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Perspectiva

versión impresa ISSN 0102-5473versión On-line ISSN 2175-795X

Perspectiva vol.36 no.2 Florianopolis abr./jun 2018  Epub 23-Jul-2019

https://doi.org/10.5007/2175-795x.2018v36n2p724 

Artigos de Demanda Contínua

O ato de ler na educação básica e a formação de alunos leitores

The act of reading in basic education and the students readers’ training

El acto de leer en la Educación Básica y los estudiantes lectores

Sandra Aparecida Pires Franco2 
lattes: 4775777293922801

1Universidade Estadual de Londrina, UEL

2Universidade Estadual de Londrina, UEL


Resumo

Este estudo tem como objetivo identificar e analisar as concepções e práticas de leitura dos alunos do 9º ano, tendo em vista refletir a realidade e as possibilidades para a melhoria do ato de ler no contexto escolar. A efetivação do estudo em questão foi realizada no segundo semestre de 2015, no qual foi utilizado um questionário com questões abertas, contemplando duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental do período matutino de uma escola localizada na periferia do município de Londrina-PR. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem crítico-dialética, cuja análise e reflexões foram pautadas em autores que se apoiaram na perspectiva histórico-crítica, ou seja, Vygotsky (2008), Luria (1978), Leontiev (2004), Arena (2010), entre outros. No aspecto geral, foi possível constatar que os sujeitos participantes consideram a leitura fundamental para o processo de formação humana e profissional. Entretanto, torna-se necessário oferecer espaços de leitura e metodologias apropriadas para que os alunos possam desenvolver o ato de ler de forma crítica e humanizadora.

Palavras-chave:  Ato de Ler; Leitura; Educação Básica

Abstract

This study aims to identify and analyze the conceptions and reading practices of 9th grade students, in order to reflect the reality and the possibilities for the improvement of the reading act in the school context. The study was carried out in the second half of 2015, in which a questionnaire was used with open questions, including two classes from the 9th grade of Elementary School in the morning shifr of a school located in the outskirts of Londrina-PR. It is a qualitative research, with a critical-dialectic approach, whose analysis and reflections were based on authors who supported themselves in the historical-critical perspective, i.e. Vygotsky (2008), Lúria (1978), Leontiev (2004), Arena (2010), among others. In the general aspect, it was possible to verify that the participants consider the reading fundamental for the human and professional formation process. However, it is necessary to provide appropriate reading spaces and methodologies so that students can develop the reading act in a critical and humanizing way.

Keywords:  Reading Act; Reading; Basic education

Resumen

Este estudio tiene como objetivo identificar y analizar las concepciones y prácticas de lectura de los alumnos del 9º año, con el fin de reflejar la realidad y las posibilidades para la mejora del acto de leer en el contexto escolar. El estudio en cuestión fue realizado en el segundo semestre de 2015, en el cual se utilizó un cuestionario con preguntas abiertas, contemplando dos clases del 9º año de la Enseñanza Fundamental del período matutino de una escuela ubicada en la periferia del municipio de Londrina-PR, Brasil. Se trata de una investigación cualitativa, de abordaje crítico-dialéctico, cuyo análisis y reflexiones realizadas fueron pautadas en autores que se apoyaron en la perspectiva histórico-cultural, o sea, Vygotsky (2008), Lúria (1978), Leontiev (2004), (2010), entre otros. En el aspecto general, fue posible constatar que los sujetos participantes consideran la lectura fundamental para el proceso de formación humana y profesional. Sin embargo, es necesario ofrecer espacios de lectura y metodologías apropiadas para que los alumnos puedan desarrollar el acto de leer de forma crítica y humanizadora.

Palabras-clave:  Acto de lectura; Lectura; Educación Básica

Introdução

Ao adentrar nos espaços escolares, é possível perceber que os alunos apresentam diversas dificuldades em relação à leitura e à escrita. Considera-se que aspectos históricos, econômicos e políticos, assim como a carência de acesso aos instrumentos de leitura, as metodologias com ênfase na aprendizagem mecânica e descontextualizada da realidade do aluno contribuem para o agravamento e a permanência dessa problemática, dificultando o desenvolvimento do ato de ler (ARENA, 2010).

Girotto (2013), em seu trabalho Reflexões sobre a formação do leitor mirim: leitura, literatura infantil e biblioteca escolar, evidencia que o modo como o professor trabalha a leitura no contexto escolar interfere na formação de leitores. A autora constata, também por meio de pesquisas por ela realizadas, que as ações pedagógicas desenvolvidas tanto em sala de aula como na biblioteca escolar pouco contribuem para a formação do aluno leitor.

Nessa mesma perspectiva, Arena (2010) discute em um dos seus trabalhos, denominado O ensino da ação de ler e suas contradições, as dificuldades enfrentadas pelas escolas no ensino do ato de ler. O autor ressalta que a ênfase do ensino recai apenas sobre aspectos do sistema linguístico, ou seja, não é atribuído sentido ao texto, enquanto ação cultural, histórica e social.

Outra questão importante relacionada à formação de leitores no contexto escolar é o acesso e a implementação da biblioteca escolar. No texto O papel da biblioteca escolar: importância do setor no contexto educacional, Bezerra (2008) aborda a importância do espaço para difusão de várias informações, que vão desde obras literárias até materiais bibliográficos, informativos, sobre atualidades, entre outros, que poderiam ser utilizados para complementar as ações pedagógicas no contexto escolar, favorecendo o desenvolvimento cognitivo do aluno.

Autores como Vygotsky (2008), Leontiev (2004) e Luria (1978) enfatizam a importância da apropriação da linguagem para o desenvolvimento psíquico do sujeito, pois à medida que passa a dominar os signos, entrando em contato com elementos culturais elaborados historicamente pelo homem, o indivíduo tem a possibilidade de adquirir e reelaborar novos conhecimentos, contribuindo para o desenvolvimento de suas funções psíquicas superiores.

Diante da importância da apropriação da leitura e escrita para o desenvolvimento sociocultural e psíquico do sujeito, este estudo elege como objetivo identificar e analisar as práticas de leitura dos alunos do 9º ano de uma Escola Estadual localizada na periferia do município de Londrina-PR.

No aspecto geral, este trabalho se justifica na medida em que viabiliza a investigação da realidade que permeia a apropriação do ato de ler por parte dos alunos, permitindo, assim, refletir e analisar as possibilidades de desenvolver atividades de leitura, tendo em vista contribuir para o processo de formação de leitores críticos.

A relevância do tema abordado está no recorte da pesquisa, cujos sujeitos são estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, etapa em que se observa, na realidade brasileira, um fraco desempenho dos estudantes em avaliações sistêmicas de leitura.

Para tanto, ao longo deste estudo, apresenta-se a descrição dos procedimentos metodológicos, bem como uma breve abordagem acerca da importância da leitura para a formação humana em uma perspectiva histórico-crítica. Em seguida, adentra-se nas descrições dos dados coletados, com o propósito de identificar e analisar as práticas de leitura dos alunos do 9º ano da Educação Básica.

Percurso Metodológico

Salienta-se que o presente trabalho é um recorte de uma pesquisa desenvolvida durante o mestrado, no segundo semestre de 2015, o qual teve como objetivo desenvolver atividades de leitura literária por meio de uma proposta de intervenção, a fim de coletar dados acerca dos fatores e das concepções presentes no ambiente escolar que interferem no processo de apropriação do ato de ler dos alunos, bem como na práxis educativa dos professores de uma escola da Educação Básica localizada na periferia do município de Londrina, Paraná.

Para o desenvolvimento deste estudo, foram selecionadas duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental do período matutino e suas respectivas professoras de Língua Portuguesa. No momento da produção de dados, encontravam-se em sala de aula quarenta alunos, que se prontificaram a participar da pesquisa. Para tanto, foi utilizado um questionário composto por seis questões abertas, no qual se procurou identificar e analisar as práticas de leitura, assim como apreender as percepções dos alunos acerca do ato de ler. Entende-se que esse diagnóstico foi essencial, devido à necessidade de obter-se um panorama prévio sobre a realidade em que a pesquisadora estava se inserindo, tendo em vista vislumbrar possibilidades de organizar e sistematizar a ação educativa, com o intuito de contribuir com as necessidades do contexto escolar e consequentemente com o processo de formação de leitores.

Importante salientar que se trata de uma pesquisa qualitativa, de abordagem crítico-dialética, cuja análise e reflexões foram pautadas em autores como Vygotsky (2008), Luria (1978), Leontiev (2004), Arena (2010), entre outros que se apoiaram na perspectiva histórico-crítica. Gamboa (2003, p. 399) explica que a pesquisa qualitativa deve ser norteada pela coleta e tratamento das informações que permitem um jogo de sentidos, isto é, de interpretações, assim como a análise do contexto social e cultural, no qual “as palavras, os gestos, os símbolos, as figuras, as diversas expressões e manifestações humanas têm um específico significado”.

A perspectiva crítico-dialética parte do pressuposto da necessidade de compreender o objeto de pesquisa em suas múltiplas dimensões (social, didático-pedagógica, cultural, econômica, entre outras), na qual o conhecimento é construído por meio de um processo que tem como ponto de partida o concreto sensorial, que representa a visão caótica da realidade posta. O confronto entre o concreto sensorial e o conhecimento científico historicamente elaborado possibilita a apreensão da totalidade dos fenômenos e das propriedades do objeto, permitindo ao sujeito chegar ao concreto pensando, ou seja, uma forma superior, mais rica “e substancial dos fenômenos da realidade” (GAMBOA, 1998, p. 30), refletindo um novo nível de conhecimento acerca do objeto.

Partindo dessa perspectiva, no tópico a seguir, será realizada uma breve abordagem acerca da importância do ato ler para o desenvolvimento psíquico e social, tendo em vista vislumbrar a contribuição da leitura para a formação humana.

Contribuições da Leitura para a Formação Humana

A perspectiva marxista parte do pressuposto de que o homem se constitui por intermédio do trabalho e das relações estabelecidas com o meio. Neste processo, a linguagem é fator preponderante, pois é por meio dela que as especificidades sociais e culturais são transferidas de geração em geração no decorrer da história.

Ao observar o desenvolvimento da humanidade, é possível constatar que os homens foram criando símbolos, como forma de viabilizar a comunicação entre si. Esses elementos foram sendo construídos, adquiridos e transmitidos entre as gerações, transformando-se conforme o desenvolvimento biológico e mental do sujeito. Nesse processo, em primeiro lugar, ocorre o desenvolvimento biológico, regido por leis biológicas,

[...] em virtude das quais os órgãos se adaptaram às condições e às necessidades de produção; em segundo lugar às leis sócio-históricas que regiam o desenvolvimento da própria produção e os fenômenos que ela engrendra. (LEONTIEV, 2004, p. 281).

O autor ainda explica que o modo de vida e as condições históricas vão sofrendo constantes transformações à medida que vão sendo criadas novas necessidades humanas, culminando no desenvolvimento de instrumentos materiais, da cultura e da linguagem.

Outra consideração importante é que a linguagem auxilia em atividades que exigem ações mentais, como o memorizar, a atenção, o pensar, planejar, lembrar, imaginar, controlando a consciência e o comportamento humanos. O processo de aquisição da leitura e da escrita é fator preponderante para a apropriação da cultura humana, sendo um dos meios simbólicos mais importantes criados pela humanidade (VIEIRA; GALUCH, 2013).

Nota-se que o ato de ler está estreitamente relacionado com a produção de signos e sentidos, enquanto produção humana que altera o pensar e o agir, promovendo o “desenvolvimento da mente humana, das formas humanas de conduta superior, das funções psíquicas superiores, constitutivas do contínuo processo de humanização” (GIROTTO, 2013, p. 344).

Corroborando, Orlandi (2006) explica que a leitura pode ser tomada em vários sentidos, em sua acepção mais ampla, entendida como “atribuição de sentidos”, podendo ser utilizada para realizar a leitura de linguagens de qualquer natureza. Pode também significar “concepção”, proporcionando uma leitura de mundo que está relacionada à noção de ideologia.

Em suma, o ato de ler representa uma operação intelectual que perpassa o ato de decodificar a escrita, haja vista que a leitura envolve “uma operação complexa, que exige a percepção de relações entre texto e o contexto do autor e do leitor” (GIROTTO, 2013, p. 346). Assim sendo, pressupõe-se que o ato de ler é uma prática social e histórica que permite ao sujeito construir uma visão de mundo por meio de questionamentos, investigação e o confronto entre conhecimento cotidiano e o conhecimento elaborado, viabilizando a compreensão da realidade posta e a (re)elaboração e organização do pensamento abstrato tendo em vista a ativação de operações intelectuais que o leitor realiza no ato de ler (ARENA, 2009).

Nesse sentido, consideramos que a práxis educativa do professor é de fundamental importância para a formação do aluno leitor. Concordamos com Arena (2009), que enfatiza a necessidade de a ação pedagógica estar fundamentada em saberes teóricos e metodológicos que possibilitem maior consistência e aprofundamento ao ensino da leitura enquanto prática cultural a favor da formação humana.

Em uma perspectiva histórico-crítica, a ação pedagógica do professor deve ter como ponto de partida as condições concretas da vida cotidiana dos alunos e do contexto escolar, visto que a leitura só “ganha existência quando o leitor a produz na relação entre o que ele é o que ele já sabe e conhece e aquilo que o texto criado pelo outro está a ofertar” (GIROTTO, 2013, p. 348). Assim, o educador pode ensinar ao aluno como agir diante de um texto, ou seja, como criar a sua própria leitura diante de diferentes gêneros textuais, a fim de possibilitar o desenvolvimento de formas cada vez mais abstratas de pensar. Segundo Girotto (2013, p. 348),

[...] em uma educação dirigida à real formação de crianças leitoras, há um confronto e um compartilhar de conhecimentos que favorecem a produção de novos. Nesse processo, a criança cria pela mediação do professor um saber ler, como afirmamos, respaldado no aprendizado de modos de ler diferentes gêneros discursivos em suportes variados, que só pode ser gerado a partir das diversas maneiras de “saber ler” vigentes em seu meio.

Saber ler está relacionado à capacidade de atribuir um sentido ao objeto de estudo por meio da relação que se estabelece entre autor e leitor, na qual o primeiro lança sua mensagem e o segundo apreende-a, interpreta-a e atribui-lhe um sentido de acordo com suas vivências. Nesse processo, cada leitor estabelece uma relação particular com o objeto de leitura de acordo com o contexto em que está inserido, compondo assim diferentes formas de ler. Girotto (2013, p. 350) esclarece que “a leitura é prática criadora, e, como tal, as leituras são sempre plurais, porquanto constroem de maneiras diferentes os sentidos de um texto, embora os textos inscrevam, no seu interior, o sentido que desejariam ver a si atribuídos”.

Outra premissa que merece destaque é a necessidade de oferecer aos alunos diferentes formas de linguagem, a fim de constituir e ampliar seu universo simbólico e assim avançar no desenvolvimento de suas funções psíquicas superiores.

A convivência com a música, a pintura, a fotografia, o cinema, com outras formas de utilização do som e com a imagem, assim como a convivência com as linguagens artificiais poderiam nos apontar para uma inserção no universo simbólico que não é a que temos estabelecido na escola. Essas linguagens todas não são alternativas. Elas se articulam. (ORLANDI, 2006, p. 40).

Ademais, essa articulação poderia ser trabalhada no contexto escolar com o intuito de inserir o aluno no mundo da leitura literária e das várias linguagens culturalmente elaboradas na história da humanidade. De acordo com Rezende e Franco (2013), a leitura possibilita a formação “omnilateral” do sujeito, tendo em vista o desenvolvimento multifacetado de suas máximas possibilidades. A leitura das várias linguagens precisa estar a serviço da transformação humana, a fim de permitir ao sujeito apreender a realidade posta, com o intuito de questioná-la, debater e assumir uma posição diante do que lhe é apresentado.

Considerando a importância da leitura para o desenvolvimento do homem enquanto sujeito pensante e consciente, a seguir realizaremos algumas considerações acerca dos atos e das percepções de leitura dos alunos do 9º ano da Educação Básica, a fim de descortinar a realidade e as possibilidades relacionadas à prática do ato de ler no contexto escolar.

Atos e Concepções de Leitura dos Alunos da Educação Básica

Sabemos que a leitura e a escrita têm ocupado lugar de destaque nas discussões educacionais da contemporaneidade. Nota-se que muitos alunos chegam às séries finais do Ensino Fundamental com dificuldades em compreender e interpretar os textos literários, assim como em dominar regras de gramática, culminando em dificuldades de escrita.

Segundo Arena (2010), a responsabilidade por essa situação não pode ser atribuída somente à escola, pois existem diversos fatores que contribuem para a problemática, sendo necessário, portanto, realizar maiores discussões sobre a temática. Sabemos que o processo de ensino e aprendizagem envolve uma complexidade de elementos que estão muito além dos muros das escolas, no entanto ele se constitui fator preponderante na formação de leitores. Considerando essas premissas, a seguir será realizada a descrição e análise dos dados coletados com a aplicação de um questionário formado por questões abertas, tendo em vista identificar e examinar as práticas de leitura de duas turmas do 9º ano de uma escola de Educação Básica localizada na periferia da cidade de Londrina-PR.

A primeira questão teve como objetivo averiguar a frequência de visitas dos alunos à biblioteca e identificar as atividades realizadas no local. No Quadro 1, observa-se que 22 alunos afirmaram que não frequentavam a biblioteca da escola, 14 alunos disseram que frequentavam o local para fazer empréstimos de livro ou para realizar trabalhos escolares e somente 4 alunos afirmaram que frequentavam a biblioteca esporadicamente.

Quadro 1 – Frequência de visitas e atividades realizadas na biblioteca – 9º ano A e B 

Você costuma frequentar a biblioteca da escola para empréstimo de livros ou realizar alguma outra atividade relacionada à leitura? Alunos
Não 22
Sim, empresta livros para atividades e trabalhos da escola 14
Esporadicamente 4
Total 40

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Por meio dos dados apresentados no Quadro 1, é possível observar que a maioria dos alunos não frequentavam a biblioteca escolar para realizar atividades de leitura. Essa constatação remete à fragilidade dos espaços de leitura e do ato de ler no contexto escolar. Nesse sentido, é importante enfatizar que

[...] algumas pessoas criam o gosto pela leitura pelo exemplo dos familiares, outras, por influência de professores ou por circunstância fortuitas de suas histórias de vida. No entanto, a formação de leitores em grande escala, via escola, só ocorrerá se houver uma política de leitura, traduzida na adequada formação de professores leitores, na oferta abundante de bons e variados materiais escritos, e na instalação de bibliotecas e salas de leitura bem equipadas [...]. (CARVALHO, 2005, p. 67).

Pressupõe-se, assim, que o ato de ler é uma construção social efetivada por meio da interação do sujeito com o contexto em que está inserido. A necessidade de leitura ocorre à medida que o aluno se torna capaz de assumir um papel ativo, compondo “significados e sentido ao texto. Este ato de compor significados irá depender da vivência histórica do sujeito, do seu modo de pensar e olhar o mundo” (ANDRADE; GIROTTO, 2016, p. 43).

No contexto escolar, a biblioteca é um espaço imprescindível para aprendizagem da leitura e escrita, que deveria ser frequentado pelos alunos desde a mais tenra idade, para que eles se familiarizassem com os mais diversos tipos de textos. Entretanto, para que a leitura se torne parte integrante da cultura dos alunos, os docentes devem desenvolver estratégias para se apropriarem do espaço da biblioteca, com a finalidade de proporcionar aos alunos o mergulho no universo da leitura e da escrita. Concordamos com Bajard (2002, p. 40), que destaca a necessidade da valorização da biblioteca, pois este espaço “subverte o caminho tradicional da aprendizagem”, na medida em que possibilita o acesso aos conhecimentos culturais acumulados pela humanidade.

Retomando a descrição e análise dos dados, no Quadro 2, é possível visualizar as preferências dos alunos relacionadas às atividades de leitura. Nota-se que, entre os gêneros mais citados, estão as histórias em quadrinhos e as revistas, preferências de onze alunos. Outros nove alunos disseram gostar “de tudo um pouco”, ou seja, de histórias em quadrinhos, crônicas, livros de suspense, ação, romance, entre outros. Somente seis alunos citaram os gêneros literários (romances, poemas, contos, crônicas e fábulas), quatro alunos manifestaram sua preferência por livros religiosos e três alunos afirmaram que não gostavam de ler.

Quadro 2 – Preferência dos alunos em relação à leitura – 9º ano A e B 

Quais os tipos de textos você gosta de ler? Alunos
Histórias em quadrinhos e revistas 11
De tudo um pouco (histórias em quadrinhos, crônicas, terror, ação, suspense, etc.) 9
Romance, poema, poesia, contos, fábulas 6
Livros religiosos 4
Nenhum 3
Romances 3
Reportagens de internet 2
Comédia 1
Ficção Científica 1
Total 40

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Interessante ressaltar que, apesar da quantidade expressiva de alunos que afirmaram não frequentar a biblioteca, somente três deles disseram não gostar de ler nenhum tipo de gênero textual. Observa-se assim que, apesar de os alunos não terem indicado especificamente um autor ou obra literária em suas respostas e do desinteresse em visitar a biblioteca escolar, todos os alunos revelaram possuir alguma preferência de leitura em relação aos gêneros textuais.

Nesse sentido, torna-se necessário refletir se a organização do espaço físico e o acervo disponível na biblioteca escolar atendem de forma satisfatória às demandas educacionais dos alunos. No caso da biblioteca da escola investigada, durante a visita realizada pela pesquisadora, constatou-se que o local possuía um acervo limitado de obras literárias e um espaço físico pequeno, entretanto o fato que mais chamou a atenção foi que a biblioteca permanecia fechada durante o intervalo.

Considerando que o intervalo é um dos momentos em que os alunos têm o horário livre para se dirigir à biblioteca e realizar empréstimos de livros ou alguma outra atividade relacionada à leitura, a pesquisadora perguntou a umas das professoras se era normal a biblioteca permanecer fechada durante o intervalo. A justificativa relatada foi a falta de pessoal, pois, no horário do intervalo, era necessário remanejar os funcionários para “cuidar” dos alunos e assim manter a ordem na escola.

Mediante essa constatação, enfatizamos a necessidade de os educadores reconhecerem a biblioteca como espaço importante para a formação cultural e crítica dos alunos. Lima e Silva (2015, p. 69) explicam que, apesar dos avanços e da ampliação das discussões acerca da importância das bibliotecas para a formação de leitores, “ainda há muito que se fazer para que as bibliotecas escolares no Estado do Paraná exerçam de fato sua função na sociedade”. É necessário também que os educadores e diretores repensem a função da biblioteca como uma extensão da sala de aula, uma vez

[...] que esse departamento representa um recurso ao conteúdo desenvolvido na classe aos professores, fornecendo informações tanto para o aluno quanto para o docente. Portanto, é importante que esse local seja bem gerenciado, de maneira a suprir as necessidades de ambos. Diante disso, a biblioteca escolar torna-se, assim, um local diferente dos outros espaços educativos da escola, pois promove uma interação entre o aluno, professor e bibliotecário, vinculada a uma variada gama de informações, operando como um laboratório de auto-aprendizagem [sic]. (BEZERRA, 2008, p. 5).

Concordamos que a biblioteca representa um local diferenciado da sala de aula, pois é possível ter acesso aos mais diferentes títulos literários, assim como obter informações diversas, que poderiam contribuir para o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno. Bezerra (2008) enfatiza que o ato de ler exige uma dinâmica de estratégias que tenham como pressuposto desenvolver no aluno a necessidade e o prazer pela leitura, o que torna a biblioteca um espaço essencial para cultivar o ato de ler.

Ao retomar a análise dos dados do Quadro 2, é possível visualizar que, entre os gêneros textuais mais lembrados pelos alunos, encontram-se as histórias em quadrinhos e as revistas. Essa preferência por histórias em quadrinhos talvez seja devida à simbiose que ocorre entre linguagem visual e escrita, “fazendo com que ele experimente um mundo imaginário, cheio de sensações sinestésicas e metafóricas, mesmo quando se trabalha com temas do seu dia a dia” (ASSIS, 2011, p. 4).

Segundo Assis (2011), a associação entre desenho e escrita facilita o entendimento da mensagem, fazendo com que autor e leitor estabeleçam uma interação por meio de uma linguagem que se aproxima do cotidiano do sujeito. Contudo, considera-se que mesmo as histórias em quadrinhos carregam em seu bojo alguns aspectos da realidade social, que geralmente são apresentados com humor e criticidade, representando, assim, uma possibilidade para se trabalhar com a leitura crítica, fazendo deste gênero um caminho para inserir o aluno gradativamente na leitura de livros e de outros gêneros textuais que exigem um nível maior de abstração.

Os dados do quadro 2 demonstram ainda que as leituras realizadas pelos alunos não estão diretamente relacionadas ao contexto escolar, pois são leituras que contemplam desde textos religiosos a obras de ficção, romances, entre outros. Embora algumas preferências de leitura citadas pelos alunos não façam parte do repertório da literatura clássica, convém considerar que esse tipo de leitura (histórias em quadrinhos, revistas, reportagens de internet, etc.), de certa forma, auxilia o aluno, no seu desenvolvimento enquanto leitor, a compor gradativamente um repertório de leitura que envolva progressivamente maior grau de complexidade. É nesse contexto que o papel do professor se torna fundamental, uma vez que é por meio da mediação docente que o aluno é convidado a se inserir e a se aprofundar no universo da leitura literária (BEZERRA, 2008).

A seguir, no Quadro 3, podemos visualizar as concepções dos alunos acerca da valorização da leitura para sua formação. Nota-se que nove alunos afirmaram que a leitura é importante para sua formação, pois possibilita uma leitura de mundo. Outros seis alunos afirmaram que o ato de ler é importante para melhorar a escrita e a leitura. Constatou-se também que seis alunos citaram a leitura como fonte de informação, e cinco alunos apontaram que a leitura contribui para o desenvolvimento pessoal e escolar do sujeito. Outros cinco alunos declararam que o ato de ler possibilita melhorar a leitura e o vocabulário.

Quadro 3 – Concepções acerca da importância da Leitura. 9º ano A e B 

Você considera a leitura importante para sua formação? Por quê? Alunos
Sim, possibilita leitura de mundo 9
Sim, ajuda a melhorar a escrita e leitura 6
Sim, é importante para se informar 6
Sim, ajuda no desenvolvimento pessoal e escolar 5
Sim, ajuda a melhorar a leitura e o vocabulário 5
Sim, ajuda a melhorar a leitura 4
Sim, pois influencia na autoestima, nas atividades de sala, no vocabulário e em atividades do cotidiano 2
Sim, ajuda a melhorar a escrita 2
Sim 1
Total 40

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Por meio dos dados apresentados, é possível perceber que os alunos reconhecem a importância da leitura para sua formação. Um fato interessante: ao se analisar os dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro no ano de 2015 (FAILLA, 2016), cujo objetivo foi conhecer o comportamento do leitor medindo a intensidade, a forma, as limitações, a motivação, as representações e as condições de leitura e de acesso ao livro impresso e digital pela população brasileira, constatou-se que aqueles que possuem maior nível de escolarização leem relativamente mais que os menos escolarizados todos os tipos de material de leitura, indicando uma diferença não apenas quantitativa mas também qualitativa, dada a diversidade de materiais com a qual esses indivíduos têm contato.

Ao observar a Figura 1 e comparar os dados coletados em 2011 e 2015, é possível constatar que houve avanços nos índices de sujeitos leitores em praticamente todas as regiões do Brasil, com exceção da região Nordeste, que não apresentou alterações. Entretanto, segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro, apenas em em cada quatro brasileiros tem o domínio pleno da leitura, da escrita e da matemática.

Figura 1  Perfil do leitor e não leitor (Classe Social, Renda Familiar em salários mínimos e Região) 

Fonte: Failla (2016, p. 189-190).

Outro dado relevante é que, a cada nova edição da pesquisa, diminui a proporção daqueles que afirmam não ter nenhuma dificuldade para ler. Entre as justificativas apresentadas, estão a falta de paciência, de concentração e as dificuldades de visão. A pesquisa demonstra ainda que o nível de escolaridade e o poder aquisitivo influenciam o tipo de relação que o sujeito estabelece com a leitura, ou seja, os que possuem maior nível de instrução e de poder aquisitivo desenvolvem habilidades e relação mais prazerosa e diversificada com a leitura.

Mediante essas premissas, considera-se importante refletir como a escola tem trabalhado a leitura em sala de aula e se as atividades relacionadas à leitura literária têm possibilitado ao aluno o desenvolvimento cognitivo e a leitura crítica de mundo para além do seu uso apenas instrumental.

Nesse sentido, concordamos com Souza e Girotto (2013, p. 58), que afirmam que a leitura como prática cultural e herança da humanidade precisa ser ensinada aos alunos, sendo “necessária uma intervenção consciente do professor no ato de ensinar a ler e a participação também consciente do aluno no processo”. Ressalta-se que

[...] as ações do aluno mediadas pela linguagem verbal devem conduzir a Atividade de aprendizagem levando-o ao desenvolvimento e a sua transformação em ser humano ao apropriar-se da cultura e dos instrumentos imateriais e materiais historicamente produzidos. (SOUZA; GIROTTO, 2013, p. 60).

Nesse aspecto, é primordial que a escola assuma o compromisso de desenvolver atividades de leitura significativas para os alunos, que envolvam “um sistema complexo e unitário com conexões e inter-relações estruturadas de forma que todos os elementos estejam carregados de significado” (SOUZA; GIROTTO, 2013, p. 60). As autoras revelam que, para compreender o sentido do texto, primeiramente o leitor busca relacionar o conteúdo com as informações que estão internalizadas no seu subjetivo. Essas informações são advindas de suas experiências pessoais e de seu entorno. Souza e Girotto (2013, p. 66) esclarecem que:

A organização do ensino da leitura, mediado por estratégias de compreensão, permite a criação do contexto significativo para o ensino da leitura a fim de que o aluno possa criar teias de conexões e atribuir sentido e significado ao texto lido. A compreensão da leitura utilizando estratégias que leitores competentes usam criando conexões significativas, inferindo, questionando, visualizando, enfim, levam o aluno à aprendizagem e ao desenvolvimento. A leitura se torna difícil quando a tornamos sem sentido.

O processo de aquisição da leitura necessita da seleção de materiais que despertem o interesse do aluno, bem como da mediação docente, para orientar e possibilitar a aprendizagem da leitura. Dessa forma, ao planejar sua ação educativa, o professor deve organizar as atividades tendo em vista propiciar um ambiente favorável, a fim de conectar o conhecimento prévio dos alunos com o texto lido.

Corroborando o exposto, Davidov (1999, p. 9) explica que “a consciência teórica direciona a atenção de humanos para a necessidade de entender suas próprias ações cognitivas, para considerar o próprio conhecimento”. Desse modo, são as necessidades e as motivações que orientam e estimulam os alunos na apropriação de determinado conhecimento. A aprendizagem ocorre quando o aluno realiza alguma atividade que envolva o conhecimento teórico, a experimentação, exploração e transformação.

Partindo desse pressuposto, na questão seguinte, procuramos identificar as preferências dos alunos ao realizar o ato de ler. No Quadro 4, podemos visualizar que 31 preferem realizar a leitura silenciosa, alguns justificaram que o ato de ler silenciosamente possibilita a concentração, a imaginação, ler e reler o texto em seu ‘tempo’. Nesse sentido, Manguel (1999, p. 49) ressalta que o ato de ler é “um processo de reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e, contudo, pessoal”, no qual o leitor procura construir significados dentro das regras das linguagens. O ato de ler está associado à capacidade de decifrar e fazer uso da linguagem, ou seja, interligar texto e pensamento.

Quadro 4 – Preferências relacionadas ao ato de ler – 9º ano A e B 

Como você realiza o ato de ler? Prefere a leitura silenciosa, em voz alta ou que outra pessoa leia para você? Alunos
Leitura silenciosa 31
Que outra pessoa leia para mim 4
Leitura em voz alta 3
Leitura silenciosa, as vezes em voz alta. 2
Total 40

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os dados do Quadro 4 revelam ainda que quatro alunos afirmaram preferir que outra pessoa leia para eles, três alunos apontaram que preferem ler em voz alta e dois alunos disseram ler silenciosamente, porém, em alguns momentos, leem em voz alta.

Essas diferentes formas de realizar a leitura sempre existiram. Inicialmente a leitura era feita em voz alta, pois acreditava-se que o leitor deveria emprestar a voz às letras silenciosas. Até a Idade Média “os escritores supunham que os leitores iriam escutar, em vez de simplesmente ver o texto. Tal como eles pronunciavam em voz alta as palavras à medida que compunham” (MANGUEL, 1999, p. 63), pois, na época, a leitura pública era comum, devido ao fato de poucas pessoas saberem ler.

Manguel (1999) considera que ouvir alguém ler pode tanto enriquecer como empobrecer o ato de ler, uma vez que a leitura em voz alta torna o ato de ler uma experiência impessoal, expropriando o leitor de seguir seu próprio ritmo, estabelecendo uma hierarquia ao colocar o ouvinte nas mãos do leitor, haja vista que, nesse caso, é o leitor que define a forma de leitura que julga mais apropriada para si.

Entretanto, com o passar dos tempos, o método de leitura silenciosa passou a conquistar adeptos. Com o desenvolvimento da imprensa no século XVI, o leitor passa a ter acesso a maior variedade de livros. Segundo Bajard (1999), a leitura silenciosa é uma leitura para si, que permite ao leitor um encontro individual com o texto, possibilitando-lhe compreender o sentido do texto de forma autônoma, sem ter que se preocupar com a emissão sonora das palavras. Na leitura silenciosa,

[...] as palavras não precisavam mais ocupar o tempo exigido para pronunciá-las. Podiam existir em um espaço interior, passando rapidamente ou apenas se insinuando plenamente decifradas ou ditas pela metade, enquanto os pensamentos de leitor inspecionavam à vontade, retirando novas noções delas, permitindo comparações de memória com outros livros deixados abertos para consulta simultânea. O leitor tinha tempo para considerar e reconsiderar as preciosas palavras cujos sons - ele sabia agora - podiam ecoar tanto dentro como fora. (MANGUEL, 1999, p. 69).

Entendemos que a leitura silenciosa deve preceder a leitura em voz alta, a fim de atribuir sentido ao texto, para esta posteriormente realizar-se. Não se trata, portanto, de defender uma prática em detrimento a outra, visto que são duas modalidades de leitura que podem ser trabalhadas no contexto escolar de forma alternada, pois ambas as modalidades exigem domínio de operações cognitivas que o aluno deve desenvolver no contexto escolar (MANGUEL, 1999).

Nesse sentido, quanto mais cedo o aluno se inserir e descobrir o universo da leitura e for capaz de interagir com o texto, por meio da leitura silenciosa ou da leitura em voz alta, maiores serão as chances de ele se tornar um leitor e elaborar uma visão crítica acerca do que lê e vivencia.

Entretanto, ao desenvolver atividades de leitura literária, torna-se importante considerar o nível de desenvolvimento em que o aluno se encontra e, a partir deste, procurar mobilizar sua atenção, estimular a formação das imagens e o uso dos signos, a fim de contribuir para a formação dos conceitos, proporcionando seu crescimento social e cultural, bem como maior nível de abstração, possibilitando o enriquecimento da percepção e a satisfação das necessidades culturais do ser humano.

Considerações Finais

Mediante o objetivo de analisar as concepções dos alunos do 9º ano acerca do ato de ler, tendo em vista refletir a realidade e as possibilidades para a melhoria do ato da leitura no contexto escolar enquanto instrumento para a humanização crítica do sujeito, constatou-se que, apesar da quantidade expressiva de alunos que afirmaram não frequentar a biblioteca, eles consideraram a leitura fundamental para sua formação profissional e humana, como forma de adquirir cultura ou possibilidade de desenvolver uma leitura de mundo.

Os dados ainda revelaram que os textos literários não estão entre as escolhas preferidas dos alunos. Nesse sentido, considera-se que a figura do professor é fator preponderante para a formação de alunos leitores, pois ocorre a necessidade de oferecer-lhes acesso aos mais diversos tipos de linguagem e gêneros textuais a fim de possibilitar-lhes o desenvolvimento das funções psíquicas superiores e a humanização crítica.

No aspecto geral, a análise dos dados coletados possibilitou desconstruir algumas concepções contemporâneas de que o aluno não gosta de ler ou não tem propensão para desenvolver o ato de ler. É preciso considerar que o ato de ler está associado à capacidade de atribuir melhor sentido ao texto lido, ou seja, é necessário estabelecer interação entre o contexto e o leitor para que este compreenda o que está sendo lido de acordo com suas vivências e necessidades.

Outra premissa importante é a necessidade de reconhecer a amplitude da arte literária e considerar que a capacidade de contemplar da literatura pode ser desenvolvida em cada sujeito, seja ele erudito ou analfabeto. Vale lembrar que a leitura literária tem uma função humanizadora, que deve ser elaborada gradativamente, exigindo, a cada etapa percorrida, um maior nível de abstração, como forma de enriquecer a percepção e possibilitar o acesso ao acervo cultural historicamente construído.

Desse modo, salientamos que a atividade de leitura não pode ser tomada apenas como um ato mecânico de codificar e decodificar a escrita, pois envolve visão de mundo, desenvolvimento dos sentidos, da percepção, de expressões e de significados, que possibilitam ao homem problematizar e interpretar o contexto no qual está inserido.

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Recebido: 19 de Agosto de 2017; Aceito: 08 de Fevereiro de 2018

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