefa. Eles são assim educados para a constrição das vontades; aprendem a superar dificuldades, sua autoconfiança cresce, sua coragem é forjada. Eles se ordenam sob uma vontade maior; assim, a aula de ginástica é uma excelente escola de disciplina e rígida ordem (TEUTO-BRASILIANISCHER TURNVEREIN ano 1, n. 3, 1929, p. 9).

Há entre os ginastas um consenso de que o Turnen era capaz de promover, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de características físicas e morais. Temas como a autonomia, a coragem, a presença de espírito, o domínio de si, o pertencimento coletivo e a disciplina apareciam lado a lado como efeitos físicos proporcionados pela prática regular dos exercícios. E estes efeitos seriam alcançados com maior facilidade se as sessões de ginástica fossem um espaço em que prevalecesse o bom humor e o companheirismo. Há uma insistência por parte das sociedades ginásticas no fato de que as sessões de ginástica devem ser momentos em que predomine a cordialidade e uma boa relação entre os participantes, e este clima ideal seria obtido de diversas formas: ajudando uns aos outros nos exercícios mais complexos, entoando canções ao final da sessão e, em muitos casos, compartilhando uma cerveja antes de voltar para casa (QUITZAU, 2011; 2016; KRÜGER, 2013).

Ainda que o Turnen fosse considerado um exercício “múltiplo, que buscava trabalhar todas as partes do corpo de maneira harmoniosa”, tinha uma característica que, ainda que não diminuísse seu valor como elemento educativo, representava uma pequena desvantagem: era praticado durante a semana, à noite, em espaços fechados - ainda que fossem planificados com grandes janelas para favorecer a circulação de ar. Neste sentido, seu potencial seria ainda maior se aliado às práticas corporais ao ar livre. As Spielplatz (praças de jogos) tornavam-se espaços de socialização aos sábados e domingos, e que permitiam unir o trabalho realizado durante a semana nos ginásios aos divertimentos realizados junto à natureza.

Nadar, correr, saltar, remar, jogar, enfim, exercitar-se ao ar livre era considerado como um elemento essencial à ginástica, pois “enquanto o Turnen é quase exclusivamente cultivado à noite em ginásios fechados, os jogos acontecem na natureza livre de Deus, favorecidos pelo ar e pelo sol, que por si só já exercem os melhores benefícios sobre o corpo humano que podemos imaginar” (TEUTO-BRASILIANISCHER TURNVEREIN, ano 1, n. 4, 1929, p. 1). Essa ideia, veiculada no jornal da Teuto-Brasilianischer Turnverein Curytiba, é seguida por um chamado a seus associados: “deixem nossa juventude se fortalecer na aula de ginástica, viver ao ar livre, na luz e no sol, pois nossas crianças são o maior bem da nação, elas são nossa esperança de um futuro melhor” (idem, p. 8). É nesse contexto de exaltação da vida ao ar livre, de que o exercício corporal junto à natureza é um importante complemento ao já muito benéfico Turnen, que os jogos e o antes hostilizado esporte passam a ser compreendidos como importantes aliados da ginástica.

Se voltamos nosso olhar aos primeiros manuais de ginástica publicados na Alemanha, ainda na passagem do século XVIII para o XIX, podemos perceber que os jogos ao ar livre eram um dos componentes dessas sistematizações, ao lado de práticas como equilibrar-se, saltar, correr, exercitar-se nas barras paralelas ou no cavalo (TESCHE, 2002; QUITZAU, 2011; 2015; QUITZAU; SOARES, 2016). Guts Muths, por exemplo, em seu manual sobre jogos, afirmava que

se por um lado é possível concluir algo sobre a condição moral e política de uma nação a partir dos jogos, por outro também é possível, a partir dessa conexão, concluir que o jogo tem significativa influência sobre o caráter, que eles pertencem aos meios de educação da nação (Guts Muths, 1959, p. 10).

Enquanto Guts Muths descrevia em seu manual 106 jogos de distintas origens e características, organizados em duas categorias denominadas “de movimento” e “sentados ou de descanso”, Jahn também aponta para a importância dos jogos no movimento ginástico, mas estabelece uma série de características para que possam ser considerados um Turnspiel (jogo ginástico), como não depender de instalações complexas, ter regras de fácil compreensão e fazer com que todos estejam sempre em movimento, descrevendo em seu manual apenas cinco jogos. Para Jahn, os jogos teriam um importante papel socializador, uma vez que “os jogos ginásticos constituem a passagem para a grande vida em sociedade e guiam as cirandas da juventude” (JAHN E EISELEN, 1967, p. 169-170).

Referências a estes autores aparecem nas fontes brasileiras ao tratar da importância do jogo ao ar livre. Quando a Turnerbund Porto Alegre inaugurou sua praça de jogos, em 1921, Jakob Aloys Friedrichs, presidente de longa data desta associação, afirmou:

[...] quando parece que estamos jogando, nós servimos à pátria, conforme as palavras de Guts-Muths que, já antes de Jahn, chamava o povo alemão:

“Os jogos ginásticos têm algo tão grande e encorajador em si, tanta força para agir sobre o espírito nacional, guiando as pessoas, inspirando-as com patriotismo, exaltando seu senso de virtude e honra, difundindo certa nobreza da mente, que me fazem considerá-lo um meio de educação de toda a nação” (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 3, n. 5, 1917, p. 26)

Entre os diferentes jogos que aparecem nas fontes, um dos mais comuns é o punhobol, que, segundo Pfister (2003), é um bom exemplo da “batalha” entre Turnen e esporte. Conforme esta autora, o punhobol foi um jogo criado por um professor de educação física da cidade de Munique na década de 1880. Jogado por duas equipes, em um espaço marcado, separadas por uma corda, inicialmente não tinha tempo predeterminado nem número exato de jogadores e exigia que estes, ao golpearem a bola para o outro lado com os punhos fechados, o fizessem de forma a garantir que a outra equipe pudesse golpeá-la de volta e dar seguimento ao jogo. Neste sentido, afirma que o “punhobol era um típico jogo do Turnen, em que cooperação e o aspecto estético contavam muito mais do que competição e eficiência” (PFISTER, 2003, p. 84). O recém-criado jogo chamou atenção de muitas pessoas, e a disseminação do esporte na Alemanha, nesse período, se fez sentir também em uma série de transformações na dinâmica do punhobol. Segundo Pfister (2003, p. 84-85):

Surgiram discussões sobre competição e performance e, após longas disputas, os princípios do esporte foram gradualmente aceitos e integrados. Assim, na virada do século, o punhobol também havia mudado, com os jogadores tentando golpear a bola com mais força e velocidade - e também de cima para baixo - para prevenir que a outra equipe pudesse alcançá-la. Em 1910, uma nova regra foi introduzida proibindo os jogadores de golpear a bola de cima para baixo. Outros regulamentos também foram discutidos com o intuito de salvar o caráter original do jogo. Para um Turner como Weber [criador do jogo], as mudanças representavam ‘aberrações, erros e uma completa distorção do jogo’, mas a resistência à ‘esportivização’ do punhobol foi em vão. Em 1912, os princípios de competição e uma orientação ao sucesso superaram todas as considerações morais e estéticas, e todos os tipos de golpes foram permitidos. Finalmente, em 1923, a pontuação também mudo: os erros do adversário agora eram contados como pontos. O resultado dessas mudanças foi uma completa transformação da ideia de punhobol, e este que originalmente era um jogo ginástico se transformou em um esporte.

Não é possível dizer a partir de que regras o punhobol era jogado entre os ginastas teuto-brasileiros, pois não foram encontrados registros deste tipo nas fontes aqui utilizadas. Entretanto, o que sim é possível afirmar é que se referiam ao punhobol sempre como um jogo, nunca como um esporte. Essa mesma lógica pode ser encontrada, também, nas referências paulistanas sobre a prática do handebol, hoje amplamente conhecido como um esporte.

Os membros da Turnerschaft 1890 consideravam o handebol como um intenso “jogo de corrida”, que exigia habilidade de todos os jogadores em campo, não permitindo, portanto, especializações conforme o tipo físico dos jogadores. Além disso, mais do que as habilidades e a resistência física, o handebol era um jogo que exigia pensamento rápido e camaradagem entre os membros da equipe. Ao relatar uma partida organizada no interior do clube, em 1935, entre uma equipe de jovens e uma de adultos, foi grande a ênfase neste aspecto: a inesperada vitória dos adultos sobre a equipe jovem, muito mais rápida e forte, foi explicada pela “entusiasmo e espírito de camaradagem” com que jogaram os mais velhos (QUITZAU, 2011). Para os membros da Turnerschaft von 1890, não havia problemas que os membros do clube se envolvessem em torneios de handebol, desde que o fizessem jogando de maneira honrosa, disciplinada e tendo como principal objetivo o disfrute do jogo, e não o resultado em si, ou seja: desde que jogassem o handebol conforme o “espírito jahniano”. Essa questão da competição e da forma de se jogar seguiu aparecendo nas discussões sobre o esporte, mesmo depois que ele havia passado a ser parte do cotidiano destas associações e a ser considerado, assim como o Turnen, um meio de educação.

Para as sociedades ginásticas teuto-brasileiras, o esporte, desde que praticado de forma racional, poderia desenvolver valores muito similares ao próprio Turnen, como sentimento de comunidade e subordinação. Praticá-lo de forma racional seria, neste contexto, fazê-lo como uma forma de treinamento corporal, como mais um exercício que poderia promover a saúde, e não como um fim em si mesmo. A competição segue representando o grande “defeito” do esporte, de forma que, ainda que estas associações passem a prescrever práticas esportivas, o fazem sempre com a ressalva de que ela não pode se tornar uma busca desenfreada por recordes ou ter como principal finalidade humilhar o adversário. Neste sentido, afirmam, por exemplo, que “notável vantagem reside no Turnen em oposição ao esporte, pois as performances não se direcionam verticalmente, como no esporte, mas emanam horizontalmente. O esportista luta para derrubar seu adversário, enquanto o ginasta vê seu adversário como um companheiro de combate” (NACH DER RÜCKKEHR VOM 4. GAUTURNFEST DES JACUHY-GAUS IN CACHOEIRA, 1929).

Se analisamos a documentação da terceira fase do desenvolvimento do associativismo ginástico teuto-brasileiro, ou seja, de 1920 até fins da década de 1930, é possível perceber que, de um ponto de vista de função educativa, não há uma grande diferença entre o que se diz sobre esporte e sobre ginástica. Os membros da Turnerbund Porto Alegre, por exemplo, afirmam que um aspecto que gerava uma grande confusão entre os dois era conceber a ginástica como exercícios realizados apenas no ginásio e o esporte como as diversas atividades ao ar livre, como correr, lançar e saltar, além dos jogos coletivos. Conforme os porto alegrenses, os aspectos que diferenciariam a ginástica do esporte seriam a especialização esportiva, frente à multiplicidade da ginástica, o fato de o Turnen exercitar harmoniosamente todas as partes do corpo, e a forma de avaliação da performance, uma vez que na ginástica era possível ter uma quantidade de vencedores muito maior que no esporte7 (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 5, n. 1, 1920, p. 6). Entre as práticas esportivas que ganham espaço nas sociedades ginásticas, o futebol e o atletismo são as mais comuns.

O atletismo estava presente em todas as sociedades de ginástica teuto-brasileiras. Considerado como a “mais nobre e bela das modalidades esportivas” (TURNERBUND PORTO ALEGRE, ano 1, n. 5, 1915, p. 58), o atletismo era visto como um dos mais seguros complementos à ginástica. O atletismo praticado nestas associações, entretanto, apresentava algumas particularidades: ao mesmo tempo em que reunia práticas que hoje compõem o que conhecemos como atletismo - como corridas de fundo, saltos em distância e altura - também agregava modalidades próprias, como o Steinstoßen (arremesso de pedra). Além disso, apresentava ainda uma tentativa de adaptação dos nomes à língua alemã, uma vez que o conjunto de exercícios que compunha a chamada Leichtathletik (“atlética leve”, que reunia por exemplo as corridas e os saltos), em outros momentos apareciam também denominadas como volkstümliche Übungen, que podemos traduzir livremente como “exercícios populares”.

Outra prática esportiva que se tornou bastante comum em meio às sociedades ginásticas teuto-brasileiras foi o futebol. Em sociedades como a Deutscher Turn- und Sportverein Rio de Janeiro e a Turnerbund Porto Alegre formaram-se equipes de futebol que frequentemente disputavam jogos e participavam de torneios contra outras equipes locais. Entre as qualidades que poderiam ser desenvolvidas pela prática do futebol estavam a “decisão rápida, olho apurado e golpes certeiros” (17. STIFTUNGSFEST DES TURNVEREINS CAHY, 1915).

As práticas esportivas, e os jogos coletivos de forma geral, passam a ter um lugar de destaque, especialmente como um apelo à participação dos jovens teuto-brasileiros, e a própria figura de Friedrich Ludwig Jahn é recuperada como argumento para convencê-los a se envolver com essas práticas. Em Porto Alegre, por exemplo, a revista do clube se apropria de um trecho do manual Die deutsche Turnkunst em que Jahn e seu colaborador, Ernst Eiselen, afirmam que

nos jogos existe uma disputa sociável, alegre e cheia de vida. Aqui se une trabalho e prazer com seriedade e júbilo. Neles a juventude aprende desde cedo tanto direitos quanto regras. Pois neles há costume, moral e conveniência numa viva contemplação. Viver desde cedo com seus iguais é o berço da grandeza para o homem. O indivíduo sozinho perde-se facilmente para o egoísmo, algo que os companheiros de jogo não deixam acontecer. Além disso, o indivíduo sozinho não tem um espelho que lhe permita ver-se em sua verdadeira forma, uma medida viva para comparar seu aumento de força, um juiz para seu mérito próprio, uma escola para suas vontades e oportunidade para decisão rápida e vigor (PORTO ALEGRE, ano 6, n. 2, 1922, p. 5; JAHN E EISELEN, 1967, p. 169-170).

Percebe-se, portanto, que o esporte, a partir da década de 1910, e especialmente no período de retomada das atividades dessas sociedades ginásticas, após a Primeira Guerra Mundial, paulatinamente alcança um status importante nestes clubes e, ainda que subordinado ao Turnen, passa a ser compreendido como uma prática com potencial educativo, capaz de auxiliar estes clubes em seu objetivo de formar indivíduos física e moralmente fortes para contribuir com o desenvolvimento não apenas da colônia em que estavam inseridos, mas, de forma mais ampla, do país que os acolhera. Nesse período, que coincide com a expansão das atividades oferecidas pelos clubes e com o estabelecimento de uma imprensa ginástica, é possível, inclusive, encontrar um periódico dedicado ao esporte, publicado por estas associações: a Deutsche Sportwoche - Revista Desportiva Allemã, publicação bilíngue que funcionava inicialmente como órgão oficial da Deutscher Turn- und Sportverein, do Deutscher Sport-Club e do Yacht-Club Brasileiro, e que, posteriormente, passou a representar também a Deutscher Turnverein Petrópolis e Centro Excursionista Brasileiro, do Rio de Janeiro, e Deutscher Segelklub, Deutscher Turnverein, Deutscher Wassersportverein, Schwimmklub “Stern”, Turnerschaft von 1890 e Wanderbund “Villa Marianna”, de São Paulo. Autointitulado como “primeiro jornal esportivo alemão para a América do Sul”, veiculava tanto informes dos clubes que representava como notícias e resultados sobre diferentes modalidades no Brasil e na Europa, entre as quais podemos destacar o futebol, o handebol, atletismo, tênis e esportes aquáticos (QUITZAU, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos 80 anos que correspondem ao período entre a fundação da primeira sociedade ginástica teuto-brasileira e as políticas de nacionalização do governo Getúlio Vargas, que marcaram uma importante ruptura em seu cotidiano, estas instituições buscaram se constituir como espaços de manutenção da germanidade no país, atribuindo-se um papel tão importante nessa tarefa quanto o da escola e o da igreja (QUITZAU, 2016). Neste período, utilizaram-se fundamentalmente do Turnen como elemento de formação física e moral dos membros das colônias alemãs em que estavam inseridas, especialmente dos mais jovens. Como prática de origem germânica e fortemente carregada por ideais nacionalistas, o Turnen sempre ocupou o lugar central nestas instituições, e nunca deixou de ser compreendido como um dos elementos da cultura alemã a serem preservados no país, assim como a língua, a música e a literatura. Entretanto, é possível perceber que o Turnen, ainda que não perca sua primazia, pouco a pouco passa a compartilhar espaço com outra prática, cada vez mais comum: o esporte. Observa-se nas sociedades teuto-brasileiras um movimento frente ao esporte muito similar àquele apresentado pelos ginastas em seu país de origem, a Alemanha. Se no início do século XX o esporte, principalmente o futebol, é visto com hostilidade entre os ginastas, especialmente por ser uma criação com raízes estrangeiras e por seu forte caráter competitivo, ao longo das primeiras décadas do século XX ele vai se consolidando como mais uma prática entre as oferecidas pelas sociedades ginásticas, de forma que a partir da década de 1920, já é parte do cotidiano dessas instituições. Neste sentido, nas sociedades teuto-brasileiras, o esporte passa a ser reconhecido como uma importante ferramenta educativa, mas sempre subordinada ao Turnen e, principalmente, desde que praticado de acordo com o “espírito jahniano”, ou seja, como mais uma forma de treinamento físico e de divertimento saudável, promovendo valores como espírito de camaradagem, disciplina e submissão ao bem comum, e cuidando-se para que promovesse um desenvolvimento completo e harmonioso do corpo, não como uma prática especializada e cujo objetivo último fosse a vitória.

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TURNERSCHAFT von1890. Monatliche Rundschau, ano 3, n. 12, 1937. [ Links ]

1A noção de teuto-brasileiro é muito comum nas regiões de colonização alemã do sul e sudeste do Brasil e expressa um duplo pertencimento: cultural à Alemanha e político ao Brasil. Essa “identidade hifenizada”, como identifica Lesser (2001; 2015), resulta das noções de nação e nacionalidade que circulavam nessas comunidades, cujas origens remontam ao romantismo e ao nacionalismo alemães do início do século XIX, e se vinculam com a ideia de germanidade (Deutschtum), que representaria uma noção que valorizava tanto aspectos hereditários como culturais germânicos. Sobre as noções de teuto-brasileiro e germanidade, ver: Seyferth (1982; 1993; 1996; 2003; 2004); Quitzau (2016).

2Até o presente momento não foram encontrados estudos sobre o associativismo ginástico teuto-argentino. Por outro lado, as associações ginásticas fundadas por alemães no Chile foram objeto de investigação de Temme (2000). Os alemães que imigraram para o continente americano também desenvolveram uma intensa rede associativa nos Estados Unidos desde meados do século XIX, como mostram os estudos de Hofmann (2000; 2001; 2002; 2008; 2009; 2015).

3As bibliotecas podem ser consideradas como um dos exemplos do esforço das sociedades ginásticas teuto-brasileiras no sentido de preservar a língua e a cultura alemã no Brasil. Eram comuns às sociedades ginásticas e contavam com acervos bastante variados e, em muitos casos, bastante amplos. Em São Paulo, por exemplo, a biblioteca da Turnerschaft von 1890 foi inaugurada em 1902 (TURNERSCHAFT VON 1890 IN SÃO PAULO, 1903) e no ano de 1929 contabilizava um total de 1846 empréstimos anuais de seu variado acervo, que contava com periódicos como Die Woche, Berliner Illustrierte Zeitung, Deutsche Turnzeitung, e Deutscher Sport in Südamerika (QUITZAU, 2011). No Rio de Janeiro, o acervo da Deutscher Turn- und Sportverein contava, em 1920, com 2.000 volumes entre livros e periódicos em língua alemã. Há registros também de bibliotecas com importantes acervos em sociedades como a Leopoldenser Turnverein, Teuto-Brasilianischer Turnverein Curytiba e Turnerbund Porto Alegre (QUITZAU, 2016).

4No caso da cidade de São Paulo, os registros indicam que, no início do século XX, um de seus instrutores de ginástica, Otto Beust, trabalhava também como professor de ginástica em escolas públicas da cidade. Conforme relatório do clube referente ao ano de 1902, Beust chegou a publicar um artigo intitulado “O valor pedagogico da gymnastica e sua applicação” na “Revista Educação” (TURNERSCHAFT VON 1890 IN SÃO PAULO, 1903). Dois anos depois, em relatório de atividades referente a 1904, o clube afirma que Beust se afastou de suas tarefas como professor de ginástica tanto no clube como nas escolas paulistas, para assumir uma tipografia local (TURNERSCHAFT VON 1890IN SÃO PAULO, 1905)

5O Deutsche Turnzeitung foi um jornal criado em 1856, na Alemanha, e que na década de 1860 foi adotado com órgão oficial da Deutsche Turnerschaft. Foi um importante veículo de difusão e discussão do Turnen na Alemanha (KRÜGER, 1996), mas também para além de suas fronteiras, havendo indícios de sua circulação, por exemplo, entre as sociedades ginásticas teuto-brasileiras (QUITZAU, 2016).

6Entidade suprarregional alemã responsável por congregar as sociedades ginásticas existentes no país e fundadas por imigrantes no exterior.

7Ainda que os festivais de ginástica se configurassem como torneios, em que indivíduos e grupos disputavam entre si, a forma de pontuação nestes eventos era muito distinta da forma de pontuação esportiva: enquanto nas premiações esportivas a premiação é apenas para, no máximo, os três melhores colocados, num torneio de ginástica premiava-se todos aqueles que atingissem uma pontuação mínima estabelecida pelo regulamento, o que permitia que uma grande quantidade de participantes fossem reconhecida como “vencedores” de um torneio (QUITZAU, 2016).

Recebido: 30 de Novembro de 2018; Aceito: 17 de Abril de 2019

Contato: Centro Universitario Paysandú, Florida 1065, 60000 Paysandú, Uruguay

EVELISE A. QUITZAU - Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora do curso de licenciatura e do Programa de Mestrado em Educação Física do Instituto Superior de Educación Física, Universidad de la República (ISEF/Udelar), Uruguai. Email:<equitzau@cup.edu.uy>.

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