SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.39REGULACIÓN EMOCIONAL EN EL LUGAR DE TRABAJO: UN ESTUDIO CUALITATIVO CON DOCENTESCONVERSACIONES ENTRE INVESTIGACIÓN Y ORIENTACÍON: CAMINAR DESCALZO EN UNA ESCUELA PÚBLICA índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Compartir


Educação em Revista

versión impresa ISSN 0102-4698versión On-line ISSN 1982-6621

Educ. rev. vol.39  Belo Horizonte  2023  Epub 25-Jul-2023

https://doi.org/10.1590/0102-469840514 

Artigos

CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

APORTES DE PAULO FREIRE A LA EDUCACIÓN DE JÓVENES Y ADULTOS: UNA REVISIÓN NARRATIVA

JOCASTA MARIA OLIVEIRA MORAIS1  , Participação ativa na escrita do texto, na análise temática e na revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0001-8787-4066

FRANCISCO THIAGO CHAVES DE OLIVEIRA1  , Participação ativa na escrita do texto e na análise temática
http://orcid.org/0000-0002-4626-2247

SILVIA MARIA NÓBREGA-THERRIEN1  , Participação na análise temática e na revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-8412-8575

SARLENE GOMES DE SOUZA1  , Participação ativa na escrita do texto, na revisão e na edição do manuscrito
http://orcid.org/0000-0001-9600-7650

1 Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, Ceará (CE), Brasil.


RESUMO:

Mesmo após 50 anos de lançamento da obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, são perceptíveis suas contribuições para o campo da educação na atualidade. Este artigo busca dialogar sobre a educação para jovens e adultos orientada pelos princípios freirianos. Para tanto, elaboramos uma revisão narrativa, tendo como âncora o livro Pedagogia do Oprimido, e tecemos análises a partir de quatro temáticas, a saber: (I) essência humana e do conhecimento; (II) relação indivíduo-sociedade; (III) relação teoria-prática e relação objetividade-subjetividade; (IV) fins sociais da educação e lugar do professor no processo educativo. Como resultado, vimos que a pedagogia de Paulo Freire é resultado de uma longa jornada de vida, do caminhar de um homem entre suas origens, seu mundo, vivências e leituras, e do contato com outros sujeitos. Suas ideias pedagógicas e humanísticas partem do micro para o macrocosmo, do mundo das classes menos favorecidas em contraponto ao mundo dos privilegiados. No campo da educação com jovens e adultos, tomar Paulo Freire como um educador inclusivo significa, dentre outros aspectos, construir conhecimentos que considerem a diversidade de visões de mundo dos sujeitos envolvidos e possibilitem o processo de humanização.

Palavras-chave: educação de jovens e adultos; Paulo Freire; Pedagogia do Oprimido

RESUMEN:

Mismo 50 años después del lanzamiento de la obra Pedagogía del Oprimido de Paulo Freire, son perceptibles sus aportes actuales en el campo de la Educación. Este artículo tiene como objetivo dialogar sobre la educación de jóvenes y adultos a partir de los principios de Freire. Para ello, desarrollamos una revisión narrativa a partir del libro Pedagogía del Oprimido y producimos análisis de cuatro temas, a saber: (I) la esencia humana y el conocimiento; (II) la relación individuo-sociedad; (III) la relación teoría-práctica y la relación objetividad-subjetividad; (IV) los fines sociales de la educación y el lugar del docente en el proceso educativo. Como resultado, vimos que la pedagogía de Paulo Freire es el resultado de un largo camino de vida, del camino de un hombre entre sus orígenes, su mundo, vivencias, lecturas y el contacto con otros sujetos. Sus ideas pedagógicas y humanísticas parten del micro al macrocosmos, del mundo de las clases menos favorecidas frente al mundo de los privilegiados. En el campo de la educación con jóvenes y adultos, tomar a Paulo Freire como educador inclusivo significa, entre otros aspectos, construir conocimientos que consideren la diversidad de visiones de mundo de los sujetos involucrados y posibiliten el proceso de humanización.

Palabras clave: educación de jóvenes y adultos; Paulo Freire; Pedagogía del Oprimido

ABSTRACT:

Even 50 years after the launch of Paulo Freire's Pedagogy of the Oppressed, his current contributions to the field of education are perceptible. This article discusses the education for young people and adults guided by Freire's principles. To do so, we developed a narrative review based on the book Pedagogy of the Oppressed and analyzed four themes, namely: (I) the human essence and knowledge; (II) the individual-society relationship; (III) the theory-practice relationship and the objectivity-subjectivity relationship; (IV) the social purposes of education and the teacher's place in the educational process. As a result, we perceived that Paulo Freire's pedagogy is the result of a long life journey, a man's journey between his origins, his world, experiences, readings, and contact with other subjects. His pedagogical and humanistic ideas depart from the micro to the macrocosms, from the world of the less privileged classes in opposition to the privileged ones. In the educational field of young people and adults, taking Paulo Freire as an inclusive educator means, among other aspects, building types of knowledge that consider diverse worldviews and enables the humanization process.

Keywords: education of young people and adults; Paulo Freire; Pedagogy of the Oppressed

INTRODUÇÃO: CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

A presente pesquisa se configura como uma revisão narrativa que tem como âncora a obra freiriana Pedagogia do Oprimido. Compreender a formulação das ideias e correntes de pensamento de Paulo Freire nos obriga a revisitar seus anos iniciais. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife (PE), em 19 de setembro de 1921. Ainda na sua infância, em 1930, viveu o período do Estado Novo, marcado pela centralização dos poderes políticos. De origem humilde, Freire vivenciou a miséria em que vive boa parte de nosso povo. O próprio chegou a passar dificuldades financeiras e estudar foi um desafio em sua vida (PADILHA, 2019).

A sua vida de miséria quase o obrigou a abandonar os estudos e seguir o caminho de milhões de nordestinos que apenas lutam pela sobrevivência. Em 1944, casou-se com Elza Maria Costa de Oliveira, com quem teve cinco filhos. Em 1946, diplomou-se na tradicional Escola de Direito do Recife. Após o falecimento de Elza, em 1986, casou-se, em março de 1988, com Ana Maria Araújo (GADOTTI et al., 1996).

O decreto n.° 19.513 de 1945, que regulamentou a concessão do auxílio federal para o ensino primário, abriu espaços para a atuação de Freire. Assumiu, em 1947, a Diretoria do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (SESI) de Pernambuco e iniciou a Campanha de Educação de Adultos (CEA), coordenada pelo professor Manoel Bergström Lourenço Filho. Em 1960, Paulo Freire foi nomeado para o cargo de professor efetivo de filosofia e história da educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Recife e participou do início do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife. No ano seguinte, assumiu a direção do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e iniciou as primeiras experiências de alfabetização popular que contribuíram para a constituição do Método Paulo Freire (GADOTTI et al., 1996).

Essas experiências contribuíram para a formulação de suas teorias pedagógicas. Entre os anos de 1960 e 1964, Freire iniciou o desenvolvimento de suas correntes de pensamento e do aprimoramento de seu método de alfabetização. Ainda no ano de 1963, seu método de alfabetização de adultos foi implantado pela primeira vez em Angicos, no estado do Rio Grande do Norte. No mesmo ano, chegou ao cargo de Coordenador do Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura (MEC), com a utilização do Método Paulo Freire de alfabetização de adultos, sendo um reconhecimento importante ao trabalho desenvolvido por Freire para a educação brasileira. Em 1964, assumiu a superintendência do SESI de Pernambuco, onde iniciou o seu trabalho de alfabetização com analfabetos (GADOTTI et al., 1996).

Através do seu olhar antropológico, em que se preocupa com os aspectos sociais, culturais e políticos, ele contribui com práticas que são inovadoras e que não ficam apenas restritas ao Brasil. Alfabetizar um adulto em 30 dias com uma hora de aula por dia é o marco de seu método, que serviu de inspiração para dezenas de países. O pensamento de Freire pode ser relacionado ao de outros educadores modernos, entre eles Célestin Freinet (1896-1966), pois ambos entendiam a capacidade do aluno em organizar sua própria aprendizagem. Com Carl Rogers (1912-1987) compartilhava o entendimento sobre a liberdade de expressão individual e a crença de que cada um tem a potencialidade de resolver seus problemas (PADILHA, 2019; BRANDÃO, 2017).

O contexto histórico em que Pedagogia do Oprimido foi escrito, dentre outros cenários, era aquele decorrente de um golpe de Estado no Brasil, quando um conjunto de eventos ocorridos culminou, no dia primeiro de abril de 1964, em um Golpe Civil Militar que encerrou o governo do presidente democraticamente eleito. Com o golpe, a tomada de poder pelos militares e o estabelecimento da ditadura no país, Freire ficou com sua situação e atuação educacional no país dificultada. Devido à sua visão educacional politizadora e de sua prática inclusiva, ele foi preso por 70 dias. Embora resistisse ao exílio, enxergando sua missão de melhorar o Brasil, o educador foi expulso do país. O período de seu exílio no Chile (1964-1979) serviu para a cristalização e escrita de suas ideias (PADILHA, 2019).

A princípio, Freire era muito resistente à ideia do exílio, não enxergava de que modo poderia continuar seu trabalho de uma educação inclusiva e popular. No entanto, ao visualizar o perigo em que sua vida se encontrava, decidiu dar continuidade ao seu trabalho, mas na condição de exilado político do país (ROSAS, 2004). Paulo Freire escreveu o livro Pedagogia do Oprimido em 1968, ainda durante o exílio no Chile. Na obra, o autor parte do pressuposto de que há uma pedagogia dominante em vigência, a da classe dominante (opressora), que não serve à classe trabalhadora (oprimida). Freire objetiva apresentar a tese de que é por meio da educação como prática de liberdade, aquela reflexiva, problematizadora, dialógica e libertadora, e não da educação bancária, aquela alienante, não problematizadora, antidialógica e opressora, que os sujeitos concretos poderão superar a dominação em que vivem e se humanizar (FREIRE, 2013).

Como já dito, entre os anos de 1967 e 1968, no Chile, Paulo Freire registrou suas ideias e observações de suas experiências em Pedagogia do Oprimido. Talvez seja uma de suas obras mais singulares do ponto de vista pessoal, com várias citações referentes à obra pelo mundo quando se fala no educador brasileiro. O nascimento da obra em questão ocorreu em um contexto sociocultural bem diverso na história da América Latina. A efervescência com movimentos diversos (estudantis, operários e feministas) que questionavam as instituições governamentais, econômicas e religiosas foram fundamentais para o início de tais práticas que seriam apresentadas e seguidas por muitos países como modelo no processo de alfabetização de crianças e adultos (GADOTTI et al., 1996). Estudiosos das obras de Paulo Freire, como Beisiegel (1982) e Brandão (1980), destacam, como uma das razões que levou Freire a escrever a obra Pedagogia do Oprimido, a problemática da humanização/desumanização. Pedagogia do Oprimido propõe uma nova forma de relacionamento entre professor, estudante, e sociedade.

Assim, à luz de conceitos desenvolvidos por Paulo Freire, partimos dos seguintes questionamentos: Quais as contribuições da obra Pedagogia do Oprimido para a educação? Quais contribuições da pedagogia freiriana para a educação de jovens e adultos? Tais aspectos serão dialogados ao longo do texto.

CAMINHO METODOLÓGICO

O presente estudo se configura como uma pesquisa bibliográfica, do tipo revisão narrativa, de abordagem qualitativa. Pesquisas desta natureza tem um caminho metodológico mais fluído e visam tecer análise teóricas, conceituais ou críticas sobre determinadas temáticas (ROTHER, 2007).

Para este estudo em particular, nos debruçamos sobre a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, lançada durante seu exílio, em 1968. A opção por essa obra se deu por se tratar de um livro clássico no campo da educação, não apenas para os(as) brasileiros(as), afinal trata-se de uma obra que foi traduzida para mais de 25 idiomas. No ano de 2022, o livro já estava em sua 68º edição, o que aponta uma relevância pedagógica e científica da obra analisada.

A partir da leitura de Pedagogia do Oprimido, tecemos análises críticas considerando as seguintes temáticas: (I) da essência humana e do conhecimento; (II) da relação indivíduo-sociedade; (III) da relação teoria-prática e da relação objetividade-subjetividade; (IV) dos fins sociais da educação e do lugar do professor no processo educativo.

DA ESSÊNCIA HUMANA E DO CONHECIMENTO

A essência humana encontra-se além das percepções dos sentidos, dos sentimentos e dos pensamentos. Ela é a consciência pura com a consciência universal. Essa essência, que se constitui a partir da existência desse sujeito, na Pedagogia do Oprimido, pode ser entendida como uma forma humanista, que luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como seres para si (BRANDÃO, 1980). Essência que se (re)cria, articulando-se ao processo de conscientização, na busca por um sujeito transformador, autor de sua própria história, criador de beleza, dinâmico e, sobretudo, em conquista permanente da autonomia, em exercício constante da esperança como causa e consequência (FREIRE, 2013). O autor afirma:

A essência humana existencia-se, autodesvelando-se como história. Mas essa consciência histórica, objetivando-se reflexivamente surpreende-se a si mesma, passa a dizer-se, torna-se consciência historiadora: o homem é levado a escrever sua história. Alfabetizar-se é aprender a ler essa palavra escrita em que a cultura se diz e, dizendo-se criticamente, deixa de ser repetição intemporal do que passou, para temporalizar-se, para conscientizar sua temporalidade constituinte, que é anúncio e promessa do que há de vir. O destino, criticamente, recupera-se como projeto. (FREIRE, 2013, p. 20).

A concepção da essência humana, a partir da educação, demanda relações e interações humanas horizontais, alicerçadas pelo respeito e pelo reconhecimento do outro como sujeito da história, da cultura, da política, e, por conseguinte, do processo educativo. Paulo Freire defende a educação como espaço de diálogo, autonomia e exercício de conscientização sobre o mundo e sobre si, que o liberta da visão fatalista da sociedade e da história (FREIRE, 2013).

A Pedagogia do Oprimido permite observar que, para Freire, o conhecimento é um processo de busca, de criação, e demanda de seus sujeitos, no encadeamento dos temas significativos, um exercício de interpenetração (no sentido de fusão) para compreender os problemas de uma realidade social. Nesse sentido, o conhecimento experiencial em torno da realidade vivida, fecundado pelo conhecimento crítico (fruto do questionar), transforma-se em razão da realidade. O autor considera que os sujeitos têm um conhecimento reverberado pelo conhecimento do vivido, do experienciado. Isto é, coloca-se em oposição ao método bancário de transmissão de conhecimento (PADILHA, 2019).

No campo da educação com jovens e adultos, tomar Paulo Freire como um educador inclusivo significa, dentre outros aspectos, construir conhecimentos que considerem a diversidade de visões de mundo dos sujeitos envolvidos e que possibilitem o processo de humanização. Não se trata, conforme Freire (2013), de dar consciência aos oprimidos, pelo contrário, os mesmos a tomam ao examinar e criticar os atos do seu cotidiano, por meio de “um conhecimento tanto quanto possível cada vez mais crítico do momento histórico em que se dá a ação, da visão do mundo que tenham ou estejam tendo as massas populares” (FREIRE, 2013, p. 182).

Para Paulo Freire, o conhecimento crítico e reflexivo permite a criação. Nessa perspectiva, o conhecimento do passado e do presente dos oprimidos determinam as alternativas de seu futuro e podem proporcionar a condução da sua vida no sentido de seus interesses, e não daqueles da sociedade opressora. Como crítica às práticas opressoras que dificultam a construção do conhecimento crítico e reflexivo, Freire utiliza o termo “concepção bancária da educação”:

A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. (FREIRE, 2013, p. 64-65).

Segundo Freire (2013), a expressão “educação bancária” era uma metáfora para se referir a um conjunto de práticas educacionais autoritárias. Para ele, o conhecimento construído através da educação bancária é um instrumento da opressão, que pretende mostrar as formas mais comuns de se conduzir e manter inertes uma sociedade. Na concepção de Paulo Freire, esse modelo de educação também apresenta formas de controle e opressão e tem, na concepção “bancária”, atributos da sociedade opressora (ela deposita conhecimento aos educandos de forma que o mesmo fique limitado só ao conhecimento que lhe é imposto, sem diálogo e debate de opiniões e ideias). Entretanto, a Pedagogia do Oprimido leva a aspirar por uma libertação dessa inércia, desse palco de fantoches, cujo manipulador encena o opressor e o oprimido apresenta-se como o manipulado.

Ao escrever a obra Pedagogia do Oprimido, Freire considerava o contexto histórico em que vivia - desigualdades sociais, econômicas e culturais e índices altos de analfabetismo entre jovens e adultos, entre outros aspectos. No decorrer do livro, percebe-se que suas reflexões sobre a educação contribuíram para a denúncia da educação tradicional e predominante, isto é, a educação bancária. Na atualidade, é possível pensar na “educação bancária” para além da escola, visualizando também as práticas educativas não escolares, ou seja, as atividades que constituem toda experiência educativa que reproduz a desumanização dos oprimidos ao corroborar a ideia de que as classes populares são inferiores e ignorantes e que, portanto, o saber acadêmico é o único relevante para a formação humana e não haveria nada o que aprender com os educandos.

DA RELAÇÃO INDIVÍDUO-SOCIEDADE

Paulo Freire assevera que o homem é um ser social, de tal modo que a consciência e transformação do meio devem acontecer em sociedade. É danoso uma sociedade sem o diálogo, sem a troca de experiência, em que o “eu” é detentor da verdade absoluta e o outro não pode interferir em seus conceitos/opiniões. Sem diálogo, a sociedade se divide e se torna alvo fácil dos opressores que induzem pessoas fragilizadas e egoístas e a liberdade é quase impensável: “Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão de mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa” (FREIRE, 2013, p. 94).

Sobre a relação indivíduo-sociedade, essa liberdade que tanto o oprimido almeja tem que ser alcançada por seu próprio esforço e em comunhão com os outros sujeitos. Quando o mesmo não consegue se enxergar em uma condição de alienação, é preciso iniciar uma busca dolorosa para encontrar essa liberdade. Mergulhados no mundo que o opressor o expõe, os oprimidos têm medo dessa liberdade, encontram-se divididos entre sair desse mundo ao qual estão presos ou livrar-se dele, o que os deixa confusos e faz com que continuem sofrendo intimamente. Esse é o cruel dilema dos oprimidos: “A libertação, por isto, é um parto. É um parto doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo” (FREIRE, 2013, p. 38). É trabalhoso e exaustivo encontrá-la, mas quando chega na vida dos oprimidos, estes tornam-se seres diferentes, transformados.

A superação da contradição é o parto que traz ao mundo esse homem novo não mais opressor, não mais oprimido, mas homem libertando-se. Essa superação não pode dar-se, porém, em termos puramente idealistas. Se faz indispensável aos oprimidos, para a luta por sua libertação, que a realidade concreta de opressão já não seja para eles uma espécie de “mundo fechado” (em que se gera o seu medo da liberdade) do qual não pudessem sair, mas uma situação que apenas os limita e que eles podem transformar. É fundamental, então, que, ao reconhecerem o limite que a realidade opressora lhes impõe, tenham, nesse reconhecimento, o motor de sua ação libertadora (FREIRE, 2013, p. 38-39).

Paulo Freire afirmava que a dialogicidade é a essência da educação, portanto, prática da liberdade. Assim, para o autor, o diálogo precisa estar em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem, do exercício de buscar as opções pelos conteúdos, métodos, temas geradores e seus significados até as relações homens-mundo. As palavras geradoras, no processo de ensino-aprendizagem proposto por Paulo Freire, inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos educandos e educandas. Através de conversas informais, o educador conhece os vocábulos mais usados por eles(as) e pela comunidade e, assim, seleciona as palavras que servirão de base para as lições nas atividades de alfabetização.

A educação dialógica não se limita a uma conversa aleatória, ao contrário, perpassa a interação dos sujeitos - educador e educandos -, sendo um exercício profundo de problematização das diferentes dimensões (históricas, sociais, culturais, econômicas, políticas) que refletem para apontar as contradições do mundo e dos modos diferentes (e desiguais) de estar no mundo. Esse diálogo em Freire implica o reconhecimento do outro sujeito como ator/protagonista de experiências e saberes, frutos do seu contexto vivido (PADILHA, 2019).

Paulo Freire, na obra Pedagogia do Oprimido, não se limitou à denúncia da opressão, mas apresentou uma alternativa às concepções que ele chama de humanitaristas, paternalistas e assistencialistas, abdicando adotar uma perspectiva de salvação dos oprimidos. Como escreveu ele, pretender a libertação dos oprimidos sem a sua reflexão no ato dessa libertação é transformá-los em sujeitos passivos, fantoches, meros objetos do processo de ensino-aprendizagem. Com essa compreensão, a obra Pedagogia do Oprimido representa uma fonte potente, com críticas face às concepções atualmente dominantes (tipo tecnocrático, modernizador e normalizador), à teoria dos défices e à abordagem que vai reduzindo a educação permanente, a uma dialética de treinamento contínuo e de gestão de recursos humanos. Superar a condição de oprimidos só é possível se os sujeitos lutarem coletivamente. Como disse Freire:

Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “convivência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental, é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis (FREIRE, 2013, p. 54).

Conforme Freire, a dialogicidade é a essência da liberdade. E, portanto, não é possível distanciar o diálogo da práxis, uma vez que o “dialogar” é essencialmente humano e indispensável para compreender a história. Nesse ínterim, o diálogo, como essência da liberdade, caminha em harmonia com os fatos da conjuntura política. A dialogicidade não nega a práxis e nem minimiza a reflexão, representa o refletir e o agir de seus sujeitos. O diálogo é um instrumento que precisa existir no ser ontológico. Contrariamente à dialogicidade, a ação antidialógica é incompatível com o diálogo. A dialogicidade constitui força motriz para a classe oprimida como essência da educação libertária. No entanto, atualmente, visualiza-se práticas escolares com um “falso diálogo”, haja vista a submissão à educação bancária e neoliberal excludente e opressora (FREIRE, 2013).

DA RELAÇÃO TEORIA-PRÁTICA E DA RELAÇÃO OBJETIVIDADE-SUBJETIVIDADE

Freire entendia, desde o início de sua prática, que a educação possuía uma natureza política e que essa natureza não poderia ser negada, muito menos ocultada, dentro de uma práxis transformadora. É preciso que o processo educativo seja sensível aos propósitos políticos e sociais de transformação de uma sociedade excludente em uma nova sociedade, inclusiva e aberta para todos, independente de classes e status quo de seus membros, uma vez que “ensinar não é apenas um ato mecânico, mas um ato crítica, curiosidade, ação e transformação” (FREIRE, 2008, p. 80-81). Segundo o autor,

Uma das diferenças substantivas, porém, e os autores dessas críticas a mim feitas é que, para mim, o caminho da superação daquelas práticas está na superação da ideologia autoritariamente elitista; está no exercício difícil da virtude da humildade, da coerência, da tolerância, por parte do ou da intelectual progressista. Da coerência que vá diminuindo a distância entre o que dizemos e o que fazemos. (FREIRE, 2008, p. 80).

A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire encara, em um primeiro momento, a negação da palavra, a ausência de uma autonomia que desumaniza e que precisa prioritariamente ser reconquistada. Sua prática pode ser entendida com base no dialogismo, produto das realidades culturais, políticas e econômicas. A Pedagogia do Oprimido é uma obra revolucionária e dialética, seu objetivo é a inclusão do povo na história, por meio de uma práxis crítica, fazendo assim nascer uma consciência coletiva, pois “ninguém é mais dono da história ou da verdade” (FREIRE, 2008, p. 24-25).

A pedagogia e prática freiriana passam por diversos momentos históricos, mas o período em que mais observamos a sua produção foi quando o educador se encontrava exilado e era visto “apenas” como subversivo pelo regime ditatorial. Podemos observar dois momentos textuais distintos na Pedagogia do Oprimido: o primeiro é o desvelar de um mundo até então encoberto e a contribuição de transformação do mesmo, o segundo é a prática de um processo constante de libertação pedagógica. Freire enxerga que a revolução deve ser um compromisso permanente dos educadores. Por esse motivo, não cabe dentro da educação a neutralidade (BRANDÃO, 1980).

O processo educacional é e sempre será ideológico e as camadas populares precisam conhecer as ferramentas e estratégias que são utilizadas em sua dominação. Reconhecer o tempo de sua consciência, seu tempo e lugar de oprimido são importantes para sua recolocação no mundo. Como questiona o autor:

Que é mesmo a minha neutralidade se não a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? “Lavar as mãos” em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele. Como posso ser neutro diante da situação, não importa qual seja ela, em que o corpo das mulheres ou dos homens vira puro objeto de espoliação e de descaso? (FREIRE, 2005a, p. 112).

A educação bancária é o grande embate de Freire, pois era vista por ele como apenas uma ferramenta da dominação das classes dominantes que tinham o receio de perder seu poder frente às camadas populares. Uma educação baseada em uma pedagogia problematizadora serviria ao processo libertador. A dialética da segunda vertente supera os limites impostos entre educador e educando. É notado nos escritos de Freire a total rejeição ao ensino mecanicista, especializado e compartimentado, pois isso torna o aluno apenas um depositário de informações. Não existe, dessa forma, um ser consciente de seu papel na sociedade e nos grupos sociais em que está inserido (FREIRE, 2005a). Esse modelo de prática bancária é desumanizador, pois faz uso da ingenuidade dos educandos, visando um processo de alienação constante, prática que é utilizada para manter a ordem vigente.

Paulo Freire buscava além do tecnicismo e das receitas fáceis da “pedagogia”, que apresentam como resultados seres humanos em características pessoais e individuais, mas produtos iguais de uma educação bancária. Sua resposta, quando era acusado de ultrapassado e que não formava uma mão de obra preparada tecnicamente para ocupar cargos e funções, era sempre a mesma:

Não importa em que sociedade estejamos, em que mundo nos encontremos, não é possível formar engenheiros ou pedreiros, físicos ou enfermeiras, dentistas ou torneiros, educadores ou mecânicos, agricultores ou filósofos, pecuaristas ou biólogos sem uma compreensão de nós mesmos enquanto seres históricos, políticos, sociais e culturais; sem uma compreensão de como a sociedade funciona. E isto o treinamento supostamente apenas técnico não dá. (FREIRE, 2008, p. 134).

Freire apontou em Pedagogia do Oprimido a negação de um ensino repositório. Cabe ao aluno e ao educador o dialogismo, uma prática constante de interação, em que as trocas entre educandos e educadores será geradora de uma prática formativa e constitutiva de um novo saber.

DOS FINS SOCIAIS DA EDUCAÇÃO E DO LUGAR DO PROFESSOR NO PROCESSO EDUCATIVO

O pensamento freiriano vai de encontro ao que o acusam hoje. Em tempos de conservadorismo, notícias falsas (as chamadas fake news) e desvalorização do papel do professor e da educação, Paulo Freire ressalta a importância do professor e do aluno no processo educativo. Ele sempre destacou a necessidade de um diálogo democrático, construtivo e inclusivo. No pensamende de Freire, não existe espaço nem para o autoritarismo nem para a licenciosidade, reafirmando que ensinar é também aprender (BRANDÃO, 2017; PADILHA, 2019).

As contribuições da pedagogia freiriana para a educação de jovens e adultos também reverbera em uma escola que precisa redimensionar todo o seu pensar, replanejando suas ações pela compreensão do que a comunidade escolar espera dela enquanto local com função social definida. Uma problemática comum que tem se observado nos últimos anos é que diferentes profissionais e instituições ditas interessadas no ensino público interfiram no processo de direção da escola, o que entendemos não ser uma visão pedagógica de inclusão, mas apenas numérica e quantitativa. Trazer a público o debate que promova a escola, educadores e educandos como agentes ativos do processo e reais interessados numa educação coletiva, inclusiva, formativa e de qualidade é um debate que passa ao longo de toda a Pedagogia do Oprimido. Isso ocorre pelo diálogo constitutivo de uma educação plural (PADILHA, 2019).

O diálogo não é a implicação de uma ação educativa sem responsabilidade de transmissão de conteúdos, mas o entendimento de que a relação entre educador e educando são construídas numa rede colaborativa de aprendizagem. Não é possível falar em pedagogia freiriana sem pensar numa educação inclusiva e construtiva de uma consciência ampla e real do mundo que nos cerca (BRANDÃO, 2017; PADILHA, 2019).

A comunicação existente entre educador e o educando, no compartilhamento de suas experiências pelo diálogo, aponta caminhos para uma participação responsável. O diálogo aponta para o reconhecer do outro, por meio do respeito à sua dignidade, o que só é possível entre pessoas, e o qual se fundamenta em um dos conceitos primordiais de nossa sociedade, a democracia. Os conteúdos didáticos devem ser planejados e pensados a partir de uma dialética baseada na relação homem versus mundo, problematizando situações que sejam reais e que possam ser aplicadas no cotidiano dos educandos. Dessa forma, o diálogo educativo ocorre dentro de uma visão entre o povo e o educador que se dispõem a trabalhar de forma holística, repensando seu papel e atuação profissional (FREIRE, 2013).

Surgem, nesse novo pensar da educação, os temas geradores, pontos de partida dentro de uma perspectiva de ensino e comunicação. O existencial torna-se vazio e sem objetivo, pois não participou da vida pregressa dos(as) estudantes. A relação entre o homem/mulher e seu mundo, entre homens/mulheres, bem como a distinção entre os animais e homens/mulheres são entendidas e explicadas por Freire.

O homem é capaz de transcender, já o animal não. Uma educação bancária muitas vezes poderia se aproximar de um “adestramento”. Não existe espaço para a reflexão. Decodificar o mundo é encontrar um mundo de interesses particulares, seja dentro de um cortiço ou dentro de um grupo de camponeses, sempre buscando melhores condições de vida. (FREIRE, 1979, p. 30-31).

O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo que é criado pelo homem. Tanto uma poesia quanto uma frase de saudação. A cultura consiste em recriar, não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo. O homem, não é, pois, um homem para adaptação. A educação não é um processo de adaptação do indivíduo à sociedade. O homem deve transformar a realidade para ser mais (a propaganda política ou comercial fazem do homem um objeto) (FREIRE, 1979, p. 30-31).

Freire entendia que não é possível falar em uma realidade que não seja humana, como já discutido anteriormente. A educação é algo pessoal e constitutivo de um ser que possui sua identidade e valores considerados no processo educativo. A conscientização é um conceito fundamental trabalhado dentro da pedagogia freiriana. Tomar consciência é um processo de conhecimento, de fazer emergir uma consciência, imersa em situações de limitação. Quanto mais isso é feito, tanto mais ocorre a educação mútua e o aprofundamento investigativo (FREIRE, 2005b). De forma prática, o povo poderia ser convidado a participar de reuniões que propiciam a investigação, conservando sempre a simpatia dos observadores. Sugere Freire que se anote “a maneira de falar dos homens; a sua forma de ser, seu comportamento religioso, no trabalho, registre-se a expressão do povo; sua linguagem, suas palavras, sua sintaxe [...] na forma de construir seu pensamento” (FREIRE, 2005b, p. 120-121).

Freire destaca a necessidade de se fazer presente em momentos diversos da vida do povo, conhecer suas relações para que possa contribuir com um processo de decodificação da realidade vigente dos sujeitos. O fundamental, a princípio, seria perceber em que nível de percepção estão os indivíduos da área em relação à sociedade como “unidade epocal maior” (FREIRE, 2013, p. 113). Ou seja, é preciso analisar até que ponto eles têm percepção, que tipo ou que nível de consciência eles têm da realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo, buscamos argumentar sobre as possibilidades de releitura da obra Pedagogia do Oprimido a partir das concepções de Paulo Freire, que emergiram acerca da essência humana e do conhecimento; da relação indivíduo-sociedade; da relação teoria-prática e da relação objetividade-subjetividade; dos fins sociais da educação; e do lugar do professor no processo educativo.

As contribuições da pedagogia freiriana para a educação de jovens e adultos nos permite refletir que a educação coloca os aprendizes como sujeitos históricos. Essa é a pedagogia política e cultural de Paulo Freire. Esse autor, com conjecturas de empoderamento, autonomia e emancipação, defende a educação libertadora frente aos instrumentos dominantes da educação bancária e neoliberal do sistema capitalista excludente e opressor.

Sabe-se que o nosso atual sistema educacional passa por uma crise de valores sem precedentes. A educação é vista como uma mercadoria e, como tal, é mercantilizada, sendo exposta em prateleiras para que seja vista como simples objeto de consumo. Nessa visão, quem possuir mais recursos leva, teoricamente, o melhor serviço, mas o que observamos na prática é o esvaziamento de uma educação formadora de cidadãos reflexivos e conscientes de seu papel social na sociedade.

A visão freiriana de uma educação social, coletiva e construtiva é um legado que deve ser aplaudido e conservado. Em uma sociedade repleta de injustiças e desigualdades sociais, a Pedagogia do Oprimido é um farol de lucidez e realidade. A natureza do método pedagógico do pensamento de Freire apresenta-se como politizador, visto que conscientizar, em uma visão da alfabetização, é mais que educar: é politizar (FREIRE, 1979).

Vimos que a pedagogia de Paulo Freire é resultado de uma longa jornada de vida, do caminhar de um homem entre suas origens, seu mundo, vivências, leituras, e do contato com outros sujeitos. Suas ideias pedagógicas e humanísticas partem do micro para o macrocosmo, do mundo das classes menos favorecidas em contraponto ao mundo dos privilegiados. Sua opção de uma reflexão educativa pensada para os mais pobres, por uma educação popular, contra o totalitarismo, o mecanicismo, o antidiálogo e a coisificação humana marcam sua pedagogia e vida.

Seu trabalho nos oferece como fruto a ação dialética constante. A conscientização de homens e mulheres de sua própria inconclusão e de sua possibilidade de buscar mais em seu tempo implica devolver-lhes a posição de agentes de sua própria história pela extrapolação de suas situações limite. Para Freire, a quebra da adaptação resulta da descoberta que o desumanizado faz de si mesmo e dos processos que freiam o seu “devir”, o “ser mais” (FREIRE, 2008, p. 205-207).

Nessa perspectiva, educação, política e cultura não constroem caminhos que sejam independentes. O método de Paulo Freire inevitavelmente constrói uma consciência política que conscientiza o povo. É claro que uma consciência não é absorvida pela outra nesse processo educativo, mas são fundamentalmente interdependentes na busca pelo homem que se historiciza e se humaniza como um ser livre impelido a olhar para o presente e futuro na busca de uma educação plural e progressista (FREIRE, 2005b).

É mister compreender o princípio de que a pedagogia freiriana é um sonho de mudar o mundo, sendo considerado um sonho possível. É um trabalho pedagógico em prol dos excluídos, dos menos favorecidos e dos limitados pelo poder do capital, que conduz o sistema político e econômico vigente. Freire permite o exercício de lembrar todos os dias que a função do educador não é transmitir conhecimento, mas ser um mediador na construção desse conhecimento, de ajudar aos educandos a refletir sobre seu contexto de vida, sobre suas condições de sobrevivência, de maneira que não sejam massa de um sistema que irá oprimir e impor ao pobre sempre um papel como acessório de um sistema que o utilizará como produto e como fantoche.

REFERÊNCIAS

BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e Educação Popular: a teoria e a prática de Paulo Freire no Brasil. São Paulo: Ática, 1982. [ Links ]

BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). A questão da política da educação popular. São Paulo: Brasiliense, 1980. [ Links ]

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2017. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 24ª Edição, Rio de Janeiro: 1979. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 5ª Edição. São Paulo: Paz e Terra, 2005a. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. 15ª. Edição, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 2008. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido [recurso eletrônico] / Paulo Freire. - 1 ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 47ª. Edição, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 2005b. [ Links ]

GADOTTI, Moacir et al. (org.) Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo: Cortez; IPF, 1996. [ Links ]

PADILHA, Paulo Roberto et al. 50 olhares sobre os 50 anos da pedagogia do Oprimido. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2019. [ Links ]

ROSAS, Paulo. Fontes do Pensamento de Paulo Freire. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2004. [ Links ]

ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 5-6, 2007. <https://doi.org/10.1590/S0103-21002007000200001> [ Links ]

Recebido: 18 de Julho de 2022; Aceito: 02 de Dezembro de 2022

<jocasta-enfermagem@hotmail.com>

<thiagochaves.edu@yahoo.com>

<silnth@terra.com.br>

<sarlenedesouza@gmail.com>

As autoras e o autor declaram que não há conflito de interesse com o presente artigo.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons