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Educação em Revista

versión impresa ISSN 0102-4698versión On-line ISSN 1982-6621

Educ. rev. vol.37  Belo Horizonte  2021  Epub 12-Oct-2021

https://doi.org/10.1590/0102-469824999 

Artigos

À BEIRA DO CAIS: UM DIVULGADOR DAS IDEIAS DE ÉDOUARD CLAPARÈDE EM MINAS GERAIS

AL BORDE DEL MUELLE: UN DIVULGADOR DE LAS IDEAS DE ÉDOUARD CLAPARÈDE EN MINAS GERAIS

DAISE SILVA DOS SANTOS1 
http://orcid.org/0000-0003-0208-5186

ANA CHRYSTINA MIGNOT2 
http://orcid.org/0000-0001-8944-2021

SELMA BARBOZA PERDOMO3 
http://orcid.org/0000-0001-9670-742X

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. <daisesilva90@hotmail.com.br>.

2Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. <acmignot@terra.com.br>.

3Professora na Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas(UEA). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação. Manaus, AM, Brasil. <sperdomo@uea.edu.br>.


RESUMO:

Tomando como ponto de partida a notícia da viagem de Édouard Claparède ao Brasil, em 1930, quando foi recepcionado por autoridades, ex-alunos e professores no porto do Rio de Janeiro, mapeamos inicialmente seus discípulos e nos detivemos no educador mineiro Francisco Lins, que ficaria esquecido na historiografia da educação. Radicado em Juiz de Fora, integrou a primeira turma do Institut Jean-Jacques Rousseau, em 1912, que à época tinha em seus quadros os professores Adolphe Ferrière, Pierre Bovet, Paul Godin, François Naville e Jules Bois. Estabeleceu contato com o educador suíço em sua primeira viagem à Europa, comissionado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, com o intuito de organizar e dirigir a representação desse estado na Exposição Internacional de Turim, em 1911. Nessa ocasião, recebeu ainda, do Secretário do Interior de Minas Gerais, a incumbência de estudar os institutos de ensino primários e profissionais da Itália, Bélgica, Suíça, França e Alemanha. Retornou ainda a Genebra, pouco antes da vinda de Édouard Claparède a nosso país. Ao regressar de sua primeira viagem de estudos, escreveu sobre educação em jornais, assumiu a reitoria do Ginásio Mineiro de Barbacena, lecionou na Escola Normal Oficial de Juiz de Fora e, em 1927, trabalhou na organização do I Congresso de Instrução Primária em Minas Gerais, quando apresentou teses. A análise da trajetória de Francisco Lins tem como horizonte ampliar a interpretação sobre o intercâmbio de ideias pedagógicas entre a Suíça e o Brasil, intercâmbio este que inspirou importantes iniciativas na educação mineira.

Palavras-chave: Francisco Lins; Édouard Claparède; Institut Jean-Jacques Rousseau; viagem

RESUMEN:

A partir de la noticia del viaje de Édouard Claparède a Brasil, en 1930, cuando fue recibido por autoridades, exalumnos y profesores en el puerto de Rio de Janeiro, mapeamos al principio sus discípulos y nos detenemos en el educador de Minas Gerais Francisco Lins, que sería olvidado en la historiografía de la educación. Radicado en Juiz de Fora, integró la primera clase del Institut Jean-Jacques Rousseau, en 1912, que en la época tenía en su plantel los profesores Adolphe Ferrière, Pierre Bovet, Paul Godin, François Naville, Jules Bois, entre otros. Estableció contacto con el educador suizo en su primer viaje a Europa, encargado por la Secretaría de Agricultura de Minas Gerais con el propósito de organizar y dirigir la representación de ese estado en la Exposición Internacional de Turín, en 1911, cuando ha recibido, aun, del Secretario del Interior de Minas Gerais la incumbencia de estudiar los institutos de enseñanza de Italia, Bélgica, Suiza, Francia y Alemania. Regresó aun a Ginebra, poco antes del viaje del suizo a nuestro país. Al regresar de su primer viaje de estudios, escribió sobre educación en periódicos, asumió el decanato del Ginásio Mineiro de Barbacena, enseñó en la Escola Normal de Juiz de Fora y, en 1927, trabajó en la organización del I Congreso de Instrucción Primaria en Minas Gerais, cuando presentó algunas tesis. El análisis de la trayectoria de Francisco Lins tiene como horizonte ampliar la interpretación sobre el intercambio de ideas pedagógicas entre Suiza y Brasil que incentivó importantes iniciativas en la educación de Minas Gerais.

Palabras clave: Francisco Lins; Édouard Claparède; Institut Jean-Jacques Rousseau; viaje

ABSTRACT:

Taking as a starting point the news of Édouard Claparède's trip to Brazil in 1930, when he was welcomed by authorities, former students and teachers in the port of Rio de Janeiro, we initially mapped his disciples and focused on the educator Francisco Lins, from Minas Gerais, who would be forgotten in the historiography of education. Living in Juiz de Fora, he was part of the first class of the Institut Jean-Jacques Rousseau (Jean-Jacques Rousseau Institute), in 1912, which, at the time, had as members the professors Adolphe Ferrière, Pierre Bovet, Paul Godin, François Naville, and Jules Bois. He established contact with the Swiss educator in his first trip to Europe, commissioned by the Secretary of Agriculture of Minas Gerais, in order to organize and direct the representation of this state in the International Exhibition of Turin, in 1911. On this occasion, he also received from the Secretary of the Interior of Minas Gerais, the task of studying the primary and professional education institutes in Italy, Belgium, Switzerland, France and Germany. He also returned to Geneva, shortly before Édouard Claparède came to our country. On his return from his first study trip, he wrote about education in newspapers, took over the rectorship of the Mineiro Gymnasium in Barbacena, taught at the Official Normal School in Juiz de Fora and, in 1927, worked on organizing the I Congress of Primary Instruction in Minas Gerais, when he presented theses. The analysis of the trajectory of Francisco Lins aims to broaden the interpretation of the exchange of pedagogical ideas between Switzerland and Brazil, an exchange which inspired important initiatives in education in Minas Gerais.

Keywords: Francisco Lins; Édouard Claparède; Institut Jean-Jacques Rousseau; travel

INTRODUÇÃO

Convencido pelas boas notícias que recebia de seus antigos discípulos e amigos acerca das reformas educacionais em andamento no país no qual residiam, o educador suíço Édouard Claparède partiu em direção ao Novo Mundo a fim de conhecer os métodos e os modos concernentes ao assunto que vinham sendo empregados em terras brasileiras. Além disso, aproveitaria para visitar os amigos que viviam no Brasil, com quem mantinha permanente contato. A oportunidade tão aguardada surgiu por meio do convite da Associação Brasileira de Educação (ABE), em 1930, formulado por carta de Gustavo Lessa e telegrama de Ernani Lopes, ambos médicos, encaminhados por Helena Antipoff, que acabara de chegar da Europa para atuar em Belo Horizonte.4 Depois de recusar um convite formulado, em 1921, pelo governo brasileiro para trabalhar no País, finalmente Édouard Claparède atendeu aos argumentos dessa sua antiga aluna e colaboradora do Institut Jean-Jacques Rousseau (IJJR), que se estabelecera na capital mineira em 1929 e se engajara nas atividades da Escola de Aperfeiçoamento, criada por Mario Casassanta, durante a reforma da educação. Tal instituição inspirava-se no instituto suíço para formar as futuras professoras que “aprendiam os princípios da educação nova, com o espírito das ciências da educação e com o objetivo de tornarem-se inspetoras, diretoras, professoras de Psicologia escolar e funcionárias da administração superior das escolas de Minas” (RUCHAT, 2008, p. 193-194). Helena Antipoff, em carta, dirigiu-lhe palavras de incentivo para que viajasse ao Brasil, dizendo-lhe que estava certa de ser ele o mais importante educador estrangeiro referenciado no País.

Essa notoriedade é confirmada por Antipoff em sua chegada à terra brasileira, fato que ela registra várias vezes e retoma antes de sua viagem, como uma forma de incentivá-lo a vir, assinalando como ele era conhecido no Brasil. Os termos que ela utiliza são fortes: “o grande e o mais puro apóstolo da Educação Nova e maior autoridade em matéria de psicologia”, “o grande Deus da educação nova e seu grande inspirador”, “o nome de Claparède é canonizado aqui, se ouso me exprimir assim. Você não encontrará um só volume de pedagogia ou de psicologia que não se refira a você como o mais competente dos cientistas nesta matéria”, e, ainda, “Claparède, como já tenho escrito, é o nome mais admirado aqui entre os pedagogos” (RUCHAT, 2008, p. 193).

Até a chegada de Édouard Claparède, era impossível localizar um único volume de Pedagogia ou Psicologia que não fizesse alusão à sua obra; contudo, apenas um livro de sua autoria havia sido publicado no Brasil - A escola e a psychologia experimental, isto em 1928. Traduzido e prefaciado por Lourenço Filho, integrava a Coleção Biblioteca de Educação da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Emerson Silva (2013) observa que, apesar de haver referências aos estudos de Psicologia Experimental de Binet e Simon em periódicos preservados em bibliotecas escolares de São Paulo, antes da edição brasileira,

A escola e a psychologia experimental (...) não havia sido publicado em formato de livro. O texto tem como origem, não em livro, mas como relatório para o Anuário da Instrução Pública Suíça: “L’École et la psychologie expérimentale”, Annuaire de l’Instruction publique en Suisse, 1916, pp. 71-130.

No Brasil o livro é indicado aos professores, primários e secundários, normalistas, estudantes e pais. É o segundo número da coleção Biblioteca da Educação, organizada pelo professor Lourenço Filho, que teve o livro Psychologia experimental de Henry Piéron como primeiro número (SILVA, 2013).

A vinda de Claparède ao Brasil gerou grande expectativa, alimentada pelos jornais desde os dias anteriores.5 A imprensa noticiou sua chegada, seguida por trechos de uma rápida entrevista realizada momentos antes de o navio atracar, quando ele falou aos jornalistas sobre os amigos residentes no Brasil, referindo-se, dentre eles, ao polonês Waclaw Radecki e ao mineiro Francisco Lins, bem como fazendo alusão às conferências que pretendia ministrar no período da viagem:

-- Há muito alimento, o desejo de visitar o Brasil de que tantas e tão boas noticias me vão ter ás mãos, enviadas que são por antigos discípulos que aqui residem. Tive sempre esperanças de realizar essa viagem, não o fazendo, há mais tempo, em virtude dos affazeres incontáveis que me impossibilitaram de deizar a Suissa. Quando, porém, se me apresentou opportunidade, não vacillei em aceitar o convite que me foi feito por carta dirigida pelo Sr. Gustavo Lessa. E parti incontinentemente para cá, onde afinal chego cheio de satisfação.

Falou-nos após o grande professor dos seus antigos discípulos hoje residentes no Brasil. Referiu-se a Radecky, polonez de origem mas brasileiro natualizado, mme. Antipoff, Francisco Seis [provavelmente Lins] e outros, elogiando-os pela applicação que sempre demonstraram e pelo talento revelado. Espera agora vel-os todos e abraçal-os com saudade (UM EMINENTE..., O Jornal, 14 set. 1930, p. 1).

Certamente, realizar a visita ao Rio de Janeiro, em 1930, fazia parte de uma estratégia maior do Institut Jean-Jacques Rousseau de se consagrar como centro de referência internacional. Esta seria uma das muitas viagens que os educadores ali reunidos fariam pelo mundo para disseminar o ideário escolanovista. Além de cursos ministrados, publicavam livros e revistas e promoviam congressos e palestras em diversos países com a finalidade de divulgar as pesquisas que realizavam sobre a infância e as inovações pedagógicas.

Para que possamos dimensionar a importância atribuída às viagens realizadas, destacamos, na autobiografia de Claparède, publicada em 1959, que ele assinala ter participado de congressos em vários países como Áustria, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. Em 1928, inclusive, visitou o Egito, ocasião na qual,

com a colaboração de Mlle Bieneman, antiga aluna do Instituto Rousseau, empreendi amplo questionário, empregando diversos testes acerca do desenvolvimento mental dos escolares egípcios. A necessidade de descobrir soluções práticas mostrou-me mais imperiosamente do que nunca, como se faz sentir a urgência de uma ciência da criança e de uma pedagogia experimental, sobre as quais nos possamos apoiar (CLAPARÈDE, 1959, p. 46).

Receber Édouard Claparède também fazia parte das estratégias de articulação do movimento de renovação educacional da Associação Brasileira de Educação (ABE). Esta se empenhava, também, em promover conferências com educadores de outros países, divulgar notícias de eventos, publicações e viagens de educadores ao exterior. Em seu Boletim, especialmente na seção “Associação Brasileira de Educação no Estrangeiro”, conforme assinala Burlamaqui (2013), a ABE divulgou matérias sobre as atividades do Bureau International d’Education, o que dava visibilidade ao esforço dos educadores europeus de construir no Entreguerras “um entendimento internacional e promover os interesses da paz no mundo” (LÁZARO LORENZE, 2016, p. 38).

A visita de Édouard Claparède a Minas Gerais também vinha revestida de significados. Resultava de um esforço do governo em trazer educadores estrangeiros para atuarem no projeto de educação que pretendiam implantar e que implicou mudanças em escolas e na formação de professores. Helena Antipoff, inclusive, não era a primeira nem a única ex-aluna do IJJR a trabalhar na Escola de Aperfeiçoamento. Antes dela, ali esteve Léon Walther, psicólogo russo a quem substituiu. Com ela veio também Louise Artus, autora de várias obras sobre a pedagogia do desenho (RUCHAT, 2008) e colaboradora que permaneceu em Belo Horizonte até 1932.

Se as viagens do Brasil para a Suíça em fins da década de 1920 e início da década de 1930 permitem dimensionar a importância do Institut Jean-Jacques Rousseau (IJJR) na produção de modelos pedagógicos que buscavam romper com as tradicionais práticas educacionais, bem como o fato de os educadores brasileiros terem lançado mão das viagens de estudos para conferir legitimidade às mudanças que acreditavam serem necessárias na educação brasileira, o percurso inverso, realizado por educadores suíços, possibilita compreendê-las como um modo de se consagrarem as ideias dos educadores e o próprio instituto como centro de referência internacional.

A Suíça convertera-se, desde o fim da Grande Guerra e graças à aposta feita em favor do pacifismo e da neutralidade, em centro nevrálgico de tais ideias, o que permitiu a criação de várias organizações internacionais. No caso da educação, a fundação da Sociedade das Nações, em 1919, possibilitou impulsionar o Institut Jean-Jacques Rousseau, que se beneficiou da sua estrutura intergovernamental, transformando-se em “um lugar de peregrinação para profissionais da educação de toda a Europa”, como lembra Moreau (2016, p. 57). Seus idealizadores deslocaram-se para diversos países para estreitar laços, estabelecer intercâmbios, divulgar experiências e articular novos contatos, tornando-se, como lembra Jean Houssaye, “grandes viajantes, fisicamente, intelectualmente e coletivamente” (2007, p. 298).

Quando, enfim, o navio atracou no porto do Rio de Janeiro, lugar de destino no qual Claparède se encontrou com aqueles que, apesar da avançada hora, aguardavam seu desembarque, lá estavam representantes da ABE e alguns dos discípulos que há muito tempo esperavam por aquele momento. Segundo Ruchat,

A chegada de Claparède ao Rio de Janeiro no ‘Conte Rosso’ que saíra de Gênova em 2 de setembro de 1930 é um acontecimento. Todos os amigos o esperavam no porto. Lá estava Francisco Lins, Laura Jacobina Lacombe, Ernani Lopes, médico, psiquiatra e presidente da Liga Brasileira de Higiene Mental (fundada em 1923). Lá também estavam Magalhães, um dos cirurgiões mais concorridos do Rio de Janeiro, presidente da ABE, Waclaw Radecki (1887-1953), polonês, assistente de Claparède em Genebra, onde realizou doutoramento. (RUCHAT, 2008, p. 195).

Debruçamo-nos sobre um dos seus ex-alunos que o aguardavam no cais do porto - Francisco Lins -, tendo como horizonte ampliar a interpretação a respeito do intercâmbio de ideias pedagógicas entre a Suíça e o Brasil, que inspirou importantes iniciativas introduzidas na educação mineira. Diante das dificuldades de lidar com fontes escassas e dispersas em diferentes instituições de guarda - Academia Mineira de Letras (AML), Arquivo Municipal de Genebra, Arquivo do Institut Jean-Jacques Rousseu, Centro de Documentação & Pesquisa Helena Antipoff, Biblioteca da Assembleia Legislativa de Minas Gerais - e tratar de um sujeito pouco referido pela historiografia da educação, elegemos trabalhar sob uma perspectiva biográfica, considerando-o como um intelectual mediador, conforme a acepção de Gomes e Hansen (2016), pela qual o entendemos como intelectual, apesar de algumas de suas atividades, por vezes, não serem reconhecidas como próprias desse grupo, como nas práticas de mediação cultural (GOMES; HANSEN, 2016).

Assim, consideramos Francisco Lins como intelectual, independente de sua atuação de “criação” ou “mediação”, posições estas que não são fixas (GOMES; HANSEN, 2016). Levando-se em conta também o alerta de Bourdieu (2006) quanto à ilusão biográfica, que consiste em ver a vida como relato coerente, com sentido e direção, compreendemos os limites deste trabalho e a impossibilidade de reconstruir todos os aspectos da vida do sujeito investigado. Para tanto, lançamos mão de cartas, crônicas, artigos, matérias em jornais, programas de ensino e lista de alunos do Institut Jean-Jacques Rousseau. Por vezes, fez-se necessário ler a correspondência trocada entre outros educadores para seguirmos pistas nelas deixadas. Tais movimentos que atravessam nossa operação historiográfica permitem vislumbrar um particular modo de apropriação do ideário escolanovista que circulava nos meios educacionais.

OS DISCÍPULOS DO INSTITUT JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Dentre os antigos alunos de Édouard Claparède, em Genebra, que o esperavam no porto do Rio de Janeiro, Laura Jacobina Lacombe era aquela que o conhecera mais tarde, pois viajara à Europa, pela primeira de muitas vezes, apenas em 1925. Quando ela partiu, o trabalho desenvolvido na Suíça já havia se constituído em um centro impulsionador das reformas educacionais que se pretendia realizar mundo afora. Waclaw Radecki, no entanto, concluíra seu doutorado em 1911, e Francisco Lins estudara no Institut Jean-Jacques Rousseau em 1912, na primeira turma composta, dentre outros, pela russa Helena Antipoff.

Laura Jacobina Lacombe, depois de estudar no Institut Jean-Jacques Rousseau, em 1925, onde conviveu com Pierre Bovet, Édouard Claparède, Adolphe Ferrière e Jean Piaget, nunca mais deixaria de realizar viagens mundo afora para ouvir e falar sobre educação, na medida em que, desde essa época, passou a participar de eventos de educação no exterior, como representante da ABE, da Associação dos Professores Católicos do Distrito Federal e da Organização Mundial de Educação Pré-escolar (OMEP).

Em 1930, quando recebe o educador suíço, já havia sido representante da ABE no IV Congrès International d’ Education Nouvelle, realizado em Locarno (MIGNOT; PIRES, 2019); já participara da comissão de educadores da associação coordenada por Delgado de Carvalho aos Estados Unidos, em 1929, em especial ao Teachers College da Universidade de Columbia, integrada, segundo Cardoso (2015), por Carolina Coelho do Rego Rangel, Noemy da Silveira Rudolfer e Eunice Caldas, de São Paulo, e por Consuelo Pinheiro, Otávio B. Couto e Silva, Décio Lyra da Silva, Othon Henry Leonardos, Julieta Arruda e Maria dos Reis Campos, do Rio de Janeiro.

Laura Jacobina Lacombe, em discurso proferido por ocasião da sessão comemorativa do centenário de nascimento de Édouard Claparède, promovida pela Associação Brasileira de Educação, reaviva, entre os presentes, a importância que desempenhara na interlocução da ABE com o Institut Jean-Jacques Rousseau e que lhe permitira, posteriormente, no âmbito do movimento de educadores católicos, difundir “a sua versão da nova pedagogia”, por intermédio de congressos, cursos, conferências, boletins e revistas. Na oportunidade, ela ressalta que, no momento em que Claparède decidiu vir ao Brasil, não poderia supor a possibilidade de encontrar o País em meio a uma forte agitação política que o prenderia aqui por mais de 50 dias:

Não podemos esquecer alguns detalhes da visita que o Prof. Claparède havia feito ao Brasil: ficara retido em Belo Horizonte quando estourou a revolução de 1930. Durante alguns dias sentiu-se angustiado por ter sido interrompida toda e qualquer comunicação com o resto do Brasil e do mundo. Contando-nos essa situação, exclamou:

Et ces braves ‘mineires’ ne s’en souciaient même pas. (LACOMBE, 1973, n.p).

Quando Claparède narrou sua experiência de viagem ao Brasil, publicada no L’Intermédiaire des Educateurs em 1931, de fato, a duração prolongada de sua permanência aqui ganhou destaque, pois afirmou que, de início, pretendia passar apenas quatro semanas no País, prazo ampliado pela eclosão da Revolução. Antes do acontecimento, o educador suíço estivera em visita ao Rio de Janeiro, onde conhecera escolas inspiradas nos métodos da escola ativa. Entre elas, mereceu destaque em sua narrativa a escola fundada pela família Lacombe e dirigida naquele momento por Laura Lacombe e sua mãe, conforme podemos constatar:

Como uma escola mais particularmente inspirada por novos métodos, devemos mencionar a linda escola particular, fundado em 1902 pela família Lacombe e hoje administrado pela Srta. Laure (sic) Lacombe e sua mãe, que inclui alunos de todas as idades. Sentimos que a felicidade reina ali (CLAPARÈDE, 1931, p. 114-115).

O suíço escreveu também sobre os trabalhos desenvolvidos por Ernani Lopes e Waclaw Radecki, respectivamente, na Liga Brasileira de Higiene Mental e no Laboratório de Psicologia da Colônia dos Psicopatas:

Quanto à psicologia experimental, possui um simpático labirinto na sede da Liga Brasileira de Higiene Mental, presidida com distinção pelo Dr. Ernani Lopes. O Dr. Radecki também montou um lindo laboratório de psicologia em uma colônia de psicopatas, no interior, um pouco distante do Rio (CLAPARÈDE, 1931, p. 115).

No que se refere aos vínculos acadêmicos entre Claparède e Waclaw Radecki, que também o aguardava à beira do cais do Rio de Janeiro, após seu período de formação em Genebra - quando concluiu seu doutorado com a tese Recherches experimentales sur les phénomènes psychoélectriques -, tem-se o registro de ao menos dois encontros entre eles. Em 1928, Radecki, radicado no Rio de Janeiro desde 1924, a convite de Manoel Bonfim, chefiou uma viagem à Europa com vistas a estudos psicológicos, com o objetivo de obter orientação quanto à ciência da época, aprofundar noções técnicas relativas à montagem de laboratório, conhecer a organização didática dos estudos de psicologia e adquirir informações sobre suas aplicações a instituições visitadas (PENNA, 1992). Participaram da excussão Flávio Dias, Artur Fajardo da Silveira, Antonio Moniz de Aragão e Nilton Campos, quando visitaram os Institutos e Laboratórios de Psicologia das Universidades de Paris, Bruxelas, Lovaina, Colônia, Bonn, Berlim, Varsóvia, Cracóvia, Viena, Munique e Genebra.

Em relatório de viagem,6 Nilton Campos afirma que a passagem por Genebra foi rápida, o que não permitiu tecer considerações sobre a psicologia em toda a Suíça, mas apresenta uma descrição sobre essa ciência ali difundida, na qual trata do trabalho desenvolvido por Claparède. Na ocasião da viagem, acontecia na Suíça o IV Congrès International d’ Education Nouvelle, em Locarno. Campos afirma que, embora não tenham tomado parte, tal ocasião lhes permitiu conversarem com diversos congressistas após o encerramento do evento, entre os quais destaca Bovet. Não há referências, todavia, a um possível encontro com Claparède.

Dezoito anos após sua saída da Faculdade de Ciências de Genebra e dois anos após visitar o Institut Jean-Jacques Rousseau, Radecki teve, finalmente, a oportunidade de receber Claparède em seu laboratório na Colônia dos Psicopatas, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Segundo Centofanti (1982): “Nesse mesmo 1930, de modo providencial para os planos de Radecki, o laboratório tem a oportunidade de anfitriar duas grandes personagens da psicologia europeia: Claparède e Kohler” (CENTOFANTI, 1982, p. 17).

Após sua passagem pelo Rio de Janeiro, Claparède seguiu para Minas Gerais, onde conheceu a Escola de Aperfeiçoamento fundada em Belo Horizonte, primeira experiência brasileira de ensino superior na área da educação e que atribuía uma ênfase especial à psicologia, inspiradora dos novos métodos educativos (CAMPOS, 2003). Este projeto ganhou destaque na narrativa de viagem do educador suíço, que fez menção à presença de educadores estrangeiros e professoras que estudaram nos Estados Unidos, conhecedores dos novos métodos difundidos pela Escola Nova no mundo, no desenvolvimento dessa proposta:

Foi para estabelecer as fundações dessa escola que o Dr. Simon, de Paris, nosso colega Léon Walther já havia viajado ao Brasil por alguns meses, e que a Sra. Artus e a Sra. Antipoff foram convocadas por um período mais longo [...] Como professores, além de três jovens brasileiras se formaram no Teachers College de Nova York, Sra. Antipoff e Sra. Artus (de Genebra) [...] (CLAPARÈDE, 1931, p. 115-116).

O destaque a esses educadores com formação estrangeira, na narrativa de viagem de Claparède, está relacionado aos interesses de intercâmbio de estudos e pesquisas educacionais e à promoção da Escola Nova. Dentre eles, o nome de maior destaque na instituição seria o de Helena Antipoff, que veio ao Brasil em 1929, a convite do governo do estado de Minas Gerais, por ocasião da implantação da Reforma Francisco Campos, uma das mais importantes iniciativas brasileiras de apropriação do movimento da Escola Nova. Esta reforma intentou a criação de uma Escola de Aperfeiçoamento de Professores, para formar justamente aqueles que iriam atuar na rede de escolas primárias que estava sendo ampliada (CAMPOS, 2003). Antipoff frequentou o Institut Jean-Jacques Rousseau entre 1912 e 1916, no qual obteve diploma de psicóloga especializada em Psicologia da Educação. Havia sido assistente de Édouard Claparède no IJJR e, quando convidada por Casassanta para ser professora e implantar o Laboratório de Psicologia na citada escola, iniciou estudos e pesquisa em Psicologia da Educação no âmbito da Reforma, assumindo a liderança no tocante aos assuntos educacionais enquanto esteve na coordenação do laboratório.

Conforme já mencionado, Antipoff fora aluna da primeira turma do Institut Jean-Jacques Rousseau, instituição fundada por Édouard Claparède em 1912, dirigido por Pierre Bovet e que contava na sua equipe com outros grandes educadores como Adolphe Ferrière, Paul Godin, François Naville, Jules Bois, Alice Descoeudres e Mina Audemars. Para este grupo, a pedagogia deveria ser aperfeiçoada como ciência e em conjunto com outros campos do conhecimento, tais como psicologia, sociologia, medicina, biologia, história e filosofia, com o propósito de proporcionar uma formação de professores mais científica, pautada principalmente nas duas primeiras áreas mencionadas. Pretendia-se que o instituto fosse uma escola, além de um centro de pesquisa, de informações e de propaganda para o movimento reformador da Escola Nova.

Os estudantes dos primeiros anos, conforme observa Ruchat (2008), em sua maioria, estavam envolvidos com a divulgação de princípios e práticas escolanovistas. Em notas, a autora destaca o empenho de alguns deles em fazer circular as novas ideias ali produzidas. Além de Helena Antipoff, que se instalou em Belo Horizonte, mereceram menção: o brasileiro Francisco Lins, o espanhol Pablo Vila, a suíça Marguerite Gagnebin, a francesa Jeanne Evrard, a inglesa Agnès Francklyn, o português Antonio Sergio de Souza e o suíço Camillo Bariffi.

Jornod (1995) apresenta um estudo que traz informações da instituição nos quatro primeiros anos. Com base nos documentos dos Arquivos do IJJR, este estudo aponta, quantitativamente, a composição das turmas quanto à nacionalidade, ao sexo, à faixa etária e à religião, por exemplo. Além dos 22 matriculados regularmente no semestre de inverno, que teve início em 21 de outubro de 1912 e terminou em 20 de março de 1913, havia, na turma composta, mais dez alunos inscritos como ouvintes: Hélène Antipoff, Kathe Behrend, H.J.F.W. Brugmans, Joséphine Ciecierska, Demosthènes Depos, Myrriam Liberson, Gabrielle de Madre, Jacob Santos, Ottilie Schaumburg e Gabrielle Wilgot. Dos 32 inscritos no curso, entre alunos regulares e ouvintes, o único da América do Sul era um brasileiro, entre as 14 nacionalidades representadas naquele primeiro semestre. Este brasileiro era Francisco Lins, que, entre os anos de 1912 e 1915, integrou a primeira turma do Institut Jean-Jacques Rousseau,7 como se pode verificar na lista de alunos.8

Embora não existam indícios suficientes da relação de Helena Antipoff com Francisco Lins, acreditamos terem tido pelo menos algum contato após concluírem seu curso na Suíça, uma vez que o brasileiro foi assunto em algumas das cartas trocadas entre a russa e Claparède. Em uma delas, em 1930, ao ser informada pelo mestre suíço de que o brasileiro retornaria à Europa, Antipoff lamentou: “A carta de Lins chegou até mim por negligencia, tarde demais. Diga a ele minha decepção. Eu fui a Juiz de Fora, sua cidade, mas ele já tinha ido embora”.9 A referida carta não foi encontrada, tampouco outras que tenham sido enviadas ou recebidas por Francisco Lins. Contudo, a relação dos dois fica evidente no interesse de Antipoff pela ida do brasileiro: “Não sei se escrevi que estou esperando por Daniel aqui no mês de julho. Você sabe quando os Lins estão planejando voltar ao Brasil? Se é julho, vou pedir-lhes para cuidar de Daniel”.10 Como é possível notar, a educadora demonstra uma relação de confiança e intimidade a ponto de pedir que Francisco Lins acompanhe o filho na viagem ao Brasil - provavelmente, uma relação que deriva de antigo laço de amizade, iniciado no tempo em que estudaram na mesma turma do Institut Jean-Jacques Rousseau.

UM DISCÍPULO DO INSTITUT JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Não por acaso, nas primeiras horas da madrugada de 13 de setembro de 1930, quando aportou na baía de Guanabara o luxuoso transatlântico italiano do qual desembarcava o educador e psicólogo suíço Édouard Claparède, estava à sua espera o antigo aluno brasileiro Francisco Lins.11 Afinal, trazer o mestre suíço ao Brasil era um desejo alimentado há muito tempo por seus antigos alunos e amigos que aqui viviam, dentre os quais estava este intelectual mineiro, que, apesar de ter atuado com destaque na política, nas letras, na imprensa e na educação, ficou esquecido na historiografia da educação brasileira.

De seu envolvimento político na campanha presidencial de Hermes da Fonseca emergiu uma face que se manifestou por diversas vezes em crônicas publicadas na imprensa, reunidas no livro Uma Campanha pro Hermes-Wenceslau (1910). Suas relações políticas foram certamente decisivas para ser designado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais com o intuito de organizar e dirigir a representação do estado na Exposição Internacional de Turim (1911). Preparando-se para partir em viagem à Europa, Lins recebeu ainda outra missão: o Secretário do Interior de Minas Gerais, Delfim Moreira, incumbiu-o de estudar os institutos de ensino primários e profissionais da Itália, Bélgica, Suíça, França e Alemanha. Ciente das obrigações que tinha a cumprir e acompanhado de sua esposa Maria Eugenia Lins, embarcou no navio Halle, em maio de 1911.

Quando embarcou para a Europa, já participava da Academia Mineira de Letras (AML), da qual foi membro fundador e ocupou a cadeira nº. 19. Publicou livros, em sua maioria de poemas: Canções da Aurora (1886), Harpas das Selvas (1887), Versos (1898), Borboletas Negras (1909), Uma Campanha pro Hermes-Wenceslau (1910). Dedicou-se à vida jornalística como redator em jornais de grande circulação - Jornal do Comércio de Juiz de Fora e O Pharol. A publicação de suas poesias, crônicas e traduções permitiu a Francisco Lins fazer nome na imprensa e nas letras, por vezes assinando com diferentes pseudônimos, os quais eram sempre identificados pelas letras iniciais do seu próprio nome, F.L.: Fábio Lourival, Fábio Luz, Fábio Lot, Léo Frank, Lins de França, Frank Lins.

Ter conhecimento desses variados pseudônimos permite-nos atribuir textos a Francisco Lins que antes desconhecíamos serem de sua autoria, como em “Pela renovação de Minas” (Revista do Ensino, nov. de 1927, p. 563-568), assinado com o pseudônimo de Fábio Lourival; em “Reescrevendo a história do ensino Primário: o centenário da lei de 1827 e as reformas Francisco Campos e Fernando Azevedo”, publicado na Revista Educação e Pesquisa, em 2002; e no livro As lentes da história: estudos de história e historiografia da educação no Brasil, em 2005, de Diana Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho, reconhecidos historiadores da educação que utilizaram o artigo “Pela renovação de Minas” sem que soubessem que a autoria era a mesma de “Cem Anos Depois” (Revista do Ensino, out. de 1927, p. 513-514), também citado pelos autores na mesma obra.

A experiência de embarcar para o Velho Mundo marcou definitivamente a trajetória desse intelectual mineiro, tanto que, quando rememorado após sua morte, essa informação se fez presente diversas vezes. Assim também aconteceu nas manifestações de pesar proferidas pela AML e publicadas no jornal Minas Geraes em abril de 1933. Ao se referirem à sua atuação na educação, somente se destaca a seguinte informação: “[...] Distinguiu-se ainda no magistério, sendo por duas vezes enviado a Europa, em comissão do Governo de Minas, a fim de estudar os problemas do ensino. Ultimamente era professor catedrático da Escola Normal Oficial. [...]” (MANIFESTAÇÕES..., Minas Geraes, 22 abr. 1933, p. 5).

Ao embarcar rumo à Europa, Francisco Lins estava incumbido de divulgar, no Brasil, as ideias, modelos e métodos educativos desenvolvidos no exterior. Em viagem à Suíça, acabou ingressando no Instituto fundado por Claparède e Bovet, e, anos mais tarde, o jornal Minas Gerais reconheceu a importância do educador mineiro na introdução dessas ideias no País: “Ao que tudo indica, cabe-lhe a glória de introdutor no Brasil das ideias de Claparède e Bovet, no tocante à educação da infância” (ACADEMIA..., Minas Geraes, 20 ago. 1959, p. 20).

A viagem à Europa durou mais do que o esperado, pois o mineiro ali permaneceu até dezembro de 1917, retornando ao Brasil em meio à Primeira Guerra Mundial. Seu relatório de viagem não foi localizado; contudo, a partir da documentação do IJJR, somos informados de que ele cursou quatro semestres na instituição, entre 1912 e 1915. Não há indícios de que o brasileiro tenha conseguido obter seu diploma de graduado pelo Instituto, mas, sim, de que integrou o período regular do curso.12

Além da realização do antigo sonho de conhecer pessoalmente os países dos quais tinha referências até então apenas pelas leituras, essa primeira viagem marcou sua vida também por conta das relações que adquiriu enquanto viveu no Velho Mundo e que lhe permitiram se aproximar das ideias que circulavam naquele espaço, dentre as quais se destacam, por exemplo, os conhecimentos que obteve sobre psicologia experimental, psicologia da infância, educação moral, organização do ensino, formação do educador e pedagogia dos então chamados anormais - temáticas estas contempladas pela formação dos alunos que frequentaram o Instituto desde a primeira turma13 e que foram tratadas recorrentemente pelo educador mineiro em textos publicados nos jornais, nos anos subsequentes à sua viagem.

No tempo em que esteve estudando em Genebra, Francisco Lins não apenas conheceu o que havia de mais novo quanto às ideias e aos métodos educativos, como também estabeleceu relações com conceituados educadores que lá trabalhavam, como Adolphe Ferrière, Paul Godin, François Naville e Jules Bois. Tal experiência legitimou-o como intelectual capaz de interferir no debate sobre os rumos da educação brasileira e, em particular, da educação mineira, constituindo-se em motivo de orgulho para o estado, conforme transparece em uma de suas crônicas publicadas no jornal Minas Geraes:

Fui alumno desse conceituado estabelecimento desde o dia da sua inauguração, desde a abertura dos seus cursos, em 22 de outubro de 1912. Então me foi dado entrar em relações com Paul Godin, Ferrière, Naville, Jules Bois, também professores eméritos, e outros [...] (INSTITUTO, Minas Geraes, 21 mar. 1930, p. 5).

Muito daquilo que aprendeu no tempo em que esteve na Europa, visitando institutos de diversos países e estudando com renomados educadores, divulgou por meio de textos publicados na imprensa; nesses textos, promoveu a circulação de inovações pedagógicas, sempre com uma posição crítica acerca da realidade nacional e com uma certa desconfiança sobre a importação acrítica de modelos estrangeiros. Em 1924, escreveu dez artigos no periódico O Paiz, tomando por base sua experiência de viagem: “O problema da educação”, “A educação, a instrução e o lixo”, “Escolas infantis”, “Grupos escolares”, “Escolas para anormaes”, “Escolas primárias superiores”, “Escolas normaes”, “Reformas das escolas normaes”, “Um novo gymnasio” e “Uma Faculdade de Sciencias da Educação.”

Em um exercício de comparação, identificou problemas da educação nacional e como semelhantes questões foram resolvidas em outros países. Ao tratar de sua experiência de viagem, o educador opera um trabalho de tradução dos novos modelos pedagógicos que conheceu. Nessa prática de apropriação, atribui novos significados ao visto e ao vivido e elabora um pensamento próprio, sendo, assim, não apenas um mediador, mas um criador de propostas de intervenção (GOMES; HANSEN, 2016, p. 20).

A viagem à Europa para estudar também lhe deu legitimidade para assumir cargos de liderança na educação, como a reitoria do Externato do Ginásio Mineiro de Barbacena, no qual se manteve entre 1919 e 1925. Sobre essa nomeação como reitor da instituição, o Presidente do Estado, Arthur Bernardes, em mensagem ao Congresso Mineiro em 1919, afirmou ser Lins um “conhecido especialista em questões do ensino”.14

O educador publicou textos na Revista do Ensino, por vezes se valendo do pseudônimo Fábio Lourival, com os seguintes títulos: “A educação e a política”, “Cem annos depois”, “Book T. Washington - o educador negro”, “Pela Renovação de Minas: a festa de 15 de outubro”, além de traduzir o texto “Relações da escola com a família”. Em “A educação e a política” (Revista do Ensino, abr. 1927, p. 420), escreveu sobre a relação entre política e educação, afirmando serem dependentes a ponto de acabarem se confundindo. Compreendia que um político deveria priorizar, em seu programa, projetos para a educação do povo: “tem maior importância um progresso novo na educação do povo do que a descoberta de uma mina de ouro. O homem é o primeiro capital e a primeira machina” (p. 420). Para ele, democracia e educação se atrairiam, considerando-se a educação na República como uma necessidade, como única garantia da democracia. A educação seria alicerçada na ciência, objetivando-se a promoção de virtudes democráticas. De acordo com Faria Filho (2010), a primazia da educação sobre as demais questões nacionais, trazida em seu artigo, era recorrente na retórica de cada proposta de reforma no século XX.

Já no texto “Cem anos depois”, publicado por ocasião das comemorações do centenário da promulgação da primeira lei sobre a instrução pública no Brasil independente, que se constituiu em um marco para a educação nacional por oficializar a escolarização primária pública para todos no Brasil, Francisco Lins dizia que o Brasil ainda se encontrava à procura da escola ideal, mesmo após cem anos de escola primária; contudo, em referência às políticas em curso no País, afirmava que “agora, parece criar alma nova...” (CEM..., Revista do Ensino, out. 1927, p. 513-514). Referia-se, aqui, provavelmente, aos planos de renovação educacional promovidos por Francisco Campos e Fernando de Azevedo, divulgados em meio às comemorações do Centenário. Enquanto Francisco Campos promulgava o decreto que reformava o ensino primário, o técnico-profissional e o normal em Minas Gerais, Fernando de Azevedo, apenas uma semana depois, divulgava o anteprojeto da Reforma da Instrução Pública do Distrito Federal. Havia, então, dois projetos que, apesar das aproximações, ao se fundamentarem ora na ideia de “escola moderna” ora na “escola ativa”, se diferenciavam, na medida em que os reformadores mineiros buscavam conciliar sua proposta com a tradição católica, o que exigia um certo distanciamento em relação às perspectivas escolanovistas - desejavam, assim, o novo, mas buscando manter a tradição (VIDAL; FARIA FILHO, 2005).

Francisco Lins compreendia que “Certo é que o progresso, a grandeza das nações depende da organização das suas escolas” (CEM..., Revista do Ensino, out. 1927, p. 513-514), questionando-se sobre o que seriam escolas ideais, considerando que as existentes naquele momento no País deixavam muito a desejar. Segundo ele, os programas eram um caos, desconheciam os métodos modernos e, quando os conheciam, aplicavam-nos mal, por falta de compreensão; e a maioria dos professores, por saírem de escolas normais “pessimamente organizadas”, não tinham o “preparo indispensável” para conscientemente exercerem sua função (CEM..., Revista do Ensino, out. 1927, p. 513-514). Concluía ser necessário dar nova organização ao ensino e haver novos professores. Os argumentos utilizados por Lins, que anunciavam os problemas com os métodos e a formação de professores como forma de promover a reforma, coincidem entre os reformistas, sendo apenas atualizados ao longo do século XX, como aponta Faria Filho (2010):

A centralidade do professor no processo educativo e a consequente responsabilização do mesmo pelo fracasso escolar; a grande importância atribuída ao método na definição do que seja uma escola de qualidade; a desqualificação da experiência do professor e a defesa enfática da necessidade de sua formação; a coincidência entre a reforma e a modernidade o combate à tradição e a afirmação da superioridade do novo e, finalmente, a reforma da escola como pedra de toque para a reforma social são apenas algumas das tópicas continuamente atualizadas nos argumentos reformistas (FARIA FILHO, 2010, p. 22).

O educador apresentava a escola moderna, que afirmava não ser conhecida no Brasil. Além disso, dizia que a educação profissional, naquele momento, teria o objetivo de revelar as aptidões das crianças, concebendo a orientação profissional como um problema nacional. Este foi um assunto tematizado em outros textos, nos quais afirma que “A questão das aptidões tem importancia capital” (CEM..., Revista do Ensino, out. 1927, p. 514).

Em 1927, trabalhou na organização do I Congresso de Instrução Primária em Minas Gerais, evento organizado pelo governo mineiro que buscava definir a situação da instrução pública primária no estado a fim de elaborar as bases para a Reforma do Ensino pretendida pelo Secretário dos Negócios do Interior, Francisco Campos. Na ocasião em que foi designado para compor a comissão organizadora, a Revista do Ensino noticiou que as comissões eram constituídas de professores de ensino primário, secundário e superior, inspetores e outras “pessoas de notória competência na matéria” (CONGRESSO..., Revista do Ensino, out. de 1926, p. 346). Durante o evento, Lins atuou como relator das 4a. e 6a. teses que tratavam da Organização Geral do Ensino. O papel de destaque assumido no Congresso demonstra a posição relevante que ocupava no campo da educação mineira no período de discussão dos projetos de reforma educativa que seriam promovidos a partir daquele ano.

Conforme noticiado pela Revista do Ensino (ago./set. de 1927), ao discutir possíveis falhas na atual organização do ensino primário vigente e os meios de corrigi-las, na 4a tese referente à Organização Geral do Ensino, Francisco Lins relatou as faltas e os defeitos da educação mineira, atribuindo-os à má qualidade do ensino normal do estado e à complicação dos programas de ensino. Concluiu que era preciso reorganizar a escola normal e simplificar os programas do curso primário, sendo necessário que primeiro se ensinasse a ler, escrever e contar, para em seguida se ministrar um curso mais amplo de conhecimentos complementares.

Alinhava-se, assim, com o programa político do Presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos, e do Secretário de Interior, Francisco Campos, que privilegiavam o ensino primário e o normal. A opção pelo primeiro justificava-se pelos benefícios da cidadania, uma vez que o ensino de leitura e escrita era uma condição para o direito ao voto; e o interesse pelo segundo pautava-se na compreensão da formação de professores como fundamental para o êxito da educação primária (PEIXOTO, 2003). Essa preocupação central foi reunida na reforma que incluía documentos de regulamentação e programas de ensino para o ensino primário e para as escolas normais entre 1927 e 1928 (OLIVEIRA, 2000).

Da mesma forma, Lins entendia a reforma do ensino normal em conjunto com a do ensino primário - tanto que se dedicou à temática em alguns de seus artigos, como “Escolas Normaes”, no qual denuncia a situação dessas instituições e afirma a importância da formação dos professores como um ponto central para a reforma da educação pública:

Disse Guizot que “a instrução pública está inteiramente nas escolas normaes, e que se lhe mede o progresso pelo progresso desses institutos”. E disse Julio Ferry que “não há ensino publico sem as escolas normaes”. Se não nos for dado salvar as nossas do naufrágio que as ameaça, que será de nós? (ESCOLAS NORMAES..., O Paiz, 3 dez. 1924, p. 4)

Em “Reformas das escolas normaes” (O Paiz, 19 dez. 1924, p. 4), por sua vez, apontou a necessidade de uma nova organização do ensino no qual deveria predominar o estudo da pedagogia - com base na psicologia da criança - e da moral. Defendia, assim, uma formação de professores pautada nos estudos das ciências da educação e da criança. Para tanto, recorreu aos ensinamentos de seu grande mestre: “a pedagogia - escreve Eduardo Claparède - deve repousar sobre o conhecimento da criança, como a horticultura repousa sobre o conhecimento das plantas, é uma verdade elementar” (REFORMAS..., O Paiz, 19 dez. 1924, p. 4). O educador demonstra, assim, considerar que as reformas no ensino normal deveriam se basear nas ideias proporcionadas pelo movimento da Escola Nova e difundidas no Institut Jean-Jacques Rousseau:

A determinação das qualidades exigidas no educador decorre da psycologia da criança, devendo em torno desta girar todo o estudo nas escolas normaes.

[...]

Então, o espirito scientifico moderno deveria animar todo o curso, nelle ocupando larga parte a psycologia experimental. A cada estabelecimento se anexaria uma escola de applicação de experimentação. Os novos methodos de ensino, seriamente, seriam estudados, assim como as questões concernentes ao desenvolvimento physico da criança, à hygiene, à organização, à inspecção escolar, etc. (REFORMAS..., O Paiz, 19 dez. 1924, p. 4)

Em meio a um contexto de efervescência de ideias, a Reforma de Francisco Campos é executada. Entre as medidas promovidas a partir dessa reforma, destacamos a criação da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora, pelo Decreto n.º 8.245 de 18 de fevereiro de 1928 (OLIVEIRA, 2000). O corpo docente da instituição, quando foi inaugurada, era constituído por representantes da intelectualidade juiz-forana15, entre os quais encontramos, além de Francisco Lins, outros como Albina de Araújo Alves, Antônio da Cunha Figueiredo, Brasília Marques Lopes, Cincinato Duque Bicalho, Ercília D’Avila, Francisco Salles Oliveira, Frederico Alvares de Assis, Gilberto de Alencar, Harold Santos, Irma Grande, João Massena, João Augusto Godinho, José Martinho da Rocha, Lindolpho Gomes, Maria Adelaide Lopes Peçanha, Maria Antonia Penido Monteiro, Maria da Glória Carvalho, Maria Araújo Ferreira Malta, Maria do Carmo Penido Monteiro, Oswaldo Velloso e Raphael Cirigliano (OLIVEIRA, 2000). Embora Ruchat (2008) aponte Francisco Lins como tendo sido diretor da instituição, com base no estudo desenvolvido por Arielle Jornod (1995), Oliveira (2000)afirma que, desde a fundação até 1933, o estabelecimento de ensino esteve sob a direção do professor João Augusto Massena, que foi sucedido por Américo Repetto. Portanto, a informação que temos é de que Lins permaneceu como membro catedrático da Instituição desde a criação, em 1928 até sua morte, em 1933.

Logo que criada, a Escola Normal de Juiz de Fora atendia apenas o sexo feminino e comportava três cursos: o Curso de Adaptação, com duração de dois anos, complementar ao ensino primário e que se destinava às candidatas ao Curso Preparatório; este, com duração de três anos, se reservava ao ensino de cultura geral indispensável à formação do magistério primário; e o Curso de Aplicação, com duração de dois anos, que visava formar aspirantes ao magistério primário. Como requisito para ingressar neste último, as alunas deveriam concluir o curso Preparatório e prestar exames de admissão. O Curso de Aplicação abrangia as disciplinas de Psicologia Educacional, Biologia, Higiene, Metodologia, História da Civilização, História dos Métodos e Processos da Educação e Prática Profissional. Esta organização atendia a alguns dos anseios de Francisco Lins ao defender que as escolas normais ensinassem as disciplinas pedagógicas e que a cultura geral fosse cobrada em exames de admissão:

[...] a cultura pedagógica, profissional, separando-se della a parte relativa á cultura geral, como já se faz nos Estados Unidos e em muitos paises da Europa. Em todo caso, para a matrícula seria exigido dos candidatos que apresentassem certificados dos exames [...] como acontece nos estabelecimentos de ensino superior (REFORMAS, O Paiz, 19 dez. 1924, p. 4).

Do mesmo modo, a grande preocupação com a organização disciplinar na escola, registrada nos primeiros anos da Escola Normal (OLIVEIRA, 2000), estava de acordo com as ideias apresentadas por Lins quando ele afirmou que a disciplina seria imprescindível na formação dos futuros professores (O Paiz, 3 dez. 1924, p. 4). A autora chama a atenção, ainda, para o fato de que as questões disciplinares foram assuntos nas primeiras reuniões da Congregação da escola, como, por exemplo, uma recomendação do diretor Augusto Massena aos professores quanto à necessidade de se cumprir o regulamento de modo que não se esquecessem de que estavam formando futuros professores. De forma semelhante, Francisco Lins considerava a importância do exemplo na aprendizagem da disciplina:

Força é que seja o educador um espírito recto e jamais se descuide de meio algum para exercer a sua salutar influencia, de que se deve servir, não só no correr das suas palavras familiares, mas ainda no correr de todas as suas lições. Tal deve ser um pensamento constante, uma acção de todos os momentos (ESCOLAS NORMAES..., O Paiz, 3 dez. 1924, p. 4).

O ensino normal, no entanto, não era o único recurso que viabilizava a formação de professores para atuarem nas escolas reformadas. Outra proposta dos reformadores pode ser evidenciada no Congresso de Instrução Primária, por meio da 6a tese referente à Organização Geral do Ensino, na qual se discutia a necessidade de o Estado enviar comissões ao estrangeiro. A Revista do Ensino registrou a exposição das ideias de Francisco Lins ao relatar a tese:

Convém que o Estado mande ao estrangeiro - a Europa e aos Estados Unidos - comissões de professores para que estudem a organização das escolas primárias, os métodos de ensino, etc., tomadas antecipadamente as necessárias precauções para que, por lá, não se entreguem os enviados ao prazer em vez de estudar. E que, absolutamente, ao serem organizadas essas comissões, não se admitam empenhos, determinando-se que sejam constituídas por pessoas verdadeiramente capazes moralmente e intelectualmente.

Ao mesmo passo, convém que se contratem no estrangeiro grandes pedagogistas, homens cheios de saber e de experiência, para que nos venham auxiliar na realização da grande obra em projeto (PRIMEIRO.., Revista do Ensino, ago/set 1927, p. 478).

Como podemos observar, apesar de ter sido beneficiado por uma comissão de viagem entre 1911 e 1917, Lins defendia precaução no envio de educadores brasileiros para estudarem no exterior; por outro lado, era favorável à contratação de professores estrangeiros. Após discussões com congressistas que foram contrários às suas conclusões, vários substitutivos e emendas foram adicionados e, por fim, aprovaram que ficasse a critério da administração o envio de profissionais da educação ao exterior para estudarem a organização e os processos de ensino. Trazer educadores estrangeiros ao Brasil também era uma ideia que Lins defendera anteriormente. Em seus textos no jornal O Paiz, chegou a recomendar contratações, como a da professora suíça Mlle. Audemars, para organizar as escolas infantis; e a da professora Mlle. Descoeudres, do Instituto de Genebra, para organizar escolas para os então denominados anormais (ESCOLAS INFANTIS, O Paiz, 15 nov. 1924, p. 4; ESCOLAS PARA ANORMAES, O Paiz, 25 nov. 1924, p.6). Não encontramos indícios de que teria sido ele a sugerir o nome de Helena Antipoff, com quem estudara em Genebra.

Todavia, dentre os nomes sugeridos por Lins, destaca-se, sem dúvida, o do educador Édouard Claparède como aquele de sua preferência. Insistentemente, ao longo dos anos, comunicou à imprensa sobre esse desejo pessoal. No artigo “Uma Faculdade das Sciencias da Educação (O Paiz, 31 dez. 1924, p. 4), escreveu sobre a necessidade da fundação no Brasil de um instituto de altos estudos pedagógicos, semelhante ao Instituto Jean-Jacques Rousseau, no qual estudara. Nesse estabelecimento seriam tratadas todas as questões relativas à educação; ele seria uma faculdade e também um centro de pesquisa, de informação e de propaganda; publicaria uma revista, compreenderia uma biblioteca e um museu escolar. A defesa da criação da importante instituição veio acompanhada da sugestão do nome de Édouard Claparède para ser o seu diretor. Segundo Francisco Lins, a capacidade de dirigir esse empreendimento exigiria uma série de qualidades que apenas Claparède possuía, afirmando, ainda, que não seria difícil trazer o suíço ao País (UMA FACULDADE..., O Paiz, 31 dez. 1924, p. 4). Lins retoma por várias vezes essa ideia. Em 1929, o jornal Minas Geraes publicou a crônica O professor Ed. Claparède, em que ele enfatizava as qualidades de seu antigo mestre, lamentando que o governo brasileiro não tivesse feito um convite para que ele viesse ao Brasil:

Desejei muito vê-lo no Brasil, trabalhando pela reforma dos nossos estabelecimentos de ensino. A ele, a respeito, em Genebra, falei diversas vezes, e nas colunas dos nossos jornais, também vezes diversas, manifestei com ardor esse desejo. Pelo fato de ter sido discípulo do professor Claparède, tendo vivido junto dele muito tempo, naturalmente o conheço de perto sei quanto vale, quanto é luminoso o seu espírito, quanto são nobres os seus sentimentos, quantos serviços poderia prestar-nos, si estivéssemos a ventura de trazê-lo á nossa terra.

[...] Quanto é bom esse homem, quanto é simples, quanto é grande! Um sábio como poucos. Cérebro poderoso, alma nobilíssima. Pena é que não se encontre agora em Minas, dirigindo os trabalhos iniciados para a resolução do problema que tão particularmente nos interessa. (O PROFESSOR..., Minas Geraes, 1o. e 2 jul. 1929, p. 6).

A insistente sugestão não foi atendida. No entanto, Édouard Claparède encaminhou alunos que contribuíram para a reforma do ensino em outros países, como lembra Rogério Fernandes (2007, p. 218) quando se detém na relação estabelecida por educadores portugueses com aquele instituto suíço, assinalando que ele se constituía em “principal centro de produção da teoria da escola nova”. Isso fez com que Faria de Vasconcelos, fundador de uma escola nova, na Bélgica, após a guerra de 1914-1918, se retirasse para Genebra, o que tanto o aproximou de Claparède e Ferrière como lhe permitiu ser “convidado mais tarde a contribuir para a difusão dessa corrente pedagógica na América Latina, designadamente em Cuba e na Bolívia, onde liderou reformas escolares” (FERNANDES, 2007, p. 218).

Em 1930, Lins voltou à Europa, quando esteve em Genebra e em Paris, mais uma vez em comissão oficial do governo mineiro. Entre as atividades que realizou durante esse período de estada no continente europeu, visitou o Institut Jean-Jacques Rousseau e se encontrou com seus ex-professores Édouard Claparède e Adolphe Ferrière. Naquela ocasião, escreveu crônicas aos leitores do jornal Minas Geraes, nas quais narrou detalhes de sua viagem: “A Aliança Liberal no Rio”; “O Rio de Janeiro e o Rio de hontem”; “Conversando com o oceano”; “Uma grande cidade”; “A cidade Refúgio, Instituto J. J. Rousseau”; “Um colossal guarda-comidas”; “A vida na Suissa”; “Adolphe Ferrière”; “A publicidade: a nossa Propaganda na Europa”; “O Dr. Roux”; “Do sonho á realidade”; “As tristezas de Paris”; “A Europa vae mal”; “A orientação profissional”; “A minha volta - Um poeta brasileiro em Paris - O teatro a bordo - A troupe “Rose-Marie” - Um banho de sereias num mar de prata - Como a viagem de Ulysses”. Numa dessas crônicas, Francisco Lins demonstrou novamente o descontentamento por não terem atendido seu pedido de convidar Claparède para vir ao Brasil e, mais uma vez, reforçou a importância desse empreendimento que, segundo ele, seria de interesse também do educador suíço:

Quando tornei ao nosso Estado, depois da minha primeira viagem à Europa, muitos artigos escrevi lembrando a conveniência da ida de Claparède a Minas, para que, sob sua direção, pudéssemos melhor, com segurança maior, organizar a instrução pública. Pena, então, nenhum caso terem feito dos meus conselhos. Mais de uma vez tenho ouvido dos lábios desse professor que, si houvera recebido um convite para ir á nossa terra, não teria deixado de o aceitar (INSTITUTO..., Minas Geraes, 21 mar. 1930, p. 5).

Em sua passagem pela Suíça, em 1930, Lins encontrou-se com Claparède. Muito provavelmente, tenha sido nesse episódio que ouviu “dos próprios lábios” do educador suíço o interesse em visitar o Brasil. Talvez ele tenha tratado pessoalmente da viagem de Claparède, pois, em carta a Helena Antipoff, ao falar sobre a estada dos Lins na Europa, Claparède faz menção à sua possível ida ao País em agosto daquele ano: “Os Lins estão aqui. Que prazer vê-los novamente; eles não mudaram. Devo me preparar para sair em agosto?”16

A visita ao mestre e amigo havia sido anunciada por Francisco Lins em carta à Claparède antes de ele chegar a Genebra: “Eu vos escrevi do Brasil dizendo que eu e minha esposa estaremos em breve na Suíça, e nós estaremos lá por três dias. Na próxima semana, iremos a Genebra, para apresentar a você nossos respeitos e à estimada Madame Claparède.”17 Ademais, em outra missiva enviada por Lins quando já não estava mais em Genebra, podemos observar que eles se encontraram pelo menos uma vez, juntamente com suas famílias:

Obrigado pela sua amável carta. Peço-lhe para me enviar a foto a qual você falou, tirada no seu belo Parque de Champel.

Que prazer nos ver fotografados ao lado de vocês e por vocês!18

Mas é possível que o encontro tenha se dado por mais de uma vez, pois, em carta a Helena Antipoff, nesse período, Claparède afirma que, depois de uma cirurgia que Lins iria fazer, eles pretendiam se encontrar novamente: “Eu não pude, infelizmente, vi muito pouco os Lins - Eles vão voltar aqui após a operação de Sr. Lins (hérnia).”19 A correspondência enviada a Claparède20 nesse período indica que eles estabeleceram relações além das de mestre e discípulo e mantiveram o contato entre as famílias mesmo após o professor mineiro retornar ao Brasil. Uma evidência particular dessa relação apresenta-se na forma como Lins se despedia e assinava as cartas endereçadas ao educador suíço e sua família: “[...] A todos vocês de coração, ex-aluno, amigo e admirador, Francisco Lins.” 21 “[...] Seu admirador e amigo, Francisco Lins.”22 “[...] Nosso respeito a Madame Claparéde. Nossos sinceros votos para sua alegria, para alegria de seus dois filhos, para os seus. De todo coração, Francisco Lins.”23

Ainda há o que ser investigado sobre a relação de Francisco Lins e Édouard Claparède, tendo em vista que são escassos os vestígios sobre esse intelectual brasileiro. Até o momento, não localizamos indícios dos acontecimentos que envolveram o brasileiro e o suíço durante a visita ao Brasil. Apenas podemos afirmar que o carinho de Francisco Lins foi reconhecido por Claparède quando este, ao falar de sua chegada ao Brasil, em carta a Helena Antipoff, relembra que Lins e a esposa o esperavam no porto do Rio de Janeiro e que o receberam gentilmente, apesar do atraso do navio: “Meu barco estava atrasado; chegou apenas à meia noite! Os Lins tinham vindo me esperar na plataforma. Eu fui gentilmente recebido.”24

A relação de admiração e amizade que Lins nutria pelo seu antigo mestre justifica a espera no porto. Contudo, faltam indícios de que a insistência do intelectual mineiro tenha se materializado de alguma outra forma além dos textos publicados. Todavia, não parece coincidência que, no mesmo ano de sua visita à Europa, Lins tenha conseguido realizar o desejo de ver o grande mestre suíço em seu país. Podemos supor que, de alguma forma, suas relações políticas, que resultaram em duas viagens comissionadas pelo governo, tenham também possibilitado a realização de mais esse sonho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A espera de Francisco Lins por Édouard Claparède antecede em muito sua chegada ao porto, em 1930. Por diversas vezes, o mineiro recomendou ao governo brasileiro essa viagem. Como grande admirador do trabalho de Claparède, considerava suas ideias e suas obras como grandes fontes de inspiração para solucionar os problemas da educação brasileira.

A relação estabelecida com o suíço foi possibilitada pelo seu ingresso no Institut Jean-Jacques Rousseau, em 1912. Essa experiência transformou a vida desse educador mineiro, que, embora hoje seja um desconhecido, outrora desempenhou um considerável papel no contexto de reforma da educação do estado. Ao regressar ao Brasil, em 1917, assumiu a responsabilidade de fazer circular os conhecimentos obtidos no tempo em que esteve na Europa. Reconhecido a partir de então como um especialista em ensino, seria requisitado para contribuir nas discussões e assumir cargos públicos de destaque na educação. Nesses espaços, identificou problemas e fez proposições, com base nas novas ideias e modelos educativos estrangeiros.

Apesar de ter sido beneficiado com missões de estudo na Europa por duas vezes, de sua aproximação com o Institut Jean-Jacques Rousseau, em especial com Édouard Claparède, em mais de uma crônica publicada na imprensa nacional e mineira, Francisco Lins formulou críticas aos que pretendiam aplicar modelos estrangeiros sem conhecimento da realidade nacional, como em sua crítica à Reforma do Ensino Primário e Normal de 1906,25 promovida pelo governo de João Pinheiro, que institucionalizou os grupos escolares em Minas Gerais:

Os primeiros grupos escolares de Minas fundaram-se há dezoito annos, mais ou menos, depois que um mineiro foi a Argentina e viu que em Buenos Aires elles são numerosos. Então, esse mineiro não teve olhos para ver que em Buenos Aires não é Resaquinha, nem Carandahy, duas pequenas povoações que se encontram no interior do Estado e onde se instituiram grupos escolares.

Ahi está mais uma prova de que nós não sabemos senão imitar, e imitar idiotamente. Ninguém pensa, não direi em crear, mas em adaptar, e isso é o que nos cumpre (GRUPOS ESCOLARES, O Paiz, 23 nov. 1924, p. 5).

Este posicionamento fica marcado em sua produção quando escreve ao jornal O Paiz, em 1924, no qual evoca sua experiência como fiscal do ensino para legitimar seu conhecimento da realidade nacional e indicar os seus problemas (O PROBLEMA..., O Paiz, 22 out. 1924, p. 4; ESCOLAS NORMAES..., O Paiz, 3 dez. 1924, p. 4). Enquanto intelectual mediador, que traduz e cria, apropriou-se das preocupações do educador e psicólogo suíço na compreensão do papel da escola e do professor atento às necessidades, interesses e desenvolvimento das crianças e elaborou propostas, como a de formação de professores, que envolvia uma redefinição da Escola Normal como espaço privilegiado para as mudanças inspiradas no ideário e nas práticas escolanovistas. Possivelmente, Lins tenha se sentido contemplado com a criação da Escola de Aperfeiçoamento, haja vista tal projeto ter sido baseado no IJJR e ter recebido professores estrangeiros, conforme ele projetava e manifestava em artigos, como os publicados em O Paiz.

Aparentemente, o desejo de criação de uma instituição semelhante era compartilhado também por outros intelectuais brasileiros que lá estudaram, como foi o caso da educadora Antônia Ribeiro de Castro Lopes, que, após seus estudos no IJJR, participou da criação do Instituto Fluminense de Sciencias Educacionais, em 1931, em Campos. A instituição do interior fluminense foi pensada aos moldes do instituto de Genebra e semelhante às que estavam sendo criadas em outros estados por inspiração do movimento escolanovista. Esse projeto foi elogiado e comparado à Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, por Theobaldo de Miranda Santos,26 que dirigiu a instituição (MIGNOT, 2007).

Desse modo, entendemos que Francisco Lins, no papel de intelectual do seu tempo, constituído pelas suas experiências e moldado por suas redes de pertencimento, não teria um pensamento incomum ou completamente inovador. Ao contrário, sua retórica assemelhava-se à de outros reformadores quando apresentava a educação brasileira de modo caótico e necessitada de uma grande reforma. Paralelamente, suas experiências particulares na educação mineira e de viagem à Europa concederam originalidade às suas reflexões, vez que se apropriou daquilo que conheceu em viagem e elaborou reflexões sobre a educação nacional.

Ao receber o educador e psicólogo suíço, juntamente com Waclaw Radecki e Laura Jacobina Lacombe, antigos alunos do Institut Jean-Jacques Rousseau, Francisco Lins planejava que a visita a Belo Horizonte pudesse ampliar as possibilidades de aplicação dos seus ensinamentos na educação mineira. Ao aguardar a chegada do mestre à beira do cais do porto do Rio de Janeiro, esperava mais do que reencontrar um velho amigo; aquele episódio representava para o educador mineiro uma forma de prestigiar as ideias do antigo mestre, obter sua aprovação dos trabalhos desenvolvidos e fomentar novas idéias para as reformas na educação brasileira e, em particular, na reforma mineira.

Este trabalho buscou, a partir da perspectiva biográfica, lançar luz a um sujeito que, apesar dos esforços empenhados para trazer seu mestre ao Brasil, curiosamente ficou à margem da historiografia da educação, possivelmente por ter se valido de pseudônimos para assinar até mesmo seus textos sobre essa área. Talvez a morte de Francisco Lins, em 1933, tenha impossibilitado sua projeção no cenário nacional. Ou, quem sabe ainda, sua presença na recepção ao mestre suíço tenha ficado ofuscada por Helena Antipoff, que, naquele momento, começava a desenvolver na Escola de Aperfeiçoamento um trabalho duradouro e de grande visibilidade?

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4Carta escrita por Helena Antipoff de Belo Horizonte em 6 de maio de 1930. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914-1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 87.

5A visita de Édouard Claparède ao Brasil foi festejada por Cecília Meireles na crônica “A visita de um pedagogo notável”, em sua coluna “Comentários”, da Página de Educação, no Diário de Notícias, considerando-a importante e oportuna no momento, que coincidia com as reformas do ensino (MEIRELES, 1930, p. 6).

6Relatório de viagem de Nilton Campos à Europa. Annaes da Colonia de psychopathas de 1928. Biblioteca do Instituto de Psicologia Núcleo Clio-Psyché.

7Não há informações de como se deu o seu ingresso na instituição.

8 ProgramaGeral e Lista de alunos do Instituto J. J. Rousseau (1912-1913) - Arquivos do IJJR.

9Carta escrita por Helena Antipoff, s/ local e data. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914-1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 81. Tradução livre do francês.

10Carta escrita por Helena Antipoff de Belo Horizonte em 30 de março de 1930. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914 -1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 83. Tradução livre do francês.

11Nascido em Ubá (Minas Gerais), em 9 de maio de 1866, filho dos professores Augusto Pereira Lins e Libania Camila Cunha Lins, que sustentavam mais 18 filhos. Faleceu em Juiz de Fora em 1933 (LINS, 1933).

12Para mais informações sobre a viagem e a trajetória de Francisco Lins, ler: SANTOS, Daise Silva dos. Mais do que ler mil livros: os significados da viagem à Europa na trajetória de Francisco Lins (1911-1917). 2020. 187 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2020.

13Conforme podemos observar a partir da análise dos conteúdos apresentados nos Programas Gerais de Ensino e Programas Semestrais do Instituto Jean-Jacques Rousseau.

14Mensagem do Presidente do Estado de Minas Gerais Arthur da Silva Bernardes ao Congresso Mineiro, 15 de julho de 1919, p. 44. Collection Brazilian Government Documents - Center for Research Libraries - global resources network.

15Quatro deles foram membros da Academia Mineira de Letras: Francisco Lins, Lindolpho Gomes, Gilberto Alencar e João Massena (OLIVEIRA, 2000).

16Carta escrita por Édouard Claparède em 24 de fevereiro de 1930. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914-1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 74. Tradução livre do francês.

17Carta escrita por Francisco Lins de Lausanne, em 1o. de fevereiro de 1930. Arquivo Municipal de Genebra.

18Carta escrita por Francisco Lins de Paris, em 7 de junho de 1930. Arquivo Municipal de Genebra.

19Carta escrita por Édouard Claparède em 4 de março de 1930. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914-1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 77. Tradução livre do francês.

20Até o momento, localizamos apenas a correspondência ativa de Francisco Lins endereçada a Claparède. Isso se deve à ausência de arquivos pessoais do intelectual mineiro. As três cartas utilizadas neste artigo foram localizadas no Arquivo Municipal de Genebra, em francês.

21Carta escrita por Francisco Lins de Juiz de Fora, em 28 de dezembro de 1930. Arquivo Municipal de Genebra.

22Carta escrita por Francisco Lins de Lausanne, em 1o. de fevereiro de 1930. Arquivo Municipal de Genebra.

23Carta escrita por Francisco Linsde Paris, em 7 de junho de 1930. Arquivo Municipal de Genebra.

24Carta escrita por Édouard Claparède em 15 de setembro de 1930. In: RUCHAT, Martine. Édouard Claparède et Hélène Antipoff Correspondance (1914-1940). Firenze: Leo S. Olschki Editore, 2010, p. 96. Tradução livre do francês.

25Reforma aprovada pela Lei n.° 439, de 28 de setembro de 1906.

26Educador católico com um grande número de produções no campo da educação. Ver mais em: http://www.congressohistoriajatai.org/anais2014/Link%20(122).pdf.

Recebido: 28 de Agosto de 2020; Aceito: 12 de Abril de 2021

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