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Revista Educação em Questão

Print version ISSN 0102-7735On-line version ISSN 1981-1802

Rev. Educ. Questão vol.60 no.66 Natal Oct./Dec 2022  Epub Apr 18, 2023

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2021v60n66id30544 

Resenha

Tecnodocência: palavra e conceito novos

Technodocence: new word and concept

Tecnodocencia: nueva palabra y concepto

Fabiana de Oliveira Ribeiro1 
http://orcid.org/0000-0002-4414-8942

1Escola Estadual Bolivar Boanerges da Silveira (Brasil)

LOUREIRO, Robson Carlos; LIMA, Luciana de. Tecnodocência – Integração entre tecnologias digitais da informação e comunicação e docência do professor. Fortaleza: Amazon, 2018.


No livro em questão, os professores da Universidade Federal do Ceará, Robson Carlos Loureiro e Luciana de Lima, fazem uma rica discussão sobre metodologias e didáticas do ensino, integrando-as aos usos das tecnologias contemporâneas, além de propor ao docente, novos caminhos fundamentados técnica e politicamente para a prática de sua profissão.

Organizado a partir da preocupação em formar docentes ou licenciandos em uma proposta metodológica interdisciplinar, integrada às Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), os autores propõem a integração destas à formação de professores, partindo do princípio de que as tecnologias podem influenciar as transformações da docência.

A obra é dividida em seis capítulos que estabelecem, também, a possibilidade de haver transformações nas tecnologias a partir das necessidades da docência, com a criação e desenvolvimento de novas estruturas digitais, que ajudem no estabelecimento da ação do professor em sua prática pedagógica, ainda que o foco seja o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo sobre a ação da prática docente.

O capítulo 1: A máquina de formação docente, discute as limitações existentes na formação inicial do professor, que se resume na falta de equalização entre os discursos teóricos e práticos que, mesmo em uma sociedade em rede, é constituída de instituições descomprometidas na formação de licenciandos para atuar na contemporaneidade e integrar TDIC e Docência.

Diante disso, a ótica da integração é uma afronta à governamentalidade vigente, que autoriza experiências educacionais “comportadas”, desde que não alterem o paradigma de saber e poder, ou seja, uma relação cruel de segmentação social, de promoção de igualdades de condições fictícias e enganadoras, propagadas como humanizadoras, mas que retiram a compreensão da essência do homem.

O capítulo 2, De máquina à sociedade da conexão: novas perspectivas para a Formação Docente, centra-se na necessidade de compreensão dos modelos mais tradicionais de educação que encaminham para uma falência incontestável e inevitável, tornando necessário o investimento em perspectivas que proponham uma visão de ação docente sobre o mundo, com foco na cooperação, na colaboração e no estabelecimento de relacionamentos interpessoais de resistência.

O capítulo 3: A integração entre Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) e Docência, mostra como a cibercultura estrutura-se no contexto social mais próximo da educação, sugerindo condições de chegar ao cidadão comum, embora, a governamentalidade, queira eleger o homo faber em destruição do homo sapiens e, com a colaboração de muitos de nós professores, que travestimos as influências do biopoder em atitudes superficialmente didáticas, fundamentadas em toneladas de teorias inatingíveis. Porém, é preciso promover um ensino contextualizado e adequado às características dos alunos, com o uso do computador apropriado pelos discentes e docentes como artefato para entrada no “mercado social”.

O capítulo 4: Tecnodocência: uma proposta de formação inter e transdisciplinar, ensina que a aprendizagem é um processo de construção que trata de características e habilidades desenvolvidas pelo homem, à medida que interagimos e construímos novos conhecimentos. As habilidades de contornar conflitos e objeções, que nascem do convívio, consolidam a força cooperativa. Contudo, existem as tendências disciplinadoras de nossas racionalidade e subjetividades, exercidos pelo biopoder entre instituição, o docente e os discentes com absoluta interferência, disciplinamento e controle governamental.

Diante disso, a formação docente, na perspectiva proposta pelo livro, propõe o modelo epistemológico de construção do conhecimento pautado na integração e na superação da fragmentação, como nos saberes vinculados aos conceitos de interdisciplinaridade, transdiciplinaridade, multidisciplinaridade e multirreferencialidade (outra tendência emergente, que não trata nenhuma disciplina em si).

No Capítulo 5: Afinal, o que é Tecnodocência? Os autores mostram que a profissão docente foi engendrada no decorrer dos últimos quatro séculos, colocando docentes e discentes como reprodutores não críticos dos “conhecimentos”, trabalhando cada forma de saber de modo fragmentado e manipulado. Todavia, é preciso um despertar dos docentes para reagir ao disciplinamento imposto pela governamentalidade dominante e passar por uma transformação ou mudança de paradigma.

Dessa forma, o conceito de Tecnodocência é proposto com a finalidade de se estabelecer outra compreensão. Trata-se da integração entre TDIC e Docência, com base epistemológica nos modelos interdisciplinares e transdisciplinares, utilizando conhecimentos prévios dos docentes e discentes, no desenvolvimento de uma reflexão crítica sobre os processos de ensino, aprendizagem e avaliação.

É a consolidação do papel de sujeito social do professor. Ser um tecnodocente é romper com a força modeladora imposta pela governamentalidade, que não tem interesse de que todos sejam inclusos na cibersociedade.

No Capítulo 6: Resgatando as ideias e compreendendo a Tecnodocência, vemos que é vigente a visão de que o professor retém a obrigação de transformar racionalidades e a subjetividade do sujeito discente, com base em uma força contratual imposta por uma governamentalidade que paga seus salários e, então, define sua missão, de acordo com as necessidades de quem exerce o poder.

A formatação de sujeitos pelos dispositivos de disciplinamento, controle e domesticação tem como objetivo garantir a mão de obra prática e irracional, para consolidação do modelo que se instala com o mínimo de resistência política possível. Desta forma, a reconstrução de outro caminho de integração que rompa as barreiras disciplinares, com respeito às diferenças e às conexões, baseadas em parâmetros horizontais, é necessária.

Na “Tecnodocência, o conhecimento se reconstrói de forma integrada, implicando a tecnologia à docência e, por sua vez, a docência à tecnologia”. Estamos falando de uma metodologia crítica, inquietante, que não segue as mesmas bases de fundamentação das ações da docência criada como instrumento de domesticação.

É uma proposta de mudança de consciência dos sujeitos, da forma de compreensão dos paradigmas epistemológicos, concretização de parcerias, conquista da autonomia. Os tecnodocentes de diversas áreas deverão constituir planos de aula conjuntos; explorar tempos diferentes, de acordo com a complexidade dos conteúdos; construir avaliações multirreferenciais, que possibilitem, por meio de um mesmo instrumento, que áreas de saber distintas se interconectem; trabalhar cooperativamente, séries educacionais diversas; ter outra relação com a linearidade curricular institucional e atentar a outras possibilidades que emergirão no trabalho colaborativo.

Assim, o livro propõe uma mudança paradigmática na função docente e, também, faz severas críticas à governamentalidade, por esta não ter interesse em mudar a estrutura confortável que a sociedade de mercado proporciona àqueles que detêm o poder. Sendo assim, incentiva os docentes a transgredirem e resistirem às orientações dos órgãos ligados à governança, mantendo uma abertura ao trabalho em equipe com seus pares, com disciplinas de áreas diversas e com os discentes, a quem chamam de verdadeiros parceiros do professor

Recebido: 04 de Outubro de 2022; Aceito: 03 de Novembro de 2022

Ms. Fabiana de Oliveira Ribeiro, Profª da Escola Estadual Bolivar Boanerges da Silveira, (Alterosa, Minas Gerais, Brasil), É integrante do Grupo de Pesquisas GEPALLE/USP, E-mail: Fabiana.mirella@gmail.com

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