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Revista Educação em Questão

versão impressa ISSN 0102-7735versão On-line ISSN 1981-1802

Rev. Educ. Questão vol.58 no.58 Natal out./dez 2020  Epub 16-Out-2020

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2020v58n58id21741 

Artigos

Amor, sexo e distância física: pedagogias do webnamoro na pandemia da Covid-19

Love, sex and physical distance: webdating pedagogies in Covid-19 pandemic

Amor, sexo y distancia física: pedagogías del webnamoro en la pandemia de Covid-19

Alcidesio Oliveira da Silva Junior1 
http://orcid.org/0000-0002-5536-064x

Jeane Félix2 
http://orcid.org/0000-0002-2648-9399

Edvaldo Souza Couto3 
http://orcid.org/0000-0003-4754-0074

1Universidade Federal da Paraíba (Brasil)

2Universidade Federal da Paraíba (Brasil)

3Universidade Federal da Bahia (Brasil)


Resumo

A pandemia da Covid-19 colocou milhares de pessoas em isolamento físico como principal estratégia para conter a contaminação e disseminação do vírus. Essa condição provocou mudanças nos modos de procurar e viver relações amorosas e sexuais, privilegiando os encontros virtuais em sites e aplicativos de paquera. Nesse contexto, o objetivo do artigo é analisar histórias de amor e de sexo de um grupo formado por homens gays usuários do Tinder com a finalidade de identificar pedagogias sexuais resultantes do webnamoro. O argumento central é que as histórias de amor e de sexo desenvolvidas por esse grupo promovem pedagogias sexuais que nos orientam a festejar a vida, cuidar do corpo, explorar outras possibilidades para a paquera e a sexualidade online. O método usado para a pesquisa foi o qualitativo, descritivo e analítico, de cunho netnográfico. Com a pesquisa, concluímos que o webnamoro, em tempo de pandemia, reativa certos ideais do amor romântico como estratégias dos sujeitos para manterem a saúde física e mental.

Palavras-chave: Pedagogias do webnamoro; Covid-19; Tinder; Pedagogias culturais

Abstract

The Covid-19 pandemic has put thousands of people in physical isolation as the main strategy to contain the contamination and spread of the virus. This condition caused changes in the ways of seeking and experiencing sexual and loving relationships, favoring virtual dating on flirting websites and phone applications. In this context, the objective of the article is to analyze love and sex performances of a group of gay men using Tinder in order to identify sexual pedagogies resulting from webdating. The central argument is that the love and sex performances developed by this group promote sexual pedagogies that guide us to celebrate life, take care of the body, and explore other possibilities for online dating and sexuality. The research method was qualitative, descriptive and analytical, nethnographic in nature. With the research, we concluded that webdating, in times of pandemic, reactivates ideals of romantic love as strategies to maintain the physical and mental health.

Keywords: Pedagogies of webdating; Covid-19; Tinder; Cultural pedagogies

Resumen

La pandemia de Covid-19 ha puesto a miles de personas en aislamiento físico como la principal estrategia para contener la contaminación y la propagación del virus. Esta situación causó cambios en las formas de buscar y experimentar relaciones sexuales y amorosas, privilegiando encuentros virtuales en sitios y aplicaciones de coqueteo. En ese contexto, el objetivo del artículo es analizar las actuaciones de amor y sexo por parte de un grupo formado por hombres gays que utilizan el Tinder con la finalidad de identificar pedagogías sexuales resultantes del webnamoro. El argumento central es que las actuaciones amor y sexo desarrolladas por este grupo promueven pedagogías sexuales que nos guían a celebrar la vida, cuidar del cuerpo, explorar otras posibilidades de coqueteo y sexualidad online. El método usado para esta investigación fue cualitativo, de tipo descriptivo, analítico y netnográfico. Con la investigación, concluimos que el webnamoro, en tiempo de pandemia, reactiva ciertos ideales de amor romántico como estrategias de los sujetos para mantener la salud física y mental.

Palabras clave: Pedagogías del webnamoro; Covid-19; Tinder; Pedagogías culturales

Introdução

Em poucos dias, a pandemia da Covid-19 se espalhou velozmente pelos continentes e países, fez milhares de vítimas em grandes centros urbanos, se deslocou para municípios pequenos, se tornou uma ameaça em toda a parte. Sem uma vacina ou medicamentos, a orientação da Organização Mundial da Saúde, governos, instituições e profissionais da saúde aponta para o isolamento físico como a principal estratégia para conter a contaminação e disseminação do vírus. Em poucos dias, tudo mudou: as fronteiras entre os países foram fechadas, o comércio foi suspenso, as escolas, universidades e atividades de entretenimento e lazer foram impedidas de funcionar. Ficar em casa passou a ser uma questão de sobrevivência.

Essa condição provocou intensas mudanças em vários aspectos da vida, sobretudo nos modos de procurar e viver relações amorosas e sexuais. As paqueras, os afetos, os amores e os prazeres sexuais, que nas sociedades conectadas já aconteciam num hibridismo de encontros físicos e virtuais, em de sites e aplicativos, com o avanço da pandemia passaram, para os(as) que vivem em isolamento físico, a ser reinventados apenas nos domínios das redes digitais.

Na pandemia, os sites e aplicativos de relacionamentos se tornaram ambientes disponíveis para os encontros virtuais, perfeitos para o período de isolamento físico em que vivemos. O número de usuários(as) e de interações aumentou e a quarentena passou a ser mais movimentada e divertida para muita gente. Em tempos de coronavírus, as relações humanas sofrem repaginamento, causando aumento da procura por namoro em aplicativos de relacionamento. Um dos aplicativos mais populares de paquera é o Tinder, uma aplicação multiplataforma de localização de pessoas para serviços de relacionamentos online. O Tinder cruza informações de redes sociais digitais, localizando as pessoas geograficamente próximas e indicando as que têm interesse em comum em seus perfis. O aplicativo foi lançado nos Estados Unidos, em 12 de setembro de 2012, e disponibilizado no Brasil no ano seguinte. Inicialmente era um aplicativo de paquera para heterossexuais, mas a população LGBTQI+ logo se fez presente.

O distanciamento físico aumenta as interações virtuais. Tecchio (2020) ressalta que, com a pandemia, as pessoas têm procurado novas formas de se conectar e o Tinder atingiu o maior número de usuários(as) que acessam diariamente a plataforma. O número de mensagens diárias enviadas foi 27% superior em abril, na comparação com a última semana de fevereiro de 2020. O número dos que acessam o aplicativo todos os dias aumentou em 37%. O isolamento físico tem, de fato, afetado o estado emocional das pessoas. Esse crescimento indica que, provavelmente, muitos(as) procuram e encontram nos aplicativos de paquera novas funções: impedidas ou com medo de buscar encontros físicos e sexo casual presencial, agora buscam romance, vínculos afetivos mais estáveis e duradouros, relacionamentos mais sensíveis e profundos e, também, sexo casual virtual. A conversa mais longa pelo aplicativo ajuda a criar maior curiosidade sobre o crush. Mattos (2020) enfatiza que, sem poderem avançar do contato virtual para o encontro presencial, como era de praxe, os(as) usuários(as) de Tinder e outros aplicativos estão se entendendo nas conversas como nunca antes, trocando impressões não apenas sobre si mesmos(as), mas sobre a solidão do isolamento, o tédio de não ter o que fazer, a saudade da família etc.

Nesse contexto, o objetivo do artigo é analisar as histórias de amor e de sexo de um grupo de usuários formado por homens gays no Tinder com a finalidade de identificar pedagogias sexuais resultantes do webnamoro. O argumento central é que as histórias de amor e de sexo, desenvolvidas por esse grupo, promovem pedagogias sexuais que nos orientam a festejar a vida, cuidar do corpo, explorar outras possibilidades para a paquera e a sexualidade online durante o isolamento físico decorrente da pandemia da Covid-19.

O método de pesquisa utilizado foi o qualitativo (CRESWELL, 2011), de cunho descritivo e analítico. Com a investigação, concluímos que o webnamoro, em tempo de pandemia, para esse grupo estudado, reativa certos ideais do amor romântico, que viralizam afetos em tempos imunizados de amor e de sexo, como estratégias dos sujeitos para manterem a saúde física e mental, ao passo que continuam a estabelecer relações afetivas e sexuais.

Aproximações teóricas

A cibercultura nos colocou no contexto da vida digital. Vivemos cada vez mais conectados(as) e é por meio das conexões em rede que construímos a nossa cidadania e as nossas subjetividades. Em nossos tempos, é praticamente impossível estar desconectado(a), porque, mesmo quando não acessamos nossas contas de e-mail ou nossos perfis em redes sociais, eles continuam ativos e, em certa medida, nós também continuamos. Uma vez em rede, nossas atividades corporais, de gêneros e sexualidades são produzidas em ambientes e plataformas online. Vivemos a era das tecnologias móveis, dos contatos efêmeros, na urgência do instante. Nesse cenário, os sites e aplicativos de relacionamentos se popularizaram. Atualmente, é raro encontrar alguém que não busque, ou não tenha buscado e até encontrado, paquera, amor e sexo por meio de algum aplicativo (SILVA; NASCIMENTO, 2020).

A paquera online colocou em destaque o conceito de webnamoro, que pode ser definido como todo e qualquer relacionamento mantido pela internet e/ou pelas redes sociais e aplicativos, podendo ter iniciado nas próprias redes sociais ou fora delas. A principal característica desse tipo de relacionamento é a ausência de contato físico com o(a) parceiro(a). É o mesmo que namoro virtual. Ele só se tornou possível porque, de um lado, temos uma infraestrutura tecnológica, como os computadores, tablets, laptops e smartphones, e as plataformas digitais, como os sites, redes sociais digitais e aplicativos e, de outro lado, pessoas conectadas que desenvolvem comportamentos e modos de ser por meio da vida digital. O webnamoro coloca em movimento formas virtuais de relacionamento afetivo e sexual que, contestados por uns, são vividos intensamente por outros(as), que estabelecem relações passageiras ou duradouras com pessoas dos mais distintos e, às vezes, inacreditavelmente distantes lugares.

Diversos são os conceitos similares que definem essas experiências da paquera online: webnamoro, namoro virtual, sexo virtual, cibersexo etc. Esses conceitos não conhecem consensos, mas têm em comum a perspectiva da vida digital de pessoas conectadas que constroem afetos e trocas amorosas e sexuais, mensagens, informações e conteúdos eróticos, com o fim da excitação sexual e/ou manutenção de relações afetivas, por meio de ambientes online. Em outras palavras, esses conceitos se referem a um conjunto de práticas ou jogos afetivos, amorosos e sexuais, sempre a distância, com o auxílio das comunicações e interações em rede, que atualizam e multiplicam os sentidos dos namoros e relações afetivas em nosso tempo.

Existe um imenso e forte mercado em expansão de serviços em torno do webnamoro. Com a vida pulsando nas múltiplas redes, os corpos e as sexualidades online estão no centro das nossas abundantes poéticas tecnológicas. Por isso, elas ocupam o centro dos nossos questionamentos e desafiam as pedagogias na cultura digital. As construções da eficiência, beleza, juventude, saúde e gozo fazem parte da maximização de si, são estimuladas em toda parte e intimamente estão vinculadas às sexualidades em rede. A sedução se espalha como um serviço que cada um deve oferecer e consumir sem moderação. Com isso, as histórias de amor e de sexo circulam em redes sociotécnicas, marcadas pela visibilidade nas carícias das telas, no brilho efêmero e arrebatador dos gozos ilimitados (COUTO, 2018).

Esse amplo mercado de serviços revela que estamos diante do fenômeno das redes amorosas e sexuais nas telas. Esse fenômeno constitui importantes pedagogias culturais e sexuais que nos orientam e nos ensinam sobre comportamentos e modos de ser online. Ele gera múltiplos discursos e sensações, relações de poder e novos mecanismos de controle, oriundos de distintas fontes e ambientes digitais que se voltam diretamente para os corpos, os gêneros e as sexualidades. Ele expressa e excita jogos sexuais em meio às histórias e reinvenções de si nas vertigens do gozo (LIMA; COUTO; SILVA, 2020). Por seu intermédio, aprendemos sobre novas formas de experimentar amor, relacionamentos, sexo e afeto, a partir de distanciamentos físicos e de interações mediadas por tecnologias com pessoas que podem estar em qualquer lugar do globo.

Nesse sentido, os sites e aplicativos de relacionamentos amorosos e sexuais, como o Tinder, objeto deste estudo, são considerados como fenômenos narrativos da nossa época cibercultural e pandêmica, e como pedagogias culturais que orientam e constroem nossas subjetividades conectadas (CAMOZZATO; CARVALHO; ANDRADE, 2016). O conceito de pedagogias culturais surgiu no século XX com a implicação dos artefatos midiáticos na produção dos sujeitos, nas diversas esferas da vida e das instituições sociais. É uma proposta de investigação a respeito dos espaços que, além da escola, funcionam como produtores de conhecimentos, saberes, formas de pensar e agir (ARROYO, 2012; GIROUX, 2018). Esse conceito emergiu no seio de uma compreensão alargada de educação, que considerava a educação como o meio pelo qual nos tornamos sujeitos de uma determinada cultura (MEYER; MELLO; VALADÃO; AYRES, 2006), aprendendo e ensinando formas adequadas e desejadas de ser e estar em sociedade nos transformando, por exemplo, em sujeitos de gênero e de sexualidade.

As interações ciberculturais abrem novos caminhos para as pedagogias culturais. O frequente acesso à internet propicia a abertura de novos meios de comunicação e sociabilidade, além do estabelecimento de novas culturas que estruturam redes de produção de saberes, constroem formas específicas de práticas pedagógicas carregadas de significados, comportamentos e práticas interativas que difundem informações, signos e símbolos (COUTO, 2014).

Os sites e aplicativos de relacionamentos, como pedagogias culturais, permitem novas experiências de conexão que ressignificam nossa sociabilidade. Em meio à pandemia do novo coronavírus, as interações, as trocas de afetos e a busca por amor e sexo online são celebrações importantes, um escape para esse momento amargo. Há, nesses espaços, uma pedagogia cultural que ensina sobre determinadas formas de se comportar para atrair um determinado perfil de parceiro(a), para atrair sexo casual ou romance.

Aprende-se, nesse espaço, que determinadas fotos são mais atraentes do que outras para chamar atenção de um perfil específico de possíveis pares amorosos e/ou sexuais. Aprende-se que ao descrever-se com determinadas características ampliará a possibilidade de dar matches. Enfim, tomamos o Tinder como uma pedagogia cultural e, também, como pedagogia de gênero e de sexualidade porque, nesse espaço, há diversas pistas educativas que conformam, adequam e ajustam formas de se comportar, além de confrontar, escapar e reinventar novas formas de ser e estar nesse espaço.

De toda sorte, seja para se apresentar conforme o perfil esperado socialmente ou para contrapô-lo, o Tinder é utilizado como espaço para atingir determinadas finalidades afetivas e sexuais e, para utilizá-lo de modo mais eficiente, é preciso aprender a estar nesse espaço. Alguns corpos, ou imagens de corpos, provocam mais matches que outros, alguns perfis são mais compatíveis com o que se deseja naquele espaço. Assim, abre-se uma janela de aprendizagens para quem quer ter sucesso em encontrar amor e/ou sexo a partir do Tinder.

Que tempos são esses em que a idealização do amor romântico continua povoando as nossas imaginações? Quais práticas culturais atravessam os(as) usuários(as)s dos aplicativos de relacionamento no período da pandemia constituindo-os como sujeitos de/com desejos? Que aprendizagens circulam entre estes homens em tempos de isolamento social? Algumas perguntas nos mobilizam para compreendermos as pedagogias sexuais que se desenvolvem entre os usuários do Tinder em meio à quarentena forçada pelo Covid-19, surgidas, em especial, a partir do pressuposto de que as novas tecnologias se apresentam como produtoras de subjetividades, sobretudo diante das atualizações do amor romântico.

O amor romântico é uma potente estratégia de subjetivação em uma sociedade como a nossa. Ele alimenta o caríssimo mercado dos casamentos, enche de pacientes consultórios de terapeutas e psicólogos(as), vende os mais variados produtos e, principalmente, uma idealização das relações afetivas. Em nome do “felizes para sempre”, pessoas se submetem a relações que podem ser sem prazer e que esvaziam a vida de sentido e plenitude, mas que as mantêm dentro de amarras sociais tão desejáveis que parecem valer a pena de qualquer forma.

Para Costa (1999, p. 133), “[...] o romantismo amoroso é uma busca de satisfação sexual e sentimental nem mais nem menos legítima do que outras às quais damos as costas por que estamos empenhados, dia e noite, em amar e ser amados”. Segundo o autor, “[...] o culto irrefletido ao amor romântico é verdade, pode nos levar aos céus do êxtase apaixonado. Mas também pode nos fazer viver, de modo quase permanente, no inferno de uma vida sem alegria, dilacerada pela falta de sentido e de esperanças” (COSTA, 1999, p. 134). Apesar disso, o amor romântico é lucrativo em termos econômicos, naturaliza a submissão religiosa, e movimenta o desejo de muitas pessoas, o que parece ter se intensificado nesses tempos de Covid-19 para os homens participantes dessa pesquisa.

Como ressalta Foucault (2004, p. 236), a subjetividade é “[...] a maneira como o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo”. Podemos articular essas reflexões com os modos como os homens se constituem nos aplicativos como sujeitos que amam, desejam e expressam suas vontades de forma relacional e carregada de sentidos, revelando-se nos seus modos de agir e de pensar nesses espaços online. É importante destacar que compreendemos os aplicativos como artefatos produtores de subjetividades que se inscrevem nos contextos sociais contemporâneos como mais uma instância de atendimento às expectativas de determinado tempo histórico. Não nos aliamos, portanto, a um certo determinismo tecnológico, mas enxergamos o desenvolvimento tecnológico em um contexto sociocultural e econômico mais amplo. Para Sibilia:

Esses dispositivos que usamos hoje, entre muitas outras coisas, para exercitar as várias formas de erotismo on-line, são o resultado de mudanças históricas mais profundas e básicas, que abalaram nossos valores e transformaram os modos de vida; e isso, portanto, nos levou a inventá-los em busca de outras maneiras de criar contatos afetivos e sexuais (SIBILIA, 2015, p. 86, tradução nossa).

Dessa forma, os aplicativos de relacionamento, como o Tinder, “[...] não são mais do que consequências das transformações que afetam as subjetividades e os modos de se relacionar com os outros e com o mundo” (SIBILIA, 2015, p. 86, tradução nossa). Eles são inscritos, segundo Han (2017a, p. 7) em um mundo onde o amor estaria cada vez mais se erodindo, em função “[...] da infinita liberdade de escolha, da multiplicidade de opções e da coerção de otimização”. Tempos esses caracterizados pelas barreiras que se erguem contra as diferenças em função da homogeneização e da mercantilização dos afetos, aceleradamente colocados em uma máquina desejante e efervescente, porém desembaraçada em anseios por vínculos mais duradouros. Isso destoaria de uma experiência de amor, já que incluiria a duração de uma entrega como uma condição para a sua realização (BADIOU; TRUONG, 2013). A despeito desses elementos, o amor ainda é o desejo de muitas pessoas, inclusive dos homens gays, usuários do Tinder, que participaram dessa pesquisa.

Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida por meio do método qualitativo, descritivo e analítico (CRESWELL, 2011), de cunho netnográfico (FRAGOSO, RECUERO; AMARAL, 2011). Esse método foi escolhido porque permite construir o material empírico por meio de textos, sons e/ou imagens, quase sempre por meio de observações e entrevistas, e análises interpretativas. O método também indica que a atuação do(a) pesquisador(ra) não é impessoal, mas inserida na pesquisa desde a seleção do tema, dos percursos teóricos, da construção e da análise dos dados. Inclui, portanto, a personalidade do(a) pesquisador(a), norteado(a) por criatividade e autonomia interpretativa, uma vez que o interesse está pautado na expressão dos sujeitos ou ambientes, de modo espontâneo, sobre determinado fenômeno ou situação (STRAUSS; CORBIN, 2008). Esse método é de cunho netnográfico porque permite etnografias virtuais em redes sociais digitais (MERCADO, 2012), adequado, portanto, à investigação de práticas sociais na internet e dos seus significados para os participantes (HINE, 1998).

Com essas orientações metodológicas, a produção do material empírico para a pesquisa se deu por meio de uma entrevista individual, a partir de um questionário com algumas questões pré-formuladas e acompanhadas de outras que surgiram no momento da entrevista com os 7 (sete) usuários do aplicativo, conforme o quadro descritivo a seguir. Dessas entrevistas, 4 (quatro) foram realizadas via WhatsApp e 3 (três) no próprio Tinder. Apenas uma foi transcrita, porque o usuário enviou áudios ao responder as perguntas. Não utilizamos os nomes verdadeiros dos entrevistados, mas sim outros nomes/apelidos, escolhidos pelos próprios usuários, para resguardar suas identidades.

Quadro 1 Os participantes da pesquisa 

Nome Idade Cidade Orientação sexual Ocupação
Lucas 23 anos Natal/RN Gay Estudante
Bento 35 anos Canoas/RS Gay RH/Estudante
Dan 25 anos Curitiba/PR Gay Designer
Davi Ferraz 28 anos Arcoverde/PE Gay Servidor público
Marcos Pessoa 34 anos João Pessoa/PB Gay Professor
Oriol 34 anos Recife/PE Gay Terapeuta Ocupacional
Ralff 21 anos João Pessoa/PB Gay Vendedor

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

Para proceder a interpretação do material empírico agrupamos as informações em torno de algumas palavras-chave: webnamoro; pedagogias culturais e sexuais; cuidado de si. Essas palavras-chave geraram os temas apresentados e analisados a partir dos quais estruturamos o argumento central do artigo.

Itinerâncias no Tinder

Trazemos aqui relatos dos participantes desta pesquisa em torno do amor e do sexo em meio à pandemia da Covid-19, compreendendo que a todo momento, atentos às movimentações exteriores às suas telas e quartos, formas de pensar as relações são (re)construídas por meio de uma pedagogia nesses espaços, visto que esta “[...] se refaz a cada espaço-tempo, adquirindo novas marcas, operando a partir de outros elementos, tomando outros formatos e expandindo-se para além do comumente aceito e esperado” (CAMOZZATO, 2018, p. 109).

Localizando os aplicativos de paquera como essas novas composições de espaço-tempo na contemporaneidade, líquida por sua fluidez e não conformidade com modelos sólidos e ortodoxos (BAUMAN, 2004), o que nos dizem esses homens quanto aos amores em tempos inconstantes, frágeis, (des)conectados e, agora, pandêmicos? As respostas dos participantes desta pesquisa a essa pergunta, bem como as nossas análises, foram organizadas em três eixos temáticos: webnamoro, pedagogias culturais e sexuais e cuidado de si, que passamos a apresentar.

Webnamoro

Compreendermos o webnamoro como um produto dos tempos contemporâneos evidenciado nas práticas afetivas e/ou sexuais a partir dos aplicativos de paquera pela internet. Nesse sentido, alguns dos nossos entrevistados apontaram em suas falas que a pandemia trouxe mudanças na forma como enxergavam e percebiam os relacionamentos. São modos de existências ressignificados em tempos de distanciamento físico, mas que circulam, criando novas formas de interagir em um território de encontros virtuais. Nesses tempos de Covid-19, os depoimentos dos entrevistados apontam para uma ampliação da necessidade de conversar, compartilhar a experiência de estar em confinamento, como é possível perceber na seguinte fala:

Eu estou achando que as pessoas no Tinder estão mais atenciosas. Eu tbm estou, a comunicação tá fluindo... percebo a presença e reciprocidade em 60%. O Covid mexeu com as gays. Tá muito estranho. Talvez estamos vivenciando um intenso mal estar. E estamos somatizando, trazendo para o corpo, e que nesse momento de excesso de luz, quarentena, estar em silêncio, dispara a necessidade de narrar o sentido... (ORIOl, 2020).

Para esse entrevistado, há uma mudança na forma das pessoas se relacionarem no Tinder devido ao atual isolamento físico motivado pela pandemia, o que tem se traduzido em maior interatividade e atenção. Essas atuais formas de sociabilidade têm sido produzidas, em nosso ponto de vista, em um momento em que a maioria de nós tem sido obrigada a estar em casa, a evitar contatos físicos e aproximações. Segundo Preciado (2020, p. 183, tradução nossa), com a situação causada pela Covid-19, “[...] nossas máquinas portáteis de telecomunicações são nossos novos carcereiros e o interior de nossas casas tornaram-se a prisão macia e ultra-conectada do futuro”.

Assim, as relações no Tinder – conhecidas entre os/(as) seus/suas usuários(as) pela falta de diálogos, desejo exclusivo de colecionar matches, exibição mútua e pelos encontros sexuais casuais – se tornaram espaços para diálogo e troca de experiências sobre a vida em confinamento. Isso se configura como uma mudança nas práticas de sociabilidade que hoje se encontram restritas, em grande parte, às formas virtualizadas de comunicação. O tempo dirá se isso terá continuidade ou, se logo que voltarmos a viver em aglomerações presenciais, tudo voltará a ser como antes.

Nossa observação no Tinder apontou para uma proliferação de perfis de homens cujas mensagens apontam para buscas por webnamoros, angústias relativas à solidão da quarentena e expectativas de encontros mais duradouros pós-quarentena, mostrando que “[...] o nosso ciberterritório é o das mensagens, produtos, saberes e afetos que deslizam entre os terminais eletrônicos” (COUTO; COUTO; CRUZ, 2020, p. 209). Ainda que pareça chamuscada pela quarentena, a esperança na busca de amores em tempos de solidão tem produzido aprendizagens diversas, despertando desejos e esperanças de um recomeço, apontando que “[...] o coronavírus está pondo à prova nosso sistema [...]” (HAN, 2020, p. 97, tradução nossa), o nosso sistema regulador dos sujeitos e de seus anseios amorosos. Nas palavras de outro entrevistado:

Tenho refletido muito sobre algo mais sério, mas para um pós-quarentena. Acredito que eu irei mudar muita coisa depois da quarentena. Pensar em juntar mais dinheiro, ter uma reserva pra algo que possa acontecer; pensar mais se vale a pena gastar com certas coisas; talvez ter um relacionamento fixo seja melhor, nesses momentos ter alguém pra se ajudar [...] Estive bem carente, mas de alguém do que exatamente sexo. Dormir junto, conversar, fazer nada junto, cafuné, arrumar a casa junto... (DAVI FERRAZ, 2020).

O período da quarentena tem acentuado a solidão dos entrevistados e os discursos em torno do amor romântico tem se multiplicado em vários perfis e conversas. Ao narrar o seu ideal de relacionamento (“dormir junto, conversar, fazer nada junto, cafuné...”), Davi Ferraz produz a si mesmo em consonância com o esperado modelo da idealização do amor romântico, um “[...] ideal de perfeição que promete a completude numa perfeita adequação mente e corpo [...]” (MENEZES, 2007, p. 565), sinalizando que as lições que têm experimentado transformam a sua forma de olhar para os relacionamentos.

Os trechos de entrevistas com Oriol e Davi Ferraz nos dão pistas para pensar que as formas de sociabilidade não são lineares, não são fixas e se movimentam de acordo com os arranjos culturais vivenciados em determinados momentos. As falas apontam para a multiplicidade de formas de ser e estar nos relacionamentos, nas redes sociais digitais e nos aplicativos de paquera, “[...] explorando oportunidades de novas maneiras de ser, novos campos de experiência, prazeres, relações, modos de viver e pensar [...]” (OKSALA, 2011, p. 1124). Evidenciamos uma autocriação sustentada nas relações produzidas em torno de si e do outro, potencializando (re)descobertas. Tomamos essas múltiplas formas de existência como aprendizagens que os usuários do Tinder desenvolvem na experiência de usabilidade do aplicativo. Encaramos essas aprendizagens (e as diferentes formas de ensiná-las) como pedagogias culturais e sexuais às quais passamos a apresentar.

Pedagogias culturais e sexuais

Ao compreendermos, em acordo com Camozzato (2018, p. 109), que a pedagogia “[...] se refaz a cada espaço-tempo, adquirindo novas marcas, operando a partir de outros elementos, tomando outros formatos e expandindo-se para além do comumente aceito e esperado [...]”, lançamos olhares para o Tinder na captura dos processos pedagógicos que ali se movimentam. Os depoimentos dos nossos entrevistados sinalizam para o quão potentes são os aplicativos de paquera como pedagogias culturais que produzem entre os usuários subjetividades e novas experiências de si, como também pedagogias sexuais, ou seja, “[...] um conjunto de métodos, procedimentos e técnicas que garantem a adaptação de conteúdos informativos e educativos sobre os comportamentos sexuais, os prazeres e os desejos” (LIMA; COUTO; SILVA, 2020, p. 4). Nessa perspectiva, questionados se o isolamento social mudou de alguma forma seu modo de enxergar os relacionamentos e se tais mudanças seriam frutos de novas aprendizagens no lidar consigo e com o outro e, também, se surgiu algum desejo de encontrar algo mais sério nesse tempo, um entrevistado respondeu:

Sim, com certeza. Você meio que repensa [...] em não ter um relacionamento vazio. Tipo só pegação, essas coisas. Ter uma pessoa e tal, poder confiar e não sair pegando todo mundo. Quando se fica em isolamento a gente para pra pensar se está valendo a pena no caso a pegação (RALFF, 2020).

A fala de Ralf corrobora com nosso argumento de que, em tempos de Covid-19, os homens gays usuários do Tinder têm repensado os modos de se relacionar, questionando o “relacionamento vazio”. Suspeitamos que o isolamento físico propiciado pela quarentena tem motivado um desejo de estar junto presencialmente e que isso ocorre porque, em uma sociedade como a nossa, somos ensinados(as), a partir ideal do amor romântico, que precisamos ter alguém para partilhar a vida, para “poder confiar e não sair pegando todo mundo”. Ter com quem conversar e trocar experiências são “[...] repercussões psicológicas que o distanciamento social pode promover” (FARO; BAHIANO; NAKANO; REIS; SILVA; VITTI, 2020, p. 4). Na perspectiva de investir em cuidados consigo e entrar em harmonia ou colisão como o “amor da sua vida”, outro entrevistado disse:

Às vezes a carência bate e tenho vontade de encontrar alguém, trocar uns amassos etc. Porém, esse ano, eu iria parar para investir mais em mim. Cuidar tanto da minha saúde mental e física. Então eu tinha descartado planos de conhecer alguém. Como eu já tive muitas experiências, na maioria ruins, eu meio que sempre me questiono: será que esse cara realmente é o amor da sua vida? (LUCAS, 2020).

Os depoimentos de Ralff e Lucas reafirmam que as buscas por relações mais estáveis, mesmo em aplicativos costumeiramente relacionados ao sexo recreativo, se tornam mais frequentes em momentos críticos, como o isolamento social, indicando que as práticas sociais que acontecem em ambientes virtualizados rompem com as limitações impostas ao pleno trânsito do corpo físico, produzindo, pela extensão mundial da internet e das tecnologias digitais, uma “[...] nova gestão semiótico-técnica digital” (PRECIADO, 2020, p. 172, tradução nossa). E é assim que Lucas, mesmo admitindo suas experiências ruins no aplicativo, e com o propósito de dedicar um ano para cuidar de si, resolve voltar ao Tinder no contexto da pandemia. Isso revela a esperança de encontrar um amor a cada match e sinaliza transformações da ordem do afeto que têm sido provocadas no período de isolamento físico.

Compreendemos que isso é uma adaptação do mito do amor romântico para os tempos presentes, pois na contemporaneidade as práticas de capitalização do amor têm se intensificado e uma nova economia dos desejos – e dos afetos – tem se materializado por meio de relacionamentos mais fugazes, que tendem à homogeneização, inconstantes e sem erotismo. Para Han (2017a, p. 8), “[...] no inferno do igual, que vai igualando cada vez mais a sociedade atual, já não mais nos encontramos, portanto, com a experiência erótica. Essa experiência pressupõe a assimetria e exterioridade do outro”. Se o mito do amor romântico se estrutura em função do sacrifício, da completude perfeita e da perda da razão de viver pela ausência do(a) outro(a) (MENEZES, 2007), não acreditamos que seja valorizado em uma sociedade da positividade que tem organizado a alma humana de forma nova, pois, “[...] no curso e empuxo de sua positivação, também o amor é nivelado em um arranjo de sentimentos agradáveis e excitações complexas e sem consequências” (HAN, 2017b, p. 19).

O filósofo argumenta que a experiência do amor só se sustenta por meio da diferença, ideia que também dialoga com as reflexões de Badiou; Truong (2013), que compreendem que os aplicativos de relacionamento acabam desenvolvendo uma concepção securitária de amor.

[...] trata-se do amor com seguro total: você vai ter o amor, mas terá tudo tão bem planejado, tão bem e previamente selecionado seu parceiro, teclando na internet – terá, obviamente, foto, gostos detalhados, data de nascimento, signo etc –, que, ao termo dessa imensa combinação, poderá concluir: Com este vai dar certo, não corro o risco! (BADIOU; TRUONG, 2013, p. 11-12).

A solidão de muitos homens que encontramos nos espaços de sociabilidade gay da internet apontam, portanto, para uma certa inadequação da idealização do amor que não corresponde às práticas culturais construídas reiteradamente nesses espaços, pois “[...] em vez de servir à causa de ampliar a quantidade e melhorar a qualidade da integração humana, da compreensão, da solidariedade recíprocas, a web facilitou as práticas de isolamento, separação, exclusão, inimizade e conflito” (BAUMAN; LEONCINI, 2018, p. 70). Contudo, o isolamento físico promovido pelo contexto da Covid-19 desenha um paradoxo pois, ainda que habitualmente tenhamos a formação de nichos e dificuldade na aceitação das diferenças em ambientes online, a solidão, o medo e a angústia que atormentam a sociedade têm amenizado as barreiras colocadas entre os usuários dos aplicativos de paquera, promovendo novas aprendizagens em torno dos afetos. Os usuários, que antes buscavam no aplicativo sexo casual passaram a desejar relações afetivas e estáveis.

As falas de nossos entrevistados também nos mostram que as pedagogias afetivas e sexuais que se movimentam por meio das tecnologias na pandemia não respeitam os limites do corpo físico, ampliando as formas de amar e de se sentir acalentado em tempos tão gélidos. As novas apropriações do tempo-espaço apontam para um corpo estendido para além da materialidade agora forçadamente encerrada pelo vírus. Essa experiência de isolamento físico e da interação no Tinder nesse contexto fortalecem o argumento de que nossos corpos são muito mais do que a simples materialidade, visível, tocável. Assim, seguimos as trilhas deixadas por Haraway (2009, p. 92) quando pergunta: “[...] por que nossos corpos devem terminar na pele? Por que, na melhor das hipóteses, devemos nos limitar a considerar como corpos, além dos humanos, apenas outros seres também envolvidos pela pele?”. Nossos entrevistados nos ajudam a alargar a compreensão de que corpos são também construídos por desejos, sensações, pela busca – nunca linear ou fixa – por conforto, companhia, alegrias, prazeres.

Assim, compreendemos que as práticas ciberculturais de nosso tempo se tornaram um território amplo para a composição de novas subjetividades (CARVALHO; POCAHY, 2020), também incluindo as formas de encontrar pessoas para o desenvolvimento de vínculos mais sólidos, em uma mecanização de si e uma humanização das/nas telas em produção ciborgue contínua, visto que não temos mais clareza de “[...] onde termina o humano e onde começa a máquina” (SILVA, 2009, p. 10). Com a internet, as aprendizagens se movimentam a todo momento visando uma sensibilidade a ser captada por meio das telas, como nos mostra o trecho da fala de outro entrevistado:

Você encontra uma pessoa legal, sempre tu que dá o “oi”, que dá “bom dia”, que dá o “boa noite”, que deseja, que puxa conversa, tu não percebes o interesse do outro lado de estar conversando contigo. Eu acho isto muito horrível, muito frio, muito chato... tu sempre que tem que ter a iniciativa. E isto ficou bem mais evidente neste período, as pessoas pensam “mais um”, conversou com “mais um”, sabe? Tu só foi “mais um” na vida dela. Então, eu não tenho essa pretensão de ser mais um... (BENTO, 2020).

Bento nos mostra que, para suprir a ausência dos olhares, da entonação de voz e dos gestos denunciadores captados em encontros offline, os usuários dos aplicativos de paquera acabam lançando mão de outros recursos e aprendem a perceber o interesse do outro por meio da linguagem e das interações cotidianas, construindo subjetividades na presença do olhar do outro (BRUNO; ROSA, 2004). Em outros termos, aprendem a ler o comportamento do outro e a se comportar dentro de determinados padrões para ser mais atraente e mais interessante. É um jogo no qual se aprende a jogar enquanto se joga. É uma aprendizagem pelos sinais, pelos gestos, pelas palavras. Aprendizagem pelas sensações que se manifestam no contexto de um artefato cultural, dispositivo de pedagogias culturais e sexuais.

Percebemos, por meio destas estratégias, “[...] de um lado a mecanização e a eletrificação do humano; de outro, a humanização e a subjetivação da máquina. É da combinação desses processos que nasce essa criatura pós-humana a que chamamos ciborgue” (SILVA, 2009, p. 12). Como uma eletricidade que corre por todos os lados, os afetos se transmutam e as expectativa de um amor em tempos de pandemia se virtualizam em bytes, se organizando em experiências digitalizadas, pois, para estes usuários, o importante é que “[...] a morte não nos pesque amontoados de medo, obedecendo a ordens idiotas, que nos pesque beijando-nos, fazendo amor e não guerra” (GALINDO, 2020, p. 127, tradução nossa). Compreendemos que o uso dessas estratégias se configura como processos educativos manifestados, entre outros aspectos, pela busca do cuidado de si, sobre o qual falaremos a seguir.

Cuidado de si

Os trechos das entrevistas que realizamos, nas trilhas do webnamoro, e das pedagogias culturais e sexuais nelas presentes, também apresentam pistas para pensarmos que nossos entrevistados estão aprendendo o exercício de cuidarem de si. O cuidado de si, na perspectiva com que aqui operamos, baseia-se em Foucault (2010) que o compreende como um conjunto de práticas e técnicas desenvolvidas pelos indivíduos nas relações consigo, mas também nas relações com os outros e com o mundo. Para o autor, trata-se de “[...] um certo modo de encarar as coisas, de estar no mundo, de praticar ações, de ter relações com o outro” (FOUCAULT, 2010, p. 11). Nessa direção, percebemos que o contexto de isolamento físico propiciado pela pandemia da Covid-19 tem propiciado o cuidado de si às pessoas, estimuladas pela necessidade de “ficarem bem” e de cuidarem, especialmente, da sua saúde mental.

Reconhecemos que o isolamento físico não é uma experiência fácil de lidar. Essa experiência tem desencadeado diversos problemas de saúde mental. De acordo com Faro, Bahiano, Nakano, Reis, Silva e Vitti (2020, p. 4), o isolamento físico, “[...] apesar dos benefícios que traz, em função da contenção da doença, a quarentena implica, muitas vezes, a vivência de situações desagradáveis que podem ocasionar impactos na saúde mental dos envolvidos”. Para minimizar esses efeitos, é preciso lançar mão de estratégias para sentir-se bem diante das incertezas que ainda vivenciamos, entre elas, quanto tempo durará a pandemia e como enfrentaremos seus efeitos devastadores. Diante disso, ao ser perguntado se a pandemia impactou seu cotidiano, outro entrevistado afirmou:

Impactou sim, porque dá um medo. A gente fica assim, tipo, “ah, beleza, vou ali ter um orgasmo e volto com Covid” (risos), então, assim, não vale o preço, sabe? [...]. Mas é verdade sim, impacta com certeza... dá medo, né? A gente fica assim, medo não é bem a palavra certa, a gente fica com um pouco de precaução, a gente fica um pouco receoso e eu tô lidando com isso da melhor maneira possível (MARCOS PESSOA, 2020).

Na sequência, perguntamos se nosso entrevistado estaria se cuidando nesse momento e como.

Tentando focar no meu trabalho, nos meus textos, nas minhas leituras, tomando um bom vinho... agora, por exemplo, eu estou tomando uma espumante maravilhosa ouvindo David Guetta e relaxando, buscando outras formas de prazer que não esse que é maravilhoso, que é o corpo do outro e, isso, com certeza, é muito importante na minha vida, aí estou buscando outras alternativas. E esperando, né? [...] Meditação, yoga, um bom vinho, uma boa música, cozinhar, ler, acho que essas alternativas que tô buscando (MARCOS PESSOA, 2020).

Os excertos da fala de Marcos Pessoa indicam que o contexto de isolamento físico tem provocado mudanças na sua rotina. Outro entrevistado, afirmou que o usa o Tinder como apoio para a vida que se vive no “mundo real”. Em suas palavras: “Eu tenho muitos dates porque eu não sou muito de coisas virtuais. Isso daqui é apenas um auxiliador dos relacionamentos no mundo real. É tentando e arriscando” (DAN, 2020).

Nesse trecho da fala de Dan, percebemos o cuidado de si operando numa perspectiva de “vir a ser”, de uma separação entre o que se vive no Tinder e a “vida real”, como se a vida não fosse o que vivemos e experimentamos a todo momento. Ao mesmo tempo, essa fala nos sinaliza uma pista de cuidado consigo, em termos de relacionamento, quando ele diz que se vive “tentando e arriscando” e que o Tinder seria um “auxiliador” nesse processo, indicando que é mais cuidadoso com a forma de se relacionar via aplicativo e fora dele. Ele busca cuidar de si, elaborando suas relações consigo e com o mundo, num processo de autoproteção. De acordo com Gros (2008, p. 132), “[...] o cuidado entre o eu e o mundo é constitutivo da ação, mas de uma ação regulada, circunstanciada, refletida. Não se cuida de si para escapar do mundo, mas para agir como se deve”. Nas falas de Marcos Pessoa e Dan podemos observar o exercício de estratégias de cuidado consigo para viver nesse mundo em isolamento físico, como uma forma de estar bem quando esse momento passar.

Conclusões

O contexto do isolamento físico, vivenciado nesses tempos de Covid-19, demanda aprendizagens novas: lidar com o afastamento das pessoas, de amigos(as) e familiares; trabalhar remotamente; estar em casa na maior parte do tempo; higienizar tudo o que entra em nossas casas; utilizar álcool em gel e máscaras de proteção individual, entre tantas outras aprendizagens cotidianas que o atual contexto tem exigido. O vírus mortal, que tem ceifado a vida de tantas pessoas ao redor do mundo, também incide nas formas das pessoas se relacionarem, inclusive por meio dos aplicativos de paquera. Este nosso estudo nos permite um conjunto de conclusões.

Destacamos como primeira conclusão de que as falas de nossos entrevistados dão pistas para pensarmos que o isolamento físico tem modificado a forma como alguns desses homens gays lidam com o aplicativo, passando a procurar por relações mais duradouras e por redes de apoio social, como estratégia para manter a própria saúde mental.

A segunda conclusão em destaque é que, com base nos relatos desses entrevistados, podemos elencar três temáticas presentes nos seus depoimentos para refletirmos a força pedagógica que se movimenta nesses espaços: 1) a pandemia proporcionou uma ressignificação na forma desses homens enxergarem os relacionamentos afetivos e/ou sexuais mediados pela internet, o webnamoro, ampliando a necessidade dos usuários de conversarem e compartilharem a experiência de estar em confinamento. 2) A restrição do contato físico e a solidão decorrente do esvaziamento dos espaços tradicionais de paquera impulsionam o exercício de pedagogias culturais e sexuais no aplicativo, alterando disposições afetivas e os modos como vivenciam os prazeres, especialmente por meio de experiências online; e 3) Uma série de práticas de cuidado de si são percebidas no cotidiano desses usuários como formas de lidar com a angústia, a solidão, o medo e as incertezas dos tempos de pandemia.

Por fim, destacamos a terceira conclusão a respeito dos modos de viver o webnamoro que reativam certos ideais do amor romântico como cuidado de si e estratégias dos sujeitos para manter a saúde física e mental. Isso não quer dizer, necessariamente, que esses ideais perdurarão no pós-pandemia. Mas indicam que, no contexto atual, o amor e o sexo nas carícias das telas resultam de muitas fantasias e imaginários que impulsionam nossas atividades no aplicativo. O amor romântico aqui não deve ser visto apenas como uma regressão a valores considerados tradicionais, mas como um modo inovador de construir subjetividades afetivas e sexuais durante a pandemia da Covid-19, quando nossos encontros e gozos resplandecem no brilho efêmero das telas digitais.

Esses resultados do nosso estudo sugerem que a pandemia da Covid-19 promove intensas modificações na vida privada e social das pessoas conectadas. Em sites e aplicativos de redes sociais reinventamos atividades corporais e sexuais, construímos itinerâncias da paquera em aplicativos de relacionamentos, resgatamos e redimensionamos valores e modos de ser no mercado digital do amor e do sexo. Tais resultados também despertam reflexões para a condição de uma possível vida sexual e emocional mais saudável, para o cuidado e a reinvenção de si durante e no pós-pandemia.

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Recebido: 15 de Julho de 2020; Aceito: 10 de Agosto de 2020

Ms. Alcidesio Oliveira da Silva Junior

Programa de Pós-Graduação em Educação

Universidade Federal da Paraíba (João Pessoa – Brasil)

Grupo de Pesquisas em Estudos Culturais e Arte/Educação – GPECAE/UFRPE/CNPq

Laboratório de Experiência, Visualidade e Educação – LEVE/UFPE/CNPq

Orcid id: https://orcid.org/0000-0002-5536-064x

E-mail: ateneu7@gmail.com

Profa. Dra. Jeane Felix

Universidade Federal da Paraíba (João Pessoa – Brasil)

Programa de Pós-Graduação em Educação

Grupo de Pesquisa Gênero, Educação, Diversidade e Inclusão – GEDI/UFPB

Grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogia, Trabalho Educativo e Sociedade – GEPPTES/UFPB

Orcid id: https://orcid.org/0000-0003-4754-0074

E-mail: jeanefelix@ce.ufpb.br

Prof. Dr. Edvaldo Souza Couto

Universidade Federal da Bahia (Salvador – Brasil)

Programa de Pós-Graduação em Educação

Grupo de Pesquisa Educação, Redes Sociotécnicas e Culturas Digitais – EDUTEC

Orcid id: https://orcid.org/0000-0002-2648-9399

E-mail: edvaldo@ufba.br

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