A obra “Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos”, de autoria de Robert C. Bodgan e Sara Knopp Biklen, professores da Universidade de Syracuse nos Estados Unidos, foi traduzida por Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista.

O livro tem alcançado uma ampla circulação no Brasil pela relevância e abrangência de seu conteúdo, possibilitando aos interessados na temática uma imersão nos estudos referentes à pesquisa qualitativa em educação, dedicando especial atenção à influência dos métodos qualitativos nesse campo de investigação. Desta feita, a referida obra tem como objetivos: “[...] proporcionar os fundamentos para a compreensão das diferentes utilizações da investigação qualitativa em educação, examinar as suas bases teóricas e especificar métodos concretos para a realização da investigação” (BODGAN; BIKLEN, 2013, p. 11-12). À vista desses objetivos, o livro está organizado em sete capítulos, que contemplam um conjunto de formulações teóricas e metodológicas sobre os fundamentos da investigação qualitativa em educação.

No primeiro capítulo, desenvolvido em seis seções, Bogdan e Biklen discorrem sobre os fundamentos da investigação qualitativa em educação, abordando a tradição desse tipo de investigação, descrevendo o contexto histórico em que se assenta tal abordagem. Na sequência, os autores apresentam as características da investigação qualitativa, os fundamentos teóricos e as nove questões mais frequentes sobre a investigação qualitativa e sobre a ética.

Após essa abordagem mais geral, os autores aprofundam, no segundo capítulo, os aspectos relacionados ao plano de investigação, aos fatores que devem ser considerados na escolha de um objeto de estudo e sua articulação com os estudos de caso e estudos realizados simultaneamente em múltiplos locais. Discorrem, ainda, sobre questões relacionadas com o plano, que envolve a redação da proposta, o roteiro da entrevista e do manual do observador.

Dando prosseguimento, no terceiro capítulo, os autores tecem algumas reflexões sobre o trabalho de campo, chamando atenção para “[...] o modo como o leitor, na sua qualidade de investigador, se deve organizar – desde a obtenção do acesso até à retirada do campo” (BOGDAN, BIKLEN, 2013, p. 114). Para tanto, são abordadas situações relacionadas à obtenção do acesso ao campo, sobre os primeiros dias no campo de investigação, o contínuo participante/observador, entrevistas, fotografia e trabalho de campo, bem como sobre o afastamento do campo de investigação.

No quarto capítulo, Bodgan e Biklen conduzem o leitor para uma reflexão sobre os dados qualitativos, destacando que a ênfase recai “[...] mais no conteúdo e nos aspectos mecânicos da recolha de dados” (BODGAN; BIKLEN, 2013, p. 149). De forma detalhada, os autores apresentam orientações e reflexões sobre as notas de campo, relacionadas ao conteúdo, formato, processo de escrita e transcrições das entrevistas gravadas. Tratam também, dos textos escritos pelos sujeitos, referentes aos documentos pessoais (diários íntimos, cartas pessoais e autobiografias) e documentos oficiais (documentos internos, comunicação externa, registros sobre os estudantes e ficheiros pessoais).

Nesse capítulo, os autores asseguram a potencialidade de alguns artefatos para a produção do conhecimento, tais como a fotografia, utilizada em investigação educacional qualitativa, a partir de duas categorias: “[...] as que foram feitas por outras pessoas e aquelas em que o investigador produziu” (BOGDAN; BIKLEN, 2013, p. 184).

No quinto capítulo, os autores fazem uma discussão sobre a análise dos dados, principalmente porque consideram que é uma etapa da pesquisa qualitativa que não tem recebido a atenção necessária. E acrescentam que se trata de um momento importante da investigação, considerando que a análise de dados envolve uma série de nuances que merecem um olhar atento do investigador. Desse modo, o capítulo contempla a análise no campo e a análise após a produção dos dados, que envolve o desenvolvimento de categorias de codificação, as influências na codificação e na análise, assim como as formas de trabalhar os dados e a utilização do computador para a análise.

Bogdan e Biklen, no sexto capítulo, seguem discutindo sobre a redação da investigação a partir de uma provocação quando colocam que “[...] os escritores inexperientes tendem a ser procrastinadores [...]” (BOGDAN; BIKLEN, 2013, p. 246), ou seja, advertem para os desafios postos no início da elaboração do texto, tais como distração e dispersão, ressaltando que “[...] nunca se está verdadeiramente pronto para começar; quando escrevemos temos de tomar uma decisão consciente de começar e de nos disciplinarmos para continuarmos” (BODGAN. BIKLEN, 2013, p. 246). O capítulo está organizado na perspectiva de contribuir com a redação da investigação, ou seja, por onde começar, e com a produção de um bom manuscrito.

No sétimo capítulo, os autores tratam da investigação qualitativa aplicada à educação, organizada a partir de três tipos de investigação: investigação avaliativa e decisória, investigação pedagógica e investigação-ação. Ainda nesse capítulo, Bodgan e Biklen discorrem sobre as utilizações pedagógicas da investigação qualitativa, que envolve a forma de utilizar esse tipo de investigação para melhorar o desempenho do professor, a abordagem qualitativa e a formação de professores, bem como os métodos qualitativos no currículo escolar.

Para finalizar, Bodgan e Biklen apresentam exemplos de questões relativas à observação em contextos educacionais sobre o ambiente escolar (meio físico, econômico, social e cultural, além do meio semântico), ambiente humano (professores, pessoal auxiliar, estudantes e administração) e ambiente de aprendizagem (que envolve questões sobre o contexto de aprendizagem, a relação professor-aluno, a disciplina e o controle).

À vista disso, o leitor tem à disposição uma obra que atende às necessidades evocadas no âmbito das discussões acerca da investigação qualitativa em educação. É uma publicação pertinente para nortear o trabalho dos pesquisadores, principalmente os iniciantes, pela forma concisa e ao mesmo tempo detalhada com que os autores discorrem sobre o tema. Apesar da organização em capítulos, os autores mantêm uma escrita lógica e coerente, sem fragmentar o raciocínio que vai sendo construído ao longo da leitura, observa-se uma complementaridade nas ideias apresentadas.

Depreende-se, portanto, que esta obra condensa formulações teóricas e metodológicas indispensáveis aos pesquisadores interessados em aprofundar estudos nessa área pelas notórias contribuições ao campo da pesquisa qualitativa.