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Revista Educação em Questão

versión impresa ISSN 0102-7735versión On-line ISSN 1981-1802

Rev. Educ. Questão vol.57 no.53 Natal jul./sept 2019  Epub 19-Sep-2019

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2019v57n53id16934 

Resenha

Pesquisas em educação: a entrevista reflexiva

Research in education: the reflective interview

Investigaciones en educación: la entrevista reflexiva

Tatiane Lebre Dias1 
http://orcid.org/0000-0002-9515-1578

Ana Cláudia Borck1 
http://orcid.org/0000-0002-4705-9638

Keyla Aparecida Fortes de Oliveira1 
http://orcid.org/0000-0002-5087-9020

1Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil)

SZYMANSKI, Heloisa. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Campinas: Autores Associados, 2018.


O livro "A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva" tem como foco principal temáticas vinculadas à educação e uma das ferramentas de trabalho do pesquisador que é a entrevista. A obra é organizada pela professora doutora Heloisa Szymanski, e disponibiliza produções da organizadora e das professoras doutoras Laurinda Ramalho de Almeida e Regina Célia Almeida Rego Prandini. O objetivo das autoras não é apresentar regras para a pesquisa qualitativa, mas auxiliar na propositura de estratégias a serem trilhados pelos pesquisadores que optarem por uma pesquisa reflexiva.

No primeiro capítulo intitulado "A entrevista reflexiva: um olhar psicológico sobre a entrevista em pesquisa" a autora considera a dimensão psicológica e ética dessa prática. Para tal, "a entrevista como um encontro interpessoal no qual é incluída a subjetividade dos protagonistas" (p. 14), é a definição utilizada para compreensão do seu significado no processo de produção de conhecimento.

A proposta de entrevista reflexiva foi construída com o intuito de tornar horizontal as relações de poder, isto é, considerar, igualmente, a participação dos atores envolvidos, incluindo suas subjetividades nesse processo de interação social, que, por sua vez, influenciam no tipo de informação obtida. Dessa forma, as intencionalidades do entrevistador, a aceitação para participar, e as formulações existentes nas respostas dadas pelo entrevistado com o propósito de contribuir na pesquisa, são definidas pelas emoções desses participantes.

A prática da pesquisa reflexiva propõe que o entrevistador compartilhe sua compreensão com o participante, lhe dê uma devolutiva, possibilitando uma interação perceptual do outro e de si. Nesse processo, a reflexão da fala do entrevistado oportuniza uma abertura para o entrevistado concordar, discordar ou reformular suas proposições. Assim, vislumbra-se uma participação ativa de ambos no resultado final.

A forma como deve ser desenvolvida uma pesquisa, segundo a proposta de entrevista reflexiva, é descrita no livro de acordo com as seguintes etapas: (a) contato inicial; (b) a condução da entrevista, que é subdividida em: aquecimento; a questão desencadeadora; a expressão da compreensão; produção de sínteses; elaboração de questões de esclarecimento, focalizadoras e de aprofundamento e (c) devolução.

A construção do questionário não é uma tarefa fácil e deve-se ter o cuidado de elaborar questões dirigidas ao entrevistado considerando sempre seus conhecimentos e informações as quais ele está disposto a compartilhar.

Durante a entrevista é necessário que o entrevistador faça indagações que viabilizem esclarecimentos considerados de extrema importância. Quando o entrevistado divaga sobre o conteúdo, deve-se proceder a intervenções focalizadoras, retomando a pesquisa. Assim, as situações de esclarecimento e aprofundamento são ricas ocasiões em que o entrevistador se mune de informações que, sem dúvida, auxiliarão no momento de análise dos dados obtidos.

Outro momento importante desse tipo de pesquisa é a devolução, na qual o entrevistado tem acesso a transcrição e pré-análises de suas contribuições. Nesse momento, o entrevistado pode tanto confirmar suas respostas quanto apresentar correções a serem realizadas. Esse feedback deve ser realizado, cuidadosamente, por profissionais que possuem bastante experiência na área.

Perspectivas para a análise de entrevistas, é o título do capítulo 2, o qual trata de impossibilidade de existência de um modelo pronto. As autoras defendem que é, na prática, que o pesquisador define os procedimentos e apresentam quatro momentos de análise da pesquisa embasados em Giorge (1985), a saber: (1) leitura dos depoimentos para se familiarizar com o texto; (2) separação das "unidades de significado", das respostas para seus questionamentos; (3) transformar as expressões cotidianas apresentadas pelos entrevistados em linguagem psicológica e (4) sintetização de todas as unidades de significado elaborando uma síntese.

Outro fator a ser considerado é a de que o entrevistador e o conteúdo de sua investigação estão completamente ligados, impossibilitando uma suposta neutralidade. A compreensão de que o autor faz parte do processo é muito importante, porém, não se pode deixar que isso influencie na subjetividade da pesquisa. Desse modo, não se pode levar pelas distrações que ocorrem com entrevistas realizadas em contextos sociais ou perder elementos importantes que permeiam esse ambiente, assim como, ignorar a prática do registro contínuo, não somente das falas, mas também de elementos extras, suas impressões, percepções, entre outros.

O momento das entrevistas é seguido das transcrições que visa rememorar a interação face a face, vivenciada no ato da pesquisa; após isso, o texto segue como referência para a retranscrição, reavaliação e análise propriamente dita. Para tal análise, a proposta é que o pesquisador realize inúmeras leituras do texto total da entrevista e construa uma categorização dos dados. Cabe lembrar que essa categorização é sempre engendrada das crenças e valores do pesquisador.

O capítulo três intitulado "A dimensão afetiva na situação de entrevista de pesquisa em educação", atenta-se para o tom emocional que essa ação provoca nos envolvidos. As autoras ressaltam a atenção que deve ser considerada pelos jovens pesquisadores inexperientes com relação aos sentimentos, às expectativas e aos preconceitos que podem permear, mas que não devem interferir, primando sempre pelo foco da pesquisa sem desconsiderar o contexto social e cultural do entrevistado.

As propostas apresentadas pelas autoras são de extrema relevância para investigadores na e da educação, "construtores" de conhecimento. A entrevista reflexiva vem ao encontro das concepções de pesquisas mais utilizadas na atualidade mundialmente, ou seja, a compreensão de se colocar no lugar do outro, num processo de alteridade, possibilitando maior entendimento dos fenômenos, apresentados pelos entrevistados. A dinâmica de incluir o pesquisado nos resultados obtidos, além de proporcionar uma interação mais efetiva no processo possibilita mudanças de comportamento e crescimento pessoal e profissional. Ademais atende a uma das mais frequentes queixas da comunidade observadas in loco: que o pesquisador realiza seu trabalho e não retorna com os resultados.

Referências

SZYMANSKI, Heloisa (Org.). A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2018 [ Links ]

Recebido: 22 de Fevereiro de 2019; Aceito: 09 de Março de 2019

Profa. Dra. Tatiane Lebre Dias, Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil), Programa de Pós-Graduação em Educação, Grupo de Pesquisa Corporeidade e Ludicidade - GEPCOL, Orcid: 0000-0002-9515-1578. E-mail: tatianelebre@gmail.com

Mestranda Ana Cláudia Borck, Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil), Programa de Pós-Graduação em Educação, Grupo de Pesquisa Corporeidade e Ludicidade - GEPCOL, Orcid:0000-0002-4705-9638. E-mail: borck6@hotmail.com

Mestranda Keyla Aparecida Fortes de Oliveira, Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil), Programa de Pós-Graduação em Educação, Grupo de Pesquisa Corporeidade e Ludicidade - GEPCOL, Orcid: 0000-0002-5087-9020. E-mail: keyla.fortes@gmail.com

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