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Revista Educação em Questão

versión impresa ISSN 0102-7735versión On-line ISSN 1981-1802

Rev. Educ. Questão vol.58 no.57 Natal jul./sept 2020  Epub 12-Ago-2021

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2020v58n57id21442 

Resenha

Inclusão Escolar versus o peso do diagnóstico no entendimento das diferenças

School Inclusion versus the weight of diagnosis in understanding of differences

Inclusión escolar versus el peso del diagnóstico en la comprensión de las diferencias

Maria Almerinda de Souza Matos1 
http://orcid.org/0000-0002-4776-2155

Natália dos Santos Chaves2 
http://orcid.org/0000-0003-1758-042X

1Universidade Federal do Amazonas (Brasil)

2Universidade Federal do Amazonas (Brasil)


ORRÚ, Silvia Ester. O re-inventar da inclusão: os desafios da diferença no processo de ensinar e aprender. Petrópolis: Vozes, 2017.

A Professora Silvia Ester Orrú é docente da faculdade de Educação da Universidade de Brasília, atua como professora colaboradora na Universidade Federal de Afenas, no Programa de Pós-graduação em Educação e coordena o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Aprendizagem e Inclusão (LEPAI/ CNPq). Em suas publicações científicas, encontramos textos relacionados com a temática da Educação em um contexto inclusivo.

O livro “O re-inventar da inclusão: os desafios da diferença no processo de ensinar e aprender” fundamenta-se teoricamente em autores que integram a corrente filosófica francesa contemporânea, no pensamento pós-moderno e pós-estruturalista. O livro convida os educadores e leitores a fazerem uma revisão crítica sobre a complexidade da inclusão e sobre o modo como pensamos e fazemos a Educação. Defende a necessidade de uma virada teórico-metodológica para que possamos entender de fato o que é e como é incluir, problematizando o peso do diagnóstico médico no entendimento da diferença, seja na escola, ou em outros ambientes formadores. Isso leva o leitor a refletir sobre as diferenças e seus reflexos na sociedade.

O livro está organizado em onze capítulos: 1- O universal e o singular; 2 - O diagnóstico universal e a diferença singular; 3 - A busca da semelhança, da diferença e da cura pelo diagnóstico; 4- As políticas e os problemas –o trato das probidades no seio da escola; 5 - A inclusão menor –pelo microscópio se vê maior entre linhas e fronteiras; 6 - Entre linhas e fronteiras; 7 - A natureza hibris do ser humano, da Educação, da inclusão e a aprendizagem; 8 - Inclusão é coisa de supervivente; 9 - Vozes sem eco: a mãe, a diretora da escola, a professora, as vozes das crianças, a mulher com esclerose múltipla, a moça com Síndrome de Down, a refugiada da Síria, o ex-presidiário, o juiz; 10 -A solidão do excluído em todo o tempo é povoada; 11- Inclusão na diferença: incompletudes.

No primeiro capítulo, critica os vetores que servem como instrumento de poder para universalizar, domesticar, controlar, dominar e segregar o outro na tentativa de normalizar a vida desde os primórdios do século XVII. Isso, com a apresentação de um posicionamento resistente e contrário à lógica do mercado, do produtivismo, do lucro e da manipulação do indivíduo. A leitura desse capítulo é fundamental para a compreensão de conceitos e expressões utilizadas pela autora ao longo da obra, pois aborda uma discussão sob a égide da filosofia da diferença. Fundamenta-se teoricamente nos estudos de Foucault, sobre o poder disciplinar e sua constituição em vetores a partir das políticas de caráter macro e micromolecular, e no conceito de agenciamento de Deleuze.

No segundo e no terceiro capítulos analisa os diagnósticos biomédicos presentes no DSM e no CID (o paradigma universal). Os classifica como mecanismos produtores de exclusão que agrupam as pessoas por patologias, vetores catalizadores da segregação, da classificação, da coisificação do outro, ignorando a presença de componentes históricos e sociais que constituem o ser como singular. Enfatiza a expropriação da escola de sua função social de educar, delegando à medicina o poder de dizer quem pode e quem não pode aprender. Assim, a escola se expropria da Educação para encontrar legitimidade para a segregação e seus mecanismos de exclusão. Fundamentada na obra “Repetição e diferença” de Deleuze, faz um paralelo com o filme X-Men e chama a atenção do leitor para a importância de olhar para a singularidade, a subjetividade e para a multiplicidade que nos constitui como sujeitos únicos.

No quarto e quinto capítulos, aborda leis e documentos que norteiam a Educação no Brasil, principalmente sobre aqueles que tratam do direito de todos à Educação. Afirma que o termo “preferencialmente”, constante nos documentos, abre uma brecha para que mecanismos de exclusão ditem as normas para o ensino. Faz uma crítica aos métodos de ensino pedagógicos e às suas práticas homogeneizadoras que desconsideram a capacidade que cada pessoa tem de aprender em seu próprio ritmo, de acordo com suas singularidades.

Defende, no sexto capítulo, que inclusão é fazer COM, fazer JUNTO e não isolado, segregado. Afirma que a inclusão deve ser problematizada, debatida, para que ninguém seja deixado de fora, que aconteça para além da força da lei, todos os dias, nos mais diversos e minúsculos espaços de aprendizagem. Isso, pela convicção de que seus pressupostos são como uma organização de crenças, uma filosofia de vida. Reverbera a inclusão que acontece na fronteira na linha divisória incluídos/excluídos, que não serve ao interesse do Estado, do capital, mas que materializa o grito dos excluídos, assumindo um papel de agente transformador da sociedade, ameaçando a ordem pré-determinada nas instituições de ensino que moldam o humano. A inclusão não incita a divisão de turmas por classes organizadas a partir da psicometria em um espaço à parte, criado somente para os excluídos.

No sétimo e oitavo capítulos, chama a atenção para o caráter híbrido, misto e diversificado da natureza humana, da educação, da inclusão e da aprendizagem. Afirma que a inclusão é para pessoas que são resistentes, resilientes e, sobretudo, para quem sobrevive um ao outro, configurando-se em uma experiência de vida.

O ponto alto do livro centra-se nas entrevistas realizadas com os “superviventes à inclusão” para ouvir deles o que é a diferença para cada um dos entrevistados e, assim, melhor compreender como eles se fortalecem a partir das próprias dificuldades, superadas ou não. Os capítulos seguintes, que concluem o livro, são pautados em reflexões sobre a inclusão e as diferenças a partir do essencial na fala dos entrevistados. Ressaltamos que a autora não realizou uma análise das falas dos entrevistados, houve um diálogo, uma escuta, um compartilhamento de saberes e vivências.

Podemos concluir que o norte do livro se dá na complexidade da inclusão e da diferença, o que induz a pensar que a diferença é um atributo de todo ser humano, que faz parte condição humana ser diferente, e que é preciso olhar para singularidade existente dentro de cada aluno. Isso nos leva a pensar sobre a forma como fazemos Educação, que não podem existir turmas homogêneas, que precisamos romper com o atual modelo de ensino, com metodologias e currículos inflexíveis. Nos alerta para a importância de rompermos com os padrões homogeneizadores impostos pelo diagnóstico biomédico, pois esta é uma igualdade universal. O texto é escrito em uma linguagem clara e acessível, fundamentado filosoficamente em pensadores como Foucault e Deleuze. É uma leitura indicada para estudantes e, principalmente, para profissionais da área da Educação, porém é recomendável para todos que, direta ou indiretamente, atuam em qualquer espaço formativo e educativo.

Recebido: 21 de Junho de 2020; Aceito: 09 de Julho de 2020

Profa Dra. Maria Almerinda de Souza Matos

Doutora em Educação

Universidade Federal do Amazonas (Brasil)

Departamento de Teorias e Fundamentos-DTF

Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em psicopedagogia Diferencial - NEPPD

Orcid id: https://orcid.org/0000-0002-4776-2155

E-mail: profalmerinda@hotmail.com

Mestranda Natália dos Santos Chaves

Universidade Federal do Amazonas (Brasil)

Programa de Pós-graduação em Educação- PPGE/ UFAM

Professora e Pedagoga na Secretaria Municipal de Educação-SEMED

Pesquisadora no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial- NEPPD

Orcid id: https://orcid.org/0000-0003-1758-042X

E-mail: nataliaschaves@gmail.com

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