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Estudos em Avaliação Educacional

Print version ISSN 0103-6831On-line version ISSN 1984-932X

Est. Aval. Educ. vol.31 no.78 São Paulo Sept./Dec 2020  Epub June 09, 2021

https://doi.org/10.18222/eae.v31i78.7452 

ARTIGOS

EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DO IMPACTO DA ALFABETIZAÇÃO SOBRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO

EVIDENCIAS EMPÍRICAS DEL IMPACTO DE LA ALFABETIZACIÓN SOBRE EL CRECIMIENTO ECONÓMICO

EMPIRICAL EVIDENCE OF THE IMPACT OF LITERACY ON ECONOMIC GROWTH

VINÍCIUS DE AZEVEDO COUTO FIRMEI 
http://orcid.org/0000-0001-9644-1000

IUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), campus GV, Governador Valadares-MG, Brasil; vinicius.firme@ufjf.edu.br


RESUMO

Esta pesquisa usou uma versão espacial do modelo proposto por Mankiw, Romer e Weil [MRW (1992)] para avaliar o impacto da alfabetização sobre a renda per capita dos municípios brasileiros no período de 1980 a 2010. Os resultados indicam que o efeito da alfabetização é maior em regiões mais homogêneas e transborda para a vizinhança. Em média, um crescimento de 1% na taxa de alfabetização faria a renda crescer 1,684%. Portanto, o produto interno bruto (PIB) brasileiro poderia ser 15,91% maior caso o Brasil atingisse a taxa de alfabetização europeia. Alternativamente, Alagoas, Piauí, Paraíba e Maranhão (e outros dez estados) poderiam aumentar suas respectivas rendas em 32,77%, 29,09%, 26,53% e 23,97%, caso atingissem a média nacional de alfabetização.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO; CRESCIMENTO ECONÔMICO; TAXA DE ALFABETIZAÇÃO

RESUMEN

Esta investigación utilizó una versión espacial del modelo propuesto por Mankiw, Romer y Weil [MRW (1992)] para evaluar el impacto de la alfabetización sobre los ingresos per capita de los municipios brasileños en el periodo de 1980 a 2010. Los resultados indican que el efecto de la alfabetización es mayor en regiones más homogéneas y transborda hacia la vecindad. En promedio, un crecimiento del 1% en la tasa de alfabetización haría que los ingresos aumentaran en 1,684%. Por lo tanto, el producto interno bruto (PIB) brasileño podría ser 15,91% mayor en el caso que alcanzase el nivel de la alfabetización europea. Alternativamente, Alagoas, Piauí, Paraíba y Maranhão (así como otros 10 estados) podrían aumentar sus respectivos ingresos en un 32,77, 29,09, 26,53 e 23,97%, si alcanzasen el promedio nacional de alfabetización.

PALABRAS CLAVE: EDUCACIÓN; CRECIMIENTO ECONÓMICO; TASA DE ALFABETIZACIÓN

ABSTRACT

This research used a spatial version of the model developed by Mankiw, Romer and Weil [MRW (1992)] to assess the literacy impact on the per capita income of Brazilian municipalities between 1980 and 2010. The results show that the effect of literacy is greater in regions that are more homogeneous and it spillover to the neighborhood. On average, a 1% increase in literacy rate would increase income by 1.684%. Therefore, the Brazilian gross domestic product (GDP) could be 15.91% higher if it reached the level of European literacy. On the other hand, Alagoas, Piauí, Paraíba and Maranhão (and 10 other states) could increase their respective incomes by 32.77%, 29.09%, 26.53% and 23.97%, respectively, if they reached the national literacy average.

KEYWORDS: EDUCATION; ECONOMIC GROWTH; LITERACY RATE

INTRODUÇÃO

Após Solow (1956) concluir que o crescimento econômico per capita dependia, basicamente, do avanço tecnológico, a literatura econômica presenciou o surgimento de diversos modelos de crescimento endógeno. Tais teorias sustentam que as externalidades positivas oriundas da inovação (ROMER, 1990; GROSSMAN; HELPMAN, 1991; AGHION; HOWITT, 1992), da experiência profissional (ARROW, 1962; LUCAS, 1988; YANG; BORLAND, 1991) e do capital humano (ROMER, 1986; LUCAS, 1998; BARRO, 1991; MANKIW; ROMER; WEIL, 1992) seriam os principais responsáveis pelo crescimento de longo prazo.

O “capital humano”, difundido na década de 1960 por Schultz (1961, 1962) e Becker (1964), inclui o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que favorecem a produtividade do trabalhador e podem ser adquiridos por meio da experiência, da educação e de melhores condições de saúde (NEVES; LIMA, 2019, p. 78). Para Krueger (1968), o capital humano poderia explicar mais de 50% do crescimento econômico.

Assim, com o propósito de analisar o efeito da educação básica (i.e., alfabetização) sobre o crescimento econômico dos municípios brasileiros no período de 1980 a 2010, a presente pesquisa focou na questão do capital humano e valeu-se do modelo proposto por Mankiw, Romer e Weil [MRW (1992)], que incorpora tal variável explicitamente e foi capaz de explicar, aproximadamente, 80% do crescimento de diversos países (ROMER, 1996, p. 128).

Embora bem-sucedida, a versão de Mankiw, Romer e Weil (1992) desconsiderou os possíveis efeitos da interação espacial sobre o crescimento econômico,1 destacados a seguir:

Os efeitos espaciais, particularmente a autocorrelação e a heterogeneidade espaciais, devem ser considerados ao analisar processos de convergência em escala regional. Há uma série de fatores - comércio entre regiões, difusão de tecnologia e conhecimento e, de modo mais geral, os transbordamentos regionais - que levam a regiões geograficamente dependentes. Devido às interações espaciais, a localização geográfica é importante na determinação do desempenho econômico das regiões.2 (GALLO; ERTUR, 2003, p. 176, tradução nossa)

Segundo Almeida (2012), as características distintas de cada região (i.e., cultura, preferências, relevo, clima, entre outros) poderiam fazer com que um mesmo estímulo causasse diferentes impactos, dependendo da localidade (problema de heterogeneidade espacial). Além disso, a conexão entre uma região e suas vizinhas poderia produzir transbordamentos e autocorrelação espaciais (problema de dependência espacial), atenuando ou potencializando o efeito de um choque exógeno qualquer. Portanto, uma versão espacial do modelo MRW (1992), com dados em painel para os períodos de 1980, 1991, 2000 e 2010, foi considerada a fim de mensurar o efeito da alfabetização sobre a renda per capita dos municípios brasileiros.

Cabe destacar que o capital humano tem caráter multidimensional e não é composto apenas pela alfabetização. Contudo, a desagregação espacial (municípios) e o período considerados (1980-2010), apesar de suas vantagens, impõem algumas restrições à presente pesquisa. No que se refere às vantagens, tem-se que a escala geográfica desagregada favorece o controle dos efeitos espaciais baseados na proximidade regional (ALMEIDA, 2012, cap. 3) e permite incluir mais observações, favorecendo as propriedades assintóticas dos estimadores (HSIAO, 2003). Quanto ao período, ressalta-se que a teoria do crescimento econômico se baseia em um “estado estacionário” válido para o longo prazo (seção “O modelo teórico”). Portanto, os efeitos esperados tornam-se menos prováveis em curtos períodos de tempo. Apesar das vantagens, essas opções de escala e tempo estão sujeitas à ausência de informações (missings) em determinados períodos (ver Figuras A.1, A.2 e A.3 - Anexo) e reduzem a oferta de proxies para as variáveis testadas (FIRME; SIMÃO FILHO, 2014, p. 687-689), impossibilitando que outros elementos associados ao capital físico e humano fossem incluídos.

Portanto, é possível que o impacto do capital humano, medido via taxa de alfabetização, fique subestimado, pois fatores como experiência profissional e níveis mais avançados de ensino não foram considerados. Alternativamente, o efeito da alfabetização pode ficar superestimado, visto que essa variável pode captar outras características não consideradas nos modelos (e.g., é possível que cidades com maiores taxas de alfabetização também tenham mais indivíduos graduados. Desse modo, parte do efeito atribuído a “graduados” ficaria embutido na alfabetização). Ainda assim, destaca-se que existem poucos trabalhos empíricos sobre os impactos da alfabetização na economia brasileira, abrindo espaço para que políticas arbitrárias, mal planejadas e, possivelmente, ineficientes sejam utilizadas para mitigar esse problema.

Ainda que o efeito da alfabetização sobre o crescimento econômico já tenha sido analisado em alguns estudos nacionais (RENZI et al., 2019; ALMEIDA; VALADARES; SEDIYAMA, 2017; SOARES, 2009; VIEIRA, 2009) e internacionais (LEIJA, 2019; KHALFAOUI, 2015; MURTHY; OKUNADE, 2014; CASTELLÓ-CLIMENT; MUKHOPADHYAY, 2013; ADELAKUN, 2011; GUSTAFSSON et al., 2010; LIN, 1997; BARRO, 1991; AZARIADIS; DRAZEN, 1990; ROMER, 1989; RAUCH, 1988), inclusive com controles espaciais (RENZI et al., 2019; LEIJA, 2019; VIEIRA, 2009), a presente pesquisa se destaca por: a) ser a única aplicada aos municípios de todas as regiões brasileiras;3 b) incluir variáveis de controle baseadas em modelos macroeconômicos reconhecidos pela literatura (vide “O modelo teórico”); c) buscar o controle simultâneo da dependência e heterogeneidade espaciais;4 d) considerar um amplo período para análises sobre o crescimento econômico que tem sua teoria voltada para o longo prazo;5 e) promover simulações, com base nos resultados obtidos, que permitem visualizar os possíveis efeitos benéficos da alfabetização no território brasileiro.

Desse modo, cientes das vantagens e desvantagens do procedimento adotado nesta pesquisa, os resultados indicam que o efeito da alfabetização é maior em regiões mais homogêneas e transborda para a vizinhança. Em média, um crescimento de 1% na taxa de alfabetização faria a renda crescer 1,684%. Assim, o produto interno bruto (PIB) brasileiro aumentaria 15,91% caso o Brasil atingisse o nível de alfabetização da Europa Central. Alternativamente, estados mais pobres, como Alagoas, Piauí, Paraíba e Maranhão (e outros dez), poderiam aumentar suas respectivas rendas em 32,77%, 29,09%, 26,53% e 23,97%, caso atingissem a média nacional de alfabetização. Acredita-se que o nivelamento da alfabetização e, de forma mais geral, do próprio ensino poderia estimular o crescimento brasileiro e reduzir as desigualdades regionais de forma simultânea. Além disso, verificou-se que o impacto da alfabetização sobre o crescimento brasileiro ficaria superestimado (em 22,02%) se a dependência espacial fosse ignorada. Se isso ocorresse apenas com a heterogeneidade espacial ou se ambos os efeitos espaciais fossem ignorados, o impacto dessa variável tenderia a ficar subestimado (em -30,73% e -15,48%, respectivamente).

O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: a próxima seção contém o referencial teórico deste trabalho; na seção seguinte encontram-se a metodologia e a descrição da base de dados usada nas estimações; as seções subsequentes apresentam os resultados, considerações finais, referências e anexo, respectivamente.

REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção contém uma revisão dos principais trabalhos empíricos que analisaram os efeitos econômicos gerados pelo analfabetismo e a descrição do modelo teórico utilizado nas estimações.6

A questão do analfabetismo

Para Suresh Lal (2015), o analfabetismo é composto por indivíduos incapazes de ler, escrever ou resolver questões básicas de matemática. Logo, não apresentam o mínimo necessário para desempenhar uma função efetiva na sociedade, fato que reduz as oportunidades de emprego, compromete a geração de renda e prejudica a própria saúde desses cidadãos, tornando-os alvos fáceis da pobreza e da criminalidade e, frequentemente, dependentes de programas sociais. O autor estima que o custo do analfabetismo no mundo chegue a US$ 1,19 trilhão.7

O fato é que indivíduos analfabetos se tornam aptos a desempenhar apenas tarefas braçais básicas, que não agregam muito valor à produção e contribuem pouco para a geração de riqueza (ADELAKUN, 2011, p. 30). Como a produtividade relativa desses trabalhadores tende a ser menor que a dos indivíduos mais qualificados, a teoria econômica sugere que seus salários, em termos reais, seriam os menores possíveis.8

Quanto ao aspecto econômico, Azariadis e Drazen (1990) afirmam que nenhum país cresceu de forma acelerada após a II Guerra sem uma população altamente alfabetizada. Rauch (1988) argumenta que a renda de diversos países, com alfabetização acima de 95% em 1960, convergiu para um alto patamar nos anos subsequentes. Para Romer (1989), a alfabetização favorece o investimento e, portanto, afetaria o crescimento de forma indireta. Segundo Barro (1991), a taxa de alfabetização impulsionou o crescimento da renda per capita de diversos países no período de 1960 a 1985. Khalfaoui (2015), ao analisar diversos países muçulmanos no período de 1990 a 2014, concluiu que o efeito negativo e significativo do analfabetismo é uma das principais barreiras ao crescimento.

Dentre as pesquisas para países específicos, Adelakun (2011) afirma que o analfabetismo elevado prejudicou a produtividade do trabalhador e comprometeu o crescimento da Nigéria. Leija (2019) argumenta que a alfabetização se mostrou significativa na redução da pobreza extrema do México. Segundo Gustafsson et al. (2010), a redução do analfabetismo (a níveis próximos aos de outros países em desenvolvimento) poderia aumentar o PIB da África do Sul de 23% a 30%, além de melhorar a autoestima e a saúde do trabalhador. Murthy e Okunade (2014), considerando 31 províncias chinesas, sugerem que altas taxas de analfabetismo reduzem a expectativa de vida do trabalhador, prejudicando sua produtividade ao longo da vida. Lin (1997), após analisar 30 províncias chinesas, revelou que a redução do analfabetismo estimula o crescimento, mas não é suficiente para que os recém-alfabetizados migrem da agricultura para a indústria. Ademais, Castelló- -Climent e Mukhopadhyay (2013), considerando 16 estados da Índia no período de 1961 a 2001, afirmam que a simples alfabetização não afetou significativamente o crescimento dessas regiões. Contudo, a continuidade dos estudos (3º grau) mostrou-se significativa.

No Brasil, Almeida, Valadares e Sediyama (2017), utilizando um painel dinâmico para os estados brasileiros no período de 2001 a 2011, constataram que o analfabetismo é típico de regiões pobres. Para Soares (2009), o analfabetismo compromete a produtividade e o salário dos trabalhadores nordestinos (um analfabeto recebe, em média, 37% menos que um trabalhador com a 8ª série completa e até 311% menos que alguém com nível superior). Por fim, Vieira (2009) revela que o analfabetismo elevado prejudicou o crescimento dos municípios do estado de São Paulo no período de 1980 a 2000. A Tabela 1 indica que, embora a taxa de analfabetismo brasileira esteja abaixo da média mundial e tenha auferido considerável redução entre 1980 e 2010, saindo de 25,4% para 9,6%, permanece, em 2010, 15,5% acima da média da América Latina e Caribe, 58% maior que a dos países de renda média-alta (grupo do qual o Brasil faz parte), 67,8% maior que a do Extremo Oriente e Pacífico, 297,7% maior que a da Europa e Ásia Central e 788,6% maior que a da Europa Central e Países Bálticos. Portanto, há espaço para reduções significativas na taxa de analfabetismo brasileira.9

TABELA 1 Taxa de analfabetismo no Brasil e no mundo (pessoas acima de 15 anos) 

1980 1991 2000 2010
Brasil 25,41% n. r. 13,63% 9,62%
Mundo árabe 51,81% 43,70% 34,88% 29,24%
Europa Central e Países Bálticos n. r. 1,80% 1,49% 1,08%
Extremo Oriente e Pacífico 31,48% 18,42% 9,69% 5,73%
Europa e Ásia Central n. r. 4,33%* 3,42% 2,42%
América Latina e Caribe 19,41% 15,01% 10,97% 8,33%
Oriente Médio e Norte da África 52,57% 40,81% 30,89% 23,51%
Sul da Ásia 61,28% 54,14% 42,31% 33,98%
África Subsaariana n. r. 47,08% 43,34% 40,44%
Países de renda baixa n. r. 51,76% 47,28% 43,08%
Países de renda média-baixa 48,78% 41,63% 33,31% 27,24%
Países de renda média 38,05% 28,47% 20,65% 16,33%
Países de renda média-alta 29,38% 17,76% 9,56% 6,09%
Mundo 32,86% 25,09% 19,22% 15,90%

Fonte: Banco Mundial (2018).

Nota: n. r. = não reportado.

* Como não havia informação para 1991, considerou-se o valor de 1994.

O modelo teórico

Na tentativa de aprimorar a capacidade explicativa dos modelos de crescimento econômico, Mankiw, Romer e Weil (1992) incluíram o estoque de capital humano (H) na versão proposta por Solow (1956). Formalmente:

Y(t)=K(t)αH(t)β[A(t)L(t)]1αβ (1),

onde Y, K e L representam, respectivamente, a produção, o estoque de capital físico e a força de trabalho (α e β são coeficientes de sensibilidade). Logo, a renda per capita no estado estacionário seria:

lnyt=ln[YtLt]=lnA0+gtα+β1αβln(n+g+δ)+α1αβln(sk)+β1αβln(sh) (2),

onde n+g+δ é o somatório do crescimento populacional, avanço tecnológico e depreciação do capital físico, enquanto A0,skesh correspondem à dotação inicial e às parcelas da renda investidas em capital físico e humano, respectivamente.

Relaxando a hipótese de que os países já estão no estado estacionário, temos:

lnyt=(1eλt)ln(y*)+eλtlny0 (3),

onde * y*=Y/AL,y0 é a renda inicial e λ representa a taxa de convergência, ou seja: λ=(n+g+δ)(1αβ). . Substituindo y* (na equação 2) e subtraindo em ambos os lados, obtém-se:

ln(yty0)=(1eλt)[ln(y0)+α1αβln(sk)α+β1αβln(n+g+δ)+β1αβln(sh)+lnA0+gt] (4),

Operacionalmente, a equação 4 pode ser reescrita como:

ln(yt/y0)=β0+β1ln(y0)+β2ln(sk)+β3ln(n+g+δ)+β4ln(sh)+ε (5),

onde β 0, β 1, ... , β 4 são coeficientes de sensibilidade e ε é um resíduo aleatório.

Mankiw, Romer e Weil (1992) concluíram que Solow (1956) havia acertado a capacidade explicativa de K e L (em torno de 50%) e os sinais dos impactos de S k e n sobre Y. Contudo, a magnitude desses efeitos havia sido subestimada.

Embora tenham avançado na discussão sobre o crescimento, Mankiw, Romer e Weil (1992) desconsideraram a importância do espaço. Nesse sentido, Ertur e Koch (2007) fazem uma contribuição importante, ao reconhecerem que a interdependência tecnológica entre regiões distintas pode gerar transbordamentos espaciais. Formalmente, os autores assumem que:

Ai(t)=Ω(t)ktϕ(t)jiNAjγwij(t) (6),

Portanto, a tecnologia A i (t) dependeria: a) de um fator exógeno e idêntico entre as regiões, conforme proposto por Solow, Ω(t); b) do crescimento de k = K / L em cada região, ktϕ(t) , onde 0 ≤ φ < 1 reflete a magnitude desse efeito; c) dos transbordamentos espaciais da tecnologia, jiNAjγwij(t) .10 Desse modo, partindo-se da função de produção y=A+αk , é possível incluir os transbordamentos espaciais oriundos da tecnologia:

y=Ω+(α+φ)kαγWk+γWy (7),

Como resultado, Ertur e Koch (2007) afirmam que a produção de uma região i qualquer cresceria com o aumento da poupança e da renda de seus j vizinhos e diminuiria com o crescimento populacional da vizinhança. Portanto, assumindo a existência desses transbordamentos espaciais e que a parcela não consumida da renda é investida em capital físico (s k ) ou humano (s h ), conforme o modelo MRW (1992), tem-se:

ln(yt/y0)=β0+β1ln(y0)+β2ln(sk)+β3ln(n+g+δ)+β4ln(sh)+β5Wln(sk)+β6Wln(n+g+δ)+β7Wln(sh)+ε (8),

onde W é uma matriz de pesos espaciais que capta o efeito associado à vizinhança de uma região i qualquer. Mais detalhes sobre W estão em Almeida (2012, cap. 3).

METODOLOGIA E BASE DE DADOS

O modelo estimado (equação 9) contém quatro dummies para captar a heterogeneidade regional (referentes às regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste)11 e uma variável de distância de cada município até sua respectiva capital estadual.12 Visando a captar os transbordamentos espaciais (rever seção anterior), as variáveis explicativas foram defasadas espacialmente e incluídas no modelo (β 11aβ 13).13 Além disso, a análise do I de Moran, proposta por Cliff e Ord (1981), indicou autocorrelação espacial positiva associada à variável dependente (I = 0,303). Logo, assim como em Easterly e Levine (1998), o crescimento de um município impulsiona o dos seus vizinhos e vice-versa. Para controlar esse efeito, inclui-se a variável dependente defasada espacialmente (β 10).14 Por fim, um sinal negativo associado a [ln(yt1)] indica que há convergência de renda.

ln(ytyt1)=[β0+β1ln(yt1)+β2ln(sk)+β3ln(n+g+δ)+β4ln(sh)]+[β5DSul+β6DSud+β7DNord+β8DCentoest+β9ln(DistMun)]+{β10{W[ln(yt/yt1)]}+β11{W[ln(sk)]}+β12{W[ln(n+g+δ)]}+β13{W[ln(sh)]}}+u (9),

A literatura sugere que a alfabetização (s h ) de um município i estimularia seu crescimento (Y t / Y t - 1 ), pois indivíduos analfabetos seriam menos produtivos (seção “A questão do analfabetismo”). Todavia, o crescimento de i também poderia ser afetado pela alfabetização de seus j vizinhos (W_s h ), visto que indivíduos de i poderiam estudar em j (que agora tem maior taxa de alfabetização) e pessoas de j (que, em média, tornaram-se mais produtivas após a alfabetização) poderiam trabalhar em i (ALMEIDA, 2012, p. 21-27). Em ambos os casos, haveria um transbordamento espacial positivo associado à alfabetização. Além disso, Lesage e Pace (2014) e Golgher e Voss (2016) afirmam que a autocorrelação espacial, mensurada via W(Yt/Yt1) , geraria um efeito multiplicador, pois o crescimento de i afetaria seus j vizinhos e vice-versa, gerando um processo retroalimentador. Nesse caso, o efeito total da alfabetização seria (sh+Wsh)/[(1W(Yt/Yt1)] . A estratégia empírica desta pesquisa consistiu em analisar o impacto da taxa de alfabetização sobre o crescimento econômico dos municípios brasileiros usando dados em painel para o período 1980-2010 (cortes considerados: 1980, 1991, 2000 e 2010).15 No contexto de dados de painel, geralmente estima-se o modelo POLS (pooled ordinary least squares) usando o teste de Breusch-Pagan (1980) para verificar se existe algum efeito não observado, ci(H0:σC2=0) . Caso H0 prevaleça, o POLS é o mais indicado. Caso contrário (σC20) , estimam-se os modelos FE (fixed effects - efeitos fixos) e RE (random effects - efeitos aleatórios) usando o teste de Hausman (1978) para definir se c i afeta as demais variáveis explicativas (H0: E [c i | x it ] = 0). Se H0 for verdadeiro, FE e RE serão consistentes, porém RE será mais eficiente. Caso contrário, apenas FE será consistente. Caso o teste de Hausman (1978) rejeite H0, o teste Breusch-Pagan (1980) torna-se desnecessário (WOOLDRIDGE, 2002).

Base de dados

Para compor a equação 9, foram utilizadas as seguintes variáveis:

  • a) y t ⇒ renda municipal per capita. Utilizou-se o rendimento domiciliar do mês anterior ao de referência (i.e., 01/08 para o Censo de 2000 e 01/09 para 1980 e 1991), expresso em reais (R$) de 2000 (IPEA, 2018). Em 2010, usou-se o rendimento domiciliar mensal médio (IBGE, 2011) deflacionado, para R$ de 2000, pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) (Ipea, 2018);

  • b) s k ⇒ parcela da renda investida em capital físico. Utilizou-se a despesa anual em capital físico de cada município,16 fornecida pelo Ministério da Fazenda e convertida em R$ de 2000 via Índice de Preços ao Consumidor Amplo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IPCA/IBGE) (IPEA, 2018). Os valores anuais e deflacionados foram somados ao longo dos períodos 1985-1991, 1991-2000 e 2001-2010 e divididos pela população de cada município (IPEA, 2018) e pelo número de anos desses períodos. Assim, obtivemos a média anual per capita de despesa municipal, em capital físico, para cada período mencionado;17

  • c) s h ⇒ parcela da renda investida em capital humano. Considerou-se o percentual de pessoas alfabetizadas, com 15 anos ou mais, de cada município (valor médio dos períodos considerados). O percentual de analfabetos é disponibilizado pelo Ipea (2018), para 1980, 1991 e 2000, e pelo IBGE (2011), para 2010. O percentual de analfabetos foi convertido em taxa de alfabetizados (i.e., 100% - % analfabetos);18

  • d) (n + g + δ) ⇒ soma das taxas de crescimento populacional (n), progresso tecnológico (g) e depreciação (δ). O crescimento populacional (n) (IPEA, 2018) foi somado ao valor de 𝑔 + 𝛿, proposto por Mankiw, Romer e Weil (1992, p. 413): “assumimos que 𝑔 + 𝛿 é 0.05 e que variações nessa hipótese teriam pouco impacto nas estimativas”.19 Dadas as variações decenais consideradas, a taxa de depreciação e tecnologia foi (1,05)10- 1 = 0,629. Para possibilitar o uso do logaritmo natural sobre (n + g + δ), somou-se 1 ao resultado dessas variações;

  • e) W ⇒ matriz de pesos utilizada nas defasagens espaciais dos modelos (controle da “dependência espacial”). Como critério de conectividade, consideraram-se os j = 5 vizinhos mais próximos de uma região i qualquer;20

  • f) Dummies de Regiãodummies regionais, como a heterogeneidade espacial pode afetar o impacto das variáveis explicativas (ALMEIDA, 2012). As Figuras A.1, A.2 e A.3 (baseadas no I de Moran Local - vide Anexo)21 sugerem a existência de agrupamentos municipais, com características semelhantes intragrupos e distintas entre os grupos. Incluem-se quatro variáveis binárias (dummies) referentes às regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste22 a fim de captar tais características regionais;

  • g) Dist_Mun ⇒ distância (em quilômetros) do município em relação à sua respectiva capital estadual (IPEA, 2018).23 Pretende-se controlar o possível transbordamento positivo associado às capitais estaduais (MYRDAL, 1957; CHRISTALLER, 1966). Nesse caso, um sinal negativo (esperado) indicaria que cidades mais distantes das capitais cresceriam menos que as mais próximas.

O Quadro 1 revela os sinais esperados das variáveis consideradas e suas respectivas justificativas.24

QUADRO 1 Descrição e sinais esperados das variáveis 

TIPO DE VARIÁVEL SIGLA DESCRIÇÃO SINAL ESPERADO HIPÓTESES PARA O SINAL ESPERADO
Dependente Ln(Y t / Y t-1 ) Variação da renda per capita n/a n/a
Explicativas: MRW (1992) Ln(Y t-1 ) Renda per capita Inicial - Convergência da renda
Ln(s k ) Capital Físico + Insumo gerador de renda
Ln(s h ) Capital Humano + Insumo gerador de renda
Ln (n+g+δ) Taxas de crescimento Pop.(n) + tecnol.(g) + deprec.(δ) - Aumento de n reduz renda per capita
Explicativas: Heterogeneidade Espacial Sul Municípios da Região Sul Não definido Dependem de questões inerentes a cada região
Sudeste Municípios da Região Sudeste Não definido
Nordeste Municípios da Região Nordeste Não definido
Centro-Oeste Municípios da Região Centro-Oeste Não definido
Ln(dist_est) Distância do município até sua capital estadual - Spillover positivo das capitais estaduais
Explicativas: Transbordamento Espacial W_Ln(Y t / Y t-1 ) Variação da Renda Defasada Espacialmente + I de Moran positivo (vide nota n. 22)
W_Ln(s k ) Capital Físico Defasado Espacialmente + Efeito transbordamento (mesmo sinal de s k )
W_Ln(s h ) Capital Humano Defasado Espacialmente + Efeito transbordamento (mesmo sinal de s h )
W_Ln(n+g+δ) Taxas de crescimento Pop.(n) + tecnol.(g) + deprec.(θ) Defasadas Espacialmente - Efeito transbordamento (mesmo sinal de n+g+θ)

Fonte: Elaboração do autor com base na literatura consultada.

Nota: Ln = logaritmo natural; N/A = não aplicada.

RESULTADOS

Os resultados dos modelos sem controles espaciais (Quadro 2, Modelo A) indicaram que todas as variáveis testadas são significativas e apresentam o sinal sugerido no Quadro 1. Tais especificações sugerem que um crescimento de 10% na taxa de alfabetização (s h ) faria a renda per capita dos municípios brasileiros crescer de 14,21% (A.1 e A.2) a 20,49% (A.3), sendo esse último valor preferível, segundo o teste de Hausman (1978).25

As dummies regionais (Quadro 2, modelos B, B.1 e B.2), embora significativas, não alteraram consideravelmente o impacto atribuído à alfabetização, que passou de 1,421 (A.1 e A.2) para 1,466 (B.1 e B.2). Logo, não é possível afirmar que as características específicas dessas cinco regiões brasileiras são responsáveis pela magnitude do efeito associado à educação de base. Entretanto, o modelo de FE (A.3 e B.3), que permite um controle individual da heterogeneidade espacial, revela que o impacto da alfabetização sobre a renda seria maior (i.e., 2,049) em regiões mais homogêneas.

O controle da dependência espacial (Quadro 2, modelos C, C.2, C.3 e D.3) reduziu o efeito inicial da alfabetização (s h ), mas revelou um transbordamento espacial positivo e significativo associado a essa variável (W_s h ). Portanto, a melhora da alfabetização em uma região qualquer geraria efeitos positivos sobre a renda de seus vizinhos, aumentando o impacto total dessa variável. Lesage e Pace (2014) e Golgher e Voss (2016) reforçam que a análise dos modelos C e D (Quadro 2) requer certos cuidados, pois, nesses casos, o impacto total de uma variável qualquer se torna o somatório de seu efeito direto (inicial: s h + transbordamento: W_s h ) e indireto, oriundo do efeito multiplicador gerado por W_(Y t / Y t-1 ). Assim, o efeito direto da alfabetização sobre a renda seria 0,345 (D.1 e D.2) e 0,630 (D.3), enquanto o total envolve o seguinte cálculo: {[1/(1-0,867)] *0,345}=2,594 (D.1 e D.2) e {[1/(1-0,626)] *0,630}=1,684 (D.3).

Note que o menor impacto total da alfabetização no modelo de FE (D.3: 1,684), quando comparado ao de RE (D.2: 2,594), parece contradizer o argumento anterior, de que a heterogeneidade espacial (presente no D.2 e controlada no D.3) prejudicaria o impacto dessa variável. Contudo, como o efeito direto da alfabetização é maior no FE (D.3: 0,630) quando comparado ao RE (D.2: 0,345), a hipótese de que a homogeneidade espacial favorece o impacto positivo da educação se mantém. Na realidade, o impacto reduzido em D.3 (em relação a D.2) deve-se, exclusivamente, ao menor efeito multiplicador oriundo da autocorrelação espacial (i.e., coeficiente 0,626) que afeta igualmente todas as variáveis do modelo e, portanto, não tem relação direta com o objeto de estudo deste trabalho.

Comparando o efeito total da alfabetização sem controles espaciais (A.1: 1,421), com controle apenas para a heterogeneidade (A.3: 2,049) e após controlar ambos os efeitos espaciais (D.3: 1,684), nota-se que seu impacto ficaria superestimado se a dependência espacial fosse ignorada (em 22,02%) e subestimado se a heterogeneidade espacial (em -30,73%) ou ambos os efeitos forem ignorados (em -15,48%). Logo, o efeito da alfabetização seria maior em regiões mais homogêneas (diferença entre A.1 e A.3) e menor após o controle da dependência espacial (diferença entre A.3 e D.3). Como o modelo A.3 ignora os transbordamentos associados às variáveis explicativas (que se mostraram positivos em D.3), parte desses efeitos benéficos (não controlados) pode acabar embutida nos coeficientes das variáveis consideradas em A.3 (inflando-os). Com base nesses resultados, é possível inferir que o custo do analfabetismo no mundo, sugerido por Suresh Lal (2015), ao desconsiderar os efeitos espaciais, seja ainda maior que os US$ 1,19 trilhão previstos pelo autor.

QUADRO 2 Resultado das estimações 

TIPO DE CONTROLE MODELO A - MRW (1992)
SEM CONTROLE ESPACIAL
MODELO B - MRW (1992)
CONTROLE P/ HETEROGENEIDADE
ESPACIAL
ESTIMAÇÃO EM 2 ESTÁGIOS UTILIZANDO INSTRUMENTOS PARA W_LN(YT/YT-1)
MODELO C. MRW (1992)
CONTROLE P/ TRANSBORDAMENTO
ESPACIAL
MODELO D. MRW (1992)
CONTROLE P/ TRANSBORDAMENTO E HETEROGENEIDADE ESPACIAIS
VARIÁVEL (A.1)
POLS
(A.2)
RE
(A.3)
FE
(B.1)
POLS
(B.2)
RE
(B.3)
FE
(C.1)
POLS
(C.2)
RE
(C.3)
FE
(D.1)
POLS
(D.2)
RE
(D.3)
FE
Ln(Yt-1) -0.670*** -0.670*** -1.143*** -0.668*** -0.668*** -1.143*** -0.245*** -0.245*** -0.685*** -0.265*** -0.265*** -0.685***
Ln(s k ) 0.112*** 0.112*** 0.223*** 0.109*** 0.109*** 0.223*** 0.017*** 0.017*** 0.045*** 0.018*** 0.018*** 0.045***
Ln(s h ) 1.421*** 1.421*** 2.049*** 1.466*** 1.466*** 2.049*** 0.401*** 0.401*** 0.326*** 0.412*** 0.412*** 0.326***
Ln (n+g+δ) -0.038* -0.038* -0.099*** -0.054** -0.054** -0.099*** -0.013 -0.013 -0.017 -0.007 -0.007 -0.017
D_Sul 0.096*** 0.096*** Excluído 0.071*** 0.071*** Excluído
D_Sudeste 0.089*** 0.089*** Excluído 0.054*** 0.054*** Excluído
D_Nordeste 0.132*** 0.132*** Excluído -0.016 -0.016 Excluído
D_Centro-Oeste 0.143*** 0.143*** Excluído 0.060*** 0.060*** Excluído
Ln(dist_est) -0.019*** -0.019*** Excluído -0.011*** -0.011*** Excluído
W_Ln(Yt/Yt-1) 0.861*** 0.861*** 0.626*** 0.867*** 0.867*** 0.626***
W_Ln(s k ) 0.038*** 0.038*** 0.207*** 0.048*** 0.048*** 0.207***
W_Ln(s h ) 0.047 0.047* 0.304*** -0.067* -0.067** 0.304***
W_Ln (n+g+δ) 0.113*** 0.113*** 0.039 0,126*** 0,126*** 0.039
Constante -3.165*** -3.165*** -4.053*** -3.362*** -3.362*** -4.054*** -0.952*** -0.952*** -0.359*** -0.437*** -0.437*** -0.359***
N 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961 11961
R2 0.47 0.72 0.48 0.72 0.78 0.78
R2_overall 0.47 0.45 0.48 0.45 0.78 0.67 0.78 0.67
R2_between 0.23 0.28 0.27 0.28 0.53 0.38 0.53 0.38
R2_within 0.71 0.72 0.71 0.72 0.80 0.86 0.81 0.86
AIC 4773.7 -3571.8 4604.00 -3571.8
BIC 4810.6 -3534.8 4677.9 -3534.8
Teste de Hausman (1978) associado ao Modelos D: χ2=11274.40;Prob.>χ2=0.000

Fonte: Elaboração do autor utilizando o software STATA.

Notas: a) Os modelos POLS e RE foram estimados utilizando-se a matriz robusta de White (WOOLDRIDGE, 2002).

b) * p < 0.05; ** p < 0.01; *** p < 0.001.

Como o teste de Hausman (1978) indicou que os modelos FE são sempre preferíveis ao RE, pode-se concluir que um crescimento de 1% na taxa de alfabetização faria a renda per capita dos municípios brasileiros crescer, em média, 1,684%. Com base nesse resultado, foram efetuadas simulações sobre: a) o valor provável do PIB per capita brasileiro, caso o país atingisse o mesmo nível de alfabetização da Europa Central e Países Bálticos (rever Tabela 1); b) o possível ganho na renda per capita dos estados brasileiros, com piores taxas de analfabetismo, caso atingissem o nível médio de alfabetização do país. Os resultados estão disponíveis nas Tabelas 2 e 3 e, em ambos os casos, utilizou-se o ano de 2010 como referência.

TABELA 2 Alteração no PIB per capita brasileiro oriunda da melhora na taxa de alfabetização (ano-base: 2010) 

POSIÇÃO PAÍS PIB 2010
REAL
NOVA
POSIÇÃO
PAÍS PIB 2010
SIMULADO
1 Catar 129852,73 1 Catar 129852,73
5 Cingapura 73060,99 5 Cingapura 73060,99
10 Suíça 54365,36 10 Suíça 54365,36
30 Japão 35883,03 30 Japão 35883,03
60 Chile 19348,13 60 Chile 19348,13
61 Argentina 18911,82 61 Argentina 18911,82
62 Letônia 18225,03 62 Letônia 18225,03
63 Irã 17879,37 63 Irã 17879,37
64 Peru 17248,62 64 Peru 17248,62
65 Uruguai 16970,30 65 Brasil 17015,75
66 Venezuela 16837,10 66 Uruguai 16970,30
67 Romênia 16730,24 67 Venezuela 16837,10
68 Barbados 16633,45 68 Romênia 16730,24
69 Líbano 16451,76 69 Barbados 16633,45
70 Azerbaijão 16318,09 70 Líbano 16451,76
71 Bielorrússia 16218,12 71 Azerbaijão 16318,09
72 México 16137,34 72 Bielorrússia 16218,12
73 Bulgária 15993,41 73 México 16137,34
74 Ilhas Maurício 15938,43 74 Bulgária 15993,41
75 Gabão 15642,07 75 Ilhas Maurício 15938,43
76 Panamá 15549,15 76 Gabão 15642,07
77 Brasil 14679,29 77 Panamá 15549,15
78 Suriname 14076,51 78 Suriname 14076,51
79 Montenegro 13845,83 79 Montenegro 13845,83
80 Tailândia 13750,23 80 Tailândia 13750,23
100 Paraguai 9712,92 100 Paraguai 9712,92
192 Congo 568,92 192 Congo 568,92

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados da World Economic Outlook da International Monetary Fund (WEO/IMF, 2018).

Nota: Valores a preços constantes de 2010 avaliados em US$ de paridade de poder de compra.

Retornando à Tabela 1, nota-se que a taxa de alfabetização brasileira em 2010 (i.e., 100 - 9,62 = 90,38%) precisaria crescer, aproximadamente, 9,45% para atingir o mesmo nível da Europa Central e Países Bálticos (i.e., 100 - 1,08 = 98,92%). Nesse caso, o crescimento econômico brasileiro aumentaria em 9,45 * 1,684 = 15,91%. Como a relação (PIB2010/PIB1980) = (14.679,29/11.372,17) = 1,2908 no Brasil,26 a melhora na alfabetização impulsionaria o crescimento para 1,2908 * 1,1591 = 1,4962. Logo, o PIB per capita brasileiro de 2010 atingiria 1,4962 * 11372,17 = 17015,75,27 ou seja, 15,91% a mais que o valor original do mesmo período. Tal avanço na alfabetização faria o PIB per capita brasileiro saltar da 77ª posição para a 65ª (entre 192 países), ultrapassando países como Bulgária, México, Venezuela e Uruguai e se aproximando do Peru, Argentina e Chile (Tabela 2).

As simulações associadas aos estados brasileiros (Tabela 3) seguiram o mesmo procedimento da Tabela 2.28 Contudo, visando a apurar qual seria o ganho em termos de renda per capita, caso os estados atingissem a média de alfabetização nacional em 2010 (i.e., 90,38%), consideraram-se apenas aqueles com taxas inferiores à média brasileira.

O estado de Alagoas, por ter a taxa mais alta de analfabetismo do país (24,33%), seria o mais beneficiado com o esforço em alcançar a média nacional. Tal política geraria um crescimento extra na renda per capita desse estado de, aproximadamente, 32,77%, fazendo-o subir da 24ª colocação para a 15ª no ranking de maiores rendas per capita estaduais do Brasil. Os efeitos positivos desse nivelamento da alfabetização seriam sentidos em 14 dos 26 estados, com destaque (além de Alagoas, já mencionado) para Piauí, Paraíba e Maranhão, onde o crescimento extra da renda per capita, oriundo exclusivamente da política de alfabetização, alcançaria 29,09%, 26,53% e 23,97%, respectivamente.

Note que os efeitos benéficos sobre a renda desses quatro estados, caso atingissem a média nacional de alfabetização, seriam equivalentes (ou superiores) aos descritos por Gustafsson et al. (2010) para a África do Sul, caso o país atingisse os níveis de alfabetização dos principais países desenvolvidos (de 23% a 30% de crescimento).

No que se refere à classificação das maiores rendas do país, destaca-se a melhora verificada no Piauí (do 25º lugar para o 17º) e na Paraíba (do 21º para o 13º) (Tabela 3). Como os estados mais pobres seriam os mais privilegiados nessa simulação, acredita-se que tal política estimule o crescimento e reduza as desigualdades simultaneamente.

TABELA 3 Alteração na renda per capita dos estados brasileiros oriunda da melhora na taxa de alfabetização (ano-base: 2010) 

N. ESTADO TAXA DE ALFABETIZAÇÃO
(A)
RENDA
1991
(B)
RENDA 2010
(B)

NOVA POSIÇÃO
RENDA
2010
SIMULADA
VARIAÇÃO ORIUNDA DA ALFABETIZAÇÃO
1 São Paulo 95,68 746,22 1084,46 n.c. 983,46 n.c.
2 Rio de Janeiro 95,73 608,8 1039,30 n.c. 941,64 n.c.
3 Santa Catarina 95,87 449,78 983,90 n.c. 889,16 n.c.
4 Rio Grande do Sul 95,48 507,61 959,24 n.c. 873,10 n.c.
5 Paraná 93,72 439,09 890,89 n.c. 837,57 n.c.
6 Espírito Santo 91,88 377,38 815,43 n.c. 793,15 n.c.
7 Goiás 92,06 410,55 810,97 n.c. 786,19 n.c.
8 Mato Grosso do Sul 92,33 433,21 799,34 n.c. 771,05 n.c.
9 Mato Grosso 91,52 395,34 762,52 n.c. 746,66 n.c.
10 Minas Gerais 91,69 373,85 749,69 n.c. 731,79 n.c.
11 Rondônia 91,27 304,9 670,82 n. c. 659,92 n.c.
12 Roraima 89,67 437,24 605,59 12 613,78 1,35%
13 Amapá 91,6 378,57 598,98 n.c. 585,65 n.c.
14 Tocantins 86,91 243,58 586,62 12 626,19 6,74%
15 Rio Grande do Norte 81,46 240,33 545,42 12 646,14 18,47%
16 Amazonas 90,16 345,82 539,80 16 542,12 0,43%
17 Pernambuco 82 275,49 525,64 12 616,24 17,24%
18 Sergipe 81,6 247,78 523,53 12 618,53 18,15%
19 Acre 83,52 284,96 522,15 14 594,50 13,86%
20 Bahia 83,42 234,57 496,73 15 566,64 14,07%
21 Paraíba 78,09 196,59 474,94 13 600,95 26,53%
22 Ceará 81,26 219,83 460,63 15 547,81 18,93%
23 Pará 88,26 273,22 446,76 22 464,92 4,07%
24 Alagoas 75,67 211,98 432,56 15 574,30 32,77%
25 Piauí 77,08 167,03 416,93 17 538,20 29,09%
26 Maranhão 79,13 156,47 360,34 24 446,71 23,97%
Brasil 90,38 447,56 793,87 - - -

Fonte: Elaboração do autor com base no Atlas-Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2018).

Nota: A = percentual de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever; B = somatório da renda dos indivíduos residentes em domicílios particulares dividido pelo número total desses indivíduos. Valores em R$ de 1 de agosto de 2010; n. c. = não calculado.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa considerou uma versão espacial do modelo MRW (1992) com dados em painel, a fim de avaliar o impacto da taxa de alfabetização sobre o crescimento da renda per capita dos municípios brasileiros no período de 1980 a 2010. Os resultados sugerem que o impacto da alfabetização é maior em regiões mais homogêneas. Acredita-se que a heterogeneidade espacial gere a necessidade de políticas educacionais mais específicas e mão de obra mais especializada do que ocorreria em regiões com maior semelhança em termos de cultura, clima, relevo e preferência locais. A título de exemplo, considere a dificuldade em alfabetizar povoados com dialetos distintos.

Ademais, constatou-se que melhorias na alfabetização geram transbordamentos positivos sobre a renda da vizinhança, aumentando o impacto total dessa variável. Os resultados ainda sugerem que o impacto total da alfabetização sobre o crescimento econômico ficaria superestimado se a dependência espacial fosse ignorada. Se isso ocorresse com a heterogeneidade espacial ou se ambos os efeitos espaciais fossem ignorados, o impacto dessa variável tenderia a ficar subestimado. Logo, é possível que o custo do analfabetismo no mundo, sugerido por Suresh Lal (2015), seja ainda maior que os US$ 1,19 trilhão previstos pelo autor.

Realizados os devidos controles espaciais, estimou-se que um crescimento de 1% na taxa de alfabetização aumentaria a renda per capita em, aproximadamente, 1,684%. Tal resultado é coerente com a afirmação de Mankiw, Romer e Weil (1992), de que pequenas alterações no capital humano poderiam causar grandes alterações na renda. Com base nesse impacto, verificou-se que o PIB per capita brasileiro poderia ser, aproximadamente, 15,91% maior caso a taxa de alfabetização do país (90,38%) atingisse o nível da Europa Central (98,92%). Tal avanço faria o PIB brasileiro saltar da 77ª posição (no ranking dos 192 países mais ricos) para a 65ª, ultrapassando Bulgária, México, Venezuela e Uruguai e se aproximando do Peru, da Argentina e do Chile.

Alternativamente, simulou-se qual seria a renda per capita dos estados brasileiros caso eles atingissem a taxa média de alfabetização nacional. Os resultados indicam que haveria melhora na renda de 14 dos 26 estados, com destaque para Alagoas, Piauí, Paraíba e Maranhão, onde o crescimento oriundo exclusivamente da alfabetização atingiria 32,77%, 29,09%, 26,53% e 23,97%, respectivamente. Esses valores estão próximos aos estimados por Gustafsson et al. (2010) para a África do Sul, caso o país atingisse os níveis de alfabetização dos principais países desenvolvidos (onde o crescimento ficaria entre 23% e 30%). Se apenas Alagoas, com a pior taxa de alfabetização (75,67%), adotasse tal medida, sua renda subiria da 24ª para a 15ª colocação no ranking de maiores rendas per capita estaduais do Brasil.

Como não foram incluídas outras variáveis associadas ao capital humano (devido ao período e à escala considerados), é possível que seu efeito esteja subdimensionado. Além disso, caso a taxa de alfabetização também capte outras características municipais associadas a níveis mais elevados de educação, seu impacto ficaria supervalorizado. Por fim, como a exclusão dos municípios com informações faltantes (missings) parece ter elevado a taxa média de analfabetismo,29 é possível que o impacto da alfabetização seja ainda maior no Brasil (caso todos os municípios pudessem ter sido incluídos). Apesar das limitações mencionadas, os resultados desta pesquisa sugerem o uso mais racional e menos arbitrário dos recursos destinados à educação, ao indicar quais regiões seriam mais sensíveis às melhorias nessa área, e reforçam a importância desse tipo de investimento como instrumento de combate à pobreza e redução das desigualdades.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece a colaboração do Prof. Dr. Ricardo da Silva Freguglia por suas importantes contribuições, principalmente no que se refere à metodologia adotada nesta pesquisa.

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1 Almeida (2012) e Kelejian e Piras (2017) ressaltam que ignorar a heterogeneidade e a dependência espacial poderia induzir a estimativas inconsistentes e/ou ineficientes.

2No original: “Spatial effects, particularly spatial autocorrelation and spatial heterogeneity, must be taken into account when analyzing convergence processes at regional scale. There are a number of factors - trade between regions, technology and knowledge diffusion and more generally regional spillovers - that lead to geographically dependent regions. Because of spatial interactions between regions, geographical location is important in accounting for the economic performances of regions”.

3 Renzi et al. (2019) e Vieira (2009) consideraram apenas municípios paranaenses e paulistas, respectivamente, enquanto Soares (2009) focou sua pesquisa nos indivíduos do Nordeste. Apenas Almeida, Valadares e Sediyama (2017) analisaram o Brasil, mas optaram por uma desagregação estadual.

4Dentre os autores citados, Castelló-Climent e Mukhopadhyay (2013), Khalfaoui (2015) e Almeida, Valadares e Sediyama (2017) usaram técnicas com dados em painel para controlar a heterogeneidade espacial, mas ignoraram a dependência espacial. Já Vieira (2009), Leija (2019) e Renzi et al. (2019) buscaram controlar apenas a dependência (cross-section), deixando a heterogeneidade espacial em segundo plano.

5Dentre as pesquisas nacionais, Renzi et al. (2019), Soares (2009) e Vieira (2009) consideraram dados cross--section para 2010, 2001-2005 e 1980-2000, respectivamente, enquanto Almeida, Valadares e Sediyama (2017) usaram um painel para 2001-2011. Apenas Castelló-Climent e Mukhopadhyay (2013), ao analisar a Índia no período de 1961 a 2001 (dados em painel), consideraram um período superior ao aqui proposto.

6Apesar do foco econômico, os impactos do analfabetismo vão além dessa esfera. Segundo Rakodi e Lloyd--Jones (2002, p. 208), indivíduos analfabetos costumam ser excluídos de processos eleitorais e de outras formas democráticas de decisão, perdendo qualquer capacidade de alterar o meio no qual se encontram.

7Nas palavras do autor: “Illiteracy means the lack of Reading, Writing and Arithmetic (3R’s) skills. It is the lack of minimum capabilities needed to function effectively in a society. […] the cost of illiteracy to the global economy which is estimated at 1.19 trillion dollars; […] The illiterate people trapped in a cycle of poverty with limited opportunities for employment or income generation and higher chances of poor health, turning to crime and dependence on social welfare.” (SURESH LAL, 2015, p. 663).

8Em uma economia concorrencial, na qual as empresas buscam maximizar o lucro, o salário real de um grupo de trabalhadores é equivalente à produtividade média desse grupo (MANKIW, 2010, p. 46-48).

9Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2018) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) sugerem que a média de analfabetismo dos municípios brasileiros, considerados nesta pesquisa, é ainda maior que a do Banco Mundial (2018), ou seja, 36,74%, 30,26%, 21,35% e 15,89% em 1980, 1991, 2000 e 2010, respectivamente (ver Tabela A.1, Anexo).

10Para Ertur e Koch (2007), o impacto dos transbordamentos da tecnologia dependem da sua magnitude inicial (parâmetro 0 < γ < 1) e da conectividade entre as regiões (medida pelo termo exógeno w ij , para e j = 1, ..., N e j ¹ i). Quanto maior a proximidade entre i e seus j vizinhos, maior será o impacto.

11As dummies captam a diferença das demais regiões em relação à Região Norte, tida como referência (excluída).

12O comércio desigual entre as capitais estaduais e os demais municípios pode favorecer o acúmulo de recursos nas capitais (CHRISTALLER, 1966), que passariam a gerar externalidades positivas sobre o crescimento/desenvolvimento de seus vizinhos (MYRDAL, 1957).

13Segungo Lall e Yilmaz (2001, apudABREU; GROOT; FLORAX, 2005), os transbordamentos do capital humano explicam parte da desigualdade dos estados americanos. No Brasil, Oliveira (2005) argumenta que tais externalidades impulsionaram o crescimento das cidades cearenses na década de 1990.

14O termo W_(y t / y t-1 ) gera endogeneidade (i.e., o crescimento de um município afeta seus vizinhos e vice- -versa) e requer o uso dos mínimos quadrados em dois estágios (MQ2E), com W 2 X t (i.e., segunda defasagem das variáveis explicativas) como instrumento (ALMEIDA, 2012).

15A estimação em painel permite: a) incluir mais observações, assegurando as propriedades assintóticas dos estimadores e das inferências; b) promover ajustamentos dinâmicos e análises intertemporais; e c) controlar os efeitos não observados constantes no tempo (e.g., cultura, preferências, clima, etc.) (HSIAO, 2003).

16Esta variável passou a ser divulgada em 1985. Como a quantidade de anos no período de 1985 a 1991 é menor (sete anos), dividiu-se o valor acumulado pelo número de anos de cada período considerado.

17Dados o período e a escala municipal considerados, não foi possível incluir os gastos privados em bens de capital (KROTH; DIAS, 2012). A escassez e a falta de qualidade das proxies municipais para o capital físico (s k ) e humano (s h ) no Brasil são discutidas por Firme e Simão Filho (2014, p. 687-689).

18Embora não capte a amplitude do capital humano, ressalta-se que, devido ao período e à escala geográfica considerados, não haveria outra proxy viável para s h , visto que a média municipal de anos estudados (mais usual) não foi avaliada em 2010. Assim, dadas as ressalvas, assume-se que os municípios mais alfabetizados dão mais atenção à educação e, dessa forma, ao capital humano.

19No original: “We assume that 𝑔 + 𝛿 is 0.05; reasonable changes in this assumption have little effect on the estimate”.

20Testaram-se as matrizes de contiguidade rainha e torre e as especificações K = 5 e K = 10 vizinhos mais próximos. A matriz K = 5 foi selecionada, conforme Baumont (2004, p. 13), por apresentar o maior I de Moran associado à variável dependente no período analisado (média de I = 0,303).

21Proposto por Anselin (1995) e apresentado em Almeida (2012, cap. 4).

22Os resultados dessas dummies são relativos à Região Norte (não incluída).

23Nas capitais, onde a distância é 0, adotou-se o valor 1, pois ln(1) = 0.

24As estatísticas descritivas associadas aos dados utilizados estão disponíveis na Tabela A.1 (Anexo).

25O teste de Hausman (1978) indicou que os modelos FE são preferíveis aos RE em todas as estimativas do Quadro 2 (i.e., A.3, B.3, C.3 e D.3).

26Os valores do PIB, a preços constantes de 2010 e cotados em US$ de paridade de poder de compra, estão disponíveis na base de dados da WEO/IMF (2018).

27Devido à supressão de casas decimais (no texto), este valor diverge ligeiramente do exposto na Tabela 2.

28Os cálculos foram feitos com base no crescimento econômico no período de 1991 a 2010.

29A taxa de analfabetismo brasileira em 1980 era 25,41% e caiu para 9,62% em 2010 (Tabela 1). Todavia, ao excluir os missings, essas taxas subiram para 36,74% e 15,89%, respectivamente.

ANEXO

Fonte: Elaboração do autor com base no software GEODA.

Nota: Este artigo considerou um painel balanceado, o que fez com que algumas informações fossem perdidas. No Censo do IBGE de 2010 (IBGE, 2011), o Brasil tinha 5.592 municípios. Todavia, só existem informações completas para 3.987 municípios, ou seja, 71,3% do total.

FIGURA A Mapa de cluster para o crescimento de renda per capita dos municípios brasileiros 

TABELA A.1 Estatísticas descritivas das variáveis utilizadas 

VARIÁVEL DESCRIÇÃO
PERÍODO MÉDIA
DESVIO PADRÃO MÁXIMO

MÍNIMO
[(Y t - Y t-1) ⁄ Y t-1] Variação na renda domiciliar
(%)
1980-1991 -14,04 28,42 1012,71 -75,98
1991-2000 91,59 46,42 500,15 -82,45
2000-2010 20,05 24,56 145,90 -62,99
Y t-1 Renda domiciliar inicial
(R$ de 2000 - valor mensal)
1980 114,64 65,33 502,03 9,10
1991 95,86 57,95 515,04 17,28
2000 177,00 101,10 883,24 34,97
s k Gasto médio anual em capital fixo
(R$ de 2000 - per capita)
1985-1991 31,72 41,14 1473,00 2,19
1992-2000 46,84 44,00 937,52 0,40
2001-2010 75,60 51,17 989,44 3,09
s h Variação na taxa de alfabetização (%) 1980-1991 12,92 15,05 189,17 -40,49
1991-2000 15,58 13,43 205,31 -2,97
2000-2010 7,76 5,99 45,57 -13,12
(n + g + δ) Crescimento populacional (%),
assumindo g + δ fixo
1980-1991 11,84 31,10 510,39 -86,76
1991-2000 4,47 21,77 346,47 -75,30
2000-2010 7,58 13,91 181,95 -45,63

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados apresentados na seção “Base de dados”.

Nota: Estatísticas baseadas nos 3.987 municípios considerados nesta pesquisa; a renda domiciliar de 2010 foi R$ 195,74 (valores de 2000); as taxas de alfabetização (ou analfabetos) de 1980, 1991, 2000 e 2010 foram, em sequência, 63,26% (36,74%), 69,74% (30,26%), 78,65 (21,35%) e 84,11% (15,89%).

Recebido: 29 de Maio de 2020; Aceito: 06 de Outubro de 2020

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