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Revista Educação em Questão

versão impressa ISSN 0102-7735versão On-line ISSN 1981-1802

Rev. Educ. Questão vol.60 no.63 Natal jan./mar 2022  Epub 22-Fev-2023

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2022v60n63id28281 

Resenha

Aurora digital, nossas vidas além do Black Mirror

Digital aurora, our lives beyond Black Mirror

Aurora digital, nuestras vidas más allá de Black Mirror

Thatiany Soares Correa1 
http://orcid.org/0000-0003-2907-054X

Danilo Garcia da Silva1 
http://orcid.org/0000-0003-0477-3097

1Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil)

Aurora digital, nossas vidas além do Black Mirror. Traduzido por Simone Ceré.. ATTIMONELLI, Claudia; SUSCA, Vincenzo. Porto Alegre: Sulina, 2021.


O livro “Aurora Digital, nossas vidas além do Black Mirror”, dos autores Claudia Attimonelli e Vincenzo Susca, oferece um debate sociológico sobre um tema dos mais atuais, as poderosas imagens de um imaginário social de futuro.

Claudia Attimonelli é doutora em Teoria da Linguagem e Ciência dos Signos e professora de Cinema, Fotografia e Televisão na Universidade Aldo Moro de Bari, Itália. Vincenzo Susca é professor de Sociologia do Imaginário na Universidade Paul-Valéry (Montpellier, França), pesquisador no Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano e no McLuhan Fellow na Universidade de Toronto. É também diretor editorial dos Cahiers européens de l’imaginaire.

Composto por quatro capítulos, o livro se desenvolve através da análise e expõe, por um lado, a sintonia da série inglesa com os dilemas e os desafios dos nossos dias e, por outro, a ressonância com a boa revisão do pensamento sociológico contemporâneo.

Para Attimonelli e Susca: “Black Mirror é o pesadelo mais atual da época contemporânea, uma antecipação fenomenal e fenomenológica de nossa atualidade”. Uma série que se apropria das realidades tecnológicas à disposição no presente e especula as circunstâncias sombrias do caráter humano e dos dilemas que se abrem para uma nova condição de humanidade.

A obra inicia com o capítulo “Ivosed.ve (queda livre): o cotidiano como distopia e catástrofe”, apresentando uma análise das mídias e das relações estabelecidas entre o homem e as tecnologias. Os autores discorrem sobre o surgimento da cultura digital e da proliferação do sistema de objetos, da difusão massiva das redes sociais, dos dispositivos móveis, das telas e de todos os mediascapes.

Os autores realizam uma análise comparando a nossa condição tecnocultural com a realidade apresentada nos capítulos da série Black Mirror. Segundo os autores, Black Mirror é um texto de antropologia cultural, de midiologia e de sociologia do imaginário e é importante que seja analisado, pois apresenta questões fundamentais sobre o papel das mídias para humanidade, apresentando os lados mais sombrios e mórbidos sobre a sua utilização.

Nos capítulos dois e três, “O dispêndio do grotesco” e “A aurora no bosque das coisas sem nome”, numa análise profunda, os autores dão especial ênfase a tudo o que permite a audiovisão, as imagens, as superfícies visuais, as telas, os espelhos e o imaginário. Claudia Attimonelli e Vincenzo Susca abordam e relacionam o pensamento sociológico, semiótico e filosófico aos estudos visuais, citando algumas obras, como “Animais dos Espelhos”, o ensaio “Lógica do Sentido”, de Gilles Deleuze, e a obra “Alice no País das Maravilhas”. Os capítulos apresentam as definições e as características interpretativas e os efeitos midiológicos como um conjunto de informações de um presente para um futuro e de um futuro ultrapassado.

Ainda no capítulo dois, em “Devorados vivos, do The Big Swallow ao Vore” e em “Os corpos que atravessam a tela negra e o que eles encontram do outro lado: o Backdrome”, a obra trata das modernas e revolucionárias ideias e fenômenos dos reflexos e das imagens do imaginário.

A obra apresenta narrativas dos paradigmas das mídias sociais para a humanidade, de um presente cada vez mais intrusivo, vigiado e controlado, referenciando os acontecimentos já vivenciados pela sociedade, como a repercussão midiática durante e após as eleições de Donald Trump e o caso de Will Poulter, que encarna Colin Ritman, o visionário Dickiano de Bandersnatch, que saiu do Twitter para preservar a sua saúde mental depois dos comentários depreciativos sobre a sua feiura no episódio interativo.

Uma sucessão de acontecimentos de ida e volta entre fatos vividos e intrigas escritas e produzidas que os autores interrelacionam com os episódios futuristas, e perfeitamente possíveis de Black Mirror, explorando todo o potencial ideológico e ficcional da narrativa audiovisual.

O quarto e último capítulo, “Shut Up and Dance (Cale-se e dance) o sacrifício e a nova carne”, apresenta a relevância de Black Mirror para relatar o cotidiano atual da humanidade e do mundo na recorrente evolução tecnológica e midiática. Para os autores, a série inglesa marca simultaneamente o encerramento de uma época e a abertura de outra, o capítulo ressalta as mudanças ocorridas pelo uso das mídias e a relevância da presença do indivíduo na rede, que hoje é um conteúdo valioso na economia mundial.

Corroborando a compreensão apresentada anteriormente, os autores profetizam neste quarto capítulo que: “Os indivíduos envolvidos são levados a ser protagonistas da cena, performativos e felizes apenas na medida em que a sua existência é inteiramente dedicada ao altar de um império invisível e capilar, em que eles próprios são transformados em algo híbrido entre obra de arte, mercadoria e espetáculo” (ATTIMONELLI; SUSCA, 2021, p. 141).

O capítulo também apresenta o indivíduo, com aplicações práticas, que, assim como os personagens de Black Mirror, estão expostos como obras primas em um museu, tornando-se programadores, usuários e protagonistas de um game da vida como mercadoria e conteúdo de uma história que, para os autores, já não nos pertence.

Por fim, os autores concluem que “Black Mirror é um show, um museu, uma rede social e muitas outras coisas”. E ponderam: “Habitamos onde estamos todos sujeitos a uma impalpável vigilância generalizada e impenetrável, porque invisível e intangível, mas sobretudo porque a incorporamos como parte integrante de nós mesmos e do nosso imaginário” (ATTIMONELLI; SUSCA, 2021, p. 150).

De forma geral, a obra aborda a análise da informação à luz de diversas perspectivas sobre um imaginário social de futuro, apresentando ao leitor as realidades tecnológicas e os inúmeros artefatos técnicos virtuais e robóticos que estão à disposição de uso no presente.

A leitura da obra oferece uma oportunidade de reflexão e proporciona ao leitor elementos para pensar sobre o momento em que vivemos e para onde caminhamos no mundo digital e hiperconectado. Uma importante leitura para os profissionais da educação, pois possibilita ao educador uma maior compreensão da atual cultura digital, além de suscitar uma análise sobre a educação contemporânea e a fluidez de sua relação com as tecnologias digitais.

Recebido: 05 de Março de 2022; Aceito: 08 de Abril de 2022

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